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Recursos audiovisuais variados que fazem a ponte entre as obras a estudar e a atualidade em “Antes de ler” [novidade] A casa é um espaço de preservação das me- mórias familiares, o lugar onde sempre se regres- sa para agasalho e proteção. Mas também pode ser não mais do que um lugar vazio. 1. Ouve a canção «A casa fechada», de António Zambujo, do álbum Quinto (2012). 2. Mostra de que modo «a casa está morta». Antes de ler António Zambujo, «A casa fechada», in Quinto (2012) FAIXA 9 páginas 240 e 241 António Vilas-Boas Manuel Vieira

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Recursos audiovisuaisvariadosquefazemaponteentre as obras a estudar

e a atualidade em “Antes de ler”[novidade]

P R O F E S S O R

O11 1.4 [Antes de ler]EL11 14.2, 14.3, 14.4, 14.5, 14.7 d) [Temas comuns], 14.10. c), d), e); 15.4, 15.5 [Te-mas comuns]; 16.2 [Temas comuns]

EL11Espaços e seu valor simbólico e emotivoLinguagem, estilo e estrutura– o romance: pluralidade de ações; complexidade do tempo, do espa-ço e dos protagonistas; extenção

Antes de ler

2. A casa está morta porque não se vê luz nela, ninguém lhe bate à porta, é um lar desfeito, vazio.

A casa está também «morta» pelo abandono a que foi votada; não existe ali o amor que a fazia viver.

Áudio«A casa fechada», de António Zambujo (excerto)

Link «A casa fechada», de António Zambujo

Educação literária

Os MaiasO Ramalhete

IA casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida

na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete, ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um ren-que1 de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspeto tristonho de residência ecle-siástica que competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico2 do escudo de armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números de uma data.

Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias de aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons de ruína. Em 1858 monsenhor Buccarini, núncio de Sua Santidade, visitara-o com ideia de instalar lá a Nunciatura, seduzido pela gravidade clerical do edifício e pela paz dormente do bairro: e o interior do casarão agradara-lhe também, com a sua disposição apalaçada, os tetos apainela-dos3, as paredes cobertas de frescos4 onde já desmaiavam5 as rosas das grinaldas e as faces dos cupidinhos. Mas Monsenhor, com os seus hábitos de rico prelado romano, necessitava na sua vivenda os arvoredos e as águas de um jardim de luxo e o Ramalhete possuía apenas, ao fundo de um terraço de tijolo, um pobre quintal inculto, abando-nado às ervas bravas, com um cipreste, um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque entulhado, e uma estátua de mármore (onde Monsenhor reconheceu logo Vénus Citereia) enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres. Além disso, a renda que pediu o velho Vilaça, procurador dos Maias, pareceu tão exagerada a Monsenhor, que lhe perguntou sorrindo se ainda julgava a Igreja nos tempos de Leão X.

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A casa é um espaço de preservação das me-mórias familiares, o lugar onde sempre se regres-sa para agasalho e proteção. Mas também pode ser não mais do que um lugar vazio.

1. Ouve a canção «A casa fechada», de António Zambujo, do álbum Quinto (2012).

2. Mostra de que modo «a casa está morta».

1 fila2 sítio onde está o Escudo de Armas3 com forma de painel4 pinturas murais5 quase se não viam

O Ramalhete, in A. Campos Matos, Ilustrações e ilustradores na obra de Eça de Queirós, Lisboa, Livros Horizonte, 2001, p. 109

Antes de ler

António Zambujo, «A casa fechada», in Quinto (2012)FAIXA 9

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Capítulo I | Espaços e seu valor simbólico e emotivo 5

páginas 240 e 241

António Vilas-BoasManuel Vieira

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e a atualidade em “Antes de ler”[novidade]

P R O F E S S O R

O11 1.4 [Antes de ler]EL11 14.3, 14.7. c), 14.11G11 20.1

EL11A descrição do real e o papel das sensações Linguagem, estilo e estrutura– recurso expressivo: a personifi-cação

Antes de ler

2. Ao centrar a crónica na car-pete vermelha, um adereço tí-pico de acontecimentos sociais como os que satiriza, Ricardo Araújo Pereira pretende mostrar que este é um tema tão pouco importante como a exibição de roupas e de vaidades que naque-les acontecimentos ocorre com frequência.

Áudio«Carpetismo vermelhismo», Mixórdia de temáticas

Link «Carpetismo vermelhismo», Mixórdia de temáticas

Educação literária

O Jantar no Hotel Central – IVI

Entravam então no peristilo1 do Hotel Central – e nesse momento um coupé da Compa-nhia, chegando a largo trote do lado da Rua do Arsenal, veio estacar à porta.

Um esplêndido preto, já grisalho, de casaca e calção, correu logo à portinhola; de dentro um rapaz muito magro, de barba muito negra, passou-lhe para os braços uma deliciosa ca-delinha escocesa, de pelos esguedelhados, finos como seda e cor de prata; depois apeando--se, indolente e poseur, ofereceu a mão a uma senhora alta, loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação ebúrnea2. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamen-te bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar. Trazia um casaco colante de veludo branco de Génova, e um momento sobre as lajes do peristilo brilhou o verniz das suas botinas. O rapaz ao lado, esticado num fato de xadrezinho inglês, abria negligentemente um telegrama; o preto seguia com a cadelinha nos braços. E no silêncio a voz de Craft murmurou:

– Très chic.

