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Manejo Pós-Eclosão: Alevinos bellysliders Costuma-se chamar de bellysliders aqueles alevinos que não conseguem controlar sua flutuabilidade, ficando então se arrastando pelo fundo. (bellysliders em inglês, rastejantes ou rampantes em português). Em geral, existe um certo consenso entre os criadores que o problema é que os bellysliders não conseguem encher suas bexigas natatórias logo que nascem, o que resulta na incapacidade do alevino em controlar sua flutuação, e a maioria das opiniões sobre como se prevenir isso giram em torno de como se hidratar corretamente as turfas (altura da lâmina d'água, temperatura, pH e dureza da água utilizada, até mesmo luminosidade), e de possíveis necessidades especiais durante a hidratação (adição de água oxigenada, uso de tabletes de oxigênio, uso água turfada, as vezes uso de pó de concha, sal, água destilada, etc). Pela nossa experiência, o nascimento de alevinos bellysliders se dá por diversos fatores, para alguns desses fatores, é possível diminuir ou mesmo evitar o nascimento de bellysliders, para outros, infelizmente não. Antes de nos aprofundarmos em técnicas para evitar esse problema, nessa primeira parte creio ser válido rever um pouco de teoria, especialmente para os criadores iniciantes e os intermediários. Controle de flutuação nos peixe ósseos: A flutuabilidade de um objeto imerso é dado pela contraposição de duas forças opostas, empuxo e gravidade. A gravidade é função da massa do objeto, e o empuxo é função do seu volume. Deste modo, quanto menor a diferença entre a densidade total do objeto e a densidade do meio líquido em que se encontra, maior sua flutuabilidade, e de modo oposto, quanto maior a diferença entre sua densidade total e a densidade do meio líquido em que se encontra, menor sua flutuabilidade. Os mecanismos de flutuabilidade em peixes envolvem a diminuição da densidade total do corpo pela incorporação de componentes de baixa densidade (gases, óleos) em diferentes orgãos. Nos Actinopterygii Neopterygii - os Holostei e os Teleostei (dos quais a ordem Cyprinodontiformes faz parte), temos um orgão hidrostático chamando bexiga natatória, cuja função

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Estudo de peixes anuais

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Manejo Pós-Eclosão: Alevinos bellysliders

Costuma-se chamar de bellysliders aqueles alevinos que não conseguem controlar sua flutuabilidade, ficando então se arrastando pelo fundo. (bellysliders em inglês, rastejantes ou rampantes em português). Em geral, existe um certo consenso entre os criadores que o problema é que os bellysliders não conseguem encher suas bexigas natatórias logo que nascem, o que resulta na incapacidade do alevino em controlar sua flutuação, e a maioria das opiniões sobre como se prevenir isso giram em torno de como se hidratar corretamente as turfas (altura da lâmina d'água, temperatura, pH e dureza da água utilizada, até mesmo luminosidade), e de possíveis necessidades especiais durante a hidratação (adição de água oxigenada, uso de tabletes de oxigênio, uso água turfada, as vezes uso de pó de concha, sal, água destilada, etc). Pela nossa experiência, o nascimento de alevinos bellysliders se dá por diversos fatores, para alguns desses fatores, é possível diminuir ou mesmo evitar o nascimento de bellysliders, para outros, infelizmente não. Antes de nos aprofundarmos em técnicas para evitar esse problema, nessa primeira parte creio ser válido rever um pouco de teoria, especialmente para os criadores iniciantes e os intermediários. Controle de flutuação nos peixe ósseos: A flutuabilidade de um objeto imerso é dado pela contraposição de duas forças opostas, empuxo e gravidade. A gravidade é função da massa do objeto, e o empuxo é função do seu volume. Deste modo, quanto menor a diferença entre a densidade total do objeto e a densidade do meio líquido em que se encontra, maior sua flutuabilidade, e de modo oposto, quanto maior a diferença entre sua densidade total e a densidade do meio líquido em que se encontra, menor sua flutuabilidade. Os mecanismos de flutuabilidade em peixes envolvem a diminuição da densidade total do corpo pela incorporação de componentes de baixa densidade (gases, óleos) em diferentes orgãos. Nos Actinopterygii Neopterygii - os Holostei e os Teleostei (dos quais a ordem Cyprinodontiformes faz parte), temos um orgão hidrostático chamando bexiga natatória, cuja função principal é auxiliar na flutuabilidade do peixe, através do controle do peso específico corporal do peixe em relação ao peso da água. Assim, há um aumento de volume quando o peixe sobe na coluna d'água, e quando o peixe desce, uma diminuição de volume. A bexiga natatória é um divertículo faríngeo preenchido por gases, que nos Neopterygii tem origem da porção dorsal da faringe; ela pode ou não manter ligação com a faringe; quando a ligação entre a bexiga natatória e a faringe é mantida, tem-se a condição fisóstoma, presente nos Holostei e Teleostei mais basais; quando essa condição é perdida nos adultos, tem-se os fisóclistos. No primeiro caso, a bexiga natatória é preenchida por ar engolido pela boca, enquanto no segundo caso, a bexiga natatória é preenchida por gases secretados a partir do sangue. Os fisóclistos desenvolveram mecanismos especiais de difusão de gases entre a bexiga natatória e o sangue, baseados em áreas altamente vascularizadas na parede da bexiga (rede mirabile): processos bioquímicos levam à difusão de gases como CO2, O2, H2 e N2 do sangue para dentro da bexiga natatória, principalmente num ponto chamado glândula de gás, o que aumenta a flutuabilidade; a composição de gases na bexiga natatória é diferente da do ar, variando entre os diferentes grupos de peixes. Outra região da parede da bexiga natatória, igualmente vascularizada, conhecida por glândula oval, é responsável pelo movimento inverso de gases, desinflando a bexiga quando o peixe quer aprofundar-se.► Em resumo, a bexiga natatória dos fisóclistos é inflada com gases retirados da corrente sanguínea.

