Rainha Em Folha Nº 23

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23 Número ANO VII BIBLIOTECA ESCOLAR RAINHA EM FOLHA ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. AMÉLIA SEGUNDO PERÍODO Ano letivo 2014-2015 EDIÇÃO Anabela Caldeira Dina Gimenez Filipa Barreto Francisco Agostinho QUEM TEM SEDE DE INFINITO página 1/2 MARIA CORTEZ-PINTO (ex-aluna) MADALENA QUINTELA, 11ºF Ler, ler, ler. Cruzar olhares e vidas, aprender as cores de tudo e de todos, colher raízes, saborear emoções, libertar segredos, dormir sobre os medos, criar ilusões, aprender pensamentos e histórias, cantar por dentro, perder- se, fixar a beleza e a força das palavras no nosso corpo, intensamente. Ler com a sede de viver todas as pessoas que somos e não somos, ser mais, ser infinitamente mais… Talvez, caro leitor, nem estejamos de acordo, mas acredito que cada pessoa pode viver com mais do que aquilo que conhece. Procuro alguém extremamente ambicioso, alguém que se depare com um obstáculo e o ultrapasse com destreza. Um indivíduo com alma de guerreiro, com alma de quem já viveu e não se cansa disso. Procuro alguém que tenha em si um fio colorido e seja capaz de o entrelaçar no preto da monotonia da vida. Creio que este meu desejo tão descarado se deva à minha insatisfação contínua com o rolar da vida. Presumo que tudo isto que tanto ambiciono não passe simplesmente daquilo que desejava ser. A minha revolta relativa à raridade de alguém com estas características é reflexo daquilo que não sou hoje nem serei amanhã. Esta aspiração a algo tão distante de mim procura que um dia me torne a personagem principal da minha vida. Não o sendo, então não passo de um intruso na história de alguém... Talvez até mesmo na sua, caro leitor. Possivelmente este texto não passa de uma crítica insatisfatória sobre a vida de um nómada que para na existência dos outros por não ter a sua. Calculo que seja um pouco atrevido da minha parte invadir a sua vida tranquila, confundindo os seus pensamentos tão sólidos. Creio que quero torná-lo insatisfeito em relação à vida banal que leva. Mas não torne essa insatisfação negativa pois quem tem sede de infinito só pretende viver mais alto. Ler é um baile. Passeio pela rua iluminada e melancólica, quando tropeço acidentalmente numas letras musicais. Caíram de uma casa de onde luz e música escapam pelas janelas abertas. Um senhor espera-me à porta. - Boa noite, minha senhora. Senhor Livro, ao seu dispor. E guia-me ao longo de salas e mais salas. Apresenta-me todos os convidados, explica- me a decoração, e informa-me que música é que se toca. Quando dou por mim, estou a dançar. A dançar com os convidados, com a música, com o Senhor Livro. E dançar é uma história, com altos e baixos, tropeções e piruetas e o texto leva-me… Já cheguei à última página. Os convidados já se foram embora, as últimas letras já ressoaram e o Senhor Livro: - Boa noite, minha senhora. Espero que tenha gostado da minha história. E tudo se desvanece. Estou na rua, de novo, com o perfume do baile ainda nas minhas roupas. E tropeço numas letras harmoniosas que caíram de uma casa com um senhor à porta. - Boa noite, minha senhora. Senhor Livro, ao seu dispor. LER É UM BAILE CAETANA F. THOMAZ, 12ºD

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Folha literária da ESRDA composta por textos de alunos.

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23Número

ANO VII

BIBLIOTECA ESCOLAR

RAINHA EM FOLHAESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. AMÉLIA

SEGUNDO PERÍODO

Ano letivo 2014-2015

EDIÇÃO Anabela Caldeira

Dina GimenezFilipa Barreto

Francisco Agostinho

QUEM TEM SEDE DE INFINITO

página 1/2

MARIA CORTEZ-PINTO (ex-a luna)MADALENA QUINTELA, 11ºF

Ler, ler, ler. Cruzar olhares e vidas, aprender as cores de tudo e de todos,colher raízes, saborear emoções, libertar segredos, dormir sobre os medos,criar ilusões, aprender pensamentos e histórias, cantar por dentro, perder-se, fixar a beleza e a força das palavras no nosso corpo, intensamente.Ler com a sede de viver todas as pessoas que somos e não somos, sermais, ser infinitamente mais…

Talvez, caro leitor, nem estejamos de acordo,mas acredito que cada pessoa pode vivercom mais do que aquilo que conhece.Procuro alguém extremamente ambicioso,alguém que se depare com um obstáculo eo ultrapasse com destreza. Um indivíduocom alma de guerreiro, com alma de quemjá viveu e não se cansa disso.Procuro alguém que tenha em si um fiocolorido e seja capaz de o entrelaçar no pretoda monotonia da vida.Creio que este meu desejo tão descarado sedeva à minha insatisfação contínua com orolar da vida. Presumo que tudo isto quetanto ambiciono não passe simplesmentedaquilo que desejava ser. A minha revoltarelativa à raridade de alguém com estascaracterísticas é reflexo daquilo que não souhoje nem serei amanhã.Esta aspiração a algo tão distante de mimprocura que um dia me torne a personagemprincipal da minha vida. Não o sendo, entãonão passo de um intruso na história dealguém... Talvez até mesmo na sua, caroleitor.Possivelmente este texto não passa de umacrítica insatisfatória sobre a vida de umnómada que para na existência dos outrospor não ter a sua.Calculo que seja um pouco atrevido da minhaparte invadir a sua vida tranquila,confundindo os seus pensamentos tãosólidos.Creio que quero torná-lo insatisfeito emrelação à vida banal que leva. Mas não torneessa insatisfação negativa pois quem temsede de infinito só pretende viver mais alto.

