Quem Foi Helenira Resende?

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Quem foi Helenira Resende?A editora Expresso Popular lanou novos ttulos da sua coleo Viva o povo brasileiro. Entre as obras recm-lanadas encontra a biografia da guerrilheira comunista Helenira Resende. Ela era vice-presidente da UNE, presa em Ibina, enfrentou cara a cara o temido delegado Fleury. Aps o AI-5 se deslocou para a regio do Araguaia. Foi assassinada por tropas do Exrcito em setembro de 1972 e seu nome batizou um dos destacamentos da guerrilha. O autor da biografia o jovem jornalista Bruno Ribeiro, ex-dirigente da UJS, que concedeu entrevista ao historiador Augusto Buonicore para o Vermelho.

Militncia na UJS levou Bruno ao livro O objetivo do projeto da editora divulgar a vida e o pensamento daqueles homens e mulheres que lutaram por um Brasil mais justo e igualitrio para o seu povo. Formato de livro de bolso, de fcil leitura e com preos bastante populares a coleo destinada aos estudantes e trabalhadores.

Bruno disse que desde cedo se apaixonou pela saga dos guerrilheiros do Araguaia e, especialmente, das guerrilheiras. Bruno revela que pouco tempo antes da morte de Helenira, Joo Amazonas perguntou a ela o que queria ser depois que fosse derrubada a ditadura e conquistado um governo popular, ela respondeu simplesmente: ''eu quero ser crtica de arte''.

Leia abaixo a entrevista.

Bruno o que levou voc a se interessar pela Guerrilha do Araguaia e pela vida de Helenira Resende? Meu primeiro contato com o tema se deu quando ingressei no PCdoB, isso no incio da dcada de 90. A Guerrilha era um dos tpicos que mais discutamos durante a formao de militncia. Tornei-me um apaixonado pela saga dos guerrilheiros do Araguaia e desde ento me dedico a pesquisar e reunir todo o tipo de informao sobre o episdio. A figura de Helenira me interessa particularmente por alguma razo que no sei identificar. Tenho por ela um carinho especial, talvez por sua condio de mulher interiorana, nascida e criada em cidade pequena, que superou dificuldades financeiras para estudar e participar ativamente da militncia poltica. Ela tinha o sonho de ser crtica de arte e morreu na luta, defendendo os companheiros. Sua histria me emociona muito.

Foi difcil conseguir as informaes necessrias para compor o seu livro? Onde voc encontrou as fontes para escrev-lo? Infelizmente ainda se sabe muito pouco sobre a vida dos guerrilheiros que tombaram no Araguaia. A carncia de informaes grande porque a maioria dos militantes estava na clandestinidade e no podia deixar rastros. Alm disso, os militares trataram de ocultar ou se desfazer de tudo o que pudesse ajudar na reconstruo de nossa histria. Meu livro foi escrito a partir de informaes contidas no relatrio de guerra escrito por ngelo Arroyo e de relatos de moradores de Marab, que tiveram algum tipo de contato com a Guerrilha. As fotos foram cedidas por Helenalda Resende, irm de Helenira.

Helenira parece que tinha uma vida social bastante ativa antes de aderir guerrilha. Fale um pouco sobre ela. Helenira era uma menina muito culta e solidria. Ela vinha de uma famlia de classe mdia baixa e seu maior exemplo era o pai, um mdico negro, esprita e comunista que sofria todo o tipo de preconceito na cidade de Assis (SP). Helenira gostava de jogar basquete e montar peas de teatro com seus alunos. Antes de se alistar nas fileiras revolucionrias do PCdoB, ela chegou a ser vice-presidente da UNE. Helenira era envolvida com muitas atividades e quem a conheceu diz que ela era muito comunicativa e bem humorada.

O que levou Helenira e aqueles jovens comunistas a fazer uma opo radical pela luta armada nas selvas do distante Araguaia? O contexto histrico era favorvel ao surgimento de uma guerrilha rural no Brasil. E isso ficou mais perto de acontecer quando os militantes comunistas passaram a ser perseguidos, torturados e mortos pela ditadura. Era quase impossvel exercer qualquer tipo de militncia nos centros urbanos. Helenira era muito visada pelo regime por conta do cargo que exercia no movimento estudantil. Alm disso, havia sido jurada de morte pelo delegado Fleury, que a torturou aps a priso no Congresso de Ibina, em 1968. Para ela no havia alternativa seno radicalizar a luta e se tornar guerrilheira. Mas, acima de tudo, o que levou Helenira a se aventurar na selva foi o amor ao Brasil e liberdade.

