Questão Extremo Sul
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7/25/2019 Questo Extremo Sul
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A QUESTO AGRRIA NO BRASIL: UM RESGATE HISTRICO E OSCONFLITOS SOCIOECONMICOS NO EXTREMO SUL BAIANO
Tainan Cristina de Araujo Bogo1
Resumo
Este trabalho teve como objetivo uma primeira aproximao na compreenso
da Questo Agrria no Brasil, buscando compreender como se desenvolveu a
questo no pas e principalmente na Regio do Extremo Sul baiano; buscando
saber como se deram os seus reflexos na produo econmica e social da
regio e as implicaes para os movimentos sociais do campo presentes na
regio.
Palavras chave: Questo agrria, Histria, Extremo Sul Bahia
Resmen
Este trabajo tuve como objetivo una primera aproximacin en la comprensin
de la Cuestin Agraria en el Brasil; con el propsito de asimilar el desarrolla la
cuestin en el pas y principalmente en la Regin del Extremo Sur Bahiano. Se
pretende saber cmo se dieron sus reflexiones sobre la produccin econmica
y social de la regin y las implicancias para los movimientos sociales del campopresentes en la Regin.
Palabra clave: Cuestin Agraria, Historia, Extremo Sur Bahia
Introduo
Nos sculos passados, a questo da fome no mundo foi tratada como
tabu. Josu de Castro foi um dos muitos autores que se props a debater este
tema e apontar as falhas humanas presente nesta sociedade e denunciar a
necessidade de se fazer a reforma agrria no Brasil.
A fome foi (e ainda ) tratada como uma questo isolada, remetida
muitas vezes apenas a insuficincia de produo alimentcia no mundo, e
tratada de forma moral, na qual toda a sociedade culpabilizada pelo
desperdcio de comida.
1Graduanda em Servio Social pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e MucuriUFVJM
Email: [email protected]
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Analisando historicamente os fatos sobre a questo agrria no Brasil,
demonstrando como a mesma se fez presente desde o descobrimento deste
pas, e como seus reflexos esto presentes na formao da sociedade
brasileira, possvel ver como a questo da fome est diretamente ligada a
estrutura agrria presente no pas, as suas relaes de trabalho e a
necessidade de se fazer reforma agrria.
Na regio do Extremo Sul baiano, esta questo se mostra ainda mais
escancarada. Uma regio que nos ltimos anos vem sendo conhecida
mundialmente pelas extensas reas de monocultivo do eucalipto. Desse modo
surge necessidade de se compreender historicamente os fatores que
formaram tal regio e principalmente os reflexos desta formao na presente
dinmica do territrio atualmente.
1. A questo agrria no Brasil
O Brasil um dos pases com maior extenso territorial do mundo, com
mais de 850 milhes de hectares de terra, onde habitam mais de 200 milhes
de pessoas; no tocante a propriedade da terra, um pas de extremas
contradies; segundo dados do Censo Agropecurio de 2006 o Brasil um
dos pases com maior concentrao de terra no mundo, perdendo apenas para
o Paraguai2.
A concentrao de terras pode ser constatada nos dados estatsticos do
Incra (2003) que demonstram que as pequenas propriedades, com menos
de 200 hectares, somavam at ento 3.895.968 imveis
Estes dados no so aleatrios, so frutos de uma longa trajetria
pautada na excluso, expulso dos pequenos camponeses, ndios e negros,
depredao dos recursos naturais, desde a chegada dos portugueses at osdias atuais.
Apesar de vivenciarmos esta questo h 500 anos, segundo Stdile
(2005) os estudos acerca da questo agrria so recentes, datam do incio do
sculo XX; o autor acrescenta que esta razo se deu primeiramente pela
subservincia colonial que o Brasil viveu durante muitos anos, basta recordar
2 Dado retirado do artigo Dignidade Rural de Fernando Prioste publicado emhttp://www.brasildefato.com.br/node/12219 (acessado em 20/03/2014)
http://www.brasildefato.com.br/node/12219http://www.brasildefato.com.br/node/12219http://www.brasildefato.com.br/node/12219http://www.brasildefato.com.br/node/12219 -
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que foi apenas com a Semana de Arte Moderna, em 1922, que comea a se
pautar a necessidade de uma pensamento genuinamente brasileiro, no que
tange a arte, cincia, histria, etc.
Desse modo, se formos pensar em publicaes acerca deste tema,
todos se mostraro muito recentes, com alguns pontos consensuais entre
diversos autores e outros discrepantes, at mesmo sobre o conceito da
questo agrria.
