Racismo ótimo

15
REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO: REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista [email protected] ISSN: 2316-5936 30 | Página DISCRIMINAÇÃO RACIAL: a visão do professor mediante o racismo na escola Alex Leonardo Ribeiro 1 [email protected] “A indiferença moral em relação ao destino social dos indivíduos negros é tão generalizada que não ficamos constrangidos com a constatação das desigualdades raciais brasileiras.” (Sales Augusto – artigo,Salto para o futuro). RESUMO Nesta pesquisa irei retratar o preconceito, racial nas escolas e as conseqüências daquelas/es que sofrem com esse tipo de estigma e segregação por motivo étnico-racial, dentre tantas questões imbricadas que coadunam juntas no contexto escolar na inclusão e na exclusão de alunas/os. Partimos do pressuposto que essa problemática Como o professoras/es atuam na prática docente mediante preconceito racial no âmbito escolar? faz parte do nosso cotidiano e que de certa forma afeta a relação entre alunas/os e professoras/es e também afeta o desenvolvimento de alunas/os que sofrem com esse tipo de exclusão, preconceito racial. Como objetivos de pesquisa pretendo investigar, quais os ações educativas e afirmativas que professoras/es executam em sua prática pedagógica para combater o preconceito racial em sua unidade escolar; analisar como os docentes percebem, notam, experimentam e atuam junto a realidade do preconceito racial. Para realizar essa pesquisa proponho uma abordagem qualitativa e como instrumento utilizei entrevista, observação de campo e diálogos informais. Essa abordagem deve ser feita coerentemente, sendo um estudo construído, mediante as leituras feitas pelo pesquisador e as práticas empíricas da comunidade pesquisada, dessa forma, essa unificação requer equidade e equilíbrio para resultado encontrado e soluções de problemas a serem resolvidos. Palavras Chave: Discriminação, preconceito racial, prática pedagógica. ABSTRACT This research will portray the prejudice, racial schools and the consequences of those / s who suffer with this type of stigma and segregation by ethnic-racial reason, among many issues that are consistent intertwined together in the school context on inclusion and exclusion of students / the. We assume that this problem - How do teachers / s work on teaching practice by racial prejudice in the school? - Is part of our daily life and that 1 RIBEIRO, Alex Leonardo. Graduado em pedagogia com habilitação em magistério das séries iniciais do ensino fundamental e gestão escolar (2007) Uni-Brasilia, especialista em educação e promoção da saúde (2010) UnB, especialista em educação para diversidade e cidadania (2012) UFG, especializando em análise política e políticas públicas (2012) UnB, atua em educação superior, educação informal em ONG, atendimento psicossocial com adolescentes em regime socioeducativo e desenvolve trabalho com assessoria legislativa em educação.

Transcript of Racismo ótimo

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

30 | P á g i n a

DISCRIMINAÇÃO RACIAL: a visão do professor mediante o

racismo na escola

Alex Leonardo Ribeiro1

[email protected]

“A indiferença moral em relação ao destino social dos

indivíduos negros é tão generalizada que não ficamos

constrangidos com a constatação das desigualdades raciais

brasileiras.” (Sales Augusto – artigo,Salto para o futuro).

RESUMO

Nesta pesquisa irei retratar o preconceito, racial nas escolas e as conseqüências daquelas/es

que sofrem com esse tipo de estigma e segregação por motivo étnico-racial, dentre tantas

questões imbricadas que coadunam juntas no contexto escolar na inclusão e na exclusão de

alunas/os. Partimos do pressuposto que essa problemática – Como o professoras/es atuam na

prática docente mediante preconceito racial no âmbito escolar? – faz parte do nosso

cotidiano e que de certa forma afeta a relação entre alunas/os e professoras/es e também

afeta o desenvolvimento de alunas/os que sofrem com esse tipo de exclusão, preconceito

racial. Como objetivos de pesquisa pretendo investigar, quais os ações educativas e

afirmativas que professoras/es executam em sua prática pedagógica para combater o

preconceito racial em sua unidade escolar; analisar como os docentes percebem, notam,

experimentam e atuam junto a realidade do preconceito racial. Para realizar essa pesquisa

proponho uma abordagem qualitativa e como instrumento utilizei entrevista, observação de

campo e diálogos informais. Essa abordagem deve ser feita coerentemente, sendo um estudo

construído, mediante as leituras feitas pelo pesquisador e as práticas empíricas da

comunidade pesquisada, dessa forma, essa unificação requer equidade e equilíbrio para

resultado encontrado e soluções de problemas a serem resolvidos.

Palavras Chave: Discriminação, preconceito racial, prática pedagógica.

