Rastros 08.11

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Resenha Narrativas Telematicas

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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação

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Ano VIII - Nº 8 - pág 108 - pág 109 - Outubro 2007

Ariadna Silveira Straliotto*

BRETAS, Beatriz (org.) Narrativas telemáticas. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

Resenha

O livro “Narrativas telemáticas”, organizado por

Beatriz Bretas, compila artigos de seis autores que têm

como objeto empírico a Comunicação Mediada pelo

Computador (CMC) e que buscam dar visibilidade aos

microprocessos narrativos que a rede (world wide web)

possibilita tecer. O trabalho é resultado de um subpro-

jeto de pesquisa pertencente ao projeto Narrativas do

Cotidiano: na Mídia, na Rua, desenvolvido pelo Grupo de

Estudo e Pesquisa em Imagem e Sociabilidade (Gris), da

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O título

é o quarto volume da série Narrativas do Cotidiano, da

Coleção Comunicação e Cultura.

No primeiro capítulo, Leonardo Alves Vidigal toma

como objeto de pesquisa a lista de discussão Massive-

reggae e a expõe como um “processo de apropriação

cultural” contínuo, dado pelas peculiaridades do espaço

social virtual, pelo interesse dos participantes quanto

ao tema e pela conseqüente interação entre estes

membros, condicionada por determinados aspectos que

envolvem a cultura simbólica do reggae.

Pedro Chaltein Almeida Gontijo, no segundo ar-

tigo da coletânea, aborda a troca de mensagens entre

alunos de uma turma de especialização em marketing

através da lista de discussão do grupo. O autor enfoca

a análise dos e-mails referentes aos atentados do dia

11 de setembro, nos Estado Unidos, e discorre sobre o

processo de formação de identidades, compreendendo

a comunidade virtual como um espaço que propicia a

reprodução de significados para o sujeito, influenciando

sua construção identitária.

Suzana Campos Linke, no terceiro texto, faz uma

avaliação qualitativa dos espaços de participação pública

que vêm se multiplicando com a ascensão da internet.

As relações entre mídia, sociedade e internet, tida

como esfera pública, com suas respectivas restrições

e possibilidades, fornecem subsídios para o estudo de

caso do site Observatório da Imprensa. A autora aponta

as características discursivas do site, suas ferramentas

funcionais, e define a ambiência virtual como elemento

basilar para o desenvolvimento de uma crítica de mídia

independente e articulada com a sociedade.

No artigo seguinte, Carlos Eduardo Bezerra

apresenta reflexões sobre a crítica de mídia realizada

por meio da CMC. Comentários redigidos por leitores

da revista Bravo! on-line, acerca de duas publicações

sobre processos e produtos da televisão brasileira,

compõem o objeto de estudo do autor que, a partir das

categorias de crítica acadêmica e crítica profissional,

procura averiguar a existência de uma “instância social

de comentário”, oriunda da percepção popular, capaz de

constituir um debate agonístico em torno dos aspectos

do meio televisivo brasileiro que interfira, também, na

produção televisiva midiática.

O penúltimo capítulo, de Rafael Figueiredo Cruz

e Silva, busca narrativas dissonantes, elaboradas por

pessoas comuns e postadas no fórum de discussão Você

* Acadêmica do quarto período de Jornalismo do Bom Jesus/ Ielusc e bolsista do Necom (Núcleo de Estudos em Comunicação).

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Ano VIII - Nº 8 - Outubro 2007

Faz a Crítica, do site ONG TVer, em relação ao discurso

midiático instituído. O pesquisador examina 39 posts

referentes a quatro programas televisivos específicos,

classificados como “superpopulares”, e, com base na

leitura destes comentários e na caracterização dos

programas, identifica o fio narrativo central e os fios

narrativos secundários que compõe uma única narrativa

crítica, constituinte e constituída no meio telemático.

Beatriz Bretas encerra com um artigo que destaca

as possibilidades para a crítica de mídia na internet,

feitas por atores sociais incitados pelas experiências

de interação comunicativa. A organizadora desenvolve

a teoria do meio ciberespacial como ferramenta de

extensão e ampliação de movimentos ativistas da vida

off-line e define o conhecimento dos jogos de lingua-

gem e o domínio logotécnico como pré-requisitos para

o desempenho positivo dos usuários que, na condição

de integrantes de movimentos coletivos, lutam em prol

de conquistas sociais, inclusive daquelas que concernem

à democratização da comunicação.

Os autores compartilham conceitos e elementos

norteadores de pesquisa, demonstrando uma preocu-

pação com a concatenação do conteúdo. A constatação

de um subsistema crítico social-interpretativo, ou seja,

um subsistema de retorno à produção midiática, o ca-

ráter assíncrono do ciberespaço, e a análise do senso

comunitário das comunidades são operadores analíticos,

presentes na maioria dos artigos, que orientam a leitura

das teorias expostas e da obra como um todo. O livro

propõe ao leitor uma reflexão sobre as interseções

entre a vida real e a virtual e as ações comunicativas

que emergem em ambos os espaços, produzindo e

reproduzindo configurações do cotidiano.