Reabilitação da Ilha de Moçambique -...

32
Reabilitação da FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO Ilha de Moçambique

Transcript of Reabilitação da Ilha de Moçambique -...

Reabilitação da

FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO Ilha de Moçambique

koninkrijk der Nederlanden

Reabilitaçãoda

FORTALEZADESÃOSEBASTIÃO IlhadeMoçambique

EditadoporLazareEloundoueJanaWeydt

CentrodoPatrimónioMundialdaUNESCO

Quando em 1991, sob proposta do Governode Moçambique, a Ilha de Moçambique foiproclamada Património Mundial pela UNESCO,realizava-se uma das grandes aspirações dosmoçambicanos, tendo em vista estender àtodos os povos do mundo, o usufruto do ricoe diversificado património cultural que a Ilha de Moçambique incorpora. Esse desideratorepresenta responsabilidadeacrescidanoâmbitodaimplementaçãodoProgramadeReabilitaçãoIntegrada e Desenvolvimento Sustentável da IlhadeMoçambique,queestabelecemos.

No conjunto dos 50 projectos definidos pelo Programa, a reabilitação da Fortaleza SãoSebastiãofoiconsideradaumaacçãoestratégica,nãoapenaspeloseuvalorhistóricoeimponência,mastambém,porsersusceptíveldedesencadearodesenvolvimentodeoutrossectoreseactividades,mormente o turismo, que tem contribuídosubstancialmenteparaaelevaçãodaqualidadedevidadosilhéusedasinstituições.

Este é o grande significado e importância que Moçambiqueconfereaoinestimávelapoioprestadopelos diferentes parceiros (Japão, Portugal/IPAD,UCCLA,HolandaeFlandreseUNESCO),naprimeirafase da reabilitação da Fortaleza, um gesto quetestemunha a sensibilidade dos Estados e Povos,em relação ao património comum que a Ilha deMoçambiquerepresenta.

As obras da primeira fase da reabilitação,permitiramrobusteceraestruturadomonumento,eosucessoalcançadonosorgulhaeimpeleparaaconcretizaçãodonossoanseio,queédetornaraFortaleza,numedifíciodegrandeutilidadesociale pública. É por isso que, em coordenação comas comunidades locais, já definimos o seu uso pós reabilitação,atomaremconsideraçãonasegundafase.Noentanto,tudodependedacontinuidadedacomparticipaçãodesteseoutrosparceiros,aosquaisMoçambiquemuitoagradece.

DrAIRESBONIFÁCIOBAPTISTAALIMinistrodaEducaçãoeCulturadaRepúblicadeMoçambique

Vistaaéreadafortaleza

Sra.CLAUDIAHARVEYDirectoradoescritóriodaUNESCOemMaputo

A Ilha de Moçambique, a encruzilhada de tantas culturas no passado, abriga comunidades vivas que enfrentam os desafios de desenvolvimentonumapequenailhaexpostaenosseusarredores,bemcomovestígiosdeumpassadoglorioso,eexerceumafascinaçãoinevitável.

Recentemente, as Nações Unidas exploraram o potencial da ilha como espaço geográfico pequeno mas complexo, para supervisar depertoosresultadosdaacçãodedesenvolvimentonumfuturoprevisível,buscandoacooperaçãodoGovernodeMoçambiqueedeparceiros.Portanto,vêemaspossibilidadesdeesforçosintegradoscomvistasaodesenvolvimentohumanoproduziremfrutosvisíveis,comonocasodoprojectoderestaurodaFortalezadeSãoSebastião,comoilustraestapublicação.

Actualmente, um comité interinstitucional das Nações Unidas está a examinar essas possibilidades, enfrentando desafios apresentados porassentamentoshumanos,nocontextodapreservaçãodopassado.PrestaapoioaoGovernonosesforçoscomvistaaalcançaroseuobjectivodeumapopulaçãototalmentealfabetizada,transmitindocompetênciasàsmulhereseaosjovensatravésdoProjectoAldeiasdoMilénio,etrabalhandocomartistaseconservadoresdaherança intangívelparamaximizaropotencialde indústriascriativasnailha.Otrabalhocomailhaconstituiumpreciosoexemplodecasodetesteparaainiciativa“DeliveringasOne”(UnidosnaAcção),trabalhandoemproldecomunidadesunidasederesponsabilidadedoEstado,deapoioporpartedosparceirosederealizaçãodospotenciaishumanosedeobjectivosinternacionaisdecididoscolectivamente.EstaéaatracçãoeapromessadosítiodoPatrimónioMundialdaIlhadeMoçambique.

Varandasobreaentradaprincipal.

Sr.MIGUELANACORETACORREIASecretáriodaUCCLAUnião das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas

ConvencidadovalorculturalúnicoquepossuiaFortalezadeSãoSebastiãoparaa cidade-ilha de Moçambique e paraas regiões vizinhas, bem como do seupotencial como factor de expansãoeconómica,aUCCLA(UniãodasCidadesCapitais Luso-Afro-Americo-Asiáticas)aderiu ao projecto da UNESCO para orestaurodomonumentoeemparticularparaoseureaproveitamentocomvistaàsustentabilidadelocaleregional.

A Ilha de Moçambique, capital deMoçambiqueaté18��,foiumimportanteempório na Costa Africana oriental atéaoséculoXVIIIetornou-se,aolongodosséculos,numsingularcadinhodeculturasafricana,árabeeeuropeia.

A antiga capital tornou-se membroefectivodaUCCLAem199�,apoiandoassim o seu mandato com vista apromover a cultura e a identidadelusófonas num mundo globalizado, aenriquecer a diversidade cultural e aevoluir conjuntamente em direcção auma melhoria das condições de vidaparaaspopulações.

PRÓLOGO S.Exa.oSr.TADAMICHIYAMAMOTOEmbaixadorDelegado permanente do Japão naUnesco

Écomimensasatisfaçãoqueconstatoaconclusãobemsucedidadestaprimeirainiciativa de restauro da Fortaleza deSãoSebastião,naIlhadeMoçambique.Oprojectofoi lançadoem�00�,comoapoio financeiro do Governo japonês, através do seu Fundo Fiduciário paraa Preservação do Património CulturalMundial, com a finalidade de preservar a fortaleza, que é uma testemunhaextraordináriadahistóriadailha.É o segundo projecto na África Sub-Saariana financiado pelo Fundo Fiduciário do Japão e regozijamo-nospelo facto de o interesse internacionalpor este monumento ter aumentado,namedidaemqueoutrosdoadores secomprometeram, nos últimos anos, aprestar o seu apoio financeiro.

Esta cooperação internacionaldemonstra claramente a importânciadeste monumento para o povo deMoçambique, bem como para todaa humanidade. Alegra-nos muito queo nosso projecto relativo ao FundoFiduciário tenha, efectivamente,produzido um significativo impulso à valorização da Ilha de Moçambique edesejamos incentivarumaparticipaçãomais activa por parte da comunidadeinternacionalcomvistaàsalvaguardaeàpreservaçãodesteSítiodoPatrimónioMundial.

Prof.DrMANUELCORREIAPresidente do IPAD (Instituto PortuguêsdeApoioaoDesenvolvimento)

Há vários anos, Portugal mantém umacordo de parceria com a UNESCO,que inclui um Fundo Fiduciário a serusado para o financiamento ou o co-financiamento de projectos em países africanosdelínguaportuguesa.Nestesentido,foicomgrandesatisfaçãoque o Governo português, através doIPAD (Instituto Português de Apoio aoDesenvolvimento), aderiu ao grupo dedoadoresparaesteimportanteprojectocomvistaaorestaurodaFortalezadeSãoSebastião, sítio do Património Mundial,naIlhadeMoçambique.Aconsolidaçãodeestruturas,bemcomoa limpezaeaimpermeabilização das superfícies emquehaviamuitadegradaçãoháapenasalguns meses, foram realizadas comsucesso, graças à participação activade trabalhadores locais cujo trabalhoreconhecemoseapreciamos.