ABSTRACT

This research will portray the prejudice, racial schools and the consequences of those / s

who suffer with this type of stigma and segregation by ethnic-racial reason, among many

issues that are consistent intertwined together in the school context on inclusion and

exclusion of students / the. We assume that this problem - How do teachers / s work on

teaching practice by racial prejudice in the school? - Is part of our daily life and that

1 RIBEIRO, Alex Leonardo. Graduado em pedagogia com habilitação em magistério das séries

iniciais do ensino fundamental e gestão escolar (2007) Uni-Brasilia, especialista em educação e promoção da saúde (2010) UnB, especialista em educação para diversidade e cidadania (2012) UFG, especializando em análise política e políticas públicas (2012) UnB, atua em educação superior, educação informal em ONG, atendimento psicossocial com adolescentes em regime socioeducativo e desenvolve trabalho com assessoria legislativa em educação.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

31 | P á g i n a

somehow affects the relationship between students / teachers and the / s and also affects the

development of students / those who suffer from this type of exclusion, racial prejudice. As

research objectives intend to investigate, what educational and statements that teachers / s

run in their practice to combat racial prejudice in their school; examine how teachers

perceive, notice, and work experience with the reality of racial prejudice. To conduct this

research propose a qualitative approach and used as an instrument interview, field

observation and informal dialogues. This approach should be done consistently, and a study

built upon the readings taken by the researcher and the researched community empirical

practices, thus, this unification requires fairness and balance to results found solutions and

problems to be solved.

Keywords: Discrimination, racial, educational practice.

1. INTRODUÇÃO

Nesta pesquisa, irei retratar o preconceito racial, nas escolas e as conseqüências

daquelas e daqueles que sofrem com esse tipo de estigma e segregação por motivo étnico-

racial, dentre tantas questões imbricadas que coadunam no contexto escolar na inclusão e na

exclusão de alunas/os. Dessa forma, o artigo pretende responder algumas inquietações sobre

as relações de preconceito racial, na vida escolar dos alunos/as vítimas de tais ações. Busco

verificar principalmente como professoras/es atuam na prática docente mediante as relações

e a postura de alunas/os que promovem preconceito racial no âmbito escolar. Para tal, a

pesquisa tem como interlocutores as/os docentes de uma escola de ensino médio da Diretoria

Regional de Ensino (DRE) do bairro de Santa Maria em Brasília, Distrito Federal.

Diante de minha trajetória acadêmica e escolar, sendo minha formação inicial em

Pedagogia, sempre notei muito relevante a falta da discussão no âmbito escolar sobre as

questões inerentes a diversidade, direitos humanos e cidadania. Comecei então a me

questionar sobre identidade de gênero, sexualidade e questões étnico-raciais, além de outras

questões no tocante às discriminações, preconceitos, no entanto nesse artigo vamos tratar de

discriminação por questões étnicorraciais.

Como educador, tenho em conta a necessidade de aplicação da lei federal

10.639/03, que prevê a educação das relações étnicorraciais, hoje Lei Federal 11.645/08, que

inclui educação indígena. Além disso, outro fator que motivou a escolha do tema e eleição

da escola como foco de pesquisa foram as experiências como aluno e como professor ao

perceber a prática do racismo pelo alunado no ambiente escolar.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

32 | P á g i n a

Assim, pretendo dialogar com docentes a respeito da temática discutida. Percebo

que pesquisamos o que nos causa sofrimento e, como educador, projeto uma escola que seja

mais plural e aberta à diversidade.

Preconceito e discriminação relacionada à raça na escola são assuntos cuja

abordagem é muito delicada, tanto pelo corpo discente, quanto pelo corpo docente da escola.

Percebo o quanto é difícil trazer essa discussão para sala de aula e focarmos em um assunto

que é tabu em rodas de conversas familiares, no meio social, na comunidade religiosa e em

diversos âmbitos da sociedade. Sabemos que todas essas dificuldades para falar sobre tal

questão são oriundas de investimentos na formação de professoras/es, falta de interesse pela

temática, e poucos estudos dirigidos a questão do negro no Brasil. Sabemos também que o

preconceito influência uma causa intimidativa na vida das pessoas, sendo que, as chacotas

sobre negros têm estreita relação com marcadores sociais de classe, sendo a. Dessa forma

em relação à raça Nogueira (1985) afirma que

Considera-se como preconceito racial uma disposição (ou atitude)

desfavorável, culturalmente condicionada em relação aos membros de uma

população aos quais se têm como estigmatizados, seja devido à aparência,

seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou

reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência,

isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços

físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de

marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de certo

grupo étnico, para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-se que é

de origem (NOGUEIRA, 1985, p. 78-79).

A prática de preconceito racial na escola é um fator relevante na disseminação do

preconceito. Esse espaço, a escola que está inteiramente ligado com a sociedade é um elo de

colaboração, reforço e manifestação de preconceitos, ou seja, um lugar que deveria ser de

libertação e emancipação é em muitos momentos local de segregação e reforço dos

estereótipos das vitimas dos preconceitos e discriminações.

Entendo que pesquisas sobre preconceito racial e discriminação não devem focar

somente o que é o preconceito racial, mas devem discutir e analisar as conseqüências de

quem sofre com esse tipo de agressões.

Investiguei quais são as ações educativas e afirmativas que professoras/es executam

em sua prática pedagógica para combater o preconceito racial em sua unidade escolar.

Dentro dessa proposta, procurei verificar atitudes e conhecimentos de professoras/es frente

às questões e práticas de preconceito racial no cotidiano escolar, analisar como os docentes

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

33 | P á g i n a

percebem o notam, experimentam e atuam junto a realidade discriminatória na escola

pesquisada.

