r - d - Renato Luciano de Vasconcelos
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN
RENATO LUCIANO DE VASCONCELOS
A ANLISE SCHENKERIANA E A ORNAMENTAO:
UM ESTUDO CRTICO
CURITIBA
2012
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RENATO LUCIANO DE VASCONCELOS
A ANLISE SCHENKERIANA E A ORNAMENTAO:
UM ESTUDO CRTICO
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Msica, rea de Concentrao em Teoria e Criao, Departamento de Artes da Universidade Federal do Paran (UFPR), como parte das exigncias para a obteno do ttulo de Mestre em Msica.
Orientador: Professor Dr. Norton Eloy Dudeque.
CURITIBA
2012
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TERMO DE APROVAO
RENATO LUCIANO DE VASCONCELOS
A ANLISE SCHENKERIANA E A ORNAMENTAO: UM ESTUDO CRTICO
Dissertao aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre no Curso de Ps-Graduao em Msica, rea de Concentrao em Teoria e Criao, Departamento de Artes, Universidade Federal do Paran, pela seguinte banca examinadora:
Prof. Dr. Norton Eloy Dudeque Orientador Departamento de Msica, UFPR
Profa. Dra. Roseane Yampolschi Departamento de Msica, UFPR
Prof. Dr. Carlos Alberto Silva Yansen Departamento de Msica, EMBAP
Curitiba, 30 de maro de 2012.
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minha famlia
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Prof. Dr. Norton Dudeque pelas orientaes, oportunidade,
pacincia, disposio e aulas indispensveis para a realizao desta pesquisa.
equipe UFPR, funcionrios e docentes. Sobretudo s professoras: Dra. Rosane
Cardoso de Arajo pelas aulas de metodologia, acolhimento e experincia didtica
dividida durante o estgio; e Dra. Roseane Yampolschi pelas aulas de composio,
oportunidade de estgios, e confiana creditada que muito serviram ao crescimento
pessoal e ao embasamento prtico do trabalho.
Aos mestres mais antigos e tambm aos demais mais recentes que, de forma direta
ou indireta, continuam presentes em cada trabalho e nas minhas melhores
recordaes.
Ao meu pai Luiz, me Graa e irm Monize pela pacincia, apoio emocional, moral,
e financeiro.
Aos primos, amigos, colegas, conhecidos e alunos que em algum momento
suportaram, acreditaram, participaram ou apoiaram a conquista dos meus objetivos.
fundao CAPES pelo incentivo fundamental e pela bolsa de estudos.
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RESUMO
A anlise schenkeriana uma teoria controversa, causadora de diversos debates no
decorrer do sculo XX devido ao seu vigor, preciso crtica e repercusso nas
universidades americanas. Heinrich Schenker (1868-1935), terico musical e crtico
radicado em Viena, adotou a tradio clssica austro-germnica como modelo
musical e ideolgico. Para isso, fundamentou sua teoria analtica em tratados
tericos e prticos do sculo XVIII e nas obras do cnone clssico tonal. No entanto,
temas abertamente relacionados ao emprego prtico dos ornamentos em sua teoria
bem como o contexto e analogia com as com os tratados de
ornamentao ainda no foram enfocados com preciso pela musicologia. Neste
trabalho, esclarecemos a influncia dos ornamentos prticos neste pensamento
analtico traando um paralelo entre os seus significados prticos e estruturais. Para
tal finalidade, percorremos os textos de Schenker (com nfase especial em Der Freie
Satz [1935]); os textos dos seguidores americanos Adele T. Katz (1887-1979), Allen
Forte (1926), Felix Salzer (1904-1986) e Oswald Jonas (1897-1978); e o tratado de
ornamentao Versuch ber die wahre Art, das Clavier zu Spielen (1753) de C.P.E.
Bach (1714-1788), no qual Schenker embasou sua obra. Contudo, o propsito maior
deste trabalho, que visa refletir, revisar e expor novas possibilidades para uma
adequada compreenso musical, no foi exatamente dirigido em defesa da
. Assim, nossa abordagem ser
til no somente aos analistas, mas tambm aos intrpretes e aos compositores
principalmente, os ltimos de linhagem ps-moderna que utilizam ferramentas
analticas como um recurso composicional.
Palavras-chave: Heinrich Schenker. Ornamentao. Anlise musical.
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ABSTRACT
Schenkerian analysis is considered one of the most polemical and significant
theories of the twentieth century. Heinrich Schenker (1868-1935), music theorist and
critic in Vienna, assumed the Austro-German classical tradition as a musical and
ideological model. For such aim, the theorist structured an analytical theory based on
to the use of ornamentation in his theory, as well as the circumstances dealing with
the "diminutions" and the analogy the old treatises has not exactly been addressed.
Thus, the aim of this research will be extend and discuss the link through
Schenkerian analysis to ornamentation, both in practice and in theory. We intend to
achieve a critical thought that deals with a new approach of Schenkerian analytical
thinking equally as their probably practical-interpretive usage. Nevertheless, the
Our main purpose is to review and raise new capabilities. For that purpose we will
approach the ornamentation through Schenkers writings, his major followers, and
. That study undoubtedly will be valuable to analysts,
performers and composers - especially the last one that do use post-modern
analytical tools as compositional resources.
Keywords: Heinrich Schenker. Embellishment. Diminution. Musical analysis.
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LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 - Possibilidades de diminuio intervalar a partir do salto de quinta
retirados do livro Regole Passagi di musica de Giovanni Battista Bovicelli ............... 27
FIGURA 2 - her
Simpson .................................................................................................................... 28
FIGURA 3 - Fuga em F Maior de J.S. Bach WTC I ................................................. 37
FIGURA 4 - Bordadura Motvica, Sinfonia n.1 Brahms ............................................. 38
FIGURA 5 - Derivao da Trade "Natural" ............................................................... 49
FIGURA 6 Srie harmnica e arpejo primrio ........................................................ 50
FIGURA 7 - ................................................... 50
FIGURA 8 Ornamentaes sobre uma estrutura intervalar fixa (5-3) ..................... 53
FIGURA 9 Referncias bordadura em nvel bsico ............................................. 55
FIGURA 10 Bordadura como 4 e 2 na Linha Fundamental .................................... 55
FIGURA 11 Possibilidade da Bordadura 9 com 8 ................................................... 56
FIGURA 12 Alguns casos possveis de bordaduras inferior e superior .................. 57
FIGURA 13 - Possibilidades incomuns para as "dissonncias" em tempo fraco. ...... 59
FIGURA 14 ........................................................ 60
FIGURA 15 ............................................................................... 60
FIGURA 16 ........................................... 60
FIGURA 17 ........................................................................ 61
FIGURA 18 .......................................................................... 61
FIGURA 19 - Cambiata (forma bsica) ..................................................................... 65
FIGURA 20 Nota Cambiata de Fux ........................................................................ 66
FIGURA 21 Cambiata como dois agrupamentos de notas de passagem .............. 66
FIGURA 22 Consonncia-Dissonncia-Consonncia. Similaridades na
estrutura da dissonncia de passagem e sncopa. ................................................... 68
FIGURA 23 - Suspenso ........................................................................................... 69
FIGURA 24 Resoluo da sncopa em unssono ................................................... 70
FIGURA 25 A preparao dissonante da sncopa/suspenso ............................... 72
FIGURA 26 Consonncia em contexto dissonante. ............................................... 72
FIGURA 27 Dissonncia aps dissonncia ............................................................ 73
FIGURA 28 Sncope/suspenso livre e notas implcitas ........................................ 74
-
FIGURA 29 Sncopas sucessivas .......................................................................... 74
FIGURA 30 - Preenchimento Intervalar ..................................................................... 75
FIGURA 31 Preenchimento por Terztieler, intervalo-divisor em teras .................. 76
FIGURA 32 Preenchimento por graus conjuntos ................................................... 77
FIGURA 33 Preenchimento com omisso de graus conjuntos ............................... 78
FIGURA 34 Preenchimento com omisso da terceira nota .................................... 78
FIGURA 35 Preenchimento com omisso da segunda nota .................................. 78
FIGURA 36 - Preenchimento com omisso da quarta nota....................................... 78
FIGURA 37 Progresso linear ................................................................................ 80
FIGURA 38 Arpejo inicial........................................................................................ 82
FIGURA 39 Arpejo como reforo estrutural em nvel intermedirio ........................ 82
FIGURA 40 Acorde bordadura ............................................................................... 84
FIGURA 41 Casos de aproximao superior ......................................................... 85
FIGURA 42 Segunda espcie e a aproximao superior ....................................... 85
FIGURA 43 - Sncopa e a aproximao superior ...................................................... 86
FIGURA 44 - Desdobramentos ................................................................................. 87
FIGURA 45 - .......................................................... 88
FIGURA 46 - Substituio ......................................................................................... 89
FIGURA 47 Substituio como harmnico da srie ............................................... 90
FIGURA 48 Substituio no Estudo em F Maior, Op.10 No8, de Chopin ............. 90
FIGURA 49 Transferncia de registro .................................................................... 91
FIGURA 50 Transferncia de registro por stima .................................................. 92
FIGURA 51 Transferncia de registro com intervalos compostos .......................... 92
FIGURA 52 - Acoplamento ........................................................................................ 93
FIGURA 53 Apojatura ascendente ....................................................................... 102
FIGURA 54 Apojatura descendente ..................................................................... 102
FIGURA 55 - Apojatura ascendente e descendente ............................................... 102
FIGURA 56 Efeito estrutural da apojatura de acordo com a composio livre ..... 103
FIGURA 57 - Contraponto rgido e o port de voix .................................................... 103
FIGURA 58 - Contraponto rgido e o coul ............................................................. 103
FIGURA 59 - Passagem acentuada e port de voix .................................................. 104
FIGURA 60 - Passagem acentuada e coul............................................................ 104
FIGURA 61 - Apojatura por salto e grau conjunto ................................................... 105
-
FIGURA 62 - Apojatura por salto e grau conjunto com resoluo em movimento .. 105
FIGURA 63 - Apojatura por salto e grau conjunto com resoluo em movimento
contrrio .................................................................................................................. 105
FIGURA 64 - Apojatura com salto consonante........................................................ 106
FIGURA 65 - Apojatura por grau conjunto e salto com movimento contrrio .......... 107
FIGURA 66 - Apojatura como bordadura ................................................................ 107
FIGURA 67 - Apojatura dupla .................................................................................. 108
FIGURA 68 - ......................................... 108
FIGURA 69 - Apojatura dupla pontuada .................................................................. 109
FIGURA 70 - Relao entre apojaturas duplas e aproximao superior ................. 110
FIGURA 71 Aplicaes diversas da apojatura dupla ............................................ 110
FIGURA 72 - Tipos de accent ................................................................................. 112
FIGURA 73 - Tipos de chte ................................................................................... 112
FIGURA 74 - Trinado simples ................................................................................. 113
