Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) e a Antropologia no ... · de fontes escritas e orais sobre...

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Professor: Elson Junior Santo Antônio de Pádua, julho de 2017 Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) e a Antropologia no Brasil dos século XIX.

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Professor: Elson Junior

Santo Antônio de Pádua, julho de 2017

Raimundo

Nina

Rodrigues

(1862-1906) e a

Antropologia

no Brasil dos

século XIX.

Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906)

• Nasceu em Vargem Grande, no Maranhão.

Filho de um coronel, cursou a Faculdade de Medicina

da Bahia, sendo incorporado como catedrático da

mesma em1891.

• Defendeu a introdução da área de Medicina Criminal

nas faculdades de Direito e a instituição de

manicômios judiciários no Brasil.

Principais obras e ensaios etnográficos:

• “Os mestiços brasileiros” (1890)

• “Antropologia patológica: os mestiços” (1890)

• “As raças humanas e a responsabilidade penal no

Brasil” (1894)

• “Negros criminosos no Brasil” (1895)

• “A Medicina Legal no Brasil” (1895)

• “Animismo fetichista dos negros baianos” (1896)

• “A loucura epidêmica de Canudos” (1897)

• “Antonio Conselheiro e os jagunços” (1897)

• “Mestiçagem, degenerescência e crime” (1899)

• “Atavismo psíquico e paranóia” (1902)

• “Os africanos no Brasil” (1890-1906); publicado em

1933.

“Quando vemos homens, como Bleek, refugiarem-se

dezenas e dezenas de anos nos centros da África

somente para estudar uma língua e coligir uns mitos,

nós que temos o material em casa, que temos a

África em nossas cozinhas, como a América em

nossas selvas, e a Europa em nossos salões, nada

havemos produzido neste sentido! É uma

desgraça.(...) O negro não é só uma máquina

econômica; ele é antes de tudo, malgrado sua

ignorância, um objeto de ciência” (Silvio Romero,

1888 apud Rodrigues, 2004:12).

SIGNIFICADO DA OBRA:

• Nina Rodrigues empreendeu um esforço etnográfico

inédito. Descreveu uma série de práticas culturais de

populações negras no Brasil, reunindo dados retirados

de fontes escritas e orais sobre “os últimos africanos

no Brasil”.

• Foi um dos primeiros autores brasileiros a colocar o

“problema do negro” como uma questão fundamental

para a compreensão da sociedade brasileira.

Perspectivas teóricas do autor

• Seu parâmetro de análise científica baseava-se na

ciência positivista: “observação documentada,

minuciosa e severa”, realizada com “isenção e

imparcialidade” (Rodrigues, 1935).

• Contudo, seu enfoque nos valores culturais, folclore,

línguas, religiões, festas populares e mitologia

orientava-se pelo determinismo biológico presente nas

teorias raciais do final do século XIX.

• Desta forma, a natureza e forma do sentimento

religioso dos negros baianos, a persistência do

fetichismo africano e da liturgia (feitiço, estado de

possessão, oráculos, sacrifícios, ritos funerários) é

concebida como produto da “incapacidade psíquica

das raças inferiores para as elevadas abstrações do

monoteísmo” (Rodrigues,1935:13) – propensos à

sugestão, sonambulismo e histeria.

• Adepto da antropologia criminal de Cesare Lombroso

(1876: “L’UomoDelinquente”).

• Determinismo biológico (indivíduos vistos como a

soma do seu grupo racio-cultural, eugenia) >>

darwinismo social.

• Raça: conceito não questionado.

• Influenciado pelas teorias raciais (Gobineau):

inferioridade das raças negras seria o produto da

marcha desigual do desenvolvimento filogenético da

humanidade - momentos diferentes de civilização:

“Para a ciência a inferioridade da raça negra nada mais

é do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural,

produto da marcha desigual do desenvolvimento

filogenético da humanidade nas suas diversas divisões

ou seções” – outra fase de desenvolvimento intelectual

e moral.

• “A igualdade é falsa, só existe na mão dos

juristas, porque sem ela não existiria a lei”.

• Proposta de um Código Criminal diferente

para negros e brancos – capacidades diversas

exigiriam leis diversas.

Desigualdade na capacidade evolutiva e

civilizadora de negros e brancos:

“O negro, principalmente, é inferior ao branco, a

começar da massa encefálica, que pesa menos, e do

aparelho mastigatório que possui caracteres

animalescos, até as faculdades de abstração, que

nele é tão pobre e fraca. Quaisquer que sejam as

condições sociais em que se coloque o negro, está

ele condenado pela sua própria morfologia e fisiologia

a jamais poder igualar o branco”

Qual é o “problema negro?”

Clima tropical que espanta o branco

+

mestiçagem irrestrita

+

português improgressista.

OBS: Aquele que, nas cerimônias da igreja, leva o turíbulo.

[Figurado] Adulador: os turiferários do poder.

Objetivo

• Identificar “possíveis germes de precoce

decadência, que merecem ser sabidos e estudados,

em busca de reparação e profilaxia” – questão de

“higiene social”.

• Para Nina Rodrigues, resolver o “problema negro”,

significava responder as seguintes questões:

• Qual a capacidade cultural dos negros brasileiros?

Quais os meios de promovê-la ou compensá-la?

• Qual a conveniência de diluí-los ou compensá-los

por um excedente de população branca que assuma a

direção do país?

• Crítica à benevolência com indígena, negros e

mestiços: “fantasia-se dotes e exalta-se qualidades

comuns ou medíocres”.

• Não questiona a mestiçagem. Quer ver o que fazer a

partir desse dado constitutivo da nossa sociedade

para alcançar o desenvolvimento.

• Necessidade de medir a capacidade cultural da

população negra e estudar os meios de promovê-la.

• Defende o branqueamento com ressalvas: “produtos

imprevistos dos antagonismos e afinidades de raças

diversas que se fundem”, “influência que o

caldeamento étnico pode exercer sobre a

característica de uma nacionalidade em formação”.

O que importava ao Brasil determinar é o “(...) quanto

de inferioridade lhe advém da dificuldade de civilizar-

se por parte da população negra que possui e se de

todo fica essa inferioridade compensada pelo

mestiçamento, processo natural porque os negros se

estão integrando no povo brasileiro.”

• Como avalia as possibilidades de “evolução e

“civilização” dos negros?

Diz que eles podem evoluir, mas são mais lentos e

nunca vão chegar ao patamar dos brancos.

• O que propõe?

Branqueamento progressivo pela imigração

europeia >> Mestiçagem como processo

civilizatório.

• Considera “a supremacia imediata ou mediata da

raça negra nociva à nossa nacionalidade, prejudicial

em todo caso a sua influência não sofreada aos

progressos e à cultura de nosso povo”.

• Possibilidade de oposição futura entre Norte

(mestiço, indolente e subserviente) e Sul (onde o

clima e civilização eliminarão a raça negra, restando

uma “nação branca, forte e poderosa de origem

teutônica”) no Brasil.