Para explicar este tema, Stdile (2005), recorre a diversas reas do
conhecimento, trazendo conceitos da Geografia, Sociologia e Histria;
O conceito questo agrria pode ser trabalhado e interpretado dediversas formas, de acordo com a nfase que se quer dar a diferentesaspectos do estudo da realidade agrria. Na literatura poltica, oconceito questo agrria sempre esteve mais afeto ao estudo dosproblemas que a concentrao da propriedade da terra trazia aodesenvolvimento das foras produtivas de uma determinadasociedade e sua influncia no poder poltico. Na Sociologia, oconceito questo agrria utilizado para explicar as formas como sedesenvolvem as relaes sociais na organizao da produoagrcola. Na Geografia, comum a utilizao da expresso questoagrria para explicar a forma como as sociedades, como as pessoasvo se apropriando da utilizao do principal bem da natureza, que a terra, e como vai ocorrendo a ocupao humana no territrio. Nahistria, o termo questo agrria usado para ajudar a explicar a
evoluo da luta poltica e a luta de classes para o domnio e ocontrole dos territrios e da posse da terra. (2005, p.15)
Como se pode ver, no possvel compreender a questo agrria
atravs de uma nica rea do conhecimento, por se tratar de uma problemtica
complexa, h a necessidade de articular o conhecimento sobre a temtica
abrangendo as contribuies de diversas reas, que so correlatas mas que
possuem suas especificidades para tal explicao.
Para interpretar a Questo Agrria brasileira, o supracitado autor traz
neste mesmo livro uma linha evolutiva acerca da problemtica, dividindo a
mesma em vrios perodos.
Valendo-se das ideias de Darcy Ribeiro, inicia o debate sobre o que a
questo agrria, com um breve relato sobre como foi desenvolvida: a
organizao e diviso da propriedade da terra no Brasil.
O primeiro perodo demarcado pelo autor, compreende 50.000 a.C. a
1.500 d.C., tempo em que as populaes habitantes do territrio brasileiro
viviam em agrupamentos sociais, executavam atividades de subsistncia, ou
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como o prprio autor coloca comunismo primitivo, sem concepes
mercadolgicas sobre a terra ou quaisquer outros bens, neste perodo no h a
propriedade privada da terra, seu uso era coletivo.
O segundo perodo datado de 1500 a 1850 caracterizado por diversos
momentos importantes para a histria brasileira. Com o descobrimento da Ilha
de Vera Cruz, os portugueses, filhos de um nascente capitalismo europeu,
instalam nestas terras um sistema poltico, econmico e social, apoderam-se
da terra atravs da represso ou da cooptao, e tambm das pessoas que se
digam contraria a tais ideais, impondo aos ndios seu modo de produzir, a
cultura europeia e at mesmo as leis que agora iriam vigorar naquele territrio.
Para Stdile (2005),
A organizao da produo e a apropriao dos bens da naturezaaqui existentes estiveram sob a gide das leis do capitalismomercantil que caracterizava o perodo histrico j dominante naEuropa. Tudo era transformado em mercadoria. Todas as atividadesprodutivas e extrativistas visavam lucro. E tudo era enviado metrpole europeia, como forma de realizao e de acumulaocapital. (2005, p.20)
Sendo assim, neste perodo no h necessariamente a transformao
da terra em mercadoria. A Coroa Portuguesa dividiu o territrio nas chamadas
Sesmarias, e destina cada pedao dela, atravs da Concesso de Uso a
quem tivesse poder aquisitivo para investir na produo e extrao daquela
terra; alm do que, esta concesso era de direito hereditrio, portanto a posse
das mesmas foi se perfazendo durante diversas geraes de uma mesma
famlia, no sendo necessariamente uma mercadoria, pois o capital ainda no
havia ainda se instalado aqui.
A partir de 1850 a 1930, o Brasil passa por um processo muito
importante para a instalao e desenvolvimento do capitalismo, denominadoento por Stdile como Terceiro Perodo.
Neste perodo a Europa j havia passado por diversas transformaes, e
o sistema capitalista estava em alta, sendo assim, a Coroa portuguesa se viu
pressionada por parte da Inglaterra para abolir a escravido, uma vez que os
ingleses visavam expandir seu mercado consumidor.
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Nesse contexto, em 1850, decreta-se no Brasil a primeira Lei de Terras
(Lei n 601), onde transforma-se ento a terra em mercadoria, e dali em
diante, sua posse s pode ser adquirida atravs da compra e venda3.