FIGURA 75 - Trinado ascendente ........................................................................... 114
FIGURA 76 Trinado Curto .................................................................................... 114
FIGURA 77 - Trinado com sufixo ............................................................................ 115
FIGURA 78 Mordente ........................................................................................... 117
FIGURA 79 - Accacciatura em C.P.E. Bach e F.W. Marpurg (1718-1795) ............. 118
FIGURA 80 Grupeto e sua execuo nos andamentos ....................................... 120
FIGURA 81 - Grupeto sobre apojatura .................................................................... 120
FIGURA 82 - Grupeto invertido ............................................................................... 121
FIGURA 83 - Escorregadela.................................................................................... 122
FIGURA 84 - Escorregadela com ponto .................................................................. 122
FIGURA 85 - Arpejo "harmnico" ............................................................................ 123
FIGURA 86 - Arpejo "linear" .................................................................................... 124
FIGURA 87 - ..... 124
FIGURA 88 - Exemplo de arpejo "linear" Fonte: Adaptado de NEUMANN,
1978, p. 508. ........................................................................................................... 125
FIGURA 89 - ................................. 126
FIGURA 90 - Execuo do arpejo "figurado" ........................................................... 127
FIGURA 91 - Opes diversas de arpejos figurados ............................................... 128
FIGURA 92 Compassos 1-2 de "Wie unglcklich bin ich nit" ............................... 130
-
FIGURA 93 - Apojatura como aproximao superior .............................................. 131
FIGURA 94 A necessidade da nota implcita com a bordadura ........................... 131
FIGURA 95 Apojatura em forma de coul ............................................................ 132
FIGURA 96 - Compassos 9-10 de .............................. 133
FIGURA 97 - Apojatura como sncopa .................................................................... 134
FIGURA 98 Apojatura simples no compasso 14 .................................................. 134
FIGURA 99 - ............... 135
FIGURA 100 ................................... 135
FIGURA 101 Acorde bordadura na segunda reduo .......................................... 135
FIGURA 102 Desenho similar apojatura dupla .................................................. 136
FIGURA 103 - Grupetos "notados" no Estudo n.4 ................................................... 136
FIGURA 104 Desenhos estruturais similares aos mordentes em Coste .............. 137
FIGURA 105 Primeira reduo e a bordadura como motivo ................................ 137
FIGURA 106 Bordaduras como ornamentos de retardo ...................................... 138
FIGURA 107 Possibilidade do mordente na segunda reduo ............................ 138
FIGURA 108 Superfcie dos compassos 22-24 .................................................... 139
FIGURA 109 Progresses lineares no estudo n.4 ................................................ 139
FIGURA 110 Escorregadelas como progresses lineares ................................... 139
FIGURA 111 Progresses lineares subdivididas .................................................. 140
FIGURA 112 Arpejos derivados das progresses lineares .................................. 140
FIGURA 113 - Escorregadela direcionada nota Sol4 ........................................... 140
FIGURA 114 accent no estudo n.4 ..................................................... 141
FIGURA 115 Reduo schenkeriana do trecho ................................................... 142
FIGURA 116 Desenho similar formao ornamental do chte. ......................... 142
FIGURA 117 Accent bordadura ............................................................................ 143
FIGURA 118 Repetio de notas e reduo rtmica ............................................ 143
FIGURA 119 Compassos 5-6 da sonata L.94 de Scarlatti ................................... 144
FIGURA 120 Reduo schenkeriana dos compassos 5-6 ................................... 144
FIGURA 121 Arpejo figurado e escorregadela ..................................................... 145
FIGURA 122 Escorregadela em nvel estrutural profundo ................................... 145
FIGURA 123 Compassos 14-18 da sonata L.94 de Scarlatti ............................... 146
FIGURA 124 Transferncia de registro em larga escala ...................................... 146
FIGURA 125 Terceira reduo ............................................................................. 146
-
SUMRIO
TERMO DE APROVAO .................................................................................................... v
AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... viii
RESUMO .............................................................................................................................. ix
1. NEO-SCHENKERIANOS E A ORNAMENTAO ................................................... 17
1.1. TIPOS DE ESTRUTURA .......................................................................................................... 18
1.3. O PAPEL DA REPETIO ...................................................................................................... 22
1.4. O PAPEL DO CONTRAPONTO ............................................................................................... 25
1.5. CONCEITOS DE HORIZONTALIZAO E PREENCHIMENTO ............................................ 26
1.6. A GRAMTICA MUSICAL ....................................................................................................... 32
1.7. CONCLUSO ........................................................................................................................... 38
2. A ORNAMENTAO NOS TEXTOS DE HEINRICH SCHENKER ........................... 40
2.1. CONCEITO E FILOSOFIA ........................................................................................................ 40
2.1.1. Gestalt, Ornamentos e Estruturas Dialgicas ................................................................. 40 2.1.2. A Barbrie e a Ornamentao ......................................................................................... 44 2.1.3. O Elemento Extramusical ................................................................................................ 46 2.2. OS NVEIS ESTRUTURAIS ...................................................................................................... 48
2.2.1. Nvel Bsico ..................................................................................................................... 48 2.2.2. Nveis Superiores ............................................................................................................ 58 2.3. CONCLUSO ........................................................................................................................... 93
3. A ORNAMENTAO PRTICA ............................................................................... 95
3.1. IMPROVISAO VERSUS ESTRUTURA ............................................................................... 97
3.2. ORNAMENTOS ....................................................................................................................... 101
3.2.1. Apojatura, Port de Voix e Coul .................................................................................... 101 3.2.2. Apojatura Dupla ............................................................................................................. 107 3.2.3. Accent E Chte .............................................................................................................. 111 3.2.4. Trinado E Mordentes ..................................................................................................... 113 3.2.5. Grupeto e Escorregadelas ............................................................................................. 119 3.2.6. Arpejo ................................................................................................................123 3.3. CONCLUSO ......................................................................................................................... 128
4. ANLISES DE OBRAS .......................................................................................... 130
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................... 147
REFERNCIAS ................................................................................................................. 150
APNDICES ...................................................................................................................... 153
APNDICE A ............................................. 153
APNDICE B Segunda re ............................................ 154
APNDICE C .............................................. 155
APNDICE D Quart ................................................ 156
APNDICE E ................................................ 157
-
16
APNDICE F Est .................................... 158
APNDICE G ....................................... 159
APNDICE H Primeira reduo do Estudo n.4 de Coste ........................................................... 160
APNDICE I Segunda reduo do Estudo n.4 de Coste ............................................................ 161
APNDICE J Terceira reduo do Estudo n.4 de Coste ............................................................ 162
APNDICE L Quarta reduo do Estudo n.4 de Coste ............................................................... 163
APNDICE M Quinta reduo do Estudo n.4 de Coste .............................................................. 164
APNDICE N Estrutura fundamental do Estudo n.4 de Coste .................................................. 165
APNDICE O Reduo ornamental do Estudo n.4 de Coste ..................................................... 166
APNDICE P Primeira reduo da Sonata L.94 de Scarlatti ...................................................... 167
APNDICE Q Segunda reduo da Sonata L.94 de Scarlatti ..................................................... 168
APNDICE R Terceira reduo da Sonata L.94 de Scarlatti ...................................................... 169
APNDICE S Quarta reduo da Sonata L.94 de Scarlatti ......................................................... 170
APNDICE T Quinta reduo da Sonata L.94 de Scarlatti ......................................................... 171
APNDICE U Estrutura fundamental da Sonata L.94 de Scarlatti ............................................. 172
APNDICE V Reduo ornamental da Sonata L.94 de Scarlatti ................................................. 173
ANEXOS ........................................................................................................................... 174
ANEXO A ................................................. 174
ANEXO B Reedio do Estudo n.4 (COSTE, 1920 p. 4-5). .......................................................... 175
ANEXO C Sonata L.94 (Scarlatti, 1906-08 p. 28)......................................................................... 176
-
17
1. NEO-SCHENKERIANOS E A ORNAMENTAO
Aps a morte de Heinrich Schenker em 1935, algumas geraes de
seguidores tiveram um importante papel na divulgao e desenvolvimento de
suas ideias. Sua teoria, que estimou pela preservao da tradio tonal austro-
germnica, teve grande influncia no pensamento musical do sculo XX e,
principalmente, nas universidades americanas. Entre os alunos mais prximos
de Schenker em Viena, Hans Weisse (1892-1940) foi o primeiro a chegar aos
Estados Unidos e, entre as dcadas de 1930 e 1940, exerceu uma importncia
mpar na divulgao desta teoria. Weisse inseriu a teoria schenkeriana
americana, impulsionando as geraes futuras de tericos neoschenkerianos
(BERRY, 2005). Apesar disso, somente durante as dcadas de 1960 e 1970
que, com a traduo dos textos de Schenker para a lngua inglesa,
aproximaram-se os divulgadores mais representativos para consolidar esta
teoria na Amrica do Norte. Entre eles, tomaram parte Oswald Jonas (1897-
1978) e Felix Salzer (1904-1986) como a primeira gerao; Ernst Oster (1908-
1977), William Mitchell (1906-1971), e John Rothgeb (s.d) como a segunda
gerao (COOK, 2007). Ao mesmo tempo, esta tentativa visava revigorar a
teoria contra as constantes crticas e at adapt-la ao contexto vigente que, em
certos aspectos, dissentia do propsito inicial de Schenker. Por fim, estes
tericos acolheram, desenvolveram e divulgaram sua teoria analtica de tal
forma que a anlise schenkeriana foi posta no centro dos estudos de msica
tonal nas universidades americanas.
