Recursos expressivos1 (1)
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RECURSOS EXPRESSIVOS
Professora Vera Gamboa Marques
EBI Mourão 2012/2013
O que são recursos expressivos?
Os recursos expressivos são processos, utilizados pelos autores, para tornar o texto literário mais belo, sugestivo e
eficaz.
• Imagem – produto da imaginação pura, e não da perceção captada pelos sentidos – é o termo que na retórica, é equivalente a tropo, englobando figuras como a comparação, a metáfora e a metonímia. Da adição destas figuras, resulta uma representação mais ampla, mais sensorial, mais colorida, mais animada da mensagem.
Exemplo:“Horas mortas... Curvadas aos pés do Monte, A planície é um bramido... e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a bênção duma fonte!”
Florbela Espanca, Sonetos
Expressividade: Evidenciar a ideia de dor sentida pelo sujeito poético que, tal como as árvores, deseja artentemente uma gota de água, isto é, a felicidade.
Exemplo: “O Mondego, como uma cobra na areia, espreguiça a sua trança de águas mortas”
Machado de Assis
Expressividade: Transmitir de forma ampla a imagem do rio Mondego, descrevendo-o de forma sinuosa e estagnada.
• Metáfora – consiste em transpor o significado de uma palavra ou expressão para uma outra, a fim de realçar as semelhanças entre elas:
1. Quer através de uma comparação implícita, em que se omote o termo comparativo:
Exemplo:“Às vezes o mar é uma figura branca cintilando entre os rochedos.”
Eugénio de Andrade
Expressividade: Destacar a ideia de que o mar está vivo.
2. Quer através do estabelecimento de uma relação de identidade:Exemplo: “Ah!, meu povo traído, Mansa colmeia A quem ninguém colhe o mel.”
Miguel Torga
Expressividade: Ressaltar a mansidão do povo traído por uma pátria sem rumo e onde já não há vontade para lutar.
• Metonímia – consiste em designar uma realidade por um termo cujo significado aponta para outra realidade que lhe é próxima ou contígua. A metonímia baseia-se na existência de relações analógicas tais como:
1. Local em vez da entidade:Exemplo:“ Belém promulgou a lei.”
2. O objeto que contém em vez do conteúdo:Exemplo: O estádo vibrou com o golo.[=as pessoas que estavam no estádio]Foi beber um copo com os amigos. [= uma bebida ]
3. Autor em vez de obra (ou vice versa): Exemplo: Gosto de Amadeu de Sousa-Cardoso. [= Gosto da pintura de...]
4. Produto em vez do local onde foi produzido, ou da matéria de que é feito.
Exemplo: Ofereceu aos amigos um um cálice de porto. [= Vinho do Porto]
Expressividade: Destacar a promulgação da lei; a alegria sentida pelos adeptos; o ato de beber com os amigos; a obra do pintor.
• Personificação – é um processo pelo qual se atribui características humanas a animais, objectos ou plantas.
Exemplo:“Enquanto nesta manhã tão calma tão horizontal tão lisa que me apetece passar-lhe a mão pelo dorso certamente dócil Manhã sem nenhuma ruga na testa”
Ruy Belo
Expressividade: Destacar a manhã fazendo com que o leitor se identifique com ela.
Exemplo: “As flores sorriem na primavera.
Expressividade: Realçar a beleza da primavera.
• Símbolo – termo, frase, ou qualquer outra forma de expressão (que pode ser plástica), a que se associa um sentido. É pois uma convenção social, arbitrária, que reenvia para um referente.
Por exemplo:
-uma bandeira nacional evoca um país; Portugal
a balança evoca Justiça;
o cravo vermelho evoca a liberdade...
• Sinédoque – consiste na transferência do significado de uma palavra para outra – transferência que é baseada na relação entre a parte e o todo, ou entre o todo e a parte (o que permite referir o todo por uma das suas partes, e vice versa).
