Recrutamento & Seleção de Pessoal 7ª Ed. Atualizada

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Recrutar pessoas implica, dada a multiplicidade de variáveis presentes, um elevado risco de falhar, com pesadas consequências em termos não só económicos mas também sociais e humanos, exigindo coragem para assumir as decisões e ponderação para não dar passos em falso na sucessão de acções e opções envolvidas. O presente livro pretende ser um auxiliar na difícil missão de dotar as empresas e demais organizações, do seu mais importante recurso, as pessoas, ou seja, do capital humano que as diferencia e as torna competitivas. Esta edição acompanha a continuada confirmação dos modelos de E-recruitment e E-selection e reforça o Paradigma das Competências que, ancorado no Portefólio de Competências em permanente actualização, está subjacente a todo o processo de recrutamento e selecção.

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

Recrutamento e Selecção por Competências

O recrutamento e selecção por competências é apenas uma das práticas de um modelo maisgeral de gestão de pessoas que integra, nomeadamente, os sistemas de avaliação do desempe-nho, os planos de formação e de desenvolvimento individual dos colaboradores e os sistemasremuneratórios, ou seja, de um processo conjugado de implementação de acções que visampotenciar as competências individuais e organizacionais no sentido da auto-realização dos cola-boradores e da excelência no cumprimento da missão e da estratégia da organização.

Na base deste processo de gestão por competências está o portefólio das competências indi-viduais e organizacionais que a empresa deve manter em permanente actualização e que deveráreflectir o conjunto de competências que respondem às necessidades actuais da organização,uma perspectiva das necessidades futuras, que respondam à sua vontade de desenvolvimentoestratégico, e as lacunas (gaps) entre as competências detidas e as desejáveis, conforme sepode visualizar na figura 2.

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LIDERANÇA: CAPACIDADE DE INFLUENCIAR E CONDUZIR PESSOAS PARA ALCANÇAR OBJECTIVOS PESSOAIS

E ORGANIZACIONAIS

CONHECIMENTOS HABILIDADES ATITUDES

■ Técnicas de comunicação■ Técnicas de negociação■ Técnicas de motivação■ Técnicas de gestão de conflito■ Técnicas de coaching■ Conhecer a equipa■ Conhecer a organização

■ Gerir conflitos■ Delegar■ Dar feedback■ Dialogar■ Orientar e ensinar■ Coaching■ Motivar

■ Fluência e agilidade deraciocínio

■ Carisma■ Flexibilidade■ Empatia■ Auto-confiança■ Bom humor

FIGURA 2. PORTEFÓLIO DE COMPETÊNCIAS ACTUAIS E FUTURAS

SITUAÇÃO ACTUAL(Competências individuais

e organizacionais)

SITUAÇÃO FUTURA(Competências individuais

e organizacionais)

GAPDE COMPETÊNCIAS

QUADRO 2. EXEMPLO: COMPETÊNCIAS COMPORTAMENTAIS

SITUAÇÃO ACTUAL(Competências individuais

e organizacionais)

SITUAÇÃO FUTURA(Competências individuais

e organizacionais)

DETIDAS NECESSÁRIASGAP

GAPDE COMPETÊNCIAS

▼▼

▲ ▲

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Das Qualificações às Competências CAP I

Para a concretização deste portefólio de competências, as organizações deverão seguir osseguintes passos:

■ Definir as competências individuais e organizacionais, ou seja, quais as competênciastécnicas e comportamentais que a organização necessita no presente e no futuro paracumprir a sua missão, visão, valores e estratégia.

■ Definir as competências técnicas e comportamentais necessárias ao desempenho decada função.

■ Identificar as competências técnicas e comportamentais detidas pelos colaboradores.

■ Identificar as lacunas (gaps) de competências organizacionais e pessoais entre as neces-sárias e as detidas no presente e entre as necessárias no presente e no futuro.

Exemplo: Portefólio de Competências:

A empresa Proélio Comercial é uma Unidade de Negócios do Grupo Proélio, encarregada dacomercialização, a nível nacional, de acessórios adaptáveis à instalação de sistemas de produçãode energia baseados no aproveitamento de vento, produzidos pela Unidade Industrial do Grupo. Éconstituída por uma pequena equipa comercial e suportada nos outros domínios técnico-adminis-trativos por uma outra Unidade de Negócios de serviços partilhados.