Stdile (2005) caracteriza tal lei como o batistrio do latifndio no
Brasil, uma vez que ela regulamentou e solidificou o modelo da grande
propriedade rural, alm de caracteriza-la tambm como me das favelas
brasileiras.
Na sequncia, com a abolio da escravatura em 1888, tm-se a
libertao do negro no Brasil, porm, no se obteve as condies propcias
para que efetivamente estes se tornassem cidados e se integrassem a
sociedade moderna ou que pudessem vender sua fora de trabalho e consumir
mercadorias, sendo assim expulsos das terras em que trabalhavam e
obrigados a migrarem para as periferias dos grandes centros urbanos,
alojando-se em morros, manguezais, regies perifricas.
Stdile (2005) ento pontua que:
A sada encontrada pelas elites para substituir a mo-de-obra escravafoi realizar uma intensa propaganda na Europa, em especial na Itlia,na Alemanha e na Espanha, para atrair os camponeses pobresexcludos pelo avano do capitalismo industrial no final do sculo 19na Europa. E, assim, com a promessa do "eldorado", com terra frtil e
barata, a Coroa atraiu para o Brasil, no perodo de 1875-1914, maisde 1,6 milho de camponeses pobres da Europa. (2005, p. 25)
Desse modo, percebemos que h uma tentativa de branqueamento da
populao brasileira, uma vez que boa parte da populao era negra, mestia e
indgena. Os dados abaixo mostram bem esta tentativa:
Tabela IEvoluo da Populao Brasileira15001800
Crescimento da Populao Integrada no empreendimento colonial e diminuio dos
contingentes aborgines autnomos.
1500 1600 1700 1800
3Nesse sentido, Marx (1988) quando trata da acumulao primitiva do capital pontua que aTerra se caracteriza como propriedade privada a partir do momento que passa a ser exploradacom a finalidade de atender ao mercado, sendo assim, tal decreto, no caso brasileiro, visabeneficiar os capitalistas e excluir aqueles que desprovidos de capital no pudessem ter
acesso terra, e fossem obrigados a se transformar em trabalhadores assalariados quepassaram a vender sua fora de trabalho em prol da produo de mercadorias para o mercado
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Brancos do Brasil --- 50.000 150.000 2.000.000
Escravos --- 30.000 150.000 500.000
ndios Integrados --- 120.000 200.000 1.000.000
ndios Isolados 5.000.000 4.000.000 2.000.000 1.000.000
Totais 5.000.000 4.200.000 2.500.000 5.000.000
Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro, Companhia das Letras, So Paulo, 1997, p.151
Atravs dessa descrio, o autor busca mostrar que neste especfico
perodo de tempo que surge o campesinato brasileiro. O mesmo pontua tal
processo atravs de duas vertentes; a primeira baseada na vinda dos
imigrantes europeus para as regies sul e sudeste; e a segunda baseada nas
origens das populaes mestias, atravs do encontro entre brancos, negros,
ndios, etc. que foram se formando durante toda a colonizao.
O autor ressalta ainda que esta populao no era submetida ao
trabalho escravo, mas paralelamente no eram capitalistas, se classificavam
como trabalhadores pobres genuinamente brasileiros. Como a Lei de Terra
impedia que os mesmos se tornassem proprietrios de terras, estes acabaram
por povoar o interior do Brasil, desenvolvendo atividades agrcolas de
subsistncia.
Por fim, o perodo que compreende de 1930 a 1964 denominado pelo
autor como Quarto Perodo, marcado por uma nova fase da histria econmica
brasileira.
Primeiramente no ano de 1930 que tm-se o fim da Poltica Caf-
com-Leite e a entrada de Getlio Vargas no poder, iniciando-se tambm como
pontua Florestan Fernandes (2008) o modelo de industrializao dependente,caracterizada pelo no rompimento com os pases centrais, desenvolvidos,
alm de manter a hegemonia da oligarquia rural. Nas palavras do autor:
O que muitos autores chamam, com uma extrema impropriedade, decrise do poder oligrquico no propriamente um colapso, mas oincio de uma transio que inaugurava, ainda sob a hegemonia daoligarquia, uma recomposio das estruturas do poder, pela qual seconfigurariam, historicamente, o poder burgus e a dominaoburguesa. Essa recomposio marca o incio da modernidade, noBrasil, e praticamente separa (com um quarto de sculo de atraso,
quanto as datas de referncia que os historiadores gostam deempregar A abolio, a Proclamao da Repblica e as
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inquietaes da dcada de 20), a era senhorial (ou o antigo regime)da era burguesa (ou a sociedade de classes). (2008,p. 266)
Em suma, as oligarquias rurais seguem como proprietrias das terras
brasileiras, porm no detm o poder poltico, este fica a cargo da burguesia
industrial; surgindo assim um setor de indstria vinculado a agricultura, uma
vez que a burguesia industrial brasileira emerge da oligarquia rural, o modelo
industrial brasileiro era/ totalmente dependente, pois necessitava importar
diversos artigos industriais alm da fora de trabalho, uma vez que enquanto o
capitalismo comeava a ganhar forma no Brasil, na Europa o mesmo j estava
consolidado, e a importao de tais artigos s era possvel atravs das
exportaes agrcolas que por sua vez geravam lucro.
