RAZÃO INSTRUMENTAL E RAZÃO COMUNICATIVA

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Coordenao: Dr. Hctor Ricardo Leis Vice-Coordenao: Dr. Selvino J. Assmann Secretaria: Liana Bergmann Editores Assistentes: Doutoranda Marlene Tamanini Doutoranda Sandra Makowiecky Doutorando Srgio Luiz Pereira da Silva Doutorando Fernando Oliveira Noal

Linha de PesquisaTEORIAS CONTEMPORNEAS SOBRE A MODERNIDADESRGIO LUS P. SILVA

RAZO INSTRUMENTAL E RAZO COMUNICATIVA: um ensaio sobre duas sociologias da racionalidade N. 18 maio 2001

2 Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Cincias Humanas A coleo destina-se divulgao de textos em discusso no PPGICH. A circulao limitada, sendo proibida a reproduo da ntegra ou parte do texto sem o prvio consentimento do autor e do programa.

3RAZO INSTRUMENTAL E RAZO COMUNICATIVA: um ensaio sobre duas sociologias da racionalidade SRGIO LUS P. SILVA*

RESUMO Este ensaio busca uma reflexo sobre a Razo instrumental e a Razo Comunicativa, como um contraponto sociolgico entre Weber e Habermas dentro do aspecto de anlise da racionalidade no mundo ocidental. Para tanto, iniciamos este ensaio com A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo que escolhemos como uma obra que exprime o fenmeno da racionalidade instrumental e ao social como elementos compreensivos de anlise sociolgica do mundo moderno. Posteriormente introduziremos a Razo Comunicativa como crtica da racionalidade instrumental com base na idia de ao dialgica da modernidade.

PALAVRAS CHAVE: Racionalidade, Modernidade, Instrumentalidade, Ao Comunicatva, Teoria Crtica.

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Nota sobre o autor: O autor socilogo e doutorando do Programa de Ps-Graduao Interdisciplinar em Cincias Humanas-UFSC 3

4RAZO INSTRUMENTAL E RAZO COMUNICATIVA: um ensaio sobre duas sociologias da racionalidade

1. Consideraes Introdutrias Iniciamos nossa reflexo com o aspecto conceitual da racionalidade em Max Weber o qual define a racionalidade do mundo ocidental fundamentado na justificativa dos fins pela ao dos meios, em que as aes sociais dos indivduos so mediadas por algum tipo de interesse com um sentido subjetivo(1992). A partir de tal questo, fundamenta-se os elementos de um racionalismo instrumental, sob um aspecto utilitarista, no qual os meios esto justificados na busca de determinados fins, fundamentados pela individualizao da ao social. Na definio dos conceitos de ao e razo em Weber, a configurao de racionalidade moderna ocidental se fundamenta como exemplo de anlise. Isso se d, porque na lgica moderna da sociedade o utilitarismo racional, econmico e poltico estrutura a conduta dos indivduos em suas aes sociais. Como possvel perceber na anlise sociolgica de Weber sobre a sociedade, a religio e a economia em que a Razo, a Ao e a Tcnica so apresentadas como fenmenos compreensivos de sua sociologia historicista. 2. A SOCIOLOGIA DA RACIONALIDADE ECONMICO-RELIGIOSA DO MUNDO MODERNO: utilitarismo e instrumentalidade Em A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, o aspecto do pragmatismo ocidental associado a uma tica religiosa foi representado por Weber como um sistema civilizatrio. A racionalidade que se desenvolvia no se limitava ao campo meramente econmico e alcanava o campo poltico social e cultural a partir de uma tica e moral prprias. Dentro desse aspecto, Weber tem uma preocupao com o processo de racionalidade que se constituiu entre os sculos XVI e XVIII na Europa com base no aspecto da institucionalizao e da ao racional como conjuntura estrutural da sociedade ocidental. Na medida em que optamos por Weber para a composio de indcios sociolgicos da razo instrumental ser necessrio verificar de forma sucinta a concepo de racionalidade ocidental associada a um sistema econmico e a religio. Na sociologia Weberiana tm-se uma concepo de civilizao ocidental que caracteriza-se como gestora de fenmenos culturais universalizados. O desenvolvimento e reconhecimento da cincia como validade hegemnica de conhecimento prova e exemplo que poderia ser citado para justificar tal afirmao. Mas esse fato peculiar da sociedade ocidental no invalida a racionalidade de outras culturas constitudas na histria visto que a racionalidade um conceito que engloba uma diversidade de componentes peculiares a cada uma das diferentes culturas como as das sociedades orientais, por exemplo. Dentro desse contexto, a civilizao ocidental trouxe imanente ao seu desenvolvimento uma racionalidade tcnica e administrativamente burocrtica, constituindo um fenmeno peculiar em sua formao. Dentro dessa concepo o capitalismo um dos fatores de maior significao na constituio do desenvolvimento ocidental que ocorre da forma mais racionalizada possvel, na lgica da modernidade. Isso importante para que se possa perceber a forma como Weber analisa o capitalismo ocidental como um fenmeno do racionalismo hegemnico.4

