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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação 40 Jacques Mick * O jornalismo por vir 1 Resumo Este artigo propõe que a crise do discurso jornalístico agravada pela convergência digital receba respostas teóricas que desloquem cate- gorias-chave para a interpretação do jornalismo do marco cartesiano no qual foram constituídas. A partir da idéia de que o jornalismo é um pensar, não um fazer, sugere que conceitos como verdade, leitura, acontecimento, tempo e poder sejam ressignificados. A hipótese e de que maior complexidade teórica contribuirá para romper os limites impostos à reflexão sobre a área pela história, predominantemente empírica, da constituição desse campo. Palavras-chave: Teoria do jornalismo Discurso jornalístico Jornalismo Poder * - Jornalista, Doutor em Sociologia Política (UFSC), professor do curso de Comunicação Social da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc 1 - Versão preliminar deste texto foi apresentada como aula inaugural comemorativa dos dez anos do Curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, em Joinville (SC), em 12 de fevereiro de 2008.

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O jornalismo por vir. Texto de Jacques Mick. Primeiro artigo da Rastros 9.

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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação

40

Jacques Mick*

O jornalismo por vir1

Resumo

Este artigo propõe que a crise do discurso

jornalístico agravada pela convergência digital

receba respostas teóricas que desloquem cate-

gorias-chave para a interpretação do jornalismo

do marco cartesiano no qual foram constituídas.

A partir da idéia de que o jornalismo é um

pensar, não um fazer, sugere que conceitos

como verdade, leitura, acontecimento, tempo

e poder sejam ressignificados. A hipótese e de

que maior complexidade teórica contribuirá

para romper os limites impostos à reflexão

sobre a área pela história, predominantemente

empírica, da constituição desse campo.

Palavras-chave:

Teoria do jornalismo

Discurso jornalístico

Jornalismo

Poder

* - Jornalista, Doutor em Sociologia Política (UFSC), professor do curso de Comunicação Social da Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc1 - Versão preliminar deste texto foi apresentada como aula inaugural comemorativa dos dez anos do Curso de Jornalismo do Bom Jesus/Ielusc, em Joinville (SC), em 12 de fevereiro de 2008.

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Ano IX - Nº 9 - Agosto 2008

É consenso há quase vinte anos que o discurso

jornalístico está em crise. Não há segredos quanto

aos fundamentos dessa crise, ao menos no que tange

às preocupações recorrentes dos intelectuais e dos

conglomerados de mídia. A convergência digital está

transformando os suportes em que circula a informação,

ao mesmo tempo em que estende a cidadãos que não

são jornalistas profissionais a possibilidade de publicar

e dar ampla visibilidade a conteúdos – notícias, artigos,

filmes, fotografias, para destacar apenas as formas

mais próximas do Jornalismo. O novo ambiente foge

ao controle dos monopólios e, se ainda não representa

exatamente uma democratização, dada a concentração

do uso de computadores na parcela mais alta da pirâ-

mide social, é de esperar-se que a universalização do

acesso ocorra com maior rapidez do que aconteceu, por

exemplo, com a televisão, que no Brasil só chegou a

um número de domicílios superior ao do rádio 50 anos

depois das primeiras transmissões.

O número de leitores de jornais tem caído em

todo o ocidente e, nos países mais ricos, a concentra-

ção de propriedade tem reduzido o número de títulos

de diários. Nos Estados Unidos, os diários locais em

que os jornalistas começavam suas carreiras antes de

migrarem para títulos robustos como The New York

Times ou The Washington Post já não existem mais

(MEYER, 2007). Em contrapartida, em parte pela força

econômica dos grupos de mídia, tem crescido o número

de títulos de revistas. E as experiências de convergência

digital hoje asseguram a um leitor brasileiro o acesso

instantâneo às versões eletrônicas dos diários euro-

peus ou americanos, permitindo uma leitura própria

(ou seja, não dependente do olhar da imprensa do

Brasil) de acontecimentos tão distintos quanto o rombo

na Société Générale, o caso Maddie ou o casamento

entre Sarkozy e Carla Bruni. Não há dados suficientes

para se afirmar que a erosão de leitores de impressos

foi compensada pelo surgimento de novos leitores em

meio eletrônico – mas é uma possibilidade a conside-

rar. Metade dos franceses nascidos antes de 1940 lê

jornal regularmente. Dos nascidos entre 1940 e 1960,

somente 30% lêem jornal diariamente. E o índice é de

apenas 20% para os mais jovens. A convergência digital

parece deslocar os leitores de jornal para suportes de

difícil comercialização, de escasso controle e de forte

competitividade (SPITZ, 2004).

