Quem venceu Napoleão

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  • 8/2/2019 Quem venceu Napoleo

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    Quem venceu Napoleo?

    Prof. Otto de Alencar S Pereira

    Ele mesmo confessou. J preso em St Helena, ilhota britnica, no meiodo Atlntico, em seu testamento: S trs generais me venceram: o

    inverno da Rssia, a marinha da Inglaterra e o Prncipe-Regente dePortugal.

    Por que o Prncipe Regente de Portugal? E por que tambm, como dizem,um homem acovardado? E por que Prncipe-Regente, e no Rei? Vamosresponder invertido. Reinava em Portugal, em finais do sculo XVIII, a

    Rainha D. Maria I, filha de El -Rei D. Jos I, em tempo de quem, Lisboa foiarrasada, quase inteiramente, por terrvel terremoto (conseguiu serreconstruda, graas ao Grande Ministro do Rei, Sebastio Jos de

    Carvalho e Mello, Visconde de Oeiras e Marqus de Pombal, e ao ouro do

    Brasil). Neta de D. Joo V, o qual presenteou o Papa com cachos debananas. O Papa Clemente XII gostava muito desta fruta tropical, e nomeio dos enormes cachos, escondido, um outro, em ouro macioverdadeiro, ouro do Brasil. Era tanto o ouro que, mais tarde, no

    Pontificado de Pio VI, em Roma, ameaada por Napoleo, o Pontfice,certo de que o General Corso roubaria o ouro, mandou transform-lo emlminas e, com elas, cobrir todo o teto encolmeiado da Baslica de SantaMaria Maggiore, uma das quatro Baslicas de Roma, a mais importante

    igreja do mundo, erigida em honra de Nossa Senhora. Hoje em dia,quando brasileiros visitam a St Maria Maggiore, o guia, sabendo anacionalidade dos turistas, aponta para o teto e exclama: Oro del

    Brasile!.

    D. Maria I, era casada com seu tio D. Pedro (irmo de seu pai, o Rei D.Jos I), que com este casamento, tornou-se o Rei-Consorte D. Pedro III.

    (Em Portugal no se usava ttulo de Prncipe Consorte, como naInglaterra, para o marido da Rainha reinante, soberana, mas sim o

    ttulo de Rei-consorte, que usava tambm a numerao. Da D. Pedro III,pois Portugal j tivera em sua Histria dois reis chamados D. Pedro). O

    Brasil, neste assunto, como em tantos outros, imitou Portugal; aConstituio Imperial de 1824, determinava que o Consorte de uma

    Imperatriz-Soberana, usaria o ttulo de Imperador-Consorte; sendoassim, se D. Isabel, a Redentora, tivesse reinado, de fato, e no s dedireito, seu nome teria sido D. Isabel I, e seu marido, o Prncipe GastondOrleans, o Conde dEu, e o nome de Imperador-Consorte D. Gasto I.

    D. Maria I e D. Pedro III tiveram muitos filhos, sendo que os dois homensmais velhos foram D. Jos (que se tivesse reinado, teria sido D. Jos II,

    mas que morreu de varola, ainda jovem, pouco antes da invalidezmental, de sua me) e D. Joo. Estes prncipes e princesas eram,

    portanto, netos de D. Joo V por lado paterno, e bisnetos de D. Joo V, porlado materno. Este D. Joo, segundo filho varo de D. Maria I e de D.

    Pedro III, no era, portanto, destinado a reinar. Havia , antes dele, seuirmo D. Jos. A coisa mudou com o falecimento prematuro de seu irmo.

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    A Rainha D. Maria I, em um espao de poucos anos, perdeu o pai, o Rei D.Jos I, o filho mais velho D. Jos, o marido e tio, D. Pedro III; recebeu as

    notcias fatdicas do guilhotinamento de seus primos Lus XVI e MariaAntonieta, reis de Frana, e de inmeros outros prncipes de Frana,tambm seus primos. preciso mencionar as condenaes morte,

    tambm pela guilhotina, de grande parte da Nobreza e do Alto Clero deFrana; os horrores todos da Revoluo Francesa e de Napoleo, a