Tem como clientes alvo, a nível nacional, os armazenistas e instaladores de equipamentosrelativos à produção de energias renováveis, a quem dão também algum apoio técnico, refe-rente às especificações deste tipo de acessórios. Em termos de desenvolvimento estratégico, aempresa pretende alargar, inicialmente a partir de Portugal, a sua actividade comercial ao mer-cado espanhol e francês dentro de 3 anos.

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INDIVIDUAIS INDIVIDUAIS INDIVIDUAIS

■ Orientação para o cliente■ Orientação para os resultados■ Negociação, comunicação e

persuasão■ Integração em equipa■ Liderança■ Relativas à instalação dos

acessórios comercializados

■ Orientação para o mercadointernacional

■ Domínio das línguas espanholae francesa

■ Orientação para o cliente■ Orientação para os resultados■ Orientação para o mercado

internacional■ Negociação, comunicação e

persuasão■ Integração em equipa■ Liderança

■ Orientação para o cliente■ Orientação para os resultados

■ Orientação para o mercadointernacional

■ Orientação para o cliente■ Orientação para os resultados■ Orientação para o mercado

internacional

QUADRO 3. PORTEFÓLIO DE COMPETÊNCIAS DA EMPRESA

COMPETÊNCIAS ACTUAIS GAPS DE COMPETÊNCIAS COMPETÊNCIAS A 3 ANOS

ORGANIZACIONAIS ORGANIZACIONAIS ORGANIZACIONAIS

(continua)

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

A PREPARAÇÃO DO RECRUTAMENTO E SELECÇÃO

IntroduçãoO recrutamento e selecção é um processo encadeado de procedimentos que culminam na

decisão final de escolha do candidato que irá desempenhar a função disponível, devendo serprecedido de acções tendentes à identificação e caracterização do posto de trabalho a preencher,actuação fundamental e que condiciona todos os passos seguintes.

Quer o processo de recrutamento e selecção, que se seguirá, venha a ser desenvolvido direc-tamente pela empresa quer através de empresas externas de recrutamento e selecção, esta éuma fase que envolve uma decisão estratégica que deverá, necessariamente, ser assumida eseguida de perto ao mais alto nível da empresa.

Assim, antes de iniciar o processo de recrutamento propriamente dito, deverá interrogar-sesobre várias questões, a primeira das quais, e a mais fundamental, é se a necessidade existe.

Confirmada a necessidade, as questões seguintes têm a ver com o conteúdo da função e seuenquadramento na organização, ou seja, quais os objectivos que o seu titular vai prosseguir ouquais as missões que lhe serão atribuídas, principais tarefas, posição no organograma daempresa, principais constrangimentos, contrapartidas remuneratórias, etc.

Equacionará, finalmente, qual o perfil que o candidato a admitir deve possuir, ou seja, ascompetências técnicas e comportamentais, motivações e outros requisitos que os candidatosdeverão exibir para responderem às necessidades da empresa.

As empresas que já dispõem de um portefólio de competências e consequentes perfis paraos diversos postos de trabalho têm, à partida, grande parte do trabalho de preparação doprocesso de recrutamento e selecção realizado, o qual envolve o conjunto de acções sequen-ciais previsto na figura 3:

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Identificaçãoda necessidade

Descriçãoda Função

Definição doPerfil

Psicoprofissional

Identificaçãoda Necessidade

Análisedo

Posto de Trabalho

Definiçãodo Perfil

Profissional

FIGURA 3. SEQUÊNCIA DE ACÇÕES DE PREPARAÇÃO DO PROCESSO DE R&S REALIZADO

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

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Competências Técnicas

Competências Comportamentais

Motivações

Outros Requisitos

Definição do Perfil ProfissionalO perfil profissional do posto de trabalho deverá ter em conta, como já foi referido, o portefólio

de competências da empresa, integrando as necessidades presentes, nomeadamente as com-petências transversais à organização e as competências estratégicas ou, no mínimo, as potencia-lidades para as adquirir, que garantam a concretização dos objectivos futuros da organização.

Deverá, também, considerar as perspectivas de desenvolvimento da função ou da carreira dotitular da mesma, por forma a identificar competências e/ou potencialidades, consignadas noperfil, que não inviabilizem as possibilidades de evolução referidas.

Terá finalmente em conta as competências específicas da função a desempenhar, ou seja, ascompetências técnicas e comportamentais indispensáveis ao seu exercício. Este perfil de com-petências, construído a partir da análise dos conteúdos da função, deverá ser complementadocom uma reflexão sobre o tipo de formação e experiência profissional requeridos para possuiras competências identificadas e as motivações e características de personalidade que pressupõe.

