REALISMO Parte III OBS.: Todas as questões objetivas devem...

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REALISMO Parte III OBS.: Todas as questões objetivas devem ser justificadas Leia o texto a seguir. Machado de Assis (1839 1908), mais expressivo escritor brasileiro do século XIX, no conto “Teoria do Medalhão”, propõe um diálogo no qual o pai ensina a seu filho que, ao chegar à maioridade, deve seguir o “ofício de Medalhão”. Observe os conselhos do pai. “[...] assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição. É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade. - Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá? - Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. [...] - Melhor do que tudo isso, porém, que afinal não passa de mero adorno, são as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e pública. Essas fórmulas têm a vantagem de não obrigar os outros a um esforço inútil. Não as relaciono agora, mas fá-lo-ei por escrito. De resto, o mesmo ofício te irá ensinando os elementos dessa arte difícil de pensar o pensado. (...) Tu poupas aos teus semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes! - E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra pelos espíritos como um jorro súbito de sol. [...] - Acabou-se a necessidade de farejar ocasiões, comissões, irmandades; elas virão ter contigo,com o seu ar pesadão e cru de substantivos desadjetivados, e tu serás o adjetivo dessasorações opacas, o odorífero das flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos cidadãos, onoticioso e suculento dos relatórios. E ser isso é o principal, porque o adjetivo é a alma doidioma, a sua porção idealista e metafísica. O substantivo é a realidade nua e crua, é onaturalismo do vocabulário. - Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. [...] Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.” 1) Aprecie os dizeres do pai e procure configurar o ofício de Medalhão. Leia o texto a seguir para responder à questão. Capítulo XV Marcela Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dous meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro de Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora da moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno. Não direi as traças que urdi, nem as peitas, nem as alternativas de confiança e temor, nem as esperas baldadas, nem nenhuma outra dessas cousas preliminares. Afirmo-lhes que o asno foi digno do corcel, -- um asno de Sancho, deveras filósofo, que me levou à casa dela, no fim do citado período; apeei-me, bati-lhe na anca e mandei-o pastar. Primeira comoção da minha juventude, que doce que me foste! Tal devia ser, na creação bíblica, o efeito do primeiro sol. Imagina tu esse efeito do primeiro sol, a bater de chapa na face de um mundo em flor. Pois foi a mesma cousa, leitor amigo, e se alguma vez contaste dezoito anos, deves lembrar-te que foi assim mesmo. Goiânia, _______________________________________________de 2020. Aluno (A): _____________________________________________Nº______ Professora: Rita de Cássia Disciplina: Literatura 2ª Série

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REALISMO – Parte III OBS.: Todas as questões objetivas devem ser justificadas

Leia o texto a seguir. Machado de Assis (1839 – 1908), mais expressivo escritor brasileiro do século XIX, no conto “Teoria do Medalhão”, propõe um diálogo no qual o pai ensina a seu filho que, ao chegar à maioridade, deve seguir o “ofício de Medalhão”. Observe os conselhos do pai. “[...] assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição. É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade. - Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá? - Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. [...] - Melhor do que tudo isso, porém, que afinal não passa de mero adorno, são as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e pública. Essas fórmulas têm a vantagem de não obrigar os outros a um esforço inútil. Não as relaciono agora, mas fá-lo-ei por escrito. De resto, o mesmo ofício te irá ensinando os elementos dessa arte difícil de pensar o pensado. (...) Tu poupas aos teus semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes! - E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra pelos espíritos como um jorro súbito de sol. [...] - Acabou-se a necessidade de farejar ocasiões, comissões, irmandades; elas virão ter contigo,com o seu ar pesadão e cru de substantivos desadjetivados, e tu serás o adjetivo dessasorações opacas, o odorífero das flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos cidadãos, onoticioso e suculento dos relatórios. E ser isso é o principal, porque o adjetivo é a alma doidioma, a sua porção idealista e metafísica. O substantivo é a realidade nua e crua, é onaturalismo do vocabulário. - Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. [...] Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.” 1) Aprecie os dizeres do pai e procure configurar o ofício de Medalhão. Leia o texto a seguir para responder à questão.