Como era a vida de Helenira na regio e como ela foi assassinada? Helenira morou com alguns companheiros numa casinha humilde, adquirida pelo PCdoB, na cidade de Marab, Estado do Par. Ela ajudava os moradores locais no servio de roa e tambm alfabetizava adultos e crianas. Os treinamentos militares eram feitos no interior da mata, onde ela participava de aulas de tiro e sobrevivncia. Helenira foi assassinada quando vigiava um trecho de estrada, para garantir a passagem em segurana de um destacamento guerrilheiro. Ela foi surpreendida por um grupo de

soldados, mas no se entregou. Resistiu at a ltima bala e depois foi torturada e morta no local. Seu corpo nunca foi encontrado.

No final dos anos 1970, havia uma opinio generalizada de que a Guerrilha do Araguaia foi um movimento foquista, isolado das massas camponesas. Pelo que voc pode apreender de suas pesquisas, isso corresponde verdade? No verdade. A Guerrilha no acreditava ser possvel derrubar a ditadura sem o apoio das massas. Os guerrilheiros viviam em meio ao povo e h relatos de que alguns camponeses chegaram a pegar em armas para lutar ao lado dos comunistas. Os moradores foram fundamentais para a sobrevivncia da guerrilha, pois forneciam comida e roupas aos guerrilheiros. O movimento s no recebeu uma adeso maior das massas porque foi descoberto pelos militares quando estava no incio dos trabalhos de conscientizao. Se a guerra tivesse sido deflagrada cinco ou sete anos mais tarde, provavelmente teria contado com a participao de muitos camponeses.

Mais recentemente surgiram obras buscando equiparar os guerrilheiros e seus algozes das Foras Armadas, afirmando que esta foi uma guerra suja dos dois lados. possvel esta comparao? Esta comparao absurda e nem deve ser levada em considerao. Quem pensa dessa forma est agindo de m f, posto que a luta armada nasceu como resposta violncia militar e no o contrrio. A Guerrilha tinha suas leis internas e uma delas era o respeito vida do prisioneiro de guerra. No consta que guerrilheiros tenham cometido torturas contra militares. Nem h notcias de que militares tenham sido decapitados, como o foram os guerrilheiros. As Foras Armadas cometeram atos brbaros que podem ser caracterizados como crimes de guerra, condenados internacionalmente pela Conveno de Genebra. A luta dos guerrilheiros era justa porque havia uma ditadura sangrenta a ser derrubada. Era a luta do povo contra a tirania. No h outra leitura a ser feita.

Helenira Rezende de Sousa Nazareth Biografias Helenira Rezende de Souza Nazareth Helenira Rezende de Sousa Nazareth

Dados pessoaisCodinome Apelidos Cor Altura Idade Sexo Eliana Resende Barbosa Ftima negra 169cm 28 anos feminino

Cabelo Data e local de nascimento Filiao

cast.esc./crespo/curto 11/01/44, em Cerqueira Csar/SP Adalberto de Assis Nazareth/ Euthalia Resende de Sousa Nazareth

BiografiaParticipou do movimento estudantil dos anos de 1967 a 1970, sendo eleita para a diretoria da UNE, perodo de 1969/70. Foi presa e torturada pela "famigerada equipe do Fleury". Posteriormente passou a viver na regio do Araguaia onde se dedicava agricultura. Em entrevista a um jornalista, na floresta, relembrou acontecimentos dos anos do movimento estudantil, afirmando: "Esse regime que ensangenta o Brasil precisa ser derrubado. Isto est na cabea e no corao de milhes de jovens." Na mesma ocasio da entrevista enviou uma mensagem de confiana aos estudantes: "Empunhem firmemente a bandeira da liberdade, no dem trgua ditadura; quem persiste na luta acaba triunfando". No dia 29/09/72, cercada por tropas da reao, no se amedrontou. Recebeu uma rajada de metralhadora nas pernas e verteu muito sangue; mesmo assim continuou resistindo at a ltima bala, matando um soldado e ferindo gravemente outro. Ao ser presa, ainda viva, gritou a seus algozes: "Os companheiros me vingaro!". Foi assassinada em seguida, tendo o seu corpo sido enterrado na localidade chamada Oito Barracas. Helenira honrou a juventude brasileira e ressaltou tambm o papel da mulher na luta pela liberdade."