    Revoluo de botas, como ele se autodenominava, que estava invadindoa Europa toda, depondo de seus tronos inmeros soberanos europeus,

    todos primos ou tios de D. Maria I, e ainda por cima, a ameaa prximade uma invaso napolenica, muito perto, de Espanha e Portugal. Os

    nervos fracos e sua mente conturbada por tais vicissitudes, fizeram dapobre Rainha, uma apavorada. E depois, uma apavorada louca, quecorria pelos corredores dos palcios reais, gritando que o demnio aestava seguindo!!! Por isso, o Prncipe D. Joo tornou-se Regente de

    Portugal, em nome de sua me. Eis porque D. Joo, o futuro D. Joo VI,no s se tornou o governante de Portugal, mas tambm porque foi umprncipe acovardado, amedrontado, que s no ficou louco, como sua

    me, porque ainda era jovem. Mas que tinha pavor de Napoleo, dasidias liberais, que tinham proporcionado a existncia da RevoluoFrancesa, e do prprio Napoleo; tinha medo de temporais, de siris e

    caranguejos, como hoje se est noticiando, nas comemoraes dos 200anos da chegada da Famlia Real de Bragana e de Portugal ao Brasil.

    Explicado porque D. Joo se tinha tornado o Prncipe Regente dePortugal, e porque era amedrontado e acovardado, passemos a explicara primeira pergunta: por que Napoleo mencionou o acovardado D. Joo

    de Bragana e Bragana como um dos exrcitos que o venceram?

    D. Joo podia ser acovardado, devido s circunstncias histricas, daterrvel poca em que viveu; mas, era inteligente, esperto e tinha o

    carisma da realeza, dos mais ilustres sangues da Europa. Era, alm deBragana, por seus antepassados, inmeras vezes Bourbon, Habsburgo,

    Saxe, Wittelsbach etc... A gentica uma cincia que hoje em dia estavanadssima, e que nos ensina que os gens herdados dos antepassados,

    se forem gens negativos, multiplicam as taras e doenas oudeformidades; mas, se forem gens positivos, tambm se multiplicam, mas,

    gerando mais fortes e boas qualidades. s vezes, o que o mais frequente,geram tanto positivos quanto negativos. Isto acontece, evidente, comqualquer famlia. Mas, nas famlias principescas, reais ou imperiais, a

    coincidncia de gens da mesma qualidade frequente, devido consanguinidade, maior ou menor, que todas elas tm. E o que na

    realidade acontece, a gerao, muito mais frequente, dos gens positivos.E por que? Porque seus antepassados, na sua grande maioria, foram

    homens que tinham carisma extraordinrio para reinar, para sujeitar-se Lei de Deus, para fazer poltica, para saber amar seus povos, para

    guerrear, para saber como portar-se, para conhecer as necessidades deseus sditos etc.

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    E a mais verdadeira prova do que estamos dizendo reside na necessidadeque sentiu Napoleo de casar-se com uma Arquiduquesa de ustria. Ele,o filho da Revoluo Francesa, que fizera sua carreira poltica extrada

    das idias e aes dos propugnadores da Revoluo, que negava o poder eos privilgios dos reis, ele, aquele mesmo que vencera a Europa pelas

    armas, impondo princpios liberais s monarquias absolutas da Europaetc... Aquele mesmo quis criar uma nova dinastia na Frana. A Frana j

    tivera os Merovngios, os Carolngios, os Capetngios diretos, osCapetingios-Valois, os Capetngios-Bourbons, os Capetngios Bourbon-

    Orleans; e agora teria a Dinastia Bonaparte. Mas o que eram osBonaparte? Quase nada, descendentes da pequena nobreza de Crsega, a

    nica figura de relevo em sua nova dinastia era ele mesmo: o grandegeneral, o grande poltico, o vencedor de reis e imperadores, o grande

    Imperador auto edificado. Mas, mesmo assim, ele precisava pensar emsua descendncia. Ele precisava ter um filho que descendesse de todos os

    imperadores e reis da Europa. O melhor meio de obter isso seria casando-se com uma filha do Sacro-Imperador-Romano-Germnico, Francisco II,que ele j derrotara em diversas batalhas. Casando-se com uma

    Habsburgo-Lorena, ele garantia que sua descendncia teria comoantepassados, no s os imperadores germnicos (da ustria), mas

    tambm os reis e prncipes da Europa toda, e principalmente, dos reis deFrana. O seu filho teria o sangue de Lus XVI, que fora guilhotinado pela

    Revoluo, teria o sangue do Rei-Sol, Lus XIV, de Henrique IV, deFrancisco I, de S. Lus IX (oRei-Santo), de Filipe II Augusto etc... e de