Para situarmos o pensamento schenkeriano, iniciaremos a abordagem
a partir da reflexo de alguns de seus seguidores mais representativos. Neste
captulo, como enfoque principal utilizaremos os seguintes livros: Introduction to
Schenkerian Analysis: Form and Content in Tonal Music (1982), de Allen Forte;
Structural Hearing: Tonal Coherence in Music (1952), de Felix Salzer;
Introduction to the Theory of Heinrich Schenker: The Nature of Music Work of
Art (1982) de Oswald Jonas; e Challenge to Musical Tradition: A New Concept
of Tonality (1946) de Adele T. Katz. Estes autores, direta ou indiretamente,
foram alunos de Schenker e abordam sua teoria desde o ponto vista mais
-
18
ortodoxo at sua adaptao ao repertrio no tonal1. Forte e Salzer dedicaram
captulos de seus textos ao tema da ornamentao propriamente ou, se no,
aos elementos diretamente relacionados ornamentao (tambm chamados,
neste caso, de diminuies ou prolongamentos). Salzer, junto ao seu seguidor
Carl Schachter, tambm dedicou um livro, Counterpoint in composition: the
study of voice leading (1969), ao assunto de contraponto nos moldes da teoria
schenkeriana. Katz enfoca sobre os aspectos da monotonalidade. Jonas, no
entanto, aborda especialmente o conceito da elaborao (Auskomponierung),
tambm anloga ornamentao.
1.1. TIPOS DE ESTRUTURA
Definir o que de fato constitui um ornamento ou uma estrutura uma
tarefa relativamente complexa. Em comparao msica, por exemplo, as
artes visuais so menos ambguas nestes conceitos2. Na msica, todavia,
devido ao carter flexvel da estrutura (que, conforme o terico pode ser
compreendida por motivo, Ursatz, srie harmnica, espectro, texto, entre
outros), a compreenso do termo ornamento varia de acordo com o contexto,
escola ou tendncias analtica.
[...] a construo musical no est sujeita s leis da natureza comparveis s que governam a construo mecnica; e se usarmos
que no pode ser equiparada com qualquer conceito externo palpvel (NEUMANN, 1970 p. 154, traduo nossa)
3.
1 Jonas e Salzer estudaram diretamente com Schenker, Forte e Katz so frutos das geraes
2
ambos os propsitos funcionais de uma construo e seus imperativos de engenharia identificaro certos elementos como inconfundivelautor diferenciar estes propsitos essenciais da msica, que so, neste prisma, mais subjetivos. 3 [...] musical construction is not subject to laws of nature comparable to those which
govern mechanical construction; and if we use the yardstick of "essential meaning," we face the difficulty of definition, because "meaning" in music is an elusive quality which can not be equated with any palpable outside concept .
-
19
Uma obra de arte, ainda que visual, no se sintetiza em elementos
exclusivamente estruturais, ou ornamentais. Neste sentido, certas
ambiguidades fazem parte tambm da arquitetura como, por exemplo, as
decoraes de superfcie (como um friso ou uma esttua) que, ainda assim,
podem apontar para significados estruturais imprecisos. Alm disso, h ainda a
alternativa de deslocar o objeto ornamental do seu sentido funcional inicial para
que, ento, adquira um status estrutural ou parcialmente estrutural. Entre a
estrutura e o ornamento sempre existir algum elemento impreciso de
transio. Neste caso, fundamental que este elemento seja reconhecido e
assumido como parte intencional e indispensvel obra.
funo estritamente decorativa [...] Nem todos os ornamentos so "puros", todavia, no mesmo sentido. H muitos casos em que uma adio ornamental ou quase ornamental tem o objetivo maior de enriquecer a textura musical, intensificando sua comunicao ou, com a licena desta demasiada expresso, a sua expressividade (NEUMANN, 1970 p. 155, traduo nossa)
4.
Na anlise schenkeriana, por exemplo, a ao de decompor a obra em
inmeros nveis estruturais possibilitou, pela primeira vez, um estudo analtico
cuidadosamente pautado nestas subdivises. Assim, Schenker preferiu no
enumerar os nveis intermedirios, pois os percebeu como parte livre e
transicional da estrutura. Igualmente, os elementos estruturais intermedirios
por cumprirem funes dbias podem ser tambm aceitos como pseudo-
estruturas ou pseudo-ornamentos. Neumann, neste sentido, abrevia quatro
tipos: o ornamento , ou o , ou a
O
designadamente na superfcie isto , eles operam exclusivamente como
temporria de estrutura e, consequentemente, operam nos nveis
diversamente, so planos de fundo em
contnua sobreposio de ornamentos so diferenciadas
unicamente pelo contexto. No mbito da teoria
4 The expendable outermost sphere of lightest specific weight is generally composed
same sense, however. There are many cases where an ornamental or quasi-ornamental addition has the weightier purpose of enriching the musical texture by intensifying its communication or, if this overworked term may be excused, its expressiveness .
-
20
schenkeriana, esta discusso vem a enriquecer o entendimento do nvel
intermedirio.
O conceito de estrutura em Katz, no entanto, diz menos a respeito das
ambiguidades estruturais. Para a autora o que est implcito no pensamento
schenkeriano o fato d exercer influncia nos demais
ornamentos da obra
estrutura primordial [fundamental], o protoplasma externo que envolve todo
movimento estrutural e de prolongao 23). A ideia de
neste caso, diz respeito funo delineadora da estrutura
geradora (Ursatz) que, junto fora organizacional dos encadeamentos de
vozes com as regras de ornamentao (abordadas no captulo 3), delimitam o
tipo de ornamentao e, consequentemente, a superfcie da obra. Assim,
utilizando uma metfora social, Schenker explica a estrutura musical como um
esboo do que vir a ser a obra em sua completude A origem de cada vida,
seja a de uma nao, de um cl, ou de um indivduo, se transforma no seu
(SCHENKER, 1979, p. 3).
Partindo da ideia que a natureza na msica representada pela srie
harmnica, Jonas enfatiza a ideia do fenmeno acstico. Assim, destaca que a
nota musical um fenmeno complexo desde que ela naturalmente
compreende outros sons:
sons que emanam da fundamental e surgem de rela
1982 p. 15). Desde ento, devido a esta capacidade intrnseca da nota musical
em desdobrar-se na srie harmnica, uma aptido motvica (geradora) pode
ser atribuda j nota fundamental dado um som estrutural,
consequentemente geram-se os demais sons harmnicos. Antes disso, a
representao completa da srie harmnica na prtica composicional,
especialmente tonal, um procedimento imaginvel desde que alguns
harmnicos so inaudveis e se estendem ad infinitum. Por conseguinte, em
um mbito proeminente de escuta, desde que o ouvido prefere as relaes
simples ou seja, os harmnicos mais prximos da fundamental , a trade
revelada nos primeiros harmnicos
e acstica, resultante tanto da srie harmnica quanto da nota fundamental, e
sntese do que a obra vir a ser. Neste ponto, via trade, a obra ser expandida
-
21
de forma que seja garantida a lgica, a suficincia e o direcionamento do todo
artstico.
O artista que deseja tornar suas formas utilizveis forado a simplific-las. [...] Mesmo a imitao mais confivel no pode incorporar a causalidade da natureza. Em limitar seus recursos para os harmnicos mais proeminentes com as relaes simples (dois, trs, e quatro), compositores tm facilmente utilizado a lei da abreviao, que absolutamente necessria. [...] A trade, assim, revela-se como uma requisio natural e, ao mesmo tempo, artstica. A essncia da atividade artstica, que consiste na elaborao claramente originada na satisfao da demanda natural, implica que a arte seja autossuficiente e fundamentada na natureza sob a mesma medida (JONAS, 1982 p. 16-17, traduo nossa)5.
No desenrolar da estrutura, a trade tambm resultado da energia
motvica da fundamental. No entanto, diferentemente do desdobramento
infinitamente continuado dos harmnicos da srie, neste plano, a trade
representa um apoio esttico, pois se torna um ponto de soluo e de coeso
para os desdobramentos que seguem. Neste sentido, uma padronizao
inerente dos intervalos gerados pelos harmnicos faz com que eles se
alizarem uma estrutura tridica ( , nas palavras
de Neumann). A mesma estrutura tridica , somente com os harmnicos
superiores, igualmente capaz de recriar a fundamental trazendo o ouvido de
volta um som que diversas vezes omitido na obra. Por outro lado, neste
plano, a trade tambm opera como organizadora da hierarquia estrutural
preservando a unidade tonal, mesmo com poucas combinaes harmnicas ou
meldicas dos seus intervalos.