Exemplo:“Vistes aquela insana fantasia De tentarem o mar com vela e remo.” Camões, Os LusíadasExpressividade: (vela e remo = nau) Exaltar o esforço feito pelos
Portugueses aquando das Descobertas.
Exemplo: “São precisos braços para a apanha da azeitona.”
Expressividade: (braços = trabalhadores) Dar ênfase à necessidade de trabalhadores para a apanha da azeitona.
• Aliteração – consiste na repetição intencional da mesma consoante, muitas vezes na sílaba inicial de palavras contíguas, tanto no verso como na prosa.
Exemplo: “O rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia.” Violeta Figueiredo
Expressividade: Sublinhar a musicalidade e o ritmo da frase.
Exemplo: “Ninguém lhe fala; o mar de longe bate; Move-se brandamente o arvoredo; Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.”
Luís de Camões “O Pescador Aónio”
Expressividade: Realçar o sofrimento do sujeito poético que chora pela morte da amada. A repetição da consoante “v” intensifica a solidão que se abate sobre ele, através da musicalidade do som, como se de uma onda se tratasse.
• Pleonasmo – consiste em empregar intencionalmente palavras e expressões repetitivas.
Exemplo:“Vi, claramente visto o lume vivoQue a marítima gente tem por santo.”
Luís de Camões, Os Lusíadas
Expressividade: Evidenciar uma realidade, a de ter visto o fogo de Santelmo.
Exemplo:“Eu canto um canto matinal.”Luís de Camões O Pescador Aónio
Expressividade: Ilustrar a certeza do canto (quem canta, canta um canto).
• Perífrase – consiste em dizer com várias palavras o que se poderia dizer com uma única palavra ou expressão.
Exemplo:“Partimo-nos assim do santo templo Que nas praias do mar está está assentado, Que o nome tem da terra, para exemplo, Donde Deus foi em carne ao mundo dado.” [= Partimo-nos
de Belém]Camões, Os Lusíadas, IV, 87
Expressividade: Dar ênfase à partida dos navegadores portugueses que deram início aos Descobrimentos no século XV.
Exemplo: “o país do sol nascente” [= Japão]Pepetela, Mayombe
Expressividade: Enfatizar a beleza de um país.
• Alegoria – Representa figurativamente um conceito ou uma abstração – a paz, a abundância, a justiça, a hipocrisia, ...
Exemplo:“O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro.”
António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes Expressividade: Demonstrar a hipocrisia e a traição do Homem através da figura
do polvo.
• Antítese – consiste em, numa mesma frase, exprimir uma oposição entre duas expressões ou dois pensamentos de sentido contrário.
Exemplo:“Para mim, escrever é, simultaneamente, um passatempo e um ganha-tempo.”
José Rodrigues dos Santos, in Público, 25-10-2009 Expressividade: Reforçar a ideia de que, para José Rodrigues dos Santos, a
escrita é um prazer.
Exemplo: “O Universo de sim ou não, branco ou negro, eu representava o talvez”
Pepetela, Mayombe Expressividade: Evidenciar a incerteza da vida.
Exemplo: “O Universo possui as melhores condições, tanto para o desenvolvimento, como para a destruição.
“O Universo”, in O Livro do Conhecimento, Ciclo de Leitores, 2009Expressividade: Destacar a leviandade do homem perante os recursos
disponíveis na Terra.
• Comparação – consiste em estabelecer uma relação de semelhança entre duas ou mais coisas através de uma palavra ou expressão (“como”) ou de verbos equivalentes (“parece”, “lembra”…)
Exemplo: “A Margarida é linda como uma flor!”
Expressividade: Salientar a beleza de Margarida.
Exemplo:“Parecem bandos de pardais à soltaOs putos, os putos.São como índios, capitães da maltaOs putos, os putos”
José Carlos Ary dos Santos, “Os Putos”
Expressividade: Destacar o grande número de miúdos pobres que bincam nas ruas do Porto.
