Quinina

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QUININA O primeiro fármaco empregado no tratamento da malária foi a quinina , que é um alcalóide quinolínico presente em árvores nativas da América Central e do Sul, do gênero Cinchona, responsável pela atividade anti-malarial. A descoberta da quinina pelo Ocidente data do final do século XVI e início do século XVII, durante a conquista do Império Inca pelos espanhóis na região do Peru. Nessa época, os invasores espanhóis tomaram conhecimento de uma árvore usada pelos índios para curar febre. Na América do Sul, os nativos (índios) dos Andes e outros tinham já usavam a casca da árvore da Cinchona para tratar a malária. A origem do nome Cinchona deve-se a um episódio que teria ocorrido em 1638, no Perú, quando a esposa do vice-rei, condessa Ana del Cinchon, contraiu malária. A Condessa teve a melhora do seu quadro de saúde, após sua febre ter sido tratada por um Xamã, que lhe indicou uma infusão à base de casca da árvore que Lineu, anos mais tarde, batizaria de Cinchona officinalis em homenagem à condessa.A introdução da quinina (1) no continente europeu só veio a ocorrer mais tarde, em 1658, por interferência dos jesuítas. “O gênero Cinchona tem sido intensamente estudado desde a sua descoberta para a cura da malária. As espécies do gênero Cinchona são consideradas, universalmente, como as

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QUININA

O primeiro fármaco empregado no tratamento da malária foi a quinina , que é um

alcalóide quinolínico presente em árvores nativas da América Central e do Sul, do

gênero Cinchona, responsável pela atividade anti-malarial.

A descoberta da quinina pelo Ocidente data do final do século XVI e início do

século XVII, durante a conquista do Império Inca pelos espanhóis na região do Peru.

Nessa época, os invasores espanhóis tomaram conhecimento de uma árvore usada pelos

índios para curar febre. Na América do Sul, os nativos (índios) dos Andes e outros

tinham já usavam a casca da árvore da Cinchona para tratar a malária.

A origem do nome Cinchona deve-se a um episódio que teria ocorrido em 1638,

no Perú, quando a esposa do vice-rei, condessa Ana del Cinchon, contraiu malária. A

Condessa teve a melhora do seu quadro de saúde, após sua febre ter sido tratada por um

Xamã, que lhe indicou uma infusão à base de casca da árvore que Lineu, anos mais

tarde, batizaria de Cinchona officinalis em homenagem à condessa.A introdução da

quinina (1) no continente europeu só veio a ocorrer mais tarde, em 1658, por

interferência dos jesuítas.

“O gênero Cinchona tem sido intensamente estudado desde a sua descoberta para a cura

da malária. As espécies do gênero Cinchona são consideradas, universalmente, como as

que salvaram a humanidade da malária. Em 1643 foi reportada pelos jesuítas, pela

primeira vez na Europa, sendo utilizada marcadamente durante as duas Guerras

Mundiais” (ZEVALLOS, 1989; VERVEEN, 1984).

O jesuíta chamado Padre Calancha descreveu as propriedades de cura da árvore na

Crônica de Santo Agostinho:

“Uma árvore cresce, que eles chamam de árvore da febre, na região de Loxa, cuja casca

tem cor de canela. Quando transformada em pó, juntando-se uma quantidade

equivalente ao peso de duas moedas de prata, e oferecida ao paciente como bebida, ela

cura febre e... tem curado miraculosamente em Lima."

Após sua introdução, sucedeu- se um período de intenso uso da quinina (1) no

tratamento de várias enfermidades (panacéia). Para suprir a demanda do mercado,

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passou-se a cultivar a Cinchona em várias colônias européias, com espécies trazidas do

continente americano. Após um período de aproximadamente 200 anos do emprego da

Cinchona, Pelletier e Caventou isolaram a quinina (1) na École de Pharmacie de Paris,

em 1820 das cascas de Cinchona e a identificaram como sendo um alcalóide. Só muito

mais tarde foi reconhecida como um alcalóide da classe dos indolo-terpênicos.