[...] A relao entre estas notas to forte que, onde quer que elas apaream combinadas, como um nico acorde ou sucessivamente com cada nota posicionada como fundamental do seu acorde prprio, a unidade prpria de suas associaes ainda prevalece (KATZ, 1946 p. 9-10, traduo nossa)
6.
5
the most faithfthe strongest overtones with the simplest relationships (two, three, and five), composers have
triad thus reveals itself as a requirement of Nature and, at the same time, of Art. The essence of artistic activity,
entails that Art be self-contained and based on Nature in equal measure . 6
combination as a single chord or in succession with each tone serving as the root of its own chord, the inherent unity of their as
-
22
Mais adiante, este conceito ser indispensvel para o entendimento da
ornamentao schenkeriana7, mais precisamente, a nota implcita que ser
abordada no segundo captulo.
1.3. O PAPEL DA REPETIO
No pensamento schenkeriano a estrutura submetida a um tipo
diverso de repetio que deve ser diferenciado da repetio
horizontal. A de uma derivao e
desdobramento vertical da estrutura ou seja, uma repetio estrutural obtida
atravs da ornamentao. Tal estrutura assemelha-se a formao homofnica
coral que, para tal propsito, deve ser impreterivelmente preservada e variada
com a o carter polifnico das ornamentaes. Para Schenker, a repetio
unicamente horizontal, ou motvica (no sentido schoenberguiano8), uma
regresso:
forma sonata de talentos menores uma regresso [...] O novo tipo de repetio reconhecvel, sobretudo, por sua derivao de sucesses tonais de elementos simples. A magnfica herana do coral alemo trouxe muitas composies concebidas audaciosamente (SCHENKER, 1979 p. 99, traduo nossa)
9.
A imitao em si um modelo de associao interna, intrnseco em
toda arte. Jonas, assim, alude metfora que relaciona a msica a uma
linguagem artificial (ou fictcia) sem referenciais externos (ou, ainda, sem
cdigo preestabelecido) que conduz fatalmente falta de direcionamento
artstico: o dever sua origem para nenhum princpio vlido, deixa de
despertar imagens vvidas no ouvinte ou telespectador, est morta (JONAS,
7 Neste caso as ornamentaes schenkerianas so anlogas s diminuies. No terceiro
captulo, com maior preciso elucidaremos pequenas distines entre ambos conceitos. 8 Menor agrupamento gerador da obra (SCHOENBERG, 1967).
9 -drama, in program
repetition is recognizable, above all, by its derivation of tonal successions from the simplest elements. The magnificent heritage of German chorale brought forth many boldly conceived
-
23
1982 p. 1). Neste sentido, ao mesmo tempo em que a imitao opera como um
princpio de coeso, a estrutura cumpre com o papel de impulso criativo. Por
conseguinte, a criao artstica obtm status independente dos s
externos. A funo do impulso criativo, neste caso, oferecer ao destinatrio
um primeiro ato de interesse e satisfao pelo seu reconhecimento.
O poeta encontra na linguagem, e o artista visual no mundo de figuras que envolvem tanto ele quanto ns, a matria-prima sobre a qual sua arte toma forma. Em diversos casos, as ideias iniciais so relacionadas a um propsito, como aquelas que orientam o arquiteto; necessitam se fixar na natureza e, portanto, (como elas so percebidas igualmente por todos ns) tm validade universal, como a observao da lei da gravidade ou condies rtmicas, concebidas apenas mais tarde. Talvez algum possa, por um lado, distinguir entre associaes diretas e indiretas associaes como aquelas na linguagem e no mundo espacial que evocam imagens imediatamente e, por outro, aquelas que alcanam sua relao com a natureza por meio de foras adormecidas em todos ns (Jonas, 1982 p. 1-2, traduo nossa)
10.
Um erro, entretanto, pensar que as associaes externas so inteiramente
recusadas na anlise schenkeriana. Assim, mesmo clamando em favor do uso
de referenciais artsticos internos, esta teoria tambm til na anlise dos
elementos frutos de vnculos externos. Neste sentido, existem duas opes
referenciais: ou o material musical est vinculado a um propsito
(extramusical), ou est afixado a um elemento da natureza (musical).
O vnculo a um propsito extramusical, por exemplo, um tipo de
associao externa que, por sua vez, pode ser subdividido em associaes
diretas ou indiretas (JONAS, 1982). Nas associaes diretas, os signos so
objetivos e imediatamente reconhecveis pelo senso comum por meio de
referncias aos sons externos retirados da natureza (ou citaes de outras
obras), referncia textual, ou sincronizao com uma imagem ou gesto corporal
(exemplo: sons de pssaros, motores, tempestades, toques militares, entre
outros). Por outro lado, as associaes indiretas so aquelas totalmente
10
surrounds both him and us, the raw material upon which his art imposes shape. In other cases the initial ideas are purpose-related, like those that guide the architect; necessitates that reside in nature and therefore (because they are sensed equally by all of us) have general validity, such as observance of the law of gravity or rhythmic requirements, enter only later. Perhaps one could distinguish between direct and indirect associations associations like those in language and the spatial world that evoke immediate images, on the one hand, and those that gain their contact with nature by way of forces dormant in all of us, on the other .
-
24
subjetivas (exemplo: durao da obra, representao de sensaes,
ambientao, entre outros), reconhecveis somente em segunda instncia, ou
seja, no nvel inconsciente .
Na viso schenkeriana, desde que vimos que a prpria nota
fundamental, em certo sentido, apresenta traos motvicos, a criao musical
(Gestaltung) dispensa os propsitos externos. A natureza da estrutura musical,
em si, traz elementos suficientes que apontam em direo a sua efetivao
artstica: com o mundo exterior, espacial, sem
(JONAS, 1982 p. 2). A repetio,
neste caso, entra como o principal elemento gerador de coeso estrutural e
orgnica, seja na msica, na poesia, ou na arte visual. Contrariamente, as
referncias externas no so capazes de gerar lgica que seja musical (neste
sentido foi fundamentada a crtica de Schenker aplicao dos elementos
externos na msica). Pois, por mais que estas manifestaes sonoras auxiliem
um todo maior (como, por exemplo, a msica de fundo em um evento, uma
pea de teatro, dana, ou cinema), elas sempre se comportaro como sons
inacabados e dependentes.
Ao mesmo tempo em que o recurso da repetio gera organicismo ele
pode assumir o controle a obra. De acordo com a disposio da estrutura e dos
caminhos percorridos pelos elementos internos em geral (ornamentos,
encadeamento de vozes, desvios estruturais), os tipos de repetio podem
ainda exigir resolues especficas dos compositores rumo superfcie. Tais
estrutura impondo-lhe extenso, densidade e dramaticidade. Desta forma,
quanto maior a fora de desvio das repeties maior o seu vigor dramtico:
pode influenciar o projeto
completo do todo composicional e ocasiona a ele um verdadeiro contedo
(JONAS, 1982 p. 5).
-
25
1.4. O PAPEL DO CONTRAPONTO
Outra maneira de compreender a anttese estrutura versus ornamento
atravs da analogia entre a anttese consonncia versus dissonncia. Desde
que a dissonncia pode ser concebida como um desvio rumo consonncia, a
presena da primeira implica na preexistncia da segunda isto , o
ornamento depende de uma estrutura prvia. A dissonncia representa um
movimento contnuo consonncia. [...] a propriedade bsica da dissonncia
. Por outro
lado, isto devido ao carter esttico da consonncia, que no gera a
expectativa necessria efetivao da obra musical.
O contraponto, para a teoria schenkeriana, tanto uma ferramenta
didtica quanto de expanso e prolongao. Neste sentido, a segunda espcie
representa a primeira manifestao de prolongao no contraponto rgido, pois,
neste caso, ela inaugura o processo de diminuio e expanso ao longo das
espcies. Prosseguindo s demais, novas modalidades de desvios estruturais
so expostas.
O intervalo consonante no tempo forte tem o poder de ir alm de si mesmo e estabelecer conexes maiores. A unidade de construo do contraponto tem sido expandida; tem sido sujeita prolongao. E igualmente a lei da consonncia tem sido sujeita prolongao: ela agora no se aplica no plano nota por nota, mas no plano unidade por unidade, em que o contraponto rgido representado por notas do cantus firmus. (JONAS, 1982 p. 53-54, traduo nossa)11.
De forma similar ao desenvolvimento motvico da Ursatz, o contraponto
faz uso d repetio vertical como procedimento de expanso desde a
primeira a quinta espcies. Assim, sobre a estrutura intervalar simples da
primeira espcie, so adicionados agrupamentos preestabelecidos ou
ornamentos prontos como: passagens, bordaduras, cambiata, entre outros ,
11
to establish larger connections. The unit of construction of the counterpoint has been expanded; it has been subjected to prolongation. And accordingly the law of consonance has been subjected to prolongation: it now applies not at the level of tone to tone but at the level of unit to unit, which in strict counterpoint is represented by the cantus- .
-
26
que conduzem s demais espcies ornamentadas. Este tipo de encadeamento
de vozes chamado de :
[...] nas espcies combinadas existe um exemplo adicional de uso prolongado da dissonncia que faz deste procedimento o verdadeiro
tudo sobre prolongaes de espcies combinadas ser compreensvel em termos de encadeamento de vozes, e como unicamente encadeamentos de vozes (SALZER, 1962 p. 84, traduo nossa)
12.
