Quem é Filho de Gérson Não Deve Temer a Ninguém

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  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    1/

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA

    DISSERTAO

    Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-

    $+-&+'*# '+ Um1+'$+2

    3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+

    F#%*+!e4+

    Se*em1%# $e 5667

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    2/

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA

    DISSERTAO

    Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-$+-&+'*# '+ Um1+'$+2

    3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+

    Dissertao submetida Coordenaodo Curso de Ps-Graduao emSociologia, como exigncia parcial

    para a obteno do grau de Mestre emSociologia

    !rea de concentrao" Sociologia

    #rientador" Pro$ Dr %smael Pordeus &r

    F#%*+!e4+

    Se*em1%# $e 56672

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    3/

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARDEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAOMESTRADO EM SOCIOLOGIA

    DISSERTAO

    Quem f!"# $e G%' '(# $e)e *eme% + '',um. - T%+/e*0%+ $e um+ m(e-$+-&+'*# '+ Um1+'$+2

    3+'$' Fe%%e%+ $+ S!)+

    'sta dissertao $oi (ulgada, em sua$orma $inal, por banca examinadoracomposta pelos seguintes membros"

    ))))))))))))))))))))))))))))))))

    Dr Gilmar de Car*al+o

    ))))))))))))))))))))))))))))))))

    Dr Crmen .u/sa C+a*es

    ))))))))))))))))))))))))))))))))

    Dr 0nt1nio 2elington de#li*eira &3nior

    F#%*+!e4+

    Se*em1%# $e 56672

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    Lecturis Salutem

    4ic+a Catalogr$ica elaborada por5elma 6egina 0breu Camboim 7 8ibliotecria 7 C68-9:;umanas 7 ?4C

    S;@A Sil*a , &andson 4erreira daBuem $il+o de Grson no de*e temer a ningumEF manuscritoH 7tra(etria de uma me-da-santo na umbanda : por &andson 4erreira da Sil*a7 IJJ

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    Dedico este trabal+o a Dona Das Dores -

    mul+er de $ibra e 3nica criatura encarnada

    Aue meus lbios c+amaram *erdadeiramente

    de m(e- por me sempre apoiar nas +oras em

    Aue mais precisei

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    Dorme menino

    Que l vem Mame Tut

    L no mato tem um bicho

    Chamado carrapat

    Cano de ninarN

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    AGRADECIMENTOS

    0 meus pais #molu e ndio da Solido, por me acompan+arem aonde Auer Aue

    eu *

    0 #xum e Seu Grson, por abrirem sua casa e a *ida de sua $il+a para mim

    0 min+a me %ans e a Seu Preto Qel+o da Mata escura, por $aOerem de sua casa,

    meu lar e porto seguro

    0 Me QalZ/ria, por ter sido min+a musa inspiradora por durante Auase trs anos

    0 meu orientador e padrin+o Pro$ %smael Pordeus, pelo inestim*el esmero e

    pacincia com os Auais tratou a produo desse trabal+o

    0os pro$essores da banca Aue to gentilmente aceitaram o con*ite

    0os meus colegas irmos - &uliana, &uliano, >erbert e Monalisa - pelas

    indispens*eis e preciosas interlocu[es cotidianas

    0 meu Pai Qaldo e todos meus irmos-de-santo, por terem se tornado min+a

    $am/lia e min+a re$erncia no mundo

    0o Programa de 'ducao 5utorial, pelas sementes plantadas em meu tra(eto

    acadmico Aue re*erberam at +o(e

    'n$im, a cada orix e encantado, por tornarem a *ida nesse mundo maluco um

    pouco mais colorida

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    RESUMO

    0 religio, como $orma de con+ecer e organiOar as coisas do mundo, surgiu nacondio de Auesto para a 0ntropologia e tem acompan+ado seus desen*ol*imento desdeseus primrdios como cincia 5omado como $ato social total, a anlise do campo religioso

    possibilita *islumbrar as mais *ariadas es$eras da *ida social, tais como" economia, pol/tica,esttica, rela[es de parentesco