Capítulo XV – Marcela

Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dous meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro de Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora da moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno. Não direi as traças que urdi, nem as peitas, nem as alternativas de confiança e temor, nem as esperas baldadas, nem nenhuma outra dessas cousas preliminares. Afirmo-lhes que o asno foi digno do corcel, -- um asno de Sancho, deveras filósofo, que me levou à casa dela, no fim do citado período; apeei-me, bati-lhe na anca e mandei-o pastar.

Primeira comoção da minha juventude, que doce que me foste! Tal devia ser, na creação bíblica, o efeito do primeiro sol. Imagina tu esse efeito do primeiro sol, a bater de chapa na face de um mundo em flor. Pois foi a mesma cousa, leitor amigo, e se alguma vez contaste dezoito anos, deves lembrar-te que foi assim mesmo.

Goiânia, _______________________________________________de 2020. Aluno (A): _____________________________________________Nº______ Professora: Rita de Cássia Disciplina: Literatura 2ª Série

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Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer outro nome, que eu de nomes não curo; teve a fase consular e a fase imperial. Na primeira, que foi curta, regemos o Xavier e eu, sem que ele jamais acreditasse dividir comigo o governo de Roma; mas, quando a credulidade não pôde resistir à evidência, o Xavier depôs as insígnias, e eu concentrei todos os poderes na minha mão; foi a fase cesariana. Era meu universo; mas, ai triste! não o era de graça. Foi-me preciso coligir dinheiro, multiplicá-lo, inventá-lo. (Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis) 2) Em relação ao romance de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, é correto afirmar: a) A característica mais acentuada do romance reside na fuga insistente da realidade. b) A obra não apresenta especificamente traços que a definam como um texto realista. c) O texto apresenta otimismo no que se refere às relações humanas. d) O narrador apresenta ao leitor os indícios necessários para que sejam visualizadas a história pregressa de alguém que está morto e a própria tragédia do homem diante de si mesmo. e) O narrador não se refere em nenhum momento ao leitor. Leia o texto a seguir.

3) Em “Dom Casmurro” (1899), Machado de Assis (1839-1908) constrói, na figura de Bento Santiago, o Bentinho, um narrador extremamente peculiar. Pelo texto lido, conclui-se que é A) fato que os olhos de Capitu, grandes e apaixonados, queriam “tragar” Escobar, como o mar o fez. B) lógico que Capitu vencia a si mesma, pois ela estava dissimulando seus segredos. C) objetivo afirmar que o cadáver retinha Capitu assim como o fazia com Sancha, a viúva. D) possível comparar, de forma isenta, os olhos de Capitu aos da viúva, ainda que aquela não chorasse. E) opinião do narrador o fato de Capitu ter olhado apaixonadamente para o defunto, no caixão.

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4) Retomando os quadrinhos que servem como base para esta questão, ainda que a narrativa seja filtrada pelos olhos de Bentinho, ele A) constrói um perfil psicológico de Capitu e, a partir dela, um perfil de si mesmo. B) demonstra sua raiva de Escobar, a quem considerava um traidor. C) detém-se na personagem Sancha, cujo sofrimento consterna a todos. D) limita-se a descrever a cena, adotando uma perspectiva observadora. E) procura pouco se envolver, como se não estivesse presente no velório. 5) O capítulo apresentado nos quadrinhos chama-se “Olhos de Ressaca”. Assinale a alternativa cujo fragmento do texto justifica tal expressão. A) “Mas ela olhou então alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltasse dos olhos algumas lágrimas, poucas e caladas.” B) “mas grandes e abertos como a onda do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.” C) “Muitos homens choravam, as mulheres todas. Só Capitu parecia vencer-se a si mesma.” D) “Redobrou de carícias para a amiga e quis levá-la; mas parece que o cadáver a retinha também.” E)“Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos.” 6) Observe a seguinte frase. “Mas ela olhou então para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não lhe admira saltarem algumas lágrimas dos olhos, poucas e caladas.” A palavra que expressa o juízo de valor de Bentinho sobre Capitu, na cena que você leu é A) apaixonadamente. B) caladas. C) fixa. D) lágrimas. E) olhos. Em “A Cartomante” (quadrinho ao lado), conto de Machado de Assis (1839-1908), o autor explora um triângulo amoroso: Vilela e Camilo são os melhores amigos. O primeiro é advogado, sério; o segundo, funcionário público, tem um emprego que lhe foi arranjado pela mãe. E há Rita: casada com Vilela, amante de Camilo. Bela e tola. Foi a uma cartomante para ter certeza do amor de Camilo. Ficou feliz com a resposta. 7) Nestes poucos quadrinhos, como se desenha a personagem Camilo? A) Camilo aprendeu as crenças e superstições com sua mãe, e mantém-nas na idade adulta, por isso está feliz por Rita ter ido à cartomante. B) Camilo e Rita amavam-se e, por ela, ele frequentaria qualquer lugar, fosse esse baseado na fé ou na superstição. C) Camilo é uma personagem sem estofo: não acreditava em nada simplesmente por não acreditar, e