Trata-se obviamente de estruturar o perfil ideal, do qual, posteriormente, se aproximarãocom maior ou menor grau de sintonia os candidatos reais, sendo certo, à partida, que dificil-mente poderá contar com cópias tiradas a papel químico.

Assim, pese embora o rigor que deverá perseguir e a preocupação em não subtrair ao perfiltraços fundamentais, deverá ter em conta a realidade do mercado de trabalho para não conce-ber perfis tão distantes que afastem, à partida, a possibilidade de encontrar candidatos. Tambémaqui se aplica o provérbio “o bom é inimigo do óptimo”.

Será, pois, com realismo e mesmo com alguma dose de pragmatismo, que ponderará o per-fil da função, sabendo, em cada momento, optar entre o que é fundamental e o que é acessório,já que há competências que não coexistem simultaneamente ou que são, eventualmente, con-traditórias. Não poderá, por exemplo, pedir a um jovem competências suportadas numa longaexperiência profissional, exigir um elevado dinamismo e iniciativa a alguém que, simultanea-mente, terá que desempenhar uma actividade muito repetitiva ou requerer um forte índice deextroversão numa função desenvolvida essencialmente de forma isolada.

A análise da função descrita e a reflexão sobre a sua integração no contexto organizacionalpermitem identificar os seguintes factores que fazem parte integrante do perfil profissional doposto de trabalho:

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

O PROCESSO DE RECRUTAMENTO E SELECÇÃO

IntroduçãoConcluída a análise do posto de trabalho e identificado o seu perfil profissional, está, com

certeza, mais seguro da necessidade de o preencher, porque, certamente, repensou as estru-turas, equacionou as vantagens e os inconvenientes – o custo-benefício – e percebeu as reaismotivações das chefias e elementos da equipa relativamente ao enquadramento de mais umcolaborador.

Pese, embora, o receio, que sempre subsiste, relativamente à possibilidade de errar, de nãoescolher a pessoa certa, acrescida pelas dificuldades legais de despedimento, a identificação doperfil profissional da função, ou seja, a revelação da fotografia do profissional que pretende recru-tar, reforçou, seguramente, a sua confiança em chegar ao objectivo visado, da mesma forma quealguém, ao pretender fazer uma viagem, identificou correctamente o seu destino, compreenden-do, assim, quais os procedimentos mais adequados para o atingir.

Está, pois, em condições de iniciar o processo de recrutamento e selecção propriamente dito,um encadeamento de acções e decisões, constituído por crivos sucessivamente mais apertados,que o conduzirão ao candidato que melhor se aproxima da resposta à sua necessidade. Em todoeste processo, terá sempre presente a análise da função anteriormente efectuada e, em particu-lar, o perfil profissional, como matriz identificadora ou espelho em que reflectirá as opções quefor tomando em cada momento.

Este processo envolve, assim, os passos e decisões previstos na figura 4:

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FIGURA 4. O PROCESSO DE RECRUTAMENTO E SELECÇÃO

Recrutamento

Prospecção de Candidaturas

Pré-Selecção

Selecção

Decisão Final

Interno Externo

Recusadas Aceites

Entrevista AvaliaçõesComplementares

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O Processo de Recrutamento e Selecção CAP III

ser tentado a fazer uma opção exclusivamente em função dos honorários, que poderá não serevelar a mais ajustada.

Se optar por desenvolver internamente o processo, poderá seguir as metodologias que aseguir lhe propomos.

A Prospecção de CandidaturasDecidida a opção pelo recrutamento externo, a primeira acção a desenvolver é procurar can-

didatos que possam responder às exigências da função, a matéria-prima que irá posteriormentetrabalhar e donde sairá o produto final, ou seja, o colaborador pretendido.

Existem várias metodologias de prospecção de candidaturas que poderão ser usadas conjun-tamente ou optando, preferencialmente, por aquela que melhor se ajuste à situação concreta domercado de emprego, relativamente ao profissional que se pretende recrutar.

Assim, existem profissionais que, por serem raros e muito disputados ou por estarem bemcolocados, não procuram emprego, não estando, por isso, disponíveis no mercado de traba-lho. Se procura um destes profissionais terá que o identificar, fazer-lhe uma abordagem di-recta e cativá-lo para a sua empresa. Recorrer, neste caso, a anúncios revelar-se-ia, provavel-mente, ineficaz.