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Alguns Conceitos Físicos ligados a Fisiologia Animal: Solubilidade: A solubilidade reflete a facilidade com que as moléculas de um gás se misturam com um líquido. A solubilidade de um gás é inversamente proporcional ao aumento da temperatura (diminui sua solubilidade com o aumento da temperatura,e vice-versa), e é diretamente proporcional à pressão (maior pressão resulta em mais gás dissolvido).Pressão parcial de gás: A quantidade de qualquer gás que pode ser dissolvida em um líquido depende da pressão parcial do gás sobre a solução e da natureza e temperatura do líquido. Por exemplo, se há aumento na pressão do gás, mais gás será dissolvido na solução; com relação à natureza do solvente, a água se comparada ao sangue dissolve uma quantidade diferente de gás; aumentando-se a temperatura do líquido, menos gás será dissolvido.Difusão: A difusão é o movimento de partículas (moléculas ou íons) de uma região para outra. Os íons deslocam-se de onde estão mais concentrados para onde estão menos concentrados, até ocorrer o equilíbrio.Pressão de difusão: Consideremos a água. Quando se dissolve uma substância em água, a pressão de difusão da água diminui. Esta diminuição é proporcional à quantidade de substância que se dissolve. Assim sendo, pode-se dizer que a água pura (água destilada) apresenta pressão de difusão máxima.