Em termos de classe camponesa, Stdile (2005) pontua que este
perodo refletiu um crescimento da classe camponesa, ao passo que os
mesmos se reproduziam e se multiplicavam enquanto classe, mas tambm
significou um perodo de xodo rural, na medida em que muitos dos
camponeses migravam para a cidade, transformando-se assim em operrios.
A partir da dcada de 60 do sculo XX ento, que eclodiu tambm a
primeira crise cclica do modelo de industrializao dependente e diversas
organizaes e mobilizaes sociais, pressionaram e debateram sobre a
questo agrria brasileira.
neste perodo que Caio Prado JR., publica na Revista Brasiliense,
1962, um pequeno texto onde denuncia a situao de miserabilidade vivida
pelos trabalhadores rurais, naqueles tempos. Assim destaca o autor:
O que se entende e deve entender por reforma agrria nas atuaiscircunstancias do pas, a elevao dos padres de vida dapopulao rural, sua integrao em condies humanas de vida, oque no e est longe ainda de ser o caso em boa parte do Brasil. A
grande massa dos 30 e tantos milhes de brasileiros que vivem nocampo e tiram seu sustento do trabalho da terra, se encontra em nvelde miserabilidade que tem poucos paralelos em qualquer outra partedo mundo.(1981, p.88)
Este perodo marcado pela efervescncia dos movimentos dos
trabalhadores urbanos e rurais, alm da organizao militar, caracterizado pela
implantao de ditaduras militares em diversos pases da Amrica Latina.
2. A questo agrria no Extremo sul Baiano
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Para entendermos a questo agrria e seus reflexos na vida politica,
econmica e social da regio importante resgatarmos como foi o processo de
ocupao e desenvolvimento da mesma, atravs de uma perspectiva histrico-
crtica.
O territrio do Extremo Sul Baiano composto hoje por 21 municpios 4,
e subdividido em duas costas, a Costa do Descobrimento e a Costa das
Baleias, onde se encontram reservas naturais como o Parque Nacional
Marinho dos Abrolhos e o Parque Nacional e Histrico do Monte Pascoal.
Pode-se dizer que a histria do Brasil iniciou-se neste territrio, tanto a
riqueza das diferenas culturais que um dia se misturaram caracterizando a
nacionalidade brasileira como as contradies que iriam permear todo o
desenrolar desta mesma historia.
De acordo com Koopmans (1997) so vagos os relatos sobre o inicio do
povoamento da Regio, a maioria deles referem-se apenas as vilas de Porto
Seguro e Santo Andr, que at meados do sculo XVIII concentravam todos os
tramites polticos e econmicos. Para o autor:
A Regio ficou relativamente intocada at o final do sculoXVIII, posto que a Coroa Portuguesa norteava-se por esseinteresse, tendo em vista o controle de entrada e de sada daszonas de minerao. A partir da, ela ganhou novamente ointeresse do governo, preocupado com questes geopolticas,passando a instalar, varias fortificaes com o intuito decombater e fazer frente aos ndios. (1997, p.18)
Pela proximidade com a regio do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, e
pelas ainda matas fechadas, a regio Extremo Sul foi por muitos anos uma via
de desvio de pedras, que eram retiradas do Alto Jequitinhonha, desviadas da
fiscalizao da Coroa pelo Mdio Jequitinhonha, chegando aos portos baianose de l percorrendo o mundo.
