Razão e Emoção · Recosta na bancada da pia e fica ali, pensativa. DORA - (angustiada) O que...

RAZÃO E EMOÇÃO CAPÍTULO 05 PÁG: 1

Razão e Emoção

Novela de

Rômulo Guilherme


CENA 01. QUARTO LUCAS. INTERIOR. NOITE

Continuação da última cena do capítulo anterior.

Suelen e Lucas.

SUELEN - Não gostou?

LUCAS - Não é isso. Mas eu não deveria ter

cedido assim. Devia ter te

respeitado.

SUELEN - Mas eu quis, Lucas. Eu não entendo

qual é o problema da gente ficar

juntos.

LUCAS - Não quero te magoar, Suelen. E eu

acabo sempre magoando quem se

aproxima de mim.

SUELEN - Quero correr o risco.

LUCAS - É melhor você ir.

SUELEN - Eu vou, mas essa conversa não

terminou.

Suelen levanta, veste sua roupa, dá um beijo em Lucas.

SUELEN - Até amanhã!

Suelen saí do quarto. Lucas pega um pouco de água e

bebe.

Corta para:

CENA 02. BOATE. INTERIOR. NOITE

Marcos e Túlio dançam e bebem em meio às pessoas que

estão boate. Marcos está se envolvendo com uma loura

linda, que usam uma roupa bem decotada e exibida. Eles

estão dançando, ao mesmo tempo em que vão bebendo. Ao

fundo, fazendo praticamente a mesma coisa, só que com

outra mulher, está Leonel. Dançam de forma bem

envolvente, ao mesmo tempo em que se beijam.

Corta para:

CENA 03. PRÉDIO DORA. EXTERIOR. MADRUGADA

Corta para:

CENA 04. QUARTO DORA. INTERIOR. MADRUGADA

Dora e Maurício dormem de conchinha (meio clichê, mas

muito romântico). Ate que Dora acorda de rompante.

DORA - (grita) Tabata!

Maurício acorda assustado.


MAURÍCIO - (sonolento) Que foi, Dora?

DORA - Tive um sonho com minha filha.

MAURÍCIO - Vem, deita...

Maurício tenta fazer Dora, deitar, mas ela não

consegue. Levanta, pega seu hobby e saí.

Corta para:

CENA 05. COZINHA DORA. INTERIOR. MADRUGADA

Dora acende a luz e entra, indo em direção a geladeira

de onde tira uma garrafa de água. Pega um copo e se

serve. Recosta na bancada da pia e fica ali,

pensativa.

DORA - (angustiada) O que você estava

querendo me dizer, minha filha. O

quê?

Sílvia aparece.

Sílvia - Perdeu o sono?

DORA - Acordei assustada, gritando o nome

da Tabata.

Sílvia se serve de água e vai bebendo

SÍLVIA - E você como está se sentindo nessa

volta, na casa onde sua filha vivia?

DORA - Não está sendo fácil. Em qualquer

parte desse apartamento sinto a

presença dela.

SÍLVIA - Estava indo nas consultas com o

psicólogo lá na Alemanha?

DORA - Estava sim. Eu inclusive vou

retomar com uma psicóloga que me

indicarem.

SÍLVIA - Sempre lamentei o que aconteceu,

Dora.

DORA - Eu sei, Sílvia. Sem o seu apoio

acho que não teria ter tido força

pra agüentar o impacto.

SÍLVIA - Você é minha irmã. Sempre vou te

dar forças e te apoiar.

DORA - O pior de tudo isso é saber que o

assassino responsável pela morte

dela está levando uma vida normal,

aparecendo sempre em festas, como


pesquisei e vi nas fotos. Aí o

sentimento vem à flor da pele, um

turbilhão de sentimentos, uma

angustia, uma raiva, vontade de

fazer justiça com as próprias mãos.

SÍLVIA - Posso imaginar. Eu tentei te

poupar o máximo dessas notícias, pra

que você não pudesse saber e sofrer

como está sofrendo sabendo disso.

DORA - Na Alemanha procurei esquecer de

tudo e de todos que eu tinha deixado

no Brasil, mesmo que por um período.

Sempre senti que a Tabata me

acompanhou onde eu estava, como se

tivesse me procurando, sentindo a

minha falta como passei a sentir

dela.

