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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 1

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃO

Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.8, n.2, p.1-60, junho 1995

S e ç õ e s

Três temas palpitantes compõem a pauta jornalísticadesta edição: cultivo de peixe em lavoura de arrozirrigado, plantio direto e produção florestal. Com rela-ção ao último, o grande destaque é o programa quepretende plantar e manejar mais de 1 milhão dehectares de florestas em Santa Catarina.

Os artigos técnicos, em número de onze, abordamadubação orgânica, leucena, tripes da cebola, crespeirado pessegueiro, microbacias, mudas de videira, ali-mentação animal, oxidação de vinhos, piscicultura emilho.

No restante das 60 páginas deste número, o leitorinteressado em agricultura e pecuária encontra infor-mações e análises que esperamos possam auxiliá-loe enriqueçam o seu conhecimento.

As matérias e artigos assinados não expressamnecessariamente a opinião da revista e são de inteira

responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento, mesmo que

parcial, só será permitida mediante a citação da fontee dos autores.

Cartas ................................................................................................................................Registro .....................................................................................................................Lançamentos Editoriais ..................................................................................................Reflorestar .......................................................................................................................Flashes ..............................................................................................................................Pesquisa em Andamento ................................................................................................Novidades de Mercado ...................................................................................................Vida Rural - soluções caseiras ......................................................................................

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R e p o r t a g e m

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Arroz com peixe, receita para dar lucro certoReportagem de Paulo Sergio Tagliari .......................................................................

Produção florestal: a grande opção de SCReportagem de Homero M. Franco ............................................................................

Plantio direto na pequena propriedade: baixo custo, grande produtividadeReportagem de Paulo Sergio Tagliari e Homero M. Franco ....................................

O p i n i ã o

Face a face com o futuroEditorial ..............................................................................................................................

A pluriatividade e a agricultura catarinense.Dissolução ou redefinição da exploração familiar?Artigo de Flávio Sacco dos Anjos ...............................................................................

Planejamento Estratégico: uma ferramenta para a construção do futuroArtigo de Osvaldo Carlos Rockenbach ............................................................................

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T e c n o l o g i a

Teoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricosArtigo de Álvaro Afonso Simon e César Augusto Pompêo .............................................

Avaliação de leucena nas regiões Oeste e Meio Oeste CatarinenseArtigo de Rubson Rocha, Mário Miranda e Airton Rodrigues Salerno .........................

Método de forçagem para produção de mudas de videiraNovas técnicas permitem alcançar melhores resultadosArtigo de Edegar Luiz Peruzzo .......................................................................................

Epidemiologia e controle da crespeira do pessegueiroArtigo de Jorge Bleicher e Onofre Berton ......................................................................

A oxidação dos vinhos e seus fatores determinantesArtigo de Jean Pierre Rosier ...........................................................................................

“Milho ardido”: o novo velho inimigoArtigo de Armando Corrêa Pacheco ...............................................................................

Potencial fertilizante do esterco líquido de suínos da região Oeste CatarinenseArtigo de Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera eLourenço Francisco Xavier Dias .....................................................................................

Método rápido para determinação da qualidade fertilizante doesterco líquido de suínos a campoArtigo de Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera eLourenço Francisco Xavier Dias .....................................................................................

Controle do tripes da cebolaArtigo de Paulo Antonio de Souza Gonçalves e Djalma Rogério Guimarães ..............

Importância dos minerais na reprodução do gado de corteArtigo de Edison Azambuja Gomes de Freitas, João Lari Felix Cordeiro eCanuto Leopoldo Alves Torres .......................................................................................

Transporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticosArtigo de Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia ...................................................................

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2 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

Edi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia l

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDI-ÇÃO: Áurea Tereza Schmitt, Carla Maria Pandolfo, CelomarDaison Gross, Eliane Rute Andrade, Emílio Della Bruna,Gilberto Tassinari, Honório Francisco Prando, Jefferson Ara-ujo Flaresso, José Seno Regert, Leandro do Prado Wildner,Luiz Carlos Perin, Mauro Roczanski, Milton Losso, Osmar deMoraes, Pedro Boff, Vera Talita Machado Cardoso

JORNALISTA : Homero M. Franco (Mtb/SC 709)

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

DESENHISTAS: Jorge Luis Zettermann, Vilton Jorge de Sou-za, Mariza T. Martins, Dilson Ribeiro

CAPA : Hargolf Grassmann e Paulo Sergio Tagliari

PRODUÇÃO EDITORIAL: Cláudia Beatriz Nedel Mendes deAguiar, Daniel Pereira, Janice da Silva Alves, Marilene Regi-na Oliveira, Marlete Maria da Silveira Segalin, Rita de CassiaPhilippi, Selma Rosângela Vieira, Vânia Maria Carpes daRosa

DOCUMENTAÇÃO: Selma Garcia Blaskiviski

ASSINATURAS/EXPEDIÇÃO : Ivan José Canci, Rosane Cha-ves Furtado, Zulma Maria Vasco Amorim - GED/EPAGRI, C.P.502, Fone (048) 234-1344 e 234-0066, Ramais 243 e 245,Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC.Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GED/EPAGRI - Fone (048)234-0066, Ramal 263 - Fax (048) 234-1024 - São Paulo, Riode Janeiro e Belo Horizonte: Agromídia - Fone (011) 259-8566 - Fax (011) 256-4786 - Porto Alegre: Agromídia Fone(051) 221-0530, Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) -Florianópolis:

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -TrimestralEditada pela EPAGRI (1995- )1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa

Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC.II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão deTecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, SC.

Impressão: EPAGRI CDD 630.5

Face a face com o futuroFace a face com o futuroFace a face com o futuroFace a face com o futuroFace a face com o futuroConforme previsto e esperado,

os efeitos da instalação doMERCOSUL já se fizeram notarnos preços da safra catarinense deverão.

O milho, com preço ao produtorabaixo do mínimo, exemplifica bema crise ocasionada pela concorrên-cia dos parceiros do Mercado Co-mum.

A concorrência, como se sabe,não é um mal em si mesma, e umdos seus efeitos benéficos é a pro-moção da eficiência. Os benefíciosda eficiência, todavia, só se efeti-vam quando há harmonia entreos objetivos econômicos e tecnoló-gicos com os de cunho social eecológico.

Diante desta realidade, que é oMERCOSUL, e de suas vanta-gens e desvantagens, é precisocuidar para que os eventuaisprejuízos não recaiam, mais umvez, sobre os pequenos produto-res.

É sabido que as pequenas emédias propriedades agrícolas, ain-da tão importantes no contextosocioeconômico do Estado, não po-

derão sozinhas e por iniciativa pró-pria alcançar os padrões tec-nológicose de eficiência exigidos pelo mercadocomum. Há, pois, que apoiá-las.

Pesquisa agrícola e extensão ru-ral são dois instrumentos que po-dem e devem ser mobilizados paraeste apoio, visando a adaptação e asobrevivência do modelo agrícolacatarinense.

Não basta, porém, ampliar purae simplesmente estas atividades, re-petindo estilos e paradigmas ultra-passados.

Assim como o momento exige efi-ciência no processo produtivo, a pes-quisa e a extensão rural devem sereficientes, e não apenas na sua for-ma de atuar, mas também no seumodo de existir. Isto significa que aEPAGRI, órgão oficial de pesquisa eextensão, deverá estar preparada eestruturada de maneira a justificarsua existência, principalmente facea outras necessidades e prioridadessociais.

É exatamente com este objetivo -adequar a pesquisa e a extensão àsexigências de um ambiente cadavez mais competitivo e complexo -

que a EPAGRI, sua Direção e fun-cionários estão empenhados na re-alização do planejamento estraté-gico da Empresa.

Planejar é algo que as pessoas einstituições sempre fazem, às ve-zes até instintivamente, e nem sem-pre fazem bem. O que há de novono processo em adoção na EPAGRIé que o planejamento está sendoembasado na participa-ção detodos os envolvidos - den-tro e forada Empresa - e está se valendodas modernas técnicas de constru-ção e análise de cená-rios.

O resultado final deste esfor-ço será o delineamento de umaestrutura institucional adequadae a elaboração de planos e projetosde pesquisa agrícola e extensãorural capazes de transformar arealidade e construir o futuro de-sejado.

Este é, pois, um momento muitoimportante na história da pes-quisa agrícola e da extensãorural de Santa Catarina e que arevista Agropecuária Catarinen-se não poderia deixar de regis-trar.

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação daEPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e de ExtensãoRural de Santa Catarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga,1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, Fone (048) 234-1344e 234-0066, Fax (048) 234-1024, Telex 482 242, 88034-901 - Florianópolis, Santa Catarina, Brasil

EDITORAÇÃO : Editor-Chefe: Afonso Buss, Editor-Técnico:Vera Talita Machado Cardoso, Editores-Assistentes: MaríliaHammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari

COMITÊ DE PUBLICAÇÕES:PRESIDENTE: Afonso BussSECRETÁRIA: Vera Talita Machado CardosoMEMBROS: Celso Augustinho Dalagnol, Dario Alfonso-Morel,João Carlos Seben, Leandro do Prado Wildner, OnofreBerton

REVISTA TRIMESTRAL

15 DE JUNHO DE 1995

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 3

CARTAS

A revista Agropecuária Catari-nense aceita, para publicação, artigostécnicos ligados à agropecuária, desdeque se enquadrem nas seguintes nor-mas:

1. Os artigos devem ser originais e en-caminhados com exclusividade àAgropecuária Catarinense.

2. A linguagem deve ser fluente, evi-tando-se expressões científicas e téc-nicas de difícil compreensão. Reco-menda-se adotar um estilo técnico--jornalístico na apresentação da ma-téria.

3. Quando o autor se utilizar de infor-mações, dados ou depoimentos deoutros autores, há necessidade deque estes autores sejam referen-ciados no final do artigo, fazendo-seamarração no texto através de núme-ros, em ordem crescente, colocadosentre parênteses logo após a infor-mação que ensejou este fato. Reco-menda-se ao autor que utilize nomáximo cinco citações.

4. Tabelas deverão vir acompanhadasde título objetivo e auto-ex-plicativo,bem como de informações sobre afonte, quando houver. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil manuseio ecompreensão. As tabelas deverão virnumeradas conforme a sua apresen-

tação no texto. Abreviaturas, quandoexistirem, deverão ser esclarecidas.

5. Gráficos e figuras devem ser acom-panhados de legendas claras e obje-tivas e conter todos os elementos quepermitam sua arte-finalização pordesenhistas e sua compreensão pe-los leitores. Serão preparados empapel vegetal ou similar, emnanquim, e devem obedecer às pro-porções do texto impresso. Dessemodo a sua largura será de 5,7 centí-metros (uma coluna), 12,3 centíme-tros (duas colunas), ou 18,7 centíme-tro (três colunas). Legendas claras eobjetivas deverão acompanhar osgráficos ou figuras.

6. Fotografias em preto e branco de-vem ser reveladas em papel brilhan-te liso. Para ilustrações em cores,enviar diapositivos (eslaides), acom-panhados das respectivas legendas.

7. Artigos técnicos devem ser redigidosem até seis laudas de texto corrido (alauda é formada por 30 li-nhas com70 toques por linha, em espaço dois).Cada artigo deverá vir em duas vias,acompanhado de material visualilustrativo, como tabelas, fotografi-as, gráficos ou figuras, num montan-te de até 25% do tamanho do artigo.Todas as folhas devem vir numera-das, inclusive aquelas que contenhamgráficos ou figuras.

8. O prazo para recebimento de arti-gos, para um determinado númeroda revista, expira 120 dias antes dadata de edição.

9. Os artigos técnicos terão autoria, cons-tituindo portanto matéria assinada.Informações sobre os autores, quedevem acompanhar os artigos, são:títulos acadêmicos, instituições detrabalho, número de registro no con-selho da classe profissional (CREA,CRMV, etc.) e endereço. Na impres-são da revista os nomes dos autoresserão colocados logo abaixo do títuloe as demais informações no final dotexto.

10.Todos os artigos serão submetidos àrevisão técnica por, pelo menos, doisrevisores. Com base no parecer dosrevisores, o artigo será ou não aceitopara publicação, pelo Comitê de Pu-blicações.

11.Dúvidas porventura existentes po-derão ser esclarecidas junto àEPAGRI, que também poderá forne-cer apoio para o preparo de desenhose fotos, quando necessário, bem comona redação.

12.Situações imprevistas serão resolvi-das pela equipe de editoração da re-vista ou pelo Comitê de Publica-ções.

Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense

AdministraçãoAdministraçãoAdministraçãoAdministraçãoAdministraçãoruralruralruralruralrural

Sou extensionista daEMATER, PARÁ, no municípiode Gurupá, localizado no BaixoAmazonas do Estado do Pará, egostaria de saber como conse-guir o Manual de Referência deAd-ministração Rural editadopela EPAGRI, SC.

Grato se for atendido.

Ary Djalma Rocha CaldasGurupá, PA

Queijos eQueijos eQueijos eQueijos eQueijos eembutidosembutidosembutidosembutidosembutidos

Sou técnico emagropecuária, e visando a ampli-ar meus conhecimentos a res-peito da “Fabricação de Queijose Embutidos”, dirijo-me a V.Sas.

a fim de pedir-lhes uma especialatenção nesse sentido.

Dou assistência técnica aos“Micro, Pequenos e Médios Agri-cultores” da região, onde venhodesenvolvendo pequenos proje-tos de “Fabricação de Queijos eFabricação de Embutidos” juntoao pessoal.

Por isso solicito a V.Sas. agentileza de enviar-me, caso sejapossível, maiores informaçõesou outras matérias a respeito dotema focalizado.

Esperando contar com oapoio e a atenção de V.Sas., subs-crevo--me.

Fábio Marcelino DuarteTécnico em agropecuáriaTeixeira de Freitas, BA

MaçãMaçãMaçãMaçãMaçãSou produtor rural, traba-

lho na ramo da fruticultura, ten-do começado neste ramo háquase 20 anos neste município.

Tra-balho na produção de maçãse pêssegos principalmente. Paraa maçã, o clima de Soledade nãoé muito bom, porém tenho avantagem de entrar com afruta no mercado bastante ce-do, compensando economica-mente.

Porém, as obras que tenhosobre a cultura da maçã já estãoum tanto superadas, acredito.Fui informado de um modernomanual sobre a cultura da maçã,e quero adquiri-lo, por isso resol-vi entrar em contato com a enti-dade que o lançou.

Caso estejam ainda publi-cando esta obra, peço que mereservem um exemplar, e en-trem em contato através do en-dereço que consta no envelope.Informem-me também, se pos-sível, o preço desta obra e deoutras desta instituição.

Contando com a vossa cola-boração, antecipo agradecimen-tos.

Inácio NitscheSoledade, RS

DifusorDifusorDifusorDifusorDifusorVimos, pelo presente, solici-

tar de Vossa Senhoria o envio darelação de publicações desta Em-presa para que possamos identi-ficar aquelas relacionadas comnossa área de atuação (Difusãode Tecnologias).

Nesta oportunidade solicita-mos o envio da Publicação “AEficácia das Publicações Técnico-Científicas na Agricultura” sérieDocumentos n o 121.

Aproveitamos, ainda, paramanifestar nosso interesse emtrocarmos informações sobre ex-periências na Área de Difusãoobjetivando um aprimoramentodas nossas atividades nesta área.

Sendo só para o momento,colocamo-nos a vossa inteira dis-posição.

Joesi de Souza CastroEMCAPA/EEMFVenda Nova, ES

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4 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

MicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobacias

TTTTTeoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricoseoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricoseoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricoseoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricoseoria dos sistemas em microbacias: subsídios teóricosÁlvaro Afonso Simon e César Augusto Pompêo

Enfoque sistêmico emmicrobacias

A aplicação da teoria dos sistemasno estudo das microbaciashidrográficas tem facilitado sobrema-neira a compreensão dos processosdinâmicos inter e intra-espacial des-tas áreas. O mesmo pode-se dizerquando da análise das paisagens.

O estudo da microbacia, de forma aobservar a interatividade de suas par-tes, ora como totalidade em si, oracomo parte do todo, permite umavisualização mais abrangente do obje-to de estudo ao pesquisador. Esseentendimento assegura uma análisemais profunda destes processos que,conceitualmente, levam em conside-ração a elasticidade do tempo, as di-mensões e as relações entre as par-tes.

Tanto para o pesquisador quantopara o extensionista, o entendimentoda natureza e seus processos, atravésdos sistemas que a compõem, permi-tirá que saiam do isolamentoconstruído quer pela super especiali-dade, quer pela falta de leitura darealidade a que estão sujeitos.

A microbacia, entendida como umsistema aberto, é influenciada e/ouinfluencia outros sistemas. Portantoqualquer decisão tomada por uma co-munidade em uma determinadamicrobacia poderá influenciar em umsem número de outras microbacias,sub-bacias ou bacias hidrográficas. Daía necessidade da observação das rela-ções existentes entre as diversas regi-ões.

Decorre daí a intenção deste traba-lho em provocar o debate sobre anecessidade da observação dos pro-cessos e as inter-relações que ocor-rem na microbacia, com os quais fa-talmente o extensionista vai se envol-ver enquanto parte do sistema.

Os processos que ocorrem hoje nomeio rural requerem respostas quenormalmente a extensão e a pesquisa

tradicionais não conseguem fornecer.Este hiato entre as instituições e asociedade vem forçando nos últimostempos uma mudança de instrumen-to e de metodologia, sugerindo umnovo modelo de extensão e de pesqui-sa.

Não é intenção deste trabalho es-gotar o assunto, simplesmente de-monstrar que a cada variável traba-lhada dentro de um sistema, seja eleuma microbacia, provocará umareordenação interna e externa a estesistema. Por conseguinte, toda deci-são tomada em uma comunidade, sobo enfoque sistêmico, deve levar emconta a influência no ambiente inter-no e externo a essa comunidade.

Dirigida muito mais aos técnicosda extensão, esta afirmação contra-põe a idéia de que os trabalhos emmicrobacias são “específicos de con-servação do solo”. Com mais ênfase,busca demonstrar que o extensionistanão consegue trabalhar com uma va-riável de forma isolada em qualquerque seja o sistema considerado.

A erosão do solo, por exemplo, nãose constitui num problema isolado dosdemais processos que ocorrem namicrobacia. Tampouco será com téc-nicas específicas que se solucionará oproblema. Se o extensionista se aper-ceber disto poderá sugerir alternati-vas mais consistentes para as toma-das de decisões das comunidades ru-rais.

Análise dos subsistemashistóricos

No estudo sobre a evolução dosTrabalhos de Extensão Rural emMicro-bacias Hidrográficas (TEMH)se faz necessário analisar os dadossocio-ambientais das microbacias, ouseja, os dados do homem e da nature-za. Procura-se a partir daí medir einterpretar tais dados sem perder aperspectiva histórica.

Neste momento o extensionista

deve recorrer sucessivamente ou si-multaneamente a outras ciências parachegar ao conhecimento analítico dosdados incluídos nas combinações queconstituem o objeto de seus estudosfragmentados ou globais. “Se não forsimultaneamente um historiador, fi-cará privado totalmente deretrospecção no domínio dos fatoshumanos. Mesmo que não haja subs-tituição propriamente dita de função -e é de bom aviso que essa substituiçãonão ocorra - existe, não obstante, anecessidade de uma iniciação ao voca-bulário e aos métodos das ciências deanálise, a fim de garantir o diálogo, acolaboração, a boa interpretação e averificação dos resultados fornecidospelos especialistas”(1).

Percebe-se, na análise dos Traba-lhos de Extensão Rural emMicrobacias (TEMH), que a realidadedestes sistemas é formada por diver-sos processos evolutivos, cada um comsua especialidade. Cada elemento ourelação do sistema está vinculado comnumerosas variáveis possíveis demensuração através de seus atribu-tos ou qualidades.

As variáveis podem se referir anúmero, tamanho, forma, arranjoespe-cial, fluxos, intensidades, taxasde transformação e outros atributos.A mensuração deve incidir sobre asqualidades atribuídas aos elementosdo sistema, não sobre os elementosou sistemas (2). Por exemplo, mede-se a largura, profundidade e o compri-mento de um rio, dados estes querepresentam atributos ou qualidades.

Além da análise das variáveis, oextensionista deve levar em conside-ração o processo histórico evolutivodos trabalhos em microbacias e não sóinterpretar os dados estáticos possí-veis de serem representados mate-maticamente, mas o momento. Destaforma, estará analisando as relações,não apenas descrevendo os fatos.

Neste sentido os trabalhos emmicrobacias gradativamente transfor-

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MicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobacias

Figura 1 - Esquema das Relações em umaMicrobacia

mam-se num processo, no qual asmodificações espaciais ali ocorridassão provocadas pelas variáveis que aolongo do tempo se acham em constan-te evolução.

Cabe ao extensionista, portanto,ao trabalhar com essas variáveis emseus diversos momentos, consideraras instâncias econômicas, institu-cionais, culturais, enfim, todas as re-lações socioambientais e os elemen-tos formadores deste ambiente.

A praticidade da visãosistêmica

As considerações anteriores refor-çam o enquadramento da pesquisa eda extensão rural sob o enfoquesistêmico. Alguns autores, no entan-to, apontam dificuldades na utilizaçãoda teoria dos sistemas, principalmen-te em relação ao tempo. Entre estesautores, um aponta a desconsideraçãodo processo histórico como um dospontos falhos da análise dos sistemas,quando afirma que a noção deecossistema não incorpora à análiseespacial os subsistemas históricos (3).

A perspectiva histórica serve comosuporte à compreensão do presenteem vias de se fazer. Neste caso, oextensionista, ao examinar o contex-to, deve tomar o cuidado para nãorealizar uma prospecção arqueológi-ca que seja em si mesma uma finalida-de, senão um meio.

A perfeita compreensão do presen-te permite surpreender o processo e,com isso, detectar as tendências quepoderão vislumbrar um futuro possí-vel, seus conflitos forças dominantes,e a compreensão dos novos aconteci-mentos. Considerando-se que as vari-áveis mudam de valor à medida que otempo passa, o extensionista, por suavez, deve tornar-se mais exigente emrelação à periodização histórica sobpena de errar em seu esforçointerpretativo.

De um modo geral, a análisesistêmica proporciona um certo graude dificuldade na execução dos traba-lhos de extensão rural emmicrobacias, uma vez que cada siste-ma funciona em relação a um sistemamaior como um subsistema ou ele-mento deste, enquanto ele próprio é,em si mesmo, um sistema. Constata-se, pois, que somente através do con-

texto é que se pode analisar as partesdo todo sem perder sua concretude.

A abordagem sistêmica permite,ainda, reduzir o conjunto maior a umtamanho mais razoável, possibilitan-do sua análise sem desconsiderar otodo, facilitando sobremaneira os es-tudos nas microbacias (4).

Pode-se dizer que, em uma micro-bacia, a análise sistêmica permite aconstrução de totalidades integradasa partir de um recorte seletivo devariáveis e fenômenos interdependen-tes (5). O espaço deve ser consideradocomo uma totalidade, a exemplo daprópria sociedade que lhe dá vida.Pode--se buscar mais alguns subsídiosque irão reforçar essa compreensão, aqual contrapondo-se aos conceitosdeter-ministas, afirma que, à medidaque penetramos na matéria, a nature-za não nos mostra quaisquer blocosbásicos de construção isolados. Aocontrário, surge perante nós comouma teia de relações entre as diversaspartes do todo (6).

Classificação dos sistemas

Os sistemas são classificados emabertos ou fechados e apresentamobrigatoriamente entrada (input), que

se constitui no que o sistema recebe,e saída (output), por onde são encami-nhadas as transformações que se pro-cessam no seu interior conforme aFigura 1 (7). No caso de uma microbaciahidrográfica, trata-se de um sistemaaberto, que recebe estímulos do exte-rior sob forma de energia e matéria,da mesma forma que poderá expor-tar.

As pequenas bacias hidrográficas(microbacias) situadas como estão, nacondição de unidades de planejamen-to e execução dos trabalhos de exten-são e pesquisa, constituem-se em sis-temas e como tal fazem parte de siste-mas maiores; estes por outro lado sãoconstituídos por sistemas menoresdenominados de subsistemas. Ossubsistemas, por sua vez, são consti-tuídos por unidades ou elementos.Desta forma a microbacia se estabele-ce como um sistema particular, quepoderá relacionar-se com microssis-temas do tamanho de um átomo ou damagnitude do sistema solar.

O sistema delimitado pela micro-bacia é composto de vários elementosou unidades que se relacionam entresi, constituindo não só um meio físico,como também as relações sociais. Deacordo com as colocações de

Bertalanfy, os fatores essen-ciais dos problemas públicosdevem sempre ser conside-rados como componentesinter-dependentes de um sis-tema total (4).

Desta forma os proble-mas da sociedade, como asaúde, educação, poluição,habitação, delinqüência juve-nil, etc., também são trata-dos sob enfoque sistêmico. Agrande dificuldade, no entan-to, está na “impossibilidadede limitar a uma determina-da área a totalidade dos fenô-menos econômicos, sociais epolíticos, cuja escala de açãoultrapassa a do lugar de ma-nifestação aparente ou físi-ca” (3).

De qualquer forma, a de-finição de um sistema parti-cular é arbitrária, uma vezque o universo parece serfeito de vários conjuntos desistemas, cada um sendo con-tido dentro do outro maior

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6 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

MicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobacias

conforme a Figura 2 (7). É possívelsempre expandir um sistema particu-lar para um objeto de perspectivamais ampla; também é possível talharo sistema para uma versão menor.

Abordagem sistêmica nostrabalhos em microbacias

Os conceitos de sistemas são mui-tos, e todos trazem, de algum modo,contribuições ao seu entendimento.Adotamos neste estudo o conceito queconsidera como um sistema o “conjun-to de unidades com relações entre si.A palavra “conjunto” implica que asunidades possuem propriedades co-muns. O estado de cada unidade é con-trolado, condicionado ou dependentedo estado das outras unidades” (2).

A definição de sistema pode seraplicada à estrutura, tida como “umelemento do espaço, individualizado elocalizado, mas cuja evolução é regidapor sistemas que o organizam tantodo interior como do exterior” (5). Esteconceito certamente tem relação comos sistemas e reafirma a definição deelemento ou unidade utilizada porChristofoletti.

A unidade funcional da ecologia é o

ecossistema, uma vez que inclui tantoos organismos quanto o ambienteabiótico; “cada um destes fatores in-fluencia as propriedades um do outroe cada um é necessário para a manu-tenção da vida, como a conhecemos,na terra” (8). O autor afirma, ainda,que este nível de organização deve serconsiderado para a implementaçãodas soluções holísticas dos problemasatuais.

A pesquisa agrícola, cada vez mais,vem utilizando a abordagem sistêmicapara melhor compreender a comple-xidade das relações entre a sociedadee a natureza. Vários estudos foramelaborados no sentido de entender ossistemas que fazem parte do meiorural. A esse respeito afirma-se que odesenvolvimento rural se colocaconceitualmente mais amplo do queas conceituações agrárias, agrícola oueconômica. Em seu entendimento, odesenvolvimento rural abarca ademografia, forma de ocupação, con-flitos da condição de vida das popula-ções rurais, etc. (9).

Nesta linha de raciocínio o conhe-cimento do espaço se dá através dosprocessos e não somente pelos estu-dos das relações, forçando a estudaros TEMH em seu contexto tratandoda complexidade global de uma deter-minada área, apreendendo o tempoem movimento.

O estudo de uma microbaciahidrográfica (sistema) passa necessa-riamente pela verificação dos diver-sos subsistemas que a compõem. Es-tes, por vezes, não se limitam a áreageográfica definida pelos divisores deágua, principalmente quando se refe-rem às relações políticas e sociais,como leis, comércio, programas go-vernamentais, influências culturais,etc.

A análise dos TEMH, sob o enfoquesistêmico, permite entender que oextensionista trabalha, na realidade,com vários sistemas que influenciame são influenciados periodicamente.Por exemplo: um técnico que tentaresolver o problema de erosão de umapropriedade localizada em uma deter-minada microbacia, obrigatoriamen-te, terá de observar as influênciasexternas e internas do evento. Nestecaso pode-se tomar como influênciasinternas a suscetibilidade do solo à

erosão, drenagem, declividade, etc., ecomo condições externas a influênciadas propriedades vizinhas, ou fatoresclimáticos e a política agrícola, quefogem, por vezes, à delimitação dasdivisas naturais da microbacia. O con-trole da erosão, porém, tem umcondicionante que é o fator econômi-co que por si só engendra outro sub-sistema, que pode estar condicionadoàs políticas governamentais, cujasdecisões são tomadas longe do local. Aseqüência deste raciocínio leva a umemaranhado de relações, que em últi-ma análise revelará as influências dossistemas entre si.

Um exemplo nas relações sociaisseria a tentativa de melhoria da rendade uma família que vive em umadeterminada microbacia. Neste caso,o extensionista deve apreender asdiversas relações de que o subsistemade produção se vale num modelo capi-talista.

O estudo dos TEMH depara-se comum desafio quando pretende fazer aavaliação dos trabalhos realizados nasmicrobacias, principalmente nasações sociais. Esta questão acaba seresolvendo, no entanto, através daanálise do contexto que compõe osistema físico e socioeconômico, “umavez que a análise dos sistemas trata aorganização como um sistema de va-riáveis mutuamente dependentes” (4).A teoria dos sistemas é capaz de defi-nir certos conceitos que são estra-nhos à física convencional, tais comoorganização, totalidade, teleologia ediferenciação e, em certos casos, podesubmetê-los à análise quantitativa.

A teoria dos sistemas torna possí-vel, ainda, estudar algumas caracte-rísticas que ocorrem nas organiza-ções, como a competição, diferencia-ção, mobilidade, hierarquia, controle,domi-nância e crescimento. Todas es-sas características são examinadas,todavia, levando-se em consideraçãoa variável temporal, a fim de captar ocontexto em que se realizam os TEMH,para não recair no erro e analisar asrelações de influência estática comsuas limitações geográficas.

A extensão rural emmicrobacias

O sucesso dos TEMH depende de

Figura 2 - Inter-relação entreSistemas e Subsistemas

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 7

MicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobaciasMicrobacias

exercitando efetivamente os concei-tos de sustentabilidade, gerênciaambiental, qualidade total e planeja-mento estratégico.

Neste sentido, os trabalhos de ex-tensão rural realizados nasmicrobacias com enfoque sistêmicopodem se constituir na extensão dosanos 90, a definitiva possibilidade deas pequenas comunidades rurais atin-girem um alto grau de satisfação emrelação às suas expectativas. De ummodo geral, estas expectativas refe-rem-se aos macro indicadores sociais,políticos, econômicos e ecológicos.

Literatura citada

1. GEORGE, P. Geografia rural. São Paulo: Difel, 1978.122p.

2. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geo-grafia. São Paulo: Hucitec, 1979. 140p.

3. SANTOS, M. Espaço e sociedade: ensaios. Petrópolis:Vozes, 1979. 156p.

4. BERTALANFY, L. Von. Teoria geral dos sistemas.2.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1975. 351p.

5. DOLFUS, O. O espaço geográfico. São Paulo: Difel,1982. 132p.

6. CAPRA, F. O tao da física: um paralelo entre a físicamoderna e o misticismo oriental. São Paulo: Cultrix,1983, 260p.

7. SIMON, A.A. Análise histórico-crítica dos trabalhosem microbacias hidrográficas em Santa Catarina- 1984/1990. Florianópolis: UFSC, 1993. 306p. TeseMestrado.

8. ODUM, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara,1988. 434p.

9. DINIZ, J.A.F. Geografia da agricultura. São Paulo:Difel, 1984. 278p.

Álvaro Afonso Simon, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no

39.471-P, CREA-RS, EPAGRI, C.P. 502, Fone (048)234-1344, Telex 482 242, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Florianópolis, SC e César Augusto Pompêo,Ph.D., Professor da Universidade Federal de SantaCatarina/Programa de Pós-graduação - EngenhariaAmbiental. Campus Universitário, C.P. 476, Fone (048)231-9597, Fax (048) 231-9770, 88040-900 - Florianópo-lis, SC.

um consistente referencial teórico querevela a realidade econômica, social,política e natural a que estão sujeitos.A visão holística, obtida de tal com-preensão, fornece as possibilidadesconcretas da construção de uma soci-edade justa em sua forma social esustentável em sua dimensão ecológi-ca, colocando a extensão rural em umnova periodização histórica.