Koopmans (1997) tambm nos conta que um dos principais relatores
sobre a histria da regio foi o prncipe Maximiliano Von Neuwied, que viajou
4 Alcobaa, Belmonte, Caravelas, Eunpolis, Guaratinga, Ibirapu, Itabela, Itagimirim,
Itamaraj, Itanhm, Itapebi, Jucuruu, Lajedo, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viosa, PortoSeguro, Prado, Santa Cruz Cabrlia, Teixeira de Freitas, Vereda. (Dados retirados do site:
http://www.cultura.ba.gov.br/wp-content/uploads/2011/06/Anexo-II-Rela%C3%A7%C3%A3oTerrit%C3%B3rios-de-Identidade.pdf)
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por estas terras entre os anos de 1814 a 1817, descrevendo em seu livro
Viagem ao Brasil (1820)tudo aquilo que vivenciou por estas terras.
De acordo com os relatos do prncipe contados por Koopmans (1997)
um dos principais produtos produzidos era a farinha de mandioca, responsvel
pelo comrcio e agitao no porto de Caravelas, alm claro da extrao
madeireira, presente deste o sculo XVI at os dias de hoje.
Percebemos ento que a participao desta regio na economia do pas
se mostrava nfima e perifrica, servindo muitas vezes apenas como rota de
passagem.
At ento, a ocupao do territrio era predominantemente na costa
baiana, e apenas com o final da escravido que as ocupaes as margens
dos rios Jequitinhonha, Prado e Mucuri iro ocorrer, tal como a construo da
Estrada de Ferro Bahia-Minas, com ponto final em Ponta de Areia, em
Caravelas, que proporcionar a vinda de diversos mineiros para a regio.
At o inicio do sculo XX a agricultura presente no Extremo Sul era
baseada na subsistncia e na pequena propriedade. Ocorre que as mudanas
econmicas e politicas que ocorreram nos anos 1950 e 1960 impactaram
fortemente toda a dinmica da regio. Para Arajo (2007):
As mudanas no estilo de vida, nas formas de sociabilidade eestruturao das relaes sociais, culturais e politicas, decorrentesda introduo do modo capitalista de produo e de vida emmbito nacional apresentaram reflexos em nveis local e regional,criando a possibilidade de sobrevivncia de modelos de vida e derepresentaes sociais tidas como opostas e contraditrias. (2007,p. 141)
O projeto de governo do presidente Kubistchek, 50 anos em 5, refletiu de
maneira violenta nesta regio. A necessidade de expanso do capital, extrao
de matria prima e novas relaes comerciais incentivaram a burguesianacional a explorar e demarcar novas terras, de maneira que a extrao
madeireira se intensificou neste perodo, tal como a expulso de camponeses
nativos, que tiveram interrompido no s sua produo, mas sua ideologia, sua
intelectualidade, e as mais diversas expresses de vida.
Arajo (2007) nos conta que a falta de meios de comunicao e
inexistncia de servios bancrios fizeram com que os nicos investimentos
financeiros fossem particulares e colonialistas (2007, p.142). apenas na
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dcada de 1970 com a criao da BR 101 que um novo ciclo madeireiro ir
iniciar trazendo o to sonhado progresso para a regio.
A BR 101 proporcionou o escoamento das madeiras extradas, uma
maior qualidade para a rodagem, valorizao das terras, trouxe com ela
tambm o nascimento de novas cidades, como Eunpolis, Teixeira de Freitas e
Itabela, e paralelamente intensificou a contradio que demarcou esta regio
desde a chegada dos Portugueses neste solo, a contradio entre o modo de
vida dos primeiros ocupantes e a promessa de progresso dos forasteiros.
Dessa maneira, a regio se consolidou como uma das maiores
extenses monocultora de eucalipto. Segundo Pedreira (2004):
A conjuno de fatores, como a existncia de reas aptas ao
reflorestamento, excelentes condies edafoclimticas, osincentivos fiscais, alm do padro concorrencial do segmento depapel e celulose, condicionaram-se mutuamente para que oExtremo Sul da Bahia se tornasse uma rea privilegiada para aexpanso e o desenvolvimento de atividade florestal e daagroindstria de celulose. Assim, no contexto das estratgias deexpanso empresarial, instalam-se na regio vriosempreendimentos do segmento florestal e de papel e celulose, aexemplo da Bahia Sul Celulose, da Aracruz, da Veracel e da CAFFlorestal. Esses empreendimentos totalizam, uma rea de,aproximadamente, 300.000 ha de eucalipto, cultivados em terrasprprias (em sua maioria) e em projetos de fomentos comprodutores rurais. (2004, p. 1010)
De acordo com estudos realizados pela ADITAL, existem cerca de 700
mil hectares de terra com eucalipto plantado. Pedreira (2004) em seus estudos
j apontava indcios para a desertificao da regio no ano de 2004, segundo a
autora nos anos 1970 a rea ocupada com matas e florestas era de 30,12%
sendo que nos anos de 1995/96 este valor j havia decado para 15,25%.