O envolvimento de Portugal nestainiciativa continuará e será importanteparaacontinuaçãodasobrasquejátêmmostradoresultadostãoimpressionantesnesta primeira fortaleza portuguesa noOceano Índico. Assim, Portugal apelaà comunidade internacional para queseassocieaos seusesforçosedêo seuapoio financeiro às obras em curso, com vistasàconclusãodasobrasderestaurodafortalezaaté�011.

Sr.NICVANDERMARLIERERepresentantedogovernoFlamengoemFrança

Para além do seu extenso programade cooperação com Moçambique, aFlandres também contribui através doseu fundo fiduciário para a melhoria do estado de conservação da Ilha deMoçambique. O projecto de restaurode São Sebastião desempenha, semdúvidaalguma,umpapelimportantenasalvaguarda da Ilha de Moçambique,comosítiodoPatrimónioMundial.

Noâmbitodeumaabordagemquádruplae multilateral, o fundo fiduciário flamengo vematenderaoobjectivodesuprircomeficácia as necessidades prementes e complexasdailha.

As actividades incluem um estudopormenorizado sobre o estado deconservação, a finalização do plano de gestãodecincoanos,apreservaçãodafortaleza e a construção de uma novacisternaparausodacomunidade,bemcomo um filme documentário sobre o processoderestauro.

A Flandres espera que esses esforçospossam contribuir para a conservaçãoe o desenvolvimento sustentável destesítio do Património Mundial, bem comoparaumamelhoriageraldascondiçõesdevidanailha.

S.Exa.oSr.BARENDTERHAAREmbaixadorDelegadoPermanentedospaísesBaixosnaUNESCO

EmnomedoGovernoneerlandês,tenhoimensa satisfação em expressar o meucontentamento pelo desenvolvimentodinâmicoebemsucedidodoprojecto.Os Países Baixos são um parceirorecentenasobrasderestauronaIlhadeMoçambique.Há vínculos históricos entre a ilha e osPaísesBaixos.QuandoaCompanhiadasÍndiasOrientaisholandesafoiconstituída,em 1602, os Holandeses fizeram três tentativas – entre 160� e 1608 – paracapturar a ilha a fim de ser utilizada como porto, mas os �00 canhões daFortalezadeSãoSebastiãorechaçaram-nosacadavez.Anossacontribuiçãoactualvaialémdaprimeirafasedeestabilizaçãodoprédio,com vista à sua preparação para usofuturocomocentrodeconservaçãoedeinvestigaçõesmarítimasecomodestinoturístico e pólo de desenvolvimentoeconómico no Norte de Moçambique.Como objecto da sua intervenção, oGoverno, juntamente com a UNESCOe o Governo moçambicano, escolheuo restauro do sistema hidráulico e dascisternas.Foram adaptados ao uso futuro dafortalezaeàsnecessidadesdapopulaçãolocal, para a qual representam umaimportantefontehidráulica.Estoumuitoimpressionado com os progressos quetêm sido alcançados e o projecto temdemonstradotergrandepotencial.

Fachadainteriordopátio

6

OSÍTIODOPATRIMÓNIOMUNDIALDAILHADEMOÇAMBIQUESr.FRANCESCOBANDARINDirectordoCentrodoPatrimónioMundialdaUNESCO

AcidadelaIlhadeMoçambiqueencontra-sea�000kmao norte de Maputo, a capital de Moçambique,eocupaumaposiçãonoOceano Índicoque foioutrora privilegiada, sendo testemunha de umpassadodegranderiquezahistórica,dadoquefoium importante empório situado na rota marítimaentreaÁfricaeaÁsia.Esta ilha encerra, na verdade, a sequência deilhas empórios que se encontram ao largo dacosta oriental africana, entre as quais os sítiosdo Património Mundial da Cidade de Pedra deZanzibar, na República Unida da Tanzânia, e aCidadeAntigadeLamu,noQuénia.

Asuahistóriaépontuadadebatalhasdeconquistae de invasões entre os poderes económicosconcorrentes da época, mas também devido àsua posição de encruzilhada de culturas, na rotamovimentadadocomérciointernacional.Com efeito, a característica mais notável dailha é o seu carácter nitidamente urbano, queinclui uma infra-estrutura desenvolvida, com umcomplexohospitalar,váriosmuseus,escolas,igrejase cisternas. Isto também transparece nos traçospluriculturaisdosnumerososhabitanteseviajantesque,aolongodosséculos,deixaramasuamarcanaaparênciadacidade:Árabes,swahilis,bantus,portugueses, ingleses, chineses, turcos, indianos,franceses, hindus, cristãos e muçulmanos, entreoutros.

A ilhafoiusadacomoempóriocomercialapartirdoséculoVIII,massomentequandooexploradorportuguês Vasco da Gama lá chegou, em 1�98,declarando que a ilha pertencia a Portugal,que os assentamentos urbanos foram realizados,graçasàscompetênciasemengenhariadosseuscompatriotas, que permitiram a construção decomplexos sistemas de armazenagem de água,registando-osjáapartirdoséculoXVI.Transcorreu mais um século e os mercadosfloresceram o suficiente para permitir que o número dehabitantesdailhaatransformasseemvila(176�)e por fim em cidade em 1818. Embora a economia internacional em expansão tenha, no início,comerciado especiarias e marfim, o tráfico de escravostornou-secadavezmaiseingloriosamenteofocodasatençõesapartirdoséculoXIX.Ailhafôra a capital da colónia portuguesa até 1898,quando mudanças infra-estruturais e económicasdeslocaramestafunçãoparaMaputo.

Eventos de grande importância no decorrerdo século XX - independência em 197� e asinsurreiçõesde16anosdeguerracivil-acarretaramconsideráveismudançasparaapopulação,bemcomo novos desafios que suscitam preocupações atéhoje.

Otecidourbanoeosprédiosdacidaderegistamas fases do seu processo de desenvolvimento demaneiraespantosa.Emparticular,anítidadivisãoentreaarquitecturaoriginariamenteportuguesana“CidadedePedra”,aoNorte,queintegradistintascaracterísticas de influência swahili e árabe, e a arquitectura vernácula, na “Cidade Macuti”, aoSul, é notável. A divisão é ainda mais salientadapelos diferentes níveis dos dois distritos, queresultado factoqueaCidadedePedracolonialfoi construída com material extraído da CidadeMacuti, nas antigas pedreiras. Obviamente, taisestruturasencerramumagrandepartedahistóriada cidade e alguns aspectos importantes docolonialismo.

Em1991,aIlhadeMoçambiquefoiinscritanaListado Património Mundial da UNESCO, em virtudedos critérios (iv) e (v), como sendo um “exemploextraordináriodearquitecturanaqualastradiçõeslocais, as influências portuguesas e, numa menor medida, as influências indiana e árabe se encontram todas interligadas”, constituindo assim“um importante vestígio do assentamento e dodesenvolvimento das rotas marítimas portuguesasentreaEuropaOcidentaleosub-continenteindiano-eporconseguintetodaaÁsia”(recomendaçãodoICOMOSparaanomeação,1991).Apenasumano mais tarde, em 1992, a paz finalmente encerrou olongoperíododeguerracivilnopaís.

O mais imponente monumento na ilha, senão amaisimpressionantearquitecturamilitaremtodaaÁfrica,éaFortalezadeSãoSebastião(1��8-16�0),cujo restauro esta publicação celebra. Desde asua construção, por ordem do Rei de Portugal,Dom João III, e sob a autoridade do Vice-Rei daÍndia, Dom João de Castro, tem desafiado a história,transmitindoumagrandepartedoespíritodefensivoquepresidiuàsuaconstrução.