DocumentosHomenagens

comunicado n. 6 das Foras Guerrilheiras do Araguaia, faz referncia a sua morte e a partir desta data o destacamento a que pertencia passa a ter o seu nome. Nome da antiga Rua 03, no Residencial Cosmo I, em Campinas, com incio na antiga Rua 15 e trmino na antiga Rua 08 Lei n 9497, de 20/11/97.

Dados referentes a priso, morte e/ou desaparecimento

Citada no Manifesto dos familiares dos mortos e dasaparecidos na guerrilha do Araguaia, no II Congresso Nacional Pela Anistia, novembro/79 Salvador/BA, publicado no Dirio Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 11/04/80, ano VI, n 69, parte II. Citada na Relao de pessoas dadas como mortas e/ou desaparecidas devido s suas atividades polticas, da Comisso de Direitos Humanos e Assistncia Judiciria da Ordem dos Advogados do Brasil seo do Estado do Rio de Janeiro outubro de 1982.

Relatrio Arroyo"No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Resende (Helenira Resende de Souza Nazareth). Ela juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasio, pela estrada vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram "batedores" para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que no funcionou. Ele correu e Helenira no se deu conta do que estatava sucedendo. Quando viu, j os soldados estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revlver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada at a morte. Elementos da massa dizem que seu orpo foi enterrado no local chamado Oito Barracas."

Informaes obtidas atravs de documentos das Foras Guerrilheiras do Araguaia:Sua morte citada no Comunicado n. 6 das Foras Guerrilheiras do Araguaia.

Relatrio do Ministrio ExrcitoFilha de Adalberto de Assis Nazareth e de Euthlia Rezende de Souza Nazareth, nascida em 11/01/44, em Cerqueira Csar/SP. Militante da APML do B, utilizava o nome falso de Eliana Resende Barbosa e os codinomes de Ftima, Preta e Rosa, sendo presa quando participava do XXX Congresso da UNE. Em Jan./73 a terrorista Elza de Lima Monerat declarou que a nominada havia morrido na guerrilha do Araguaia. [Que declarao esta dada em 1973, quando Elza se encontrava na clandestinidade?]

Relatrio do Ministrio da MarinhaOut./71 foi condenada (revel) pena de 18 meses de deteno pela 2 Auditoria/ 2 CJM, por haver participado do XXX Congresso da UNE em Ibina/SP, no dia 12/10/68. (Encontra-se foragida).

Relatrio do Ministrio da AeronuticaMilitante do PC do B e guerrilheira do Araguaia. Segundo o noticirio da imprensa nos ltimos 18 anos e documentos de entidades de defesa dos direitos humanos, teria sido morta ou desaparecida no Araguaia. No h dados que comprovem essa verso.

Arquivos do DOPS

presa em 12/10/68, na Chcara do Alemo, em Boqueiro/PR. Priso preventiva decretada em set./69 pela Auditoria 5 RM IPM do Major Celso (DOPS/PR).

Fichas entregues ao jornal O Globo em 1996"Ftima" "Preta" "Rosa" AP/SP PC do B/SP (1968)

filha de Adalberto de Assis Nazareth e Euthlia Resende de Sousa Nazareth, nascida em 11 Jan. 44, em C.Csar/So Paulo. residiu a rua Robertson, 633 Cambuci So Paulo/capital foi presa em Ibina/SP foi morta no dia 28 set. 72, no Par.