• Eufemismo – consiste em suavizar o significado de palavras cruéis, molestas, grosseiras ou desagradáveis, substituindo-as por outras de significado equivalente, mas mais suavizado.
Exemplo:“Aos sábados, a viúva escorregava nas bazucas1, uma, duas, mais que mais. Acabava quando a cerveja lhe molhava o sangue todo.
1 Bazuca: garrafa de cerveja de tamanho grande.
Mia Couto, Vozes Anoitecidas
Expressividade: Reforçar a ideia do alcolismo da viúva.
Exemplo: “Não era mau homem, mas bebia demasiado e tinha dificuldade em distinguir o seu do alheio. ”
José Saramago, As Pequenas Memórias
Expressividade: Evidenciar o defeito da personagem: ser ladrão.
• Hipálage – consiste em associar a uma palavra uma particularidade que pertence semanticamente a outra palavra da mesma frase.
Exemplo:“(Eu) Rasguei uma raivosa folha.”
Expressividade: Reforçar a ideia de fúria da personagem, atribuindo à folha de papel a raiva sentida por ela .
Exemplo:“Abriu um riso largo, mostrando o brilho alinhado dos dentes magníficos, ao mesmo tempo que me estendia uma mão ossuda e honesta.”
José Eduardo Agualusa, Milagreiro Pessoal
Expressividade: Intensificar a ideia de honestidade da personagem,.
• Hipérbole – consiste no recurso a palavras ou expressões que conferem dimensão excessiva ao conteúdo de um enunciado, por outras palavras é o exagero da realidade. Tem como objetivo o elogio, a exaltação, a troça, a sátira.
Exemplo:“Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castel Branco Expressividade: Exaltar o amor sentido pelo sujeito poético.
Exemplo: “Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar numa só hora. [...] Era capaz de o beber só para me ver livre dele. ”
Agustina Bessa-Luís, A Sibila Expressividade: Realçar a negatividade com que a personagem vê o mar.
Tão tristes, tão saudosos,tão doentes da partida,tão cansados, tão chorosos,da morte mais desejososcem mil vezes que da vida.”
• Ironia – consiste na produção de um enunciado – ou de um texto – com um significado literal diferente daquele que o enunciador pretende comunicar. Cabe ao recetor interpretar pragmaticamente o verdadeiro significado, sobretudo através do contexto.
Exemplo:“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, Nunca teve um acto ridículo, Nunca sofreu um enxovalho, Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...”
Alvaro de Campos (Fernando Pessoa)Expressividade: Destacar a falsidade existente na sociedade onde o
sujeito poético deambula e se sente diferente por ser verdadeiro.
Exemplo: “Que belo empregado tu me saíste!”
Expressividade: Reforçar a irresponsabilidade, a incompetência do empregado.
• Prosopopeia – consiste em atribuir características exclusivamente humanas a outros seres animados ou inanimados e em que pessoas imaginárias, ausentes ou mortas falam.
• prosopopeia propriamente dita, quando se põem a falar animais ou seres inanimados, ou se lhes atribui qualquer manifestação da vida humana.
Exemplo:“Eu sou aquele oculto e grande Cabo A quem chamais vós outros Tormentórios.”
(Camões, Lusíadas; V, 50)
Expressividade: Evidenciar o perigo que o Cabo das Tormentas provocava nos marinheiros que deram início à epopeia dos Descobrimentos.
Exemplo: “Bailando no ar, gemia inquieto vagalume (pirilampo): - Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”
Machado de Assis
Expressividade: Transmitir a ideia de que o pirilampo é um sonhador.
• Onomatopeias – são palavras que procuram imitar certos sons: vozes de pessoas ou animais, ruídos de objectos, fenómenos da natureza, etc..
Exemplo:“E o pobre Gafanhoto… Paam! Catrapaam! Deu um grande trambolhão.”
Luísa Ducla Soares
Expressividade: Realçar a enorme queda dada pelo gafanhoto.
Exemplo: “E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.”
Machado de Assis