A planta e a estrutura da fortaleza obedecemà tradição europeia desenvolvida com basena arquitectura militar da Renascença italiana.InternalSouthfacade

Todavia, novas importantes descobertas feitasdurante as obras de restauro indicam que umagrandepartedahistóriadestemonumentoaindaestáporserdescoberta.Embora a função de defesa militar tenha hojeperdido o seu sentido para a ilha, a ideia dafortaleza como defensora do património culturalparece ser mais apropriada aos tempos actuais.Sem dúvida alguma, o restabelecimento detécnicas tradicionais de conservação durante asobras de restauro terão um significativo impacto na conservaçãosustentáveldoconjuntodailha.

Além disso, a UNESCO acredita e espera quea completa restauração da fortaleza, a suaconsolidaçãoeonovodestinoquelheseráatribuídonão somente preservarão o seu valor históricoe arquitectónico para as futuras gerações, masserátambémumimportantevectordeexpansãodaeconomiada ilhaeumcatalisadorparamaisamplas actividades com vistas a salvaguardar opatrimónio arquitectónico e o desenvolvimentoeconómicosustentáveldailha.

Émaravilhosoealtamenteencorajanteconstataro quanto este projecto da UNESCO se temtransformado em cooperação internacionalcom múltiplos doadores, recebendo fundos decinco doadores distintos. A primeira iniciativa foiensejadaporfundosprovidospeloJapão.Duranteaimplementação,juntaram-seàiniciativaaUniãodas Cidades Capitais Luso-Afro-Americo-Asiáticas(UCCLA) e o Instituto Português de Apoio aoDesenvolvimento (IPAD), como o fizeram, em 2008, aFlandreseosPaísesBaixos.

AUNESCOtemgrandeorgulhoemtersidoassociadaaeste importanteprojecto,queconvergeparaagrande tradição das campanhas internacionaisdesalvaguardaquetêmsidoimplementadascoma ampla cooperação de governos e do sectorprivadoemmuitasregiõesdomundo,nodecorrerdosúltimos�0anos.

A UNESCO manifesta o seu reconhecimento aosdoadores cujos generosos contributos tornarampossíveis essas consideráveis realizações eapresentaosseusagradecimentosatodososseusparceiros, profissionais e interessados envolvidos nestafrutuosacooperação.

Apresentamos especiais agradecimentos aoGoverno Moçambicano, cujo indefectível apoio,orientação e acompanhamento das actividadesforam totalmente imprescindíveis para que esteprojectopudessetornar-serealidade.

A UNESCO espera reforçar a cooperação comvistas à conservação do património cultural enaturaldeMoçambique.

Por fim, a UNESCO apela a todos os doadores e à comunidade internacional para que continuema dar apoio aos esforços de preservaçãodo património mundial como componentefundamentaldodesenvolvimentosocialehumanodopaísedaregião.

7

MapadaIlha,datadode19�7.

8

CONSERVAÇÃOCOMVISTAAUMDESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Sr.BENOÎTSOSSOUDirectordoEscritóriodaUNESCOdeYaoundéeex-DirectordoEscritóriodaUNESCOdeMaputo

OprojectodaUNESCOderestaurodaFortalezadeSãoSebastião,naIlhadeMoçambique,baseia-senapercepçãodequeapreservaçãodopatrimóniocultural encerra um enorme potencial com vistaao desenvolvimento sustentável e à atenuaçãoda pobreza. Com efeito, os valores culturais têmavantagemdeenglobaraomesmotempováriosaspectos da configuração social, económica e ambientaldeumasociedade,promovendoideiase atitudes que favoreçam o respeito mútuo, acoesãosocialeapaz.

A cultura como força motriz em expansãogranjeou maior reconhecimento no decorrer daúltimadécada,comoéevidenciadopelonúmerode instrumentos normativos implementados, emparticularastrêsconvençõesculturaisdaUNESCOratificadas, que complementam a Convenção sobre o Património Mundial de 197�: sobre aProtecção do Património Cultural Subaquático(�001), a Salvaguarda do Património CulturalImaterial (�00�) e a Protecção e Promoção daDiversidade das Expressões Culturais (�00�). Asestatísticas reflectem mais amplamente o aumento daforçaeconómicadosectorculturalnomundointeiro e, como os valores culturais estão muitasvezes intrinsecamentevinculadosaoseu lugardeorigem,oferecemgrandesoportunidadesparaospaísesemdesenvolvimento.

Assim, a UNESCO e os seus parceiros estimamque o projecto de restauro é um meio proactivoperfeitamenteadequadoparaabordarasquestõespertinentesrelativasaodesenvolvimento,quetemenfrentadoaregiãonortedeMoçambique,desdeo fim da guerra civil em 1992. Se for gerido de maneiraaatingirosseusobjectivos,esteprojectopoderáserocatalisadordeumfuturomaisprósperoparaoPatrimónioMundialCultural,paraaregiãodeNampulaeparatodoopaís.

O projecto já teve efeitos significativos para a ilha. Acima de tudo, a criação de empregos para acomunidade local foi de extrema importâncianestaregião–cercade100habitanteslocaisforamenvolvidos no trabalho e nas obras e avaliaçãotécnica preparatória e beneficiaram de formação profissional. O aprovisionamento em técnicas Torredevigia

Canaisdecaptaçãodeáguadaschuvas

Varanda

9

tradicionais de construção, métodos e materiaisfavoreceu a intervenção e as competências dospedreiros e artesãos locais. Reuniões regularesdo Comité de Direcção como tribuna para aconsciencialização e participação envolveraminteressados locais e parceiros, ao mesmo tempoque incentivaram um importante intercâmbio deexperiênciassobreareutilizaçãodoprédioesobreasquestõesconexasquesuscitampreocupaçõespara a conservação e a gestão de toda a ilha.Uma melhoria extremamente directa e tangíveldascondiçõesdevidanailhaérepresentadapelarestauração do sistema de colecta de águas dafortalezaepela instalaçãodeumanovacisternadestinadaaopúblicoemgeral.

Na verdade, a fortaleza restaurada abrirá aeconomiada ilhae trarámelhoriasparao futurobem-estar, sendo que este projecto oferece aoportunidade de reflectir e decidir sobre a sua mais apropriadafunçãohoje,comemorandooseuusotradicionaleapontando,aomesmotempo,paraumfuturopromissor,como,porexemplo,centrodeinvestigaçõesparaaconservaçãodopatrimóniocultural, em cooperação com universidadesnacionaiseinternacionais.

Eparaconcluir,aUNESCOreconhececomgratidãoa iniciativadoGovernomoçambicanode lançaraactividadedesalvaguardainternacionalparaafortalezadeSãoSebastião,tirandoapropriadamenteproveito do estatuto do Património Mundial dailhaedoseuimpactopositivoparaalémdamerarestauraçãodafortaleza.Osresultadosalcançadosdevem ser vistos no contexto de um crescentedesenvolvimento dinâmico na ilha e nas regiõesvizinhas – hoje, um grande número de projectosinternacionais consolidados e programas apoiamo Governo moçambicano nos seus esforços comvistaamelhorarascondiçõesdevidados ilhéus,bemcomodomeioambienteurbanodailha.

Osmaisimportantesdestesprojectoseprogramassão o Projecto Aldeias do Milénio, uma parceriaentreasociedadeciviledepartamentoseagênciasdas Nações Unidas, com vistas a reforçar asindústriasculturaisecriativaseaspolíticasinclusivasem Moçambique, bem como a preparação doPlanodeGestãoedoPlanodeDesenvolvimentoIntegradoparaaIlhadeMoçambique.ContinuemosatrilharestecaminhopromissoreunamosasnossasforçasemproldodesenvolvimentosustentáveldaIlhadeMoçambiqueedoseupovo.