Ademais, também é propósito deste estudo levantar argumentos para desmistificar

o branqueamento social como marcadores sociais de excelência, pois, percebo em toda

minha trajetória profissional e acadêmica que, para o cidadão ser politicamente aceito ele

deve ser branco-heterossexual-masculinizado-cristão classifica claramente que as

identidades são institucionalizadas, estigmatizadas por diversas questões, políticas,

religiosas, familiares, de comportamento social, educacional e com rigor moldada por

padrões capitalistas heterogêneos (LOURO, 2008).

Desenvolvi a pesquisa partindo do pressuposto que essa problemática – Como o

professoras/es atuam na prática docente mediante preconceito racial no âmbito escolar? – o

racismo faz parte do cotidiano escolar e afeta a relação entre alunas/os e professoras/es e

também afeta o desenvolvimento das/os alunas/os que são cometidas/os por preconceito

racial. Em minhas experiências educacionais, em vários momentos as/os estudantes

referiam-se a alunas/os negros como: macaco, negra maluca, negra/o safada/o, só podia ser

coisa de negra/o, negra/o quando não caga na entrada caga na saída e outros colóquios que

fazem parte do cotidiano escolar, são representações do grau de preconceito reproduzidas

em diversas instituições sociais tais como família, escola, igreja e Estado.

Contudo, Freire (2007) alerta sobre as questões do oprimido, que nesse estudo são

negras/os acometidas/os por preconceito racial. A/O oprimida/o deve tomar frente a sua

própria libertação, desenvolver consciência crítica e, ao tomar ação coletiva, libertar-se e

libertar o opressor que, por sua vez, também é vítima da herança opressora aprendida inter e

entre gerações.

As formas de opressão de qualquer natureza não têm o seu nascedouro na escola,

porém, o racismo, as desigualdades e as discriminações correntes na sociedade perpassam

por ali e geram algumas seqüelas que seguem a baixo.

Nesse sentido, a pesquisa destacou a postura do professorado que convive com a

diversidade em sala de aula em seu cotidiano e sua prática pedagógica. Busquei verificar

como as intervenções feitas pelas/os docentes, como elas/es agem e reagem a situações de

preconceito racial em sala de aula. São diferentes limites e fronteiras, visto a

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

34 | P á g i n a

responsabilidade de professoras/es como educadoras/es, visto a necessidade que suas

práticas pedagógicas devam ser elaboradas conforme a realidade local e suas necessidades.

2. A INTER-RELAÇÃO ENTRE: NEGROS E AMBIENTE ESCOLAR

Na vida em sociedade existem processos que implicam na construção e na

reelaboração de parâmetros para conduta social dos sujeitos. Esses processos indicam uma

relação hierarquizada e entre seres humanos e que sofre interferência de instituições como

igreja, escola, partidos políticos e Estado.

Nesse estudo, o foco são as relações de preconceito racial na escola, ou seja, a

repressão, hierarquização construção e desconstrução dessa prática na escola, pois, tal

prática reproduz desigualdade social.

Dentro da realidade da educação brasileira inserida em um contexto político, social,

cultural e religioso, são enfrentados pelas/os professoras/es diversas barreiras para realizar

um trabalho coerente acerca da visão dos direitos humanos. Há diversas dificuldades

enfrentadas e questionadas por familiares, coordenadoras/es, diretoras/es e professoras/es

quando se fala em temáticas da sexualidade, relação de gênero, relação racial, visto a

prevalência de uma política de poder capitalista, heteronormativa, machista e patriarcal,

sendo que o estudo está dirigido a relações etinicorraciais.

A diversidade no Brasil deve ser entendida como fator de políticas públicas,

emancipação de sujeitos que clamam por um lugar na sociedade seja negras/os, indígena,

deficiente físico/mental sendo que a cada dia são percebidas/os e vistas/os como margem da

sociedade. Assim como toda margem social sofre por discriminação seja pobre, morador de

rua, índio, homossexual e entre outros, negras/os passam por situações vexatórias e

constrangedoras no que tange discriminações e preconceito. Em diversos momentos a escola

fortalece e pensamento de uma forma falaciosa superioridade branca.

A ausência de negros/as ou a exposição como inferiores em livros

didáticos, cartazes, vídeos e em outros recursos utilizados, reforça a

estigmatizarão da população negra e dos/as estudantes negros. Por outro

lado há um reforço na construção do imaginário acerca da superioridade

branca. A meta deve ser o respeito aos valores culturais e aos indivíduos de

diferentes grupos, o reconhecimento desses valores e a convivência. A

convivência com a diversidade implica em experimentar o respeito à

diferença. Esses são os passos essenciais para a promoção da igualdade de

direito. (RIBEIRO, SOUZA, 2008, p. 95).

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

35 | P á g i n a

Dessa forma, o preconceito racial se dá mediante as práticas e o convívio com

pessoas que manifestam esse sentimento de intolerância e desrespeito com o diferente.