    Propon+o aAui um estudo de caso de um terreiro de ?mbanda localiOado no bairrodo Pirambu, em 4ortaleOa 0 partir das narrati*as - rituais e pessoais - acompan+o as gera[es

    de um grupo Aue no permanece o mesmo ao longo do tempo6itualisticamente, alguns elementos entramL outros ( sem usoN saemL outros

    ainda so ressigni$icados, porm sem uma mudana radical da estrutura de culto 0dmitindo-se Aue toda religio um rearran(o de crenas preexistentes, a ?mbanda somente se utiliOadestas interritualidades para rea$irmar sua condio desde o surgimento" uma religio $lex/*ele em constante construo

    Pala*ras-C+a*e" ?mbanda - Memria Coleti*a - Per$ormance

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    A8STRACT

    5+e religion, liZe a $orm o$ 5o Zno\ about and to organiOe t+e t+ings o$ t+e\orld, appeared as Auestion $or t+e 0nt+ropolog] and it +as $olloied its de*elopment sinceits beginning as science .iZe a $act social total, t+e anal]sis o$ t+e religious $ield maZes

    possible to glimpse t+e most *aried sp+eres o$ t+e social li$e, suc+ as" econom], politics,

    aest+etic, blood relations^% consider +ere a stud] o$ case o$ a place o$ $etic+ism o$ ?mbanda located in t+e

    Auarter o$ t+e Pirambu, 4ortaleOa 4rom t+e narrati*es - ritual and personal - %_*e $olloied t+egenerations o$ a group t+at does not remain t+e same t+roug+out t+e time

    Some elements enterL ot+ers alread] \it+out useN lea*eL ot+ers still areremeaning, +o\e*er \it+out a radical c+ange o$ t+e cult structure 0dmitting itsel$ t+at allreligion is a rearrangement o$ preexisting belie$s, t+e ?mbanda is onl] used o$ t+eseinterrituals to rea$$irm its condition since t+e sprouting" a $lexible religion and in constantconstruction

    Re] 2ords" ?mbanda - Collecti*e Memor] -Per$ormance

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    SUMRIO

    K %T56#D?`#^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ KI

    KK M'? 860S%., 860S%.'%6#^^^^^^^^^^^^^^^^^ KV

    KI Q#U ' C#6P# T0 P'64#6M0TC' #60.K@

    I P'6C?6S#S^^^^^^^^^^^^^^^^^^^ ^IK

    IK T0SC' ?M0 M'-D'-S0T5#II

    II M0D6%T>0 8009K

    I9 C0M8#T' S6G%#9V

    IV M' D?.C' D# #G?M9Y

    9 T06605%Q0S 6%5?0%S" 0 80%0;J

    9K S?6G%M'T5# D0 ?M80TD0^^^^^^^^^^^^^^^^;J

    9I .#C0.%U0`# ' 'S56?5?60 D# 5'66'%6# 'M 'S5?D#;V

    99 'S?'M0 6%5?0.;X

    9V 0 'T560D0" 086%TD# 0 80%0 XK

    9; #S P#T5#S C0T50D#S XX

    9X 0 C>0M0D0 D#S C08#C.#SYJ

    9Y # D'S'TQ#.Q%M'T5# ' #S C6?U#SY9

    9@ #S 56080.>#SY0 D# M06KJ0 D' M'S56'KKI

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    V@ #S M06%T>'%6#SKKV

    V< #S 8#%0D'%6#SKKX

    VKJ U P%.%T560KK@

    VKK #S C%G0T#SKIJ

    VKI 0 .%T>0 D' '?KII

    ; C#TS%D'60`'S 4%T0%SK9I

    X 8%8.%#G604%0K9V

    Y G.#SS!6%#K9@

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    LISTA DE ILUSTRA9ES

    FIGURA I - Consagrao de me-de-santo no terreiro de Pai .uis da Serrin+a -Pg IY

    FIGURA II - 6ela[es de troca no terreiro de ?mbanda 8%6M0T, K

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    KI

    : INTRODUO

    uando nasci, meu mundo era catlicoE 5al catolicismo no se resumia apenas s

    missas dominicais, batiOados e enterros, para alm do e*entual, esta*a presente em todo meu