Existem outros profissionais que, por estarem desempregados, à procura do primeiroemprego ou insatisfeitos profissionalmente, se encontram numa situação de pesquisa activa,recorrendo a todos os meios disponíveis para chegar aos empregadores. Nestas circunstâncias,já se revelará bastante ajustado o recurso a anúncios, análise das candidaturas espontâneas,bases de dados das universidades, etc.

Existem, ainda, aqueles profissionais que embora estando empregados e relativamente sa-tisfeitos profissionalmente se mantêm atentos ao mercado de trabalho e que não serão hostis auma mudança de emprego que se lhes afigure mais vantajosa, se a ocasião se apresentar,nomeadamente se forem convidados. O recurso a ficheiros de profissionais ou às redes de co-nhecimentos, de antigos empregados, etc., pode revelar-se bastante ajustada nestes casos.

Passamos, seguidamente, a identificar as principais fontes de recrutamento, das quais privi-legiará aquela ou aquelas que melhor se ajustarem à sua necessidade concreta:

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A Rede de ConhecimentosAs Candidaturas Espontâneas

As Escolas e UniversidadesA Publicação de Anúncios

O Recrutamento Electrónico

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O Processo de Recrutamento e Selecção CAP III

■ As candidaturas com classificação (±) poderão ser alvo de tratamento diferenciado con-soante o valor e a quantidade das candidaturas com classificação (+). Assim, se estasforem em número suficiente, poderá guardar as (±) até à conclusão do processo e só lhescomunicar a sua não escolha após a contratação do candidato escolhido. Se tiver poucascandidaturas com classificação (+), poderá contactar telefonicamente os candidatos (±)para esclarecer as dúvidas que levaram à atribuição da referida classificação e, em funçãodos esclarecimentos obtidos, ponderar a sua eventual manutenção no processo.

A Selecção de Candidaturas

A Entrevista

Introdução

A entrevista representa um momento fulcral no processo de recrutamento, em que se encon-tram, provavelmente pela primeira vez, face a face, recrutador e candidato, e que poderá dar iní-cio a uma colaboração duradoura e com vantagens recíprocas. Trata-se de uma situação quegera tensões bilaterais, já que ambas as partes estão pressionadas: o recrutador pela necessi-dade de encontrar o profissional certo e o candidato, não só pela condição de prova a que estáa ser submetido, mas, também, por poder estar em jogo o seu futuro profissional ou, pelomenos, pela pressão de conseguir um emprego ou uma alternativa profissional mais vantajosa.

No entanto, para atingir os seus objectivos, ou seja, a obtenção recíproca das infor-mações necessárias à tomada de decisão – o recrutador relativamente à hipótese de admis-são do candidato e este à aceitação ou recusa de uma eventual proposta – a entrevista deve-rá decorrer num clima favorável, para o qual contribuirá a qualidade do relacionamento e dacomunicação estabelecidos entre as partes e a transparência na troca de informações.

Não se trata, pois, de um interrogatório, em que um assume o papel de interrogador eo outro de interrogado, nem de uma relação de forças, em que existem estatutos domi-nante/dominado, nem, tão-pouco, de uma conversa informal, que, embora possa decorrernum clima vivo, espontâneo e confiante e proporcionar algumas indicações sobre a perso-nalidade do interlocutor, não permite a sua validação e é gratuita por decorrer sem objec-tivos.

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A Entrevista

Avaliações Complementares

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

Deverá assemelhar-se mais a uma relação de negócios, assumindo um diálogo controlado porum dos intervenientes – o recrutador que tem um objectivo a atingir – e decorrer de forma ritma-da e viva, sem a sujeição a um plano rígido e num clima de confiança, não fazendo sentir ao outroque está a ser conduzido e, muito menos, manipulado.

Para que esta relação de comunicação se possa estabelecer com o mínimo de interferências, háque controlar alguns ruídos ou parasitas que geralmente ocorrem neste tipo de situações ou quelhes estão intrinsecamente associados e que decorrem, nomeadamente, das seguintes variáveis:

As condições físicas e materiais

A entrevista deverá decorrer em condições que minimizem as interferências na comunicaçãoe na relação que se pretende estabelecer, pelo que deverá ocorrer num espaço suficientementeinsonorizado e que garanta a privacidade, adequadamente iluminado para permitir a observaçãodo interlocutor e dispor de uma mesa de reuniões para que a relação seja tanto quanto possíveligualitária. Não deverá existir telefone ou então deverá estar desligado, sendo, também, pros-critas quaisquer outras interrupções.