    Hugo I Capeto, que iniciara as dinastias Capetngias, na Frana, nosculo X, as quais, por lado feminino, descendiam tambm dos

    Carolngios, dos sculos VIII e IX, do Grande Carlos Magno, e tambm dosMerovngios e portanto de Clovis, o 1 Rei Franco (sculo V), brbaro

    batizado por S. Remy, que deu motivo para a Igreja, mais tarde, concederaos reis de Frana o ttulo de Majestades Cristianssimas! Era isso queNapoleo desejava mais que tudo, a ponto de divorciar-se da Imperatriz

    Josefina (que ele amava), para casar-se com Maria Luiza de ustria, (queele nunca amou e que o desprezava). Portanto, ele acreditava no que agentica hoje nos ensina. Ele no se importaria que seus descendentes

    tivessem o lbio inferior cado dos Habsburgo, nem o nariz adunco dosBourbon, nem a feiura dos Reis de Espanha e Portuga .etc... desde que

    herdassem a tradio, a majestade e as virtudes de todos eles.

    A maior prova de que Napoleo respeitava o Prncipe-Regente D. Joo dePortugal, acabamos de mencionar, falando da gentica. Mas houve outrarazo, para ele respeit-lo, a ponto de consider-lo um dos trs exrcitos

    que o venceram. Esta foi a poltica esperta de D. Joo, brincandodiplomaticamente com Napoleo e com a Inglaterra. Como foi isso?

    Napoleo j vencera quase toda a Europa. No vencera a Rssia, porcausa de seu inverno terrvel. No venceu a Inglaterra, por causa de sua

    esquadra. A British Navy j derrotara as esquadras francesasdefinitivamente em Abuquir e em Trafalgar. No havia portanto meios do

    exrcito francs chegar Inglaterra, pois esta uma ilha. Como ento,vencer a Inglaterra? S se fosse por um bloqueio ao comrcio ingls, que

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    reduzisse as indstrias inglesas falncia, e o povo ingls ao pauperismoe fome. Mas Napoleo no dispunha de navios para realizar esse

    bloqueio. A no ser que esse bloqueio fosse terrestre. Foi o ele fez. Nodominava quase todos os povos da Europa?E, dominando os povos da

    Europa, no dominava tambm os povos de quase todos os outros

    continentes? Pois bem, decretou o Bloqueio Continental. Todos ossoberanos europeus estavam proibidos de abrir seus portos a naviosingleses. Dixit et facit. O que foi dito, foi feito. A Inglaterra estava

    impedida de comercializar em quase todo o mundo. Mas havia Portugal.Este ainda no tinha sido conquistado pelos exrcitos de Napoleo. D.Joo, como j dissemos, brincava, diplomaticamente. Por um lado,

    prometia a Napoleo fechar todos os portos portugueses Inglaterra. Eno eram poucos, pois, alm de Portugal, havia os do Brasil, de Angola,

    da Guin, de Moambique, de Goa, Damo e Di, na ndia, de Macau, naChina, e o de Timor, na Indonsia. Por outro lado tramava com os

    ingleses a transferncia da Corte Portuguesa e governo para o Brasil.Napoleo, de incio, no acreditou que D. Joo ousasse engan-lo, masdepois, ficou pasmo, ao saber que Portugal mudara-se para a Amrica do

    Sul. Imediatamente mandou o General Junot, que se encontrava naEspanha j conquistada, invadir Portugal. Entretanto, quando as tropas

    napolenicas atingiram Lisboa, s avistaram as partes mais altas dosmastros de mais de 40 navios, devido curvatura da Terra. Ficaram a

    ver navios, foi assim que nasceu esta expresso, agora to conhecida. Oscanhes franceses no puderam atingir os navios portugueses e ingleses,

    que rumavam direto para o Brasil. Em chegando Bahia, D. Joo, lmesmo em Salvador, decretou a abertura dos portos s naes amigas,

    ou seja Inglaterra.

    Comercializando com o Brasil e demais portos portugueses, a Inglaterraencontrou sustento e meios econmicos para fortalecer seu exrcito e

    vencer Napoleo, na pennsula Ibrica e em Waterloo, na Holanda. Eis aporque Napoleo foi obrigado a tirar seu chapu bicrneo estratgia de

    D. Joo, considerando-o como um dos trs exrcitos que o venceram.