    cotidiano e no de meus pares de $orma recorrente 0credito Aue tal Auadro no destoasse

    muito da *ida na maior parte dos lares brasileiros Desta mesma $orma, durante min+a

    in$ncia e boa parte da adolescncia, tempo, espao, durao, tica, corpo, esttica, en$im,

    todo conceito utiliOado para me orientar no mundo esta*a alicerado num plano comum de

    catolicismo

    'ra a 4ortaleOa dos anos @J, suas ruas abriga*am di*ersas $ormas de religio Aue,

    durante muito tempo, me soaram estran+as To Aue ignorasse por completo a existncia

    delas, mas ainda no +a*ia espao em min+a *ida para gerar interesse ou $ala sobre elas Se o

    assunto surgia em con*ersas $amiliares, era algo e*entual e o tom do discurso logo ser*ia para

    demarcar bem os limites entre o Ts-estabelecidos e o 'les-out!ider!"

    0 certeOa desse mundo un/*oco se mantm at um primeiro encontro com a

    alteridade 4alo aAui de um encontro-acontecimento, onde esse #utro intima ser ou*ido, ser

    *isto, ser percebido na condio prpria de di$erena Auando me percebo re$m desse

    encontro e me recon+eo como di$erena tambm To tendo o con$orto do desdm pela

    no*idade ou mesmo de recogniciOar a no*a experincia por meio dos *el+os re$erenciais, pois

    no + mais, no nomo! $ormado, amparo imediato para tal ang3stia, apenas material a ser

    Auestionado

    0inda no campo da religio, tal encontro se deu comigo por ocasio de uma

    pesAuisa de campo para uma disciplina de min+a graduao, Psicologia 'ra primeira *eO Aue

    entra*a num terreiro de ?mbanda" o batuAue, as pessoas, os mo*imentos dos corpos, as

    *oOes, as cores 5udo era estran+o para mim, muito apraO/*el, de*o con$essar Porm, o mais

    positi*o Aue aAuilo tudo poderia adicionar em meus *alores, era a categoria do extico ual

    no $oi meu espanto ao escutar, de uma sen+ora ao meu lado, no meio da sesso, um canto

    Aue diOia" #l+a o tombo da (angada nas ondas do marE : uem Auer *er Me 5ut3

    trabal+arf, tempo depois, $iAuei sabendo Aue a sen+ora por mim apreciada esta*a

    incorporada com uma Bpreta-*el+aF de nome Me-5ut3, Aue canta*a seupontopela boca de

    seu aparelho

    K Mais sobre os conceitos de 'stabelecidos e out!ider!em 'lias IJJJN

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    .ogo Aue ou*i, lembrei da cano de ninarIAue min+a a* cantou, noites e mais

    noites, a me embalar, durante boa parte de min+a in$ncia TaAuela poca, *o* ( no era

    *i*a e, pelo Aue sabia, nunca te*e ligao com ?mbanda Ta *erdade, no sei se pelo menos

    imagina*a Aue os *ersos com os Auais me nina*a s noites $ala*am de uma preta-*el+a 'u

    mesmo ( no lembra*a essa cano at a experincia no terreiro

    De modo Aue oponto cantadoda Me-5ut3 te*e aos meus ou*idos, o *alor do

    instante em Aue a Madalena embebida em c+ toca os lbios do protagonista dem Bu!ca do