5 Para Weber, o esprito capitalista era na verdade um processo civilizatrio presente na Histria antes mesmo do desenvolvimento capitalista ocidental. Porm, apenas com o capitalismo moderno ocidental que se pode perceber uma lgica racional ordenada e um direito formal e normativo, que constitui de forma sistemtica a estruturao e o desenvolvimento dessa nova lgica de lucro acumulativo. Dentro da tica da ocidentalidade necessrio tambm analisar a concepo racional do trabalho que Weber estudou a luz de uma tica religiosa associando-o a idia de vocao. A partir da concepo de vocao e trabalho como categorias sociolgicas de anlise possvel entender a convergncia harmnica entre a ascese puritana, fundamentada numa tica protestante, e a ordem econmica capitalista que se desenvolvem culturalmente no mundo ocidental. No centro dessa lgica cultural, o trabalho fundamentado como o sentido da existncia do homem, aplicado indiscriminadamente a todas as categorias dos indivduos. Ou seja, o homem est ligado direta e intensamente na sua relao com o trabalho em suas ocupaes especializadas, possibilitando assim uma produo tanto qualitativa quanto quantitativa nas relaes sociais de produo, o que caracteriza nesse sentido um trabalho racionalizado que torna compatvel tempo e produo qualificada, associados a lucratividade e acumulao. bvio que esse pequeno comentrio tambm um pequeno exemplo escolhido para que se possa fazer meno concepo da racionalidade instrumental na sociologia weberiana. Nessa viso de racionalidade utilitria, h uma ligao entre razo mgica religiosa e razo objetiva no mundo das relaes sociais. Dentro dessa lgica, a tica do comportamento dos sujeitos parece definir-se em primeiro lugar na suposio primordial da relao dos sujeitos. Sobre esse aspecto, possvel argumentar que a caracterstica da racionalidade da vida protestante, com base no trabalho intenso privando o homem do pecado do prazer, uma espcie de motor de produo do desenvolvimento inicial do esprito do capitalismo moderno. Mas em nenhum momento possvel afirmar que uma tica religiosa o que determina ou mesmo gera o sistema capitalista, enquanto sistema civilizatrio, como se este necessitasse diretamente de prticas morais ou de uma racionalidade religiosa para poder se estabelecer como modus de vida econmico da sociedade moderna. Dentro do aspecto da racionalidade, at aqui discutido, a lgica ocidental de fundamental importncia para o desenvolvimento desse sistema por ser o instrumento que determina tal ordenao com caractersticas formais, baseado no conceito de burocratizao e administrao com aspecto hegemnico, que definiria peculiarmente o ocidente moderno, como parte do mundo que cresceu a partir de um ordenamento econmico e administrativo mediante uma racionalidade instrumental e hegemnica que se constituiu como razo ltima. Nesse contexto, o logos da ao social fundamentado pelo seu aspecto racional. O utilitarismo instrumental racional perpassa de forma objetiva a constituio da esfera pblica (o Estado) em seus aspectos racionais burocrticos e administrativos, e a esfera do mundo privado ambientes mediados pelo conhecimento tcnico e racional orientador das condutas e aes dos indivduos. Esse aspecto de racionalidade que se desenvolve na sociedade ocidental contextualiza a relao entre indivduo e estrutura dentro da chamada jaula de ferro da razo. Aspecto esse que o prprio Weber enxerga de forma pessimista no que diz respeito ao desenvolvimento dos processos sociais no futuro.