O conhecimento da história, a valorização racial, respeito à diversidade e ações

educativas fazem diferença na formação de cidadãos que repudiam as discriminações raciais

e os outros diversos modos de preconceito. Para que as instituições de ensino desempenhem

a contento o papel de educar, é necessário que constituam em espaço democrático de

promoção e divulgação de conhecimentos e de posturas que visam uma sociedade justa,

digna e soberana.

A escola deve efetivar sua prática pedagógica com ações afirmativas para o

rompimento de preconceito, sendo que, essas ações devem desconstruir atitudes e ações

excludentes, racistas, existentes no cenário escolar. A escola deve ser um local de produção

de conhecimento, de práticas democráticas, onde o negras/os devem também ser autoras/es

das práticas de diversidades educativas.

Existem pedagogias e experiências que visam eliminar a manifestação de

preconceito racial no âmbito escolar, pois servem como subsídios para essas novas

concepções pedagógicas. Para que essa prática seja efetivada na escola, devem-se

proporcionar a professoras/es e demais seguimentos formação para o conhecimento sobre

essa questão social acerca dos estigmas que são criados em escolas. Essas formações devem

ter como base os direitos humanos, que estão nas Diretrizes do Plano Nacional de Educação

Para os Direitos Humanos onde consta que:

Educar em direitos humanos é fomentar processos de educação formal e

não-formal, de modo a contribuir para a construção da cidadania, o

conhecimento dos direitos fundamentais, o respeito à pluralidade e à

diversidade sexual, étnica, racial, cultural, de gênero e de crenças religiosas

(BRASIL, 2003, p. 7).

A conscientização nas práticas educacionais sobre as diferenças deve favorecer

práticas que resistem ao preconceito racial na escola. No enriquecimento da leitura de

mundo é que agem efetivamente no ser humano e em seu comportamento social. Conforme

Tomaz Tadeu (2004), é através do vinculo entre conhecimento, identidade e poder que os

temas de raça, classe, diversidade ganham seu lugar no currículo escolar e nas relações

multidisciplinares em sala de aula. Quando houver visibilidade de tais temáticas em livros

didáticos, vídeos, folders e conhecimento acerca será possível caminhar juntos a uma prática

educativa capaz de romper a discriminação.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

36 | P á g i n a

Partindo da premissa de que nossa sociedade reproduz as desigualdades ao longo

dos séculos com ampla participação da população, quer intencional, quer inconscientemente,

seja através de ações discriminatórias ou da omissão frente às práticas discriminatórias.

Dessa forma, uma reflexão sobre nossos próprios valores, crenças e condutas é fundamental

para a compreensão das desigualdades na sociedade brasileira. Se, de uma forma ou de

outra, dá-se sustentação a essa sociedade, também está em mãos às possibilidades de

transformá-la.

Seria a diferença, ou melhor, dizendo, a diversidade, algo negativo? Por que, em

função dela, os seres humanos se envolvem em conflitos às vezes menores, como os que

ocorrem entre vizinhos, outras vezes de proporções enormes, como as sangrentas guerras

entre povos? Cada cultura, cada civilização tem suas obras, suas invenções, suas conquistas.

A civilização moderna, atribuída freqüentemente à Europa, na verdade construiu-se com

base em contribuições de diferentes povos, de diversas regiões do mundo. Essa construção

das discriminações, preconceito racial é fator histórico, Garcia contextualiza que

Quanto aos brancos não havia duvida. Eram os descendentes de europeus

que ocupavam os melhores postos na sociedade escravocrata imperial.

Existiam também os brancos miseráveis. Esses se negavam a fazer “fazer

serviço de negro” dos ex-escravizados. (...) Um sistema que combinava

definições e graduações sociais baseadas em estado, funções, identidades

corporativa, religião cultura e cor, a tendência foi a formulação de um pré-

conceito a cerca de cada individuo (GARCIA, 2007, p. 29).

Como esse fator classificatório de pessoas permeia a sociedade até os dias de hoje,

e como a escola em seu cotidiano reproduz tais fatores de exclusão, ou seja, as ironias,

deboches, agressões, tidas como brincadeiras acerca de negras/os esses são fatores que

estimulam a evasão escolar e se manifesta na opressão social que tais sujeitos passam na

vida escolar. Nilma Lino (2001) nos fala que não há como negar que a educação é um

processo amplo e complexo de construção de saberes culturais e sociais que fazem parte do

acontecer humano, sendo que, não é contraditório que tantos educadores concordem com

essa afirmação e, ao mesmo tempo, neguem o papel da escola no trato com as questões

ligadas a diversidade cultural.

Os saberes para a prática pedagógica onde se pode combater o preconceito racial

converte-se em uma questão para qual a escola deve esta aberta afim de produzir

conhecimento em forma de credenciar as/os professores no combate e tais práticas, ou seja, a

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

37 | P á g i n a

escola deve ser a principal base de combate na luta. Inverter esse quadro no cotidiano

escolar deve ser para a escola e o educador um marcador de divisão.