SÍLVIA - Uma dia a justiça vai ser feita a

ele e assim ela pode descansar.

DORA - E eu o meu coração.

SÍLVIA - Agora vamos dormir, que o dia

amanhã vai ser puxado e intenso.

As duas terminam de beberem suas águas, deixam o copo

na pia e seguem pra fora da cozinha. Um delas apaga a

luz.

Corta para:

CENA 06. QUARTO DORA. INTERIOR. MADRUGADA

Dora deita e se achega de conchinha em Maurício que

resmunga, mas continua dormindo. Dora faz o mesmo.

Corta para:

CENA 07. RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXTERIOR. DIA

Planos gerais da cidade amanhecendo. Corta para:

CENA 08. QUARTO MARCOS. INTERIOR. DIA

Marcos está dormindo de cueca, todo esparramado na

cama. Seu celular começa a tocar. Ele sonolento pega o

aparelho e atende.

MARCOS - Fala.


TÚLIO - (off) Cadê você, Marcos. Vai vir

treinar hoje não?

Marcos olha as horas e se assusta, despertando na

hora.

MARCOS - Inventa uma desculpa aí, que eu to

chegando, Túlio.

Marcos desliga. Dá um pulo na cama quando percebe que

está atrasado e fica todo apressado.

Corta para:

CENA 09. APARTAMENTO CÍNTIA. INTERIOR. DIA

Cíntia toma café. A empregada deixa algo a mesa.

Marcos vem correndo, já pronto pra ir treinar.

CÍNTIA - Perdeu a hora? Também, ficou na

farra até mais tarde. Eu vi a hora

que você chegou.

Marcos pega uma maça.

MARCOS - Nem vem querer dar lição de moral

agora não, mãe. Estou atrasado como

a senhora mesma já percebeu.

Marcos dá um beijo no rosto de Cíntia.

CÍNTIA - Marquei a psicóloga pra você hoje.

MARCOS - Pode deixar que eu vou.

Marcos vai embora.

CÍNTIA - Assim espero.

Corta para:

CENA 10. MAR DE ANGRA. EXTERIOR. DIA

Lucas e Chico acabam de puxar a rede de pesca pra

dentro do barco. Corta para:

CENA 11. PRAIA. EXTERIOR. DIA

Lucas e Chico descarregam os peixes que pescaram.

LUCAS - Mais uma vez Iemanjá abençoou

nossa pesca. Pelo menos essa

felicidade sempre tenho no mar.

CHICO - E o almoço com seus filhos?

LUCAS - Se eles não vêem até a mim, eu vou

até eles. Quero ser o pai que eu

deveria ter sido pra eles, Chico.

Corta para:


CENA 12. QUARTO LUCAS. INTERIOR. DIA

Lucas vem do banheiro, apenas de short, secando seu

cabelo molhado. Seu celular começa a tocar. No visor

aparece o nome de Nicole. Ele atende.

LUCAS - (cel./surpreso) Filha? Que bom que

me ligou. Resolveu aceitar o convite

pra almoçar comigo?

Corta para:

CENA 13. QUARTO NICOLE. INTERIOR. DIA

Nicole está sentada na cama, falando no celular com

Lucas. Intercalar com cena anterior.

NICOLE - (cel.) Aceitei sim, pai.

LUCAS - (cel./feliz) Que notícia boa você

está me dando. Me espera na sua

casa, que passo aí e vamos almoçar.

Seu irmão vai com a gente?

NICOLE - (cel.) Desiste do Marcos, pai. Ele

é cabeça dura até não ter mais onde.

LUCAS - (cel.) Um pai nunca desiste de um

filho. Um dia ainda quero conquistar

o coração de vocês dois, não importa

o tempo que demore pra isso.

Corte descontínuo para Nicole desligando o celular.

NICOLE - Um sacrifício que vai valer à

pena.

Nicole levanta e vai até seu closed escolher a roupa

que vai usar.

Corta para:

CENA 14. CAMPO DE FUTEBOL. EXTERIOR. DIA

Túlio e os outros jogadores estão treinando. Marcos,

já uniformizado, entra correndo no campo, se

aproximando de onde o time está treinando.