Nas espcies combinadas, principalmente, h uma fora inerente que, atravs
dos princpios de encadeamento de vozes, exerce uma influncia na forma da
superfcie. Quando o compositor reconhece esta influncia, o prprio
compreende a essncia do dilogo estrutural ou seja, um jogo entre a
inteno criativa (Ursatz) e a fora natural dos elementos internos obra. Este
fato refora a ideia de que o compositor no detm o domnio integral da obra,
mas to-somente uma capacidade organizadora em direo ao seu propsito.
1.5. CONCEITOS DE HORIZONTALIZAO E PREENCHIMENTO
Forte dedicou um captulo do seu livro para discutir especificidades da
diminuio na anlise schenkeriana. De tal forma, o autor resumiu as principais
possibilidades na utilizao das diminuies. Para introduzir o tema, foram
utilizados exemplos dos tratados Regole Passagi di Musica (1594), do
compositor e terico italiano Giovanni Battista Bovicelli (1550-1594); e The
Division-Viol (1665), do compositor Christopher Simpson (1602-1669). No
exemplo adaptado de Bovicelli (FIGURA 1), possvel observar: em (a) o tema
caracterizado pelas notas estruturais R-L (intervalo de quinta justa marcado
-se o acento e a
durao da nota L pelas notas ornamentais F-Sol; em (c) ambas as notas
12
[...] in combined species there are additional examples of prolonged uses of the dissonance which male this procedure the true beginning of what later will be
. However, all of the prolongations of combined species will be understandable in terms of voice leading, and voice leading alone .
-
27
estruturais tm sua durao diminuda em uma semnima enquanto que as
notas ornamentais alcanam o intervalo de quinta por meio de uma escala
diatnica; em (d) os ornamentos adquirem uma curva mais independente e
irregular em relao a estrutura bsica; em (e) somente a primeira nota
estrutural sofre alteraes.
FIGURA 1 - Possibilidades de diminuio intervalar a partir do salto de quinta retirados do livro Regole Passagi di musica de Giovanni Battista Bovicelli
Fonte: Adaptado de FORTE, 2005 p. 20.
A ideia de preenchimento intervalar de Bovicelli apresentada por
Forte junto de um exemplo de Simpson. Neste caso, Simpson demonstra as
diminuies como uma variao particular de cada nota da melodia, processo
denominado breaking the ground
(FIGURA 2), as notas estruturais adquirem maior vigor por meio das
substituies, duplicaes rtmicas e pela ornamentao. Esta variao
particularmente refora a altura (ou nota correspondente), consequentemente
desfocando a propriedade motvica intervalar do trecho. Neste sentido, cada
nota da melodia ser, por este mtodo, cuidadosamente variada. Para Jonas,
esta uma tendncia natural do som sendo -se
como uma fundamental, e at serem acompanhadas pelos seus prprios
harmnicos [...] claro que este anseio mais proeminente no caso da voz
(JONAS, 1982 p. 43).
Contudo, o molde de ornamentao oferecido pelo exemplo de
Simpson traz, de fato, uma distino estrutural do exemplo de Bovicelli: no
enquanto classe
de nota (pitch class), para emprestar uma terminologia mais concisa todavia,
intervalo como principal elemento estrutural. Ambos os procedimentos so
frequentes na construo musical. Assim, possvel aplicar os termos:
preenchimento intervalar, para o mtodo de Bovicelli; e substituio de notas,
-
28
para o mtodo de Simpson (estes procedimentos sero mais adequadamente
compreendidos quando abordarmos o conceito de direcionamento). Na
FIGURA 2, Forte demonstra como as notas do baixo podem ser substitudas
-
(divisions) em duas mnimas, quatro semnimas, oito colcheias, ou tambm em
notas de alturas diferentes,
notas estruturais (ground).
FIGURA 2 - Simpson
Fonte: Adaptado de FORTE, 2003 p. 21.
Assim, a ideia do baixo fundamental e seus harmnicos, e tambm a
ideia de estrutura e ornamento, esto diretamente intricados com o conceito de
aos nossos mestres clssicos como
um legado inesgotvel da arte da variao de C.P.E. Bach (JONAS, 1982 p
146).
o melhor entendimento das diminuies desde que sempre, e frequentemente,
traz exemplos prticos das diminuies por ele abordadas.
[...] fica evidente que o gnero tema e variaes oferecer um corpus de msica instrutivo para o estudo dos procedimentos de diminuio na msica tonal, posto que oferece uma estrutura musical prototpica (o tema) e uma variedade de diminuies (as variaes) relacionadas diretamente com a estrutura (FORTE, 2003 p. 21, traduo nossa)
13.
Por fim, embora Forte aborde indiretamente as duas opes, a sua
definio tende ao exemplo de Bovicelli,
diminuio se refere ao processo pelo qual um intervalo formado por notas de
(FORTE, 1982 p. 7).
13
-and-variations genre would provide an instructive corpus of music for the study of diminution procedures in tonal music, since it offers a prototypical musical structure (the theme) and a variety of diminutions (the variations) directly related to that structure .
-
29
Em certo sentido, o mtodo de Salzer em Structural Hearing traz um
enfoque complementar s ideias de Forte. Salzer prima o carter didtico e
fundamenta a ornamentao principalmente pelo aspecto vertical da teoria de
Schenker. Assim, no h captulos especficos fundamentados na estrutura
meldica das diminuies, mas sim um claro enfoque sobre as prolongaes
de estruturas verticais que so a principal fora organizacional da tonalidade.
De certa maneira, Jonas no que diz respeito ideia sobre a influncia das
repeties no todo composicional e superfcie, Salzer refora que aqueles
acordes ornamentais (contrapontsticos) tambm possuem fora organizacional
capaz de direcionar, situar estruturas e, ento, gerar polarizaes. Assim, os
acordes contrapontsticos so elementos horizontais, pois so gerados, nesta
concepo, atravs dos encadeamentos de vozes; posteriormente, os mesmos
a deter o controle sobre as vias que levam a
estas estruturas verticais, influenciando a superfcie da obra de forma
considervel.
Atravs do poder de subordinar [hierarquizar] notas e acordes na tentativa de estender um nico acorde no tempo, a prolongao do acorde cria entidades tonais; ela assim uma fora organizacional. Como tal ela se torna o fator essencial neste conceito de organizao pelo qual a msica da civilizao ocidental tem criado e que ns chamamos de tonalidade (SALZER, 1962 p. 17, traduo nossa)
14.
Para Katz, igualmente, o elemento mais preponderante da abordagem
schenkeriana o conceito de harmnico. Assim, neste tipo de anlise, o
diferencial reside na opo de uma nica e exclusiva tonalidade para
representao da obra que desconsidera a possibilidade da modulao. Os
diversos tons so unificados, gerando lgica e unidade n
com este ponto de vista, a tonalidade no define a fronteira de um nico tom,
p. 1). Jonas (1982), entretanto, explica o mesmo fenmeno lembrando que o
esforo de uma nota para independncia gera o que, no conceito schenkeriano,
14
ds in order to extend a single chord in time, chord prolongation creates tonal entities; it is thus an organizing force. As such it became the essential factor in that great concept of musical organization which the music of western civilization has created and which we call tonality .
-
30
chamado de tonicizao15. Assim, se incluirmos o conceito de tonalidade
como elemento abrangente, sugerido por Katz, e a tendncia natural
, de Jonas, conclumos que a tonalidade se estabelece como uma
fora controladora das tendncias internas e naturais de independncia de
cada som.
Rotular um acorde como tnica cada vez que ele aparecer no explica seu papel na msica, como o mesmo acorde de tnica pode ocorrer diversas vezes dentro da frase, de maneira completamente distinta, servindo a um propsito totalmente diferente na msica (KATZ, 1946 p. 9, traduo nossa)
16.
Katz e Jonas, alm disso, justificam que tanto a organizao da
tonalidade quanto a sustentabilidade da atividade harmnica musical reside no
intervalo de quinta justa. Katz, para isso, lembra que o intervalo de quinta-justa
faz parte dos primeiros harmnicos e do estabelecimento da progresso I-V-I:
re a fundamental e
a sua quinta (KATZ, 1946 p. 9). Neste caso, a quinta-justa funciona como um
intervalo que, alm de estabilizar verticalmente o arpejo primrio, representa o
movimento horizontal de retorno tnica
distinta da fundamental, que direciona sua oitava. Igualmente, Jonas atribui a
quinta a fora maior da tonalidade, um agente de movimento que garante o
primeiro impulso vital na srie harmnica. Pela condio de terceiro harmnico
da srie, a quinta pode ter sentido prprio, pois se a considerarmos como uma
seus harmnicos so configurados de forma bastante
similar aos harmnicos da tnica que a ampara:
nota em direo ao seu harmnico mais forte, a quinta, chegamos a uma nova
nota que estabelece a si mesma como um agente independente de seus
21). Devido a tal semelhana, a quinta
, tambm, fora de movimentao
imprescindvel para a compreensibilidade tonal e de direcionamento. Neste
15
Tonicizao, neste caso, diz respeito caracterstica intrnseca de cada nota musical de tornar-se principal na hierrquica tonal, com efeito similar modulao. Em outras palavras, uma caracterstica usual cada nota musical, desde que valorizada, tender a reconstruir a tonalidade em sua prpria fundamental. 16
music, as the same tonic chord may occur several times within a phrase, each time in an
-
31
sentido, a quinta representa o movimento com da
condio esttica da tnica , e estabilidade, desde que representa um
intervalo indispensvel na formao das trades maiores e menores. De tal
forma, o gera expanso e
interesse geral da obra musical.