Deverá, também, controlar o tempo necessário para cada entrevista, em média 1 hora, mas va-riável em função do seu próprio ritmo e deixar o intervalo necessário para acorrer a outras soli-citações, de modo a não fazer esperar os candidatos, o que poderia aumentar a indesejável tensão.

O candidato

Embora se pretenda que a entrevista decorra com transparência, está-lhe, também, associadauma componente comercial em que o candidato, mesmo sem faltar à verdade, procurará, paravender melhor a sua imagem, omitir os aspectos menos positivos e realçar os factores que o valo-rizem ou que visem facilitar uma decisão que lhe seja favorável.

Existe, assim, uma tendência natural para aferir por cima quer o vencimento actual quer o seunível de responsabilidades ou os resultados alcançados, embora possam existir, também, candidatosque pela sua modéstia ou menor atenção a estes aspectos se subvalorizem ou omitam as suas reali-zações. Deverá estar atento a uns e a outros, para que o seu valor real não seja desvirtuado.

O stress que a situação de entrevista provoca poderá, também, originar atitudes que mascarama real personalidade do candidato. Nalguns casos, poderá desencadear bloqueio na comunicação,noutros incontinência verbal, excessos de reserva ou de afirmação, etc.

O entrevistador

Desconfie, igualmente, de si próprio, pois o seu estatuto e o poder que lhe é, naturalmente,associado e as mensagens verbais ou não verbais que transmite são, porventura, o maior

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O Processo de Recrutamento e Selecção CAP III

emissor de parasitas, gerando no candidato comportamentos tão díspares como o mutismo, atentativa de sedução ou a cumplicidade, que poderão, também, mascarar a sua verdadeira face.

Objectivos

O objectivo final da entrevista é chegar a uma decisão sobre qual o candidato melhor posicionadopara preencher a vaga em aberto, ou seja, aquele que melhor responde ao perfil profissional da funçãopreviamente definida, quer ao nível das competências técnicas quer das comportamentais e cujasmotivações ou projecto profissional melhor se enquadram nos objectivos e na cultura da empresa.

Trata-se, pois, de prognosticar o comportamento profissional do candidato, ou seja, comoele será no desempenho da função proposta, não só a partir das informações por ele directa-mente reproduzidas, por vezes mascaradas pela narração de uma interessante história de suces-so, mas, sobretudo, do que transparece das suas palavras e atitudes.

Com efeito, a entrevista não visa um acesso directo à actividade profissional do candida-to, uma vez que nunca o observámos a trabalhar, e, em situação de candidatura ao primeiroemprego, nem sequer existe uma experiência profissional passível de ser observada.

Assim, a entrevista, para além do levantamento das competências técnicas e comportamen-tais, deve tentar uma aproximação à personalidade do interlocutor e a partir dela prever com-portamentos, porventura a componente mais importante do perfil, já que os homens são mais

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■ Atitudes Igualitárias■ Saber Escutar■ Perguntas Certas■ Sinais e Indícios■ Gestão do Feeling

■ Percurso do Candidato■ Funções Desempenhadas■ Anteriores Empresas■ Relações de Chefia■ Motivações■ Conteúdos Emocionais■ Conteúdos Abstractos■ Pontos Fortes e Menos Fortes■ Actividades Extraprofissionais■ Empresa e Função

■ Acolhimento■ Recolha de Informações e Indícios■ Identificação de Motivações■ Validação de Comportamentos■ Apresentação da Empresa e Funções■ Negociações e Contrapartidas■ Conclusão

ENTREVISTA

OBJECTIVOS

TÉCNICAS E ARTES

TEMAS

DESENVOLVIMENTO

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Recrutamento & Selecção de Pessoal

A INTEGRAÇÃO NA EMPRESA

O AcolhimentoPor mais claras e abundantes que tenham sido as informações que proporcionou ao can-

didato escolhido sobre a empresa e a função, aquando da entrevista, nem tudo foi, obviamente,dito e houve, também, elementos que o seu novo colaborador não reteve e que lhe são impor-tantes no seu ajustamento à empresa.

Com efeito, sendo desejável, neste processo de adaptação recíproca, que exista uma aproxi-mação entre as expectativas, por vezes inconscientes, do novo colaborador e aquilo que aempresa quer ou pode proporcionar, é fundamental, nesta fase inicial, a partilha de todas asinformações que clarifiquem a relação entre as partes.