TÚLIO - Achei que tu nem ia vir.

MARCOS - Apaguei. Se tu não tivesse me

ligado nem sei.

O treinador apita, chamando atenção de Túlio e Marcos

que param de conversar.

TREINADOR - Dormiu mais que a cama, bela

adormecida?


MARCOS - Desculpa, treinador.

TREINADOR - Espero que não aconteça de novo.

Corta para:

CENA 15. RIO DE JANEIRO. BARRA. EXTERIOR. DIA

Corta para:

CENA 16. SALA JANTAR DORA. INTERIOR. DIA

Dora toma café sentada na mesa farta que Nancy

arrumou.

NANCY - Quer que lhe prepare aquele

omelete de queijo que você gosta?

DORA - Não precisa, Nancy. Vou ficar só

no cafezinho mesmo. Mais tarde como

alguma coisa no escritório.

NANCY - Tem que se alimentar direito,

Dora. Antes de sair come pelo menos

uma fruta. Quer uma vitamina?

DORA - Tô vendo que você quer me deixar

uma bola.

NANCY - Preocupação de mãe para com uma

filha de coração.

DORA - Eu sei. Estou brincando. E a

Sílvia?

NANCY - Acordou cedo. Nem tomou café e já

saiu apressada.

DORA - Já deve estar na joalheria.

Corta para:

CENA 17. APARTAMENTO LEONEL. INTERIOR. DIA

Leonel ainda de cueca, está sentada a mesa simples de

café da manhã, comendo pão com manteiga. Sílvia em pé,

perto da janela.

SÍLVIA - Passei na marina e aluguei a

lancha que você vai usar pra levar a

Dora pro alto mar e jogá-la na água,

desacordada.

LEONEL - Alugou no seu nome?

SÍLVIA - É claro que não. Não daria uma

manota dessa. Dei um jeito e aluguei

no nome de Consuelo Abrantes.


LEONEL - Acha mesmo que esse seu plano vai

dar certo?

SÍLVIA - Só se você não fizer o que

combinamos.

LEONEL - Não sou idiota, Sílvia. Só não

quero é me dar mal e acabar atrás

das grades.

SÍLVIA - Vai dar tudo certo. Hoje me livro

da minha irmã pra sempre. E eu como

vice presidente vou assumir de

maneira integral o posto de

presidente da Creont’s como sempre

desejei.

Corta para:

CENA 18. SALA JANTAR DORA. INTERIOR. DIA

Dora dá um último gole no seu café e levanta.

DORA - Deixa eu ir que quero chegar cedo.

Antes vou passar na igreja, acender

uma vela pra Tabata. Tive um sonho

com ela ontem à noite.

NANCY - É sempre bom acender uma vela pra

quem se foi, principalmente quando

se trata de um filho.

DORA - Estou sentindo que a Tabata está

precisando de muita luz.

Dora se despede de Nancy, pega sua bolsa, suas chaves

e saí.

NANCY - (reflexiva) Acho que Deus não

deveria permitir que uma mãe

enterrasse seu filho e sentisse essa

enorme dor da perda. Mas quem somos

nos, pobres mortais, pra questionar

os desígnios Dele...

Nancy começa a recolher a xícara que Dora usou, quando

Ricardo e Théo, que está pronto pra ir pra escola, se

aproximam da mesa do café. Théo senta a mesa, jogando

no seu celular.

RICARDO - Bom dia.

NANCY - Perdeu a hora, Ricardo?


Ricardo se serve de um pouco de café, tomando de forma

apressada.

RICARDO - Estou todo atrasado. Tenho uma

reunião importante agora de manhã.

Nancy prepara o cereal de Théo. .

RICARDO - E minha esposa?

NANCY - Sílvia saiu cedo.

RICARDO - Nem a vi levantando. Deve ter

madrugado por causa da festa de hoje

à noite.

Théo faz hora pra comer o cereal, distraído no

celular.

RICARDO - (chamando atenção) Come logo esse

cereal, Théo. Lembra da nossa

conversa ontem à noite.

Théo deixa o celular na mesa e começa a comer o

cereal. Nancy leva a xícara de Dora pra cozinha.