Procurou-se, no decorrer do texto,sublinhar aqueles pontos que poderãoauxiliar os extensionistas a incorpo-rar o novo paradigma que orienta odesenvolvimento sustentado e a per-ceber que a visão holística permitever o mundo como um todo e não empartes, possibilitando a extensão ru-ral tradicional ascomplementariedades necessáriaspara a sua transformação emecoextensão.

A percepção sistêmica permite, ain-da, estabelecer a hierarquia de valo-res das variáveis ou de estruturas,definindo-lhes as significações. Nestecaso específico pode-se tomar comoexemplo os escritórios locais, regio-nais e central de extensão rural, emSanta Catarina, e relacioná-los comas dimensões naturais de umamicrobacia, sub-bacia e baciahidrográfica, respectivamente, ajus-tando-se em cada nível de hierarquiaas significações de acordo com a sua

missão.O exemplo tomado se deve ao fato

da existência de pelo menos umaUnidade Administrativa em cada re-gião hidrográfica do ProjetoMicrobacias/BIRD. Geralmente estasunidades estão localizadas em cidadesde confluência regional, definindo emúltima análise a relação que se podeestabelecer entre os ecossistemas for-mados pelas bacias hidrográficas, oscentros urbanos e as divisões admi-nistrativas da EPAGRI (Figura 3). Aobservação recoloca em discussão asestruturas hierárquicas utilizadas pelaex-ACARESC, com a possibilidade denovas significações (missão).

Esta estrutura deve ser parte ativado processo produtivo baseado no meiorural, orientada, entretanto, peloenfoque sistêmico que considera osdiversos componentes (variáveis),

Figura 3 - Bacias e sub-bacias hidrográficas

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8 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Arroz com peixe, receita para dar lucro certoArroz com peixe, receita para dar lucro certoArroz com peixe, receita para dar lucro certoArroz com peixe, receita para dar lucro certoArroz com peixe, receita para dar lucro certo

m Santa Catarina, no Sul do Es-tado, um grupo de produtores ru-

rais está chegando perto do filão de ourohá muito procurado por todos. E o mapada mina começou a ser descoberto háalguns anos com o Programa Provár-

zeas, que propiciou a centenas deorizicultores catarinenses o aprovei-tamento de milhares de hectares devárzeas, transformando-as em produ-tivas lavouras de arroz irrigado. Hojevários municípios sul-catarinenses já

exibem um desenvolvimento acimada média, graças às novas técnicasintroduzidas, principalmente na cul-tura de arroz irrigado que trouxe ri-queza a centenas de famílias rurais.Como se isto não bastasse, agora o

Produtividade do arroz atinge 110 sacos/ha e, de quebra, mais 3.000kg de peixe

Introduzindo peixes nas lavouras de arroz irrigado,produtores rurais no Sul de Santa Catarina estão obtendo

um lucro extra. O trabalho dos peixes poupa adubo eagrotóxicos e diminui a mão-de-obra e mecanização.

E, de quebra, não há poluição ambiental.

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari e Fotos de Homero M. Franco

E

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 9

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Cibien pesca os lucros

Nos meses de novembroa fevereiro a propriedade deSérgio Cibien, em Turvo, SC,transforma-se. Principalmen-te nos fins de semana, pesso-as de várias localidades vêmpescar e comprar os peixescriados nos tabuleiros de ar-roz e que são previamentetransportados para um açu-de, onde já encontram outrasespécies, como pacu, carpaprateada, etc.. Cada quilo depeixe sai por R$ 1,00 e SérgioCibien consegue arrecadar,em média, R$ 600,00 por se-mana, nos quatro meses refe-ridos. E para tornar mais atra-tiva a pesca aos clientes, oempresário rural instalou umpequeno bar e churrasqueirapara aqueles que, além da pes-caria, desejarem tomar bebi-das e assar um filé de tilápia,carpa ou curimatã.

Aliando diversão ao ne-gócio, a família Cibien faturaalto com a rizipiscicultura. Orendimento das suas lavou-

ras de arroz irrigado atinge 110 sacos/

orizicultor conta com mais um novoaliado, e que dá mais lucro ainda. Nomeio dos arrozais irrigados estão sen-do introduzidos alevinos de peixesque, alimentando-se do plâncton dofundo das quadras de arroz, desenvol-vem-se e propiciam uma renda extraao agricultor.

Zero de poluição

Acompanhada do técnico agrícolada EPAGRI Sérgio Silveira, do Escri-tório Local de Turvo, SC, a reporta-gem da revista Agropecuária Catari-nense visitou no município uma pro-priedade modelo onde a dupla arroz epeixe está fazendo muito sucesso. Oproprietário, Sr. Sérgio Cibien, admi-nistra o estabelecimento de 20ha,uma verdadei-ra propriedade agríco-la auto-susten-tável.

Sérgio Silveira, que orienta tecni-camente a propriedade de Cibien, ex-plica que a utilização do peixe naslavouras de arroz irrigado traz gran-des benefí-cios aos produtores comdiminuição da mão-de-obra, menoruso de insumos e praticamente nívelzero de poluição ambiental. Mas paracriar o peixe no meio do arrozal, ouseja, praticar a rizipiscicultura, algu-mas modificações necessitam ser fei-tas nas tradicionais lavouras de arroz.A começar pelas taipas, que devemser mais reforçadas e altas para reali-zar o manejo da água, aumentando oudiminuindo o nível de acordo com anecessidade. Outra técnica conside-rada importante e fundamental pelotécnico da EPAGRI é o refúgio dospeixes, um canal escavado no sentidolongitudinal da lavoura, ao lado dataipa, e que funciona como abrigopara os peixes quando diminui o níveld’água dos tabuleiros, por ocasião dacolheita ou plantio de nova safra. Ocanal também serve para refúgio dospeixes quando ocorre elevação ou que-da brusca de temperatura. E, ainda,para complementação alimentar dosmesmos.

Os peixes mais utilizados pelo pro-

dutor Sérgio Cibien são carpa húnga-ra, tilápia e curimatã, que são rústicose adaptados às condições darizipiscicultura. Os peixes têm umafunção importante, pois se alimentamde plantas aquáticas, entre elas aservas daninhas do arroz e insetosnocivos, como a bicheira da raiz, umapraga que costuma atacar a cultura.Com isto, o produtor não gasta dinhei-ro com herbicida e inseticida e, dequebra, o peixe fertiliza a lavouragratuitamente. Além disso, o movi-mento dos peixes no fundo do tabulei-ro, procurando comida e mexendo aterra, substitui perfeitamente as má-quinas que fazem o preparo do solopara a semeadura do arroz.

Além do alimento encontrado nostabuleiros, os peixes recebem umaração preparada na propriedade à basede soja, milho e farelo de arroz, produ-zida no próprio estabelecimento.

Pegue e pague

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10 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

ha e há, ainda, a produção de 3.000kgde peixe. Enquanto as lavouras tradi-cionais têm um custo de produçãoaproximado por hectare de 60 sacos,os Cibien contabilizam apenas 24 sa-cos. A grande vantagem é que, nestapropriedade modelo, a mecanização émínima, só para preparar e arrumaras taipas e cavar refúgios. Não seusam adubo, nem agrotóxicos. Os cus-tos são basicamente ração e alevinoscomprados anualmente para reposi-ção nos tabuleiros. “Se eu colher 100sacos na minha lavoura, é o mesmoque os outros colherem 150”, vanglo-ria-se Sérgio Cibien, que já possui 4hade rizipiscicultura e continua ampli-ando a área.

E as novidades não param por aí. Opróximo passo dos Cibien é adquiriruma transplantadeira de mudas. Comeste equipamento (importado, custacerca de 13 mil dólares), em vez desemear o arroz a lanço, como é feitoatualmente, vai ser possível plantar ocereal já em pequenas mudas, maiseficazmente. Isto vai tornar mais uni-forme a distribuição do arroz nos ta-buleiros, aprimorando a densidade efacilitando o trabalho dos peixes,que poderão circular mais livremen-te nas quadras do arroz e realizarum melhor trabalho para o produtorrural.

A propriedade modelo da famíliaCibien vem recebendo visitas de vári-os produtores do município e regiãointeressados em desenvolver a ativi-dade. O efeito multiplicador já se faznotar no município de Turvo, comdiversos agricultores buscando infor-mações e fazendo as transformaçõesnos tabuleiros do arroz.

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 11

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

AAAAAvaliação de leucena nas regiões Oeste e Meiovaliação de leucena nas regiões Oeste e Meiovaliação de leucena nas regiões Oeste e Meiovaliação de leucena nas regiões Oeste e Meiovaliação de leucena nas regiões Oeste e MeioOeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste CatarinenseOeste Catarinense

Rubson Rocha, Mário Miranda e Airton Rodrigues Salerno

busca de alternativas para a ali-mentação de ruminantes nas re-

giões Oeste e Meio Oeste Catarinensetorna-se importante quando se consi-deram a atual situação e as perspecti-vas da pecuária leiteira nestas regiões.

A partir da metade dos anos 80 oOeste Catarinense se firmou como im-portante fornecedor de leite, e atual-mente se consolida como a mais impor-tante das cinco bacias leiteiras de San-ta Catarina, respondendo por mais de50% da produção estadual. O aumentoda infra-estrutura de beneficiamentode leite na região criou condições parao desenvolvimento da atividade leitei-ra com fins especificamente comerciaise com melhores padrões tecnológicos.Em 1990, dos 270 milhões de litrosproduzidos na região, mais de 100 mi-lhões, ou mais de um terço da produçãoregional, foram enviados às indústriasde beneficiamento (1).

A importância da região frente aoEstado é mais destacada quando seconsideram o volume de leite recebidopelas indústrias de beneficiamento e osprodutores que têm na produção deleite uma importante atividade econô-mica. Dos mais de 200 milhões de litrosrecebidos e de 35.000 produtores exis-tentes em todo o Estado, mais da meta-de (da produção e dos produtores) per-tence ao Oeste. Em pesquisa de camporealizada em 1990, foi constatada aexistência de 466 linhas de coleta naregião, envolvendo mais de 20.000 pro-dutores com um plantel de 110.000 va-cas e produção entregue às indústriasde 114 milhões de litros de leite (1).

Dentro destas alternativas para aalimentação do gado leiteiro, encontra--se a leguminosa Leucaena leucocephala(Lam.) de Wit., uma espécie nativa doMéxico, de hábito arbóreo ou arbustivo,perene de verão, que cresce entre aslatitudes 30o Norte e Sul, tendo baixatolerância a geadas (que causamdesfolhamento da planta), mas que re-

siste bem às secas, devido ao seusistema radicular profundo (2).

Em Santa Catarina, no Baixo Valedo Itajaí, a leucena proporcionou pro-duções acima de 12t de matéria seca/ha/ano, ficando entre as leguminosasperenes de verão mais produtivas paraaquela região (3).

O trabalho desenvolvido visou ob-servar o comportamento desta legu-minosa frente às condições edafocli-máticas locais, bem como avaliar oseu potencial produtivo.

Condições locais

As introduções de leucena foraminstaladas em dois locais: no Centrode Pesquisa para Pequenas Proprie-dades - CPPP da EPAGRI, em Chapecóe na Estação Experimental de Cam-pos Novos - EECN da EPAGRI, emCampos Novos.

Testaram-se quinze introduções(Tabela 1) que foram plantadas no dia9 de janeiro de 1987 - CPPP e 31 dejaneiro de 1987 - EECN, em linhas de9m, com um espaçamento entre co-vas de 50cm e 2m entrelinhas (popula-

ção de 10 mil plantas/ha).Eram efetuados cortes nas duas

extremidades da linha de 9m (a partecentral de 3m era mantida para obser-vações fenológicas e produção de se-mentes), a 15cm do solo, quando amaioria das cultivares introduzidasatingia a altura de 1,50m.

Para a determinação de teor dematéria seca (MS), levou-se um ramointeiro de cada introdução, amostradoao acaso, à estufa por 72 horas a umatemperatura de 65oC.

Resultados

No CPPP foram realizados seiscortes nas seguintes datas: 04/02/88,07/04/88, 06/01/89, 04/04/89, 09/01/90e 21/03/90. Na EECN também foramexecutados seis cortes: 12/01/90, 18/04/90, 23/01/91, 16/05/91, 28/01/92 e22/04/92.

Como pode ser observado, a leucenapropiciou dois cortes anuais, quandoadotado o regime de corte a 1,5m dealtura da planta. As geadas fazem comque ocorra o desfolhamento, perma-necendo o material sem crescimento

Tabela 1 - Introduções de leucena testadas

Espécie/cultivar Origem

Leucaena leucocephala ‘São José’ São José, SCLeucaena leucocephala ‘Peru’ Itajaí, SCLeucaena leucocephala x diversifolia ‘K743’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K29’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K636’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K500’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K8’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K217’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘K67’ Hawaii, EUALeucaena leucocephala ‘Cunningham’ CNPGC(A)

Leucaena pulverulenta CNPGC(A)

Leucaena leucocephala ‘Campo Grande’ CNPGC(A)

Leucaena leucocephala ‘Gigante’ CNPGC(A)

Leucaena leucocephala ‘Colonial’ Janaúba, MGLeucaena leucocephala ‘CPTSA’ Petrolina, PE

(A) Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte, Campo Grande, MS - EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA.

A

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12 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

Tabela 3 - Teor médio (%MS) e produção médio de matéria seca por hectare (t de MS/ha), por corte e anual, dos materiais introduzidos na coleção de leucena da Estação

Experimental de Campos Novos - EECN, da EPAGRI em Campos Novos, SC. Resultadosobtidos em seis cortes (1990 a 1992)

1o corte 2o corte Total(Jan.) (Abr.- Maio) Anual

Espécie/cultivarMS MS/ha MS MS/ha MS MS/ha(%) (t) (%) (t) (%) (t)

Leucaena leucocephala K29 30,7 7,6 29,2 3,6 30,0 11,2Leucaena leucocephala Campo Grande 31,1 5,9 28,3 3,4 29,7 9,3Leucaena pulverulenta 32,7 6,6 27,4 2,6 30,0 9,2Leucaena leucocephala Colonial 31,5 6,0 28,9 2,6 30,2 8,6Leucaena leucocephala x diversifolia K743 30,8 5,8 27,2 2,6 29,0 8,4Leucaena leucocephala São José 32,6 5,4 31,6 2,6 32,1 8,0Leucaena leucocephala K500 33,0 5,1 30,5 2,7 31,7 7,8Leucaena leucocephala K636 31,0 5,0 28,5 2,1 29,7 7,1Leucaena leucocephala Cunningham 32,4 4,8 29,0 2,3 30,7 7,1Leucaena leucocephala cultivar Peru 31,5 4,8 28,5 2,3 30,0 7,1Leucaena leucocephala K8 33,7 4,3 31,1 2,6 32,4 6,9Leucaena leucocephala K217 33,7 4,6 29,3 2,1 31,5 6,7Leucaena leucocephala CPTSA 34,3 3,9 29,4 1,9 31,9 5,8Leucaena leucocephala K67 31,2 3,3 29,9 1,7 30,6 5,0Leucaena leucocephala Gigante - - - - - -

Média - 5,2 - 2,5 - 7,7

Tabela 2 - Teor médio (%MS) e produção média de matéria seca por hectare (t de MS/ha), por corte e anual, dos materiais introduzidos na coleção de leucena do Centro de

Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP, da EPAGRI em Chapecó, SC. Resultadosobtidos em cortes (1988 a 1990)

1o corte 2o corte Total(Jan.-Fev.) (Mar.-Abr.) Anual

Espécie/cultivarMS MS/ha MS MS/ha MS MS/ha(%) (t) (%) (t) (%) (t)

Leucaena leucocephala São José 30,8 8,9 28,4 4,6 29,6 13,5Leucaena leucocephala x diversifolia K743 29,2 8,9 27,3 4,5 28,2 13,4Leucaena leucocephala K29 30,3 8,8 28,4 4,3 29,3 13,1Leucaena leucocephala K636 28,3 8,1 27,1 4,2 27,7 12,3Leucaena leucocephala Cunningham 30,5 7,6 28,0 4,4 29,3 12,0Leucaena leucocephala Colonial 28,8 7,9 27,9 3,9 28,4 11,8Leucaena leucocephala K500 29,1 5,9 30,0 4,9 29,6 10,8Leucaena leucocephala cultivar Peru 29,5 6,0 29,5 4,5 29,5 10,5Leucaena pulverulenta 28,7 6,9 29,0 3,5 28,8 10,4Leucaena leucocephala Campo Grande 28,3 6,6 28,2 3,4 28,2 10,0Leucaena leucocephala K8 31,0 5,9 29,0 3,9 30,0 9,8Leucaena leucocephala CPTSA 31,1 5,9 29,3 3,6 30,2 9,5Leucaena leucocephala K217 29,9 5,6 28,7 3,8 29,3 9,4Leucaena leucocephala K67 30,1 4,5 30,2 3,0 30,2 7,5Leucaena leucocephala Gigante 30,6 4,0 28,8 2,9 29,7 6,9

Média - 6,75 - 3,95 - 10,7

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

durante o inverno. Com o aumento datemperatura, na primavera, ocorre arebrota e há o crescimento da leucenaaté o início de janeiro, quando osmateriais atingiam a altura de cortepreconizada. Nesta ocasião havia novarebrota e após dois a três meses atin-gia-se novamente a altura de corte.Após este, havia nova rebrota e quan-do da ocorrência das primeiras gea-das, no outono e inverno, o materialjá se encontrava com altura superiora 50cm, porém não se efetuava ocorte.

Os resultados em termos de produ-ção de matéria seca por hectare, paracada região, encontram-se nas Tabe-las 2 e 3.

A média de produção de matériaseca para as cultivares introduzidasno CPPP foi de 10,7t de MS/ha/ano,com 63,1% produzidos no primeirocorte e 36,9% no segundo corte (Tabe-la 2), enquanto que na EECN a produ-ção média ficou em 7,7t de MS/ha/ano, distribuídos em 67,6% no primei-ro corte e 32,4% no segundo corte(Tabela 3). A cultivar Gigante desapa-receu já no primeiro ano na região deCampos Novos, demonstrando sua bai-xa resistência às geadas.

Os materiais que se destacaram naregião de Chapecó (Tabela 2), produ-zindo acima de 12t de MS/ha/ano,foram as seguintes cultivares: SãoJosé, K743, K29, K636 e Cunningham.Na região de Campos Novos foram asseguintes: K29, Campo Grande,Leucena pulverulenta, Colonial eK743, produzindo acima de 8t de MS/ha/ano.

Conclusões

Apesar da baixa tolerância às gea-das, característica que não afeta apersistência da maioria das introdu-ções de leucena, a espécie mostroupoten-cial produtivo para as regiões,com um rendimento médio de 10,7tanuais de matéria seca/ha, na regiãode Chapecó, e ao redor de 7,7t anuaisde matéria seca/ha, na região de Cam-pos Novos.

Outros estudos serão necessáriospara comparar a produtividade en-contrada frente a outras leguminosas(alfafa, outras espécies perenes deverão), diferentes manejos de corte(outras alturas de corte) e mesmoavaliações sob pastejo direto.

Literatura citada

1. INSTITUTO CEPA-SC. Diagnóstico geral

do setor agrícola: evolução, situaçãoatual e perspectivas; Oeste Catarinen-se. Florianópolis: 1990. 227p.

2. SKERMAN, P.J. Tropical forage legumes.Rome: FAO, 1977. 609p.

3. SALERNO, A.R. Leguminosas forrageirasno Litoral de SC. Agropecuária Catari-nense , Florianópolis, v.3, n.3, p.19-21,1990.

Rubson Rocha, Méd. vet., M.Sc., CRMV-SC no 0886,EPAGRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Proprie-dades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497)22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC; Mário Miranda,Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 1.571-D, CREA-SC, EPA-GRI/Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC e Airton RodriguesSalerno, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no 10.002-D, CREA-SC, EPAGRI/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277,Fone (0473) 46-5244, Fax (0473) 46-5255, 88301-970 -Itajaí, SC.

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REGISTRO

Milho-verde:Milho-verde:Milho-verde:Milho-verde:Milho-verde:onze mesesonze mesesonze mesesonze mesesonze mesesde safrade safrade safrade safrade safra

A proximidade dos centros consumidorese a existência de clima favorável para umprolongado período de cultivo transforma-ram o município de Santo Amaro da Impera-triz em grande produtor de milho-verde. Maisde 400 famílias de pequenos agricultores têmnessa cultura a sua principal fonte de renda.

O município, desde 1845, quando a impe-ratriz Tereza Cristina elegeu suas águas ter-mais como as melhores do mundo, associou oseu destino ao turismo. E o milho-verde foiuma mo-da lançada por Santa Catarina aolongo dos mais de 200km de praias: servi-lo aoturista, co-zido na hora, como lanche, há maisde dez anos.

Em 500ha de cultura, repetindo plantiose fazendo várias safras na mesma área dentrodo ano, os santamarenses começam a plantarem maio, através da prática de canteirossemanais dimensionados para a demanda,também semanal, e fazem os últimos plantiosem novembro. As safras do inverno, de ciclomais longo devido o menor número de horas/luz, servem para abastecer os consumidoresresidentes ao longo do Litoral, mediante ofornecimento diretamente às redes de super-mercados e feiras. A partir de dezembro en-tram os turistas e os canteiros, dimensionadospara maior, passam a fornecer milho-verdepara o cozimento diretamente na praia.

Como o ciclo do milho colhido enquantoverde é mais curto que o do milho destinadoa grãos, o cultivo pode ser repetido na mesmaárea a cada 80 dias. As colheitas vão de junhoa abril. A cada semana, os compradores che-gam nas propriedades, carregam as quanti-dades combinadas, pagam e transportam oproduto até os pontos de varejo.

Bom negócio

O sistema de comercialização é pormilheiro de espigas. No verão de 1995 erampagos R$ 200,00 por milheiro. Com essa mes-ma quantidade de milho seco obtém-se 3sacos de 60kg, que aos preços de mercadovaliam menos de R$ 15,00.

Os produtores estão satisfeitos com aremuneração, apesar de reconhecerem aexistência de uma intermediação ganhandobem mais que os produtores: a espiga chegaao consumidor de praia por R$ 1,00. Os donosde barraquinhas pagam aos intermediáriosem torno de R$ 0,60 por espiga. Os produtoresrecebem apenas R$ 0,20 por espiga.

Nos supermercados é um pouco diferen-te: as espigas chegam até por menos que R$0,20 e os consumidores as adquirem por apro-ximadamente R$ 1,50 o maço de cinco espi-gas.

O presidente do Sindicato dos Trabalha-dores Rurais do município, Manoel LuizRachadel, também produtor de milho-verde,

te ao preparo de silagem para o gado leiteiroe minoritariamente para o consumo das famí-lias produtoras.

A cultura

Enquanto que em Imbuia, os produtoresde 1.800ha de cebola cultivam o milho emsucessão, para colhê-lo verde, destinado àsilagem e como cultivo secundário, em SantoAmaro da Imperatriz essa cultura ocupa oprimeiro lugar em área e renda. Em Imbuia,o cultivo vai de novembro/dezembro a março/abril, não coincidindo a colheita com o períodoturístico. E a distância em relação aos centrosconsumidores também é maior, encarecendoo frete. Esse não é o caso de Santo Amaro daImperatriz. O cultivo atende plenamente asépocas de maior consumo e os centros consu-midores estão próximos e servidos de bonsacessos.

O engenheiro agrônomo José OrlandoBorghesan, da EPAGRI local, recomenda aosprodutores a variedade de milho Pioneer3232, melhor adaptada às exigências do mer-cado: grãos brancos, macios, de pouco cabeloe de granulação uniforme. As espigas sãovistosas, uniformes e a mercadoria é bemaceita. A produtividade, segundo Borghesan,é de 30 mil espigas/ha ou 5t. Já em Imbuia,segundo o engenheiro agrônomo MaurícioMelim Webber, a produtividade é de 3t/ha.

assegura que “a cultura já se tornou umatradição entre os agricultores”, porque o iníciodessa prática tem cerca de 20 anos. E destacoualgumas dificuldades: “o produtor precisadedicar-se intensivamente, do mesmo modocomo se fosse horticultor. O comprador temdia e hora certos para chegar. Ele encosta ocaminhão e não quer saber se choveu demais,se alguém adoeceu ou se esteve viajando. Elequer recolher a mercadoria, porque lá adian-te, no supermercado ou na praia há varejistasesperando, há consumidores querendo com-prar o produto. Se o produtor não estiverpreparado e se não for caprichoso, cai fora domercado”.

A festa

O atual prefeito de Santo Amaro da Impe-ratriz, José Rodolfo Turnes, também produ-tor de milho-verde, é o maior incentivador dacultura, tanto que já no seu primeiro ano deadministração instituiu a Festa Regional doMilho--verde, cuja terceira edição acaba deacontecer.

Para Turnes, a continuidade do eventoserá tema para o próximo governo, mas acomunidade certamente vai pressionar paraque tenha continuidade. “De um lado, divulgaa cidade e seu potencial turístico e econômico;de outro, permite que uma dúzia de entidadesfilantrópicas ganhem algum dinheiro com as

Milho-verde, a novariqueza do cinturãoverde

barraquinhas instaladas dentro doparque da festa”.

São as entidades assistenciais domunicípio que recebem a permissãopara instalar restaurantes, lancho-netes e barraquinhas dentro do par-que da Festa Regional do Milho-ver-de, promoção que recebe anualmen-te cerca de 25 mil pessoas.

O município de Imbuia montou,também nesses últimos três anos, aFesta Estadual do Milho-verde(Femive), mas a sua produção não sedestina ao mercado diretamente. As4 mil toneladas de milho-verde, colhi-das em plantio que sucede a culturada cebola, se destinam principalmen-

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Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

Bovinoculturade leite: melhoriacomeça na terneira

Produtores e autoridades de Tunápolis,município localizado no Extremo Oeste, nadivisa de Santa Catarina com Misiones, Re-pública Argentina, estão buscando no leitea alternativa mais sólida da economia pri-mária. E como lhes faltam recursos parapromover uma brusca melhoria genética, as530 famílias de pequenos produtores decidi-ram evoluir aos poucos, porém, constante-mente. A Prefeitura Municipal, através daSecretaria da Agricultura, montou um pro-grama de inseminação artificial e logo de-pois um concurso para avaliar a qualidadegenética das terneiras nascidas dentro doprograma.

O concurso abre as inscrições entremarço e novembro e realiza-se em abril detodos os anos, com os animaizinhos nascidosa partir de março até novembro. Os animaisinscritos são desmamados aos dois meses deidade e manejados segundo orientação daEPAGRI e na véspera do concurso passampor uma classificação levando em conta ascaracterísticas raciais e o desempenho doproprietário quanto ao manejo. Os animaisclassificados, com idade entre cinco mesese um ano, no dia do concurso, passam por umrigoroso julgamento classificando primeiro,segundo e terceiro lugares das duas raçaspresentes no município, holandesa e jersey.Os primeiros lugares recebem prêmios deincentivos e voltam com seus animais paraa propriedade. No ano seguinte, enquantose realiza novo concurso, as premia-das doano anterior retornam, então já cobertas ecom cerca de quinze meses de idade, apenaspara exposição aos olhos de toda a comuni-dade.

Sêmen qualificado

A inseminação cabe à Secretaria Muni-cipal de Agricultura, que providencia a aqui-sição de sêmen visando valorizar não só o atode inseminar, mas fazendo uma avaliaçãolinear, de forma a acrescentar às qualidadesda fêmea uma complementação no sentidode adicionar qualidades. Esse trabalho éacompanhado pelos técnicos e já aprovadopelos produtores. Um técnico agrícola, umengenheiro agrônomo, um médico veteri-nário, um auxiliar e um inseminador atuampela Prefeitura. A EPAGRI completa a equi-pe com mais três técnicos. Apoiam o progra-ma, além da Prefeitura, duas empresas delaticínio, inclusive com assistência técnica.

Para o terceiro concurso, que teve lugarem abril último, inscreveram-se 97 terneirasde 76 proprietários, classificando-se 45.

O próprio Secretário Municipal de

cresceu 16%, saltando de 3,6 mi-lhões para 4,2 milhões de litros/ano entregues aos laticínios. Cres-ce vertiginosamente também onúmero e o volume da silagemrealizada pelos produtores. Em1992 eram 22 produtores ensilando1.000m 3. Em 1994 esse númeropassou para 55 produtores e2.200m 3   e neste ano são 102 pro-dutores com 5.600m3 de silagem.Quatro grupos organizados de pro-dutores, num total de 48 sócios,adquiriram máquinas de colheitae corte de massa destinada aossilos.

O antigo distrito de Itapi-ranga, Tunas, hoje município deTunápolis, passou a dedicar-se aoleite há quinze anos, mas o cresci-mento se deu de cinco anos paracá, e o produto já ocupa o segundolugar em importância econômica,

perdendo apenas para a suinocultura.A atividade tem sido levada a sério pelos

produtores. Na família Ludwig, por exem-

Grande campeã holandesa, propriedade deAlberto Wassmuth

Grande campeã jersey, propriedade de Selvino Ludwig

Agricultura, Bruno Heberle, 31, também vice-prefeito, é um dos produtores concorrentes,em cuja propriedade são produzidos 15 litros/vaca/dia, em média,mediante um siste-ma que manejapotreiro, pastejo esilagem. “Com isso”,diz Heberle, “ficamais fácil produzirleite no inverno doque no verão”.

É grande tam-bém o entusiasmodos produtoresSelvino Ludwig, 54,e Vilson NatalinoCosta, 35, amboscom animais classi-ficados. Costa, com12ha de baixa fertili-dade e sem recursospara calcário e adu-bo, faz o que pode emtermos de adubaçãoverde e pastagem deinverno. Produz 75litros/dia com seisvacas lactando e exi-be orgulhoso umaterneira recém nas-cida dentro do controle linear de genética:“neste bichinho conseguimos introduzir ca-racterísticas para superar em muito as quali-dades de sua mãe, que já é boa”, diz.

Crescimento

Outro grande incentivador e cada diamais entusiasmado com o programa é o téc-nico Adenor Wendling, da EPAGRI local.Nesses últimos dois anos, a produção leiteira

plo, um dos três filhos do casal, Décio, com25 anos de idade saiu para cursar uma escolaagrícola especialmente para poder cuidarmelhor da propriedade.

A comunidade tunapolitana tambémapóia o setor primário participando de umafeira agroindustrial que se realiza paralela-mente ao Concurso Municipal da Terneira.Esses eventos são, atualmente, a maiorfesta do município.

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Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

Bugio é símboloBugio é símboloBugio é símboloBugio é símboloBugio é símbolode lutade lutade lutade lutade lutaambientalambientalambientalambientalambiental

A existência de algumas famílias de bu-gios Alouata fusca bem próximo ao centroda cidade de Indaial, SC, desencadeou ummovimento ambientalista e biológico entreprofessores e alunos de Ciências Biológicasda FURB - Fundação Universitária da Re-gião de Blumenau, tendo os bugios comosímbolo dos trabalhos.

Tudo começou quando em 1990 a pro-fessora Zelinda Maria Braga Hirano,biomédica, ao ser admitida como profes-sora do curso de Ciências Biológicas daFURB, resol-veu residir em Indaial e suacasa ficava a poucos metros da propriedaderural do Sr. Walter Geisler, na verdade ummorro coberto com mata nativa com exten-são de 40ha. Oriunda do interior de SãoPaulo, Zelinda não conhecia o “ronco dobugio” e teve sua curiosidade despertada poresse “animal incomum”.

Ao discutir com seus alunos, algunsdeles indaialenses, foi conhecendo novasinformações e crendices sobre esseanimalzinho. O que mais pesou no lança-mento do movimento foi o fato de “haveruma crença popular de que o aparelho vocal(gogó) do bugio fornece uma substânciamilagrosa, em forma de chá, para a cura dagagueira das pessoas”. E vinha sendo cons-tante a captura e abate de bugios com essefim.

O movimento passou a ser integrado porNilse de Freitas Jacobsen, bióloga, tambémda FURB, por Vera Junckes, professora daPrefeitura local, pelos alunos João Carlos daSilva, Adriana Bragagnolo, Fabiane Robl epelo comerciante indaialense EduardoWanke. Do movimento surgiu o Centro dePesquisas Biológicas de Indaial - CEPESBI,que sobrevive às custas de um convênioPrefeitura/FURB.

Ampliação

A partir do estudo do comportamentodos bugios, a equipe percebeu a necessidadede ampliar os trabalhos, sobretudo visandoa preservação da fauna e flora locais. Umadessas necessidades foi a educaçãoambien-tal formal nas quintas e sextas sé-ries das escolas municipais, mediante a qua-lificação dos professores e a promoção deuma rodada de palestras, exposições ereu-niões com os mais diferentes públicos:asso-ciações, empresas, clubes de serviçoe escolas.