Ler é um baile.Passeio pela rua iluminada e melancólica,quando tropeço acidentalmente numas letrasmusicais. Caíram de uma casa de onde luz emúsica escapam pelas janelas abertas. Umsenhor espera-me à porta.- Boa noite, minha senhora. Senhor Livro,ao seu dispor.E guia-me ao longo de salas e mais salas.Apresenta-me todos os convidados, explica-me a decoração, e informa-me que músicaé que se toca.Quando dou por mim, estou a dançar. Adançar com os convidados, com a música,com o Senhor Livro. E dançar é uma história,com altos e baixos, tropeções e piruetas e otexto leva-me…Já cheguei à última página. Os convidadosjá se foram embora, as últimas letras járessoaram e o Senhor Livro:- Boa noite, minha senhora. Espero quetenha gostado da minha história.E tudo se desvanece.Estou na rua, de novo, com o perfume dobaile ainda nas minhas roupas. E tropeçonumas letras harmoniosas que caíram deuma casa com um senhor à porta.- Boa noite, minha senhora. Senhor Livro,ao seu dispor.

LER É UM BAILE

CAETANA F. THOMAZ, 12ºD

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LUISA MOREIRA, 11ºA

FECHAR OS OLHOS

Quem considera que fechar os olhos ésuficiente para fugir à realidade, não podeestar mais enganado. A realidade continuaà nossa volta, o nosso corpo permaneceimóvel, de olhos fechados, tentandodesesperadamente transportar-nos paraoutro lugar.A leitura exerce exatamente este efeito emnós. Um livro é um universo por descobrir,uma viagem sem destino. Nada se comparaà liberdade de ler um livro. Ler não se resumea perceber uma história, ler é percebermo--nos a nós próprios. Um livro é o melhoramigo que alguém pode ter, e garanto que éuma amizade essencial à vida. Mas não sefica por aqui. Todas as outras personagensse tornam a nossa família de acolhimento,personagens estas com as quais partilhamosuma mesma intriga, procuramos soluções,entregamos um bocadinho de nós erecebemos um bocadinho delas também.A leitura faz-nos crescer. Aprendemos comas vivências (d)escritas, choramos emuníssono, descodificamos caracterizações elemos mais ainda até que tudo se tornemetáfora. Vivemos metaforicamente atémorrer. Os outros atravessam a nossa vida,vão e vêm, mas deixam marcas da suapassagem. Depois de ler, nunca mais somosa mesma pessoa. A amizade que criamoscom longos parágrafos é única eintransmissível. Reconhecemos que a leituranos muda quando, ao terminar um livro,sentimos que perdemos um amigo. Após amorte, nascem asas. E o que é mais belo doque voar?

CONFISSÕES DE UMA BIBLIOTECAQUALQUER

Solenemente, os meus dedos agarram estaminha espada de cartão, defendendo-a comomajestosa pátria. Ergo o punho e recito, deespada ao peito, a eternal e mágica nonaproclamada pelo mais glorioso e ilustrecavaleiro de todos os tempos: Dom Quixotede la Mancha.*Sozinho marcho, sem nunca o medo mearranhar o peito, pelos vastos e densos maresde areia daquele impiedoso campo de batalha,em direção ao covil do assombroso dragãodas trevas que durante mil e um anos tomaposse de todas as colheitas da nossa humildealdeia. A lua em quarto minguante consomeo céu de escuridão e os seus ventos beijam--me docemente a testa. Chego ao meudestino. Avanço com o meu pé despido pelagruta fria e rochosa e desperto a criaturaque me tenta queimar, cuspindo fogo. Porsorte tinha comigo o meu leal e companheiroescudo de papel que impediu uma visita aodermatologista. Elevo a minha espada aohorizonte e canto um feitiço, cuja idade moremoveu do pensamento. Corro contra odragão e ataco-o trespassando-lhe o coração.Ele evapora-se num fumo tenebroso eespesso e uma alegria preenche-me o corpo,inflamando a traqueia com uma vontade deberrar VITÓRIA! *Como eu suplico pela simplicidade dainocência desses tempos…Como é bom poder ler. E sonhar!Que somos senão uma Foz de sonhos?

*1- Sonhar o sonho impossível,Sofrer a angústia implacável,Pisar onde os bravos não ousam,Reparar o mal irreparável,Amar um amor casto à distância,Enfrentar o inimigo invencível,Tentar quando as forças se esvaem,Alcançar a estrela inatingível:Essa é a minha busca. Miguel Cervantes

*2- É possível isso apenas ter acontecidopelo facto de estarem os vizinhos do 12.º Cno quintal e eu estar de pijama.

HENRIQUE CLAUDINO, 11ºF

APONTAMENTOS DE LEITURA

A palavra leitura é uma palavra demasiadopequena para tamanho poder.A leitura de um bom livro é um diálogoprofundo, o livro fala e a alma responde.Ler transporta-nos para outro mundo, outrarealidade, outras perspetivas de vida e, acimade tudo, proporciona a fantástica aventurade pensar com cabeça alheia em lugar daprópria.

MARIA CORRÊA, 10ºG

LEONOR OLIVEIRA, 12ºD

LEONOR OLIVEIRA, 12ºD