O diagnóstico alcança relativo consenso porque a

investigação sobre a relocalização das mídias tradicio-

nais é, sobretudo, um tema de interesse das empresas,

as quais ainda ocupam lugar relevante em nosso campo

de conhecimento. Tal abordagem não necessariamente

contempla inquietações da sociedade civil e só corres-

ponde a parte das possibilidades e limites com que se

depara cotidianamente cada profissional. É um caso

de agendamento do debate acadêmico de acordo com

prioridades empresariais, notadamente dos grupos de

mídia, tais como a preservação de sua lucratividade. O

resultado desse foco se manifesta em textos como “Os

jornais podem desaparecer?”, de Philip Meyer, que se

autodesigna a imodesta missão de “salvar o jornalismo

na era da informação”. No momento em que vemos

sinais de fragmentação de uma “sociedade de discurso”

estruturada sob a força dos conglomerados de mídia,

não creio que a atitude intelectual mais adequada seja

a do lamento. Como notou Umberto Eco, a interpre-

tação radical conduz a leituras alternativas às adesões

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integradas ou às explosões apocalípticas.

No Brasil, o fenômeno não se dá exatamente

desta maneira, em função da série de transformações

estruturais na sociedade, a partir da redemocratização

e, notadamente, após a estabilização da economia,

depois de 1994. Começo por destacar a expansão

do alcance da educação. Em 2006, o Brasil tinha 9,5

milhões de habitantes com ensino superior completo,

conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicí-

lios (Ibge, 2008). É o maior número absoluto de toda

a história, e também o maior número relativo: 6%.

Desde 2001, esse volume cresceu quase 50% e o ritmo

está se acelerando. Em 2006, já havia 5,5 milhões de

brasileiros matriculados no ensino superior, mais 378

mil em mestrado ou doutorado. Ou seja: nos próximos

dez anos, a população com ensino superior irá mais

que dobrar.

Podem avizinhar-se, com isso, inéditas e impor-

tantes mudanças políticas, econômicas, sociais – e,

claro, no jornalismo. Não há qualquer aspecto nega-

tivo nessa evolução: mesmo uma universidade ruim

incrementa o capital cultural e, se desejar, um bom

aluno construirá um percurso marcante, apesar das

adversidades.

Que impactos esse incremento de massa crítica

na população pode trazer para nós, jornalistas? O que

desejarão esses leitores, telespectadores, ouvintes

daqui a uma década?

É certo que, num país de 20 a 30 milhões de

cidadãos educados, faltará informação de qualidade.

Em 2007, a tiragem total média dos diários brasileiros

chegou perto de 8 milhões de exemplares. Os veículos

de tiragem auditada pelo Instituto Verificador de Circu-

lação (IVC), os maiores do país, imprimiram 11% a mais

do que no ano anterior. Foi o quarto ano consecutivo

de crescimento. A maior parte da expansão deveu-se

ao lançamento de diários populares e de jornais em

municípios de porte médio. O Estado de Santa Catarina,

por exemplo, tem 48 diários e 171 jornais com outra

periodicidade, a maior parte deles muito aquém, em

qualidade, das exigências de leitores de maior nível

cultural. Neste país que aos poucos abandona a histó-

rica ignorância a que foi condenada a maior parte da

população, durante algum tempo ainda haverá espaço

para ampliar o número de exemplares em circulação.

Na Noruega, em 2006, eram vendidos 601 jornais por

grupo de mil habitantes. Na França, eram 155 exempla-

res por mil. Em ambos os países, a média havia caído

significativamente em relação às décadas anteriores.

No Brasil, com o crescimento de 2006, chegamos aos

53 diários por mil habitantes – um terço dos franceses,

menos de um décimo dos noruegueses.2

É também possível que o país pule a etapa im-

pressa do desenvolvimento das mídias. A televisão che-

ga a 96% dos domicílios brasileiros. São 102 milhões os

brasileiros com telefone celular. São quase 40 milhões

aqueles que têm acesso à internet (Ibge, 2008). Por

esses três canais (televisão, celular, internet) devem

ocorrer as principais transformações do jornalismo de

amanhã. Em 2005, quatro blogs não vinculados aos

grupos de mídia já estavam entre os 50 sites de informa-

ção com maior volume de acessos nos Estados Unidos.

Programas feitos exclusivamente para a internet, de

forma artesanal, conquistam nesse espaço audiência

semelhante a produtos do mainstream. Os critérios da

indústria cultural para dizer aos consumidores de mídia

2- Os dados são da Associação Mundial de Jornais, compilados pela Associação Nacional de Jornais e disponíveis em <http://www.anj.org.br>. Referem-se à população urbana, exclusivamente.