    Tempo #erdido Da mesma $orma Aue este, a m3sica me arrastou por um $luxo desen$reado de

    memrias recalcadas, Aue *oltaram plenas de sabores e sentidos no*os .embrei das +istrias

    de engen+o Aue min+a a* conta*aL da migrao de min+a $am/lia de 8arbal+a a 4ortaleOaL de

    min+a me e meus tios trabal+ando como artesos na peri$eria das $bricas de redes, das *eOes

    em Aue min+a me me le*ou criana para ser reOado como $orma de a$astar alguma maOela da

    carne ', pela primeira *eO, me dei conta do Auanto de negritude existia nos interst/cios

    daAueles tra(es brancos dos Auais min+a $am/lia decidiu se tra*estir, $iados a partir do mais

    puro catolicismo europeu, carregado de todos os seus *alores $inalmente, Auando encontro

    o $amiliar no estran+o, Aue me percebo de todas as estran+eOas Aue +abitam as $restas do

    $amiliar

    desse Auadro con$uso de a$etos Aue nasce o dese(o de $aOer essa pesAuisa #

    texto dissertati*o Aue aAui apresento, trata-se de um estudo de caso dentro do campo da

    0ntropologia da 6eligio PesAuisei durante os anos de IJJY e IJJ< a *ida de D QalZ/ria,

    uma me-de-santo de ?mbanda cu(o terreiro $ica localiOado no bairro Piramb3, em 4ortaleOa

    0 +istria de *ida desta sen+ora me c+amou ateno por ser plena de rupturas e

    mudanas bastante peculiares no camin+o Aue percorreu at c+egar idade adulta e adAuirir o

    cargo de me-de-santo na religio ?mbanda natural do estado do 0cre, de apuri, $il+a depai (udeu e mdico e me pro$essora, donos de lati$3ndios 0inda mocin+a, casa-se com um

    auditor $iscal $ederal e por conta do trabal+o do marido, *ia(a a Manaus e da/ a 4ortaleOa,

    onde *em a $icar *i3*a, nem bem entrou na casa dos *inte

    Testa poca l+e *m as primeiras mani$esta[es de uma doena cu(o diagnstico a

    medicina cearense no *ai conseguir $ormaliOar" ausncias, desmaios, ataAues epilpticos ',

    buscando cura para suas maOelas, orientada por amigos da $am/lia a procurar um pai-de-

    santo de ?mbanda, cu(a $ama ( se espal+a*a pelas camadas mais abastadas da sociedadealencarina, con+ecido como .uis da Serrin+a ?ma *eO no terreiro de Sr .uis, a (o*em *i3*a,

    I Cu(os *ersos $oram de*idamente registrados na ep/gra$e da presente dissertao

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    KV

    catlica, branca, $il+a de classe abastada, troca o preto do luto $ec+ado pelo branco da $arda de

    mdium desen*ol*ente de ?mbanda e d in/cio sua (ornada para tornar-se me-de-santo

    0nos mais tarde troca as ruas da 0ldeota, bairro nobre da cidade, por um peAueno beco

    prximo uma col1nia de pescadores, onde $unda seu primeiro centro ati*o at +o(eN 'm

    pouco tempo, torna-se uma pessoa de re$erncia comunidade do entorno 8ranca, *inda de

    outro estado, $il+a da camada alta da sociedade acreana, de $ormao catlica, instru/da no

    ensino $ormal %sso para citar alguns, entre uma srie de predicados Aue Auebram o esteretipo

    mais di$undido sobre o Aue se(a uma me-de-santo de ?mbanda, moradora de um bairro de

    peri$eria 0lm do mais, trata-se de uma sen+ora de @J anos, Aue abriu casa nos $inais da

    dcada de ;J, portanto, retrato *i*o de uma poca em Aue as casas de ?mbanda comeam a

    gan+ar *isibilidade por ocasio da $undao das primeiras $edera[es Dentre elas, a mais

    con+ecida at +o(e a ?'C?M ?nio 'sp/rita Cearense de ?mbandaN, $undada em K

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    K;

    me trariam respostas bem interessantes Poderia concluir, por exemplo, Aue entre 8rasil, na

    condio de pa/s subdesen*ol*ido, e 'stados ?nidos, + um enorme abismo a ser superado