Outra necessidade atendida viabilizou-

Eduardo Wanke, Fabiane Robl e João Carlos da Silva,entusiasmados com as pesquisas

se através de intercâm-bio com a FURB, peloqual os alunos das esco-las de 1o e 2o graus pas-saram a elaborar proje-tos de pesquisa de inici-ação técnica.

Na fase atual, ospesquisadores estudama relação mãe-filhote debugio em ambiente na-tural e realizam o censopopulacional e a avalia-ção estrutural dohabitat natural do bu-gio.

Em fase final já es-tão os seguintes proje-tos: estudos prelimina-res de um grupo de bu-gios; atividades mati-nais de um grupo debugios; padrão de ativi-dades diárias dos bugi-os; contribuição ao es-tudo da dieta alimentardo bugio ruivo em am-biente natural; propos-ta de educaçãoambiental para as 5a   e6a séries do 1o grau; eelaboração e constru-ção de uma arma paralançamento de dardosanestésicos.

Os estudos do gru-po, segundo suas pró-prias informações, aca-bam por beneficiar ou-tros animais que exis-tem na área: porco-espinho, furão, quati,jaguatirica, tatu, sere-lepe e a própria hárpia,predadora, que ataca os filhotes dos bugios.

O bugio

Conforme declarações de nossos entre-vistados do CEPESBI e literatura sobre obugio, hoje se sabe que existem duas varieda-des desse animalzinho habitando as florestasdo Sul do Brasil. Uma delas é a encontrada emIndaial, formada por bugios ruivos, cujapelagem chega quase aos tons dourados, mem-bros da espécie Alouata fusca . Essa é umaespécie nativa da Serra do Mar, até altitudesde cerca de 400m. Acima dessa quota, emáreas passíveis de geadas, habita a espécieAlouata caraya, de menor tamanho e pelagemescura. No mais, ao que parece, são idênticos.

O bugio é um símio platirrino, da famíliados cebídeos, do gênero Alouata, caracteriza-do pela maxila inferior barbada e sobretudopelo grito ou ronco peculiar. É um animal

frugívoro e vegetariano, que vive em ban-dos de até doze exemplares, hoje já identifi-cados como “família”. Quando há macho desobra, o mais astuto espanta o concorrente,tendo como vantagem o ronco mais potente.

Cerca de 70% do tempo os bugios ficamem repouso, tornando-se difícil a sua locali-zação na selva. Sua reprodução se dáunigenitamente. O seu ronco serve parademarcação de terreno, expulsão dos con-correntes e, segundo a lenda, para anunciartempo de chuva.

No rol dos ritmos musicais regionalistas,existe um chamado bugio. Segundo histori-adores, o ritmo teria surgido a partir da gaitade oito baixos, numa marcação melódicasemelhante ao ronco do guariba/bugio. Pos-teriormente também a forma de dançarpassou a imitar o andar meio trôpego, emzigue-zague e um pouco saltitado, que écomo caminha o bugio quando está no solo.

Fora isso, o bugio vive no alto das copasdas árvores, onde se alimenta de folhas,frutos e flores, e se defende dos predadoresde terra.

Bugios no alto das árvores em Indaial, SC

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Até o momento, o contato mais pro-missor foi com o Instituto deBiociências da PUC em Porto Ale-gre, para onde foi encaminhado ma-terial a um especialista em moluscos.Está sendo aguardada resposta quan-to à identificação da espécie e outrasinformações.

Sendo a lesma uma praga atéagora inexpressiva em nosso Estado,há poucas informações sobre méto-dos eficazes para controlá-la. Os agri-cultores da Linha Cambucica, junta-mente com os técnicos e a prefeituramunicipal, estão empenhados emutilizar os meios disponíveis paraamenizar o problema, enquanto ostécnicos continuam na busca por ou-tras alternativas para o controle dapraga. Pelo que se pode constatar atéo momento, será necessário recor-rer a uma integração de diferentesformas de controle iniciando pelaeliminação de ambientes favoráveispara a proliferação das lesmas. Aaplicação convencional de insetici-das não é eficaz no caso das lesmas,devido a peculiaridades das mesmas,

que sãomolus-cos. Preocu-pados, osagriculto-res questi-onam so-bre as cau-sas do sur-g i m e n t odesta pra-ga. Certa-mente aslesmas en-contraramaí ambien-te favorá-vel, semque hou-vesse pre-dadores ou

inimigos naturais para limitar a suamultiplicação.

Registrado este primeiro sinal dealerta, agricultores e técnicos estãodiante do desafio para encontraremas alternativas mais viáveis para ocontrole e/ou convívio com mais estapraga em potencial.

Regist roRegist roRegist roRegist roRegist ro

Lesmas - mais uma praga?Lesmas - mais uma praga?Lesmas - mais uma praga?Lesmas - mais uma praga?Lesmas - mais uma praga?Há cerca de dois anos alguns agri-

cultores da Linha Cambucica, nomunicípio de Nova Itaberaba, dis-tante aproximadamente 35km deChapecó, constataram a prolifera-ção de lesmas em suas propriedades.Inicialmente não se preocuparamcom o fato, porém, percebendo que apopulação de lesmas continuava au-mentando e que estavam causandodanos em hortaliças, soja e, princi-palmente, na lavoura de feijão, deci-diram buscar auxílio técnico atravésdo Departamento Municipal de Agri-cultura.

A partir daí, as autoridades domunicípio - prefeito, vice-prefeito,diretor do Departamento de Agricul-tura e técnicos - empenharam-se embuscar informações para o controledas lesmas. Um dos contatos foi como Centro de Pesquisa para PequenasPropriedades da EPAGRI - CPPP emChapecó. A primeira providência foia visita de um pesquisador (Eng. agr.Silmar Hemp), juntamente com oEng. agr. Leocir Moro, do EscritórioMunicipal de Agricultura, o diretor

do Departamento de Agricultura e oprefeito municipal a algumas propri-edades para verificar o problema.

Considerando que também naEPAGRI não havia registro anteriorde ocorrência de lesmas como pragana cultura do feijão em Santa Cata-rina, foram estabelecidos contatoscom outras instituições de pesquisa.

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Mudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videira

Método de forçagem para produção de mudas de videiraMétodo de forçagem para produção de mudas de videiraMétodo de forçagem para produção de mudas de videiraMétodo de forçagem para produção de mudas de videiraMétodo de forçagem para produção de mudas de videira

Novas técnicas permitem alcançar melhores resultadosNovas técnicas permitem alcançar melhores resultadosNovas técnicas permitem alcançar melhores resultadosNovas técnicas permitem alcançar melhores resultadosNovas técnicas permitem alcançar melhores resultados

maioria das variedades de uvaplantadas em Santa Catarina é

propagada através da enxertia, utili-zando o porta-enxerto enraizado dire-tamente no local definitivo do vinhe-do. Isto ocorre por causa dos altoscustos da muda vendida pelosviveiristas, em função da produçãolimitada e devido, principalmente, àquantidade de mão--de-obra necessá-ria no período de enxertia e ao tempode dois anos para a formação da muda.A produção em massa de mudas devideira só é alcançada através da mul-tiplicação por cultura de tecido oupelo método de forçagem.

A produção de mudas de videirapor cultura de tecido necessita delaboratórios e mão-de-obra especi-alizada, o que de certa forma inviabilizasua utilização pelos viveiristas. Tam-bém é necessário um mercado estávelna venda das mudas, para compensaros custos de manutenção dos labora-tórios e da mão--de-obra especializa-da.

A produção de mudas pelo métodode forçagem necessita menores in-vestimentos em infra-estrutura e emmão--de-obra especializada. O méto-do de forçagem consiste na produçãode mudas partindo-se de estacas deporta--enxertos que uma vez enxerta-das são colocadas em sala com tempe-ratura e umidade controlada. Na salade forçagem, assim denominada, ocor-rem a brotação e cicatrização do en-xerto e posteriormente oenraizamento, formando a muda. Naseqüência, as mudas são retiradas dasala de forçagem e sofrem o processode aclimatação, estando logo em se-guida prontas para o plantio. O temponecessário para a produção de mudas

Figura 1 - Épocas de coleta de material vegetativo e opercentual de pegamento de mudas

por forçagem é de aproxi-madamente 60 dias.

A utilização de materi-al vegetativo oriundo deplantas matrizes, a multi-plicação em larga escala eos baixos custos de produ-ção permitiram que ométodo de forçagem fosseutilizado por muitosviveiristas em outros paí-ses na produção de mudasde videira (1).

No Brasil, váriosviveiristas optaram pelouso deste método, porémcom pouco sucesso. Istoporque seguiram as mes-mas etapas recomendadase usadas em outros países, sem asdevidas adaptações às condições cli-máticas locais e aos materiais utiliza-dos no enraizamento das mudas nasala de forçagem. Estudos conduzidosrecentemente na Estação Experimen-tal de Videira, da EPAGRI, evidencia-ram as adaptações necessárias paraalcançar maior índice de porcenta-gem de pegamento das mudas, produ-zidas pelo método de forçagem, nasnossas condições, as quais são citadasa seguir.

Época de coleta domaterial vegetativo

A melhor época de coleta de mate-rial vegetativo dos porta-enxertos evariedades produtoras é pelo menos30 dias antes da enxertia realizada emagosto, como mostrado na Figura 1.

O material vegetativo coletadodeve ser imediatamente submetido aum banho com fungicidas por um

período de 12 horas. Em seguida, deveser protegido com papel úmido e acon-dicionado em sacos plásticos, os quaissão armazenados em câmara fria atéa enxertia. Na câmara fria, onde omaterial vegetativo da videira perma-necerá armazenado, não deve haverfrutos para não afetar as gemas dasvariedades produtoras de uva.

Substrato deenraizamento

Em outros países é usado comomaterial de enraizamento a perlita.Este material tem como característi-cas não permitir o desenvolvimentode fungos e uma boa relação entreumidade/oxigênio, o que facilita oenraizamen-to da muda. Como aperlita não é produ-zida e encontradano Brasil, foram testados como alter-nativas o pó-de-xaxim, a vermiculita,a maravalha e a serragem de Pinuselliotti , materiais estes facilmente

Edegar Luiz Peruzzo

A

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Mudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videira

Figura 2 - Percentagem de pegamento das mudas compó-de-xaxim, maravalha, vermiculita e serragem

encontrados em nossas regiões. Ob-servando-se os resultados, verificou-se que o pó-de-xaxim e a serragemapresentaram os maiores índices deenraizamento e conseqüentemente depegamento das mudas (Figura 2), in-dicando a utilização destes substratosno método de forçagem. Contudo, nascaixas plásticas onde são colocados osbacelos enxertados, a altura da cama-da destes substratos não deve ultra-passar a região da enxertia, deixandoassim o enxerto totalmente a vistacomo mostrado na Figura 3.

Esta alteração no método de força-gem permite o uso destes substratoscom o controle preventivo de podri-dões nos brotos dos enxertos. Alémdisso, facilita os trabalhos como acolocação dos porta-enxertos enxer-tados em caixas plásticas ao invés decaixotes de madeira, normalmenteutilizados para este fim. É importantesalientar que a modificação do nívelde substrato de enraizamento nascaixas não inviabiliza o uso de máqui-nas de enxertia, como mostrado naFigura 4.

Preparo do materialenxertado

Para acelerar a formação do siste-ma radicular com maior número deraízes, submerge-se a parte basal doporta-enxerto em ácido indolbutírico(IBA) na concentração de 2.000ppm. Aregião do enxerto deve ser protegidacom parafina, aplicada por submersãodos enxertos em parafina líquida auma temperatura de aproximadamen-te 60oC. Sempre ter o cuidado de, logoapós o processo de parafinagem, colo-car o material em água fria, esfriandoassim a parafina, para não afetar agema da variedade produtora.

Sala de forçagem

A característica mais importantede uma sala de forçagem é manter aumidade e calor estáveis, evitando-seassim maiores gastos com energia

elétrica. A manutenção de 30o C nasala de forçagem pode ser conseguidacom aparelhos de ar condicionado,sem prejuízos à umidade do ar, a qualé mantida molhando-se as paredes dasala de forçagem manualmente todosos dias. A manutenção da umidade doar acima de 80% deve ser observadarigoro-samente, para evitar danos nacica-trização da enxertia, os quais po-derão ser maiores quando da utiliza-ção de máquinas de enxertia. Aconse-lha-se aplicar fungicidas semanal-mente nas paredes da sala de forçagem.

A brotação das gemas dos enxertosocorre aproximadamente dez dias apóso material enxertado ser colocado nasala de forçagem. Para evitar estiola-mento dos brotos durante o restantedo tempo em que são mantidos na salade forçagem, deve-se manter lumi-

nosidade artificial comlâmpadas fluorescentes.As dimensões da sala deforçagem dependem daquantidade de mudas aserem produzidas. Umasala com 2,60m de com-primento, 2,30m de lar-gura e 2,50m de alturapermite produzir 4.500mudas por série. Isto é,4.500 mudas em agosto e4.500 mudas em setem-bro. Para estas dimen-sões de sala de forçagemum aparelho de ar condi-cionado de 10.000 BTUs edez lâmpadas fluorescen-

tes de 40W são suficientes.

Aclimatação das mudas

Após a permanência de aproxima-damente 30 dias na sala de forçagem,as mudas devem ser submetidas aaclimatação para sobrevivência quan-do plantadas no campo. A aclimataçãodeve ser de forma gradual, iniciandopor períodos curtos e aumentandogradativamente o número de horasde insolação durante uma semana.Em seguida as mudas são retiradasdas caixas e transferidas para sacosplásticos (Figura 5). O substrato ter-ra, areia e casca de arroz queimada,na proporção em volume de 2:1:1,mostrou-se ser o melhor para o de-

Figura 3 -Região da

enxertia nãocoberta pelo

substrato

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causas do declínio e morte das videi-ras em Santa Catarina.

O método de forçagem assim modi-ficado passa a ser uma alternativa debaixo custo para a produção de mudassadias de videira, com possibilidade deser utilizado pelos produtores de mu-das.

Literatura citada

1. PICCOLI, P.J. Formação de mudas devideira. Agropecuária Catarinense, Flo-rianópolis, v.2, n.3, p.17-19, 1989.

Edegar Luiz Peruzzo , Eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. n o 11.512-D, CREA-SC, EPAGRI,Estação Experimental de Videira, C.P. 21,Fone (0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391,89560-000 - Videira, SC.

Mudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videiraMudas de videira

LANÇAMENTOS

EDITORIAIS

Recomendação de cultivarespara o Estado de SantaCatarina 1995-96. Boletim Técni-co no 72 - 142p.

A EPAGRI está lançando maisuma edição deste Boletim anual,cujo objetivo é manter técnicos eagricultores permanentementeatualizados e orientados quanto àescolha das cultivares mais adapta-das e produtivas nas diversas regi-ões do Estado.

A edição deste ano contempla ascultivares de adubos verdes, alface,alho, ameixa, arroz irrigado, aveiabranca, banana, batata, batata-doce,cebola, cenoura, citros, essênciasflorestais, feijão, feijão-de-vagem,forrageiras, maçã, mandioca, me-lancia, melão crioulo, milho, mo-rango, pepino, pêra, pêssego, pi-mentão, quivi, repolho, soja, toma-te, trigo, triticale e uva.

Os materiais recomendados sãoaqueles que, após testes e avalia-ções agronômicas, melhor se com-portam nas diferentes regiõesedafoclima-ticas de Santa Catari-na, e dos quais existam sementesou mudas disponíveis.

Esta e outras publicações da EPAGRI podemser adquiridas na Sede da Empresa em Florianópo-lis, ou mediante solicitação ao seguinte endereço:GED/EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-0066,88034-901 - Florianópolis, SC. Para maiores deta-lhes solicite também o Catálogo de Publicações daEPAGRI (gratuito).

senvolvimento das mudas na fase deaclimatação. As mudas permanecempor mais 20 dias nos sacos plásticosantes de estarem prontas para a trans-ferência ao campo.

Considerações finais

O método de forçagem é uma alter-nativa para produção de mudas devideira em larga escala, porém depen-dente do mercado de mudas de videi-ra. Além da produção em massa, per-mite a produção de mudas com con-trole fitossanitário, principalmente depragas e doenças de solo (pérola-da-terra e fusariose), apontadas como

Figura 5 -Etapas daprodução demudas porforçagem:A - enxertia;B - sala deforçagem;C - transplante

Figura 4 -Máquina deenxertia (cortetipo ômega).Média de2.000enxertos pordia

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Frut icul turaFrut icul turaFrut icul turaFrut icul turaFrut icul tura

Epidemiologia e controle da crespeira do pessegueiroEpidemiologia e controle da crespeira do pessegueiroEpidemiologia e controle da crespeira do pessegueiroEpidemiologia e controle da crespeira do pessegueiroEpidemiologia e controle da crespeira do pessegueiro

Jorge Bleicher e Onofre Berton

Figura 1 -Sintomas decrespeira dopessegueironas folhas

crespeira é uma das principaisdoenças do pessegueiro na Eu-

ropa e nos Estados Unidos. Da mesmaforma, no Sul do Brasil, a doença éproblemática (1). É causada pelo fun-go Taphrina deformans (Berck.) Tul.e é uma doença importante onde opes-segueiro brota em condiçõesúmidas e frias. As cultivares depesseguei-ro de polpa amarela sãomais sus-cetíveis à crespeira que osde polpa branca.

Sintomas

A crespeira se desenvolve, sobre-tudo, nas folhas (Figura 1) e, rara-

Figura 2 -Sintomas decrespeira nopessegueiro

Etiologia

O patógeno pode sobreviver du-rante o inverno, na forma de micélio,nos ramos e brotos, e de conídios, queestão sobre toda a planta como esporoshibernantes (1).

No inchamento das gemas do pes-segueiro, na primavera, os esporosgerminam, penetrando nas folhas jo-vens, se as condições de umidade etemperatura são apropriadas. À me-dida que as folhas ficam mais velhas,elas tornam-se mais resistentes. Oestádio fenológico em que o pesse-gueiro encontra-se mais suscetível équando o tecido das novas brotaçõesainda é jovem. Após a florada (estádioG da Figura 3) não se observa incre-mento da doença (Figura 4) (2).

A doença se desenvolve, mais in-tensamente, em áreas onde a prima-vera é fria (3); em temperaturas mé-dias das máximas mensais entre 17 e19oC existe uma probabilidade de 50%de ocorrer mais de 80% de crespeiranas folhas e 100% de probabilidade de

mente, nos frutos (Figura 2). Atacaprincipalmente os ramos do ano. Noprincípio da primavera, quando asfolhas são muito tenras, observa-seque o limbo engrossa, enrugando-separcial ou totalmente em espiral naparte inferior e enrola-se, unilateral-mente. Algumas vezes o crestamentoocupa apenas uma pequena área foliar,continuando o resto do tecido a desen-volver-se normalmente (1).

Quando o ataque é precoce, a

crespeira se manifesta sobre os bro-tos, originando folhas menores que asnormais; estas persistem sobre a ár-vore até secarem. A coloração do teci-do atacado é roxa ou cor de vinho. Nosramos e frutos, a doença só se mani-festa em condições de infecção severa.

Quando as partes atacadas adqui-rem a coloração roxa, a epidermesuperior se cobre de pó branco,consti-tuído pelas frutificações do fun-go, as ascas.

A

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Figura 3 - Estádios fenológicos do pessegueiro - (A) Gema de inverno; (B) Gema incha-da; (C) Cálice descoberto; (D) Corola descoberta; (E) Estames descobertos;(F) Flor aberta; (G) Queda das pétalas; (H) Fruto formado; (I) Fruto jovem

Figura 4 -Percentagem debrotos depessegueiro comcrespeira, emplantas nãotratadas comfungicidas, emdiferentesdatas, cultivarCoral

Figura 5 -Relação entre atemperaturamédia dasmáximasmensais e apercentagem decrespeira nopessegueiro.Agarwalla etal. (1966)

ocorrer algum broto com a doença(Figura 5).

Controle

Bons resultados no controle da do-ença têm sido verificados nos trata-mentos realizados um pouco antes dabrotação, quando a gema está incha-da, no estádio fenológico B (Figura 6).

Os produtos recomendados são:oxicloreto de cobre, óxido cuproso,mancozeb, captan, dithianon e folpet(4, 5 e 6) nas dosagens recomendadaspelos fabricantes (Figuras 7 e 8). Deve-se ter cuidado no uso dos produtos àbase de cobre, a partir do início daflorada, visto que são fitotóxicos aopessegueiro.

É recomendado o uso de fungicidasa base de cobre no outono, após aqueda das folhas, ou durante o inver-no. Entretanto, este tratamento émenos eficiente que o primeiro.

Pode-se controlar a crespeira dopessegueiro com uma única aplicaçãode fungicida. Este sistema é chama-do de Sistema em Alta Dosagem(SAD). Neste caso a dosagem é decinco vezes aquela recomendada pelofabricante (Figura 9) e a época maisadequada é o estádio fenológico B(gemas inchadas) (6) (Figura 6). Até opresente momento o único produtotestado para este sistema foi ofungicida mancozeb.

Nenhuma cultivar é imune àcrespeira, porém, algumas cultivarescomo Redhaven e cultivares originá-rias desta têm alguma resistência àdoença.

Literatura citada1. BLEICHER, J.; TANAKA, H. Doenças do

pessegueiro no Estado de Santa Cata-rina. 2.ed. Florianópolis: EMPASC,1982. 53p. (EMPASC. Boletim Técnico,4).

2. BERTON, O.; BLEICHER, J. Controlequímico da crespeira do pessegueirocausada por Taphrina deformans(Berk) Tul. Fitopatologia Brasileira,Brasília, v.19, p.327, 1994. (Resumo).

3. AGARWALLA, R.K.; ARORA, K.N.;SINGH, A. Effect of temperature andhumidity variation on the developmentof Peach Leaf Curl in mid Hills and itscontrol. Phytopatology, Saint Paul, v.56,p.303-309, 1966.

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4. BLEICHER, J. Crespeira do pessegueiro.Frutinforma, Videira, n.12, p.1-2, 1975.

5. BLEICHER, J. Tratamento com fungicidasem pessegueiro para prevenir contra oaparecimento da crespeira (Taphrinadeformans , Berk.). Florianópolis:EMPASC, 1976. 6p. (EMPASC. Indica-ção de Pesquisa, 4).

6. BLEICHER, J.; BERTON, O. Dosagens eépocas de controle de Taphrinadeformans (Berk.). Tul. agente causalda crespeira do pessegueiro.Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.19,p.316-317, 1994. (Resumo).

Jorge Bleicher , Eng. agr., Ph.D., Cart. Prof.

no 4.167-D, CREA-SC, EPAGRI, EstaçãoExperimental de Caçador, C.P. 591, Fone(0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex492 330, 89500-000, Caçador, SC e OnofreBerton, Eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. no

10.555-D, CREA-SC, EPAGRI, Estação Ex-perimental de Caçador, C.P. 591, Fone (0496)62-1211, Fax (0496) 62-1142, Telex 492 330,89500-000, Caçador, SC.

Figura 8 - Controle químico da crespeira do pessegueiro,cultivar Coral. Caçador, 1994

Figura 9 - Relação entre dosagens de mancozeb(kg/100 litros) e a percentagem de brotos com crespeira,

aplicados no estádio B, cultivar Coral

Figura 6 - Controle químico da crespeira do pessegueirode acordo com o estádio fenológico. Caçador, 1994

Figura 7 - Percentagem de brotos com crespeira em função dofungicida usado, na cultivar Earlygold

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Nota dos editoresNota dos editoresNota dos editoresNota dos editoresNota dos editoresA revista Agropecuária Catarinense já publi-

cou, incluindo esta edição, 283 artigos técnicos.A maioria destes artigos provém de pesquisa-

dores da EPAGRI, já que o objetivo principal darevista é exatamente divulgar as tecnologias ge-radas pela Empresa no Estado. Temos recebidotambém, com muito gosto, contribuições de técni-cos e especialistas de outras instituições, inclusivede outros Estados.

De acordo com normas da EPAGRI e destarevista, todo o material técnico destinado à publi-cação passa previamente pela revisão de doisespecialistas, geralmente do quadro da Empresa.

Estes chamados revisores técnicos, com suasavaliações e sugestões, garantem o nível técnicodas matérias publicadas. Todos os técnicos daEPAGRI são revisores potenciais, atuando commaior ou menor freqüência, e esta revista deve aeles muito de seu sucesso. Dentre eles há algumasque, por razões diversas, são mais solicitados acolaborar, conforme constatamos em recente le-vantamento em nossos arquivos. Os nomes des-tes “campeões da revisão” são relacionados aseguir, como forma de agradecimento e de reconhe-cimento ao excelente trabalho realizado: MiltonLosso, Airton Rodrigues Salerno, Nelson FredericoSeiffert, Edison Azambuja Gomes de Freitas,João Afonso Zanini Neto, Osmar de Moraes,Moacir Antonio Schiocchet, Irceu Agostini, ZenórioPiana, José Rivadávia Junqueira Teixeira, Zilmarda Silva Souza, Márcio Sônego, Osvaldo CarlosRockenbach, Jorge Homero Dufloth, Leandro doPrado Wildner, José Maria Milanez, Milton Ra-mos, Lucas Miura, Valmir Vizzotto e FredericoDenardi.

Queremos também, neste espaço, registrarnosso agradecimento a Celso Agostinho Dalagnol,Onofre Berton, Leandro do Prado Wildner, DarioAlfonso-Morel e João Carlos Seben, membros doComitê de Publicações da EPAGRI e cujo manda-to, de dois anos, está findando.

Os editores

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REFLORESTAR

Flora nativaFlora nativaFlora nativaFlora nativaFlora nativacatarinensecatarinensecatarinensecatarinensecatarinense

O Baguaçu é conhecido comumentecomo pinha-do-brejo, pinheiro-do-brejo,canela-do-brejo, magnólia-do-brejo, ava-guaçu e pau-pombo. Pertence à família dasMagnoliaceas e seu nome científico éTalauma ovata (Saint Hilaire).

A dispersão desta espécie se dá desde osul de Minas Gerais até o norte do Estado doRio Grande do Sul (Torres e Osório).

Em Santa Catarina ela ocorria ampla-mente na zona da mata pluvial da encostaAtlântica, desde Garuva até São João do Sul,entrando no Rio Grande do Sul através da“Porta de Torres”.

É uma árvore alta, bonita e esbelta,alcançando 25 a 30m de altura e diâmetroentre 50 e 100cm. O tronco é cilíndrico, retoe alto.

Floresce durante os meses de novembroe dezembro com bonitas flores brancas. Osfrutos ficam maduros de setembro em dian-te e são muito parecidos com uma fruta-de-conde. O fruto é deiscente e suas sementessão muito apreciadas por pássaros de portemédio. A espécie é característica das planí-cies aluviais, ao longo dos rios, e demais solosprofundos e bastante úmidos. Ocorria nes-tas várzeas em uma densidade de 10 a 15árvores adultas/ha, o que representava con-siderável volume de madeira por unidade deárea.

Atualmente suas áreas de ocorrênciaestão quase todas devastadas, mas ocorreainda nas áreas onde o acesso é difícil.

Na regeneração natural das florestas,principalmente nos estágios sucessionais decapoeirão, o baguaçu aparece logo após ainstalação de jacatirão-açu (Miconiacinnamomifolia ) e palmiteiro (Euterpeedulis), o que parece indicar tratar-se deplanta bastante exigente quanto às condi-ções edáficas e microclimáticas. Por isso,plantios puros a céu aberto não são reco-mendados. Plantios de enriquecimento emcapoeira e capoeirão, onde existe um gradi-

Plantajovem eisolada

debaguaçu

(Talaumaovata).Médio

Vale doItajaí,

SC

Sementes prontas para a semeadura,depois de processadas e limpas

A madeira do baguaçu é moderadamen-te pesada, com densidade entre 0,55 a 0,57g/m3. O cerne é branco-acinzentado ou brancoencardido, uniforme, escurecendo com aexposição ao ar. A textura é média, grãdireita. De um modo geral é madeira nãoresistente a umidade e às pragas, e é muitoempregada na carpintaria, principalmentenas partes internas. Caixas pequenas paraperfumaria, drogas, brinquedos, espulaspara a indústria têxtil, construção civil, em-balagens, forros de casas, caixão de defunto,lambril, frontal e caixaria em geral são ou-tros empregos do baguaçu.

Figura 1 - Construção da pranchetadendométrica

Construção de pranchetadendométrica

A prancheta dendométrica é um aparelhosimples usado para medir a altura de árvorescom facilidade. É possível construir a pran-cheta com uma tábua de 0,5cm de espessura,30cm de comprimento e 10cm de largura.

Conforme mostra a Figura 1, marque umponto na metade do comprimento da tábua efixe ali um fio de nylon com um peso na ponta(o fio deve ficar firme no local, principal-mente na quina da tábua. Marque escalas,em centímetros e milímetros, à direita e àesquerda, a partir da metade da tábua (pontozero). Coloque duas miras na parte supe-rior.

Para determinar a altura da árvore coma prancheta dendométrica, basta medir 10mcom uma trena a partir da árvore. Levar oaparelho à altura dos olhos e, com o auxíliodas duas miras, focalizar o pé da árvore eapertar o fio de nylon contra a escala com odedo, conforme a Figura 2. Leia no aparelhoo cruzamento do fio com a escala (exemplo:3,4 (a) à direita do zero). Focalize então, damesma maneira, a parte superior da árvore(exemplo: 6,8 (b) à esquerda do zero). Someos valores para obter a altura:

Exemplo: 3,4 + 6,8 = 10,2mSe os valores forem obtidos no mesmo

lado em relação ao zero, faça, então, a dife-rença entre o maior e o menor para obter aaltura da árvore.

Técnicas de cunho práticoTécnicas de cunho práticoTécnicas de cunho práticoTécnicas de cunho práticoTécnicas de cunho prático

ente de luz/sombra e solos úmidos, recupera-dos naturalmente, terão maiores sucessos. Obaguaçu nestas condições apresenta cresci-mento rápido.

Nas planícies quaternárias do litoral, ondesão freqüentes as figueiras, ipês-amarelos,ingá-de-quatro-quinas e palmiteiro, o baguaçuaparece juntamente. Produz regularmentebastante frutos com numerosas sementes,possibilitando assim a obtenção de suficientematerial para semeadura.

O baguaçu pode ser utilizado como espé-cie nativa frutífera para proteção de mataciliar.

Frutomaduro eaberto debaguaçu,deixando

mostrar assementesenvoltaspor uma

película carnosa de cor vermelha, muitoapreciada pelos pássaros

Figura 2 - Medição da altura da árvore

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Eno log iaEno log iaEno log iaEno log iaEno log ia

A oxidação dos vinhos e seus fatoresA oxidação dos vinhos e seus fatoresA oxidação dos vinhos e seus fatoresA oxidação dos vinhos e seus fatoresA oxidação dos vinhos e seus fatoresdeterminantesdeterminantesdeterminantesdeterminantesdeterminantes

lguns vinhos de mesa são parti-cularmente sensíveis à ação do

oxigênio, podendo apresentar desdeuma simples mudança de coloraçãoaté a ocorrência de turvações. Osvinhos brancos podem apresentar umacoloração amarela e em casos maisgraves até se tornarem amarronzados.Nos vinhos tintos, a oxidação podeescurecê-los e deixá-los sem brilho.Estas deficiên-cias são acompanhadaspor uma danosa redução do frescor,aparecimento de odor semelhante aoda madeira e degradação gustativa,contraindo gosto de cozido.

Trata-se de um problema correnteem vinhos de mesa comum como já foiconstatado; de 182 amostras submeti-das a testes de estabilidade, 82,6%foram consideradas sensíveis ao con-tato com o ar (1).

Apesar da ação fundamental dooxigênio, não se trata apenas de umfenômeno de oxidação, mas sim deuma atividade enzimática exercidapor enzimas oxidásicas.

A falta de estabilidade da matériacorante dos vinhos tintos e brancos sedeve, portanto, à ação catalítica daoxidase, chamada enoxidase em alu-são à sua atividade no vinho. Maisespecificamente estas enzimas atu-am sobre as substâncias polifenólicas(antociani-nas e taninos), e portantosão também denominados depolifenoloxidases. Na realidade trata-se de duas enzimas distintas, atirosinase, presente em todas as uvas,e a lacase encontrada, principalmen-te, em uvas atacadas pelo fungoBotrytis cinerea que a produz em gran-de quantidade. Esta última é a res-ponsável direta e específica daquebradura oxidásica (casse oxidásica,incarbo-nellamento) (2). Portanto, osmostos provenientes de uvas podres,e conseqüentemente os vinhos, se

não forem tomadas providências,quando em contato com o oxigêniosofrem as mesmas mudanças facil-mente observadas em maçãs e pêrasexpostas ao ar.