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► Em resumo, o volume de um gás que se dissolve em um líquido depende basicamente de duas forças: A pressão parcial que “empurra” esse gás para dentro do líquido; Sua solubilidade, que vai depender da natureza e da temperatura desse líquido. Desenvolvimento Embrionário nos killifishes anuais (Diapausa): Diapausa: Nos killifishes anuais diapausa é um estado de prolongamento/dormência do crescimento e metabolismo embrionário, que ocorre como parte natural do seu desenvolvimento embrionário. Segundo Wourms, há 3 estágios distintos de Diapausa (I, II e III) nos quais os embriões podem ou não entrar. Podrabsky resume esses três estágios como:Diapausa I: Pode ocorrer precocemente no desenvolvimento, em até 4 dias após a fertilização, logo após a conclusão do epibolia. Diapausa I é obrigatória em algumas espécies de killifishes anuais, e facultativa em outras. Está associada com uma característica única de desenvolvimento precoce em todas peixes anuais, a dispersão completa e reagregação subsequente dos blastómeros embrionários antes da formação do eixo embrionário definitivo.Diapausa II: Pode ocorrer após os principais eventos de neurulação e somitogénese, mas antes do início das principais fases da organogênese, em um estágio referido como "long-somite embryo". Diapausa II pode ser obrigatória ou facultativa, dependendo da espécie - Podrabsky cita que em Austrofundulus limnaeus, a diapausa II é facultativa; para temperaturas de incubação iguais ou inferiores a 25°C, a grande maioria dos embriões irá entrar diapausa II, enquanto que temperaturas de incubação mais altas levam os embriões à pular esta diapausa e seguir um desenvolvimento alternativo diretamente a diapausa III.Diapausa III: O embrião está totalmente desenvolvido pronto para eclodir em um alevino. Embriões em diapausa III geralmente já consumiram a maior parte de suas reservas energéticas e estão prontos para eclodir. Segundo Podrabsky, cada uma dessas etapas da diapausa parece responder a diferentes estímulos ambientais para a indução e/ou quebra de dormência, mas, contudo, é importante notar que os embriões podem entrar em diapausa mesmo sob condições que são favoráveis para um desenvolvimento normal, o que indica uma parada ativa do desenvolvimento, dependente de sinais internos, e não da remoção de algum recurso externo, tal como oxigênio ou água. ► Temperatura e umidade são provavelmente os dois fatores que funcionam como "interruptor liga/desliga" na diapausa. Obviamente esses fatores influenciam de modo diferente diferentes espécies, bem como em um mesma espécie pode haver diferentes respostas à esses estímulos, de acordo com componentes genéticos individuais, quantidade de reservas do ovo, quantidade e tipo de hormônios maternos. Temperatura X Metabolismo energético: Em temperaturas altas demais, a velocidade de consumo das reservas energéticas é maior que a velocidade de desenvolvimento do embrião, ou seja, acima de determinada temperatura as reservas energéticas são exauridas antes do completo desenvolvimento do embrião. Portanto, a velocidade de consumo das reservas energéticas é maior que a velocidade de desenvolvimento, comprometendo o processo de formação do embrião. Isso pode levar ao nascimento de alevinos já sem nenhuma reserva energética, ou pior, com más formações devido a falta de recursos para seu completo desenvolvimento. Reservas Energéticas: Toda energia necessária para o processo de desenvolvimento embrionário vem das reservas contidas dentro do ovo, as quais não são reabastecidas até as primeiras refeições

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do alevino.Matrizes: ► Mantenha as matrizes bem alimentadas. Fêmeas bem nutridas vão formar ovos com boa quantidade de reservas energéticas.► Evite temperaturas demasiadamente altas nos aquários de reprodução. Durante a incubação: ► Guardar as turfas com ovos dentro de caixas de isopor, de preferência em locais fechados sem corrente de vento; isso vai evitar grandes flutuações de temperatura, mantendo a temperatura de incubação mais constante.► Utilizar temperatura de incubação entre 21° e 25°C, dependo da espécie. Temperaturas muito acima de 25°C, a probabilidade de nascer bellysliders aumenta significativamente.► Não usar datas pré-determinadas para molhar turfas. Para identificar o momento certo de molhar os ovos, e para identificar quais ovos devem ser molhados e quais devem continuar em incubação, por favor checar o artigo "Como identificar se o ovo está "pronto" para ser molhado". Relembrando esse artigo: Molhar em fases muito precoces podem resultar na morte do embrião; molhar em fases terminais, mas que o embrião ainda não está completamente formando, pode causar a morte do embrião ou o nascimento de bellysliders. Na hora de molhar: ► Utilizar uma altura do substrato adequada. Altura do substrato: Para alevinos pequenos, +/- 1 cm; para alevinos maiores, entre 1 e 2,5 cm.► Hidratar devagar a turfa com ovos. Esse é um dos principais truques para se evitar bellysliders. Umedecer a turfa antes de molhá-la, por exemplo utilizando um borrifador d'agua.► Utilizar um coluna d'agua bem pequena na hora de molhar. Isso aumenta a proximidade dos alevinos à interface ar-água (área de maior pressão de gás), o que facilita o enchimento da bexiga natatória.

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Newborn fry of Leptolebias aureoguttatus "Iguape".