    se Auisermos estabelecer condi[es igualitrias de concorrncia nos mercados

    internacionais

    Poderia tambm, dissertar sobre a precariedade da educao, sa3de e da

    Aualidade de *ida do cidado brasileiro em geral 'ntretanto, seria bem pro**el, Aue pouco

    apreciasse dos *etores Aue $aOem da sociedade brasileira 3nica, singular, ou se(a, o Aue,

    mesmo partil+ando $ormas comuns de dominao pol/tico-econ1mica com outras reas

    subdesen*ol*idas - ou Bem desen*ol*imentoF, como Aueiram - $aO com Aue o 8rasil se

    di$erencie entre as demaisf

    'nsaiando mais uma deci$rao poss/*el da sociedade brasileira, DaMatta toca

    nesse ponto ao conceituar o Aue c+ama de plano de elabora.o interna do !i!tema* Aue de

    acordo com ele a BOona onde se processam as escol+as Aue iro determinar o curso da ao

    aps o recebimento do est/mulo se(a do passado, se(a do presenteN e antes de se ter uma

    respostaF D0M0550, K

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    KX

    # cap/tulo intitulado Pe%;u%& dedicado anlise das primeiras 5rago a

    compilao das entre*istas e con*ersas in$ormais Aue ti*e com Me QalZ/ria e com algumas

    pessoas Aue acompan+aram sua tra(etria 0s in$orma[es Aue seguem constituem relatos

    sobre a +istria pessoal de cada entre*istado, com n$ase nos camin+os Aue l+es le*aram a

    entrar em contato com a ?mbanda e, posteriormente, se iniciar # texto segue em primeira

    pessoa, pois a prpria me-de-santo Auem narra, (untamente com seus pares 0tre*o-me a

    uma peAuena inter$erncia num momento ou em outro Auando $or necessrio a um mel+or

    esclarecimento da +istria para $ins de meu trabal+o

    Sobre a categoria de lembranas Aue trato nesse cap/tulo, escre*e >alb\ac+s"

    5---8 no!!a! lembran.a! permanecem coletiva!* e ela! no! !o lembrada! pelo!outro!* me!mo (ue !e trate de acontecimento! no! (uai! !2 n2! e!tivemo!envolvido!* e com ob%eto! (ue !2 n2! vimo!- @ por (ue em realidade* nunca e!tamo!!2!9- No 1 nece!!rio (ue outro! homen! e!te%am l* (ue* (ue !e di!tin)ammaterialmente de n2! por(ue temo! !empre cono!co e em n2! uma (uantidade depe!!oa! (ue no !e con&undem 5"* p- ?8-

    0 principal tese de$endida na obra de >alb\ac+s ibidemN a de Aue + um

    alicerce coleti*o sub(acente a toda lembrana indi*idual, Aue ele *ai c+amar de mem2ria

    coletiva 'sta, por sua *eO, constru/da a partir de Auadros sociais reais, cada memria

    estando sempre re$erida a um grupo espec/$ico, limitado no tempo e no espao

    # processo de indi*idualiOao da memria, ou se(a, sua Btrans$ormaoF de

    coleti*a em indi*idual d-se mediado por uma $aculdade c+amada por >alb\ac+s intui.o

    !en!4vel, B+a*eria ento, na base de toda lembrana, o c+amado a um estado de conscincia

    puramente indi*idual Aue - para distingui-lo das percep[es onde entram elementos do

    pensamento social - admitiremos Aue se c+ame intuio sens/*elF ibdem, p 9YNV

    Portanto, por *ia da intuio sens/*el Aue se cria nas conscincias dos su(eitos

    a iluso de uma memria estritamente indi*idual Aue, na *erdade, consiste apenas no re$lexodas posi[es dos destes dentro dos grupos aos Auais essas memrias esto re$eridas