O enturvamento oxidásico se deveà oxidação, por desidrogenação, dosgrupos polifenólicos (leucoantocia-ni-nas e catequinas) em quinonas. Ooxigênio recebe o hidrogênio trans-portado pela enzima, e deste processooxidativo formam-se ortoquinonasinstáveis que sofrem com facilidadeuma rápida polimerização, originan-do compostos de cor marrom que emestado coloidal coagulam e precipi-tam.

No mecanismo de ação da lacase oscatalizadores mais comuns são o co-bre e o ferro, podendo dar origem acasse cúprica e a casse férrica.

Nos vinhos em fermentação, difi-cilmente se observam estes fenôme-nos, pois além de parte do oxigênio serutilizado pelas leveduras, a presençade gás carbônico reduz o processooxidativo. Após a fermentação os vi-nhos brancos conservados em recipi-entes de madeira podem absorver len-tamente o oxigênio do ar ou mesmometabolizar o oxigênio dissolvido nomeio.

Alguns fatores podem tornaros vinhos mais propensos àsconse-qüências dos fenômenosoxidati-vos:

• Sanidade da matéria-prima - apresença de uvas botritizadas aumen-ta o inóculo de oxidases. Como ascondições climáticas no Sul do Brasil,particularmente nos meses de colhei-ta de uva (janeiro a março), apresen-tam condições favoráveis ao desenvol-vimento deste fungo, a ocorrênciadestes problemas é quase que genera-lizada nas uvas brancas.

• Sulfitagem incorreta em dose e

em homogeneização - uma das maisimportantes funções do SO2 , nasulfitagem dos vinhos, é sua avidezpor oxigênio, chamada açãoantioxidante. Além desta, o anidridosulfuroso possui uma ação antagônicaàs oxidases (ação antioxidásica),contanto que seja utilizado na dose emomento corretos e que seja bemhomogeneizado ao meio.

• Tipo de prensagem - o incremen-to de polifenóis (catequinas e leucoan-tocianinas) em mostos brancos au-menta o potencial de formação dequinonas e está diretamente vincula-do à manipulação realizada com a uvae o tipo de pressão exercida pelasprensas.

• O transcurso normal da fermen-tação, que é favorecido pelo uso deleveduras selecionadas e controle detemperatura (18oC para os vinhosbrancos e 25oC para os tintos), reduz aformação de aldeído acético e de ácidopirúvico, receptores naturais doanidrido sulfuroso, permitindo umamaior eficiência de suas funçõesantioxidante e antioxidásica.

• Eficiência da clarificação - o siste-ma de clarificação influencia de formadecisiva na quantidade polifenóisoxidáveis residuais.

A ocorrência de oxigênio in-corporado ao vinho pode apre-sentar várias fontes:

• Falta de atesto - a exposição ao ardevido à armazenagem do vinho emrecipientes incompletos é sem dúvidaa principal causa de enriquecimentodo meio em oxigênio.

• Trasfegas - a forma de realizar astrasfegas influencia no teor de oxigê-nio incorporado ao vinho. A colocaçãodo produto pelo fundo dos recipientesincrementa aproximadamente 0,2mg/litro de oxigênio. Porém, quando ovinho é acondicionado pela parte su-

Jean Pierre Rosier

A

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Eno log iaEno log iaEno log iaEno log iaEno log ia

perior dos recipientes, fazendo cairum jato sobre o líquido, o incrementoé da ordem de 4mg/litro (3). Quandoas tras-fegas são realizadas por inter-médio de bombas centrífugas cujasjuntas ou tubos de aspiração estãomal fixadas, a oxigenação gerada poresta operação pode ser muito forte.

• Engarrafamento - o enriqueci-mento em oxigênio durante o engar-rafamento varia em relação diretacom a pressão e relação inversa coma temperatura.

Prevenções que podem ser to-madas para reduzir a oxidaçãodos vinhos:

• Na vinificação, quando se elabo-ram vinhos com uvas atacadas, mes-mo que parcialmente, por fungos comoBotrytis cinerea, é aconselhável reali-zar um incremento das doses deanidrido sulfuroso (15 a 20g/hl) deacordo com a intensidade do ataque. Éimportante que a adição do SO2 sejarealizada logo após o esmagamento eque a incorporação do produto sejaperfeitamente homogeneizada.

• A prensagem do bagaço deve serrealizada de modo a minimizar a ex-tração de polifenóis, através da utili-zação de equipamentos adequadoscomo as prensas pneumáticas e hi-dráulicas, evitando o uso de prensascontínuas que dilaceram o bagaço emdemasia. A suavidade de prensagemacarreta uma redução no rendimen-to; uma boa alternativa para remedi-ar esta deficiência é a utilização deenzimas pectolíticas que permitemmaior extração com menorprensagem.

• A fermentação com o uso debentonite e caseinato de potássio per-mite inativar parcialmente as polife-noloxidases e acelerar o processo declarificação.

• A realização de uma clarificaçãoeficiente reduz o potencial oxidativo eprotege o vinho de possíveis oxida-ções futuras (4).

• As operações de trasfegas, comexceção da primeira, devem ser reali-zadas com a menor oxigenação possí-vel, enchendo os vasilhames por baixoe impedindo possíveis entradas de arna tubulação.

• Na conservação dos vinhos é

importante a manutenção dosvasilhames atestados, seja com vinhoou com gases inertes, como é o caso donitrogênio.

• Manter os teores de SO2 livre emtorno de 35mg/litro e utilizar coadju-vantes de conservação que incorpo-rem vitamina C ativa.

• A manutenção do nível de CO2em cerca de 1,3g/litro evita que ooxigênio possa exercer suas açõesdanosas e confere aos vinhos brancosum frescor e jovialidade queincrementam as qualidades de vinhosjovens.

• Controle de Botrytis cinerea acampo - na produção de uva o trata-mento químico deve ser preventivocom aplicação de fungicidas (Benomyl50-50g/100 litros) com aplicações nofinal de floração, no início decompactação do cacho, início dematuração e três a quatro semanasantes da colheita (5).

Medidas paliativas para vinhosalterados pela oxidação

Para os vinhos já afetados pelaoxidação (casse), uma das soluções é apasteurização. Nos vinhos com pH emtorno de 3,4 a lacase é destruída a 45oCpor 10min. Já quando a temperaturaé elevada para 70 oC, 2min são sufici-entes, independentemente do valordo pH. Após o aquecimento o vinhodeve ser filtrado e sulfitado de modo aobter no mínimo 35mg/litro de SO 2livre. Esta alternativa deve levar emconsideração a redução qualitativa doproduto tratado, devido à elevação datemperatura.

No caso de vinhos tintos que te-nham sua cor atingida de forma inten-sa, é imprescindível que após o trata-mento sejam realizados cortes demodo a equilibrá-la. Quando a casse jáalterou profundamente a cor dos vi-nhos brancos pode-se completar a oxi-dação, introduzindo mais oxigênio aovinho, de modo a insolubilizar todasas substâncias oxidáveis e logo apósrealizar uma clarificação eficiente comprodutos à base de caseinato de potás-sio.

Quando os vinhos são pouco atingi-dos pelo fenômeno oxidativo, e nestaclasse se encontram uma boa partedos vinhos de mesa comuns, a

sulfitagem e um tratamento à base debentonite, caseinato e ácido ascórbico,e teores elevados de SO 2 livre queassegurem uma boa proteção e man-tenha o ferro em estado de oxidaçãomínima, reduzem o efeito da oxidaçãoe melhoram as característicasorganolépticas dos vinhos afetados.

Qualquer que seja o tratamentocorretivo, as medidas preventivasdevem ser sempre preferidas, poisestão voltadas para o ganho e manu-tenção da qualidade.

Literatura citada

1. ROSIER, J.P.; PEDRUCCI, G. Oxidação,um defeito comum nos vinhos de mesa.Agropecuária Catarinense, Florianó-polis, v.1, n.4, p.17, 1988.

2. DUBORDIEU, D.; GRASSIN, C.;DERUCHE, C.; RIBEREAU-GAYON,P. Mise au point d’une mesure rapide del’actinite laccase dans les moûts et dansles vins par la methode a lasyringaldazine. Application àl’appréciation de l’état sanitaire desvendanges. Connaissance de la Vigneet du Vin, Talence, v.18, n.4, p.237-252,1994.

3. RIBEREAU-GAYON, J.; PEYNAUD. E,;RIBEREAU-GAYON, P.; SUDRAUD,P. Traité d’oenologie; sciences ettechniques du vin; clarification etstabilisation, matériels et installations.Paris: Dunod, 1976. v.4, 643p.

4. ROSIER, J.P. Manual de elaboração devinho para pequenas cantinas. 2.ed.atual. Florianópolis: EPAGRI, 1993. 72p.

5. GRIGOLETTI JÚNIOR, A.; SÔNEGO, O.R.Principais doenças fúngicas da videirano Brasil. Bento Gonçalves:EMBRAPA/CNPUV, 1993. 36p.(EMBRAPA/CNPUV. Circular Técni-ca, 17).

Jean Pierre Rosier, Eng. agr., Ph.D., Cart.Prof. no 5.517-D, CREA-SC, EPAGRI - Esta-ção Experimental de Videira, C.P. 21, Fone(0495) 33-0054, Fax (0495) 33-0391, 89560-000 - Videira, SC.

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1. Dados do Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades (CPPP/EPAGRI/Chapecó), não publicados.

“Milho ardido”: o novo velho inimigo“Milho ardido”: o novo velho inimigo“Milho ardido”: o novo velho inimigo“Milho ardido”: o novo velho inimigo“Milho ardido”: o novo velho inimigo

Armando Corrêa Pacheco

problema com a qualidade do grãode milho conhecido como “milho

ardido” é provocado por diversas espé-cies de fungos presentes em nossasáreas de produção. Os representantesmais comuns são: Fusariummoniliforme, Fusarium graminearum,Giberella sp. e Diplodia maydis, quetambém são causadores de podridõesde colmos e de raízes no milho. Pratica-mente todos os anos há ocorrência depodridões de espigas que apresentamgrãos “ardidos”, cuja intensidade variade ano para ano, de propriedade parapropriedade, na mesma propriedadecom diferentes épocas de semeaduras eentre diferentes cultivares. Essesmicroorganismos se encontram pre-sentes nos solos e principalmente nosrestos vegetais infectados (palhada demilho de cultivos anteriores). O perío-do de suscetibilidade das espigas demilho inicia com a liberação do estigma(cabelo da espiga), atingindo o clímaxna fase de “grão leitoso”. Nesse estágio,com céu encoberto e longos períodoschuvosos com flutuação de temperatu-ras e na presença de cultivares suscetí-veis, é muito provável a ocorrência deepidemias de podridões de espiga.

Registros agrometeorológicos deChapecó mostram que no período desetembro/94 a fevereiro/95 choveu31,8% mais que a média de 23 anos(1969 a 1991). Apenas dezembro foimais seco que a média, em 33,4%,enquanto os meses mais chuvosos fo-ram outubro, novembro e janeiro, com41,4%, 29,8% e 33,4%, respectivamen-te, mais que a média. Essas condições,com certeza, conjugadas com outros

fatores, foram as principais causas daexcessiva presença de grãos de milhoardidos na safra 1994/95.

Dimensão do problema

Por que esse problema vem seagravando ultimamente? Para res-ponder a essa pergunta é necessárioanalisar algumas mudanças que vêmocorrendo nos sistemas de produção,tanto no setor da suinocultura quantona produção e comercialização do mi-lho.

Estudos do Centro de Pesquisa paraPequenas Propriedades - CPPP dãoconta que a suinocultura no OesteCatarinense, em 1980, abrigava 67.000produtores suinícolas (com rendaoriunda desta atividade acima de 15%do valor bruto da propriedade). Em1985 este número se reduziu para35.000 e hoje a estimativa é de 25.000produtores 1. Enquanto isso, a produ-ção de suínos aumentou, caracteri-zando assim uma enorme concentra-ção da atividade. Os produtores demilho, por outro lado, em grande par-te, encontram-se descapitalizados emfunção de uma política agrícola quenos últimos quinze anos ofereceu cré-dito a juros muito altos, que os impos-sibilita de usarem tecnologias quelhes dêem sustentação e estabilidade.Assim sendo, os solos têm sido usadosexaustivamente, sem nenhum plane-jamento, numa luta inglória pela so-brevivência.

Uma grande parcela de produtoresde milho abandonou a suinocultura,aumentando a oferta do grão no mer-

cado, deixando de consumi-lo na pro-priedade. Muitos desses agricultoresselecionavam o melhor milho, ou par-te, para o comércio, que sempre im-pôs algum tipo de restrição à qualida-de inferior. Grande parte do milhodesclassificado para comercializaçãoera consumido na propriedade, comos reflexos normais de seu uso, masque raramente chegava ao conheci-mento público.

Os grãos de milho “ardidos” ouapodrecidos constituem-se em fatorde recusa do alimento pelos animais,reduzem a qualidade nutritiva do mi-lho e, dependendo dos microorganis-mos presentes, podem algumas vezesser portadores de micotoxinas (toxi-nas produzidas por algumas espéciesde fungos) que prejudicam o desenvol-vimento, podendo causar esterilidadeem porcas e outras complicações, in-clusive levando muitos animais àmorte.

Estratégias/alternativas

Hoje há uma consciência que paraobter e manter altos níveis de rendi-mento nas criações é importante me-lhorar também a qualidade do milho.Os problemas de doenças do milhoenfrentados pelos nossos produtorestambém se manifestam em muitasoutras regiões produtoras com condi-ções climáticas semelhantes. É im-portante admitirmos que em nossascondições os fungos causadores depodridões de espigas estão presentesem elevada população e que semprehaverá riscos de que o clima lhes

O

O Oeste de Santa Catarina está enfrentando sérias dificuldades nacomercialização de milho, devido ao alto índice de grãos infectados ou apodrecidos

por fungos, comumente classificados como “milho ardido”. Dependendo dapercentagem de “milho ardido”, o produto sofre desconto no preço final e em muitos

casos tem sido rejeitado pelos compradores.

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favoreça numa determinada condiçãolocal e/ou regional. As medidas deprevenção e controle mais eficazessão as que envolvem o “manejo inte-grado”, direcionado no sentido de re-duzir as populações, no campo, dosmicroorganismos causadores das do-enças. Quanto maior for a interaçãoentre os diversos métodos de contro-le, maior será a probabilidade de su-cesso.

As principais alternativas estão noemprego de rotação de culturas, parareduzir a população dos microor-ganismos; escolha de cultivares combom empalhamento e que apresen-tam espigas pendentes na maturação;de preferência não semear sempre amesma cultivar na mesma área e,dependendo do tamanho desta, usarmais de uma cultivar; escalonar asemeadura dentro do melhor perío-do recomen-dado para região; man-ter os níveis adequados de fertiliza-ção, principalmente de fósforo, ecuidar para que não haja adubaçãoexagerada de nitrogênio em relação apotássio; manter a lavoura livre deinços no período recomendado; evitardensidades de plantas exagerada-men-te altas e colher a lavoura tão logoatinja as condições ideais de maturaçãoe umidade do grão.

O plantio direto é uma excelentetecnologia de preservação e melhoriade muitas características dos solos,mas tem se mostrado extremamentevulnerável ao aumento de doenças,especialmente daquelas cujosmicroorga-nismos responsáveis sobre-vivem nos restos vegetais. Nessascondições a rotação de culturas é im-prescindível. Em condições de eleva-da incidência de doenças, o produtor,logo após a colheita, deve lavrar osolo procurando enterrar o máximopossível os restos vegetais, facilitan-do sua decomposi-ção.

É bom lembrar que a naturezatambém tem seus limites e respondepositiva ou negativamente em rela-ção aos interesses do homem, depen-dendo do que este lhe oferecer.

Armando Corrêa Pacheco , Eng. agr.,M.Sc., Cart. Prof. no 783-D, CREA-SC,EPAGRI, Centro de Pesquisa para PequenasPropriedades, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.

FLASHESFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidadeFi tossanidade

em Lagoa Vermelha, RS,comprova-se a possibilida-de de essa cultura se tornaraltamente rentável no Suldo Brasil. O crescimento daprodução é constante de anopara ano, colocando o Brasilentre os cinco maiores pro-dutores desse grão, juntocom Polônia, Estados Uni-dos, França e Alemanha.

Por combinar caracte-rísticas de trigo e de centeio,o triticale é indicado parasubstituir o milho nas ra-ções para suínos, aves ebovinos: a qualidade e o teordos nutrientes são seme-lhantes aos do milho.

Os três Estados do Sul,juntos, produziram em 1994um pouco mais que 100 miltoneladas de triticale, basi-camente em pequenas pro-priedades.

MERCOSUL eMERCOSUL eMERCOSUL eMERCOSUL eMERCOSUL eagriculturaagriculturaagriculturaagriculturaagricultura

Durante a Expointer,que se realiza anualmenteem Esteio, RS, os engenhei-ros agrônomos do MERCO-SUL estarão realizando umimportante congresso daclasse, ocasião em que pro-gramaram discutir negóci-os agrícolas, políticaambiental, profissão e pro-tecionismo governamentalpara o desenvolvimento. Apromoção é da Sociedade deAgronomia do Rio Grandedo Sul-SARGS e será reali-zada a 1o de setembro.

Sociedade sus-Sociedade sus-Sociedade sus-Sociedade sus-Sociedade sus-tentáveltentáveltentáveltentáveltentável

Estudantes e professo-res do Curso de Agronomiada Universidade do Estadode Santa Catarina, sediadojunto ao Centro de CiênciasAgroveterinárias, em Lages,SC, acabam de formalizarum grupo permanente deestudos nas áreas de Ecolo-gia e Educação Ambiental,objetivando formar recursoshumanos e subsidiar e ori-entar universidade, comu-nidade e especialmente es-colas de primeiro e segundograus.

Um dos primeiros traba-lhos do grupo é a formaçãode um banco de material in-formativo (artigos, revistas,livros, recursos audiovisuaise outros), para embasar ostrabalhos didáticos e subsi-diar atividades e projetos de-senvolvidos nas comunida-des e escolas do Estado.

Coordenam o grupo asprofessoras Mari Boff eValesca Fernandes, com aparticipação de estudantes eprofessores. Informam as co-ordenadoras que o grupoestá aberto à prestação deserviços e à recepção de su-gestões.

Terras a vendaTerras a vendaTerras a vendaTerras a vendaTerras a venda

A imprensa de Santa Ca-tarina divulgou uma notíciadesanimadora no mês deabril último: 13% das propri-edades rurais do chamado“Celeiro Catarinense”, o Oes-te, estavam a venda atravésdas imobiliárias localizadasnos pólos da região. A pes-quisa pertence à Secretariade Agricultura do municípiode Chapecó, depois que osanúncios classificados dosjornais apresentavam maio-ria dos seus itens envolven-do terras de agricultura.

Apenas na área que háalguns anos compreendia omunicípio de Chapecó(Guatambu, Nova Itaberaba,Cordilheira Alta e Chapecó),existiam em abril 533 propri-edades agrícolas a venda.Nessa área existem 4 milpropriedades. Levando adi-ante a pesquisa, verificou-seque em Xanxerê, Xaxim e

outros municípios essenci-almente agrícolas a situa-ção era a mesma. Causa:crescimento doendividamento dos produ-tores em virtude da equivo-cada política agrícola nacio-nal.

Mais cevadaMais cevadaMais cevadaMais cevadaMais cevada

Pesquisadores ligados àcevada, com a presença derepresentantes de cerveja-rias, inclusive de países doMERCOSUL, reuniram-seem Jaguariúna, SP, paraavaliar os resultados da sa-fra 1994 e discutir para 1995.Concluíram que há necessi-dade de expandir o setor em68%, visto ser de apenas umterço do consumo a produ-ção atual de cevada no Bra-sil: 95,2 mil toneladas, culti-vada em 53,3 mil hectares.Há quinze anos passadosproduzíamos 250 mil tone-ladas.

Ao final da reunião, queserviu para o lançamentode três novas variedades desementes, os interessadosna produção de cevada di-vulgaram a posição da pro-dutividade brasileira: a mes-ma verificada na Europa,ou seja, entre 5 e 6t/ha.

Triticale em altaTriticale em altaTriticale em altaTriticale em altaTriticale em alta

Com uma produtivida-de de 9.980kg/ha, obtida numexperimento da EMBRAPA,

Cônsul do Japão em SCCônsul do Japão em SCCônsul do Japão em SCCônsul do Japão em SCCônsul do Japão em SCO titular do Consulado

Geral do Japão esteve emvisita a Santa Catarina, opor-tunidade em que conheceuo Projeto de Fruticultura deClima Temperado, sediadona Estação Experimental daEPAGRI, em São Joaquim,e que realiza parte de seutrabalho de pesquisa emmaçãs e pêras japonesas

através de convênio com aJICA.

Na oportunidade, com aparticipação do perito japo-nês, Yoshio Yoshida, foramultimados os preparativospara a renovação do impor-tante convênio JICA/EPA-GRI na área de pesquisacom frutas de clima tempe-rado.

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 29

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Produção florestal: a grande opção de SCProdução florestal: a grande opção de SCProdução florestal: a grande opção de SCProdução florestal: a grande opção de SCProdução florestal: a grande opção de SC

Reportagem e fotos de Homero M. Franco

virão do vizinho parceiro doMERCOSUL.

O projeto

A meta do projeto lançado há pou-cos dias pela Secretaria de Estado doDesenvolvimento Rural e da Agricul-tura é implantar florestas produtivasem 580 mil hectares e manejar econo-micamente outros 500 mil hectaresde florestas nativas nos próximos 20anos.

Para quem pensa ser uma metainatingível em virtude da gran-diosidade, cabe informar que só decapoeiras (terras recentemente aban-donadas), o Estado possui 1,5 milhãode hectares. E estima-se que, em vir-tude da adaptação ao MERCOSUL,outro 1,5 milhão de hectares serãoabandonados a curtíssimo prazo.

O projeto prevê, então, a ocupaçãode somente 20% das áreas desativadas

or inúmeras outras razões de cli-ma, solo, topografia e mercado,

mas principalmente porque o MER-COSUL forçará um redirecionamentodo sistema agropecuário em vigor noEstado, Santa Catarina precisou rees-tudar seu futuro em termos de econo-mia primária. E o resultado foi este: amelhor opção é voltar a ser um póloprodutor de madeiras.

Quando se verificam as despropor-ções de custo de produção/produtivida-de entre a agropecuária catarinense ea argentina, afloram as impossibilida-des dos catarinenses continuarem plan-tando trigo, milho, soja, alho, cebola ealgumas frutas. Os argentinos fazemisso com menor custo e maior produti-vidade. Finda a safra de milho 1994/95,o que se viu foi milhares de agriculto-res catarinenses em passeata protes-tando pela venda da saca de milho a R$4,50, menos da metade do preço do anoanterior. Causa: estava no mercado

local o milho argentino.Quando se concluiu, porque esta é

a realidade catarinense, que 70% dossolos do Estado não se prestam para aagricultura e pecuária, não restaramdúvidas aos autores do projeto queprevê plantar e manejar 1 milhão dehectares de florestas durante os pró-ximos 20 anos: a opção dos agriculto-res é a floresta produtiva. Entramnessa conjuntura, também, os seto-res avícola e suinícola, embora nãoatingidos pelo MERCOSUL quanto aoproduto final. Ali haverá a alteraçãoquanto aos fornecedores de duas dassuas principais matérias-primas paraas rações: o milho e a soja. Pelasmesmas razões de custo de produção/produtividade, os argentinos ofere-cem esses grãos por valores inferiorese as fábricas de rações terão que acom-panhar a realidade mercadológica.Logo, o milho e a soja, ao menos emquantidades razoáveis, se não no todo,

P

Sinésio vai parar em três anos por falta de toras

Nunca antes, em Santa Ca-tarina, o poder público estadu-al deu tanta atenção às flores-tas. Ante à evidência dos estra-gos que o MERCOSUL causaráaos pequenos produtores degrãos e de algumas hortaliças efrutas, a Política Agrícola doEstado procura compensarindo em busca de uma antiga everdadeira vocação do homeme do solo catarinenses: a árvo-re. E acaba de lançar o maisousado projeto nesta área:plantar e manejar mais 1 mi-lhão de hectares de florestas.

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das culturas anuais. E buscará, se-gundo seus autores, reparar os danossociais dessas bruscas mudanças, sepossível sem o êxodo: 4ha de florestasplantados em nível de pequena pro-priedade geram um emprego direto.

O que muda na concepção geral, éque o projeto prevê que parte dobeneficiamento e a industrializaçãopossam ser feitos na comunidade, atra-vés de grupos de produtores, pois parauma área de 100 a 120ha de reflores-tamento se justifica a instalação deuma pequena serraria para 20m3 /diade toras.

Mas o objetivo do programa não ésó as toras. As toras, na verdade, sãoo produto mais valioso da floresta,apesar de demorar mais para ser ex-traído. Por isso, os técnicos estãorecomendando, na medida do possí-vel, uma floresta de uso múltiplo,onde se aproveita a curto prazo amadeira fina para lenha, varas, cabosde ferramentas, produção demaravalha, etc. Quando as árvoresatingirem diâmetro médio, as madei-ras duras poderão servir como esco-ras, madeira roliça para estruturas detelhados e galpões, mourões, etc. Equando adultas, enfim as toras serãousadas na serraria.

Os incentivos

Para viabilizar o projeto, o gover-no do Estado pretende investir di-nheiro a fundo perdido. E ainda para1995 estará pondo em curso um planopiloto de desenvolvimento florestaldestinado a atingir os primeiros 20municípios onde acontecerá uma par-ceria entre Estado, município, empre-

sa privada, cooperativa e produtores.Para cada hectare de floresta implan-tada dentro das condições técnicasexigidas e supervisionadas pelo Esta-do, o agricultor receberá R$ 200,00,metade com a comprovação do plantioe metade após a comprovação de seusucesso, cerca de seis meses maistarde.

Através dessas parcerias, que con-tarão também com a participação dasentidades representativas dos produ-tores, irão sendo organizados concomi-tantemente os grupos, condomíniosou outra forma de associativismo des-tinado a promover a agregação devalores sobre a produção florestal.

Indústria

A recomendação de instalação deserrarias comunitárias, nos mesmosmoldes de como atuam os condomíni-os de agricultores e outras experiênci-as associativistas, é porque sem al-gum beneficiamento os produtores deárvores pouco ganham. Os valoresagregados à árvore têm proporçõesincomuns: o que vale R$ 1,00 na flo-resta, passa para R$ 5,00 no estaleiroda serraria, passa para R$ 15,00 emforma de tábua, e finalmente alcançaR$ 50,00 em forma de móveis, abertu-ras e outros artefatos.

Por isso, os produtores devem, alémde plantar e manejar as florestas,transformar as árvores em caixas,móveis, aberturas e outros artefatos,ganhando para si os altos valores agre-gados e oferecendo empregos aos seusfilhos, que poderão dividir o tempoentre agricultura e indústria, na pró-pria comunidade.

Industrializar a madeira não é umacoisa nova para os catarinenses. Des-de que o homem europeu aqui che-gou, a partir do século XVI, as matasnativas que cobriam 80% do espaçoterritorial foram devastadas. Houveaté uma guerra de extermínio contraos posseiros por causa da entrega deuma faixa de 30km de florestas nati-vas à margem da ferrovia Porto União-Concórdia em favor da empreiteiramulti-nacional.

Milhares de serrarias pequenas,médias e grandes, lenheiras,carvoeiras e exportadores deram cabode bilhões de metros cúbicos de ma-deiras de todas as espécies, tamanhose fins, trazendo lucro, prosperidade efaustosidade a al-guns, ao mesmo tem-po que trouxe desespero, êxodo emorte a muitos outros.

Argumentos

Os autores do projeto, já examina-do e aprovado pelo governo do Estado,são seis engenheiros agrônomos docomplexo Secretaria de Estado do De-senvolvimento Rural e da Agricultu-ra/ICEPA/EPAGRI, Milton Ramos, Ge-raldo Buogo, Milton Luiz Breda, AirtoChristmann, Artêmio Frasson e IngoJordan, com a participação de outrosmais.

Nas suas justificativas eles citamdados que impressionam: em 2010 oBrasil precisará de 14 milhões de hec-tares de florestas de produção intensi-va; possui apenas 3,8 milhões. Os 250milhões de hectares de florestas nati-vas da Amazônia não poderão serincluídos como área de desfrute por-que merecerão apenas manejo dasespécies mais nobres. E o custo dofrete inviabilizará o seu uso no Sul.

Este imenso Brasil, com todo o seupotencial, não figura entre os paísesmaiores exportadores de madeiras ser-radas, nem de toras. Nessa lista en-tram países muito pequeninos pertodos 8 milhões de quilômetros quadra-dos que temos: Suécia, Áustria, Fin-lândia, Portugal, Chile, Alemanha.

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diversas. Retirando-se os 1,08 milhãoprevistos para o projeto agora lança-do, restam ainda cerca de 3,9 milhõesde hectares para serem utilizados naexpansão deste programa ou em algu-ma outra atividade.

Vender para quem

O primeiro comprador de madeirabrasileira, como já foi no passado,continuará sendo a Argentina, cujoterritório agrícola dificilmente seráreflorestado e cujas demais áreas apre-sentam impossibilidade por razões cli-máticas.

A desenvolvida indústriamoveleira, de celulose e papel, exis-tente no Estado, é outra compradora.Os demais setores industriais eagropecuários, que utilizam embala-gens de madeira em grande quantida-de, são outros compradores em poten-cial.

Os números mundiais da carênciade madeira e a nula participação doBrasil nesse mercado, apesar daspotencialidades, também dizem paraonde a madeira catarinense pode serremetida.

Sinésio Milanez e Aidecir Anto-nio Spillere são industriais da ma-deira em Nova Veneza, Sul de SantaCatarina, onde todo o tipo de madei-ra nativa se acabou e para onde já setornou inviável levar madeira ama-zônica.

Não é de hoje que Sinésio benefi-cia pínus e eucalipto. Ele faz isso hácinco anos, adquirindo as árvores depequenos agricultores das redonde-zas. Com eucalipto, produz caibros,ripas, longarinas, barrotes, colunas,parede externa e paletes. Com pínus,produz tábuas de caixaria paraconstru-ção civil, moldes, forros, di-visórias, meias-canas e rodapés.

A madeira é adquirida noflorestamento, em pé, com 15 a 20anos de idade, por R$ 35,00 o m 3; com20 a 25 anos de idade, por R$ 40,00 o

m3. Eucalipto com 25 anos alcança até1,5m 3 por árvore. Se o produtorestaleirar no pátio, recebe mais R$10,00 por m 3.

Pínus com 20 a 25 anos de idadeserve para as várias aplicações emque é exigida madeira de boa qualida-de; com dez anos já serve para fazerforro, meia-cana e rodapé.

Depois de beneficiada, Sinésiocomercializa o metro cúbico da madei-ra serrado bruto por R$ 100,00 a 110,00e R$ 200,00 por m 3 beneficiado (tábuaaplainada, forro, parede, soalho, meia--cana e rodapé).

A indústria de Spillere, dedicada àfabricação de esquadrias e casas pré--fabricadas, andou desativando a fa-bricação de casas porque dependia damadeira amazônica, atualmente mui-to cara.

Quanto ao futuro da atividadeflorestal, os dois concordam: “é umalto negócio”. Milanez prevê quedentro de três anos acabará a madei-ra de reflorestamentos na sua regiãoe aponta como causa dessa escasseza retirada prematura de escoras paraa construção civil. “A solução seriaplantar muito mais, de forma a aten-der a demanda de escoras e aindapoder sobrar para a indústria”, dizele.

Spillere também gostaria de vermais áreas reflorestadas e aconse-lha que se plante muitas variedades,procurando diversificar. E lembraaos cortadores de árvores que a “ve-lha receita de se cortar na lua min-guante ainda não caducou; venhaaté a serraria e veja o que acontececom as tábuas tiradas de árvorescortadas fora da minguante: rachamtodas.”