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o que é bom e o que é mau ao que parece não nos

servem mais, na era paradoxal da personalização de

massa (ANDERSON, 2006).

Ninguém pode saber como será o jornalismo do

futuro; esse sentimento de imprevisibilidade amplia as

condições para o surgimento de novos paradigmas.

Não se pode esperar do mercado uma interpretação

inteligente para essa crise. A práxis nele dominante é

a repetição – imposição compreensível, considerando a

dinâmica da indústria cultural. Em nenhuma disciplina

que conquistou autoridade intelectual a reverência às

práticas correntes do mercado, às verdades colhidas

pela experiência profissional, é tão evidente quanto em

algumas escolas de jornalismo e em parte da bibliografia

que dá apoio à formação dos profissionais. É curioso

que, neste momento da crise, algumas empresas se vol-

tem às universidades para pedir auxílio: não mais ditam

como deve ser, mas perguntam como pode ser.

É um sinal de que novos critérios de legitimação

e novas formas de reflexão podem surgir. Os meda-

lhões de hoje pensam com a cabeça de ontem: alguns

têm saudade de um tempo em que as redações eram

formadas por punhados de amadores, ignorantes tanto

em relação àquilo sobre o que escreviam quanto em

relação aos interesses empresariais ou políticos a que

serviam, ingenuamente. (Notemos, de passagem, que

o jornalismo pode ser das mais fáceis profissões. O

trabalho de um repórter de TV pode restringir-se, sem

esforço, a pentear um release, colher uma sonora, gerar

uma notícia confortável para a fonte e o veículo, deixar

para o cinegrafista o trabalho de cobri-la com imagens e,

ao final do mês, merecer o salário. Já entendemos que

essa práxis não bastará para o jornalismo do futuro).

A era dos repórteres que se sentiam poderosos porque

escreviam para uma multidão igualmente ignorante já

chegou ao fim.

Contra a tradição de empirismo que limita nos-

so entendimento sobre o jornalismo de hoje e nossas

especulações sobre o de amanhã, proponho um fu-

turo com teoria – e como teoria. Quero propor aqui

algumas idéias para uma interpretação do jornalismo

a partir de fundamentos não-cartesianos. São desloca-

mentos teóricos, movendo conceitos que me parecem

fundamentais para este campo do conhecimento, do

território em que hoje estão confinados: alguns, nos

estertores do positivismo; outros, no âmbito do senso

comum. Faço-o porque, mais importante que dominar

as técnicas do jornalismo do passado, é mobilizar inte-

ligências e formular linguagens para os cidadãos que

virão. Se há um sentido oculto na frase óbvia de que

“a realidade profissional é muito diferente daquilo que

se discute na universidade” é o de que a universidade

tem o dever de propor uma formação transcendente

em relação aos horizontes necessariamente limitados

da habilitação profissional.

Como condição para tal reflexão, noto a impor-

tância de libertar o entendimento do jornalismo dos

constrangimentos impostos pela fragmentação discipli-

nar. Aqui parafraseio Morin: a ação coletiva dos homens

é o objeto da sociologia, assim como suas patologias o

são da psicologia, enquanto os hábitos e ritos o são da

antropologia e as idéias, da filosofia; a biologia analisa

a anatomia do cérebro; a neurologia, suas conexões

e sinapses. A fragmentação das disciplinas, coerente

com o projeto cartesiano, cria rupturas artificiais no

Todo, separa o indivisível. Eis outro “problema” para

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aqueles que vislumbram ou desejam a constituição de

um campo em torno de objeto tal qual a comunicação:

só um pensamento sem fronteiras pode nos aproximar

do que é radicalmente “humano” – para contestar a

própria idéia de humano e permitir outras interpreta-

ções sobre fenômenos de fortes implicações sociais e

políticas como o jornalismo. De modo eclético, erudito,

sem concessões – não estamos acostumados a pensar

desse modo, mas é preciso.

Começo pelos fundamentos para essa interpre-

tação. O ponto de partida é o reconhecimento, embora

problemático, de que o jornalismo é uma forma social

de conhecimento, resultante de um conjunto de carac-

terísticas de determinadas etapas do desenvolvimento

econômico e de determinadas culturas. Como fenômeno

histórico, o jornalismo corresponde a certo espaço-

tempo – ou seja, não será necessariamente eterno,

como certamente desejam os proprietários de jornais e

revistas. A reinvenção das notícias – com a proliferação

de vívidos relatos produzidos por testemunhas de acon-

tecimentos em blogs ou comentários ou a publicação

de fotos de catástrofes que acabam de se dar diante

das câmeras digitais – pode ser vista como um sinal

de emergências de novas formas de compartilhamento

de informação independentes (ou menos dependentes)

do mainstream.