Em cima, no gabinete que o criado lhes indicou, Ega esperava, sentado no divã de mar-roquim, e conversando com um rapaz baixote, gordo, frisado como um noivo de província, de camélia ao peito e plastrão3 azul-celeste. O Craft conhecia-o; Ega apresentou a Carlos o sr. Dâmaso Salcede, e mandou servir vermute, por ser tarde, segundo lhe parecia, para esse requinte literário e satânico do absinto...

Fora um dia de inverno suave e luminoso, as duas janelas estavam ainda abertas. Sobre o rio, no céu largo, a tarde morria, sem uma aragem, numa paz elísia, com nuvenzinhas muito altas, paradas, tocadas de cor-de-rosa; as terras, os longes da outra banda já se iam afogando num vapor aveludado do tom de violeta; a água jazia lisa e luzidia como uma bela chapa de aço novo; e aqui e além, pelo vasto ancoradouro, grossos navios de carga, longos paquetes estrangeiros, dois couraçados ingleses, dormiam, com as mastreações imóveis, como toma-dos de preguiça, cedendo ao afago do clima doce...

– Vimos agora lá em baixo – disse Craft indo sentar-se no divã – uma esplêndida mulher, com uma esplêndida cadelinha griffon, e servida por um esplêndido preto!

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Em Os Maias, a crónica de costumes faz-se através de diver-sos acontecimentos sociais, nos quais participava a fina flor da sociedade lisboeta, tal como ainda hoje sucede em jantares, inau-gurações, festivais e outros acontecimentos mundanos.

1. Ouve a crónica «Carpetismo vermelhismo» do programa ra-diofónico Mixórdia de temáticas, de Ricardo Araújo Pereira.

2. Indica uma razão que, na tua opinião, justifique que o tema desta crónica seja uma carpete.

1 pátio rodeado por colunas2 «carnação ebúrnea» – pele cor de marfim3 gravata larga

Antes de ler

«Carpetismo vermelhismo», in Mixórdia de temáticas, série Lobato, episódio 29 (23 de fevereiro de 2015), Rádio ComercialFAIXA 10

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Capítulo VI | Descrição do real e o papel das sensações 5

páginas 252 e 253

António Vilas-BoasManuel Vieira

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Recursos audiovisuaisvariadosquefazemaponteentre as obras a estudar

e a atualidade em “Antes de ler”[novidade]

páginas 256 e 257

António Vilas-BoasManuel Vieira

P R O F E S S O R

Antes de ler

1. O cartoon sugere que, enquan-to o país (o navio) se afunda em dívidas, os náufragos (os portu-gueses) discutem ferozmente, atribuindo-se culpas mútuas pelo sucedido. Ao mesmo tempo os tubarões (os credores inter-nacionais) rondam-nos e estão prestes a devorá-los. Trata-se de uma alegoria à precária situação financeira do país, nos últimos anos, e à forma como os portugueses a encaram.

O11 4.2, 4.3; 5.2, 5.3, 5.4 [An-tes de ler]EL11 14.3, 14.4, 14.5, 14.6, 14.11; 15.1, 15.4, 15.5; 16.2 [Te-mas comuns] G11 18.2; 19.2, 19.3

EL11A representação de espaços so-ciais e a crítica de costumes Linguagem, estilo e estrutura:– recursos expressivos: a ironia, a metáfora, o uso expressivo do ad-jetivo e do advérbio– reprodução do discurso no dis-curso

G11Reprodução do discurso no dis-curso: a) citação, discurso direto, discurso indireto e discurso indi-reto livre

Educação literária

O Jantar no Hotel Central – IIVI

– Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá... O empréstimo faz-se ou não se faz?

E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão do empréstimo era gra-ve. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...

O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha de se realizar absolutamente. Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – «cobrar o imposto» e «fazer o emprésti-mo». E assim se havia de continuar...

Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.

– Num galopezinho muito seguro e muito a direito – disse o Cohen, sorrindo. – Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A ban-carrota é inevitável: é como quem faz uma soma...

Ega mostrou-se impressionado. Olha que brincadeira, hem! E todos escutavam o Cohen. Ega, depois de lhe encher o cálice de novo, fincara os cotovelos na mesa para lhe beber me-lhor as palavras.

– A bancarrota é tão certa, as coisas estão tão dispostas para ela – continuava o Cohen – que seria mesmo fácil a qualquer, em dois ou três anos, fazer falir o país...

Ega gritou sofregamente pela «receita». Simplesmente isto: manter uma agitação revolu-cionária constante; nas vésperas de se lançarem os empréstimos haver duzentos maganões decididos que caíssem à pancada na municipal e quebrassem os candeeiros com vivas à Re-pública; telegrafar isto em letras bem gordas para os jornais de Paris, de Londres e do Rio de Janeiro; assustar os mercados, assustar o brasileiro, e a bancarrota estalava. Somente, como ele disse, isto não convinha a ninguém.

Então Ega protestou com veemência. Como não convinha a ninguém? Ora essa! Era justamente o que convinha a todos! À bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemen-te. Um país que vive da «inscrição», em não lha pagando, agarra no cacete; e procedendo

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Em Os Maias critica-se a situação finan-ceira do país, que vive do «empréstimo» e da cobrança de impostos, situação idêntica à re-presentada no cartoon.

1. Faz um breve comentário ao cartoon, tendo em conta a simbologia dos elementos que o compõem.

Antes de ler

António da Maia, FMI: Quando o submarino vai ao fundo…, in jornal O Ribatejo (31 de março de 2011) em http://www.oribatejo.pt/category/cartoon/page/13/ (consultado em 19.01.2016)

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5 Eça de Queirós, Os Maias