VistasdaIlhaedassuasgentes

10

BREVE DESCRIÇÃO DA ILHA DEMOÇAMBIQUE

AcidadeinsularIlhadeMoçambique,quedeuorigemaonomedopaís,foiregistadanasrotasdenavegaçãodoOceanoÍndicoháváriosséculos.Representaumimportante vestígio do estabelecimento de rotasmarítimasportuguesasentreaEuropaOcidentaleosubcontinente indiano,tendo-seelaprópriatornadonumaespéciedevínculocomtodaaÁsia.Ailhaestálocalizadanumrecifedecoralcompraiasde areia que formam uma barreira entre o maraberto e a baía. Implantada em águas calmas eprotegidapelosrecifes,comocontinenteaapenas� km a oeste, ela oferece um ancoradouro naturalseguro para barcos e navios. Estreitos canais demaré formam a entrada da baía e foram outroraintensamenteobservadoseprotegidospelafortalezadeSãoSebastiãoeSãoLourenço.A baía é usada ainda hoje para comunicaçãopelosbarcospertencentesaumasériedeempresasde pequenas aldeias, que possuem o que resta defazendas fortificadas, empórios comerciais, mesquitas e cemitérios, alguns dos quais ainda estão emfuncionamento.

A actual população da ilha é principalmentedescendentede imigrantesbantus,noano�00d.C.CompopulaçõesárabesquecomerciaramdoséculoVIII ao século XVI, a ilha foi exposta ao Islão, umainfluência ainda particularmente evidente no idioma local,onaharsa.Com o assentamento dos Portugueses, nos séculosXVI e XVII, seguido pela dominação económicaindiana durante os dois séculos seguintes e maistarde o tráfico de escravos, a ilha tornou-se num verdadeiro cadinho intercultural. Em 197�, com aindependência de Moçambique, a ilha adquiriu asuaprópria identidade,nocontextodeumanaçãorecentementeindependente.A ilha, agora ligada ao continente em Sanculo-Lumbo,porumaponte,tem�kmdecomprimentoe�00ma�00mde largura,comumaáreaurbanadeaproximadamente1km²equase1�.000habitantes.

Hádoistiposdehabitações:• A “Cidade de Pedra”, construída em pedra ecal, na ponta norte da ilha, ocupa três sétimos dasua superfície. Sede do primeiro governo colonialportuguês(1�07–1898),naqualoconjuntodeprédiosadministrativos, casas de comércio e armazéns,lugares de memória patrimoniais e algumasresidências oferecem o seu charme particular deestruturasoriginaisedemateriaisdeconstruçãoqueparecemterpermanecidoinalteradosdesdeoséculo

XIX.Ohospitaleoseuparquedelimitama fronteiracomaCidadedePedra.• A “Cidade Macuti”, cujo nome provém dostelhados de palha, surgiu mais tarde, em 1868,quando um decreto foi promulgado, prescrevendoque as cabanas somente eram admitidas na áreaao sul do hospital. Para a população nativa, istosignificou que as cabanas tinham de ser removidas para as pedreiras abandonadas. Macuti é umazona residencial com actividades comerciais locaisemergentes e representa cerca de dois sétimos daáreatotaldailha.OrestodailhaconsistenoscamposdeSãoGabriel,nonorte,próximoàFortalezadeSãoSebastião,enocemitério,naextremidadesul.Devido à ausência de lençol freático, desde osprimeiros assentamentos a água foi obtida atravésdacolectadeáguadachuvaemtelhadosplanos.Isto deu lugar a um estilo arquitectónico particularemquasetodososprédios,desdeasimplescabanamacutiatéaosgrandesprédioscomerciaisnaCidadedePedra.A maior parte dos residentes da ilha ganha a vidacomapesca,algunsexercemactividadesagrícolase fabricações artesanais no continente, ao passoque outros estão envolvidos em comércio locale na produção e marketing prospectivo do sal. Arecentemelhoria representadapelaponteque ligaailhaaocontinentedeveráaumentaramobilidadeeconómicaesocial.

De uma maneira simplificada, podemos dizer que a ilha perdeugradualmenteasuaimportânciaeconómicaepolíticaaolongodosséculos.Foiacapitaldacolóniaportuguesade1�07até1898,quandoajurisdiçãofoitransferidaparaoEstado,tendoacidadequehojesechamaMaputosetransformadoemcapital.Todavia,estamudançanãoafectouimediatamenteavidanailha.Aaberturasimultâneadointeriordocontinenteparaocomércioproporcionoumaioresrendimentosparaoscomercianteslocais,nãoobstanteofactodequeaaberturadoCanaldeSuezem1869tambémteve um efeito negativo no comércio exterior. Em19��, a ilha também perdeu o seu estatuto decapitaldaprovínciadeNiassa,aqualfoitransferidapara Nampula. Por outro lado, quando o porto deNacala foi inaugurado,em19�1,amaiorpartedasactividades comerciais e praticamente todas asactividadesdenavegaçãonailhacessaram.Durante a década de 1960, a ilha registou umaligeira reactivaçãoeconómica,comoaumentodoturismo. Naquela época, os Portugueses estavam arestaurarumcertonúmerodemonumentosreligiosos,administrativosemilitares,unicamentecomointuitode aumentar a sua atratividade para os turistas,comofoiocasodoPaláciodoGovernador,quehojeéummuseu.

11

Com o advento da independência, em 197�, umcertonúmerodePortugueseseosseusdescendentesdeixaram a ilha e o país. Os prédios abandonadosforam ocupados por habitantes locais. Alguns dosmais pobres foram obrigados a retirar vigas, pisos,portasejanelasparaosutilizaremnovasestruturaseassentamentosemdiversasáreasdailha.

AdespeitodosesforçosempreendidospeloGovernodeMoçambiqueapós197�comvistaapromoverasalvaguarda da ilha, o início da guerra civil anulouas iniciativas anteriores e debilitou a capacidadeinstaladadailha.

A estagnação da economia no final da década de 1980einíciodade1990,consequênciadaguerracivil,entre outras razões, afectou a economia de quasesubsistênciada ilha, solapandoaindamaisaordemfísicaeeconómica.Umcertonúmeroderefugiadoschegaram à ilha durante a guerra civil, o que tevepor consequência o aumento dos problemas dedensidadeexcessivaedapobreza.Comosacordosdepaz,amaiorpartedosrefugiadosforamreinstalar-senocontinente.

Emborasendoaságuascircundantesprotegidas,ailhaéafectadaportempestadesacadaano.Em�008,umciclonecausouconsideráveisdanosà fortaleza, tendoaUNESCOreagido,atravésdaprestaçãodeassistência internacionalnos termosda Convenção sobre a Protecção do PatrimónioMundial.

Adespeitodeainfra-estruturaeconómicadailhapermanecerprecária,comoéocasodasituaçãoglobaldopaís,queaindaestáarecuperar-sedosanos de luta pela independência e das guerrascivis,asituaçãogeraltemmostradoclarosindíciosdedesenvolvimentoemelhoriasnosplanossocialeeconómico.OSítiodoPatrimónioMundialdaIlhadeMoçambiqueestápor tornar-senumexemplode desenvolvimento sustentável, melhorando ascondiçõesdevidaparaosseushabitantes,atravésdeactividadescomvistasàpreservaçãodosseusbensculturais,tornando-se,aomesmotempo,umaatracçãoturísticanacionaleinternacional.

MapadaIlha(16�9),ilustradano“Codiceiluminado1�9”,AntónioMarizCarneiroDescrição das Fortalezas de Sofala e das mais da India.

AFORTALEZADESÃOSEBASTIÃO

A construção da Fortaleza de São Sebastião,encomendada por Dom João de Castro, Vice-Reidas ÍndiasPortuguesas,foi realizadade1���a1��7.Uma estrutura maciça e intimidante era necessáriapara afirmar o papel de Portugal e defender os seus interesses no turbilhão de um crescente comérciointernacionaleoarquitectomilitarportuguêsMiguelde Arruda (morto em 1�6�) foi escolhido para aconcepção de uma fortaleza destinada a substituiroobsoletopequenofortedeSãoGabriel,quetinhasem dúvida alguma perdido a sua capacidade deenfrentar a ameaça iminente dos sultanatos Swahilivizinhos,bemcomoaartilhariaturca.