Quinina (1), fármaco antimalárico natural presente no gênero Cinchona

A biossíntese da quinina envolve a condensação da triptamina e secologanina,

levando a estriquitosidina, posteriormente ao corinanteol e finalmente após sucessivos

rearranjos à quinina

A obtenção de quinina de fonte vegetal perdurou até a Segunda Guerra

Mundial, quando as áreas de cultivo encontravam-se em meio à disputa bélica. O risco

de contágio das tropas em combate, acarretando em baixas para os exércitos, provocou

investimentos que estimularam os cientistas a obter a quinina de forma sintética. Isso

aconteceu pelas mãos de Woodward e Doering, em 1945. Graças ao desenvolvido

estágio que a indústria alemã de corantes observava no início do século 20, obtendo,

eficientemente, compostos heterociclícos coloridos de grande importância industrial à

época, diversos compostos desta classe química, inclusive heterociclícos quinolínicos,

foram ensaiados contra a malária.

Isso resultou na descoberta da cloroquina, que possui, em semelhança à quinina,

o núcleo quinolínico.A síntese da cloroquina,dá-se inicialmente pela reação clássica de

condensação da 3- cloroanilina e dietil-2-cetobutirato,para a obtenção da imina. A imina

, quando aquecida em solvente de alto ponto de ebulição, leva ao deslocamento do

grupamento etoxila, com conseqüente ciclização. Ainda na mesma etapa, com o

emprego de condições de saponificação, é obtido o intermediário ácido. A

descarboxilação e conversão do grupamento enol de é feita pelo seu aquecimento na

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presença de oxicloreto de fósforo. Na última etapa, o halogênio é deslocado, via reação

de substituição nucleofílica aromática (SNAr), por uma amina primária, para a obtenção

da cloroquina.

“Uma intensa competição para se identificar a espécie com o mais alto teor desse composto, foi o que causou a extinção de populações de plantas de cinchonas selvagens no início do século XIX e induziu o estabelecimento de plantações das espécies.Posteriormente, com o sucesso dos holandeses no cultivo de Cinchona calisaya, Java tornou-se o centro mundial de produção de quinina”(CARVALHO; KRUG, 1944; ANDERSSON, 1998).

A cinchona compreende várias espécies chamadas vulgarmente de ‘cascarilla,

árvore da quina ou árvore do quinino’,que contém quinina (alcalóide com propriedades

antifebrífugas) na sua casca, das quais foram extraídas grandes quantidades, no Peru e

na Bolívia.

Uso popular

É utilizada entre a população a partir de chás,em que se coloca a casca da

cinchona deixa-se cozinhar por cerca de 10 minutos, após esse tempo, retira-se do fogo

e deixa-se repousando,por 10 minutos. Côa-se e está pronto para o uso.

As partes usadas são o talo e a casca da raiz. Estas partes são, secadas para

confecção de extratos líquidos, tabletes, tinturas ou pó. As cascas podem ser raspadas

das plantas no local ou descascada de ramos podados.

Compostos químicos /extraídos

“Os compostos químicos das espécies do gênero Cinchona são os alcalóides quinólicos (quinina,

quinidina, dihidroquinidina, cinconidina, cinconina e dehidrocinconina) e indólicos (dihidroquinamina e3

epi-dihidroquinamina), com a quinina apresentando a mais alta atividade antimalárica” (VERPOORTE;

SCHRIPSEMA; VAN-DER-LEER, 1988).

          Muitos agentes antimaláricos (como a primaquina, cloroquina, amodiaquina e

mefloquina ) contêm um anel quinolina e são potentes inibidores reversíveis do CYP;

porém, a atividade inibitória não está associada com a estrutura da quinolina, uma vez

que o nitrogênio da piridina está inacessível pelo impedimento estéreo. Em vez disso, o

grupo amino em substituintes do anel quinolina parece ser o determinante primário da

potência inibitória observada nestes compostos. Acredita-se que o grupo amino terminal

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da primaquina está envolvido na ligação direta com o Fe+++ do heme (MURRAY &

FARREL, 1986).