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6 na crtica do ethos dessa instrumentalidade racional que a Razo Comunicativa tenta se estabelecer como teoria crtica das relaes sociais fundada no processo das relaes sociais. 3. HABERMAS E A RAZO COMUNICATIVA COMO CRTICA DA INSTRUMENTALIDADE RACIONAL Se Weber mostra o quanto a operacionalidade da razo se fundamenta como logos instrumental do mundo moderno em todos os seus aspectos, Habermas busca constituir uma forma de reflexo crtica sobre tal instrumentalidade racional como forma de emancipao social. Habermas desenvolve na Teoria da Ao Comunicativa uma anlise terica e epistmica da racionalidade como sistema operante da sociedade, nesse sentido, deve-se analisar sua tese como contraposio da razo instrumental. Na idia de mundo da vida, Habermas mostra a racionalidade dos indivduos mediado pela linguagem e comunicatividade. Esses elementos se constituem em instrumentos de construo racional dos sujeitos calcado na estruturao de trs universos: o objetivo, subjetivo e social. na esfera do universo da relao dos sujeitos que Habermas parte de sua concepo ontolgica para a construo da racionalidade. Na Teoria da Ao Comunicativa o tema racionalidade das opinies e das aes tratado sobre um prisma filosfico e sociolgico, a razo a base do estudo da filosofia. Os gregos da antiguidade, quando estudam a prpria razo, fundamentam-se numa base social ontolgica a partir do que poderamos chamar de um discurso comunicativo. Na definio mais precisa sobre essa ontologia social, Hannah Arendt (1989) afirma que a existncia humana na medida em que se empenha ativamente em fazer algo, tem razes no mundo de homens ou de coisas feitas por homens. O homem pensa e produz em relao constante com outros homens, jamais fora desse circuito social. E na rbita da construo poltica feita por homens reais no mundo real que segundo Habermas, a racionalidade comunicativa se estabelece como instrumento de consenso social da realidade. Sendo assim, o que a ao comunicativa busca explorar uma sociologia do mundo da relao dos sujeitos, ou seja, uma sociologia da ao comunicativa em que o universo subjetivo, a ao poltica e a racionalidade dos indivduos se constituem em elementos estruturados de formao e revitalizao da esfera pblica na busca da emancipao social. Habermas fundamenta a reabilitao da esfera social, com base na idia orientaes dialgicas das aes sociais e, dessa forma isso no poderia ser feito de modo coercitivo ou meramente instrumental, mas por uma postura dialgica, compreensiva e democrtica na rbita de um consenso comunicativo, que nesse sentido deveria ser construdo dentro das relaes sociais em funo das racionalidades das aes. De forma muito introdutria isso o incio da racionalidade comunicativa, ou pelo menos, um caminho anterior que pode nos levar a ela. Para fundamentar seus pressupostos tericos Habermas busca na Razo dois fundamentos que daro suporte a sua teoria: comunicatividade e mundo da vida e com isso ele estabelece o seu conceito de racionalidade.

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7 Como poderamos conceituar a racionalidade comunicativa, qual defende Habermas? Este filsofo tenta abranger as vrias manifestaes de razo dos indivduos em todo seu aspecto, na relao com o mundo, tanto nas aes diretas do relacionamento do homem com a sociedade de uma forma geral, quanto nas expresses simblicas que intermediam a relao do sujeito com o mundo onde ele vive. Na concepo habermasiana a ao racional concebida a partir da conceituao relacional entre ao, crtica e fundamentao, ou seja, uma relao de trs pressupostos que abrange de forma complementar um novo conceito de racionalidade em que a razo e a fundamentao intermediada pelo senso crtico necessrio. Na verdade esse tipo de conceito serve como crtica da racionalidade que fundamenta nas realizaes individuais que foi anteriormente posto como instrumentalidade da razo moderna. A racionalidade comunicativa serve para uma ampliao compreensiva que d conta de outras formas de expressividades do agente comunicativo que no se limita apenas a formalidade normativa da ao. Essa idia est relacionada ao que Habermas chama de conquista de conhecimento. Ele afirma que a racionalidade esta mais prxima da forma como se adquire o conhecimento, ou seja, da forma perceptiva dos sujeitos na busca do saber, do que da posse do conhecimento deste. Dentro desse contexto, Habermas afirma que o contedo do universo racional existe em duas situaes: primeiro na relao dos sujeitos que possuem um conhecimento falvel; e segundo nas expresses simblicas que d forma ao conhecimento. A forma da racionalidade expressada tem sua afirmao na relao sistmica entre a semntica, o pressuposto de validade e as razes sobre o qual os sujeitos se baseiam para as afirmaes de verdade na eficincia das aes. dentro desse processo de relao dos sujeitos, que via instrumento cognitivo, as verdades relativizadas ou o pressuposto de validade se constri e com isso novas formas de racionalidades transcendem a um pressuposto de razo ou verdade nicas. Como afirma Habermas:"Uma expresso satisfaz a pr-condio de racionalidade, se e na medida em que corporifica conhecimento falvel e, portanto, tem uma relao com o mundo objetivo (isto , uma relao com os fatos) e est aberta ao julgamento objetivo 1.