A falta de mão-de-obra especializada atrasouas obras até 1��8, quando cortadores de pedrasoriundos de Goa, escravos e residentes finalmente começaramaconstruiresteimensoempreendimento,querecebeuasuaprimeiraguarniçãomilitarem1�8�.Acapacidadeinicialdafortaleza,decercadetrintasoldados e oficiais coloniais, foi aumentada até ao século XIX, quando várias centenas de soldados dediferentescompanhiasforamalibaseadosealgumasalasforamusadascomoprisãoaté197�.AFortalezadeSãoSebastiãopossuíanotávelpotênciamilitar,comumimportantearsenaldeartilhariaedepólvora de canhão para defender e contra-atacaro inimigo. Em épocas de ameaças de ataques, elaofereciaabrigoaosilhéus–comoocorreuduranteainvasão holandesa em 1607, quando a populaçãolocal resistiu ao cerco durante três meses, graçasprincipalmenteaosistemacomplexodecolectadeáguaspluviaisinstaladonostelhadosconcebidosdemaneirainteligente.Ascisternasdafortalezatambémserviam para reabastecer os reservatórios de águadosnaviosmercantes.

A descrição da fortaleza na legendária narrativade viagem em Moçambique do século XVI EtiópiaOriental,domissionáriodominicanoPadreJoãodosSantos(mortoemGoa,em16��), indicaquepoucomudoudesdeasuaorigem,dadoqueasestruturasreferidas ainda existem – em particular, a pequenacapeladeNossaSenhoradoBaluarte,quesepensaseramaisantigaconstruçãoportuguesanohemisfériosul e, com as suas arcadas finamente trabalhadas, um exemploextraordináriodearquitecturamanuelina.

Na ponta desta ilha, à entrada do banco de areia, encontra-se a fortaleza, onde o capitão vive junto com os soldados de guarda portugueses, que ficam em prontidão dia e noite: durante o dia, à entrada, e à noite, no alto das muralhas e dos bastiões (dos quais há quatro exemplos de grande solidez: dois

frente ao mar e dois voltados para a ilha), e na qual o mar aparece num lado e no outro, havendo ali um grande número de belas e possantes peças de artilharia; ... dentro da fortaleza, há uma cisterna com capacidade para 800.000 litros de água pluvial, colectada através de canos que vêm do alto dos telhados e das paredes. Na parte interna, há depósitos para pólvora de canhão e outros elementos necessários à defesa da fortaleza, bem como reservas de arroz e milho... No pátio central da fortaleza, há uma nova igreja, que ainda está por ser acabada, que servirá de Sé, e junto desta, uma Santa Casa de Misericórdia. Esta fortaleza é uma das mais sólidas nas Índias. Fora da fortaleza, na ponta da ilha, há uma capela de Nossa Senhora do Baluarte, cujo nome foi dado por respeito ao facto que a igreja tinha sido um baluarte, no qual era mantida a artilharia de defesa, antes da construção da fortaleza.

Fonte:AdaptadodeLuísFelipePereira,AFortalezadeSãoSebastião,Paris,UNESCO,�00�.

1�

Mapadafortaleza(180�)porCarlosJosédosReiseGama

1�

Remoçãodavegetaçãodasmuralhas. Reconstruçãoeimpermeabilizaçãodaslajesdecoberturaempedradecoral.

1� Plantadosegundonível.

1�

PROJECTODERESTAURODAFORTALEZADESÃOSEBASTIÃO:Estratégiaderestauração,obrasrealizadaseresultadosobtidosSr.JOSÉFORJAZJoséForjazArquitectos-ConsultoresemArquitecturaesupervisoresdasobras

O concurso internacional para o projecto derestauração e reabilitação da Fortaleza de SãoSebastião,na IlhadeMoçambique, representouummomento extremamente importante e significativo para a carreira profissional dos consultores em arquitectura, tendo-lhes proporcionado aoportunidadedecompetircomumgrandenúmerode especialistas internacionais altamente qualificados edevidoaovaloremocionalesimbólicoqueexercea fortalezaemtodososarquitectosmoçambicanos,osquaistêmsidohátantosanosfascinadospelailhaemobilizadospelosseusproblemas.

O trabalho de levantamento representou umaoportunidadeúnicaparaummaisamploestudodahistória e das técnicas secretas da fortaleza e, aomesmo tempo, para a apreciação das obras e dogénioartísticodetrabalhadoresafricanoseeuropeusque juntos tornaram possível esta extraordináriarealizaçãohumana.

A maior parte das intervenções propostas para aprimeiraetapadasobrasderestaurorelacionavam-secom a manutenção, a fim de suprimir o processo de degradaçãoprogressivadaestrutura,masfoisentidaa necessidade de acrescentar novas dimensõesao carácter utilitário da fortaleza, dado que a suafinalidade defensiva já não era justificada, e impedir que este rico património histórico se tornasse numameramonumentalpeçademuseu.Nestesentido,eraimprescindívelqueafunçãomaisimediataemaisútildafortalezacomofontedeabastecimentodeáguaà comunidade dos ilhéus não devia ser afectadapelasobraseporqualquerusofuturo.

Para o efeito, foi proposta a construção de umanova cisterna de água limpa, fora das muralhas dedefesa,alimentadaapartirdeumsistemadecolectade águas pluviais completamente restaurado emelhorado, instalado na fortaleza. Desta maneira,o melhor uso possível das características históricasdo monumento pode ser feito, ajudando, aomesmotempo,amelhorarascondiçõesdevidadacomunidade.

As limitações financeiras do projecto não permitiram que fossem recuperados completamente todos oselementosestruturaisda fortaleza,emboraoestudocontenha todos os elementos necessários parauma intervenção completa orientada para a sua

adaptação às distintas funções a serem identificadas comoapropriadasparausofuturo.Emapenasumcasoforampropostasalteraçõesaosaspectosoriginaisespaciaiseestruturaisdosprédios.Um interior com dois pisos foi planeado, para tirarproveito de uma estrutura de piso suspenso quedesabou,noqualamemóriadasobrasderestauraçãoserápreservadaeumespaçodemúltiplosusosmuitoespecialserácriado.

EstragégiadeintervençãoOs estudos e as análises pormenorizadas realizadospara a definição e a quantificação das intervenções exigidas para o restauro da fortaleza forneceram ainformação necessária à definição da estratégia de intervenção:•Afortalezafoisubmetidaaumnúmeroincontáveldetransformaçõesdurantea suahistória,emparticularentre o início e meados do século XX, como confirma adocumentaçãoencontradanosArquivosNacionaiseemoutrasfontes.•Estas transformações relacionavam-se, na maioriados casos, com a construção de paredes desubdivisãoecomaadaptaçãodeprédiosparausosdiferentesdaquelesoriginalmentedesignados.•A maior parte da laje dos tectos, originalmenteconstruídacomvigasdemadeirasobreasquaisumconcreto feitodepedrasdecoraleraaplicadoemtelhas de cerâmica ou lajes de pedras de coral, foisubstituídaporlajesdeconcretoreforçado,seguindoageometriaeosdeclivesoriginais,presumivelmenteutilizando a estrutura de madeira original comocofragem. Em muitos casos, esses elementosestruturais foram deixados no local, sem nenhumafunçãoestrutural.•Amaiorpartedessaslajesdeconcretoreforçado,queà primeira vista pareciam estar seriamente danificadas pela água e pelas intempéries, encontravam-se,na verdade, em condições relativamente boas epuderamserreparadassemgrandedemolição.•Asvigasdemadeiradeixadasnolocalnãopodiamser utilizadas, em termos estruturais, e inicialmenteforam interpretadascomouma tentativa feitapelosengenheirosmilitaresdereteremoefeitodemétodosdeconstruçãooriginais.Osarquitectosreviram,desdeentão, esta opinião e as vigas foram retiradas. Omadeiramentoestruturalexcedenterecuperadodestaoperação foi quase suficiente para a reconstrução departesdosprédiosemqueeranecessárioseguiratecnologiadeconstruçãooriginal.