Há, por outro lado, que evitar ou superar os fenómenos de rejeição, típicos da prática médi-ca relativamente ao transplante de órgãos, mas que, também, se verificam nas empresas emrelação à integração de novos elementos, nomeadamente, quando se trata de empregados jácom experiências profissionais consolidadas e culturas empresariais adquiridas noutros con-textos.

A integração de um desconhecido origina, naturalmente, instintos de defesa, ou, pelo menos,atitudes de desconfiança no seio da equipa em que será integrado, decorrentes, não só dosreceios respeitantes às mudanças que sempre acontecem, mas, também, porque pode inter-ferir ou condicionar as expectativas profissionais de outros elementos. É, pois, lógico que sequestionem: “Quem é este estranho que aqui aparece? De onde vem? Que quer fazer? Quepoder traz consigo?”, e tendam a dificultar-lhe a “vida”, mostrando antipatia, menor colabo-ração, sonegando informações, enfim, armadilhando o terreno.

Este fenómeno leva a que muitos não ultrapassem os primeiros meses de ligação à empre-sa e outros tantos não vão além de 1 a 2 anos, com os consequentes custos, mesmo finan-ceiros, decorrentes não só das despesas efectuadas em recrutamento e selecção, mas, também,com indemnizações.

Para evitar estes fenómenos, é fundamental proporcionar, previamente, à sua equipa todasas informações que esclareçam os receios ou dúvidas que a admissão pode suscitar, porforma a que, quando o novo colaborador se apresente, já não seja um desconhecido.

Há, por outro lado, que preparar um conjunto de acções que, à semelhança das praxes ousemanas do caloiro universitárias, subtraídos, naturalmente, os aspectos de mau gosto quesempre aparecem, facilitem a sua integração na empresa, a sua socialização organizacional, jáque este primeiro contacto determina muito do relacionamento futuro, quer com a equipa quercom a hierarquia.

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A Integração na Empresa CAP IV

Sugerem-se, assim, alguns dos possíveis procedimentos a adoptar:

■ Prepare, previamente, o espaço e demais equipamentos que porá à disposição do novocolaborador, de modo a que este, ao chegar, não se sinta um estranho que está a mais nocontexto físico da empresa.

■ Reserve, na sua agenda, o dia para o receber, libertando-se de outros compromissos queinterfiram na sua disponibilidade para o acolher, evitando fazê-lo esperar, confiá-lo aalguém menos preparado ou menos representativo ou deixá-lo à mercê da simpatia de ou-tros colaboradores.

■ Prepare, se forem vários novos empregados, caso contrário fá-lo-á individualmente, umcurso de formação em que apresentará, nomeadamente, a história, cultura e principaisobjectivos da empresa; regras de funcionamento interno, principais direitos e deveres,horários e hábitos de trabalho; o actual organograma, principais responsáveis, enquadra-mento da área em que se vai inserir e respectivos objectivos; valores dominantes partilha-dos pela equipa com quem vai trabalhar; objectivos da função que vai desempenhar.

■ Proporcione-lhe toda a documentação disponível sobre os temas anteriormente referidose preveja alguém que o acompanhe no preenchimento das formalidades administrativas.

■ Preveja uma reunião alargada e descontraída com todos os elementos da equipa comquem vai trabalhar, para poder conhecer cada um individualmente e a respectiva dis-tribuição de responsabilidades. Poderá, ainda, alargar este contacto a um lanche oualmoço em conjunto, a fim de estabelecer as primeiras relações informais.

■ Possibilite-lhe uma visita acompanhada às restantes áreas da empresa para conhecer, indi-vidualmente, os principais responsáveis e adquirir uma visualização global da empresa.

O Manual de Acolhimento

Como apoio à integração dos novos colaboradores, recomenda-se, ainda, nomeadamenteàs organizações com certa dimensão e volume significativo de admissões, a elaboração deum documento escrito, o Manual de Acolhimento, a disponibilizar ao novo colaborador,sob a forma de livro ou em documento informático, e que lhe servirá de “guia” no seuprocesso de integração. De facto, quando se entra de novo numa organização, é tanta ainformação que se recebe, num curto espaço de tempo, que é dificilmente retida na suaglobalidade. Além disso, a existência de um registo escrito evita deturpações na captaçãodas mensagens e confere a certeza de que o colaborador recebeu as informações correc-tas e que todos têm acesso às mesmas informações.

O Manual de Acolhimento é, assim, um documento feito a pensar no novo colaborador ena transmissão de uma imagem o mais aproximada possível da Organização e que visa

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