3. RACISMO: LONGO CAMINHAR

Nessa pesquisa, investi em uma abordagem qualitativa. Essa abordagem deve ser

feita coerentemente, sendo um estudo construído, mediante as leituras e as práticas

empíricas junto à comunidade pesquisada, dessa forma, essa unificação requer equidade e

equilíbrio para resultado encontrado e soluções de problemas a serem resolvidos, pois, o ser

humano tem olhares diferenciados para o mesmo assunto já que sua história de vida e suas

experiências acadêmicas podem influenciar nesse olhar para a efetivação de uma pesquisa.

Dessa forma, Gonçalves nos ensina que:

A questão metodológica é bem mais ampla e implica um processo de

construção, um movimento que o pensamento humano realiza para

compreender a realidade social. Isso significa que, ao registrar seu

procedimento metodológico, você está evidenciando sua postura como

pesquisador, ou seja, você deixará pistas de como está concebendo a

relação sujeito-objeto do conhecimento (2003, p. 61).

Portanto é fundamental vivenciar a realidade a ser pesquisada, a relação sujeito

objeto deve ser abrangente, pois, no decorrer da pesquisa, tanto pesquisador/a quando

pesquisanda/o reconhecerão a necessidade de uma mudança nesse estado de

desenvolvimento pessoal e coletivo. Conforme Lüdke e André (2004).

Para que se torne um instrumento válido e fidedigno de

pesquisa científica, a observação precisa ser antes de tudo controlada e

sistemática, isso requer a existência de um planejamento cuidadoso do

trabalho e uma preparação rigorosa do observador (LÜDKE, ANDRÉ,

2004).

Para que essa abordagem tenha êxito, é necessário que haja confronto os dados

obtidos com o referencial teórico, além de crítica ao tema pesquisado. Como procedimentos

para pesquisa foram realizadas entrevistas e, ainda, observações da prática pedagógica em

campo.

As observações realizadas no período da pesquisa na escola de ensino médio da

Gerência Regional de Ensino (GRE) da cidade de Santa Maria, no Distrito Federal.

Permaneci na escola por uma semana, o que totaliza 40 horas de observação.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

38 | P á g i n a

A pesquisa teve quatro docentes como interlocutoras/es, sendo, professoras/es do

ensino médio, tais interlocutoras/es, serão conhecidos neste texto como Cristina, Nivaldo,

Kesia e Ângelo.

As perguntas apresentadas durante as entrevistas foram abertas, o que

proporcionou maiores esclarecimentos e informações que permitissem obter dados mais

precisos e relevantes – o que às vezes não se consegue com questões fechadas. Procurei

contemplar perguntas sobre a atuação da/o professor/a no contexto de racismo em sala de

aula e no contexto escolar.

4. DO DESRESPEITO PARA O RESPEITO: UTOPIA OU REALIDADE

No caminhar dessa investigação percebi em diversos momentos que todo tipo de

discriminação e preconceito está dentro de cada uma e da cada um de nós. Dentro da escola

a cada momento que eu verbalizava sobre o tema percebia reações, tais como olhares

espantados, expressão faciais, “caras e bocas, bicos, bochechas infladas. Também foi notório

diversas contradições nas falas de educadoras/es da mesma.

Cristina, mulher de interface branca, é evangélica fervorosa, a mesma diz com

orgulho, e moradora da Cidade de Santa Maria, Distrito Federal. Formou-se em Jornalismo

e um pouco decepcionada com a profissão cursou faculdade de Filosofia. Concursada para

Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEE-DF), leciona há 4 anos para as

turmas do ensino médio da escola e no período da entrevista atuava em oito turmas.

Nivaldo, homem de interface negra, verbaliza ser consciente de sua origem e do

que passou para chegar onde está. Leciona Sociologia para turmas de ensino médio.

Concursado há 2 anos, é morador da Cidade de Santa Maria, no Distrito Federal.

Ângelo, homem de interface branca, militante partidário do Partido dos

Trabalhadores (PT) e Central Única dos Trabalhadores (CUT), é membro de movimentos

sociais de base. Professor de Filosofia há 16 anos e um dos nomes mais polêmicos da escola,

mora na cidade de Santa Maria, Distrito Federal.

Késia, mulher de interface negra, professora de Língua Portuguesa há 19 anos,

moradora do bairro do Gama, Distrito Federal. Verbaliza que educação para ela já algo que

está na vida, na sua pele, afirma gostar do que faz e que tem entusiasmo.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

39 | P á g i n a

A fim de verificar a relevância da consciência sobre a discriminação racial eno

contexto escolar, destaco as seguintes falas das/os prefessoras/es.

CRISTINA - As temáticas da diversidade racial na escola são trabalhadas

por cada professor por si mesmo, cada um faz esse trabalho por si, em sua

sala de aula, não existe um projeto uniforme. Eu trabalhei a temática com o

filme “Homens de Honra” em minhas turmas de 2º ano e com o outro

Professor de Filosofia. Colocamos cartazes em toda escola contra o racismo

e sobre a consciência negra. Em questão do material didático acerca da

temática, a escola e a rede pública não fornecem esse material para atuação,

ou seja, não existe ao menos aqui na escola um material disponível. Se o

professor quiser fazer um debate mais profundo sobre temas transversais

em geral ele tem que buscar recursos. Eu gosto de fazer as abordagens

como filmes e depois trazer em rodas uma vivência sobre o filme.