Os exóticos no fio da serraOs exóticos no fio da serraOs exóticos no fio da serraOs exóticos no fio da serraOs exóticos no fio da serra

milhões de hectares com aptidão paraagricultura e pecuária em condiçõesde manejo adequado e econômico.Dos 6,5 milhões restantes, 1 milhãoestão ocupados com florestas de pre-servação, escarpas e outras sem utili-zação e 500 mil estão ocupados porcidades, vilas, estradas e utilizações

Até 2010 todos os reflorestamen-tos no Sul do Brasil serão exclusiva-mente para atender à demanda dasgrandes empresas; não haverá exce-dentes para venda de toras no merca-do.

O Estado de Santa Catarina, em9,5 milhões de hectares, tem apenas 3

Criada a Câmara Setorial da Madeira no CDRural

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o apoio de todos os setores da adminis-tração estadual e com a parceria deprefeituras, cooperativas, sindicatos,empresas e entidades representati-vas dos agricultores.

Para viabilizar as metas do Pro-grama, o atual governo já estabe-leceu os recursos para os quatro anosdesta administração, conforme Tabe-la 1.

Participarão do Programa a Secre-taria de Agricultura, através da EPA-GRI, CIDASC e ICEPA, a Secretariado Desenvolvimento Urbano e do MeioAmbiente, através da FATMA, a Se-cretaria da Fazenda e a Secretaria doDesenvolvimento Tecnológico. O su-porte financeiro será dado pelos ban-cos BESC, BRDE e BADESC. Partici-pam do Programa todas as institui-ções integrantes da Câmara Setorialde Florestas, já citadas, e a Comissãode Agricultura da AssembléiaLegislativa.

Piloto

A título de Programa Piloto para

1995, primeiro ano do Programa,foram selecionados 20 municípios,já com os convênios assinados,em cujo território serão plantadosos primeiros 3.000ha de flores-tas, a saber: Itapiranga, São José doCedro, Guaraciaba, São Miguel doOeste, Caibi, Pinhalzinho, Caxam-bu do Sul, Concórdia, Ipira, Ouro,Joaçaba, Campos Novos, Mafra,Urupema, Ituporanga, Indaial, NovaTrento, Sangão, Grão Pará e Cane-linha.

Os produtores serão selecionadospelo Conselho Municipal de Desen-volvimento Rural e receberão,obrigatoria-mente, um treinamentode capacitação antes de plantar a pri-meira árvore. A assistência técnicaserá de responsabilidade da EPAGRIe de técnicos da iniciativa privada porela treinados. Ainda neste mês dejunho, os técni-cos dos 20 municípiospioneiros serão treinados em dois lo-cais: Concórdia e Itajaí.

A fiscalização do Programa tam-bém foi entregue à EPAGRI.

Governo voltadopara o florestal

Duas providências, nestes últimosdias, caracterizam o atual governocomo grande interessado pela ques-tão florestal: a constituição da Câma-ra Setorial de Florestas no Conselhode Desenvolvimento Rural junto àSecretaria de Estado do Desenvolvi-mento Rural e da Agricultura e olançamento do Programa Catarinensede Desenvolvimento Florestal, em pa-lácio, pelo governador do Estado.

A Câmara Setorial é um ramo doConselho de Desenvolvimento Ruralcom atribuição de formular e acompa-nhar a execução de uma política flo-restal, tendo como seus membros umrepresentante de cada um dos seguin-tes organismos: Secretaria da Agri-cultura, EPAGRI, CIDASC, InstitutoCEPA, IBAMA, UFSC, SEDUMA,Federação Catarinense dos Municípi-os, FATMA, FETAESC, FAESC,OCESC, Movi-mento dos Trabalha-dores Rurais Sem Terra, SEBRAE,Associação Catarinense deReflorestadores, FIESC, Sindicato daIndústria da Erva Mate e Associaçãodos Engenheiros Flores-tais.

Programa

O Programa Catarinense de De-senvolvimento Florestal, lançado pelogovernador no último dia 8 de junho,como parte das comemorações da “Se-mana do Meio Ambiente”, conta com

Tabela 1 - Recursos para os quatro anos do Programa

Área a ser MontanteAno subvencionada de R$

(ha) Município Estado (incentivos)

1995 3.000 25 75 600.000,00

1996 7.000 33 66 1.400.000,00

1997 12.000 33 66 2.400.000,00

1998 20.000 50 50 4.000.000,00

Nota: Até 2015 serão implantados 580 mil hectares com incentivos aos produtores.

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Participação(%)

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Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995 33

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

O IBAMA e a pindaíbaO IBAMA e a pindaíbaO IBAMA e a pindaíbaO IBAMA e a pindaíbaO IBAMA e a pindaíbaEm Nova Stetin, interior de Ibirama,

um senhor de 61 anos de idade possui40ha de mata nativa, 40% da área plan-tada por ele mesmo a partir de sementese, por isso mesmo, grande colaborador

das pesquisas florestais, sem contudopoder usufruir de nada. E sua vida é muitocomedida, pois sua única renda é um sa-lário mínimo que recebe como aposentadorural. Seu nome: Waldemar Geis-ler, umapaixonado pelas florestas, como ele mes-mo faz questão de definir-se.

Na mata nativa que serve de moldurapara uma antiga casa, onde mora com aesposa, Waldemar encontra araribá (quenão tinha, foi plantado por ele) pau-óleo,canelas, garuva, baguaçu, sucurujuva, pau-jacaré, peroba, sassafrás, angelin,palmiteiro, louro, picuíba, pindabuna,timbaúva, canjarana, tarumã, caroba, ce-dro, garajuva e a famosa pindaíva oupindaíba, que serve como sinônimo dedificuldade financeira em ditados popu-lares em todo o Sul do Brasil.

“Essa (Waldemar aponta para apindaíba) é um símbolo de como eu vivoaqui”, diz. A sua queixa contra o IBAMAé a existência de uma “lei burra que proíbea retirada das árvores maduras, em fasede decrepitude, impedindo que dezenasde outras mais novas tenham espaço paracrescer também.”

Waldemar bate ao peito e garante que

ninguém melhor do que ele poderia de-fender essa tese. “Eu não destruo; euplanto, conservo, acompanho as árvores,converso com elas, mas vejo muitas delasmorrendo e pedindo: me tirem daqui,quero abrir espaço para minhas filhas,que nascem ao meu redor, mas que nuncachegarão a ser árvores se não houver umaabertura para que cresçam”, desabafa.

Para o engenheiro agrônomo Eucli-des Kirchner, do programa de Micro-ba-cias da EPAGRI, em Ibirama, e tambémconservacionista por excelência, um dosmales do legislador brasileiro é liberartudo ou proibir tudo. “Nossas leis sãofeitas não para corrigir com base narealidade; são feitas visuali-zando o quese quer que aconteça no futuro. Por isso,prejudicam quem as quer respeitar epermite a fraude por aqueles que jamaisrespeitam lei alguma”, diz ele.

Waldemar denuncia que com todo origor da lei, tem gente levando a serrariapara dentro do mato, serrando às escon-didas e transportando a madeira benefi-ciada à noite para lugares incertos. “En-quanto isso, eu fico na pindaíba”, queixa-se.Waldemar Geisler sem poder aproveitar

as árvores que caem

A produção diversificada de hor-taliças é uma atividade tipicamentede pequeno olericultor que utilizaintensamente a área, geralmentelocalizada próxima aos grandes cen-tros consumidores. O plantio de hor-taliças na mesma área, aliado àssucessivas e inadequadas adubações,juntamente com o manejo incorretodo solo, têm levado os produtores aaumentarem o custo de produção,com insumos, além de obterem bai-

Sistemas de rota-Sistemas de rota-Sistemas de rota-Sistemas de rota-Sistemas de rota-ção para hortaliçasção para hortaliçasção para hortaliçasção para hortaliçasção para hortaliças

xa produtividade e qualidade dos pro-dutos.

A rotação de culturas, uma práticamilenar esquecida nos dias atuais, écitada na literatura como uma dasmedidas mais eficientes no sentido dereduzir principalmente a ocorrênciade doenças e pragas e, em conseqüên-cia, diminuir o uso de agrotóxicos e osriscos ao meio ambiente. Esta práticapode ser definida como o sistema dealternar em um mesmo terreno vári-as culturas em uma seqüência deacordo com um plano pré-definido.Para estabelecer os sistemas de rota-ção levaram-se em consideração al-guns princípios, tais como: utilizarhortaliças com importância econômi-ca; não empregar espécies pertencen-tes à mesma família botânica; alter-nar espécies mais exigentes com es-pécies menos exigentes em nutrien-tes e com sistemas radiculares dife-

rentes; e utilizar espécies que forne-çam material (cobertura morta) or-gânico alternadas com outras quefavoreçam a decomposição destematerial.

O projeto, com duração de dezanos, foi implantado na Estação Ex-perimental de Urussanga EPAGRI-Administração Regional do SulCatarinense, em agosto/94, no soloda unidade de mapeamento Morro daFumaça (Po-dzólico vermelho-ama-relo cascalhen-to). As culturas inte-grantes dos di-versos sistemas são:tomate/feijão de vagem, cenoura/alface/repolho, beterraba/batata-doce/aveia e moran-ga/milho verde/mucuna, testadas sem e com um,dois e três anos de rota-ção.

Pesquisadores da EPAGRI, Anto-nio Carlos Ferreira da Silva, IdelsonJosé de Miranda e Darci AntonioAlthoff, são os executores deste tra-balho, que é financiado pelo ProjetoMicrobacias/BIRD.

PESQUISA EM

ANDAMENTO

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34 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

NOVIDADES DE

MERCADO

ManualManualManualManualManualsobre raiossobre raiossobre raiossobre raiossobre raios

A Belgo Mineira acaba deeditar o “Manual de proteção decercas e currais contra raios”,um guia prático para evitar osriscos que eles causam às pesso-as, animais e às instalações emgeral. O manual foi elaboradopor técnicos da empresa e doLaboratório de Extra Alta Ten-são da Universidade Federal deMinas Gerais. As duas institui-ções conseguiram, com sucesso,traduzir, de maneira prática esimples, um fenômeno comple-xo que, no Brasil, ocorre geral-mente com as chuvas.

O Brasil recebe boa partedos 360.000 raios que a cadahora caem sobre a terra. Árvo-res, torres de igrejas, antenas detelevisão e edifícios são os pon-tos que primeiro absorvem osraios. O manual traz uma sériede perguntas e respostas quedesvendam os mistérios e as len-das criados em torno do fenôme-no. Na sua última parte, apre-senta sugestão de como prote-ger cercas e currais e de comofazer aterramentos, evitando-se os danos que os raios causamàs propriedades.

Outras informações o leitorda Agropecuária Catarinensepoderá obter diretamente com aBelgo Mineira pelo telefone(031)217-4281 em Belo Horizon-te, ou pelo telefone (0474)33-4287 em Joinville (SC).

Nova revistaNova revistaNova revistaNova revistaNova revistaagrícolaagrícolaagrícolaagrícolaagrícola

Foi lançada, em maio último,em Ribeirão Preto (SP), umanova revista para o setor agríco-la. Trata-se da revistaAgromarket, destinada espe-cialmente ao agribusiness brasi-leiro; é a primeira revista nomercado sobre este assunto. Oconceito de agribusiness englo-ba todo o sistema de produção ede distribuição de alimentos efibras.

A Agromarket tem perio-dicidade bimestral e sua tirageminicial é de 10.000 exemplares.

Sua distribuição será por mailinge por assinaturas. A revista terásempre uma matéria sobre o per-fil de personalidades, reportagensde empresas, meio ambiente, eco-nomia, análises e estratégias demarketing, desenvolvimento re-gional, lançamentos, serviços eoutros temas ligados aosagribusiness.

A revista Agropecuária Ca-tarinense congratula-se com suamais nova coirmã e deseja suces-so aos seus empreendedores. Aosque desejarem maiores informa-ções, sobre esta nova revista, su-gerimos manter contato atravésdo telefone (011)821-9915, ou en-dereçar suas cartas para a RuaFunchal 513, 3o andar, CEP 04551-060, Vila Olímpia, São Paulo.

TTTTTomatesomatesomatesomatesomatesque duramque duramque duramque duramque duram

maismaismaismaismais

A Asgrow Sementes trouxeuma novidade para o mercadobrasileiro: são os tomates extra--firmes, ou de duração mais pro-longada na pós-colheita. Com fru-tos tipo caqui, grandes, alto poten-cial produtivo, plantas de portedeterminado e múltipla resistên-cia a doenças, este novo tomatedifere por retardar o processo dedeterioração, além de ser maisresistente ao transporte. Com isso,possibilita a redução das perdasque ocorrem na cadeia decomercialização, a qual se iniciana colheita e termina na mesa doconsumidor. “Com mais frutos emenor perda, os extra--firmeschegam ao mercado como umaopção muito atraente”, afirma oengenheiro agrônomo CarlosAlberto Martins Tavares, respon-sável pela introdução de novosprodutos no Brasil. Eles foramdesenvolvidos pelo Programa deMelhoramento Genético daAsgrow nos Estados Unidos e tes-tados durante dois anos na Esta-ção Experimental da Asgrow emPaulínia (SP), com excelentes re-sultados.

Maiores informações, o leitorda Agropecuária Catarinensepode obter diretamente na Asgrowpelos telefones (0192)52-0555(Campinas) ou (0192)74-3116(Paulínia), ou ainda pelo telefone

(0192)58-2066 (Portal Comunica-ção Integrada).

HerbicidaHerbicidaHerbicidaHerbicidaHerbicidasistêmico desistêmico desistêmico desistêmico desistêmico de

ação totalação totalação totalação totalação total

A Zeneca Agrícola, uma daslíderes mundiais do mercado dedefensivos agrícolas, acaba de lan-çar no Brasil o Zapp , um novoherbicida sistêmico de ação total.Será comercializado e embala-gens de um e de cinco litros. O

produto faz parte de uma novageração de herbicidas totais, ofe-recendo resultados mais rápi-dos e eficazes no combate àservas daninhas que prejudicama lavoura. Possibilita, também,oferecer programas de trata-mentos adequados a cada situa-ção.

O Zapp é indicado para usonas culturas de soja, milho, tri-go, arroz, cana-de-açúcar, ci-trus, uva, banana e rosas. Foidesenvolvido para combater to-dos os tipos de ervas daninhas.Pode ser adquirido nos mais de300 pontos de venda Zeneca es-palhados por todo o país.

A Ciba acaba de lançar nomercado veterinário uma novaapresentação do seu tradicionalproduto Ectoplus. Trata-se deEctoplus pour-on , que temcomo principal característica arapidez e a facilidade da aplicação“pour-on”.

Por se tratar de uma associa-ção de cipermetrina (piretróide)com trichorfon (fosfatado),Ectoplus pour-on controla si-multaneamente carrapato, bernee mosca-do-chifre, com uma úni-

ca aplicação. O Ectoplus pour--on possui “efeito choque”, ouseja, o gado fica limpo mais rapi-damente. A sua ação residual éprolongada, o que permite ummaior espaçamento entre trata-mentos.

O leitor da Agropecuária Ca-tarinense que tiver interesse emreceber maiores informações so-bre este produto poderá dirigir-se ao Departamento Técnico daCiba, pelo telefone (011)532-7327.

Ectoplus em nova apresentaçãoEctoplus em nova apresentaçãoEctoplus em nova apresentaçãoEctoplus em nova apresentaçãoEctoplus em nova apresentação

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

Potencial fertilizante do esterco líquido de suí-Potencial fertilizante do esterco líquido de suí-Potencial fertilizante do esterco líquido de suí-Potencial fertilizante do esterco líquido de suí-Potencial fertilizante do esterco líquido de suí-nos da região Oeste Catarinensenos da região Oeste Catarinensenos da região Oeste Catarinensenos da região Oeste Catarinensenos da região Oeste Catarinense

Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera eLourenço Francisco Xavier Dias

suinocultura constitui-se em im-portante fator do desenvolvimen-

to econômico do Estado de Santa Ca-tarina, mas também pode, devido aomanejo inadequado dos efluentes, tor-nar--se um problema ambiental rele-vante. No Oeste do Estado, principalregião produtora de suínos, grandeparte dos mananciais de água encon-tram-se seriamente comprometidos,em termos de qualidade de água, prin-cipalmente devido ao lançamento di-reto do esterco nas águas superficiais,sem o devido tratamento. Estudosindicam que 80% dos mananciais deágua do território catarinense encon-tram-se seriamente comprometidosem decorrência da degradação ambi-ental (1).

O potencial de poluição do estercode suínos é muito grande. Com umaDemanda Química de Oxigênio (DQO)superior a 30.000mg/litro, o estercolançado na água pode reduzir a quan-tidade de oxigênio dissolvido nas águasa valores inferiores às necessidadesda fauna aquática e provocar a mortede peixes e outros seres vivos. Alémdisso, a presença de substâncias orgâ-nicas putrescíveis pode gerar odoresdesagra-dáveis, tornando as águas im-próprias para fins de abastecimentoou lazer.

Nota-se, porém, que a conscienti-zação do produtor e da indústria e oconseqüente interesse em coletar ereci-clar o esterco de suínos na propri-edade está aumentando, sendo hojebem maior do que era antes. Contudo,muitas vezes ainda é preciso provarpara o produtor as vantagens econô-micas e sociais que a reciclagem doesterco traz para si e para a sociedadecomo um todo.

Resultados de pesquisa indicam queo esterco de suínos constitui um óti-

mo fertilizante e pode substituir parteou, em determinadas situações, total-mente a adubação química (2 e 3).Hoje em dia, uma boa parte dos suino-cultores mais receptivos à tecnologiajá faz uso da adubação com esterco,porém, a maior parcela, ainda despro-vida de um sistema adequado de cole-ta e manejo dos resíduos na proprie-dade, não utiliza essa fonte de nutri-entes.

Com este trabalho visou-se carac-terizar a qualidade fertilizante e ascondições de manejo do esterco líqui-do de suínos nas propriedades da re-gião Oeste do Estado de Santa Catarina.

Metodologia

A pesquisa foi realizada no ano de1994, em oito municípios da regiãoOeste do Estado de Santa Catarina:Campo Erê, Chapecó, Cunha Porã,Guaraciaba, Novo Horizonte, São Lou-renço do Oeste, Saudades e Seara.Foram coletadas um total de 118 amos-tras de esterco líquido de suínos, sen-do 78 de esterqueiras comuns, comalimentação contínua e, 40 de bioes-terqueiras. É definida como bioes-terqueira aquela estrutura com doiscompartimentos (câmaras) interliga-dos, sendo um menor de entrada efermentação do esterco e outro maiorque serve para armazenar o produtoestabilizado. Nestas esterqueiras fo-ram coletadas duas amostras, uma nacâmara de fermentação (CF) e outrana câmara de armazenamento (CA).

Das 98 amostras coletadas, 35 eramprovenientes de esterqueiras de cria-ções com ciclo completo, 30 de cria-ções de terminação e 33 de criações dematernidade.

Por ocasião da coleta das amostrasa campo, foram também tomadas in-

formações junto aos produtores sobreo manejo do esterco na propriedade.

Antes de cada coleta procurou-sehomogeneizar bem o esterco daesterqueira, tomando-se uma ou maisamostras de 1 litro a uma profundida-de aproximada de 1m. As amostrasforam colocadas em frascos depolipropileno e acondicionadas em cai-xa de isopor com gelo e mantidas auma temperatura inferior a 10oC. Ain-da no mesmo dia, as amostras foramarmazenadas a uma temperatura in-ferior a zero grau.

No dia da análise, as amostrasforam degeladas, tomando-sealíquotas de 2ml para cada uma dasseguintes determinações analíticas:

• Concentração de N-total - diges-tão/Kjeldahl.

• Concentração de N-amoniacal -Kjeldahl.

• Concentração de P-total - diges-tão.

• Concentração de P-mineral - ex-tração com água.

• Concentração de K-total - diges-tão.

• pH do liquame - lido diretamentena amostra inicial.

Resultados

Na maioria das propriedades, oprincipal problema detectado foi o des-perdício de água na criação, acarre-tando um escorrimento quase quecontínuo dessa água para o depósitode armazenamento, resultando numagrande diluição do esterco armazena-do. Embora em menor escala, outrosproblemas detectados foram a entra-da de água do telhado das construçõesnas canaletas de coleta do esterco e ainfiltração de água no depósito, causa-da pela falta de drenagem da área que

A

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

o circunda.Cabe destacar que 76% das

esterqueiras amostradas tinham co-bertura. Contudo sabe-se que a entra-da direta de água da chuva no depósitonão constitui um problema maior,pois a precipitação é, em parte, com-pensada pela maior evaporação nosistema aberto.

Outro fator verificado foi a relaçãonúmero de animais e a capacidade dearmazenamento de esterco de cadapropriedade. Um mau dimensiona-mento da esterqueira constitui umproblema que se reflete diretamentesobre o processo de fermentação doesterco e poluição ambiental pelo mes-mo.

Agrupando-se os produtoresamostrados em três classes - peque-nos, com menos de 100 cabeças; médi-os, de 100 a 200 cabeças e grandes,com mais de 200 cabeças de animais- verificou-se que 42% poderiam serconsiderados pequenos, 35% comomédios e 23% como grandes produto-res.

Os dados levantados indicaram quea capacidade de armazenamento doesterco varia com o tamanho da cria-ção. Foi encontrada uma relaçãoesterqueira/animal média de 0,91, 0,44e 0,27m3 para pequenos, médios egrandes produtores, respectivamen-te (Tabela 1).

Tomando-se como referência umanecessidade média de 0,25m3/suíno/mês, pode-se inferir que as proprieda-des com menor número de animaistêm uma maior capacidade relativade estocagem do esterco do que aque-las com maior número de animais.Produtores com menos de 100 ani-mais têm uma capacidade média deestocagem de 110 dias, enquanto queaqueles com mais de 200 animais têmuma capacidade média de somente 32dias, ficando a classe intermediáriacom uma capacidade de estocagem de53 dias.

Teoricamente, essa diferenciaçãona capacidade de armazenamentoentre as propriedades poderia consti-tuir um fator relevante. Porém, ten-do em vista que grande parte dosprodutores com maior número deanimais tem seus próprios equipa-mentos para a aplicação do esterco eque os pequenos dependem de tercei-

ros para o transporte e aplicação doesterco, o efeito desse fator éminimizado. Cabe ressaltar que amaioria dos pequenos produtores de-pende do sistema de transporte deadubo da prefeitura ou da cooperati-va. Por isso, o adequado dimensio-namento da esterqueira, em funçãodo tamanho e tipo de criação, sistemade transporte e de aplicação, deve serpreocupação de todos os produtores,pois um inadequado aproveitamentodo esterco e, sobretudo, qualquer der-rame da esterqueira, traz sérios da-nos ambientais.

Qualidade do esterco

Para avaliação da qualidade fertili-zante do esterco foram utilizados so-mente os dados das amostras de ester-queiras comuns e das câmaras dearmazenamento das bioesterqueiras.

A distribuição de freqüência dasamostras de esterco quanto ao teor dematéria seca é apresentada na Figura1. Observa-se que quase 50% das amos-

tras analisadas apresenta menos de2% de matéria seca. Isto fez com quea média final do teor de matéria secadas 98 amostras analisadas ficasse em3%, valor bastante baixo em relaçãoàquele da Tabela da ROLAS (4), queserve de base para recomendação deadubação orgânica.

No geral, as amostras com baixoteor de matéria seca também têmuma baixa concentração de nutrien-tes. A distribuição de freqüência dasoma da concentração de nutrientesNPK mostra que a grande maioriadas amostras faz parte das classesmais baixas (Figura 2). Aproximada-mente 27% das amostras sequer che-gam a ter 3kg de nutrientes por metrovolumétrico. O valor médio de 6,83kgde nutrientes por metro volumétrico(soma dos valores médios de 2,92kgde N, 2,37kg de P 2O5 e 1,54kg de K2O)é relativamente baixo, quando com-parado aos valores máximos alcança-dos, que chegaram a mais de 15kg denutrientes por metro volumétrico.

Os resultados analíticos das amos-tras de estercoanalisadas mos-traram uma gran-de diferenciaçãoentre os sistemasde criação, tantoem teor de maté-ria seca quanto emconcentração denutrientes NPK(Figura 3). As mai-ores concentra-ções de nutrientesforam observadasno esterco de sis-temas de termina-ção e os menoresteores naqueleproveniente dematernidade.

Tabela 1 - Capacidade de armazenamento do esterco da propriedade

Tamanho da Propriedades Relação ester- Capacidade decriação amostradas queira/animal armazenamento (A)

(animais) (%) (m3/cabeça) (dias)

< 100 42 0,91 110100 a 200 35 0,44 53> 200 23 0,27 32

(A) Calculado conforme recomendação de 0,25m3/animal/mês (1).

Figura 1 - Distribuição relativa de freqüências dasamostras de esterco quanto ao teor de matéria seca

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de fermentação, variando de 5,7 a 7,8,e mais elevados na câmara dearmazenamento, com uma amplitudede variação de 6,8 a 8,2, indicando quequanto maior for o grau de estabiliza-ção do liquame, maior o seu pH.

Diretamente relacionado com a va-riação do pH muda também o equilí-brio NH4 NH3, que poderá ter conse-qüências na perda de nitrogênio porvolatilização de NH 3. Com pH 7,5, porexemplo, menos do que 7% do nitro-gênio amoniacal encontra-se na for-ma de NH3, enquanto que com pH 9,3aproximadamente metade encontra-se nesta forma.

Normalmente, o pH do esterconão atinge valores tão elevados, por-que quando parte da NH3 é perdidapor volatilização, íons NH4 dissociampara NH3 e H+. O resultado dessadissociação é um decréscimo no pH eredução da taxa de volatilização.

Relação matéria seca com aconcentração de nutrientes

Foi observado que existe uma es-treita relação entre concentração denutrientes e teor de matéria seca noesterco. Os resultados das análises deregressão entre os teores de nitrogê-nio e de fósforo com o teor de matériaseca do esterco são apresentados nasFiguras 6 e 7. A distribuição dos pon-tos mostra que foi o modelo linearaquele que melhor se ajustou paraexplicar a dependência entre as refe-ridas variáveis.

Os coeficientes de determinação(r 2) de 0,74 para N e 0,71 para P(significância 1%) indicam que 74% davariação no teor de N e 71% no teor deP foram explicadas pelas funções ajus-tadas.

A existência de uma estreita rela-ção entre o teor de matéria seca comas quantidades de N e P presentes noesterco líquido tem sido constatadatambém por outros pesquisadores (5 e6).

Por outro lado, a função ajustada(Y = 0,74 + 0,2548X) para expressar adependência entre o teor de potássio(Y) e o teor de matéria seca (X) doesterco apresentou um coeficiente dedeterminação muito baixo (r2 = 0,28),

Nutrientes na forma mineral

Outro objetivo deste trabalho foide verificar a participação relativa dasduas formas de nutrientes, mineral eorgânica, na composição do esterco.Os resultados obtidos indicam queaproximadamente dois terços do ni-trogênio encontra-se na forma mine-ral (Figura 4). Constatou-se diferen-ças na relação entre diferentes for-mas de armaze-namento do esterco.Nas esterqueiras comuns, com ali-mentação contínua, 60% do nitrogê-nio encontra-se na forma mineral,enquanto que nas bioesterqueiras essevalor foi menor na câmara defermentação (52% de N-NH4) e maiorna câmara de armazenamento (70%

de N-NH4).Aproxima-

damente dois ter-ços do fósforo estánuma forma nãosolúvel em águapossivelmente fa-zendo parte de es-truturas orgâni-cas. Assim, apenasuma terça parte dofósforo estariaprontamente dis-ponível para asplantas, logo apóssua aplicação. Teoricamente,maiores quantida-des de nutrientesna forma mineral

beneficiam o seu aproveitamento ime-diato pelas plantas, enquanto que mai-ores quantidades de nutrientes naforma orgânica aumentam seu efeitoresidual no solo. Isto aplica-se, princi-palmente, para os íons nitrato, facil-mente lixiviado no solo, e fosfato,muito fortemente adsorvido peloscolóides do solo.

Deve-se, pois, realçar as vanta-gens reais que o esterco líquido temquanto ao suprimento de nutrientes,principalmente nitrogênio, em rela-ção a outras formas de resíduos orgâ-nicos, desde que seu uso se faça den-tro de um programa de manejo ade-quado.

pH do esterco

Na Figura 5estão representa-dos os valores depH, determinadosnas amostras deesterco líquido deesterqueiras co-muns e de bioes-terqueiras. Nasamostras de ester-queiras comuns opH médio foi de7,3 com uma am-plitude de varia-ção de 5,5 a 8,1.Nas bioester-quei-ras os valores depH foram maisbaixos na câmara

Figura 2 - Distribuição relativa de freqüências dasamostras de esterco quanto ao teor de nutrientes

Figura 3 - Teores de nutrientes (kg/m3) e de matériaseca (%) no esterco de suínos de maternidade,

terminação e ciclo completo

Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

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não satisfazendo a precisão mínimadesejada. Em parte isto é explicávelporque o potássio encontra-se quaseque na totalidade dissolvido na faselíquido do esterco, pois provém na suamaior parte da urina e não formacompostos orgânicos estáveis. Veri-ficou--se, no entanto, uma tendênciaclara de aumento da concentração depotássio com o aumento do teor demassa seca do esterco.

Isso significa que através da deter-minação do teor de matéria seca doesterco o produtor poderá ter uma boaestimativa da qualidade fertilizantedo esterco. Essa determinação podeser feita em nível de propriedade,bastando o produtor coletar uma amos-tra de esterco e fazer a pesagem domaterial antes e após sua secagem ao

sol ou estufa. Por diferença de peso,obtém-se o teor de umidade ou dematéria seca da amostra.

Conclusões

Os resultados analíticos das amos-tras de esterco líquido de suínos,coletadas na região Oeste de SantaCatarina, mostraram uma grande di-ferenciação entre os sistemas de cria-ção, tanto em teor de matéria secaquanto na concentração de nutrien-tes. As maiores concentrações de nu-trientes foram observadas no estercode unidades de terminação e de ciclocompleto e os menores naquele pro-veniente de esterqueiras de materni-dade. As diferenças foram expressivase indicaram que o esterco de materni-

dade, no geral, é de pior qualidade.Existe uma estreita relação entre

o teor de matéria seca do esterco comsua qualidade fertilizante, principal-mente, com as concentrações de ni-trogênio e fósforo.

Aproximadamente dois terços donitrogênio, um terço do fósforo e qua-se 100% do potássio encontram-se noesterco líquido de suínos na formamineral, isto é, numa forma pronta-mente assimilável pelas plantas.

Cabe destacar que 38% das amos-tras coletadas tinham menos de 5kg/m3 de nutrientes (N-P2O5-K2O) e, oque é mais grave, 27% do total dasamostras tinham menos de 3kg denutrientes por metro volumétrico deesterco e um teor de matéria secainferior a 1%, indicando que existemsomente vestígios de esterco. Nessecaso o produtor está armazenando ereciclando quase que exclusivamenteágua.

Evidenciou-se a necessidade ur-gente de uma maior conscientizaçãodos produtores quanto à adoção detécnicas de manejo do esterco, visan-do melhorar sua qualidade fertilizan-te. Não basta canalizar os efluentesda criação para um depósito e posteri-ormente distribui-los na lavoura. Oprodutor deve se conscientizar quetodo processo tem uma relação custo/benefício, que nesse caso, está direta-mente relacionada com a qualidadedo esterco armazenado. Por isso, oprodutor deve procurar obter um pro-

Figura 4 - Teor de N e P e participação da forma mineral(%) no conteúdo total do esterco de esterqueira comum

(EC) e das câmaras de armazenamento (CA) e defermentação (CF) de bioesterqueiras

Figura 5 - Valores de pH mínimo, médio e máximo noesterco de esterqueira comum e de bioesterqueiras

Figura 6 - Equação de regressão entre teor de nitrogêniototal e de matéria seca do esterco

Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

duto de melhor qualidade, controlan-do os principais fatores de degenera-ção da qualidade do esterco, como odesperdício de água na criação e aentrada de água do telhado das cons-truções nas canaletas de coleta ou nodepósito de armazenamento. Somen-te assim, o produtor poderá dispor deum adubo de melhor qualidade e al-cançar o retorno técnico e econômicodesejado.

Literatura citada

1. OLIVEIRA, P.A.V. Manual de manejo eutilização dos dejetos de suínos. Con-córdia: EMBRAPA-CNPSA, 1993. 188p.(EMBRAPA-CNPSA. Documentos, 27).

2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de.Esterco de suínos como fonte de nitro-gênio para milho e feijão da safrinha.Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.7, n.3, 25-28, 1984.

3. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de.;JUCKSCH, I.; NADAL, R. de. Efeito daadubação com esterco de suínos, nitro-gênio e fósforo em milho. Florianópolis:EMPASC, 1984. 26p. (EMPASC. Bole-tim Técnico, 24).

4. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.:TASSINARI, G.: ANGHINONI, I.;PATELLA, J.F.; TEDESCO, M.J.;MILAN, P.A.; ERNANI, P.R. Recomen-

dações de adubação e calagem para osEstados do Rio Grande do Sul e SantaCatarina . Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1987. 100P.

5. BERTRAND, M.; ARROYO, G. Methoderapide de appreciation de la valeur fer-tilizante des lisiers de porcs. Rennes:CEMAGREF, 1984. p.21-33.(CEMAGREF. Bulletin, 321).

6. AITA, C. Principais transformações donitrogênio de resíduos orgânicos nosolo. Chapecó: EMPASC, 1987. 14p.Mimeografado.

Eloi Erhard Scherer, Eng. agr., Ph.D., Cart.Prof. no 9.622-D, CREA-SC, EPAGRI - Cen-tro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax(0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC,Ivan Tadeu Baldissera, Eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. no 58.479-D, CREA-RS, EPAGRI- Centro de Pesquisa para Pequenas Propri-edades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SCe Lourenço Francisco Xavier Dias , Eng.agr., Cart. Prof. n o 26.327-D, CREA-RS,EPAGRI - Administração Regional do OesteCatarinense, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.

Figura 7 - Equação de regressão entre teor de fósforototal e de matéria seca do esterco

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

Método rápido para determinação da qualidadeMétodo rápido para determinação da qualidadeMétodo rápido para determinação da qualidadeMétodo rápido para determinação da qualidadeMétodo rápido para determinação da qualidadefertilizante do esterco líquido de suínos a campofertilizante do esterco líquido de suínos a campofertilizante do esterco líquido de suínos a campofertilizante do esterco líquido de suínos a campofertilizante do esterco líquido de suínos a campo

radicional fonte de nutrientes, oesterco animal é pouco utilizado

no Brasil. Merece destaque a grandedisponibilidade de esterco de suínosna região Oeste do Estado de SantaCatarina, que, na sua maior parte,ainda não é adequadamente utilizadocomo fertilizante.

A reciclagem do esterco como fer-tilizante na propriedade, além de serecologicamente desejável, mostrou-se agronomicamente viável (1 e 2).Contudo, nem sempre pode trazer oretorno econômico desejado. Istoporque a qualidade fertilizante do es-terco líquido deixa muitas vezes adesejar, pelo excesso de água em suacomposição (3).

No Estado de Santa Catarina, apesquisa com aproveitamento de es-terco de suínos como fertilizante vemsendo desenvolvida pelo Centro dePesquisa para Pequenas Proprieda-des - CPPP/EPAGRI, desde o inícioda década passada, com repasse deseus resultados aos produtores ao lon-go desses anos.

Com base em resultados analíticosde amostras de esterco de suínoscoletadas na região Oeste de SantaCatarina, foi elaborada, em 1987, umatabela com teores médios de nutrien-tes, servindo de base para recomen-dação de adubação com esse resíduo(4). Porém, é sabido que uma reco-mendação baseada em teores médiosé pouco precisa, pois, dependendo dosistema de criação, coleta e armaze-namento do esterco, o valor fertili-zante pode variar grandemente (3).Por isso, para a adoção de critérios

técnicos e econômicos para uma utili-zação racional do esterco, se faz ne-cessário a determinação analítica doproduto disponível em cada proprie-dade.

Recentemente, por ocasião da im-plantação do programa estadual demanejo do solo e da água em microba-cias, a falta de uma metodologia prá-tica para determinar a qualidade doesterco, nas propriedades, voltou aser enfatizada.

Por sua vez, os métodos analíticosutilizados na determinação dos nutri-entes do esterco em laboratório são,em geral, bastante trabalhosos, re-querendo cuidados especiais no pre-paro das amostras e no processo ana-lítico. Além disso, o processo de enviodas amos-tras ao laboratório requercertos cuidados especiais com o con-trole da temperatura, que poderá ace-lerar o processo de fermentação doesterco após sua coleta, aumentandoa degradação dos compostos orgâni-cos e desvirtuando o resultado analíti-co da amostra.

Em função disso, raros são osprodutores que encaminham amos-tras de esterco para o laboratório etêm noção da qualidade fertilizante doproduto que estão aplicando na lavou-ra.

Levando em consideração essesaspectos, e com base em trabalhosdesenvolvidos em outros locais, como,por exemplo, na Bretagne, França (5),tentou-se adaptar uma metodologiaque possibilitasse a determinação, comboa precisão, da qualidade fertilizantedo esterco líquido de suínos, em nívelde propriedade.

Estudo de calibração

Um estudo preliminar com amos-tras de esterco de suínos coletadas naregião Oeste do Estado e trabalhosdesenvolvidos em outros países mos-traram que existe uma relação entreo teor de matéria seca do estercolíquido e a concentração de nutrien-tes neste. Além disso, alguns estudosmostraram que também é possível,através da determinação da densida-de (peso/volume) do esterco líquido,obter uma boa estimativa do teor dematéria seca e, indiretamente, do teorde nutrientes do esterco (5).

Com base nessas pesquisas procu-rou-se adaptar a metodologia e fazeruma calibração para as condições lo-cais. No presente estudo foram apro-veitadas as 118 amostras de esterco eos resultados analíticos de outra pes-quisa (3), determinando-se comple-mentarmente a densidade e a tempe-ratura das mesmas.

A determinação da densidade deuma amostra de esterco líquido é umprocedimento fácil e rápido. Bastadispor-se de um densímetro com esca-la de 1.000 a 1.100g/litro, uma provetade 500ml ou outro frasco com nomínimo 30cm de altura e vasilhamespara coletar e preparar as amostras.

Como coletar as amostras

O primeiro passo e, talvez, o maisimportante, é obter uma amostra re-presentativa do volume de estercoarmazenado. Para isso, torna-se ne-cessário, antes da coleta, fazer uma

T

Eloi Erhard Scherer, Ivan Tadeu Baldissera eLourenço Francisco Xavier Dias

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

Figura 2 - Regressão linear entre nitrogênio total edensidade do esterco

Figura 1 - Equação de regressão para matéria seca, em relação àdensidade do esterco líquido

perfeita homogeneização do materialarmazenado, coletando a seguir umaou mais amostras representativaspara análise. Outra alternativa que oprodutor tem é a coleta de amostraspor ocasião de sua distribuição nalavoura, permitindo uma avaliaçãomais precisa da qualidade do produtoefetivamente aplicado.

Como proceder a leitura dadensidade do esterco

Após a retirada da amostra daesterqueira e antes de ser colocada nofrasco de leitura, ela deverá ser bemhomogeneizada. O densímetro deve,então, ser imerso no líquido. Obser-var até onde o densímetro imerge eanotar o valor da escala. Com a tabelade conversão pode-se determinar opercentual de sólidos e nutrientesnele contidos.

Quando se tratar de um estercomais pastoso, com teores excepcio-nalmente altos de matéria seca (aci-ma de 10%), o densímetro poderáperder sua precisão de leitura. Nessecaso, deve-se fazer uma nova medi-ção, observando o seguinte:

• Diluir o liquame na proporção1:1 com água, fazer uma boa homo-geneização da amostra e introduzirnovamente o densímetro. O valor lidona escala deve ser multiplicado pordois menos a densidade da água: den-sidade do liquame = (leitura x 2) -1.000.

Cabe enfatizar novamente que, an-tes de qualquer procedimento de cole-ta ou análise, o produtor ou técniconão deve esquecer nunca dehomogeneizar bem o liquame, já queos componentes do esterco líquido sãobastante heterogêneos.

Resultados obtidos

A partir dos resultados analíticosobtidos foram calculadas equaçõesde regressão, que permitissem esti-mar o teor de matéria seca e a con-centração de nutrientes em funçãoda densidade lida no esterco in na-tura.

O densímetro utilizado com escalade 1.000 a 1.100g/litro possibilitou amedida precisa da densidade das amos-tras de esterco de suínos na faixa de

1.001 a 1.040g/litro. Acima desse va-lor, para obter uma leitura mais pre-cisa, é conveniente fazer-se uma dilui-ção do esterco com água, como descri-to anteriormente.

A análise de regressão entre o teorde matéria seca e a densidade doesterco mostra uma relação linear,que explica 96% (r2 = 0,96) da variaçãoobservada (Figura 1).

As Figuras 2 e 3 apresentam a dis-persão de pontos e as regressões ajus-tadas, para expressar as dependênci-as entre densidade e teor de nitrogê-nio total e entre densidade e teor defósforo total.

A análise dos dados mostra umarelação linear en-tre os referidos nu-trientes e a densi-dade lida. Comoexiste uma estrei-ta relação entre adensidade e o teorde matéria seca eentre o teor destae a concentraçãode nutrientes, te-oricamente essasrelações poderiamser esperadas. Oscoeficientes de de-terminação obti-dos foram seme-lhantes àquelesverificados entrematéria seca econcentração denutrientes em ou-tra pesquisa (3), ouseja, os melhoresajustes foram ob-tidos para nitrogê-nio (r2 = 0,84), se-guido de fósforo (r2

= 0,73), ficando opotássio com umcoeficiente de de-terminação de0,41, que explicaapenas 41% da va-riação observada,em último (Figu-ra 4). Isso é expli-cável porque amaior parte do po-tássio encontra-sedissolvida na faselíquida do esterco.Nesse caso, o mé-

todo deixa a desejar.Na estimação da fração mineral de

nitrogênio e fósforo o método dodensímetro não é tão eficiente, embo-ra os índices de determinação de 0,57para o nitrogênio amoniacal e 0,60para o fósforo mineral, em função dogrande número de amostras analisa-das, ainda possam ser consideradossatisfatórios.

Recomendações

Visando fornecer subsídios aos téc-nicos e produtores para um melhoraproveitamento do esterco líquido de

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42 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

Tabela 1 - Estimativa dos teores de matéria seca (MS), N-total, P2O

5-total, K

2O-total, N-mineral e P

2O

5-mineral

no esterco líquido de suínos, em função da sua densidade(A)

Densi- MS N-t P2O5-t K2O-t N-m P2O5-mdade(kg/m3) (%) kg/m3

1.002 - 0,68 0,22 0,63 0,63 0,191.004 0,27 0,98 0,52 0,75 0,78 0,271.006 0,72 1,29 0,83 0,88 0,94 0,361.008 1,17 1,60 1,14 1,00 1,09 0,441.010 1,63 1,91 1,45 1,13 1,25 0,531.012 2,09 2,21 1,75 1,25 1,40 0,611.014 2,54 2,52 2,06 1,38 1,56 0,691.016 3,00 2,83 2,37 1,50 1,71 0,781.018 3,46 3,13 2,68 1,63 1,87 0,861.020 3,91 3,44 2,99 1,75 2,02 0,951.022 4,37 3,75 3,29 1,88 2,18 1,031.024 4,82 4,06 3,60 2,00 2,33 1,121.026 5,28 4,36 3,91 2,13 2,49 1,201.028 5,74 4,67 4,22 2,25 2,64 1,291.030 6,19 4,98 4,53 2,38 2,80 1,371.032 6,65 5,28 4,84 2,50 2,95 1,461.034 7,10 5,59 5,14 2,63 3,11 1,541.036 7,56 5,90 5,45 2,75 3,26 1,621.038 8,02 6,21 5,76 2,88 3,42 1,711.040 8,47 6,51 6,05 3,00 3,57 1,791.042 8,97 6,82 6,38 3,13 3,73 1,881.044 9,39 7,13 6,68 3,25 3,88 1,961.046 9,84 7,43 6,97 3,38 4,04 2,051.048 10,30 7,74 7,27 3,50 4,19 2,131.050 10,75 8,05 7,58 3,63 4,35 2,221.052 11,21 8,36 7,89 3,75 4,50 2,301.054 11,67 8,66 8,19 3,88 4,66 2,391.056 12,12 8,97 8,50 4,00 4,81 2,471.058 12,58 9,28 8,81 4,13 4,97 2,561.060 13,03 9,59 9,12 4,25 5,12 2,64

(A) Densímetro (aerômetro) ARBA com valores entre 1.000 a 1.100kg/m3.Nota: Valores calibrados para amostras com temperatura entre 15 e 20oC.

Figura 3 - Regressão linear entre fósforo total edensidade do esterco líquido

Figura 4 - Regressão linear entre potássio e densidade do estercolíquido

suínos, através da determinação rápi-da da qualidade fertilizante do produ-to, foi elaborada uma Tabela Básicade Conversão, com base na mediçãoda densidade do liquame (Tabela 1).

Considerações finais

Os resultados obtidos validam ametodologia utilizada e indicam que ométodo do densímetro pode ser adota-do para estimar, no campo, o teor dematéria seca e as concentrações denutrientes no esterco líquido de suí-nos.

O método permite obter uma boaestimativa da quantidade de nutrien-tes no esterco líquido de suínos, pos-sibilitando equacionar doses em fun-ção da análise do solo e necessidadesda cultura. Um melhor conhecimentoda qualidade fertilizante, além de pos-sibilitar um adequado suprimento denutrientes para as plantas, evita aadição ao solo de nutrientes em quan-tidades superiores às necessidades dacultura, principalmente dos elemen-tos com maior mobilidade no solo,como o nitrogênio, que pode ser facil-mente lixiviado na forma de N-NO3.

Considerando uma produção mé-dia de 3,2m3 de esterco líquido porsuíno/ano, ter-se-ia em Santa Catarinauma produção anual superior a 10

milhões de metros cúbicos de dejetos,que transformados em adubo fornece-riam, anualmente, em torno de68.000t de NPK. Estima-se que dessetotal apenas 25% são aproveitados

como fertilizante, sendo o restantelançado diretamente nas águas su-perficiais, resultando em sérios pro-blemas ecológicos locais. Nesse parti-cular, uma determinação rápida da

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Adubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânicaAdubação orgânica

Esterqueira típica da região - construção emalvenaria com cobertura de telhas

Determinação da densidade doesterco líquido - utilização de uma

proveta ou frascos similar

Detalhes do densimetro e frascospara determinação da densidade

do esterco líquido

Densímetro utilizado na calibração dométodo

qualidade fertilizante do esterco, e defácil execução nas propriedades, po-derá contribuir para incentivar o apro-veitamento de uma grande parcela doesterco hoje ainda desperdiçado.

A participação do produtor na de-terminação da densidade e qualidadedo esterco é muito importante, poispoderá trazer uma maiorconscientização dos produtores, prin-cipalmente daqueles que têm proble-mas com a diluição do esterco, causa-

da pelo desperdício de água na criaçãoou entrada de água do telhado dasconstruções no depósito ou canaletasde coleta do esterco, tendo, por isso,um esterco de pior qualidade.

Cabe destacar que 38% das amos-tras coletadas na região Oeste do Es-tado têm menos de 5kg/m 3 de nutrien-tes (N-P2O5-K2O) e, o que é mais gra-ve, 27% do total das amostras analisa-das têm menos de 3kg de nutrientes/m3 de liquame, com menos de 1% dematéria seca, portanto, somente comvestígios de esterco.

Literatura citada

1. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de;JUCKSCH, I.; NADAL, R. de. Efeito daadubação com esterco de suínos, nitro-gênio e fósforo em milho. Florianópolis:EMPASC, 1984. 26p. (EMPASC. Bole-tim Técnico, 24).

2. SCHERER, E.E.; CASTILHOS, E.G. de;AITA, C. Utilização de esterco líquidode suínos como fonte de nitrogêniopara as culturas de milho e feijão.

Chapecó: EMPASC, 1986. 4p.Mimeografado.

3. SCHERER, E.E.; BALDISSERA, I.T.; DIAS,L.F.X. Potencial fertilizante do ester-co líquido de suínos da região OesteCatarinense. Agropecuária Catarinen-se, Florianópolis, v.8, n.2, p.35-39, jun.1995.

4. SIQUEIRA, O.J.F. de; SCHERER, E.E.;TASSINARI, G.; ANGHINONI, I.;PATELLA, J.F.; TEDESCO, M.J.;MILAN, P.A.; ERNANI, P.R. Recomen-dações de adubação e calagem para osestados do Rio Grande do Sul e SantaCatarina. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1987. 100p.

5. BERTRAND, M.; ARROYO, G. Méthoderapide de appreciation de la valeurfertilizante des lisiers de porcs. Rennes:CEMAGREF, 1984. p.21-33.(CEMAGREF. Bulletin, 321).

Eloi Erhard Scherer, Eng. agr., Ph.D., Cart.Prof. no 9.622-D, CREA-SC, EPAGRI - Cen-tro de Pesquisa para Pequenas Propriedades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877, Fax(0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC;Ivan Tadeu Baldissera, Eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. no 58.479-D, CREA-RS, EPAGRI- Centro de Pesquisa para Pequenas Propri-edades/CPPP, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SCe Lourenço Francisco Xavier Dias , Eng.agr., Cart. Prof. no 26.327-D, CREA-RS, EPA-GRI - Administração Regional do OesteCatarinense, C.P. 791, Fone (0497) 22-4877,Fax (0497) 22-1012, 89801-970 - Chapecó, SC.

Detalhes do densímetro: Marca ARBA, com escala de 1.000 a 1.100

Cabe esclarecer que o densímetro poderá ser encomendado pelo telefone(051) 336-1100 (Porto Alegre, RS) e, dependendo da quantidade a ser adquiri-da, custa de R$ 10,00 a R$ 12,00.

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

Figura 2 - Fêmea adulta de tripesda cebola

Foto: P

edro Boff

Controle do tripes da cebolaControle do tripes da cebolaControle do tripes da cebolaControle do tripes da cebolaControle do tripes da cebolaPaulo Antonio de Souza Gonçalves e Djalma Rogério Guimarães

o Brasil a principal praga da cul-tura da cebola é o tripes, Thrips

tabaci, Lindeman, 1888, (1) ou piolho,como é popularmente conhecido emSanta Catarina.

O reconhecimento da praga no cam-po a olho nu é dificultado, pois osinsetos tanto na fase jovem comoadulta são pequenos (em torno de1mm de comprimento) e alojam-se naparte interna das folhas na região dabainha (1). Uma das principais carac-terísticas para diferenciar as ninfas(fase jovem, Figura 1) dos adultos éque estas apresentam coloração maisclara (inicialmente esbranquiçada) ea medida que se alimentam da seivada planta tendem a cor amarelo-esverdeada. Os adultos são de colora-ção mais escura (amarela eamarronzada) (Figura 2).

A população des-sa praga é compostabasicamente por fê-meas, que podem re-produzir-se sem apresença do macho.Esse fenômeno é de-nominado parteno-gênese (2 e 3). Os ovossão colocados nas par-tes mais tenras dotecido foliar. Apósquatro dias eclodemas ninfas, que podemdurar de cinco a dezdias. Antes de trans-formarem-se emadultos as ninfas pas-sam ao estágio depupa por um períodode 24 horas, que podeocorrer no solo ou naplanta. As fêmeasadultas podem viverem torno de 20 dias epõem de 20 a 100ovos. O período de de-senvolvimento do

Foto: P

edro Boff

da maturação, “estalo”,também é prejudicadoquando o ataque da pra-ga é severo, o que favo-rece a penetração deágua das chuvas e/ou ir-rigação até ao bulbo,causando assim futurasperdas por apodreci-mento durante a arma-zenagem (7).

Além dos prejuízoscitados anteriormentetem sido observado queo ataque de tripes podepredispor as plantas àentrada de doenças,como a mancha-púrpu-

ra, Alternaria sp. (8)

Controle

Os agricultores da região do AltoVale do Itajaí têm utilizado para ocontrole da praga inseticidasfosforados (principalmente parathionmetílico) e piretróides (principalmen-te delta-methrina). Recentementetem sido observado o aumento do usodos piretróides (lambdacyhalothrin ecypermethrina). O número de pulve-rizações algumas vezes é exagerado erealizado em época inadequada, o quepode gerar problemas ambientais eeconômicos, tais como: onerar o custode produção, devido ao gasto excessi-vo com mão-de-obra e inseticidas; fa-vorecer surgimento de resistência dapraga; provocar destruição de inimi-gos naturais; causar prejuízos a saúdedo aplicador; aumentar o nível deresí-duos de inseticidas no produtofinal e meio ambiente.

Para que o controle do tripes dacebola seja feito de maneira racionalé necessário levar em consideração asseguintes recomendações e observa-ções:

• Para as cultivares plantadas na

Figura 1 - Ninfas de tripes da cebola

tripes pode variar de acordo com atemperatura (1 e 4).

Danos

Os danos causadospelo tripes são devi-dos ao suga-mentoda seiva da planta,o que ocasiona man-chas principalmen-te na parte internadas folhas. Inicial-mente as manchassão es-branquiçadase evoluem a pratea-das. Com o aumen-to da intensidade doataque são observa-dos retorcimento,ama-relecimento eseca das folhas (Fi-guras 3 e 4), e emconse-qüência ocor-re a redução do ta-manho e peso dosbulbos, gerando se-veras perdas na pro-dutividade (1, 5 e 6).O tombamento dasplantas por ocasião

N

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

Figura 3 -Lavoura

atacada portripes da

cebola.Observar o

retorcimento eseca de

ponteiros

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Lor

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Figura 4 - Planta atacada por tripes dacebola, apresentando enrolamento das

folhas e seca dos ponteiros

Foto: Irin

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orini

região do Alto Vale do Itajaí a princi-pal época de ocorrência dessa pragasão os períodos quentes e secos obser-vados durante os meses de outubro enovembro, principalmente, a partirda segunda quinzena de outubro (9).Nesses meses, portanto, deve-se termaiores cuidados no controle da pra-ga.

• Em Santa Catarina não tem sidoobservada resistência ao tripes paraas cultivares EMPASC 351 Sel. Criou-la, Baia Periforme, EMPASC 352 BolaPrecoce, Jubileu, Norte 14. As culti-vares precoces como a Baia Periformee a EMPASC 352 Bola Precoce (plan-tio em julho) sofrem menores perdasna produtividade em relação aos plan-tios tardios (a partir de setembro). Noperíodo de maior incidência da praga(outubro e novembro), encontram-seem pleno desenvolvimento vegetativocom o bulbo praticamente já em for-mação, enquanto que as cultivarestardias, como a Norte 14, encontram-se no início do desenvolvimento (9).Convém ressaltar, que o inseto tem

preferência por plantas mais jovens.• A eficiência dos inseticidas no

controle do tripes é dificultada emplantios tardios, pois coincidem comaltas temperaturas e períodos maissecos, favorecendo altas infestaçõesda praga no início do desenvolvimentodas plantas (9). A produtividade nosplantios tardios pode ser reduzida emmais de 50%, caso o tripes não sejacontrolado de forma adequada.

• Os inseticidas que se mostrarameficientes no controle do tripes emexperimentos realizados pela EPAGRIforam: deltamethrina 7,50g i.a./ha(Decis 25 CE 300ml/ha) e fenithrothion750,0g i.a./ha (Sumithion - 1,5 litro/ha), já registrados no Ministério daAgricultura para a cultura da cebola,além de lambdacyhalothrin 5,0g i.a./ha (Karate 50 CE - 100ml/ha) ecypermethrina 25,0g i.a./ha (Arrivo200 CE - 125ml/ha), ainda não re-gistrados para a cultura (10 e 11). Osprocessos de registros desses dois úl-timos inseticidas já estão em anda-mento. Para um bom desempenhodesses inseticidas recomenda-se o usode bico tipo leque 80.03, para facilitara penetração da calda até a regiãointerna da bainha onde as ninfas dotripes ficam alojadas.

Futuros trabalhos de pesquisa se-rão desenvolvidos a fim de se determi-nar a necessidade de ajustes das dosa-gens desses princípios ativos de acor-do com a variação populacional dotripes, pois a monocultura da cebolafavorece a ocorrência de altasinfestações da praga, além da possibi-lidade do surgimento de resistência.

Para se evitar esse processo reco-menda-se a utilização alternada deprincípios ativos de grupos químicosdiferentes, intercalando-se fosforadose piretróides.

• O número de aplicações de inse-ticidas em nível de pesquisa tem sidoem torno de quatro a seis, realizadasdurante os meses de outubro e no-vembro, com intervalo de aplicaçãoentre sete a catorze dias. Não é possí-vel generalizar o número de aplica-ções através de calendário predeter-minado, pois deve--se levar em consi-deração a presença da praga. Paraobtenção de bulbos de boa qualidade,o uso de inseticidas deve ser conside-rado como mais uma prática na con-dução da lavoura, juntamente com omanejo adequado do solo, das doençase plantas daninhas.

• Em levantamento realizado emItuporanga, SC, tem sido constatada apresença de insetos benéficos, que sealimentam das ninfas do tripes dacebola, como a larva da moscaToxomerus taenia (Diptera -Syrphidae) (12) (Figura 5), e tambémde joaninhas (Coleoptera -Coccinellidae). Portanto o uso de in-seticidas deve ser cuidadoso para quese preservem os inimigos naturais,que auxiliam o agricultor no controleda praga (3).

• Para obter orientações sobre omanejo de agrotóxicos na lavoura decebola e realizar o controle das pragasde maneira mais racional e econômi-ca, recomenda-se ao agricultor procu-rar engenheiro agrônomo da EPAGRIdo seu município.

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CebolaCebolaCebolaCebolaCebola

Fot

o: P

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A.S

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çalv

es

Literatura citada

01. GALLO, D.; NAKANO, O.; NETO, S.S.;CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.;BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.;ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.;VENDRAMIN, J.D. Manual deentomologia agrícola. São Paulo:CERES, 1988. 649p.

02. BUTANI, D.K.; VERMA, S. Insect pests ofvegetables and their control: onion &garlic. Pesticides, Bombay, v.10, n.11,p.33-35, 1976.

03. COSTA, A.A.; MEDEIROS, P.Z. O piolhoda cebola. Agronomia, Itaguaí, RJ, v.8,n.4, p.359-364, 1949.

04. COSTA, A.A.; MEDEIROS, P.Z. O piolhoda cebola. Agronomia , Itaguaí, RJ, v.9,n.1, p.77-86, 1950.

05. MENEZES SOBRINHO, J.A. Pragas doalho. Informe Agropecuário, Belo Hori-zonte, v.4, n.48. p.41-44, 1978.

06. VANNETTI, F. Pragas da cebola e do alho.In: MINAS GERAIS. Universidade Ru-ral. Cultura da Cebola. Viçosa: 1960.p.1-2. (Hortaliças, 3).

07. LORINI, I.; DEZORDI, J. Flutuaçãopopulacional de Thrips tabaciLindeman, 1888 (Thysanoptera -Thripidae) na cultura da cebola. Anaisda Sociedade Entomológica do Brasil .Jabuticabal, v.19, n.2, p.361-365, 1990.

Figura 5 - Larvas da mosca predadora de tripes da cebola

08. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC. Sis-tema de produção para cebola ; SantaCatarina (2 a revisão). Florianópolis:1991. 51p. (EMPASC/ACARESC. Sis-temas de Produção, 16).

09. LORINI, I.; TORRES, L.; GUIMARÃES,D.R. Flutuação populacional de tripesna cultura da cebola. Florianópolis:EMPASC. 1986. 4p. (EMPASC. Pesqui-sa em Andamento, 62).

10. GUIMARÃES, D.R.; GONÇALVES, P.A.de S. Avaliação comparativa de inseti-cidas no controle de tripes, Thrips tabaci,Lindeman, 1888, em cultivares de cebo-la. In: CONGRESSO BRASILEIRO DEENTOMOLOGIA, 14., 1993, Piracicaba,SP. Resumos. Piracicaba: SociedadeEntomológica do Brasil/FEALQ, 1993.p.471.

11. SILVEIRA, E.R.; GUIMARÃES, D.R. Con-

trole químico do tripes Thrips tabaciLind. em cebola. In: CONGRESSO NA-CIONAL DE ENTOMOLOGIA, 9.,1984, Londrina, PR. Resumos. Londri-na: SEB, 84. p.271.

12. BUTIGNOL, C.A. Toxomerus taenia(Diptera, Syrphidae) predador de tripesem alho e cebola. In: SIMPÓSIO DECONTROLE BIOLÓGICO, 4., 1994,Gramado, RS. Anais: Sessão dePôsteres. Pelotas: EMBRAPA-CPACT,1994. p.235.

Paulo Antonio de Souza Gonçalves, Eng.agr., M.Sc. Cart. Prof. no 34.327-2, CREA-SC,EPAGRI, Estação Experimental deItuporanga, C.P. 98, Fone (0478) 33-1409,Fax (0478) 33-1364, 88400-000, Ituporanga,SC; Djalma Rogério Guimarães, Eng. agr.,M.Sc. Cart. Prof. no 1.144-D, CREA-SC,EPAGRI, C.P. 502, Fone (048) 234-0066, Fax(048) 234-1024, 88034-901, Florianópolis, SC.

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Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Importância dos minerais na reproduçãoImportância dos minerais na reproduçãoImportância dos minerais na reproduçãoImportância dos minerais na reproduçãoImportância dos minerais na reproduçãodo gado de cortedo gado de cortedo gado de cortedo gado de cortedo gado de corte

Edison Azambuja Gomes de Freitas, João Lari Felix Cordeiroe Canuto Leopoldo Alves Torres

conomicamente está comprova-do que na bovinocultura de corte

a eficiência da produção de terneiros éo fator mais importante; então, os as-pectos da nutrição que influem nestaeficiência devem ser considerados. De-pois da energia e da proteína, osmicrofatores nutricionais (minerais evitaminas) devem ser cogitados, tantonos níveis individuais como na relaçãodietética entre eles.

Os elementos minerais têm um pa-pel fundamental no bom desenvolvi-mento do feto, na saúde da futura mãee indiretamente no aproveitamento dosnutrientes orgânicos energéticos eprotéicos que os reprodutores (macho efêmea) absorvem da sua alimentação.

Os bovinos retiram da pastagem50% ou mais das suas necessidadesminerais. Também a água e contami-nação de solo são fontes que carreiamminerais para o organismo animal. Orestante normalmente é suprido pormistura mineral fornecida no cochocoberto, para livre acesso dos bovinos.

Os minerais que são dieteticamenteessenciais para os animais e que exer-cem influência sobre a produção e re-produção dividem-se em macroele-mentos e microelementos . Os macroele-mentos - requeridos em maior quanti-dade - são cálcio, fósforo, potássio, sódio,cloro, magnésio e enxofre. Os microele-mentos ou micronutrientes são: cobalto,cobre, iodo, ferro, manganês, molib-dênio, selênio e zinco.

A principal deficiência sentida pelogado é o sal comum (sódio e cloro),porém se o fazendeiro suplementa só osal, aparecem depois deficiências dosoutros elementos, também insuficien-tes no pasto, principalmente fósforo

(que influi bastante na performancereprodutiva), cobre e zinco (dois microsque costumam apresentar deficiênciamarginal na pastagem). O manganêse o ferro exibem geralmente concen-trações elevadas na pastagem nativae podem desequilibrar a dieta dosanimais, principalmente se estes fo-rem suplementados com mistura mi-neral rica nesses elementos.

Por isso é muito importante o cri-ador ser informado do balanceamentodos minerais para que eles em conjun-to rendam o máximo ao animal semdesequilibrar sua dieta. Por exemplo,o cálcio (Ca) e o fósforo (P) devemestar numa relação aproximada entre1:1 e 2:1 (Ca:P) para atingir o objetivo.Como o mais deficiente é o fósforo,então se houver muito cálcio, levan-tando a relação Ca:P, há uma deficiên-cia induzida de fósforo, que pode ocor-rer também quando o animal ingeremuito ferro (de diversas fontes), o queinsolubiliza o fósforo na forma defosfato de ferro, tornando-o deficientepara a função reprodutiva.

Cálcio

Suas funções na reprodução res-tringem-se à necessidade de promo-ver contratilidade muscular,notadamente sobre a mucosa uterinanos momentos de parto e expulsãoplacentária (1).

A Tabela 1 mostra a necessidadede cálcio para vacas em reprodução. Ébom frisar que as vacas no pós-parto éque são exigentes em cálcio para ga-rantir a produção de leite sem sedesgastarem. O cálcio ingerido no pré-parto, se excessivo, pode provocarindiretamente a “febre do leite” emvacas que eventualmente produzam

bastante leite, porque é necessárioque após o parto elas entrem embalanço negativo com reabsorção ós-sea para estimular-lhes o apetite eabsorver mais cálcio durante alactação. É interessante destacar quea partir da 32a semana de gestação devacas primíparas a exigência diária decálcio sobe de 14 para 26g/dia, chegan-do à 40a semana com 34g/dia, paracompletar seu desenvolvimento ós-seo.