Esta questo esta centrada na pr-suposio da comunicabilidade consensual, o que bsico no conceito de racionalidade em Habermas, qual os atos de fala locucionrios, ilocusionrios e perlocusionrios, na definio de Austin (Habermas,1988), so utilizados em sua anlise. Na definio desses tipos de expresses, os atos locusionrios so os que por seu intermdio os sujeitos, na ao expressiva da fala, comunicam algo demonstrando um estado de coisas, situado dentro de um aspecto descritivo; os atos ilocusionrios so os que, os sujeitos agem enquanto forma de realizao, quando comunicam algo; e por fim os atos perlocusionrios, so os que os sujeitos ao falar, causam um certo efeito sobre os ouvintes. Estas definies servem para Habermas no sentido de mostrar as intenes da comunicatividade, por parte dos sujeitos, definies essas que esto alm do aspecto semntico e lingstico das expresses, que so executadas no mundo-da-vida, fundamentadas num pressuposto de validade. Nas duas ltimas definies dos atos de fala, percebe-se de forma denotativa o aspecto dessas questes com uma certa proximidade das questes comunicativa e teleolgica. Na questo dos atos ilocusionrios os sujeitos, enquanto agentes comunicativos, atuam dentro de um aspecto relacional explicativo entre agentes que vai alm do1

Habermas,1984. p.09.

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8 entendimento, ou seja, a subjetividade comunicativa expressa por si uma relao entre comunicao e interpretao no plano do entendimento e consenso entre as partes, dentro de uma racionalidade que torna vlido o ato comunicativo a partir do pressuposto de validade das aes racionais no mundo da vida. Na questo do ato perlocusionrio o aspecto teleolgico, ou seja, o ato e sua finalidade objetiva, o agente caracteriza instrumentalmente sua ao, causando assim seus efeitos necessrios. Nesse sentido, os atos perlocusionrios existem dentro de um contexto estratgico de ao. Com isso podemos perceber o teor valorativo do consenso dentro da Teoria da Ao Comunicativa em que a ao dialgica e participativa no plano da interatividade. Habermas expe compactamente uma definio da racionalidade pela comunicatividade: (...) podemos dizer que as aes reguladas normativamente, as auto-apresentaes expressivas, e tambm as expresses valorativas suplementam os atos de fala constantivos na constituio de uma prtica comunicativa que, contra um pano de fundo de um mundo-da-vida, orientada para alcanar, sustentar e renovar o consenso - e, na verdade, um consenso que se baseia no reconhecimento intersubjetivo de pretenses de validades criticveis. A racionalidade inerente a esta prtica mostrada no fato de que um acordo alcanado comunicativamente deve ser baseado no final em razes. E a racionalidade daqueles que participam dessa prtica comunicativa determinada pelo fato de que, se necessrio, podem, sob circunstncias convenientes, fornecer razes para suas expresses2.

Visto que essa concepo de racionalidade acontece dentro de um processo de relacionamento dos sujeitos no mundo-da-vida, convm tambm definir de forma analtica o conceito de mundo-da-vida nessa teoria e com isso mostrar o cho social e o universo cotidiano sob o qual nasce essa idia. O conceito de mundo-da-vida, na teoria de Habermas, uma separao dos trs aspectos do universo da existncia do mundo dos sujeitos, que como resultado da fragmentao desse universo, temos um mundo objetivo, um mundo social e um mundo subjetivo como afirmamos no incio. Todos eles referem-se a totalizaes diferentes que abarcam desde o processo de relao formal entre sujeito e instituies formais constitudas at as experincias cognitivas adquiridas pelo sujeito no processo cotidiano de suas relaes sociais. Dentro desse contexto, o mundo-da-vida , em primeira instncia, essa relao tri-partidria que resulta em um mundo objetivo, qual representa-se pela totalizao das entidades na sociedade, onde esse mundo goza de uma base ontolgica que necessariamente os indivduos se defrontam em suas aes. Este mundo objetivo est exteriorizado aos indivduos e, suas relaes socialmente construdas situam-se dentro de um aspecto formal. Como afirmamos anteriormente, este mundo formalmente constitudo representa a relao (indivduos - instituies) intermediada por aes lingsticas e racionais. Conceituadamente, este o cenrio ontolgico do ser social. Mesmo que esse mundo legitime-se enquanto ambiente ontolgico que intermediado pela ao da linguagem, como veculo de mediao, a prpria linguagem no fundamenta elementos que por si (pura e simplesmente) possam se fazer uso na interpretao do universo formal que construdo nessa relao. Em segunda instncia, temos o mundo social. Esta segunda diviso do universo do mundo da vida totaliza o processo de relaes sociais interpessoalizadas na vida dos2