16

•Amaiorpartedaspatologiasencontradasnaslajesdeconcreto reforçadoeramdevidasàpenetraçãodeáguadesistemasdefeituososdecolectadeáguas.Parte das lajes do tecto tiveram de ser cortadas efundidas novamente com o devido cuidado, paraa continuidade do reforço e adaptação do novoconcretoaoantigo.•Aestratégiadesalvaguardadaintegridadeestruturaldo monumento, que era o objecto desta fase doprojecto, foi condicionada pelas severas limitaçõesimpostasnocontratoparaoprimeiroprédio.

Após um amplo estudo das característicasgeométricas, técnicas e arquitectónicas e dascondiçõesambientaisdosítio,foiconstatadoqueosseguintesfactorescondicionavamareabilitaçãodasváriasestruturaseprédios:A fortaleza estava a ponto de tornar-se numaruína, pelo menos no caso de alguns dos seuscomponentes, embora os aspectos mais flagrantes da deterioração fossem mais superficiais do que estruturais e medidas remediadoras pudessemfornecer uma solução a um certo número deproblemas.Aintervençãomaisurgente,paraimpedirquaisquer desmoronamentos estruturais, dependiaamplamentedaimpermeabilizaçãodostectos.Entreváriosfactoresquecontrubuíramparaestasituação,o mais importante foi a falta de manutenção nodecorrerdosúltimosquatrodecénios.

As condições ambientais extremamente agressivasdo sítio,comasmuralhasdeprotecçãoconstruídasdirectamentesobrearochadecoraisqueseerguedo mar e agravadas pelo clima tropical, comciclones,chuvasintensasduranteváriosmesesdoanoealtosíndicesdehumidadepermanentes,tornandoasecagemdasparedesedostectosnumprocessomuitolento.

AnaturezadosmateriaisdeconstruçãoA fortaleza foi construída inteiramente a partir depedrasdecoral,ummaterialaltamenteimpregnadode infiltrações salinas e extremamente higroscópico. A lixiviação das águas pluviais, facilitada pelaimpermeabilidade danificada ou defeituosa e por fendas nas lajes do tecto e nas paredes dosparapeitos, havia contribuído para a corrosão departesdoreforçodeaçodasestruturasdeconcretoe para a degradação de uma grande parte dorevestimentodasparedese,porconseguinte,dasuaintegridadeestrutural.O crescimento de vegetação nas muralhas deprotecção e nas numerosas fissuras nas lajes do tecto, calhas pluviais, canos pluviais e condutos verticais,beiradas de janelas, etc., que havia destruído umcerto número de elementos arquitectónicos e,atravésdobloqueamentodascalhas,desempenhou

Plantadoprimeironível.

Vistaaéreadafortaleza

17

18

Exemplodafolhadelevantamentodepatologias.

19

Exemplodafolhadelevantamentodepatologias.

�0

um papel preponderante na degradação das lajesdotectoedasparedes.Aremoçãodetodasasportasejanelas,algumasdasquaistinhamsidosubstituídasporportasimprovisadas,para permitir que a fortaleza servisse, durante umcertotempo,deescolasecundária.Apenetraçãodaságuas pluviais através de aberturas sem protecçãohavia fortemente contribuído para a deterioraçãodaspoucasestruturasdesuportedotectoatravésdemadeiramento.

A definição de uma estratégia para a prevenção de maior degradação da fortaleza dependia dasseguintescondições:•As limitações financeiras do orçamento;•As dificuldades de transporte dos materiais para e partirdailha,dadoquealigaçãoatravésdapontecomocontinentetemcapacidadelimitadadeumatoneladadecapacidadedecargaenãoháquebra-marquepermitaoperaçõesfáceisdecarregamentoedescarregamentodemateriaisparaumatravessiamarítima; •A impossibilidade de deitar fora os resíduos dedemolição na ilha; •Atemporadadaschuvas,queimpôsestritos limitesde tempo para a realização de determinadasoperações; •A dificuldade de encontrar artesãos e pessoal qualificado localmente;•A distância da ilha relativamente a quaisquergrandescentrosurbanos.Tendoemcontaessas limitaçõesecondições,bemcomoosobjectivosdoprojecto,umconjuntodelinhasdirectivascomvistaaumaestratégiadeintervençãoviável foi definido, respeitando os objectivos do projecto e as necessidades de obedecer a sólidosprincípiosderestauraçãodemonumentoshistóricos.

Principaisintervençõesprescritas•Erradicação e extracção das raízes de toda avegetação invasora;•Tratamento e reparação de todo o concretoreforçado que pudesse ser reabilitado;•Corte e remoção de todo o concreto reforçadoque não pudesse ser reabilitado, bem como a suasubstituiçãopeloremodelamentodenovaspartes.Emvárioscasos,estetrabalhoenvolviaoremodelamentode elementos estruturais, tais como vigas, lajes detectoedepiso,bemcomovergas.•Demolição de tectos de construção original e/ou lajes de pisos ameaçados e reconstrução commateriais tradicionais;•Impermeabilização de todos os tectos e paredesde protecção e quaisquer outros elementosarquitectónicos, com vista a prevenir a penetraçãode água da chuva e de outras deteriorações dasparedes e das lajes de tecto;

Remoçãodavegetaçãointrusivaereconstruçãodasuperfíciedalaje.

�1

��

AnovacisternaforadafortalezaforneceáguadoreabilitadosistemaderecolhadeáguasàpopulaçãodaIlhadeMoçambique

��

•Protecçãodas superfícies impermeabilizadas,parapermitir a passagem de peões; •Limpezaereparaçãodascalhas,doscanospluviaisedasgárgulas, tantononíveldos tectoscomodospisos, para permitir o livre escoamento das águaspluviais para as cisternas e para o mar; •Reparação das cisternas de águas pluviais, coma impermeabilização e a instalação de bombassubmersas que descarregavam água limpa parauma cisterna externa; •Construçãodeumacisterna foradasmuralhasdeprotecção, a ser alimentada a partir das cisternasexistentes, para melhorar o saneamento para osilhéus;•Construçãodeinstalaçõespúblicassanitáriasdentrodeumprédioexistente,conectadoaumsistemadetratamento e dispersão de efluentes, assegurando o escoamento seguro das águas servidas; •Instalação de um sistema de energia eléctrica eajustagem de um painel de distribuição; •restauração completa de uma parte escolhidada fortaleza (Secor HL, na representação de dadosadoptada), ajudando a definir custos de restauro reais e exemplificando os padrões de acabamento eotratamentoestruturalaserobservadoemfuturasintervençõespararestauros.Esta reconstruçãoparcialdasecçãoHLdosprédiosseria o lugar ideal para a instalação dos escritóriosadministrativos e o escritório central para os futurosprojectosderestauração.Tambémpoderáservircomoentrada ou sala de recepção para visitantes, bemcomoumafontedeorientaçãoedeguiamento.

Aprovisionamento de materiais para obras derestauraçãoPara facilitar o desenrolar sem incidentes das obrasde restauro, alguns aspectos foram especialmentelevados em consideração, como por exemploo aprovisionamento de cal e madeira, materiaisfundamentais para o sucesso das operações nosprédios.Estesproblemasforamsuperadosatravésdareduçãodas necessidades em madeira nova, graças àreutilização de elementos recuperados das obrase do uso de cal de produção local tanto quantopossível.