Corta para:

CENA 19. CARRO DORA. INTERIOR. EXTERIOR. DIA

Dora dirige pensativa. Momento. Corta para:

CENA 20. IGREJA. INTERIOR. DIA

Dora entra na igreja, se benze e se aproxima do

velário. Tira uma vela da bolsa, acende e firma no

lugar. Perto dela, Virginia está concentrada diante da

vela que acendeu. Dora fecha os olhos e fica ali

fazendo seus pedidos e orações. Momento. Corta para:

CENA 21. APARTAMENTO LEONEL. INTERIOR. DIA

Perto da porta, Sílvia está com os braços no pescoço

de Leonel, bem juntos, se despedindo dele.

SÍLVIA - Vai dar tudo certo, meu gato.

Depois vamos comemorar com um

champagne bem gelado.

LEONEL - Eu vou te ajudar, mas quero aquele

valor que combinamos.

SÍLVIA - Tudo o que você quiser.

Sílvia beija Leonel.

SÍLVIA - Agora preciso ir. Vamos nos

falando.


LEONEL - Tudo bem.

Sílvia beija Leonel novamente, antes de ir. Leonel

fecha a porta.

LEONEL - Acho que estou me metendo em uma

enrascada.

Corta para:

CENA 22. SUÍTE DORA. INTERIOR. DIA

Maurício acaba de sair do banho. Está em frente ao

espelho, olhando seu reflexo.

MAURÍCIO - É hoje seu dia, Maurício. Uma nova

etapa na sua carreira. Vamos que

vamos que hoje o dia é seu!

Maurício vai pro quarto todo animado.

Corta para:

CENA 23. CASA LUPE. COZINHA. INTERIOR. DIA

Lupe e Cazé tomam café.

CAZÉ - Seu irmão veio mesmo pra ficar?

LUPE - Pelo que sei fechou contrato por

dois anos. Mas não quero falar dele.

CAZÉ - Ainda está bolado pelo skate?

LUPE - É claro, Cazé. Tu sabe como eu era

apegado a ele.

CAZÉ - Eu sei, Lupe. Mas pelo menos tu

conheceu uma gata.

LUPE - Não viaja. Última coisa que quero

é ver aquela patricinha de novo. Vou

é trabalhar muito e comprar um novo.

CAZÉ - Não quer mesmo pegar um skate novo

na loja e vou abatendo do seu

salário?

LUPE - Eu mesmo quero comprar um.

CAZÉ - Cê que sabe. Abre a loja pra mim.

Tenho que ir no banco resolver

aquela situação do empréstimo

atrasado.

LUPE - Beleza.

Lupe levanta e saí.

CAZÉ - Já vi esse tipo de situação

terminar em namoro...


Corta para:

CENA 24. QUARTO CAZÉ. INTERIOR. DIA

Cazé está sentado na cama, perto do criado, segurando

uma foto de um bebê.

CAZÉ - (emocionado) Será que algum dia

vou te ver novamente, meu filho?

Corta para:

CENA 25. MANSÃO RAUL. EXTERIOR. DIA

Corta para:

CENA 26. MANSÃO RAUL. SALA JANTAR. INTERIOR. DIA

Raul e Carolina tomam café.

CAROLINA - Vem almoçar em casa?

RAUL - Não sei, Carolina. Provavelmente

não. Mas prometo fazer um esforço

pra isso.

CAROLINA - Já estou acostumada. Mas tudo bem.

eu entendo.

RAUL - Almoça com a Lívia no restaurante

da Inês. A comida de lá é ótima.

CAROLINA - Mas a dona do local não me desce!

RAUL - Essa implicância com a Inês não

vai passar nunca?

CAROLINA - Nunca concordei com essa relação,

Raul e nunca escondi isso de

ninguém.

RAUL - E por isso a Lívia ficou sem falar

com você por vários meses. Lembra-se

disso?

CAROLINA - (firme) Eu não me conformo!

Nenhuma mãe que tem um filho gay se

conforma. Se muito aceita.

RAUL - (doce) Brigar não adianta, meu

amor. A Lívia é maior de idade, bem

resolvida. Bater de frente só vai

fazer com que ela se afaste de você,

da gente. As duas se amam e isso não

vai mudar.