Lembro de uma idéia cara a Michel Foucault,

manifestada na aula inaugural no Collège de France,

em 2 de dezembro de 1970:

Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapida-mente, sua ligação com o desejo e o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso – como a psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que manifesta (ou oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo; e visto que – isto a história não cessa de nos

ensinar – o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar (FOUCAULT, 2003, p. 10).

Reitero: o discurso é o poder que se deseja.

É, assim, impróprio referir-se à mídia ou à im-

prensa como um braço do poder, porque ela, como

discurso, constitui o próprio poder. Evidentemente, o

discurso não se limita às formas midiáticas – mas encon-

tra nelas manifestação expressiva, às vezes dominante,

às vezes marginal. Interpretar o jornalismo como parte

desse discurso idêntico ao poder implicaria refletir sobre

seus três constrangimentos externos cruciais apontados

por Foucault: a interdição (ou a palavra proibida), a

separação (ou rejeição), a vontade de verdade – desafio

que foge ao alcance deste artigo. Foco na vontade de

verdade em função de paralelos explícitos e assimetrias

instigantes com a crítica da verdade em Morin.

Os jornalistas são os últimos herdeiros daquela

vontade de saber da ciência, cuja origem Foucault situa

entre os séculos XVI e XVII, que

desenhava planos de objetos possíveis, observáveis, men-suráveis, classificáveis; uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de qualquer experiência) certa posição, certo olhar e certa função (ver, em vez de ler, verificar, em vez de comentar); uma vontade de saber que prescrevia (e de um modo mais geral do que qualquer instrumento determinado) o nível técnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificá-veis e úteis (FOUCAULT, 2003, p. 16).

Tal território nos é familiar: os planos de objetos

a conhecer correspondem aos critérios de noticiabilida-

de; as funções e posições do sujeito cognoscente são

análogas às normativas do trabalho de reportagem; o

caráter técnico, material, instrumental configura até o

prisma ético de nossa profissão. O discurso jornalístico

é autorizado pelo discurso da verdade. “Ora, essa von-

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tade de verdade, como os outros sistemas de exclusão,

apóia-se sobre um suporte institucional (...). Mas ela

é também reconduzida, mais profundamente, sem

dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma

sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e

de certo modo atribuído” (FOUCAULT, 2003, p. 17).

Cria-se uma espiral: o jornalismo crê legitimar sua ver-

dade no momento em que faz circular o conhecimento

que representa – esse peculiar saber onipotente sobre

singularidades que nos cercam. A heroicização dos

jornalistas – linimento para baixos salários e condições

inadequadas de trabalho – é tradução de uma obsessão

narcísica com a verdade, construída coletivamente na

formação dos profissionais. Peter Parker e Clark Kent

são, sob este ponto de vista, representações irônicas de

uma neurose coletiva: é heróico o desafio de defender

a verdade, quer mobilizemos diáfanas teias de aranha

ou invulneráveis músculos de aço.

Ainda nos julgamos dotados da onipotência da

linguagem, incapazes de ver nela a fragilidade das figu-

ras, metáforas, metonímias, antropomorfismos. Aceitar

a hipótese de uma ruptura profunda entre Real e Lin-

guagem não é fácil. Morin, por exemplo, compreende as

particularidades da linguagem, mas propõe uma ruptura

apenas parcial com a idéia de que a verdade reside na

correspondência entre fato e relato. “(...) a linguagem é

uma simplificação complexificadora que permite utilizar

uma parte da hipercomplexidade cerebral, construir/

desconstruir uma nova complexidade discursiva e assim

dialogar com a complexidade do real” (MORIN, 1999,

p. 135). É uma posição ambígua, de difícil deglutição,

mas cujo ponto de partida é bem claro: a rejeição da

vontade de verdade. “Deve-se distinguir a idéia de

verdade do sentimento da verdade. A idéia de verdade

corresponde a uma resolução de alternativa verdadeiro/

falso sem que necessariamente sejamos envolvidos ou

afetados” (MORIN, 1999, p. 145). Há aqui um paralelo

evidente com Foucault: “Se nos situamos no nível de

uma proposição, no interior de um discurso, a separação

entre o verdadeiro e o falso não é nem arbitrária, nem

modificável, nem institucional, nem violenta” (FOU-

CAULT, 2003, p. 14).

A vontade de verdade transmuta esse sentido

para a esfera do desejo e do poder. Morin (1999, p.