Segundo Santos e Silva (2004):
A expanso da monocultura do eucalipto para produo de
celulose e carvo vegetal construiu um complexo agroindustrialexportador, que ao longo das ltimas quatro dcadas no Sudestevem impactando os rios dessa regio que foram degradados pelacontaminao por uso intensivo de agrotxicose por um processode secamento relacionado ao plantio em larga escala, comprometendo a pesca e a qualidade e quantidade da gua potvel.(2004, p.4)
Esta monocultura acaba por sua vez impactando diretamente no s o
meio ambiente, mas tambm a vida humana diretamente, pois se alteraram os
nveis do xodo rural, do desemprego e das relaes produtivas. Arajo (2007)
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traz alguns relatos de um estudo feito pelo Polo Nordeste (rgo estadual que
atuava na regio):
(...) no acelerado processo de ocupao econmica a regio vinhasofrendo enorme perda de sua produo agrcola para abastecimentodos alimentos bsicos, por causa da expulso dos pequenosprodutores que tiveram suas terras adquiridas por grandes gruposeconmicos. (CPT, s/d, p.6 apud 2007, p. 143).
Todo este movimento influenciou diretamente tambm na organizao
popular de resistncia a chegada e instalao desta dinmica da silvicultura.
Prova disto foi o nascimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra na regio, que teve como primeira ocupao o territrio do hoje
Assentamento 4045 em 1987, no municpio de Alcobaa.
importante lembrar que neste perodo, todo o pas vivenciava um forte
sentimento de indignao politica e social, juntamente com a esperana da
transformao de uma nova sociedade. Sendo assim, diversos outros
movimentos tambm se desenvolveram nesta regio, como a Comisso
Pastoral da Terra, os Sindicatos Rurais e a Pastoral da Juventude.
Ao passo que crescia os investimentos do grande capital na silvicultura
paralelamente tambm crescia as desigualdades sociais e a fora popular para
o enfrentamento desta realidade.Hoje existem movimentos organizados indgenas, quilombolas, de
trabalhadores rurais sem terra, reservas extrativistas dentre muitos outros.
Movimentos que procuram perpetuar uma ideologia para alm da lgica
exploratria do capital, retrocedendo ao sentido inicial da relao entre o ser
humano e a natureza, que para alm de um meio para sua subsistncia
significa um meio de respeito a vida.
4. Consideraes Finais
A partir do resgate histrico acerca da questo de terras no Brasil
percebe-se que a questo agrria no se limita apenas a apropriao de terra
por parte do Estado colonizador ou mesmo do Estado conivente ao grande
Capital, esta concentrao deixou historicamente dvidas com o povo brasileiro,
camponeses, quilombolas, indgenas e outros.
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Sendo assim, percebe-se tambm que a questo agrria no territrio do
Extremo Sul Baiano ao longo dos anos foi sendo constantemente agravada
pelos reflexos gerados a partir de todo seu contexto histrico de formao,
como por exemplo, a permanncia da concentrao fundiria at os dias de
hoje, os conflitos indgenas e quilombolas contra grileiros, das reservas
extrativistas para se manterem ativas mesmo com a ofensiva das grandes
empresas, a reduo da biodiversidade, a acelerada expanso das cidades
acarretando no aumento desenfreado da violncia, desemprego e fome.
No tocante s implicaes econmicas e sociais para a formao dos
movimentos sociais na Regio do Extremo Sul, constatamos que tais
movimentos serviram como formas de resistncia coletiva ao avano da
propriedade privada da terra, do latifndio e de demais formas de explorao.
Percebemos tambm como a resistncia e a luta dos trabalhadores rurais em
defesa de seu espao e de seu territrio importante para o entendimento da
nossa prpria histria.
O estudo aponta para a continuidade do problema da terra no Brasil,
haja vista que na atualidade o Estado brasileiro atravs dos seus governantes
no disponibilizam de programas que primam pela democracia econmica e
portanto da distribuio da terra para os trabalhadores.
REFERNCIAS
ARAUJO, M. N. R. de. As contradies e as possibilidades de construode uma educao emancipatria no contexto do MST. Universidade Federalda Bahia, Faculdade de Educao: 2007 (Tese de Doutorado).
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