CAROLINA - Milagres acontecem, Raul. Eu ainda

tenho fé que a Lívia vai cair em si

e perceber que essa relação não faz

sentindo.

RAUL - Você devia pensar é exclusivamente

na felicidade de sua filha. Afinal

de contas toda mãe quer ver seu

filho feliz.

CAROLINA - Com a pessoa certa, isso sim!

Corta para:

CENA 27. CARRO CAROLINA. INTERIOR. DIA

Carolina acaba de entrar no carro, com a bolsa que

leva pro seu pilates. Roberto entra em seguida.

CAROLINA - Pro pilates, Roberto.

ROBERTO - Sim, senhora.

Corta para:

CENA 28. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. DIA

Corta para:

CENA 29. CARRO CAROLINA. INTERIOR. DIA

Carolina e Roberto, dirigindo.

CAROLINA - Você tem filhos, Roberto?

ROBERTO - Não senhora. E por enquanto não

penso nisso.

CAROLINA - (pra si) Filhos podem ser tão

ingratos. Não enxergam que nos só

queremos o bem deles.

ROBERTO - O que a senhora disse?

CAROLINA - Não foi nada.

Roberto entra no túnel. Trânsito ruim. Logo começamos

a escutar som de um tiroteio.

CAROLINA - (assustada) Que foi isso?

ROBERTO - É tiro!

Corta para

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INTERVALO COMERCIAL

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CENA 30. TÚNEL. EXTERIOR. DIA

Bandidos se aproximam dos carros, que tentam dar ré,

sair daquela situação. Algumas pessoas saem dos seus

veículos desesperadas, correndo pra fora do túnel.

Muita confusão. Corta para:

CENA 31. CARRO CAROLINA. INTERIOR. EXTERIOR. DIA

Carolina observa tudo àquilo em pânico. Roberto fica

sem saber o que fazer. Os bandidos vão se aproximando

do seu carro. O medo é evidente.

CAROLINA - Tira a gente daqui, Roberto.

Roberto olha pra trás, vê que tem uma brecha e logo já

dá ré, manobrando com habilidade pra fora dali, saindo

cantando pneu.

Corta para:

CENA 32. QUIOSQUE. EXTERIOR. DIA

Carolina está sentada na mesa. O carro dela está

parado do outro lado da rua. Raul se aproxima com uma

água de coco.

CAROLINA - Obrigada.

Carolina bebe um pouco da água, tentando se recompor

do susto que passou.

ROBERTO - A senhora está bem?

CAROLINA - Estou sim. Foi só o susto. Morando

há anos no Rio, parece que nunca vou

me acostumar com essa violência.

ROBERTO - Ninguém se acostuma. Quer voltar

pra casa?

CAROLINA - Não precisa. Não vou estragar

minha rotina com isso. Graças a Deus

não nos aconteceu nada. Tudo isso

devido a sua habilidade, Roberto.

ROBERTO - Só fiz minha obrigação como seu

motorista. Além do mais a senhora

pode sempre contar comigo.

CAROLINA - É bom saber disso. Não conta nada

pro Raul do que aconteceu não. Não

quero que ele se preocupe a toa.

ROBERTO - Sim, senhora.

CAROLINA - Agora vamos.


Os dois levantam e segue pro carro.

Corta para:

CENA 33. ANGRA. GERAIS. EXTERIOR. DIA

Corta para:

CENA 34. RESTAURANTE LUCAS. COZINHA. INTERIOR. DIA

Suelen está na cozinha limpando camarão, cantarolando

alguma música. Lucas entra todo arrumado, segurando a

vasilha onde Suelen levou arroz doce pra ele.

LUCAS - (deixando a vasilha) Está aqui a

vasilha do arroz doce. Estava muito

bem.

SUELEN - Depois vou pudim. Sei que você

gosta.

LUCAS - Tá tudo certo aqui? Falta alguma

coisa?

SUELEN - Tudo em ordem. Vai ver seus

filhos?

LUCAS - Vou. Toma conta de tudo pra mim.

SUELEN - Pode deixar. Boa sorte.

LUCAS - Obrigado! À noite to de volta.

Lucas saí. Binho entra correndo na cozinha, mostrando

uma nota de dez euros.

BINHO - (exibido) Olha a nota que o gringo

me deu.