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nem sabia como explicar isso. D) Camilo não sabia expressar sua incredulidade porque, no fundo, ainda era supersticioso, desviando-se de gatos pretos nas ruas. E) Camilo parece aliviado na última cena. Pode-se dizer que ele tem medo de ser visto com Rita ou que teme as superstições da moça. Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado de Assis (1839-1908), Brás Cubas, o narrador, destila através da ironia toda a sua acidez. Leia o trecho, em que ele se encontra com Eugênia, anos depois de um certo almoço que houve em sua casa.

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8) Brás Cubas continuava na chácara, fazendo a corte à Eugênia mesmo sabendo que não se casaria com ela. Nos últimos quadrinhos, em meio às ironias, há uma explicação plausível e outra imoral para ele não se casar com a moça. Assinale a alternativa que corresponde a essa afirmação. A) Explicação plausível: a família o chama de volta, a possibilidade de noivar, o Parlamento; Desculpa imoral: ele não poderia apresentar uma moça coxa, de sangue bastardo, em sociedade, como sua noiva (essa é a visão hipócrita da personagem). B) Explicação plausível: a família o chama de volta para ser advogado; Desculpa imoral: ele não poderia apresentar uma moça deficiente, sem linhagem, para a sociedade, como sua noiva. C) Explicação plausível: a família o chama de volta, porque seu pai está à morte; Desculpa imoral: ele não poderia apresentar uma moça desconhecida em sociedade, como sua noiva (essa é a visão fidalga da personagem). D) Explicação plausível: é preciso assumir seu lugar no Parlamento (ele que não tinha nenhuma profissão); Desculpa imoral: ele não poderia apresentar uma moça coxa em sociedade, como sua noiva, porque se envergonharia dela (essa é a visão hipócrita da personagem). E) Explicação plausível: existe a possibilidade de noivar – casamento arranjado por interesses políticos; Desculpa imoral: assim, ele não poderia apresentar uma moça, em sociedade, como sua noiva (e o casamento arranjado?). 9) À época a que se refere o texto (final do século XIX), realizavam-se estudos sobre a eugenia na Europa. Veja o que diz a Wikipédia: “Eugenia é um termocriado em 1883 por Francis Galton(1822-1911), significando "bem nascido".Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente.” Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Eugenia>. Acesso em: 20 out. 2012. A partir do texto e da definição de eugenia, infere-se que: A) a eugenia acomete ambas as personagens: a moça, por ser coxa; e Brás Cubas, por sua sordidez. Não há como haver bons descendentes de um homem com essa característica. B) a eugenia falha em relação à observação da personagem Eugênia, pois a definição afirma “estudo dos agentes sob o controle social”, o que não acontece com a moça, que vive reclusa na chácara de sua mãe. C) a moça Eugênia sofre um processo de eugenia: segundo a definição, seu defeito físico poderia “empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente.” D) a relação Eugênia = eugenia: “podem melhorar (...) as qualidades (...) das futuras gerações, (...) mentalmente” =>sua inocência pode melhorar a sociedade burguesa hipócrita do século XIX. E) o nome “Eugênia” (eugenia) pode remeter-se ao fato de que, daquela sociedade burguesa e preconceituosa do século XIX, a moça, com um defeito físico “simbolizando” a marca da traição de seus pais, nunca poderia participar.