Relatrio das Operaes contraguerrilhas realizadas pela 3 Bda Inf. no Sudeste do ParMinistrio do Exrcito CMP e 11 RM 3 Brigada de Infantaria Braslia/DF, 30 out 72; assinado pelo General de Brigada Antnio Bandeira Cmt da 3 Bda Inf. Aes mais importantes realizadas pelas peas de manobra: Da FT 2 BIS ao de patrulhamento, em 28 Set 72, executada por 1 GC na R do Alvo teve como resultado a morte da terrorista Helenira Rezende de Souza Nazareth Ftima (Dst A Grupo Metade)

Relatrio da Operao Sucuri, de maio/74Confirma sua morte, como "Ftima".

Informaes e depoimentos obtidos atravs da imprensa ou dos familiares citada como morta na reportagem de Fernando Portela, com seu nome. Conheci o "Nelito", a "Cristina", o "Duda", o "Antnio", o "Nilo", a "Rosinha", o "Z Carlos", o "Lino", o "Waldir", o "Joo Araguaia", a "Ftima", a "Snia"e o "Edio". Eles convidavam o povo para a libertao. Nelito e Z Carlos foram mortos na localidade do Caador, pegaram o dio vivo, o Duda teve a perna quebrada; a Rosinha eu vi ser presa, encontrei-a na Vila So Jos e ela pediu para a gente rezar por ela, pra no morrer. (Depoimento de Maria Raimunda Rocha). Ainda assim, algum se disporia a dar o seu depoimento. E mencionando ainda mais inmeros guerrilheiros que foram pegos vivos e feitos prisioneiros. Jos da Luz Filho, lavrador, que teve seu pai preso durante sete meses em Marab, contou que: "()

Quando o Exrcito chegou a 1a vez, matou a Ftima. Ela est enterrada a 100 metros das 'oito barracas'." Helenira Resende de Souza Nazar, ex dirigente da UNE que, ao ser atacada por dois soldados, matou um deles e feriu o outro. Metralharam-na nas pernas e a torturaram barbaramente at a morte. [Depoimento de Elza Monerat] "As testemunhas relacionaram para Vicente Arajo [Juiz] os nomes de Srio [Ciro] Flvio Salazar e Oliveira, Joo Carlos Haas Sobrinho, Bergson Gurjo Farias, Helenice [Helenira] de Souza Nazar e Manoel Jos Lurchis [Nurchis]." Em seu depoimento, Danilo Carneiro , afirmou que viu, na priso, slides de corpos mutilados de guerrilheiros e lbuns de fotografias que lhes eram mostrados pelo Exrcito para que ele os identificasse. "Eles iam matando e riscando os nomes do lbum." Ele confirmou ter visto fotografias dos corpos de Bergson Gurjo Farias, Elenira e Joo Carlos Haas Sobrinho. Danilo foi o primeiro guerrilheiro a ser preso pelo Exrcito. () " Uma comisso formada por parentes de desaparecidos polticos pediu ontem ao ministro da Justia, Maurcio Corra, a interdio da Fazenda Oito Barracas, no Par, onde teriam sido enterrados os corpos de 31 guerrilheiros durante a guerrilha do Araguaia. A comisso levou ao ministro, em Braslia, ossos encontrados na fazenda. () Suspeita-se que, entre os desaparecidos, esteja Helenira Nazar, que foi vice-presidentes da UNE. Presa em 1968, ela foi solta e ingressou na guerrilha. () Corra determinou Consultoria Jurdica do Ministerio que apresente uma soluo para o caso em 48 horas. O ministro da Justia, Maurcio Corra, solicitou ontem um prazo de 48 horas para estudar as alternativas legais cabveis no sentido de interditar o cemitrio clandestino de Oito Barracas, no distrito de So Domingos do Araguaia, ao sul de Marab, Par. No local, segundo indcios encontrados por um grupo de investigao externa, teria sido enterrada a ex-guerrilheira Helenira Rezende de Souza Nazareth, mais conhecida como Ftima por ex-guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil que lutaram na regio do Araguaia entre 1972 e 1974. Helenira est desaparecida desde 1972. nossa frente, dois montes de terra, na forma de V, chamavam ateno. Ali, o rio enche e eles s podiam ser obra de homens. Um outro colono que nos seguiu veio perguntar. Sem saber direito do que se tratava, se s servia tmulo com cruz, pois ele havia achado trs montinhos, que "parece sepultura", perto do rio. Fotografamos tudo, marcamos o lugar Os ossos foram acomodados em um saco plstico. Se forem humanos possvel que sejam de Ftima, a Helenira Rezende de Souza Nazareth. () L [em Marab], procuramos o mdico radiologista Fernando Miranda. () "Tenho dvida. No descarto a possibilidade de serem humanos. Procurem algum mais gabaritado", disse. No dia seguinte, eles rumaram para Braslia na mala do Deputado Haroldo Lima, que os encaminhou presidncia da Cmara com descrio e medidas. A Cmara, ento, os mandou para o IML de Braslia, onde se encontram, para exames. () Estranhamente, sumiu da bolsa do fotgrafo de MANCHETE um filme que registrava parte da operao de busca de possveis cemitrios clandestinos e o achado de ossos dispersos beira do rio. ()