ÂNGELO - O tema racial não são tratados. Na verdade somente nas aulas

de filosofia e sociologia e em pouquíssimo tempo. O material que tenho

para trabalhar questões raciais, combatendo racismo são as matérias que

consigo nos movimentos sociais de esquerda.

NIVALDO - A temática sobre as questões raciais foi trabalhado por mim

em sala de aula, mas é muito complicado, sendo que existem várias

limitações, tanto por parte dos alunos que não gostam muito da temática –

foram criados para serem intolerantes e preconceituosos – e por parte dos

professores por falta de conhecimento. Percebo várias limitações. E sobre

as questões raciais, os alunos têm noção que é feio ser racista, porém, não

temos material didático para trabalhar, muito menos recursos, no entanto a

Escola de Aperfeiçoamento Profissionais da Educação (EAPE) oferece

cursos on-line para professores e servidores da educação. Eu mesmo fiz

duas formações com eles, ou seja, às vezes os professores reclamam, mas

não buscam o conhecimento necessário.

KÉSIA - A escola não oferece material didático, mas cada professor

quando trabalha essa temática deve ter o seu material. Eu uso uns vídeos.

Na fala das/os professoras/es é perceptível que não existe na escola um projeto um

que trabalhe as temáticas sobre preconceito racial, além disso, a Secretaria Estado de

Educação (SEE-DF) não fornece material. Contudo, existe uma formação na Escola

Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação (EAPE) que oferece formação continuada

curso de extensão na modalidade EAD sobre o tema das relações étnico-raciais. Há também

um Espaço Afrobrasilidade, uma sala com material de pesquisa sobre relações raciais.

Conforme Cavalleiro (2005), silêncio sobre o racismo, o preconceito a

discriminação raciais nas diversas instituições educacionais contribui para que as diferenças

de fenótipo entre negros e brancos sejam entendidas como desigualdades naturais. O silêncio

quanto a materiais didáticos e projetos quanto ao trabalho em relação à temática referente à

raça pode ser verificado também no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. No

documento que tive acesso não constava nenhum elemento que remetia às questões raciais.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

40 | P á g i n a

Enquanto no documento há um explicito investimento com relação a aspectos com ecologia,

violência e drogas, nada consta sobre preconceito e discriminação relacionados à racismo.

Trabalhar no combate à prática de preconceito racial é acreditar na atuação do/a

docente como sujeito transformador, como agente provocador de uma sociedade que está em

transformação constante. No Brasil, racismo é crime2 e em certos contextos inclusive

repudiado. Porém, o racismo continua existindo seja velado ou maquiado.

Cabe a escola educar o cidadão para a vida, quebrando paradigmas e rompendo

barreiras. O acolhimento de homossexuais e negras/os é condição as/os mesmas/os se sintam

emancipadas/os e donatárias/os de direitos.

CRISTINA - E possível sim trabalhar a temática. Toda vez que em minhas

turmas surgem temas polêmicos como é a questão do racismo, eu faço um

trabalho em circulo trazendo para a realidade as dores de cada um, ou seja,

trago uma reflexão associada ao tema provocado por eles. Acredito que a

troca de experiência e o olhar para o sofrimento do outro ajudam esses

alunos a serem menos preconceituosos. As possibilidades de trabalho

contra o racismo decorrem de uma serie de fatores: primeiro, uma boa

formação para professores; e, depois, os recursos de áudio, vídeo, TV,

computador, internet e o principal material didático para pesquisa, tanto

para professores quanto para alunos.

ANGELO - As possibilidades de trabalho são distantes. Os limites

começam com a própria não vontade de professores em trabalharem com

esse tema, dizem que não tem formação para tal, porém, a Escola de

Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação (EAPE) fornece cursos

sobre relações raciais em modalidade a distância. Aqui na escola existe uma

tentativa de fazer o debate de forma aberta e sincera o que também me

transforma em alvo, ou seja, os professores têm resistência.

KÉSIA - É possível pensar sim em uma escola, sociedade ou mundo mais

humanizado, mas a meu ver, esse trabalho deve ser feito com a família,

pois, o aluno aprende a ser preconceituoso no seio familiar. Essa questão

sobre racismo é trabalhada na Semana da Vida, uma semana que são

trabalhados temas transversais. Essa semana é realizada no mês de maio

que está contido no Projeto Político-Pedagógico da escola.

NIVALDO - Sempre é possível pensar em um processo de humanização

sim, mas, como disse anteriormente, as resistências são muitas. Se essa

causa não começar pelo professorado, vai começar por quem? Hoje a escola

não oferece possibilidades alguma de trabalho sobre questões raciais até

mesmo sexualidade. Os poucos trabalhos que são efetivamente feitos são

por conta da Filosofia professor Ângelo e comigo pela Sociologia e esse

trabalho é feito em sala de aula, pois, projeto fixo não existe.

Ao mesmo tempo em que existe certa disposição das/os docentes em trabalhos com

a temática relacionada a racismo, há elementos que dificultam tais ações. Na fala das/os

2 Lei 7.716/1989, conhecida como Lei Caó, que classifica o racismo como crime.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

41 | P á g i n a

professoras/es, existem contradições explicitas, sendo que, alguns buscam trabalhar essa

discussão sobre o racismo e de certa forma são boicotados por outros colegas.