Habermas.1984. pp.17.

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9 sujeitos. O ambiente cotidiano o local onde podemos definir a existncia desse mundo, pois nele onde os sujeitos vivem e se relacionam comunicativamente, constituindo novos valores e novas verdades, verdades essas determinadas a partir do processo social de construo da realidade. Neste contexto, trs pontos so fundamentais para a compreenso de Habermas: a realidade da vida cotidiana, a interao social na vida cotidiana e a linguagem e o conhecimento na vida cotidiana. Estes elementos esto compostos na anlise de Berger e Lukman (1966) em A Construo Social da Realidade que Habermas se utiliza como contribuio para a Teoria da Ao Comunicativa. Nesse sentido o que socialmente verdadeiro socialmente processado pelos sujeitos e legitimamente expressado de forma interpretativa por eles na cotidianidade, por isso, esse mundo-social fundamentado pelo contedo das relaes, nas quais o pressuposto de verdade, a partir da interao dos indivduos pelos atos comunicativos, construdo com a base legtima das aes, pela viso de mundo expressada na busca de uma razo consensual, atravs de atos ilocusionrios. Por fim temos o mundo subjetivo, que encerra a conceituao e classificao do mundo-da-vida. Se os dois primeiros conceitos expostos acima esto situados no universo externo da vida dos indivduos (e so articulados poltica e ontolgicamente), o mundo subjetivo apresenta-se como universo interno dos sujeitos, onde nele se totalizam as experincias vivenciadas e transformadas em conhecimento subjetivo, que reconhecidamente vlido e necessrio para exteriorizar a ao e a razo no aspecto comunicativo. O que importante, como resultado dessa separao classificatria, fazer com que se possa entender a explicao conceitual delas, porm fundamental entender o processo de desenvolvimento dos trs mundos, que acabamos de discutir, sob uma tica integral processando-se num todo que o mundo-da-vida. Definido o aspecto estrutural da idia de Habermas, a partir de tal estrutura terica que percebemos a importncia dessa teoria como um possvel novo paradigma, como afirma Srgio Paulo Rouanet (1987), no campo da investigao sociolgica, pois com base nessa teoria que os tericos podem interpretar, com uma certa proximidade, o contedo do processo das relaes sociais e da mudana que, sobre tal interpretao, so socialmente construda na interao dos sujeitos dentro do processo de relao sociais. No contexto de tal afirmativa, convm juntar esforos para perceber, sobre o aspecto de anlise, a Teoria da Ao Comunicativa, como uma forma diferente de anlise e compresso social em relao a razo instrumental pois, segundo ele, a perspectiva instrumental mostra-se como reducionismo da racionalidade na sua dimenso estratgica. 4. consideraes finais A crise da razo to discutida hoje, no campo das cincias humanas, demonstra um mal-estar no campo do conhecimento, da tica e da moral.Diante desse contexto, enfatizamos nesse pequeno ensaio a indicao sociolgica de elementos da anlise sobre a racionalidade que procuramos discutir por um lado com a constituio cultural de uma racionalidade nos moldes instrumentais e por outro com a ruptura quanto a esse conceito de razo.

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10 A questo relevante no mostrar a dinmica do aspecto instrumental da razo como vil da modernidade ou mostrar a ao comunicativa como soluo dos problemas da razo mas, mostrar uma ruptura paradigmtica no contexto da racionalidade como forma de pensar sociologicamente a razo e a ao social na indicao de outros caminhos de anlise que se caracterizam como modernos num contexto Ps-Moderno de fragmentao da razo. Nesse sentido, a sociologia weberiana indica-nos o caminho sem sada que a racionalidade moderna reserva para a sociedade, enquanto Habermas tenta construir uma narrativa terica como emancipao social da razo a partir de um discurso sciofilosfico para a modernidade.

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