SUELEN - Agora vai ficar todo metido

exibindo essa nota. Cuidado pra não

te roubarem.

BINHO - Vou é comprar um boné novo.

SUELEN - Para de fala besteira e vai limpar

as mesas, que daqui a pouco vamos

começar a servir almoço.

Corta para:

CENA 35. CONSTRUTORA. CORREDOR. INTERIOR. DIA

Jeferson vem falando no celular, enquanto caminha pelo

corredor.

JEFERSON - (cel.) Quando vamos nos ver de

novo, Nicole? Você sempre me dando

toco atrás de toco.


Corta para:

CENA 36. CARRO LUCAS. INTERIOR. DIA

Lucas dirige. Nicole do seu lado falando no celular.

NICOLE - (cel.) Vamos marcar de sair

qualquer dia desses.

JEFERSON - Amanhã?

NICOLE - (cel.) Me liga mais tarde que

combinamos direito. Estou indo

almoçar com meu pai agora. Depois

nos falamos.

Nicole desliga.

Corta para:

CENA 37. CONSTRUTORA. CORREDOR. INTERIOR. DIA

Jeferson desliga.

JEFERSON - O garota difícil, viu. Mas quanto

mais difícil, mais eu gosto!

Jeferson caminha até sua sala.

Corta para:

CENA 38. CARRO LUCAS. INTERIOR. DIA

Lucas e Nicole.

LUCAS - (curioso) Namorado?

NICOLE - Um carinha que quer ficar comigo a

todo custo.

LUCAS - Mas você gosta dele?

NICOLE - Ele é bonitinho. Mas não estou

querendo me prender a ninguém no

momento. Estou nova pra namorar.

Quero é curtir a vida primeiro.

LUCAS - Só espero que com muito juízo.

Corta para:

CENA 39. MANSÃO. INTERIOR. EXTERIOR. DIA

Local onde vai ocorrer a festa da joalheria. Já está

praticamente todo pronto. Últimos detalhes sendo

organizados. Movimentação intensa do pessoal. Dora e

Gabriel caminham pelo local.

DORA - Está tudo impecável.


GABRIEL - Vai ser uma festa a altura do

lançamento da nova coleção de jóias

que vai ser lançada na Creont’s.

DORA - Achei que Sílvia estaria aqui, já

que não está na joalheria.

GABRIEL - Você confia plenamente na Sílvia,

Dora?

Dora fica surpresa com a pergunta.

DORA - (estranha) Que conversa é essa,

Gabriel?

GABRIEL - Você pode até ficar com raiva de

mim, as muitas vezes tenho a

impressão de que sua irmã esconde

alguma coisa.

DORA - Ainda não estou entendendo onde

você quer chegar.Confio plenamente

na minha irmã, de olhos fechados,

assim como confio em você.

GABRIEL - Quer saber. Deixa pra lá. É

besteira minha.

DORA - (brinca) É ciúme, Gabriel? É isso?

Sílvia vem se aproximando deles.

GABRIEL - Falando nela.

SÍLVIA - Veio ver tudo de perto, Dora?

DORA - O Gabriel estava vindo pra cá, aí

resolvi vir com ele pra ver como

está tudo pra hoje a noite.

SÍLVIA - E o que achou?

DORA - Vai ser um sucesso. Hoje a noite

promete.

SÍLVIA - (dissimulada) Uma noite de muitas

emoções.

Corta para:

CENA 40. MADUREIRA. EXTERIOR. DIA

Planos gerais do bairro. Corta para:

CENA 41. CASA VIRGINIA. SALA. INTERIOR. DIA

Joana tira da sua sacola vários cosméticos, cremes,

produtos de maquiagem que vende, mostrando pra

Virginia, que está dispersa, com pouco interesse.


JOANA - Acabaram de chegar, Virginia. Olha

que beleza. Esse aqui é pra acabar

com linhas de expressão...

VIRGINIA - Eu to apertada esse mês, Joana.

JOANA - Pode pegar mês que vem. E

dependendo até divido.

VIRGINIA - Passa outro dia. Não to muito com

cabeça pra isso agora.

Virginia levanta e vai mexer na sua costura.

JOANA - Aconteceu alguma coisa, amiga?