Conforme vimos, no enfoque de Salzer e Katz, o aspecto harmnico
o elemento de enfoque que apoia todos os desdobramentos meldicos e tipos
de elaborao e prolongao musical. Para Salzer, as prolongaes em si
abrangem uma srie de funes distintas que funcionam na prtica
composicional, mas sua terminologia pode causar certa impreciso na prtica
analtica pea consiste na expanso,
modificao, contorno e elaboraes desta direo bsica e isto ns
chamamos de prolongao (SALZER, 1962 p. 14). Katz categoriza a
prolongao em somente dois modelos bem definidos: (1) a de
horizontalizao, que consiste na expanso de um nico ponto (nota ou
acorde); (2) e de preenchimento, que consiste na ligao ou expanso do
espao entre dois elementos estruturais. Os modelos de Katz so, em certo
sentido, similares aos princpios de preenchimento intervalar e a expanso
estrutural dos exemplos anteriores de Forte retirados dos tratados de Bovicelli
e Simpson. Recordando, o preenchimento intervalar conduz o intervalo em si a
um primeiro plano ou seja, utiliza do ornamento de maneira especialmente
direcional ao estabelecer ligao entre duas notas distintas, sem perder o papel
expanso estrutural amplifica elementos individuais (nota ou acorde) sem se
importar com os demais pontos de apoio, direcionamento, ou encadeamentos
cumpre com a funo de horizontalizar elementos estticos ou verticais e
especialmente ampliar pontos especficos da estrutura: em alguns
exemplos os acordes contrapontsticos expandem um nico acorde arpejado,
enquanto em outros eles prolongam o espao entre dois acordes diversos de
uma progresso harmnica 16). A ideia de prolongao interna
ou externa, individual ou de ligao, assim, diz respeito respectivamente ou
prolongao de um elemento musical, ou conduo de um elemento a outro.
-
32
Aqui, todas as frases e sees da obra ou de um movimento, a despeito do contraste meldico e harmnico que oferecem, constituem tanto uma prolongao harmnica de um membro da progresso principal, um movimento de passagem entre dois membros da progresso, ou uma prolongao harmnica do acorde de passagem ou de adorno. Assim, todavia o efeito destas expanses so variados e contrastantes, todos procedem dentro do limite da tonalidade fundamental, desde que so desdobramentos da estrutura primordial que esboa o movimento adentro de uma tonalidade nica (KATZ, 1946 p. 26, traduo nossa)
17.
Para Jonas, a prolongao um processo anlogo elaborao
(Auskomponierung). Esta terminologia bastante recorrente nos textos de
Jonas e, desde que ele evidencia a funo de conservar as estruturas sempre
ouvinte, est tambm a prxima das ideias de horizontalizao
de Katz: o na conscincia de um ponto de partida
meldico alm dos limites da sua durao sonora efetiva, como se fosse
realmente sustentvel 41). A elaborao pode ainda ser
relacionada ideia do preenchimento estrutural (direcional), visto que ela
costuma operar no mbito tambm da escuta, como elemento de juno
estrutural: a as notas como
parte de um todo Ibidem, p. 41).
1.6. A GRAMTICA MUSICAL
O aspecto da audio trazido de maneira elementar no trabalho de
Salzer em Structural Hearing, como o prprio ttulo sugere. Assim, este
princpio antevisto nos textos de Schenker refora o objetivo da anlise como
algo alm do treinamento terico capaz de estimular a conscincia analtico-
auditiva. ajustar a aptido imediata de
17
melodic and harmonic contrast they offer, constitute either a harmonic prolongation of a member of the primordial progression, a passing motion between two members of the progression, or a harmonic prolongation of a passing or embellishing chord. Thus, however varied and contrasting is the effect of these expansions, they all come within the boundary of the fundamental tonality, since they are all offshoots of the primordial structure that outlines a motion within a single key .
-
33
ouvir o que os grficos schenkerianos propem definindo estruturas,
horizontalizaes e direcionamentos , no como notas ou acordes dispersos,
mas como um todo interdependente e orgnico. Jonas, similarmente, relaciona
o desenvolvimento da escuta estrutural com a ideia da elaborao e ao estudo
do contraponto. Para isso, o estudo do contraponto, inicialmente, comina em
uma melhoria na conscientizao da escuta: na a ouvir,
(Ibidem p. 58). Na anlise
schenkeriana, os elementos contrapontsticos so visto como complementar
aos elementos estruturais. Assim sendo, a escuta consciente proporciona ao
ouvinte o reconhecimento imediato da estrutura e suas prolongaes, assim
como intensificar a experincia orgnica e percepo da variedade artstica.
percepo instintiva do verdadeiro ouvido musical e pode ser chamada de
escuta estrutural (SALZER, 1962 p. 13). Na metodologia de Salzer, para se
alcanar tal propsito, o primeiro passo deve ser a compreenso da gramtica
(chord grammar) e do significado (chord significance).
Schenker desenvolveu uma distino entre acorde de estrutura e acordes de prolongao diretamente de sua diferenciao entre chord grammar e chord significance, e de sua insistncia em considerar a direo musical. Esta distino entre estrutura e prolongao se transformou na espinha dorsal de toda a sua abordagem. Por meio desta distino ouvimos uma obra, no como uma srie de frases e sees fragmentadas ou isoladas, mas como uma estrutura orgnica nica pelo qual a prolongao do princpio de unidade artstica e variedade so mantidas (SALZER, 1962 p. 13, traduo nossa)
18.
O chord grammar um termo que se refere ao status gramatical, ou
seja, a nomenclatura de determinado acorde, a coluna vertebral da anlise
harmnica moderna. Para Salzer, atravs do chord grammar que podemos
atribuir rtulos s trades, acordes de stima, entre outros. Este termo
apresenta o acorde referenciado estabelecido
de nomenclatura que rompe com funo individual do acorde no todo orgnico
da obra. Diversamente, o chord significance diz respeito funo estrutural do
18
chords of prolongation directly out of his differentiation between chord grammar and chord significance,
between structure and prolongation became the backbone of his whole approach. By means of this distinction we hear a work, not as a series of fragmentary and isolated phrases and sections, but as a single organic structure through whose prolongation the principle of artistic unity and variety is maintained .
-
34
acorde em uma obra. O estudo do chord significance possibilita seguir adiante
da mera descrio gramatical e demonstrar o propsito arquitetnico de cada
acorde em uma obra. Schenker exps a diversidade dos papis que os acordes
representam em uma frase musical ou seo. Mesmo dois acordes
gramaticalmente idnticos, que so apresentados em uma mesma frase,
podem cumprir funes totalmente distintas (SALZER, 1962). A ideia geral
apresentada pelo conceito de chord significance,
do acorde determinada pela prpria obra em que contido. Ou seja, a funo
que um acorde cumpre na estrutura orgnica no deve dizer respeito a
elementos extra musicais ou musicais externos a tal obra. Desta forma, na
teoria schenkeriana, alguns acordes deixam de ter origem unicamente
harmnica e passam a ser como s s tanto a
cumprir papel estrutural harmnico (vertical) como um papel contrapontstico
(horizontal). No ltimo caso, podemos dizer que ele cumprir somente a funo
Uma vez compreendido o conceito de significado (chord significance),
de forma concordante ou no, os acordes devem ser enquadrados em uma
funo relacionada meta estrutural, preenchendo basicamente duas funes:
de estabelecimento da estrutura, ou de prolongao. Respectivamente, estas
funes devem ser relacionadas s funes: harmnica ou contrapontstica.
Assim, em Schenker, o termo funo harmnica deve ser usado somente para
acordes conectados diretamente com a base de associao harmnica
(Ursatz). Todavia, aqueles acordes contrapontsticos que no fizerem parte
funo de movimento, direo e ornamentao da estrutura. Finalmente, os
acordes com significado estrutural sero chamados de acordes harmnicos,
enquanto que acordes de significado ornamental sero chamados de acordes
contrapontsticos.
O significado estrutural pode ser tambm relacionado nos termos de
linguagem falada. Tanto Jonas quanto Katz frequentemente fazem uso deste
musical. Assim, no processo analtico harmnico tonal, em geral, o
procedimento natural , primeiramente, nomear o acorde em seus aspectos de
-
35
sintaxe (chord grammar); em segunda instncia, o dilogo estabelecido entre
estes aspectos induz, como na linguagem falada, ao significado semntico.
Salzer alerta para o frequente erro, decorrente da prtica analtica funcional19
de Hugo Riemann (1849-1919), em tornar a primeira etapa de identificao de
omo o propsito final analtico:
passo inicial inevitvel no estudo da msica [...] Mas ao invs de reconhec-la
s como um trabalho de base [...] Ela tem sido feita o fator principal no enfoque
analtico 9). Neste sentido, o reconhecimento dos acordes
somente pelas suas nomenclaturas de superfcie (acordes funcionais como
tnica, mediante, subdominante, indicados atravs de trades e acordes de
stima) um recurso analtico bastante parcial. Assim, Katz argumenta que, na
linguagem falada, o fato de conhecer adequadamente o significado gramatical
das sentenas no habilita o leitor compreenso adequada de obras de
Shakespeare, por exemplo. Portanto, de forma diversa, existe a tendncia no
meio musical de presumir o entendimento da obra desde que o significado
gramatical dos acordes seja assimilado. Desta forma, Katz argumenta sobre a
necessidade da compreenso estrutural em significado, mais adiante das
usuais anlises harmnicas funcionais.