TreinamentoUma firma moçambicana de arquitectos foi designada pararealizaroprojectoesupervisarasobras,apósumconcurso internacional. Os arquitectos empregammaioritariamente Moçambicanos como arquitectoseestagiárioserecrutaramestudantesdearquitecturaparaosestudosecomoassistentesparaasequipasdesupervisão.Uma sucursal local de uma empresa internacionalde construção de Portugal foi seleccionada

através de concurso internacional. O construtorutilizou exclusivamente pessoal local até aonível de artesãos qualificados, contando com a assistênciadeespecialistasexpatriadosemcasodenecessidade. Alguns dos artesãos foram submetidosaumtreinamentoespecializadoemLamuOldTown(Quénia)sobreatecnologiadapreparaçãodacaledoseuusonasobrasdealvenariaeestuque.O canteiro de obras e a sua organizaçãoproporcionaram uma excelente oportunidade paraa transmissão de competências a mais de cemoperários.

FormatodaapresentaçãoTodas as plantas dos espaços interiores foramapresentadasnomesmoformato:planta,elevaçõesinternas, secções e planta reflectida dos tectos. As elevações e secções são entalhadas na plantae a planta do telhado indica todos os elementosestruturais.Para cada espaço, duas folhas foram preparadascom fotografias do pavimento, das paredes, do tecto edasmaisimportantespatologiasemcadacaso.Um estudo fotográfico completo de todos os espaços foi preparado e fornecido com o contrato deempreitada, para servir de referência em caso delitígio.A ficha elaborada para cada espaço foi organizada segundooselementosdeconstrução–piso,paredes,tecto,portas,janelaseoutros.Paracadaelementodeconstrução,umadescriçãoquantitativaequalitativa, tendopor referênciaumalista codificada de patologias, foi elaborada.

AequipaOs arquitectos desejam agradecer a Pierre AndréLablaudeeaColettediMatteo,especialistasfrancesesemrestauração,quetiveramagrandegenerosidadede aceitar um convite para vir a Paris a fim de dar preciosos conselhos sobre a definição de uma sólida estratégiaparaasobrasdereabilitação.Também querem mencionar todos os membrosda equipa moçambicana, cuja dedicação ecompetência produziram excelentes resultados:Vitor Tomas, Yorick Oudayer, Jorge Silva, CarlosSchwalbach, Isa Telles, Filipe Branquinho, BrunoLopes, António Colaço, Mdungaze Rebelo, MarcoRoxo Leão, Muhamad Cassimo, Isaias Mota Ferreira(Zico),MuhamadSuhelArbyeTarmamadeAdamgyTarmamade.

��

Reabilitaçnaodacisterna(emcima)eoVantmurequelevaaobastiãoNorte(embaixo).

AvarandadoblocoHLcomvistasobreopátioprincipal(emcima).

DESAFIOSPARAAFASEII–REABILITAÇÃOPARAREUTILIZAÇÃOO projecto de reabilitação foi concebido emduas fases. Para além da avaliação técnica e dapreparação das obras, a Fase I concentrou-se naurgente consolidação estrutural e nas obras derestauração, a fim de prevenir maiores deteriorações, bemcomonofornecimentodeserviçoseinstalaçõesde base (electricidade, instalações públicas defornecimentodeáguaeWCspúblicos)eagoraestáamplamenteconcluída,emboraalgumasintervençõesainda estejam à espera de financiamento. A Fase II concentrar-se-á na reabilitação para reutilização ena gestão sustentável, bem como na manutençãodafortaleza.

Quais são os desafios específicos que enfrentará a FaseII?Em primeiro lugar, as intervenções em curso para aFase I, inclusiveasobrasestruturais,a restauraçãoeasparedesexternas,oajardinamentoeailuminaçãonecessitam ser completados. Por outro lado, osresultadosdasrecentesobrassuscitaminvestigaçõeshistóricasearqueológicasmaisintensasnosítio.Em segundo lugar, as reparações de emergênciados danos causados pela tempestade de �008 nasparedes de defesa de baterias no nível inferior ena base de suporte de coral têm de ser feitas comurgência.OComitédoPatrimónioMundialaprovouo pedido de Assistência Internacional de Urgência,formuladoporMoçambique,quecobrecercadeumquartodocustototal,sendoassimnecessáriosfundossuplementares.Em terceiro lugar, a fim de tornar as realizações justificáveis e sustentáveis, a fortaleza tem de tornar-se atraenteparaosturistasevisitantes,acomeçarpelasinstalações do centro de visitantes e os escritóriosadministrativosedegestão.

Em último lugar, mas longe de ser o ponto menosimportante,vemaquestãoabertadareutilizaçãodafortaleza,sobreaqualoGovernodeMoçambiquetemdetomarumadecisãonumfuturopróximo.Odestinoda Fortaleza de São Sebastião reabilitada é umaquestãocomplexaesópoderáserresolvidaatravésdeestreitaconsultaatodasaspartesinteressadas.Dadoque o sítio oferece um grande número de espaçosquepodemfacilmenteserconvertidosparadiferentesfinalidades, um grande número de possibilidades de reutilização foi analisado, incluindo um museu, umasaladeconferência,umcentrodeinvestigações,ummercado e oficina de obras de arte e artesanato, escritórios, cafeteria e pousada de estilo tradicionalportuguês. Todas estas sugestões contribuirão parareforçarafortalezacomoumaimportanteatracçãoturística no Norte de Moçambique, criando umafontesustentávelderendimentosparaaeconomiaeapopulaçãolocais.Entreaspropostasformuladas,oplanode instalaçãodeumcentrode investigaçõesdepós-graduaçãoparaapreservaçãodopatrimóniopoderá ser prosseguido, graças à assistência financeira doGovernoNeerlandêsaté�011.Fundosadicionaisterão, porém, de ser levantados para assegurar aconclusãodaactividade.

Semdúvidaalguma,aactualelaboraçãodoplanodegestãoda IlhadeMoçambiqueatravésdeumaabordagem participativa oferece uma excelenteoportunidadeparaqueaspopulaçõeseogovernoenfrentemestaquestãofundamentaledeterminemareutilizaçãomaisadequadaepromissoradestaparteimportantedoseupatrimónio.

��

AentradanamuralhaSul(àdireita)eacapelavistadamuralha(embaixo).

ACOMUNIDADEEOPROJECTODEREABILITAÇÃO

Mohammad Cassimo (��), jovem arquitecto naequipadeconsultoresemarquitecturaJoséForjazArquitectos,participounoestudodafortaleza,bemcomonasupervisãodiáriadasobras.

“NasciecresciaquinaIlhaetantoquantopossalembrar-mesemprequisserarquitecto,parapoderajudararestauraraIlhadeMoçambique.Porisso,ofactodetrabalharhojenoprojectodereabilitaçãoé,paramim,totalmenteespectacular.A minha paixão pela Ilha e o meu amor pelaarquitectura foram unidos neste projecto: é umaexperiênciasurpreendente.Quando eu terminar os meus estudos dearquitectura em Maputo,quero enriquecer osmeus conhecimentos no estrangeiro e depoisvoltarparacáededicarasminhascompetênciasà preservação do património arquitectónico daminhacidadenatal,aIlhadeMoçambique.”

Amade Ussene (60), mestre pedreiro, trabalhapara o Conselho Municipal da Ilha desde 1997.AntesdoprojectodaFortalezadeSãoSebastião,Amade também participou na restauração daCasa Girassol (�00�-�008), na ilha, pelo consórciomoçambicano-portuguêsTeixeiraDuarte/Bel.

“Oméritoinestimáveldapreservaçãodopatrimónioéquecriaempregos.A Ilha temnecessidadedeempregosetodosnóstemosodireitodetrabalhar.Pessoalmente, foi muito gratificante aplicar as minhas competências e a minha experiêncianas obras de alvenaria, especialmente porquegozávamos de grande apoio por parte dossupervisores.Emboratenhamostidoalgunsanosdeexperiênciacomcalerestauraçãodepedras,graçasàestreitacooperação com a empresa de restauração,tivemosaoportunidadedeadequareaperfeiçoartécnicascadavezquefoinecessário.SeeupudessefazeralgopelaIlha,eucriarianovosempregos e ofereceria um sistema seguro dedistribuiçãodeáguaaquienosarredores.Todasascisternasda Ilhatêmdeser reabilitadas,paraquepossamnovamentefornecerágualimpaàspopulações.Não há dúvida de que somente empregos eum sistema seguro de distribuição de águaproporcionarãoàIlhaummelhorfuturo.”