145-146) nota que

o sentimento de verdade traz a dimensão afetiva/existencial para a idéia de verdade e pode tanto se apropriar da idéia de verdade quanto lhe obedecer. (...) O sentimento de verdade suscita uma dupla posse existencial: apropriação da verdade (‘eu tenho a verdade’) e possessão pela verdade (‘pertenço à verdade’); as duas posses ligam-se num ciclo que as alimenta: ‘Pertenço à verdade que detenho’; assim, enquanto se torna uma entidade transcendente que adora-mos, a verdade torna-se nosso bem pessoal, incorporado em nossa identidade.

É um discurso religioso, claro, e tal pertenci-

mento cria em nós, jornalistas, discípulos/profetas da

verdade no tormentoso mundo contemporâneo, um

sentimento de comunhão profissional – um corporati-

vismo, um auto-engano, uma identidade com o divino

que inventamos.

“Toda evidência, toda certeza, toda posse pos-

suída de verdade é religiosa no sentido primordial do

termo: religa o ser humano à essência do real e estabe-

lece, mais do que uma comunicação, uma comunhão”

(MORIN, 1999, p. 147). Questão de fé, note-se, longe

do exercício racional em que se assenta o projeto da

verdade. E que não raro legitima seus próprios equí-

vocos:

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(...) esse mesmo desejo infinito [de conhecimento] e impe-rativo [de verdade] pode também enganar o conhecimento teleguiando-o rumo às aspirações metafísicas secreta e inconscientemente inscritas no começo da investigação. Muitas buscas da verdade terminam na resposta desejada previamente: ‘Tu não me procurarias se já não me tivesses encontrado’. A verdadeira busca, com mais freqüência, en-contra outra coisa que a buscada (MORIN, 1999, p. 152).

Produzimos cotidianamente o antídoto contra o

ceticismo, incensado valor do nosso campo, porque “o

sentimento de verdade é inseparável do sentimento de

certeza (...). A necessidade de verdade deveria, certo,

primar em relação à de certeza e correr o risco de

contradizê-la, mas, com mais freqüência, a necessidade

de certeza submerge e cega a necessidade de verdade”

(MORIN, 1999, p. 146). Em outra direção, Foucault

rejeita a possibilidade de imaginar o mundo como uma

face legível que teríamos de decifrar apenas: “Deve-se

conceber o discurso como uma violência que fazemos

às coisas, como uma prática que lhes impomos em

todo o caso; e é nessa prática que os acontecimentos

do discurso encontram o princípio da sua regularidade”

(FOUCAULT, 2003, p. 53).

Isso nos remete à reflexão sobre o acontecimen-

to, crucial para a contraposição às leituras esquemáticas

sobre os critérios de noticiabilidade. Contra analistas

que racionalizam as opções em torno de categorias

mais ou menos estritas, perseguindo a ilusão cartesiana

fundadora do jornalismo, pode-se reconhecer, a partir

de Foucault, a arbitrariedade das escolhas jornalísticas,

consolidadas a partir dos princípios de regularidade.

Certamente o acontecimento não é nem substância nem acidente, nem qualidade, nem processo; o acontecimento não é da ordem dos corpos. Entretanto, ele não é imaterial; é sempre no âmbito da materialidade que ele se efetiva, que é efeito; ele possui seu lugar e consiste na relação, coexistência, dispersão, recorte, acumulação, seleção de elementos materiais; não é o ato nem a propriedade de

um corpo; produz-se como efeito de e em uma dispersão material (FOUCAULT, 2003, p. 57-58).

Nada mais distante da noção de fato jornalístico –

ela própria tão artificial que não resiste ao cotejamento

do conceito com as páginas de internet, jornais, revis-

tas, programas de rádio ou TV. A fluidez do conceito

de acontecimento, ressaltada sob outras premissas

por Adriano Rodrigues, experimenta as implicações do

“materialismo do incorporal” (FOUCAULT, 2003, p. 58):

o reconhecimento do lugar do acaso, do descontínuo e

da materialidade na raiz do pensamento. Tal percepção

nos remeterá a outra noção do tempo. O acontecimento

é discurso descontínuo, cuja interpretação escapa da

ordem da sucessão ou simultaneidade e da ordem

da consciência do sujeito. “É preciso elaborar – fora

das filosofias do sujeito e do tempo – uma teoria das

sistematicidades descontínuas. (...) É preciso aceitar

introduzir a casualidade como categoria na produção

dos acontecimentos” (FOUCAULT, 2003, p. 59). A ca-

sualidade subverte a causalidade a que habitualmente

recorremos para defender conceitos arbitrários como

proximidade, relevância, identificação social ou humana,

grandeza (LAGE, 2001).

