Racismo No Espaço Universitário

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Cor/Raça UFRJ UFPR UFMA UFBA UnB USP UFF UFMT Branco 76,8 86,5 47 50,8 63,7 78,2 63,7 40,1 Preto/Pardo 20,3 8,6 42,8 42,6 32,3 8,3 30,1 50,5 Amarelo 1,6 4,1 5,9 3 2,9 13 1,7 3,5 Indígena 1,3 0,8 4,3 3,6 1,1 0,5 0,6 10,8 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 % de negros no Estado 44,63 20,27 73,36 74,95 47,98 27,4 10,6 56,9 Tabela 1. Distribuição dos estudantes nas universidades segundo a cor UFBA: Universidade Federal da Bahia; UFF: Universidade Federal Fluminense; UFMA: Universidade Federal do Maranhão; UFMT: Universidade Federal de Mato Grosso; UFPR: Universidade Federal do Paraná; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro; UnB: Universidade de Brasília; USP: Universidade de São Paulo. * Censo Étnico Racial da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal de Mato Grosso, 2003. Fonte: Pesquisa Direta, Programa A Cor da Bahia da UFBA e I Censo Étnico-Racial da USP, 2001. A tabela apresentada acima confirma que o espaço universitário é um espaço de desigualdade racial, reproduzindo a situação do negro na sociedade atual e o seu estado de segregação. A exclusão social recai sobre a maioria da população negra; a possibilidade de que grupos étnicos historicamente prejudicados tenham acesso ao ensino superior. O Brasil é o país com a maior população negra fora da África, e a cidade de Salvador é que tem todo esse contingente de negros. A recusa em admitir a raça como um mecanismo gerador de desigualdades sociais repousa na crença amplamente difundida de que os brasileiros desfrutam de uma situação racial harmoniosa e equilibrada em termos de tratamento de acesso aos bens sociais, na idéia de democracia racial. Assim as desigualdades na sociedade brasileira seriam reflexos da estrutura de classes.

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Racismo.

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Cor/Raça UFRJ UFPR UFMA UFBA UnB USP UFF UFMTBranco 76,8 86,5 47 50,8 63,7 78,2 63,7 40,1Preto/Pardo 20,3 8,6 42,8 42,6 32,3 8,3 30,1 50,5Amarelo 1,6 4,1 5,9 3 2,9 13 1,7 3,5Indígena 1,3 0,8 4,3 3,6 1,1 0,5 0,6 10,8Total 100 100 100 100 100 100 100 100% de negros no Estado 44,63 20,27 73,36 74,95 47,98 27,4 10,6 56,9

Tabela 1. Distribuição dos estudantes nas universidades segundo a cor

UFBA: Universidade Federal da Bahia; UFF: Universidade Federal Fluminense; UFMA: Universidade Federal do Maranhão; UFMT:Universidade Federal de Mato Grosso; UFPR: Universidade Federal do Paraná; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro; UnB:Universidade de Brasília; USP: Universidade de São Paulo.* Censo Étnico Racial da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Federal de Mato Grosso, 2003.Fonte: Pesquisa Direta, Programa A Cor da Bahia da UFBA e I Censo Étnico-Racial da USP, 2001.

A tabela apresentada acima confirma que o espaço universitário é um espaço de desigualdade racial, reproduzindo a situação do negro na sociedade atual e o seu estado de segregação. A exclusão social recai sobre a maioria da população negra; a possibilidade de que grupos étnicos historicamente prejudicados tenham acesso ao ensino superior. O Brasil é o país com a maior população negra fora da África, e a cidade de Salvador é que tem todo esse contingente de negros. A recusa em admitir a raça como um mecanismo gerador de desigualdades sociais repousa na crença amplamente difundida de que os brasileiros desfrutam de uma situação racial harmoniosa e equilibrada em termos de tratamento de acesso aos bens sociais, na idéia de democracia racial. Assim as desigualdades na sociedade brasileira seriam reflexos da estrutura de classes.

O fracasso da escola recai sobre os negros como um bloco muito pesado bloqueando seus caminhos e progressos tanto intelectuais como de alto-estima, imagem e luta pelo resgate de sua origem e história. Esse fracasso é muito visível nos negros pois o maior número de não alfabetizados está entre os negros. A participação dos negros no sistema educacional vai diminuindo a medida que aumentam os anos de escolaridade. O silêncio dos currículos escolares também contribui para esse fracasso quando omite a história e a cultura negra. Esses fenômenos afastam o negro das oportunidades que podem advir de uma escolarização bem sucedida. No Brasil, as análises sobre

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o caráter seletivo do ensino superior tem se concentrado na análise dos determinantes econômicos do acesso a esse patamar do sistema de ensino, excluindo outros marcadores sociais como gênero e raça, que exclui significativas parcelas da sociedade das oportunidades de acesso ao sistema de ensino.

Os negros juntos com os pardos representam quase a metade dos estudantes das universidades públicas do país, sendo que a outra metade é constituída de estudantes brancos. Um estudo de caso feito na UFBA pela pesquisadora Delcele Mascarenha Queiroz, revela que 50% dos estudantes da UFBA são brancos, 1/3 são pardos e menos de 8 % são negros. Considerando que Salvador possui a maior população de negros fora da África e comparando a presença da Universidade ao seu peso no conjunto da população da Bahia, eles estão sub-representados. Os brancos seguem na carreiras de maiores prestígio e os negros seguem nos cursos menos valorizados, como por exemplo pedagogia ou geografia. As maiores concentrações de estudantes oriundos de escola privada são brancos, essas proporções são elevadas na UFBA e UFMA. Os pretos tem menor percentual de escola privada. Os pretos enfrentam barreiras mais poderosas para ingressarem no ensino superior.

Valor das profissões no mercado trabalho com referência nos cursos da UFBA também foi pesquisado por Delcele Mascarenha Queiroz nos artigo: O negro e a Universidade Brasileira. Nessa pesquisa ela classificava os cursos em: Alto, Médio Alto, Médio, Médio baixo e Baixo. Os cursos que apresentavam maior número de candidatos por vagas são os mais prestigiados socialmente. Dentre esses cursos estão os cursos de medicina, direito, odontologia, administração, psicologia, computação, engenharia civil, elétrica, e mecânica. Os brancos possuem posição privilegiada no acesso a essas vagas. Na UFBA, para cada candidato preto há mais de treze brancos e mais de dois pardos.

A universidade brasileira é um espaço de predomínio de brancos. Em quase todas as universidades os brancos são metade dos estudantes pois acontece uma seletividade racial no acesso a cursos de elevado prestígio social, onde os brancos predominam. As universidades são espaços fortemente seletivos marcados pela desigualdade racial. A democracia racial dificulta a visão crítica do assunto, não possibilitando o aprofundamento da questão. Os negros possuem situação diferenciada sendo necessário medidas de combate ao racismo e a desigualdade racial. Ai é onde entram as políticas públicas de correção entre brancos e negros.Estudiosos pesquisadores e formadores de opinião pública contrárias a política de cotas raciais no ensino superior acreditam que a desigualdade racial não se deve ao aspecto racial mas sim ao aspecto econômico. Isso sempre ocorreu por aqui, mudar o foco do problema para fragilizar uma medida correcional que visa beneficiar o povo historicamente excluído, marginalizado e descriminado. A universidade no Brasil não é para pretos.