FIGURA 1 - Estrutura dos agentes antimaláricos - primaquina, cloroquina, amodiaquina e mefloquina.

Ação Farmacológica

A quinina e a quinidina são utilizadas, ao nível do miocárdio, contra problemas de

eretismo cardíaco e anginas precordiais; o clohidrato de quinina para esclerosis de

origem hemorroidal; o escorbato de quinina, associado à vitamina B, para o tabagismo e

para cãibra, ademais é analgésica e antipirética (REA, 1995).

A quinina possue ação farmacológica contra febrífugas, antimaláricas, tonificante,

adstringente e cicatrizante.

A quinina é usada como aditivo amargo nos alimentos e bebidas (BRUNETON,

2001) e na indústria química nas catálises e imobilizações de matrizes poliméricas

(VERPOORTE; SCHRIPSEMA, VAN-DER-LEER, 1988). A quinidina como

antifibrilante é adequada ao tratamento preventivo da taquicardia, justificando que 30 a

50% da produção de quinina é transformada por meios físicomecânicos em quinidina

(PRINZ, 1990; BRUNETON, 2001). Os alcalóides quinolínicos apresentam atividade

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contra o vírus da batata (VERPOORTE; SCHRIPSEMA, VAN-DER-LEER, 1988) e os

indólicos do tipo cincofilinas contra as bactérias gram-positivas (REA, 1995

Ações Tóxicas

Exceder-se nas dosagem indicadas pode para o uso interno pode acarretar em

náuseas e vômitos.

O quinino é, infelizmente, o mais tóxico dos antimaláricos. O emprego combinado

do quinino com a clindamicina, tetraciclina, ou com a associação sulfadoxina–

pirimetamina, permite o uso do quinino por tempo mais curto, e portanto com menores

para-efeitos.

O conjunto dos para-efeitos mais comumente determinados pelo quinino é

denominado cinchonismo (de Cinchona officinalis, o nome científico da quina, o

arbusto do qual o quinino é extraído), e consiste em tinitus, náusea, mal-estar e

borramento da visão. Estes sintomas são em geral moderados em intensidade, e não

implicam na necessidade de interrupção do tratamento.

Doses tóxicas de quinino produzem reações mais graves, incluindo hipotensão,

choque, distúrbios de condução miocárdica, cegueira, surdez e alterações do sistema

nervoso. Estas reações raramente são vistas no tratamento da malária, sendo mais

comuns em caso de tentativa de suicídio, nas áreas onde a medicação está à disposição

das populações. Reações de hipersensibilidade também ocorrem e manifestam-se por

exantema, prurido, febre e crises asmatiformes. A trombocitopenia e a leucopenia

(mediadas por mecanismo imunológico) decorrentes do uso do quinino são muito raras.

O quinino é o mais poderoso estímulo conhecido à secreção de insulina e pode provocar

hipoglicemia, especialmente em pacientes com malária grave ou em gestantes. No

entanto, o uso do quinino é seguro durante a gravidez. Apesar de ser empregado na

medicina caseira como medicação abortiva, o quinino não é ocitócico. Na gestante com

formas graves de malária, o quinino pode impedir o trabalho prematuro ou o

abortamento induzido pela doença.

A casca de quina passou a ser usada como medida profilática para prevenção da

malária.A industria de bebidas aproveitou a oportunidade e passou a oferecer produtos

contendo quini.Criaram-se assim o vinho quinado,e a água tônica de quinino.Com o

tempo,esse produtos popularizaram-se e passaram a ser anunciados como bebidas

tônicas.Como são amargas,passaram a ser usadas também como aferientes.