Convictos da concretude do fato, orientamos nos-

so trabalho pelo signo da urgência, valor fundamental

para a modernidade, da qual o jornalismo é produto:

(...) nesse início de modernidade o tempo passava gradual-mente a ser espacializado, imaginado como seqüência linear de passado, presente, futuro. Oferecendo uma leitura diária, o jornal estaria não só reforçando essa noção moderna de tempo, como também possibilitando àquela comunidade de leitores a imaginação de si mesma como uma coletividade coesa, caminhando em bloco ao longo de uma estrada que a levaria ao futuro (GUIMARÃES SOARES, 2003, p. 72).

Guimarães Soares critica essa subordinação ao

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tempo, a partir de Anderson (2008). A novidade, o

urgente, é constitutivo de uma parte do jornalismo –

aquela que é respondida pela forma vibrante da notícia,

cada vez mais contemplada pelo rádio, pela TV, pela

internet. Com a universalização da urgência, tudo é su-

bordinado a esse imperativo, inclusive a crítica. Se todo

discurso é formado por uma matriz e seus comentários,

o jornalismo progressivamente se converte na multi-

plicação dos comentários, sob uma base relativamente

escassa de temas. Assim, a notícia de um jogo de fute-

bol, um relato de dois minutos sobre uma partida de 90,

comenta-se em mesas redondas, colunas, programas de

entrevistas, jornadas esportivas estendidas horas depois

do espetáculo – imensa tagarelice de função reiterati-

va: falamos tanto para reforçar a importância do que

dissemos há pouco. Ainda que nada tenhamos a dizer,

mesmo o vazio do falatório reitera nossa autoridade.

Para driblar a trivialidade habitualmente associada ao

futebol, volto à política e seu classicismo: as crises que

afetam os governos, sempre terminais, são longamente

observadas em mesas redondas, colunas, programas

de entrevistas, freqüentemente com precisão inferior

à adotada para a análise dos esquemas táticos. Res-

sentido, desinformado, inculto, o jornalismo apressado

justifica suas falhas sob o paradigma da urgência.

Sob outro ângulo, o problema manifesta-se como

simulacro da urgência: a adoção da forma da emergên-

cia para a notícia da irrelevância. É a espetacularização,

é certo, mas também a vulgarização da forma.

Guimarães Soares criticou tal apreço à urgência,

tomando como objeto o imperativo de atualização tec-

nológica nas redações – comportamento certamente

não exclusivo de jornalistas:

se a tecnologia vem sendo reverenciada por escolas e reda-ções como a bela rainha a cujo cetro novos e velhos jorna-listas têm que se submeter, sustento que tanto a indústria de tecnologia quanto o campo jornalístico (incluindo seus leitores) vêm sendo obedientes, assim como vários outros campos da cultura moderna, ao imperativo da urgência (GUIMARÃES SOARES, 2003, p. 69).

A relação com as novas tecnologias, experimen-

tada como drama no contexto da convergência digital,

é manifestação de uma mesma inserção no projeto da

modernidade, trabalho

em função da urgência da informação, da tensão narrativa intrínseca à esperança de realização da promessa moderna [de progresso, de desenvolvimento, de justiça social]. Jor-nalistas, tecnólogos, alunos, professores e leitores vêm pres-tando um louvor diário, religioso, delirante à própria deusa urgência, ao stress tomado como prova de responsabilidade social (GUIMARÃES SOARES, 2003, p. 75).

O autor nota que certos discursos contrários a

tal subordinação evocam a nostalgia de outro tempo,

mítico, pré-moderno, cristalizado no presente – o tempo

do Narrador enterrado por Benjamin. Não é a única

oposição possível, evidentemente.

Quero deixar anotadas algumas idéias que me

parecem relevantes para o debate desse tema, já que

não será possível desenvolvê-las aqui. A primeira é o

conceito de “tempo próprio” – a percepção recente

de que grupos sociais distintos têm experiências par-

ticulares do tempo, incomparáveis, e que, portanto, o

próprio conceito de tempo não pode mais ter um sentido

único, limitador. O tempo próprio é a negação do ritmo

industrial, da pasteurização da vida sob o tique-taque

da indústria (ELIAS, 1998). A segunda, articulada com a

anterior, é contestação da linearidade do tempo, desde

Bergson, a partir da constatação de que as percepções

de espaço e tempo variam conforme o ponto de vista

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do sujeito. Se na idéia anterior a ênfase era de natureza

sociológica, agora a dimensão é individual – o olhar

se volta para o observador. A terceira é a evaporação

do presente, idéia de Mallarmé analisada por Blanchot

no ensaio O livro por vir. Obcecados pelo presente, os

jornalistas se impõem uma angústia insolúvel: esfor-

çam-se por capturar o inexistente. Como Sísifo, a cada

dia empurram rochas montanha acima, para tornar a

carregá-las no dia seguinte, obedientes a uma tortura

que lhes parece auto-imposta: é o sacrifício, ainda que

inconsciente, diante do inevitável.