É injusto que a alguns indivíduos e grupos seja negada a condição de

parceiros integrais na interação social simplesmente em virtude de padrões

institucionalizados de valoração cultural, de cujas construções eles não

participaram em condições de igualdade e os quais depreciam as suas

características distintivas ou as características distintivas que lhes são

atribuídas. Deve-se dizer então que o não reconhecimento é errado porque

constitui uma forma de subordinação institucionalizada e, portanto, uma

séria violação da justiça (FRASER, 2007, p.112).

A escola como ambiente de inter-relação e também como ambiente de educação

formal deve ter um espaço onde se favoreça aspectos relacionados à amizade, respeito,

dialogo e que eduque pessoas autônomas e politizadas. Dessa forma, a interação das/os

professoras/es e alunas/os, alunas/os e alunas/os, alunas/os e comunidade, alunas/os e

família deve ser fundamentada no respeito à diversidade. Nesse contexto, o professorado

deve auxiliar a desconstruir normatizações de classe, raça, gênero e sexualidade, portanto,

nesse estudo estamos focando as relações raciais que estão imbricadas em outros diversos

fatores.

CRISTINA - Aqui na escola existe muito bulling, muita “brincadeira” sobre

negros e outros, portanto nesse contexto da relações raciais o preconceito

também envolve a classe do aluno, ex: chamam o aluno ou aluna de negro

pobre e outros. A relação entre professor e aluno aqui na escola é muito

boa, amigável, com respeito e dialogo. Eu particularmente tenho alguns

alunos com postura de bandido que me dão medo e confesso que tenho

medo de alguns alunos. Sei que isso dificulta alguma aproximação. Entre os

alunos existe uma segregação conforme os gostos de cada um e modo de

ver o mundo.

ÂNGELO - A relação de professor e aluno “publicamente” é de

tranqüilidade, mas na verdade o preconceito é generalizado. Inclusive

negros que não gostam de gays e vice-versa. Dessa forma acredito que

combater o racismo e homofobia na escola é algo extremamente necessário.

É preciso mostrar que aquela “brincadeira” reforça um comportamento

preconceituoso.

KÉSIA - Quando percebo tal desrespeito, faço uma abordagem no geral

sobre a questão do racismo. Se o preconceito e a discriminação forem mais

profundos, a direção entra em contato com a família. Mas, sinceramente, eu

não vejo racismo na escola. Vejo a convivência deles super tranqüila. Aqui

na escola existe uma relação amistosa entre esses alunos, tanto entre eles e

eles e professores. Vejo com tanta tranqüilidade, pois, até temos professores

negros.

NIVALDO - Acredito que para começar um trabalho efetivo é necessário

percebermos que todos os tipos de preconceitos estão contidos dentro do

ambiente escolar, pois, a escola é um estado social contido por pessoas.

Vejo claramente um racismo maquiado, burlado, escamoteado..

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

42 | P á g i n a

Na fala das/os professoras/es é notório que o preconceito racial acontece na escola,

mesmo de forma velada. Porém, é notório também que as/os professoras/es que estão mais

abertas à temática e que investem na formação em tais temas estão mais aguçadas/as para

perceber o racismo nas praticas discentes. Paralelamente, professoras/es nem tão

preparadas/os têm outra avaliação sobre tal violência, inclusive fazendo menção ao

preconceito racial de bulling.

A formação continuada de professores para a lida de assuntos pertinentes ao

contexto é primordial para que se alcance o referencial de uma educação com diálogos

emancipatório. A postura pedagógica, a prática educativa, o olhar para outro é necessário

para o combate do racismo e outros preconceitos e opressões.

CRISTINA - É preciso sim de um trabalho mais efetivo no combate a todo

tipo de preconceito e discriminação, porém, é preciso também abertura por

parte do professorado, abertura por porte da direção e coordenação

pedagógica. Eu acredito que o professor deve se sentir livre para trabalhar o

tema. É necessário que esse tema seja tratado nas semanas de estudo. A

escola hoje deve ser menos tecnicista e mais humana. Quando acontece a

discriminação gritante em minha sala eu paro tudo e falo sobre tais questões

e sobre cidadania. Porém, quando vejo que é uma simples brincadeira entre

eles, fico na minha. Você sabe, né, que um fica chamando o outro de negro,

gordo, quarto olhos e tal de uma forma de brincadeira entre eles. Eu só faço

intervenção quando vejo que é algo mais grave. Quando é grave eu faço um

atendimento mais específico. Eu defendo que na escola deve ter

profissionais mais preparados para essas temáticas e para esses

entendimentos. Eu não me sinto tão preparada.

ANGELO - Um aluno negro é tratado por mim da mesma maneira que

qualquer outro. A não ser quando ele sofre ataques, aí eu o defendo; ou

quando ele diz que vai desistir aí eu incentivo o mesmo a ir a luta e batalhar

por seus ideais. Eu trabalho com o tema de racismo, religiões afro-

brasileiras e sinto muita perseguição por parte de meus colegas de trabalho

por diversas questões, principalmente às de cunho religioso.