Fósforo

A nutrição mineral fosfatada de-sempenha importante função na fer-tilidade. O fósforo é essencial no pro-cesso de transferência de energia ehavendo deficiência a hipófise e oovário não funcionam a contento,quando a movimentação de energia éalta (2).

Ainda na Tabela 1, vêem-se asnecessidades de fósforo para as vacasem gestação e no pós-parto, segundoo seu peso vivo. Também neste ele-mento verifica-se aumento das neces-sidades diárias de ingestão para vacasprimíparas (novilhas de primeira cria)de 12 para 20g/dia a partir da 32a

semana de gestação, chegando à 40a

semana com necessidade de 26g/dia.O não suprimento adequado de

fósforo ao gado de cria gera algumasconseqüências metabólicas que nofundo refletem-se em prejuízos eco-nômicos. O fósforo é o macroelementomais importante e mais deficiente napastagem.

Os efeitos da deficiência de fósforona reprodução de bovinos incluem (4e 5):

• anestro;• cios irregulares;

E

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Tabela 1 - Exigências nutricionais de cálcio e fósforo para bovinos de corte em reprodu-ção e na fase de crescimento e terminação. Valores expressos em gramas ou em porcenta-

gem da matéria seca (MS) do alimento (3)

Peso Consumo mínimo Cálcio Fósforocorporal diário de MS(kg) (Kg/dia) g/dia % no alimento g/dia % no alimento

Animais no terço final da gestação

320 7,17 24 0,33 15 0,21360 7,90 25 0,33 16 0,21410 8,63 26 0,30 18 0,21450 8,90 23 0,26 18 0,20500 9,53 25 0,26 20 0,21540 10,12 26 0,26 21 0,21

Animais com terneiro ao pé (produção média de 5kg de leite por dia)

360 7,85 23 0,30 17 0,22410 8,53 24 0,28 19 0,22450 9,17 25 0,28 20 0,22500 9,81 27 0,27 22 0,22540 10,44 28 0,27 23 0,22

Peso Ganho Consumo mínimo Cálcio Fósforocorporal diário diário de MS(kg) (kg) (kg/dia) g/dia % no alimento g/dia % no alimento

130 0,5 3,54 11 0,31 7 0,20130 1,0 3,81 17 0,45 9 0,24130 1,5 3,95 23 0,58 11 0,28180 0,5 4,40 12 0,27 8 0,18180 1,0 4,72 18 0,38 10 0,21180 1,5 4,90 23 0,47 12 0,25270 0,5 5,99 14 0,23 11 0,18270 1,0 6,40 18 0,28 12 0,19270 1,5 6,67 23 0,35 14 0,21360 0,5 7,45 16 0,22 13 0,17360 1,0 7,95 19 0,24 15 0,19360 1,5 8,26 23 0,28 16 0,19450 0,5 8,76 18 0,21 16 0,18450 1,0 9,40 20 0,21 17 0,18450 1,5 9,76 23 0,24 18 0,18

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Tabela 2 - Fontes usuais de cálcio e fósforo

Fonte % Ca % P

Pedra calcária 32 a 38 -Farinha de ostras(conchas) 38 -Fosfato bicálcico 24 a 26 18 a 22Fosfato bicálcico +monocálcico 16 a 23 18,5 a 23Fosfato de rochadesfluorizado 30 a 36 14 a 18Farinha de ossosautoclavada 23 a 26 9 a 12Farinha de ossoscalcinada 32 a 35 13 a 16Fosfato de amônio - 20 a 24

Nota: Análises executadas no Laboratóriode Nutrição Animal - EPAGRI/Lages.

(5).Uma deficiência de iodo induz defi-

ciência tireoidiana, reduzindo muitoa reprodutividade, resultando em su-pressão dos períodos estrais nas fê-meas e perda da libido nos machos. Asnecessidades são de 0,05 a 0,10ppm deiodo na matéria seca (MS) da dieta.Por lei, o sal comum deve conter10mg de iodo/kg, ou seja, 13,2mg deiodeto de potássio/kg de sal.

• Selênio - a sua deficiência produzbaixo desempenho reprodutivo em ani-mais maduros, bem como condicionaa síndrome da “retenção de placenta”.Existe relação entre consumo deselênio e de vitamina E e incidênciade retenção de placenta em vacas deleite (4). Verificou-se que a utilizaçãode 15mg de selênio como selenato +680 UI vitamina E promove uma re-dução de 12% em placentas retidascom mais de 6 horas e 44% naquelasque requeriam a remoção pelo veteri-nário. O uso de 14,8ppm de selênio nosal mineral e 2.700 unidades interna-cionais de vitamina E é adequado para

• redução da atividade ovariana;• aumento da incidência de folículos

císticos;• redução da taxa de concepção;• cios silenciosos;• retardo no aparecimento do pri-

meiro cio pós-parto.Estas anomalias geralmente ocor-

rem após o aparecimento de outrossintomas clínicos da doença.

No caso de excesso de fósforo nasmisturas minerais, as fêmeas bovinaspodem apresentar cios silenciosos, ci-clos irregulares e catarros genitais.

Trabalhos realizados na África doSul demonstram o efeito da suple-mentação fosfatada sobre o índice denascimentos, que foi de 80% em vacassuplementadas e de 51% nos animais

não suplementados (2).Na Tabela 2, as principais fontes

de cálcio e fósforo.Outros elementos com função na

reprodução:• Iodo - o iodo é parte integrante de

uma série de importantes hormôniosda tireóide que têm função de regularo apetite, a produção de energia e aatividade dos animais.

A deficiência de iodo causa altera-ções na fertilidade e os principais efei-tos, quase nunca observados pelo cri-ador, são o aumento na freqüência deabortamento, parto prematuro (5 e 6)e anestro, ou seja, ausência de cio.

O excesso de iodo na ração, peloseu efeito tóxico, pode acarretar mor-talidade embrionária e abortamentos

prevenir deficiências. É preciso cui-dar muito a dosagem, por ser elemen-to muito tóxico. O requerimento naMS da dieta é de 0,05 a 0,10ppm.

A deficiência de selênio prejudica ocrescimento testicular, assim comosua função, sendo que a maturidade ea motilidade dos espermatozóides sãoprejudicadas pela carência de selênio(2).

Pesquisas demonstram que 27,6%de vacas multíparas mostram a sín-drome da retenção de placenta, e que

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Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

16,5% das vacas primíparas também(7). A dosificação injetável de 3 a 9mgde Se na forma de selenito de sódiotrês semanas antecedentes ao partoreduziu a incidência de retenção deplacenta em mais de 50% em 500partos. Em pesquisa executada emSão Paulo (8) constatou-se que o prin-cipal alimento rico em selênio é ofarelo de trigo, com 0,327mg de Se/kg.Houve efeito positivo em vacas leitei-ras que consumiram sal mineral com49mg de Se/kg, na forma de selenitode sódio. A ingestão de 2mg de Se/dia/vaca leiteira em Descalvado, SP au-mentou os níveis séricos de Se nosanimais. Isso corresponde a 4,4mg deselenito de sódio. Em gado de corte asuplementação com selênio aumen-tou a fertilização de óvulos. Mostratambém a pesquisa que vacas nãosuplementadas com selênio apresen-taram 10% de retenção de placenta, eque a suplementação com 2 ou 4mg deSe/dia diminuiu para zero esta inci-dência, bem como reduziu de 84 para70 dias a primeira cobertura pós--parto e o número de inseminações porconcepção caiu de 2,1 para 1,6.

• Manganês - tem sido relatadoque a suplementação com manganêsmelhora a fertilidade de vacas, masnas nossas condições isso não deveráocorrer porque o campo nativo é bemsuprido deste elemento, por serem ossolos ácidos ricos em manganês. As-sim, a deficiência de manganês a pon-to de influir na reprodução só seriareproduzível em condições de alta apli-cação de calcário, produzindo baixaporcentagem do elemento na pasta-gem. A deficiência afeta também odesenvolvimento ósseo e causa pro-blemas nas juntas.

O excesso de manganês afeta tam-bém a reprodução do gado que ingerepasto com conteúdo maior de 100ppmde Mn na MS. As vacas devem apre-sentar baixo índice de parição e re-querem maior número de serviçospor concepção. As pastagens nativasda região têm mais de 100ppm demanganês.

• Cobre - sua deficiência ocasionauma série de distúrbios no organis-mo, incluindo-se deficiência na repro-dução, como retenções placentárias,atrofia ovariana e retardo no apareci-mento do primeiro cio pós-parto, em-bora o mecanismo ainda não esteja

Tabela 3 - Efeito da suplementação mineral sobre alguns parâmetros reprodutivos e aprodutividade em bovinos de corte

Testemunha Suplemento(sal comum) mineral

Aborto (%) 9,3 0,75 redução de 92%Mortalidade à desmama (%) 22,6 10,5 redução de 53%Bezerros desmamados (%) 38,4 60,4 acréscimo de 57%Peso à desmama (kg) 117,0 147,0 acréscimo de 25%Ganho de peso aos 572 dias (kg) 86,0 141,0 acréscimo de 64%Ganho de peso por dia (g) 150,0 247,0 acréscimo de 64%

dosObservações

Itens avalia-

completamente dominado. A necessi-dade é de cerca de 50mg/dia, ou 5 a8ppm na dieta.

Os demais elementos, embora nãointerfiram fisiologicamente de formadireta na reprodução, têm que estarpresentes na formulação da misturamineral, como o sódio, cloro, enxofre,zinco e o cobalto. O potássio e omagnésio têm-se revelado suficientesnas pastagens nativas e gramamissioneira.

Efeito da suplementaçãomineral sobre a produtividadee reprodução em bovinos decorte

Transcreve-se a seguir em formatabulada a informação da melhoriados índices técnicos de desempenhoprodutivo e reprodutivo de umamineraliza-ção recomendada para bo-vinos de corte (6).

A performance reprodutiva melho-rada é um fato comum e notório empesquisas realizadas em vários conti-nentes, em que se comparou asuplementação com sal comum commisturas minerais em que entrou al-gum composto fosfatado e/ou outrosnutrientes minerais. De 16 trabalhosrealizados observou-se que em médiauma suplementação com sal comumapresentou taxa de natalidade de52,9%, contra 75,6% para rebanhosque receberam sal com outros mine-rais no suplemento. A Tabela 4 mos-tra os índices numéricos de váriospaíses, conforme levantamento bibli-ográfico (3). É fácil concluir que adiferença de 22 terneiros em cadagrupo de 100 vacas entouradas justifi-ca economicamente a adoção damineralização do gado de cria.

Aplicação prática de misturas mi-nerais

Para consultas comuns de produ-tores de gado de corte em Lages earredores, sobre campo nativo (com-posição média na primavera/verão de0,25% de Ca e 0,14% de P na matériaseca) (9) tem-se recomendado as se-guintes formulações:

Para gado geral e novilhos

Sal comum iodado 50% Composiçãocalculada(Tabela 3)

Fosfato bicálcico(exemplo DINAFÓS) 30% Cálcio

(Ca) = 6,9%Caolin (materialinerte) (A) 18,3% Fósforo

(P) = 5,4%Sulfato de zinco 1,2%Sulfato de cobre 0,5% Ca/P = 1,3:1Sulfato de cobalto 0,01%Iodato de potássio(B) 0,01%

(A) O uso da areia fina lavada como materialinerte é uma possibilidade que será testa-da. É mais abundante e barata que ocaolin.

(B) Se o sal não contiver iodo.

Para gado de cria (parição até des-mama)

Sal comum 50% Composição cal-culada (Tabela 3)

Fosfato bicálcico(exemplo DINAFÓS) 40%Calcário calcíticoFILLER 8,3% Cálcio (Ca) 13,0%Sulfato de zinco 1,2% Fósforo (P) 7,4%Sulfato de cobre 0,5% Ca/P 1,7:1Sulfato de cobalto 0,01%Iodato de potássio 0,01%Selenito de sódio 0,01% (ver nota no final

do artigo)

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50 Agrop. catarinense, v.8, n.2, jun. 1995

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Exemplo: Uma vaca com 410kg,com terneiro ao pé, produzindo 5 li-tros de leite/dia e ingerindo o equiva-lente a 2,5% de seu peso vivo emmatéria seca do campo nativo/dia,necessita de 24g de cálcio (ou 0,23%Ca na MS (Tabela 1) e 19g de fósforo(ou 0,18% P na MS da pastagem).Aplicando os valores de composição docampo nativo vistos antes, a ingestãodos 10,250kg de MS de pasto proporci-onam 25,6g de Ca e 14,3g de P. Paracobrir o déficit de fósforo as vacas têmque ingerir via suplemento mineral aquantidade de 19-14,3 = 4,3g. Porregra de três chega-se ao consumonecessário do suplemento para suprir

o déficit:100g - 7,4g fósforox g - 4,3g fósforo

o que dá 58g de suplemento/dia. Amistura fica à vontade em cochoscobertos para os animais. O suple-mento garante a produção de leite e ocrescimento mais rápido do terneiro.

Para animais pastejando sobre gra-ma missioneira as exigências desuplementação são menores que so-bre campo nativo, já que aquela gra-ma tem 44% mais cálcio e 21% maisfósforo na primavera/verão que o cam-po nativo (9). Entretanto, tem-se con-siderado, na prática, que as formula-ções para campo nativo se aplicamtambém à criação sobre gramamissioneira, até que se tenha infor-mação mais detalhada e comparativaentre a exploração pecuária sobre cam-po nativo e sobre grama missioneira.

Com relação à utilização prática doselênio em misturas minerais paragado em reprodução, há que fazer al-gumas advertências e recomendações:

• Se a formulação for feita nafazenda, a inclusão de selenito desódio deve ser acompanhada por umprofissional da área; do contrário, nãoinclui-lo, devido ao perigo de óbito dosanimais. A recomendação de 0,01% deselenito de sódio na fórmula significa100mg de selenito/kg de mistura mi-neral, ou 45mg de selênio puro. Umanimal, se ingerir 50g da formulação/dia, vai ingerir 2,25mg de selêniopuro. Segundo estudos em São Paulo(8) a dose ingerida de 2 a 4mg Se/diaaumentou os níveis séricos de selênioem vacas.

Literatura citada

1. NAZÁRIO, W. Minerais e reprodução. In:SIMPÓSIO NACIONAL DE REPRO-DUÇÃO ANIMAL, 6., 1985, Belo Hori-

zonte, MG. Anais. Belo Horizonte: Co-légio Brasileiro de Reprodução Animal,1986. p.32-42.

2. MARTINS, L.C.T. Nutrição mineral debovinos de corte. São Paulo: Nobel,1993. 173p.

3. CAVALHEIRO, A.C.L.; TRINDADE, D.S.Os minerais para bovinos e ovinos cri-ados em pastejo. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1992. p.55 e 118.

4. DAYRELL, M.S. Efeito da deficiência dealguns minerais na reprodução de bo-vinos. Coronel Pacheco: EMBRAPA-CNPGL, 1991. 18p. (EMBRAPA-CNPGL. Documentos, 50).

5. GRUNERT, E.; GREGORY, R.M. Diagnós-tico e terapêutica da infertilidade davaca. Porto Alegre: Sulina, 1984. 163p.

6. ORTOLANI, E.L. A importância de mine-rais para bovinos. Raça Jersey , SãoPaulo, v.2, n.8, p.38-55, maio/jun. 1994.

7. EGGER, S.; DRORI, D.; KADORI, I;MILLER, N.; SCHLINDER, H. Effectsof selenium and vitamin E on incidenceof retained placenta. Journal of DairyScience, Champaign, v.68, p.2119-2122,1985.

8. LUCCI, C.S.; ZANETTI, M.A.; MOXON,A.I.; ANDRADE, A.M.L. de; SCHALCH,F.J. Pesquisas sobre selênio em bovi-nos leiteiros no Estado de São Paulo.Revista dos Criadores, São Paulo, v.56,n.682, p.118-120, nov. 1986.

9. FREITAS, E.A.G. de; DUFLOTH, J.N.;GREINER, L.C. Tabela de composiçãoquímico-bromatológica e energéticados alimentos para animais ruminan-tes em Santa Catarina. Florianópolis:EPAGRI, 1995. 333p. (EPAGRI. Docu-mentos, 155).

Edison Azambuja Gomes de Freitas, Eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. no 3.616-D, CREA-SC,EPAGRI - Estação Experimental de Lages,C.P. 108, Fone (0492) 22-4400, Fax (0492) 22-1957, 88502-970 - Lages, SC, João LariFelix Cordeiro, Méd. vet., M.Sc., CRMV9.999, EPAGRI - Estação Experimental deItajaí, C.P. 277, Fone (0473) 44-3677, Telex473 433, 88301-970 - Itajaí, SC e CanutoLeopoldo Alves Torres, Méd. vet., M.Sc.,CRMV 0.035, EPAGRI - Estação Experimen-tal de Itajaí, C.P. 277, Fone (0473) 44-3677,Telex 473 433, 88301-970 - Itajaí, SC.

Tabela 4 - Efeitos da suplementaçãomineral sobre o aumento da

porcentagem de natalidade dos bovinos,em diferentes países (3)

Sal Sal comumPaís comum mais suple-

(aumento mento mineral%) (aumento %)

Bolívia 67,5 80,0(A)

Bolívia 73,8 86,4(B)

Brasil 55,0 77,0(C)

Brasil 49,0 72,0(A)

Brasil 25,6 47,3(A)

Colômbia 50,0 84,0(C)

Panamá 62,2 68,8(D)

Panamá 42,0 80,0(A)

Peru 25,0 75,0(E)

Filipinas 57,0 79,0(C)

Filipinas 76,0 80 a 82(C)

África doSul 51,0 80,0(A)

Tailândia 49,0 67,0(A)

Uruguai 48,0 64,0(A)

Uruguai 86,9 96,4(A)

Uruguai 27,0 70,0(B)

(A) Farinha de osso.(B) Fosfato bicálcico.(C) Mistura mineral completa.(D) Fosfato bicálcico + superfosfato triplo.(E) Fosfato bicálcico + sulfato de cobre.

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Plantio direto na pequena propriedade: baixoPlantio direto na pequena propriedade: baixoPlantio direto na pequena propriedade: baixoPlantio direto na pequena propriedade: baixoPlantio direto na pequena propriedade: baixocusto, grande produtividadecusto, grande produtividadecusto, grande produtividadecusto, grande produtividadecusto, grande produtividade

Reportagem e fotos de Paulo Sergio Tagliarie Homero M. Franco

Feijão na palha do capim lanudo

Utilizandomão-de-obra familiar,

equipamentos simples eo mínimo de gastos com

insumos, duas pequenaspropriedades, uma no

Vale do Itajaí e outra noOeste, situadas em

terrenos bem declivosos,vêm conseguindo ótimosresultados com a técnica

do plantio direto.

tualmente enquanto o governofederal e grupos de grandes pro-

dutores rurais endividados travamuma luta de quebra de braço semprecedentes em torno do crédito rurale a famigerada TR, alguns pequenosprodutores, humildemente, traba-lham em suas terras sem nenhumaajuda financeira e conseguem ótimosresultados técnico-econômicos. É ocaso da proprie-dade do Sr. RolandRistow, localizada no município deIbirama e que, utilizando quase ne-nhum adubo químico e agrotóxico,atinge altas produtividades nas suasduas principais lavouras comerciaisque são o milho e o fumo.

O segredo do Sr. Ristow está base-ado em dois pontos fundamentais, omanejo através de plantio direto e aadubação orgânica. Mas não foi sem-pre que ele procedeu assim. Em 1954,quando assumiu a propriedade, o sis-tema convencional de aração e plan-

tio era o que imperava e a terra estavacom acentuado grau de degradação.Mas com o passar do tempo e baseadoem suas observações e experiências,acabou adotando o cultivo mínimo de1977 a 1980 e a técnica do plantiodireto de 1980 em diante, orientadopelos técnicos da EPAGRI que traba-lham no Projeto de Microbacias.

A propriedade do Sr. Ristow é bas-tante declivosa e ele sentiu necessida-de de plantar uma espécie que ajudas-se a manter o solo coberto evitando asenxurradas e conseqüente erosão. Amucuna, da família das leguminosas,foi a planta escolhida pelo agricultor.Além de cobrir bem o solo, a mucunaenriquece a terra com sua grandemassa foliar, fornecendo nitrogênio ematéria orgânica. Além da mucuna,surgiu espontaneamente no local umagramínea, a braquiária, também cha-mada na região de capim-doce. Mui-tos a consideram uma praga, mas

para Ristow ela funciona ajudando nacobertura do solo e como matériaverde.

Junto à mucuna e à braquiária, oSr. Ristow usa esterco para enrique-cer ainda mais a fertilidade de suaterra. Para se ter uma idéia, emIbirama a produtividade média domilho é de 47 sacos/ha, ao passo quena lavoura do produtor ela atinge 85sacos. Os seus custos de produçãocom o milho são apenas a utilização desementes e a mão-de-obra, sem ne-nhum tipo de adubação química. Even-tualmente, quando a braquiária infes-ta muito em determinados locais dalavoura, ele utiliza o herbicida.

Um terço da mão-de-obra

A técnica do plantio direto é bas-tante simples. Sob a resteva damucuna, nos meses de julho a agosto,usando um saraquá, o Sr. Ristow,

A

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Mucuna cobrindo terreno declivoso em Ibirama, SC

“Maria louca” é hoje muito requisitada

mo EuclidesKirchner, a mão-de-obra neste sis-tema é um terçodo convencional nocaso do milho emetade no caso dofumo. Este siste-ma de plantio dire-to não só viabilizaa agricultura emnível de pequenapropriedade e emtopografia bastan-te acidentada,como também per-mite obter altasprodutividades abaixos custos, com

alta eficiência econômica e, sobretu-do, com a recuperação do solo e ocontrole efetivo da erosão. “Esse sis-tema de cultivo”, frisa o engenheiroagrônomo, “assegura um desenvolvi-mento sustentável, equilibrado ecolo-gicamente e humanamente maisaprazível”.

Propriedade modelo

Roland Ristow contempla hoje suapropriedade com a satisfação dodever realizado. Seu estabeleci-mento, passados 40 anos de evo-lução técnica e econômica, já setornou modelo na região. OSr. Ristow não dá conta dasinúmeras visitas e excursões detécnicos, estudantes, professo-res e lideranças que chegampara conhecer os resultados doplantio direto na pequena pro-priedade. Até do exterior che-gam visitantes, de países comoo Paraguai, Cuba, Honduras eCosta Rica.

Roland Ristow e sua famíliasão apaixonados pela natureza.Além das lavouras, a proprieda-de possui reflorestamento, com4 mil pés de eucalipto, e matanativa. E já foram plantados 1,5mil pés de uva-do-japão e 5 milde pau-jacaré, cujas mudas eleretirou cuidadosamente de plan-tas mais velhas no mato.

Hoje com 66 anos de idade e

muita sabedoria de vida, RolandRistow arrisca uma previsão: “daquihá 20 anos, os grandes e pequenosprodutores que não cuidarem de suasterras vão acabar. Só vão sobrar osque adubarem organicamente e tive-rem uma maior consciência ecológicae ambiental”.

No Oeste, Algeu Fagundes, 40, éum ex-sem terra assentado sobre 15hana Linha Imperatriz, em São José doCedro, no Assentamento LageadoGrande, desde 1988. De incomum,Algeu tem, pelo menos, duas coisas: épai de doze filhos (entre 21 anos e 14meses de idade) e nunca mais voltaráa usar o arado nos 10ha cultiváveis desua terrinha. Tudo ali acontece atra-vés do plantio direto não mecanizado,já há três anos.

Ele conta que aprendeu com otécnico Jaime Brancher, da EPAGRIlocal. Planta milho e em seguida amucuna (branca e preta). Quando omilho está maduro, faz a dobra e deixaa mucuna tomar conta. Quando amucuna seca, ele quebra o milho ebate a mucuna com uma vara detimbó ou rabo-de-bugio, substituindoo rolo-faca, que ele não possui. Emagosto seguinte, planta novamente

ajudado pelo filho, semeia o milho noespaçamento e densidade recomen-dados pela técnica. Quando ocorremgeadas, estas queimam a mucuna queforma uma cobertura morta sob osolo. Quanto à braquiária, encontra-se no final do seu ciclo produtivo, porser uma espécie de verão. Caso nãoocorrerem geadas, o produtor utilizaum rolo-disco motorizado com quatrodiscos, dois laterais que cortam amucuna e dois centrais que puxam oequipamento. A máquina, denomina-da carinhosamente de “Maria louca”,foi engenhosamente adaptada de umaenxada rotativa e hoje é muito requi-sitada para participar de exposiçõesde máquinas agrícolas, devido à suapraticidade e simplicidade. O rendi-mento do trabalho é de 8 horas/ha.

A mucuna precisa ser plantadaanualmente, entre as fileiras do mi-lho ou de fumo no mês de novembroaté dezembro, com saraquá ou matra-ca. A densidade de plantio é de 50 a60kg/ha de mucuna branca. Abraquiária tem ressemeadura natu-ral. Os Ristow colhem anualmente300kg de sementes de mucuna. Parao milho, a semente preferida é aEPAGRI 351-Condá, pois se trata deum milho variedade, ou seja, não hánecessidade de renovar a sementeanualmente. E, também, é um milhorústico que produz mesmo sem muitoadubo.

Segundo informa o técnico da EPA-GRI de Ibirama, o engenheiro agrôno-

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ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Milho na palha da mucuna (Oeste de SC) Feijão na palha da aveia

milho, usando o saraquá. Disse quenem é preciso semear a mucuna no-vamente, pois ela emerge sozinha. “Ejá observei que ela funciona tambémcontra rato e caruncho, protegendo omilho dobrado”, garante Fagundes.

Noutra área em sucessão milho/feijão ele planta aveia no meio domilho dobrado, colhe o milho e largaas vacas, cujo plantelzinho pretendeaumentar para poder vender o leite.Hoje são apenas seis. Quando a aveialarga a semente, ele desseca e plantao feijão diretamente na palha, nova-mente com o uso do saraquá. Emdezembro ele colhe o feijão e faz oplantio direto do milho e novamente

aveia, repetindo toda a operação.Num pequeno pedaço de terra mui-

to dobrada, ele faz toda essa operação,substituindo a aveia pelo capim lanu-do, com o mesmo desempenho.

Algeu diversifica a sua produção,cultivando laranjeiras e nos interva-los planta vica e tremoço, para pastejodas vacas. Planta fumo, não sabe sepor muito tempo, sobre a palhada davica, mediante a abertura de umaverga, onde põe a muda. É a únicaatividade onde se inclui o arado. “La-vrar, nunca mais!”, garante.

O técnico Jaime Brancher, queassiste Fagundes, mostra entusias-mo não apenas pelo crescimento tec-

nológico desse agricultor. Ele obser-va o que vem acontecendo no solodaquelas lavouras. “O Algeu executahoje o que todos os pequenos proprie-tários farão dentro de alguns anos”,diz ele. E Algeu corrobora: “Um pe-queno produtor, sem dinheiro e ocu-pando terras dobradas, como é o meucaso, não pode pensar em máquinaporque ali não faz nada com elas, nãopode pensar em lavração contínuaporque a chuva leva tudo embora,não pode pensar em calcário e aduboporque não tem dinheiro e nem crédi-to. A saída é só essa: plantio direto nãomecanizado, com resultados acima doque eu esperava”.

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PisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaPiscicultura

TTTTTransporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticosransporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticosransporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticosransporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticosransporte de alevinos de carpa comum em sacos plásticos

Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia

m dos manejos mais comuns emum sistema de produção de

aqüicultura é o transporte de peixes vivos.Ovos são movidos do local de desova paraos de incubação, larvas para os viveiros dealevinagem, os alevinos para o tanque deengorda, e algumas vezes o peixe deveatingir o mercado final ainda vivo, comopor exemplo para restaurantesespecializados, “pesque-pague”, etc.

Uma característica de qualquer siste-ma de transporte é que os peixes sãosubmetidos a confinamento a alta densi-dade em reduzido volume de água, e aqualidade desta pode deteriorar-se rapi-damente.

O estresse devido a condições am-bientais deterioradas ou de confinamentoa alta densidade inibe o sistema imu-nológico e predispõe o peixe a uma varie-dade de doenças infecciosas, mas, se nãose pode eliminar tal estresse, através douso de técnicas apropriadas de despescae transporte, pode-se minimizá--lo e redu-zir a subseqüente mortalidade (1).

De maneira geral, o transporte de pei-xes nunca foi um tópico de pesquisas sis-temáticas intensivas, e a maior parte dastécnicas hoje disponíveis é resultado detentativas e erros. O uso do bom senso eevitar situações de estresse excessivo é omelhor e mais geral conselho para aque-les que queiram transportar peixes deuma maneira segura e eficiente (1).

Apresentam-se a seguir algumas in-formações relativas ao transporte dealevinos de carpa comum (Cyprinus carpio)em sacos plásticos, visto esta ser a formamais comum de transporte praticada noEstado.

Fatores envolvidos com otransporte

Dentre os inúmeros fatores envolvidoscom o transporte de alevinos, alguns me-recem atenção especial, sendo eles:

Condição física e sanitária dos alevinos

Os alevinos a serem transportados

(3). • Oxigênio dissolvido É sugerido que a quanti-

dade de oxigênio dissolvidona água de transporte nãocaia muito abaixo de 5ppm.Observações conduzidas peloProjeto de Piscicultura de Ca-çador mostraram que a águada embalagem de transporteque manteve 400g dealevinos (2.000 alevinos de0,2g) por 36 horas apresenta-va ao final do período um ní-vel de oxigênio dissolvido daordem de 6,0ppm. Assim sen-do, acredita-se que nesta for-ma e condições de transporte

o oxigênio dissolvido não representa umsério fator limitante.

Entretanto, se o oxigênio vier a ser umfator limitante, uma regra básica pode serseguida: para uma mesma quantidadetotal, em kg, peixes de menor tamanhoapresentam uma maior taxa de consumode oxigênio do que peixes de maior tama-nho.

• AmôniaÉ o principal composto resultante da

degradação metabólica das proteínaspelos peixes, que o excretam principal-mente através das brânquias. Em solu-ção aquosa a amônia pode existir em duasformas: forma não ionizada (NH 3) e formaionizada (NH4). Apesar de as duas formasserem tóxicas para os peixes, a forma nãoionizada é sem dúvida muito mais perigo-sa (4).

Observações conduzidas pelo Projetode Piscicultura de Caçador mostraramque a água da embalagem de transporteque manteve 400g de alevinos (2.000alevinos de 0,2g) por 36 horas apresenta-va ao final do período um nível de amôniana ordem de 2,14 ppm. Apesar de estasconcentrações serem altas, dentro dospadrões normais de comparação, não exis-tem evidências de que este fator seja umdos limitantes ao transporte, dentro dapresente condição, uma vez que eramcontrabalançadas por elevadas concen-

devem estar em boa forma física e livres dedoenças. Peixes contaminados por doen-ças infecciosas podem ser vetores para adisseminação de enfermidades por outroslocais. Além disto, peixes doentes e debi-litados fisicamente podem morrer após areestocagem no novo tanque, causandodecréscimo na produção e lucratividade.

Temperatura

O choque térmico, ou mudança bruscade temperatura, é um dos fatoresestressantes mais fáceis de ocorrer emqualquer uma das fases da operação detransporte. Se existir uma diferença detemperatura superior a 2oC entre a águade origem e a de destino, o peixe deve sersubmetido a um processo de aclimatação(tempered), e nesta aclimatação a tempe-ratura da água do saco não deve variarmais de 5oC por hora (2).

Qualidade da água

Os organismos aquáticos, devido a suaatividade, são capazes de alterar signifi-cativamente alguns dos parâmetros dequalidade da água. Consideram-se o oxi-gênio, a amônia e o dióxido de carbono osmais importantes, visto que as variaçõesem suas concentrações são influenciadasdiretamente pelo metabolismo dos peixes

U

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PisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaPiscicultura

trações de CO2 (140 ppm) e de O2 dissolvi-do (6,0 ppm) e pH em 6,5.

A proporção de amônia não ionizadaaumenta com o aumento do pH e da tem-peratura. Em situações como esta, detransporte de peixe em sacos plásticos,pode-se amenizar o efeito deletério daamônia através de:

- manutenção da temperatura a maisbaixa possível (até 18oC), diminuindoassim a atividade metabólica dos peixes;

- utilizar água isenta de fito/zooplâncton e com pH ligeiramente abai-xo do neutro (< 7,0);

- os peixes a serem embalados devemestar com o estômago e intestinos vazios,evitando-se assim o acúmulo de dejetosnos sacos de transporte;

- diminuição da carga de cada saco emfunção do aumento do tempo em que osalevinos permanecerão dentro do sacoplástico.