Em resumo, ns compreendemos a sintaxe de cada acorde do mesmo modo como, ao analisarmos uma sentena [falada], definimos a sintaxe de cada palavra como um substantivo, pronome, adjetivo, verbo ou advrbio. Contudo, assim como todos esses termos significam o status gramatical de uma palavra em uma frase, igualmente os termos tnica, subdominante ou dominante indicam a posio de um acorde na tonalidade. Em casos especficos, admitimos que [o fato de] analisar uma sentena corretamente no certifica o aluno adequadamente para compreender totalmente o significado de um drama de Shakespeare, um poema de Shelley, ou um ensaio de Macaulay; tambm, por outro lado, contamos que um estudante que saiba apenas os nomes dos acordes, as regras de progresses de acordes, e certos elementos de estilo e forma [j est apto para] analisar e interpretar um coral Bach, uma sonata Mozart ou uma sinfonia Beethoven (KATZ, 1946 p. 8, traduo nossa)
20.
19
Hugo Riemann foi um dos principais expoentes da harmonia maneira anloga Schenker, os acordes de uma obra so interpretados em funo ou variao de uma tonalidade principal, eliminando as modulaes passageiras, mas com a distino de serem sempre relacionados s trs funes tonais: a tnica, a subdominante e a dominante. 20
In short, we understand the syntax of each chord, exactly as when we parse a sentence we define the syntax of each word as a noun, pronoun, adjective, verb or adverb. But just as each of these terms denotes the grammatical status of a word in a sentence, so the terms tonic, subdominant or dominant indicate the position of a chord in the key. In the one
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36
Enquanto Salzer expe pouco em seu livro a respeito do motivo na
anlise schenkeriana, Forte aprofunda em um ponto especial para esta
questo: os tipos de diminuio por exemplo, uma sequncia intervalar, notas
de passagens ou arpejos so notados atravs do pensamento motvico
tradicional, mas emoldurados na teoria de Schenker. Neste sentido, Forte
demonstra como um tipo comum de repetio motvica pode conduzir
ornamentos em
diminuies atuando como geradores de motivos meldicos. [...] aquela que
aparece repetida e pode ser transformada de distintas maneiras no decorrer de
uma obra 29). Assim, o autor exemplifica a passagem
bordadura como elementos de ligao entre os nveis diversos. Tais motivos,
assim, promovem o dilogo estrutural, reforando as notas da estrutura
fundamental sem que o motivo em si seja visto como a legtima estrutura da
obra. Jonas, por exemplo, explica que a repetio schenkeriana deve ir alm
do conceito tradicional de motivo. Igualmente, o motivo considerado por
Schenker tambm adquire um significado distinto normalmente, atribudo
repetio de sequncia intervalar (Linkage Knupftechnic):
lidando com repeties que vo alm do motivo, o equivalente tonal explcito
da palavra
(JONAS, 1982 p 130).
Como a nota de passagem, a bordadura pode variar em magnitude. Pode operar abertamente ou dentro do motivo como uma expanso inicial; pode conduzir uma seo formal; ou, finalmente, em sua extenso mxima, pode operar durante o decurso de uma pea inteira. Para a composio livre, seu carter ornamental oferece uma frequente vantagem, desde que com a sua aplicao, um ponto especfico pode ser estendido! (Ibidem, p. 93-94, traduo nossa)
21
case, we admit that to parse a sentence correctly does not automatically enable a student to comprehend fully the meaning of a drama by Shakespeare, a poem by Shelley, or an essay by Macaulay; yet, on the other hand, we expect a student who knows only the names of chords, the rules of chord progressions, and certain elements of style and form to analyze and interpret a Bach chorale, a Mozart 21
operate overtly or within the motive as an initial expansion; it may govern a formal section; or, finally, in its maximum extension, it may operate over the course of a whole piece. For free composition, its ornamental character frequently offers an advantage, since with its use a single p
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37
Assim, na FIGURA 3, Jonas demonstra como um ornamento pode
estabelecer vnculo entre a superfcie a, e nvel intermedirio de ordens
distintas, b e c. Em a, a bordadura acentuada estabelecida em R4 logo no
primeiro compasso do tema. Em b e c, no compasso 46, a bordadura R4
redor da notas D#4. De tal forma, em um procedimento anlogo ao tratamento
dos acordes (chord grammar e significance), um elemento meldico de mesma
sintaxe tambm capaz de operar com significados semnticos distintos desde
que estabelecido em nveis tambm distintos.
FIGURA 3 - Fuga em F Maior de J.S. Bach WTC I Fonte: Adaptado de JONAS, 1982, p. 94.
Para Forte, no entanto, o exemplo de Brahms (FIGURA 4) demonstra
como a bordadura da voz inferior R2-D2-R2 repetida e variada j nos
primeiros compassos e no decorrer da obra. Em a, os motivos-bordadura so
apresentados nos compassos 1, 4 e 5, com alturas e qualidade intervalar
distintas. Em (b), nos compassos 64-65, existem variaes em ritmo e altura
que ornamenta as notas estruturais D#4 e F#
sempre como uma adjacncia em relao nota estrutural, j que permanece
19). Neste sentido, a bordadura naturalmente resulta dependente de uma ou
duas notas estruturais iguais e adjacentes nota ornamental, conferindo a este
tipo de ornamento um significado estrutural especfico de prolongao.
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38
FIGURA 4 - Bordadura Motvica, Sinfonia n.1 Brahms Fonte: Adaptado de FORTE, 2003, p. 30.
As terminologias chord significance e chord grammar de Salzer so, de
fato, to importantes para individualizar os elementos das estruturas musicais
quanto os conceitos de horizontalizao e preenchimento abordados por Katz.
Assim, desde que a abordagem de Salzer voltada ao aspecto harmnico, o
emprstimo destas terminologias pode tambm favorecer na compreenso e
significado de elementos meldicos. Neste sentido, adequam-se tambm as
terminologias note grammar e note significance, ou menos, independente da
terminologia, um entendimento da diferenciao entre o nome das notas e o
seu significado estrutural, que tambm parte imprescindvel ao mtodo
analtico musical.
1.7. CONCLUSO
Neste captulo observamos o contexto e o pensamento schenkeriano a
partir dos seguidores Forte, Jonas, Katz, e Salzer. Entre diversos aspectos, foi
possvel observar que na diferenciao prtica da estrutura e a superfcie
elementos transicionais ornamentais so indispensveis e inclusos j na
estrutura. Assim, traos ornamentais foram apontados na nota fundamental
que, neste sentido, jamais se desvincula da repetio natural dos seus prprios
harmnicos. neste sentido que argumentamos que um elemento estrutural
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39
est intrincado com a ornamentao e, de tal forma, qualquer tentativa de
diferenci-las somente advm de maneira contextual. Sendo contextual,
destacamos aspectos pertinentes compreenso desta distino, incitados
pelos tericos acima como: o conceito de contraponto prolongado e as
espcies como nveis de ornamentao; a relao entre consonncia e a
dissonncia com o conceito de estrutura e ornamento; a repetio
schenkeriana e a importncia do desdobramento motvico vertical; o conceito
de horizontalizao e preenchimento ornamental; e a gramtica como uma
diviso de sintaxe e semntica musical.
Alm disso, este captulo serviu para discutir aspectos incisivos nas
obras dos autores: a gramtica em Salzer, monotonalidade em Katz,
elaborao da srie harmnica em Jonas, e o ornamento em Forte. Outro
aspecto relevante nesta discusso foi o tratamento extramusical no
pensamento schenkeriano, que tem sido to pouco abordado pelos tericos
atuais. Embora Schenker fosse oposto em pensamento ao ideal
laborada para a anlise do
discurso interno de uma obra musical, o prprio terico no excluiu a
possibilidade de aplicao da anlise schenkeriana tambm em obras vocais,
ballets e peras. No entanto, para Schenker, o discurso representativo deveria
ser elaborado dentro dos limites de coerncia interna.
-
40
2. A ORNAMENTAO NOS TEXTOS DE HEINRICH SCHENKER
2.1. CONCEITO E FILOSOFIA
2.1.1. Gestalt, Ornamentos e Estruturas Dialgicas
A estrutura e o ornamento, em relao s demais teorias analticas dos
sculos XIX e XX, so conceitos peculiares na caracterizao do pensamento
schenkeriano. Para exemplificar, em teorias como a de Arnold Schoenberg
(1874-1951) e de Rudolph Rti (1885-1957), por exemplo, elementos que
receberam enfoque secundrio na teoria schenkeriana (como o motivo) so
abordados no processo analtico como parte indispensvel da estrutura.
Conforme vimos no captulo anterior, todo material gerador da obra no
pensamento schenkeriano deve desenvolvido de maneira vertical . No entanto,
por uma questo prtica, o terico estabelece um ponto de partida a estrutura
fundamental22 que no propriamente um motivo, srie harmnica, ou nota
fundamental, mas um artifcio capaz de amparar a obra como um todo (KATZ,
1946; SALZER, 1962; SCHENKER, 1979). Ainda assim, elementos musicais
diversos (como o motivo, a forma e o ritmo) no so exatamente evitados nesta
teoria. Em certas ocasies, eles tm uma importncia estrutural secundria ou,
em outras ocasies, uma valorizao at maior que a usual no todo estrutural.
Para o ltimo caso, incluem-se os ornamentos que basicamente contribuem
com o reforo da estrutura.
Qualquer que seja a maneira em que o plano frontal se desdobre, a estrutura fundamental do plano de fundo e os nveis de transformao do plano intermedirio garantem a vida orgnica [...] A estrutura fundamental representa a totalidade. Ela a marca de unidade e, desde que representa o nico ponto de vantagem de onde possvel ver tal unidade, ela previne todos os conceitos falsos e distorcidos.