VIRGINIA - O de sempre, minha amiga: a

Cínara!

JOANA - Ela aprontou o que dessa vez?

Cínara vem do quarto, escutando seu nome.

CÍNARA - Falando de mim, mãe?

JOANA - Oi, Cínara. Vem ver os produtos

que acabaram de chegar.

CÍNARA - Tô sem tempo agora. Tenho

compromisso.

VIRGINIA - Vai onde?

CÍNARA - Arrumar minha vida. Qualquer hora

eu arrumo é minhas coisas e sumo no

mundo. Aí quero ver a senhora ter o

que falar de mim.

VIRGINIA - Passa no açougue e fala com a

Carmem que você não vai aceitar o

emprego.

CÍNARA - (dispara) Eu não! Não foi a

senhora quem tentou me empurrar esse

empreguinho? Então a senhora que

fale com ela que eu não aceitei.

Cínara saí, batendo a porta.

JOANA - Que desaforada! Aí se fosse minha

filha. Já tinha lhe feito engolir

todos os dentes.

VIRIGINIA - Estou me controlado pra não dar

uma surra nela, Joana. Só Deus pra

conseguir me dar força, viu. Só

Deus!

Corta para:


CENA 42. RUAS DE MADUREIRA. EXTERIOR. DIA

Cínara vem caminhando em direção ao prédio simples

onde Camila mora. Vemos Camila descendo de um táxi,

usando uma roupa bem sensual e decotada, vindo da

noite de trabalho.

CÍNARA - Vamos, amiga.

CAMILA - Pra onde, Cínara? Acabei de

chegar. Estou exausta.

Corta para:

CENA 43. QUARTO CAMILA. INTERIOR. DIA

Cínara tira sua bolsa e senta na cama, se desfazendo

dos seus saltos.

CÍNARA - Descobri que hoje é o dia que o

Maurício vai começar a treinar.

CAMILA - E porque você cismou com esse

jogador? Tem tantos outros por aí.

CÍNARA - Senti que é ele quem vai me ajudar

a mudar de vida. Eu só preciso de

uma oportunidade, que logo engravido

dele e garanto meu futuro pra

sempre.

CAMILA - Deixa eu tomar um banho então.

CÍNARA - Não demora. Quero acompanhar cada

passo do Maurício como uma boa Maria

Chuteira.

Corta para:

CENA 44. ÔNIBUS. INTERIOR. DIA

Clóvis cobra a passagem de um passageiro e logo

comenta com o motorista.

CLÓVIS - Ficou sabendo do arrastão e

tiroteio que teve no túnel hoje mais

cedo?

MOTORISTA - Morreu alguém?

CLÓVIS - Parece que não.

MOTORISTA - Tem que agarrar com Deus, meu

amigo. Só assim diante dessa

violência.


CLÓVIS - Uma cidade tão bonita como a

nossa, mas que é dominada pelo medo

e insegurança.

Corta para:

CENA 45. CONSTRUTORA. SALA RAUL. INTERIOR. DIA

Raul e Santiago conversam.

RAUL - Então, pensou em alguma coisa?

SANTIAGO - Você já pensou em ir lá

pessoalmente conversar com ele?

RAUL - Não vou me sujeitar a isso,

Santiago. Vai parecer que estou

implorando pra ele vender sua

propriedade.

SANTIAGO - Mas diante da situação, todas as

possibilidades devem ser aventadas.

RAUL - Esse pescador é um idiota. Estou

oferecendo pra ele mais do que o

valor de mercado daquele terreno.

SANTIAGO - Pra mim de idiota esse pescador

não tem nada. Sabe muito bem o que

está fazendo.

RAUL - Mas ele então vai se arrepender,

pois está peitando a pessoa errada.

(tempo) Vamos almoçar. Aí

continuamos esse assunto.

SANTIAGO - Na sua casa?

RAUL - Não. Naquele restaurante em

Ipanema. A Carolina buzinando no meu

ouvido, falando que trabalho de

mais.

CENA 46. RIO DE JANEIRO. GERAIS. EXTERIOR. TARDE

Corta para:

CENA 47. RESTAURANTE. INTERIOR. TARDE

Lucas e Nicole almoçam.