O ministro Maurcio Corra decidiu colocar a mo em um dos mais perigosos vespeiros da Histria recente do Brasil. Ele mandou a Polcia Federal seguir as pistas levantadas pelo PC do B sobre 91 militantes do partido mortos entre 1971 e 1972 [1972 e 1975], em combates com o Exrcito na chamada Guerrilha do Araguaia. Ainda nesta semana os federais comeam seu trabalho, na localidade de Oito Barracas, Sul do Par, onde foram encontrados ossos que podem ser da guerrilheira Helenira Rezende de Souza Nazar, a Ftima. O governador Jader Barbalho designou uma equipe de policiais do Par para a operao. O comandante militar do Norte, general-de-diviso Arnaldo Serafim, disse que o Poder Executivo no investigar a suposta existncia de cemitrios clandestinos no Sul do Par onde o Exrcito teria sepultado guerrilheiros. A informao foi dada ontem Folha pelo comandante da 23 Brigada de Infantaria da Selva, sediada em Marab, general Guilherme Figueiredo, 55. Ontem, o mdico legista Jos Eduardo da Silva Reis, do IML de Braslia, entregou ao presidente da comisso, deputado Nilmrio Miranda, o laudo do primeiro lote das ossadas encontradas no Par, onde se desenrolou a guerrilha do Araguaia. O legista, reconhecido como uma das maiores autoridades no assunto, fez uma exposio sobre os exames cientficos que realizou e comprovou que nenhum dos ossos analisados humano. A esperana dos membros da comisso de que um segundo lote de ossos, recolhidos no municpio de So Geraldo do Araguaia (PA) pela deputada federal Socorro Gomes leve identificao de alguns dos militantes que desapareceram durante a guerrilha. Essa ltima remessa j foi entregue a Jos Eduardo e foi recolhida na rea onde estava instalado o acampamento das Foras Armadas. () O legista Jos Eduardo disse no ter previso de quantos dias sero necessrios para concluir o laudo da segunda partida de ossos que acaba de receber. No laboratrio em que trabalha, anexo ao IML, ele comeou a separar ontem as primeiras amostras e tentava encontrar material suficiente para por em prtica, no futuro, a tcnica de sua autoria, que permite a reconstituio do rosto, a partir dos ossos, num monitor de TV. Num outro lugar, a mais de cem quilmentros de distncia de Xambio e prximo do ex-acampamento militar de Oito Barracas a agricultora Isabel Moreira da Silva, hoje com 53 anos, viu os militares enterrando Helenira Rezende, a Ftima () Foi uma poca muito difcil. Cada vez que eu subia a estrada do Cro olhando para a direita da pista, conseguia avistar a cova que fica ali, entre aquela rvore podre e o rio (Taurizinho) disse Isabel, chorando e emocionada ao se lembrar dos fatos. que aps dois meses de acompanhamento [de Nonato e sua patrulha], o depoente, com seu grupo, encontrou um corpo em estado de putrefao; que referido corpo no tinha cabea e ficou s margens de uma picada entre duas propriedades, numa distncia de seis a oito quilmetros da Vila Metade, aproximadamente por dois anos; que soube, poca, que o corpo era de uma pessoa chamada "Fatima"; que o referido corpo s saiu do local quando o Exrcito esteve na rea construindo estradas para a colonizao. [Essa historia est um pouco confusa; as informaes parecem corretas mas com erro de datas e troca de algumas pessoas]