Tais idéias anunciam mais um tema-chave para

outro pensar sobre o jornalismo, capaz de responder às

perguntas que ainda não foram formuladas: é o tema

da nossa relação com o leitor.

Temos algo a aprender com Marcel Proust tam-

bém sobre o jornalismo. Proust não tem fama como

epistemólogo, mas poucas obras esmiuçaram as condi-

ções do conhecimento tão detalhadamente quanto Em

Busca do Tempo Perdido. No sexto volume, o narrador

enfim é bem sucedido em suas tentativas de publicar

um artigo no Figaro. E esse pequeno acontecimento

deflagra uma torrente de reflexões e reminiscências

sobre o jornal e a relação entre autor e leitor:

Depois, considerei o pão espiritual que é um jornal, ainda quente e úmido da prensa recente, sob o nevoeiro da manhã em que o distribuem, desde o alvorecer, às criadas que o levam a seus patrões com o café com leite, pão miraculoso, multiplicável, ao mesmo tempo um e dez mil, e que perma-nece o mesmo para cada um, penetrando, inumerável e de uma só vez, em todas as casas (PROUST, 1995, p. 142).

E então: “Para apreciar exatamente o fenômeno

que se produz neste momento nas outras casas, tenho

de ler este artigo não como autor, mas como um dos

outros leitores do jornal”. Proust antecipa em cinco

décadas o anúncio da morte do autor por Barthes3:

(...) no momento em que leio, o que eu vejo em cada palavra me parece estar no papel, e não posso crer que cada pessoa, abrindo os olhos, não veja diretamente as imagens que eu vejo, acreditando que o pensamento do autor é diretamente percebido pelo leitor, quando a verdade é que se trata de um outro pensamento fabricado em seu espírito, com a mesma candura de quem imagina que é a própria palavra que pronunciamos que caminha tal e qual ao longo dos fios telefônicos; no momento mesmo em que eu quero ser um leitor, meu espírito repete, como autor, a experiência dos que lerão meu artigo (PROUST, 1995, p. 143).

Para o narrador de Proust, o jornalismo é uma

“Vênus coletiva, da qual só possuímos um membro

mutilado se nos ativermos ao pensamento do autor,

porque ele só se realiza completamente no espírito dos

leitores, e aí se consuma” (PROUST, 1995, p. 143). O

narrador goza o júbilo da escrita, ao tempo que lamenta

a inescapável incompletude do pensamento – o dom e

o chicote de Truman Capote. O reconhecimento da im-

possibilidade da relação entre a representação e a “coisa

em si” ganha então muitas formas no romance:

Nosso erro está em acreditar que as coisas se apresentam habitualmente tais quais são na realidade, os nomes tais como são escritos, as pessoas tais como a fotografia e psi-cologia delas fornecem uma noção imóvel. Em verdade, não é absolutamente isto que de ordinário percebemos. Vemos, ouvimos, concebemos o mundo inteiramente às avessas. Repetimos o nome tal qual o ouvimos, até que a experiência haja retificado nosso erro, o que nem sempre acontece. (...) Só temos do universo visões informes, fragmentárias, que completamos com associações de idéias arbitrárias, criadoras de sugestões perigosas (PROUST, 1995, p. 147).

Reconhecer a autonomia do leitor implicaria nu-

merosas mudanças na nossa prosa e na nossa práxis.

Sabemos que os jornais segregam os leitores em blo-

cos – de um lado, o das autoridades; de outro, o dos

leitores comuns. Confiamos na fidelidade do leitor: “(...)

lêem-se os jornais como se ama, com uma venda nos

olhos. Ouvem-se as doces expressões do redator-chefe

como as de uma amante. Pode ser derrotado e feliz

3- Barthes reconhece essa inspiração, citando Proust no artigo.

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Ano IX - Nº 9 - Agosto 2008

quem se julga, não vencido, mas vencedor” (PROUST,

1992, p. 54).