• Gás carbônicoÉ um composto resultante da ativida-

de respiratória dos peixes e outros orga-nismos presentes. Pode ter dois efeitosprincipais nos peixes: diminui a capacida-de de transporte de oxigênio pelo sangue;e em elevadas concentrações tem um efei-to narcótico. Entretanto, peixes podemtolerar concentrações de 10 ppm ou maisdesde que a concentração de oxigênio dis-solvido esteja elevada. Os procedimentosapresentados para a amônia se aplicamtambém para este caso. Observaçõesconduzidas pelo Projeto de Pisciculturade Caçador mostraram que a água daembalagem de transporte que manteve400g de alevinos (2.000 alevinos de 0,2g)por 36 horas apresentava ao final do perí-odo uma concentração de CO2 dissolvidoda ordem de 140 ppm. Este foi o principalfator limitante do transporte, uma vezque os alevinos apresentavam ao final doperíodo sinais típicos de anestesiamento,como perda de equilíbrio, mas se recupe-ravam rapidamente quando colocados emágua sem CO2 em excesso.

Mantendo o equilíbrio osmótico dospeixes

É reconhecido que o estresse decorren-te do manejo causa problemas de osmo-regulação nos peixes. A dureza da águadeve ser de no mínimo 50 ppm (expressocomo CaCO3), especialmente se o trans-porte for superior a 1 hora (1). Recomenda-

- Quando os sacos forem colocados nacarroceria de caminhões ou caminhonetesdevem ser recobertos por lonas, ou prefe-rencialmente por sacos de tecido, que, semantidos molhados, ajudam a evitarmudanças bruscas de temperatura.

• Duração do transporte - considerou-se como o tempo necessário para que ospeixes iniciassem a apresentar sinais deperda de equilíbrio, mas com rápida recu-peração após a liberação dos mesmos emágua de boa qualidade (Tabela 1).

• Povoamento - quando existe diferen-ça de temperatura entre a água do saco detransporte e a água do viveiro, deve-seproceder a aclimatação dos peixes da se-guinte forma:

- Colocam-se os sacos ainda fechadosdentro da água do viveiro ou em um localsombreado e cobertos com sacos de tecidoúmidos, onde ficam por aproximadamen-te 5 a 10 minutos. Abrem-se os sacos,emborcam-se os sacos parcialmente naágua, permitindo a entrada lenta de águado tanque para o peixe se ambientar e sairnaturalmente.

se um valor de 150 ppm (expresso comoCaCO3) de dureza para as águas utiliza-das no transporte de peixes. O sal decozinha livre do iodo (0,01 a 0,03 ppm)pode ser utilizado, pois além de ser bené-fico na osmo-regulação, pode ajudar nocontrole de parasitas externos.

Aspectos operacionais

A partir de observações conduzidaspelo Projeto de Piscicultura de Caçador,adotam-se hoje os seguintes procedimen-tos no que tange ao transporte de alevinos:

• Despesca dos alevinos com pelo me-nos 24 horas de antecedência a embala-gem:

- Evitar despesca em horas quentes dodia, pois a medida que o volume de águaremanescente no viveiro diminui, commaior facilidade poderá sofrer variaçõesbruscas de temperatura.

- Abastecer as caixas de armazena-gem provisória com água apresentandomesmas características daquela do vivei-

ro dos quais os alevinos foram retirados.• Deixar os alevinos em containers

com água corrente e limpa (potável).• Banho rápido (15seg) em solução de

sal de cozinha a 3%.• Embalagem em sacos plásticos de

80 x 50cm contendo 10 a 12 litros de água.• Transporte - nesta etapa dificilmen-

te será possível evitar uma certa variaçãode temperatura, mas alguns procedimen-tos podem restringir sua amplitude:

- Colocar os sacos plásticos contendoos alevinos em locais do veículo que sejamprotegidos da luz solar direta e que apre-sentem boa ventilação.

- Se possível, transportar os alevinosem horário menos quente do dia.

- Na eventualidade de ser necessáriointerromper o transporte, estacionar oveículo em local abrigado da luz do soldireta e fresco.

Literatura citada

1. TUCKER, C.S.; ROBINSON, E.H. Channelcatfish farming handbook. N. York:Van Nostrand Reinhold, 1990. 454p.

2. STICKNEY, R.R. Principles of warmwateraquaculture. New York: John Wiley,1979. 375p.

3. SMART, G.R. Aspects of water qualityproducing stress in intensive fishculture. In: PICKERING, A.D. Stressand fish. New York: Academic Press,1981. p.277-293.

4. BOYD, C.E. Water quality in ponds foraquaculture. Auburn: AuburnUniversity, 1990. 482p.

Sérgio Tadeu Jurovsky Tamassia, Biólo-go, M.Sc., Cart. Prof. no 8.482-3R, EPAGRI,Estação Experimental de Caçador, C.P. 591,Fone (0496) 62-1211, Fax (0496) 62-1142,89500-000 - Caçador, SC.

Tabela 1 - Parâmetros operacionais utilizados no Projeto de Piscicultura de Caçadorpara o transporte de alevinos de carpa comum de peso médio entre 0,2 a 7,6g

Parâmetros Alevinos

Peso médio dos alevinos (g) 0,2 7,6

Biomassa por saco (g) 100 200 400 500 1.000 2.000Número de alevinos por saco 500 1.000 2.000 65 130 260Duração do confinamento (horas) 72 48 32 48 23 17

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Tabela 2 - Origem principal do ingresso econômico familiar e renda anual em saláriosmínimos por trabalhador em cada unidade familiar de produção (U.F.P.).

Massaranduba, dez./1992

Origem principal Renda anual em salários mínimosdo ingresso econômico por trabalhador residente na

familiar propriedade

1 Exclusivamente agrícola 8,92 Exclusivamente agrícola 31,63 Exclusivamente agrícola 8,14 Agrícola e não agrícola 12,75 Agrícola e não agrícola 13,26 Agrícola e não agrícola 40,77 Exclusivamente agrícola 18,28 Agrícola e não agrícola 38,59 Exclusivamente agrícola 32,410 Exclusivamente agrícola 44,211 Agrícola e não agrícola 48,012 Agrícola e não agrícola 38,913 Exclusivamente agrícola 10,614 Exclusivamente agrícola 77,815 Exclusivamente não agrícola 57,016 Exclusivamente não agrícola 82,0

Fonte: Trabalho de campo

CONJUNTURA

U.F.P.Número

Tabela 1 - Percentagem de unidadesprodutivas cujo chefe exerce

paralelamente outra atividade.Comunidade européia, 1989 (3)

País Percentagem

Bélgica 32Dinamarca 31Alemanha (pré-reunific.) 42Grécia 34Espanha 58França 31Irlanda 32Itália 26Luxemburgo 19Países Baixos 20Portugal 44Reino Unido 31C.E.E. 37

A pluriatividadeA pluriatividadeA pluriatividadeA pluriatividadeA pluriatividadee a agriculturae a agriculturae a agriculturae a agriculturae a agricultura

catarinense.catarinense.catarinense.catarinense.catarinense.Dissolução ouDissolução ouDissolução ouDissolução ouDissolução ouredefinição daredefinição daredefinição daredefinição daredefinição da

exploração familiar?exploração familiar?exploração familiar?exploração familiar?exploração familiar?

Flávio Sacco dos Anjos

radicionalmente tendemos a as-sociar à idéia de um estabeleci-

mento rural familiar três outras no-ções fundamentais. A primeira, deque se trata de uma unidade de produ-ção e de exercício profissional queabsorve a totalidade ou a maior parteda força de trabalho disponível, diretaou indiretamente, na atividade agro-pecuária. Em segundo lugar, há umaunidade de consumo onde, via de re-gra, uma boa parte do que a famíliarequer para sua subsistência é por elagerado nos limites de sua proprieda-de. Por último, estamos diante deuma unidade de residência em que oestabelecimento serve de abrigo paraos chefes da exploração, filhos e ou-tros componentes do agregado famili-ar.

A realidade agrária da esmagadoramaioria dos países desenvolvidos (es-pecialmente da Europa) e de algumasregiões do Brasil, revela que tal con-cepção parece carecer de constataçãose atentarmos para a diversidade demecanismos que as famílias ruraisadotam para sua sobrevivência. Há oque a literatura internacionalconvencionou chamar de“pluriatividade” (do francêspluriactivité) ou outras expressõescomo “part time farming” (agricultu-ra em tempo parcial), “multiple jobholding” (estabelecimento familiarmultiocupacional), “five o’clockfarming” (agricultura de 5 horas) quenormalmente são usadas para identi-ficar situações bastante semelhantes.

Cabe frisar que a palavra“pluriatividade” tanto é utilizada comoforma de referência à situação de

indivíduos que exercem mais de umtipo de ocupação quanto ao caso de umestabelecimento rural onde o “caixada família” é suprido por distintasfontes de entrada de dinheiro, prove-nientes de atividades desenvolvidasdentro ou fora da propriedade rural(agrícolas ou não agrícolas).

Os dados apresentados na Tabela 1mostram que em países como Portu-gal (42%) ou Espanha (58%) é muitogrande o percentual de unidades pro-dutivas em que há o exercício deatividades alheias à exploraçãoagropecuária, mesmo levando em con-sideração o fato de que tal estatísticatoma por base apenas a ocupação docabeça da propriedade, sem incluir,logicamente, os outros membros dafamília, o que certamente elevariaainda mais a incidência de“pluriatividade” na agricultura euro-péia.

Regiões como o Vale do Itajaí -Mirim e Litoral Norte Catarinenseconstituem-se no contextosocioeconômico e cultural de ondeemerge o chamado “colono-operário”,um tipo de agricultor cujo estilo devida concilia a exploração de sua pro-priedade rural (comercialmente ounão) com um emprego formal em umadeterminada indústria.

Os quatro anos de atuação comoextensionista rural da extinta

ACARESC (1986 a 1989) no municípiode Massaranduba propiciaram-nos aoportunidade de constatar o enormecrescimento no número de pessoas docampo ocupadas em fábricas, especi-almente sediadas em Jaraguá do Sul,em indústria como as dos ramos têx-til, de confecções, metalúrgico-mecâ-nico, e de alimentos entre outros gê-neros de atividade fabril.

Tais observações serviram de pon-to de partida para que desenvolvêsse-mos uma pesquisa que redundou numadissertação de mestrado apresentadaao Curso de Pós-graduação em Socio-logia da Universidade Federal do RioGrande do Sul, intitulada: A Agri-T

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vista serem justamente situações emque as famílias sobrevivem exclusiva-mente da agricultura. No extremooposto, a unidade produtiva que apre-sentou a maior renda por trabalhador(UFP número 16) é justamente a situ-ação de uma fa-mília cuja fonte deingresso de dinheiro é exclusivamen-te não agrícola e que no caso se refereaos salários obtidos pelo esposo, em-pregado numa indústria de motores epela esposa, operária de uma indús-tria de confecções. Nesta conjuntura,encontramo-nos diante do que oseuropeus chamam de “worker-peasant”, cuja tradição mais próximaseria “camponês-operário”, represen-tativo de situações onde o estabeleci-mento rural de unidade de produçãopassa a assumir quase que exclusiva-mente o status de unidade residencial.

O grupo de unidades produtivasque atingiram uma renda anual igualou superior a 40 salários mínimos(que daria um ganho mensal por tra-balhador em torno de 3,3 saláriosmínimos) compreende seis UFP’s (denúmero 6, 10, 11, 14, 15 e 16) e do qualfazem parte apenas dois estabeleci-mentos rurais (10 e 14) que tem aagricultura como única e exclusivaatividade geradora de receita.

É importante ressaltar que não setrata de serem pagos altos saláriospelas fábricas ou de serem desenvolvi-das outras iniciativas (a exemplo doturismo rural que recentemente foiobjeto de matéria nesta revista) queassegurem rendimento econômico ex-traordinário; o fato é que a agricultu-ra está separada por um abismointransponível em relação a outrasatividades em termos de remunera-ção do trabalho. No caso do colono-operário, o fato de viver no campopermite que boa parte do que a famíliaconsome em sua alimentação sejagerado na propriedade, fazendo comque o salário percebido “entre limpi-nho” como afirmam nossos entrevis-tados. Além disso, o emprego na fábri-ca dispensa investimentos, ao contrá-rio da agropecuária que exige longosanos para consolidar uma estruturamínima de produção, tal como relataa esposa de um agricultor quando lheperguntamos sobre as vantagens dese trabalhar na fábrica:

“A vantagem é que o agricultortem que comprar enxada, maquinário,

tem que comprar tudo, e ainda àsvezes, quando vai se ver, não colhenada; depende da época, do tempo, detudo... Eu, por exemplo, tomo meubanho de manhã, me visto e vou p’rotrabalho, na garantia de receber omeu salário no fim de mês. É umavantagem, porque você já tá ganhan-do, não precisa primeiro investir p’radepois ganhar. Você vai trabalharnuma firma só com a roupa do corpo,e volta sabendo o que vai receber.”

Por outro lado, a busca pelo em-prego na fábrica não ocorre somentenos casos de estabelecimentos famili-ares incapazes de sobreviver em cimade uma propriedade rural pequena elimitada em seu potencial produtivo.Nossa investigação possibilitou che-gar à conclusão de que distintas ra-zões levam os indivíduos a entraremna fila por um emprego nas grandesindústrias. É preciso mencionar a in-fluência que o processo de Moderniza-ção da Agricultura tem determinadona vida das famílias rurais no sentidode cada vez mais liberar a mão-de-obra, principalmente se tomarmos porbase o caso de culturas como o arrozirrigado, como resume o depoimentode um dos agricultores entrevistados.

“Antigamente, todo mundo, quan-do ia limpar uma vala na arrozeira,usava foice, zenzo, e hoje não, vai lá epassa o veneno. Isso praticamentenão requer mão-de-obra. É por issoque o serviço está faltando hoje... Omais importante é que, por exemplo:Hoje, onde que há alguns anos atrásprecisava-se, vamos dizer, de cincopessoas para tocar uma lavoura, hojeum cara sozinho tá tocando...”

Não é difícil entender que o quadroatual da agricultura, suas transfor-mações e dificuldades servem de atra-tivo para justificar o interesse dasempresas em buscar o campo, muitasvezes instalando filiais em municípiosde vocação tradicionalmente agríco-la, como é o caso de Massaranduba. Aspalavras de um dirigente empresarialsão absolutamente irretocáveis no sen-tido de retratar o perfil do colono-operário segundo a ótica da indústria:

“Esse tipo de mão-de-obra é a me-lhor mão-de-obra que existe no mer-cado de trabalho... Da mão-de-obranão qualificada, ou seja, da parte daprodução onde não requer ainstrumentação, nós damos preferên-

cultura Familiar em Transformação:O caso dos colonos-operários deMassaranduba (SC) e que será breve-mente publicada em livro pela Edito-ra da Universida-de Federal de Pelotascom o apoio da EPAGRI (1).

Na condição de “colono-operário”podemos encontrar tanto o cabeça daexploração como também esposa, fi-lhos e/ou filhas que buscam asseguraruma forma de obtenção de renda men-sal para si e principalmente para ogrupo familiar como um todo (2). Talsituação diverge totalmente das for-mas de remuneração provenientes daatividade agropecuária, que, além deconcentrarem-se em certas épocas doano (safra), exigem do agricultor jor-nadas de trabalho intermináveis e,acima de tudo, são cercadas de riscose incertezas. Sabemos que o produtorrural luta contra as intempéries (chu-va demais, chuva de menos, granizo,geada forte, ... etc.), contra a açãoinconveniente do governo federal (quepor vezes libera estoques reguladoresou importa do exterior lotes de produ-tos agrícolas que fazem despencar ospreços quando estes começam a rea-gir) ou contra as oscilações de merca-dos internos e externos que drastica-mente acarretam a redução da rendadas famílias, podendo comprometer-lhes até mesmo a sobrevivência.

Não é o objetivo deste artigo apre-sentar observações conclusivas acer-ca de um tema de tamanha complexi-dade, mas de sugerir ao leitor umareflexão sobre alguns pontos bastanteinteressantes que nossa pesquisa per-mitiu identificar. Os indicadores apre-sentados na Tabela 2 dizem respeito àsituação socioeconômica de cada umadas 16 unidades familiares de produ-ção (UFP’s) examinadas, incluindo aorigem principal de ingresso de di-nheiro no estabelecimento rural, sederivada da atividade agropecuária(principalmente da venda de produtosde origem animal ou vegetal geradose/ou industrializados na propriedade)ou de fontes alheias à agricultura,como é o caso dos salários obtidos nasfábricas por membros da família.

As unidades produtivas de número1 e 3 tiveram uma renda por trabalha-dor inferior a 1 salário mínimo men-sal, se dividirmos a renda anual apre-sentada na Tabela 2 pelos doze mesesdo ano. O fato chama a atenção haja

ConjunturaConjunturaConjunturaConjunturaConjuntura

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desfavorável, se atentarmos para umquadro nacional onde os mecanismosde transferência de renda da agricul-tura estão cada vez mais presentesem detrimento das formas de incenti-vo e estímulo à produção agropecuá-ria. Nas últimas décadas, a ação go-vernamental se resumiu em medidasque garantissem preços baixos paraos produtos agrícolas, de modo a quesalários igualmente baixos pudessemadquiri-los pelos trabalhadores urba-nos.

Até há bem poucos anos, a exten-são rural norteava suas iniciativas noensejo de elevar cada vez mais osníveis de produtividade de cultivos ecriações, sem jamais levar em conta ouniverso social mais amplo em que seinsere a exploração agropecuária. Oesgotamento do paradigma produti-vista, o processo de integração dosmercados, as modernas estratégiasde expansão industrial e as novasrelações de trabalho são apenas al-guns exemplos de modificações comque nos deparamos nas atuais cir-cunstâncias. Em muitos casos, a pro-priedade agrícola passou a funcionarapenas como uma âncora territorialem meio a um leque de alternativasde que o “agricultor” se utiliza parasobreviver no meio rural. Parece-nosque aqueles traços fundamentais de

cia ao colono, porque aquele que vemda lavoura já tem uma educaçãodirigida ao trabalho... os próprios paisjá ensinaram para ele que é importan-te ter uma disciplina no trabalho, epra nós, isso aí é bom, porque... nãoque ele não vá dizer amém a tudo!Não, não é esse o caso, mas... o sim-ples fato de ele vir ao trabalho, cons-ciente de que precisa do trabalho,aberto, receptivo, pra colher novosconhecimentos, pra nós, isto é inte-ressante...”

O fato é que o colono-operário nãose identifica como operário, está dis-perso geográfica e espacialmente, nãoparticipa de atividades sindicais e decunho associativo ao assumir umacondição híbrida, normalmente decaráter transitório ou ocasional emsua existência. O ônus de sua condi-ção reflete-se em jornadas de traba-lho que podem atingir até 16 horasdiárias, se computarmos sua atuaçãona propriedade rural, na fábrica e otempo gasto no deslocamento até oemprego industrial.

Em quaisquer iniciativas de inter-venção junto às comunidades rurais,seja em projetos de pesquisa e/ouextensão rural, não deve passar desa-percebida a realidade de uma agricul-tura familiar que se modifica radical-mente com vistas a sobreviver numcontexto que historicamente lhe é

um tradicional estabelecimento ruralmencionados no início deste artigofazem parte de um passado remoto emuito distante ou em vias de uminevitável desaparecimento, fruto detransformações que silenciosa e im-perceptivelmente acontecem antenossos olhos.

Literatura citada

1. ANJOS, F.S. A agricultura familiar emtransformação: O caso dos colonos-operários de Massaranduba (SC).Pelotas: UFPel, 1994. 293p. TeseMestrado.

2. ANJOS, F.S. A agricultura familiar emtransformação. O surgimento dos parttime farmer’s em Santa Catarina. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE ECO-NOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 32,1994, Brasília, DF. Anais . Brasília:SOBER, 1994. p.442-449.

3. ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capita-lismo agrário em questão. São Paulo;Rio de Janeiro; Campinas: HUCITEC,ANPOCS, UNICAMP, 1992. 275p.

Flávio Sacco dos Anjos , Eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. n o 48912-D, CREA-RS, Professorda Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel/Universidade Federal de Pelotas. CampusUniversitário, C.P. 354, Fax (0532) 21-5031.96010-900, Pelotas, RS.

ConjunturaConjunturaConjunturaConjunturaConjuntura

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OPINIÃO

complexo, pois envolve um conjunto depressupostos e crenças que definem comoos membros de um grupo vêem suas rela-ções internas e externas. Estes grupos emgeral têm histórias compartilhadas e es-tas geram padrões compor-tamentais so-bre a realidade, as pessoas e suas rela-ções. Muitos analistas admitem que épossível mudar ou fundir culturas de for-ma planejada. Mas em todos os tratadosse admite que se trata de uma tarefa nãomuito fácil.

Na realidade para a implantação denovos padrões, as pessoas que não acei-tam propostas de mudança devem con-frontar suas culturas e ideologias com asnovas propostas e discuti-las abertamen-te. Com isso se promove uma limpezaideológica que inibe as racionalizaçõesinapropriadas que o processo de mudançaexige.

Atualmente estamos vivendo mudan-ças ambientais radicais, o que exige mu-danças nos valores mais profundos daorganização. Desta forma o velhoparadigma deve transformar-se grada-tivamente em novo e assim dotar a orga-nização de novos padrões interpretativose nova capacidade de resposta.

Estas mudanças incluem a descen-tralização de ações do âmbito federal parao estadual e deste para o municipal. Esteprocesso requer um esforço coordenado eplanejado do Governo e da sociedade orga-nizada para sua efetivação. De igual for-ma, a participação dos produtores ruraisna determinação de seus planos de vida ouplanos de desenvolvimento é fundamen-tal.

Contudo, na raiz do problema, entreoutras questões, está a falta demetodologia de planejamento partici-pativo, porque sem participação do públi-co alvo o fracasso dos planos é uma cons-tante. A metodologia de planejamentoparticipativo procura estabelecer umaconvivência harmoniosa entre o homem, asociedade e a natureza, e um trabalhointegrado entre a sociedade organizada eas instituições técnicas em sanear a ca-rência apostada.

Neste contexto o pressuposto é de queas organizações associativas, formais einformais, devem ter planos, programas eprojetos, cabendo, assim como às institui-ções de pesquisa e assistência técnica,entre outros, apoiá-las.

A EPAGRI, dentro deste contexto,como instituição pública estadual, desem-penha seu papel preponderante. Face àsturbulências do ambiente externo e àsmudanças radicais em alguns para-digmas, a instituição necessita rever seus

PlanejamentoPlanejamentoPlanejamentoPlanejamentoPlanejamentoEstratégico:Estratégico:Estratégico:Estratégico:Estratégico:

uma ferramenta para auma ferramenta para auma ferramenta para auma ferramenta para auma ferramenta para aconstrução do futuroconstrução do futuroconstrução do futuroconstrução do futuroconstrução do futuro

Osvaldo Carlos Rockenbach

uitos brasileiros ainda acreditamque o “Brasil é o país do futuro”. É

como se o futuro estivesse estacionado emalgum lugar do universo e de repente fossealcançado, em decorrência do movimentonatural da terra. A partir deste momentoentão haveria progresso social, econômi-co, desenvolvimento sustentável e tudomais que os cidadãos tanto desejam.

Na verdade, o futuro não existe, ele éconstruído através de políticas e ações.Portanto, não é lógico aguardar sua vinda.Com base nesta premissa, torna-se ur-gente estabelecer as bases para uma novaordem social e econômica onde haja aparticipação equitativa de todos (1).

Atualmente, estamos vivendo um mo-mento de elevada turbulência ambientalonde as mudanças são rápidas e comple-xas e cada vez se aceleram mais. Este fatoexige cada vez mais novos questio-namentos e rearranjos dos componentesque formam a sociedade como um todo.Tudo indica que as instituições públicastêm um papel preponderante nesta reali-dade. Mas, a questão que se coloca é comoas instituições públicas estaduais podemcontribuir nesta tarefa se a maioria delasse encontra em estado precário com difi-culdades de toda ordem. E se estas insti-tuições são fundamentais no processo dedesenvolvimento, este não pode ser sus-tentável se as instituições não o forem.

Com base na lógica da afirmativa an-terior, as instituições públicas devem so-frer profundas mudanças para atender asdemandas da sociedade. Para Satle, umamudança profunda somente ocorre quan-do as pessoas percebem que seus pressu-postos não são mais válidos para a reali-dade. Este processo é normalmente dolo-roso e pode incluir doses grandes de ansi-edade, culpa e perda da autocon-fiança.

Os administradores cartesianos, mui-tas vezes, percebem que, após opera-remtodo tipo de mudanças em suas empresas,ainda não fizeram o suficiente para atin-gir seus objetivos. Eles percebem entãoque faz parte do processo a mudança devalores e crenças dos grupos e dos indiví-duos em particular.

A cultura de uma instituição é algo

M

postulados básicos, adaptar sua cultura,rearranjar seus componentes, definir cla-ramente sua missão, suas diretrizes, seusobjetivos e seu público alvo.

Partindo deste pressuposto, o plane-jamento estratégico se apresenta comouma ferramenta útil capaz de abrir novoscaminhos para a instituição. Para obter-mos êxito neste processo iniciou-se naEPAGRI um intenso trabalho junto aopúblico alvo para levantamento dos fato-res críticos ao Negócio Agrícola, constru-ção de cenários tendencial e normativo,descrição e análise das cadeias produti-vas e, ainda, pretende-se realizar um di-agnóstico interno e externo da instituição.Ao final dos trabalhos pretende-se esta-belecer metas e elaborar projetos estraté-gicos de transformação institu-cional einstituir um sistema gerencial para aEPAGRI.

Para alcançar êxito nesta tarefa é fun-damental que as pessoas discutam suasidéias e culturas, não defendam simples-mente os programas e as unidades exis-tentes. É preciso retratar a realidade agrí-cola do Estado de forma clara, sem víciose tendenciosidades. As pessoas envolvi-das não podem se sentir representantesdos segmentos de funcionários de unida-des, ou culturas passadas.

Como o planejamento é fundamenta-do em informações do passado e presentee seu objetivo é mudar o futuro, mas comações no presente, a técnica de cenáriospara se obter essas informações tem pa-pel importantíssimo. A agricultura comonegócio é complexa, tem baixo grau deprevisibilidade, elevado grau de incertezae risco, exige decisões freqüentes e rápi-das. Os modelos tradicionais de planeja-mento e gestão não tem se mostrado efi-cientes. Daí a necessidade da implanta-ção do planejamento estratégico para aconcepção do futuro agrícola de SantaCatarina e como conseqüência das insti-tuições que nele atuam.

Literatura citada

01. SILVA, J.S. Instituições públicas susten-táveis, estudos prospectivos e estrate-gistas para a construção do futuro. Re-vista Telebrás, Rio de Janeiro, v.17,n.57, p.57-71, 1993.

Osvaldo Carlos Rockenbach, Eng. agr.,M.Sc., Cart. Prof. n o 455-D, CREA-SC, EPA-GRI, C.P. 502, Fone (048) 234-1344, Telex 482242, Fax (048) 234-1024, 88034-901 - Floria-nópolis, SC.

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Principais espécies que participam noscultivos em Santa Catarina

• Carpa comum(A) (Cyprinus carpio) -Variedades escama, espelho, húngara,etc.

• Carpas chinesas(A) - Carpa capim(Ctenopharyngodon idella); carpa pra-teada (Hypophthalmichthys molitrix);carpa cabeça-grande (Aristichthysnobilis).

• Tilápia nilótica(A) (Oreochromisniloticus)

• Pacu(A) (Piaractus mesopotamicus)• Tambaqui(A) (Colossoma macropomum)• Bagre americano(A) - Catfish (Ictalurus

punctatus )• Bagre africano(A) (Clarias gariepinus)• Curimbatá(A) (Prochilodus sp)• Jundiá(A) (Rhamdia sp)• Cascudo(A) (Hypostomus sp)• Blackbass(A) - truta verde (Micropterus

salmoides )• Traíra(A) (Hoplias malabaricus)• Truta arco-íris(B) (Oncorhynchus

mykiss )

(A) Em águas mornas.(B) Em águas frias.Nota: Em 1993, utilizando as informa-

ções de 120 municípios, dos 266 deSanta Catarina, a produção de pei-xes cultivados atingiu 3.355.509kg.Esse resultado é um indicativo deque a produção estadual ultrapas-sa as 5 mil toneladas.

VIDA RURALSOLUÇÕES CASEIRAS

Produção de peixesProdução de peixesProdução de peixesProdução de peixesProdução de peixeszado nas extremidades da barragem (Figu-ra 1).

A piscicultura de águas paradas é feitacom pouco fluxo de entrada e saída de água,geralmente desenvolvida de forma semi-intensiva. Na forma intensiva (ex-truticultura) há maior renovação de água.A técnica do monocultivo intensivo utilizauma só espécie de peixe, alimentada à basede ração balanceada. No poli-cultivo semi-intensivo aproveita-se a produção de ali-mento natural (plâncton e outros), fato queocorre no próprio viveiro. Ao adotar-se opolicultivo, com três ou mais espécies, cui-da-se para povoar o viveiro com peixes quenão competem entre si pelo mesmo alimen-to. Essa providência permite ocupar toda acoluna da água do viveiro com diferentesespécies de peixe. É o sistema mais utilizadoem San-ta Catarina. A piscicultura inte-grada com a criação de outros animais dapropriedade rural, principalmente suínos eaves, utiliza os dejetos dessas espécies paraa adubação dos viveiros e como alimentosuplementar dos peixes. A prática tem per-mitido produções superiores a 2t/peixe/hacom bons resultados financeiros.

Os dejetos dos animais, quando utiliza-dos em policultivos, são aproveitados pelospeixes de duas maneiras:

• ingestão da excreta fresca;• ingestão do plâncton (pequenos vege-

tais e animais) formado a partir da aduba-ção com dejetos.

Ao consumir o esterco fresco, os peixesaproveitam os excedentes das proteínas,

A criação de peixes é uma realidade emalguns Estados do Brasil. O domínio dastécnicas sobre a reprodução de vá-riasespécies nativas e exóticas e o uso de siste-mas de produção acessíveis, efi-cientes eeconômicos vem despertando um interessecrescente pela atividade.

A criação de peixes é desenvolvida emáguas quentes (mornas), ou águas frias, deacordo com as exigências das espécies.

A temperatura da água constitui fatordeterminante na reprodução e crescimen-to dos peixes. Por essa razão a escolha dasespécies a serem cultivadas deve ter emconta as condições climáticas da região, ovalor econômico e a aceitação do mercado.A maioria das espécies cultivadas é deáguas mor-nas, utilizando-se, para tanto,viveiros escavados no solo. O formato des-tes viveiros pode variar, mas a formaretangular é a mais recomendada poisfacilita os manejos. Todo viveiro deve pos-suir, independentemente do formato, umsistema de controle de entrada e saída daágua. Durante o período de cultivo dospeixes, o sistema deve permitir a saída daágua do fundo e o escoamento total parafavorecer a despesca (Figura 1).

Quando o viveiro for delimitado poruma barragem, utilizam-se as técnicas deconstrução da barragem de terra, onde,além do sistema de escoamento normal dabase, estabelece-se um ladrão de superfí-cie. Esse deve ser de base larga, raso erevestido de grama ou outro material dis-ponível, para evitar erosão, e estar locali-

carboidratos, minerais e outros nutrientesnão absorvidos pelo trato digestivo dosexcretores.

O policultivo integrado com animais,além de produzir proteína de alto valornutritivo para o consumo humano, reciclamilhares de toneladas de adubo orgânicoe ajuda a preservar o meio ambiente. Essaafirmativa é verdadeira se a atividade fordimensionada adequadamente, tendo-seem conta as espécies a serem utilizadas, otamanho do viveiro, renovação da água e,principalmente, a quantidade adequadade esterco a ser aportada. Se esses princí-pios básicos não forem atendidos, pode-mos transformar nossos viveiros emcloacas, com prejuízos aos peixes e meioambiente.

Maiores informações sobre os diferen-tes sistemas de cultivo de peixes poderãoser obtidas junto aos escritórios munici-pais da EPAGRI e através do contato coma Gerência de Aqüicultura e Pesca, emFlorianópolis. A EPAGRI oferece tam-bém diversos cursos profissionalizantesna área de piscicultura.Figura 1

J. B

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