AbdalaCássimo(�6),émestrepedreiroetambémtrabalhoucomaequipaderestauraçãodaTeixeiraDuarte / Bel. Desde 1978, tem estado envolvidocom o sector público e com o Museu da Ilha etemprestadoassistênciadesde1997aoConselhoMunicipal.

“Temos grande orgulho da Ilha. Por isso, nãopodemos permitir que se transforme assim emruínas. Desejamos ter uma bela ilha e portantotemosquerestauraronossopatrimónio,bemcomomantê-loepreservá-lo.No meu posto actual, eu nem sempre tenho aoportunidadedemeservirdasminhascompetênciasprofissionais e, naturalmente, tenho imenso prazer emasexercer.Naverdade,duranteessasobrasde restauração,as minhas responsabilidades ultrapassaram atémesmoasmerasobrasdealvenaria,dadoquemefoi confiada a escolha da madeira e a verificação dequetodasasvigasdemadeiraseencontravamcorrectamente colocadas, para as etapasseguintes.Com a nossa própria longa experiência e otreinamentoespecialobtidoemLamueZanzibar,nós nem sempre concordámos imediatamentecom os métodos de restauração propostos pelossupervisores.Mas,graçasaumdiálogoconstanteealtamenteconstrutivo no âmbito da equipa, reforçado poralgumas experiências no próprio local, sempreconseguimos encontrar rapidamente as soluçõestécnicas mais adequadas para os respectivosproblemas.Profissionalmente, foi uma experiência muito frutuosaeenriquecedoraparamim.ÉomeusonhovertotalmentereabilitadaaIlhadeMoçambique,assuascasas,ruas,osseusjardinsecisternas.Asobrasdereabilitaçãopodemcriarempregose,porconseguinte,melhorarasnossasvidaseatrairmaisturistas.”

Amade Ussene.

Abdala Cássimo.

MuhammadCassimo.

�6

Vistasdafortalezaantesdareabilitação.

DATASMARCANTES

SéculoX:PrimeiramençãodaIlhadeMoçambique,emdocumentosescritosárabes.

SéculosX-XV:Empórioscomerciaisárabes.

1�98:VascodaGamaaportanaIlha.

1�0�:SegundaviagemdeVascodaGama.ÉfundadooprimeiroempóriocomercialportuguêsnaIlhadeMoçambique.

1�07–1�08:ÉconstruídooFortedeSãoGabriel.

1���:ACapeladeNossaSenhoradoBaluarteéconstruída.

1��8–16�0:OFortedeSãoSebastiãoéconstruído,comoprotecçãocontrapossíveisataquesturcos.

1607:AIlhaéatacadasemsucessopelosHolandeses.

1750–1840: Período do tráfico de escravos.

176�:AIlhadeixadeseradministradapeloVice-ReideGoa,passandosobaautoridadedirectadaCoroaPortuguesa.

1869:AaberturadoCanaldeSueztornapossívelalcançarasÍndiasapartirdaEuropa,sempassarpeloCabodaBoaEsperançaeporMoçambique.

1898:AcapitaldeMoçambiqueétransferidaparaLourençoMarques(hojeMaputo).AIlhatorna-senumasimplescapitalprovincial.

19�7:AconstruçãodoportodeNacala,umpoucomaisaonorte,acarretaamorteeconómicadaIlha.

197�:AindependênciadeMoçambiqueéproclamadaem��deJunho.

1991: A Ilha de Moçambique é classificada pela UNESCOcomoPatrimónioMundial.

�008:IníciodasobrasderestaurodaFortalezadeSãosebastião.

Fonte:AdaptaçãodoCorreiodaUNESCO,1997.

�7

AGRADECIMENTOS

A UNESCO exprime o seu profundo agradecimentoao Governo do Japão, pelo seu generoso apoiofinanceiro com vistas à realização desta publicação.

Os editores desejam apresentar os seus especiaisagradecimentos ao Sr. Francisco Monteiro, cujascompetências técnicas foram fundamentais parao sucesso do projecto de restauro, à equipa dearquitectos da empresa José Forjaz Arquitectos,encarregadadapreparaçãotécnicaedostrabalhosdesupervisão,bemcomoaoconsórcioderestauraçãoTeixeiraDuarte/Bel,queexecutouasobras.

Além disso, queremos manifestar a nossa sinceragratidão pelo contínuo apoio do Sr. Akio Arata,Director da Divisão de Cooperação com Fontes deFinanciamento Extraorçamentais da UNESCO; à Sra. ClaudiaHarvey,DirectoradoEscritóriodaUNESCOemMaputo,bemcomoaoSr.KishoreRao,Vice-DirectordoCentrodoPatrimónioMundial.TambémprestamosagradecimentosaBarbaraBlanchard,IsabelledeBilly,Gina Doubleday, Chiho Horiuchi-Radjai, Leila Maziz,Salvatore Mineo, Junko Okahashi, Patricia Safi, Nana Thiam,VesnaVujicic-LugassyeElizabethWangari.

AsideiaseopiniõesexpressasnapresentepublicaçãosãoasdosautoresenãonecessariamenteasdaUNESCOenãovinculamaOrganização.AsdesignaçõesempregadaseaapresentaçãodomaterialemtodaestapublicaçãonãoimplicamdemaneiraalgumaaexpressãodequalqueropiniãoporpartedaUNESCO,relativamenteaoestatutolegaldequalquerpaís,território,cidadeouárea,ouassuasautoridades,ouaindanoquerespeitaàdelimitaçãodassuasfronteirasoulimites.

Publicadoem�009,pelaOrganizaçãodasNaçõesUnidasparaaEducação,CiênciaeCultura,7,placedeFontenoy,7����Paris07SP,França.

©UNESCO,�009Todososdireitosreservados.

EditoresLazareEloundoueJanaWeydt,CentrodoPatrimónioMundialdaUNESCO

TrabalhoeditorialCarolineLawrence

ConcepçãoeescolhadematerialilustrativoJoséForjazArquitectos,Mozambique

Créditos de imagens e fotografiastodasasimagensdacolecçnaodaJoséForjazArquitectos excepto onde especificado em baixo(daesquerdaparaadireitaedecimaparabaixoJosé Augusto Martins: p. 4; p. 18 nº 1Serviços geográficos e cadastrais, provincia de Moçambique:p.9BibliotecaNacionaldePortugal:p.1�ArquivoHistóricodeMoçambique:p.1�UNESCO/ F. Monteiro: p. 10 nº 4; p. 15 nº 1, nº 4, nº 5 and nº 6; p. 22 nº 1 and nº 3; p. 24 nº 1 and nº 2; p. 26 nº 3, nº 5, nº 6, nº 8 and nº 9; p. 27 bottom left; p. 28 nº 1 and nº 2; p. 29 nº 2, nº 3 and nº 4;

ParceirosnoprojectodereabilitaçãoGovernodeMoçambiqueGovernodojapãoUniãodasCidadesCapitaisLuso-Afro-Americo-Asiáticas(UCCLA)GovernoPortuguês,atravésdoInstitutoPortuguêsdeApoioaoDesenvolvimento(IPAD)GovernodeFlandresGovernodosPaísesBaixos

FinanciamentodapublicaçãoUNESCO/FundoFiduciáriodoJapãoparaaPreservaçãodoPatrimónioMundial

ISBN978-9�-�-10�1�0-�©UNESCO

�8

koninkrijk der Nederlanden