LUCAS - Pena que seu irmão não está aqui.

NICOLE - Marcos é genioso. O senhor sabe

disso.


LUCAS - Puxou sua mãe. Cabeça dura igual

ela.

Nicole se prepara pra pedir o que precisa.

NICOLE - Pai, preciso de um favor.

LUCAS - Fala, Nicole.

NICOLE - Me empresta duzentos reais?

Quebrei um objeto de um menino e

preciso me desculpar com ele.

LUCAS - E seus cartões?

NICOLE - Estourei tudo. (drama) Mas se não

tiver não tem problema. Eu me viro.

LUCAS - Calma, mocinha. Sou seu pai.

Sempre vou te ajudar no que precisar

e no que estiver ao meu alcance.

Lucas pega sua carteira e tira de lá um talão de

cheque.

LUCAS - (preenchendo) Vou te dar

quinhentos. Aí você compra o objeto

que precisa comprar e faz suas

comprinhas também.

Nicole fica surpresa e feliz com o que escuta,

abraçando e beijando Lucas agradecida.

NICOLE - Obrigada, pai. O senhor é de mais!

LUCAS - Só gaste com moderação e não conta

pra sua mãe. Ela é capaz de dizer

que estou te estragando, mimando.

NICOLE - Segredo nosso!

Corta para:

CENA 48. CAMPO DE FUTEBOL. EXTERIOR. TARDE

Maurício cumprimenta os jogadores, entre eles Marcos e

Túlio, que seguem treinando. Ao lado de Maurício está

Antônio e o presidente do time. Conversam de forma bem

simpática. A impressa faz seu papel. Cínara e Camila

chegam e se aproxima da grade.

CÍNARA - Olha ele ali. Que sonho de

consumo.

Cínara fica babando vendo Maurício, que nesse momento

joga uma bolinha com os jogadores.

CAMILA - Vai acabar é se apaixonando.


CÍNARA - Não viaja, Camila. Você sabe muito

bem o que eu quero com ele.

CAMILA - Só não acho que vai ser tão fácil

como você está achando que é. Esses

caras não são bobos. Eles se cuidam

e se preservam quando resolvem pular

a cerca.

CÍNARA - Tenho meus métodos e minhas

técnicas. Vai ser mamão com açúcar.

Corta para:

CENA 49. PRÉDIO NICOLE. CARRO LUCAS. INTERIOR.

EXTERIOR. TARDE

Lucas acaba de estacionar. Nicole do seu lado, já se

preparando pra descer.

LUCAS - Gostei muito do nosso almoço.

NICOLE - Também, pai. Obrigado!

Nicole dá um beijo em Lucas e abre a porta.

LUCAS - Nunca se esqueça que eu amo você e

seu irmão, minha filha. Mesmo a

gente não se vendo muito, pode

sempre contar comigo.

Nicole desce e bate a porta. Acena pra Lucas, que fica

lhe observando entrar no prédio. Lucas liga o carro,

dá seta e prepara-se pra seguir seu caminho, quando

sente uma batida no seu carro, provocado por um outro

carro que vem logo atrás. Lucas desce, verificando o

estrago. Raul, o condutor do veículo que acabou

colidindo com Lucas, faz o mesmo.

LUCAS - (bravo) Não viu que eu dei seta...

Lucas reconhece Raul.

LUCAS - (surpreso) O senhor?

Corta para:

CENA 50. CONSULTÓRIO. SALA DE AMANDA. INTERIOR. TARDE

Amanda e Marcos.

AMANDA - Achei que ia desistir das nossas

sessões.

MARCOS - Não acho que eu preciso mais. Mas

minha mãe me convenceu.


AMANDA - O trauma que você passou foi muito

forte e impactante, Marcos. Fizemos

uma evolução muito grande, mas temos

que trabalhar mais suas emoções.

Corta para:

CENA 51. CONSULÓRIO. RUA. EXTERIOR. TARDE

Marcos acaba de sair do consultório, quando dá de cara

com Dora. Momento. Reação de ambos. Os dois se

encaram. Close alternado. Corta para:

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FIM DO CAPÍTULO

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Razão e Emoção · Recosta na bancada da pia e fica ali, pensativa. DORA - (angustiada) O que...

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