Sabemos que as escolhas lingüísticas nas reda-

ções geralmente se dão pela média: raramente nos

aventuramos a explorar a vontade de experimentar

dos leitores: limpamos os textos de colinas e curvas,

transformando-os em auto-estradas que cortam uma

paisagem desértica. “O hábito de pensar nos impede,

não raro, de sentir o real, imuniza-nos contra ele,

torna-o, também ele, pensamento. Não há idéia que

não traga em si uma refutação possível, nem palavra

sem a sua contrária” (PROUST, 1995, p. 172).

Do mesmo modo que as teorias da cognição

iluminaram recentemente as interpretações sobre o

modo como a memória se apropria dos diversos níveis

de leitura de uma página impressa e da estrutura interna

da notícia, outra percepção do jogo entre autor e leitor

pode nos conduzir a opiniões mais iluminadas sobre o

texto jornalístico. Como Barthes, podemos pensar a

teoria musical como metáfora do texto – harmonia e me-

lodia, ritmo, altura, intensidade, tonalidade compõem a

frase, o parágrafo, a matéria. Assim como a partitura é

uma representação gráfica imperfeita da música, o texto

é representação gráfica imperfeita da idéia.

O escritor não diz ‘meu leitor’ senão pelo hábito contraído na linguagem insincera dos prefácios e dedicatórias. Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo. O reco-nhecimento, por seu foro íntimo, do que diz o livro, é a prova da verdade deste, e vice-versa, ao menos até certo ponto, a diferença entre os dois textos devendo ser freqüentemente imputada não a quem escreveu, mas a quem leu (PROUST, 1992, p. 184).

Tais mudanças de perspectiva podem conduzir

nosso olhar com maior profundidade para territórios já

amplamente explorados – como o das condições de pro-

dução. Poderemos observar, tanto quanto as estruturas

que impedem as transformações, aquelas que apontam

para a possibilidade de mudanças. Não apenas o incre-

mento na educação, mas outras políticas de promoção

da igualdade estão transformando os critérios para

julgar a qualidade do jornalismo e da mídia4. A mídia é,

de algum modo, permeável à mobilidade social, reflete

algumas das mudanças que nos cercam.

* * *

O jornalismo não é um fazer; o jornalismo é um

pensar.

A hegemonia da formação técnica na área, que

subordina a educação às prioridades do mundo do tra-

balho, domestica os espíritos, abastarda a universidade.

Tal opção contribuiu para nos trazer a este ponto de

crise. O caráter normativo da maior parte da formação

coisifica a profissão: a amaldiçoa a repetir o passado

no futuro. Orgulhamos-nos hoje de dominar e mobilizar

cotidianamente linguagens criadas há 60 anos – e não

conseguimos entender por que tantos leitores não vêm

nessas formas o melhor modo de comunicar uma idéia

ou uma informação. Convertemos a linguagem, fluida

por natureza, num bloco compacto – concretismo sem

crítica. Ogulhamos-nos de dominar formas que geram

tédio. Orgulhamos-nos do mantra de Voltaire: “Sê isen-

to”. Estamos certos de que encontramos na técnica do

jornalismo nossa realização particular do divino como

saber, como conhecimento. A vontade de verdade é

um impulso narcísico.

É ainda para nós um desafio “questionar nossa

4- Em 2002, o Jornal Nacional passou a ter, pela primeira vez em 33 anos, um apresentador negro. Não é resultado direto de políticas de compensação pela histórica exclusão social dessa população desde a escravidão: não há cotas para apresentadores ou comentaristas.

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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação

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vontade de verdade; restituir ao discurso seu caráter

de acontecimento; suspender, enfim, a soberania do

significante” (FOUCAULT, 2003, p. 51). Despidos da

onipotência da verdade, conscientes da fluidez da

linguagem, teremos outras bases intelectuais para

ressignificar nossa idéia de acontecimento, nossa rela-

ção com o tempo e com o leitor, nossa percepção do

texto. Não preciso notar o quanto tal escolha rejeita a

mitologia profissional (de objetividade, isenção, impar-

cialidade), assentada na normatividade da formação.

Que o jornalismo por vir exista como imaginação, antes

de tudo – como toda idéia visionária –, tenha ou não o

nome de “jornalismo”.

Espero, com essas reflexões erráticas, contribuir

para deslocar o pensamento sobre o futuro de nossa

profissão das cadeias impostas pela fragmentação

disciplinar, pelas prioridades das empresas, por nossas

neuroses coletivas ou por nosso narcisismo. Gostaria de

não ter incorrido igualmente no erro primário apontado

pelo narrador de Em Busca do Tempo Perdido: “Boa

parte daquilo em que acreditamos (e assim acontece

até nas conclusões extremas) com igual teimosia e boa-

fé resulta de um primeiro engano sobre as premissas”

(PROUST, 1995, p. 217).

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