KÉSIA - Eu busco combater o preconceito racial com dialogo. Quando vejo

os apelidos tento conversar e pontuar e quando o caso é muito acentuado os

pais são chamados na escola.

NIVALDO - Relação professor-aluno é algo tranqüilo, ou seja, uma

tranqüilidade em tese. Entre alunos é bem conflituosa. Vários adolescentes

juntos cada um com uma ideologia diferente. É necessário trabalhar a

questão do racismo não só nas escolas, mas nas regionais de ensino com

professores. Existem vários profissionais racistas. Já presenciei piadas e

brincadeiras de tal tema em sala de professores.

Nas falas, os êxitos e problemas no trabalho quanto o racismo na escola aparecem

de maneira latente. O despreparo, a falta de profissionais, um atendimento pedagógico

qualificado e até mesmo a falta de entusiasmo para buscar algo novo. Em muitos momentos

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

43 | P á g i n a

durante as entrevistas eu percebia um discurso vazio, seco, sem entusiasmo; em outros,

percebia claramente um preconceito escondido, questões religiosas priorizadas em relação à

humanização ou olhar humanizado.

Ao se destacar identidade distinta de outra que é tida como padrão é fundamental

um olhar sensível que permita o diálogo a fim da construção de uma sociedade justa. Sendo

assim, as/os educadoras/es têm no debate relacionado ao combate ao racismo um expressivo

desafio para que se efetive o propósito da convivência em sociedade que tenha o respeito às

diferenças como um fundamento para sua cidadania.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, busquei perceber o olhar do professorado perante as práticas de

racismo existentes no contexto escolar e social da escola, bem como estas relações se

permeiam no cotidiano escolar.

Ao final dos debates desenvolvidos no texto, é possível sinalizar que um dos

aspectos que mais prejudicam os trabalhos de combate ao racismo é o fato de não existirem

um projeto institucional fixo que possibilite ações referentes a temáticas que possibilite um

trabalho multidisciplinar sobre relações raciais . Além disso, a falta de material didático e

uma preocupação de caráter secundário para essas questões também são aspectos que

dificultam o debate sobre racismo, história da áfrica e outros.

Por outro lado, percebe-se professoras/es com disposição para trabalhar a temática,

se esforçam, mas sentem-se isoladas/os sem o apoios das/os demais. Também se percebe

evidente a carência de aporte teórico e metodológico para o trabalho com o tema em sala de

aula. Saliento que a falta de formação, o desinteresse por parte da gestão escolar, o

desinteresse dos alunas/os e professorado no atento combate ao racismo podem gerar a

impressão de que não é relevante o racimo na escola. Portanto, é notório que na fala do

professorado fica claro que nesse contexto pesquisado é relevante o trabalho de alguns

professore, que mesmo com dificuldades norteiam suas turmas com o foca na temática de

relações raciais e outras que é de muita valia na vida desse alunado que recebe tal formação

no combate ao racismo.

REFLEXÃO, AÇÃO E EDUCAÇÃO:

REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS www.icsh.com.br/revista

[email protected]

ISSN: 2316-5936

44 | P á g i n a

Espero que esse artigo sirva de aporte teórico e incentivo para professoras/es,

discentes e gestoras/es implantem ou ampliem projeto de emancipação e politização

fundamentados no combate ao racismo.

6. REFERÊNCIAS

BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos - Plano Nacional de

Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humano.

Ministério da Educação, 2003.

CAVALLEIRO, Eliane e SANTOS, Sales Augusto dos (Org.). Educação anti-racista: caminhos

abertos pela Lei Federal nº 10.639/03.Brasília: MEC/SECAD, Coleção Educação

Para Todos, 2005.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 45ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? Lua Nova, São Paulo, nº 70, p. 101-138,

2007.

GARCIA, Renísia Cristina. Identidade Fragmentada: um estudo sobre a história no

negro na educação brasileira 1993-2005. Brasília-DF: INEP, 2007.

GONÇALVES, Elisa. Iniciação à Pesquisa Científica. 3ª edição. Campinas – SP: Alínea,

2003.

GOMES, N. L. Educação e Relações Raciais: refletindo sobre algumas estratégias de

atuação. In: MUNANGA, Kabenguele (Org). Superando Racismo na Escola. Brasília:

Ministério da Educação. 2001.

LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões

teórico-metodológicas. Educação em Revista. 2008, n.46, p. 201-218.

LÜDKE, Menga e ANDRE, Marli. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. 8ª

Edição. SP: Pedagógica e Universitária. 2004.

NOGUEIRA, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem:

sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações

raciais no Brasil. In: ORACY, Nogueira. Tanto preto quanto branco: estudos de

relações raciais. São Paulo: Queiroz Editora, 1985, pp. 67-93.

RIBEIRO, Álvaro. SOUZA, Barbara. Souza Edleuza. RIBEIRO, Eglê. (Org). História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana na Escola. Brasília: Agare. 2008.

SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade: uma introdução a teorias do

currículo. 2ª edição. Belo Horizonte: Autentica. 2004.