22
Estrutura schenkeriana no qual toda a obra deve derivar-se, tambm chamada de Ursatz. A estrutura fundamental estabelecida a partir da unio da Urlinie e do Bassbrechung, que so respectivamente, a linha fundamental e baixo fundamental.
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41
Nela reside a percepo global, a resoluo de toda diversidade em final completude (SCHENKER, 1979 p. 5, traduo nossa)
23.
O organicismo musical um objeto de ateno nos textos de Schenker
que provm do contexto no qual so includas a teoria evolucionista24 e a
psicologia da Gestalt25. Schenker e alguns tericos precursores, como A.B.
Marx (1795-1866), Arnold Schering (1877-1941), e o esteta A. W. Schlegel
(1767-1845) acreditavam que os processos criativos na arte deveriam ser
correlacionados com os estudos da psicologia e, principalmente, com
pensamento evolucionista. Acreditava-se, igualmente, em uma inteligncia
intrnseca natureza capaz de influenciar este processo:
uma obra de arte conscientemente modelada permanece um trabalho da
n SCHLEGEL apud BENT, 1987 p.
29). Assim, muitas das metforas utilizadas por Schenker quando compara a
arte natureza devem ser interpretadas como anlogas a tal tendncia. Desta
forma, a teoria de Marx pode ainda que indiretamente conviver com o
pensamento schenkeriano. Pois, se ambos os estudos so simpatizantes do
pensamento da Gestalt e do conceito evolucionista, ainda que na concepo
de A.B. Marx o motivo se comporte como o elemento gerador da forma e da
obra, o t em ambos tericos assume um significado diverso da mera soma
das partes.
Para Marx, a nimo do Todos os processos tm um ponto de partida, eles germinam e crescem, e em todos os pontos so harmoniosos e completos. Nesse ponto de partida Marx colocou o Motiv, uma unidade pequena de duas ou mais
23
The fundamental structure represents the totality. It is the mark of unity and, since it is the only vantage point from which to view that unity, prevents all false and distorted conceptions. In it
24
Em 1859, Charles Darwin (1809-1882), relacionando ao princpio de seleo natural, introduz a ideia de um ancestral comum a todas as espcies de seres vivos atravs do livro On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Diversos tericos musicais foram influenciados por tal ideia atribuindo ao motivo o papel musical gerador. Entre eles, encontram-se alguns precursores e contemporneos de Schenker como A.B. Marx, Rti e Schoenberg. 25
entendida como um sistema dinmico que sintetiza a percepo (proximidade, continuidade, semelhana, segregao, preenchimento, unidade, simplicidade e figura/fundo) em conceitos que se estendem alm da soma de duas, ou mais, percepes. Em termos musicais, tal tipo de percepo gera organicismo, dramaticidade e dilogo estrutural.
-
42
notas que serve como semente ou origem da frase no qual ela se desenvolve (BENT, 1987 p. 28-29, traduo nossa)
26.
Frequentemente, a teoria schenkeriana mencionada pelo enfoque s
camadas musicais. No entanto, Schenker no foi necessariamente o primeiro
nem o nico a levantar este tipo de procedimento, mas foi quem apontou a
importncia dos dilogos internos na obra musical especialmente aqueles
ocasionados entre as camadas estruturais. Alm disso, observamos um
equvoco comum da crtica quando na tentativa de sintetizar o propsito da
anlise schenkeriana. Este equvoco consiste em reduzir a anlise
schenkeriana ao objetivo nico de destacar na obra uma estrutura
fundamental. Assim, importante lembrar que a estrutura fundamental opera
como o remate do processo analtico schenkeriano e, desta maneira, ela
permite os desvios em forma de prolongaes, diminuies ou ornamentos ,
que so os elementos que abrigam possibilidades criativas e a
da obra. Desta forma, a estrutura fundamental representa especificamente um
propsito, cujo caminho capaz de proporcionar ao intrprete questionamentos
fundamentais para a compreenso da trama composicional.
Na arte musical, como na vida, o caminho em direo ao objetivo depara com obstculos, reverses, desapontamentos, e enfrenta grandes distncias, desvios, expanses, interpolaes, e, sintetizando, retardos de todos os tipos. Incluso jaz a resposta de toda demora artstica, por onde a mente criativa pode derivar o material que sempre novo. Desta maneira, ouvimos nos nveis intermedirios e superficiais um curso quase dramtico dos acontecimentos. (SCHENKER, 1979 p. 5, traduo nossa)
27.
A ideia schenkeriana de estrutura e desdobramento, direta ou
indiretamente, deriva dos principais tratados de teoria musical e
26
starting-point, they germinate and grow, and at all points are harmonious and whole. At that starting-point Marx placed the Motiv, a tiny unit of two or more notes which serves as the seed
27
In the art of music, as in life, motion toward the goal encounters obstacles, reverses, disappointments, and involves great distances, detours, expansions, interpolations, and, in short, retardations of all kinds. Therein lies the source of all artistic delaying, from which the creative mind can derive content that is ever new. Thus we hear in the middleground and foreground an almost dramatic course of events
-
43
ornamentao28. Ainda, existem obras que
diferenciar estrutura e ornamento (como o estudo Op. 25 n.1 de Frdric
Chopin) que anteriormente suscitavam a ideia de hierarquia estrutural. No
entanto, foi Schering quem, antes de Schenker, de fato,
Dekolorieren 29 (BENT, 1987 p. 38). Desta forma, no
sendo a anlise schenkeriana, a primeira necessariamente a reconhecer a
ornamentao como elemento intrnseco no processo composicional, ela a
que apontou as inter-relaes deste elemento como tambm essencial para a
compreenso musical.
Algumas vezes, estas inter-relaes podem ser mais bem aclaradas se
dispostas na forma dialtica (tese, anttese e sntese). De tal maneira, a riqueza
do dilogo entre dois elementos distintos reside basicamente, desde que as
partes propriamente no representam o todo, no terceiro elemento que, ainda,
pode proporcionar um material suplementar na trama composicional. Neste
sentido, Schenker idealiza o dilogo entre as estruturas musicais. E ento,
possvel entender esta analogia estrutura fundamental e s camadas
superiores, ou vice-versa.
Na inteno de representar textualmente aspectos subjetivos da
msica, Schenker frequentemente recorre metfora. No entanto, no que diz
respeito especialmente s menes natureza, elas podem ser tomadas em
um sentido quase literal. Para ele, a msica em si uma representao do
cotidiano. Neste sentido, o terico compara a estrutura fundamental origem
da vida, a estrutura intermediria ao desenvolvimento, e a superfcie da obra ao
presente predestinado desde sua origem.
A origem de cada vida, seja a de uma nao, de um cl, ou de um indivduo, se transforma no seu destino. Hegel define o destino como
nvel bsico, nvel intermedirio e nvel de superfcie sua unio expressa a integrao de um indivduo, a vida autnoma. [...] Na tentativa de compreender o que vive e se move por detrs do
28
Referimo-nos aos tratados Versuch ber die wahre Art das Clavier zu spielen (1753) de C.P.E. Bach, Gradus ad Parnassum (1725) de J.J. Fux, e Traite de lharmonie (1722) J. Rameau. 29
Na desornamentao, Schering realizava o processo inverso do senso comum (prtica de ornamentar), ou seja, excluam-se os ornamentos, um a um, na inteno de alcanar a estrutura musical, ou a pea musical em seu estado puro.
-
44
fenmeno da vida, por detrs das ideias em geral e arte em particular, ns solicitamos um plano de fundo definido, uma alma predisposta a acolher o nvel bsico. Tal alma, constituda de um desenvolvimento peculiar da natureza humana sendo quase mais arte que natureza dada to-somente ao gnio. (SCHENKER, 1979, p. 3, traduo nossa)
30.
No mbito estrutural, no so bem-vindas as elaboraes aleatrias,
pois desde que h uma estrutura, os demais elementos precisam ser
desenvolvidos a partir dela, sob o risco de resultar em caos. Schenker
relaciona o dia a dia das grandes massas como metfora da desordem. Para
ele, o cotidiano catico da populao tinha a capacidade de refletir, de fato, em
alguns compositores, como obras sem coerncia artstica, lgica ou
organicismo:
vidas so s uma desordenada e eterna superfcie, um presente contnuo e
sem conexo, soltas caoticamente no vazio, de forma ani
(SCHENKER, 1979 p.3).
2.1.2. A Barbrie e a Ornamentao
Em complemento a tal
por Schenker, Nicholas Cook (2007) aponta fato similar, volvido ao significado
social a ideia do ornamento como sinnimo da falta de civilidade. Entre 1890
e as primeiras dcadas do sculo XX, em Viena, um tendncia modernista
atribua um sentido pejorativo aos ornamentos. Assim, ele era relacionado ao
desperdcio, inatividade, ao cio. Schenker, embora estivesse desfavorvel a
esta linha de pensamento, provavelmente esteve acometido por tal tendncia.
O arquiteto Adolph Loos (1870-1933), que permanecera no mesmo ciclo social
vienense, estava entre os principais militantes contra a ornamentao. De tal
30
ll development and is ultimately part of the
their union expresses the oneness of an individual, self-contained life. In order to comprehend what lives and moves behind the phenomena of life, behind ideas in general and art in particular, we ourselves require a definite background, a soul predisposed to accept the background. Such a soul, which constitutes a peculiar enhancement of nature in man- being almost more art than nature is given only to genius .
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45
forma, Loos desvestia suas obras de qualquer tipo de ornamento e, em um
ensaio publicado na