    Desta $orma, as narrati*as aAui descritas so guiadas por estas lembranas

    indi*iduas Aue, por sua *eO, so pontos de *istas sobre a memria coleti*a, constru/das a

    partir das re$erncias e experincias prprias do grupo Da mesma $orma Aue lanam luO

    sobre certos aspectos, outros acabam sendo obscurecidos em conseAncia, mantendo-se

    assim, a relao conte3do:continente entre memria indi*idual e coleti*a, respecti*amente,

    propostos por >alb\ac+s # Aue explica alguns desencontros e contradi[es entre os relatos

    9 Gri$o meuV Gri$o do autor

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    18/

    KY

    Auando se re$erem a tal ou Aual $ato da tra(etria do terreiro

    Tesses termos, tais narrati*as me a(udaram a compreender a $ormao do

    terreiro -Casa Mame #xum, do grupo de iniciados Aue preenc+e a instituio e do corpo

    ritual/stico Aue tem se processado no terreiro desde sua $undao ', alm da $ormao,

    ser*em para salientar tambm as mudanas e permanncias Aue estes construtos so$reram ao

    longo de sua +istria

    # cap/tulo seguinte traO a segunda categoria de narrati*as e aparece intitulado

    como N+%%+*)+& R*u+&< +Baia Tele tomo como exemplo a descrio de uma)ira, ritual

    p3blico realiOado no terreiro de Me-QalZ/ria, como $orma de dar *isibilidade ao con(unto

    de rela[es Aue se estabelecem naAuele grupo

    6itual, aAui entendido como conduta $ormal Aue se passa num tempo separado

    do tempo do dia-a-dia, ou se(a, trata-se de um e*ento extraordinrio Contudo, distingue-se

    de acontecimentos identi$icados como as Bcatstro$esB, BmilagresF ou Bgolpes do destinoF,

    pelo seu carter prescrito Signi$ica diOer Aue, embora ocorra num tempo parte, tem data,

    durao e $reAncias de$inidas no calendrio do grupo ', sua relao com o tempo

    cronolgico, a de demarcar seus limites e $ronteiras, os retornos e as mudanas de tempo

    Qan Gennep K

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    19

    K@

    do trabal+o na $orma ritual Aue a sociedade encontra a resoluo de certos problemas

    coleti*os, per$ormatiOando-os e dando rele*o Auilo Aue mais *ale pena re$orar, para ser

    lembrado e aprendido ', por conseAuncia, anulando aAuilo Aue se Auer esAuecer e Aue

    insiste em no ser esAuecido pelos meios comuns ao tempo cronolgico

    , portanto, uma $erramenta constru/da pela sociedade e para a sociedade, como

    $orma de espel+ar *rias das rela[es Aue a constituem, dando a possibilidade de regr-las

    atra*s da dramatiOao D0M0550, op citN

    Testa perspecti*a, o s/mbolo ritual se con*erte num $ator de ao social, uma

    $ora positi*a dentro de um campo de ati*idade 5?6T'6, opcit, IJJ;N Per$ormance

    entendida sobretudo como um ato social de comunicao, ou se(a, a interao entre duas

    instncias" um emissor aAuele Aue produO o enunciadoN e um receptor aAuele a Auem o

    enunciado se destinaN 0inda, comp[e-se de uma mensagem o prprio enunciado, suas

    signi$ica[es ou o e$eito Aue ele produON, um *etor o *e/culo material utiliOadoN

    0lm destes, ainda se $aO necessrio atender a certas condi[es para Aue a

    comunicao se(a poss/*el 5al*eO a mais basal delas se(a a de Aue existam certas normas

    codi$icadas Aue este(am partil+adas pelos termos en*ol*idos no processo, segundo Uumt+or

    Bao e dupla" emisso-recepoN, a per$ormance p[e em presena atores emissor,

    receptor, 3nico ou *rios e, em (ogo, meios *oO, gesto, mediaoNF K

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    20

    K?* p- "K8-

    Seguindo a lin+a de pensamento do Aue ( $oi explanado, tentarei explicitar as

    $ormas como o corpo do iniciado d suporte per$ormance ritual, produOindo enunciados

    atra*s de gestos, ol+ares, danas e posturas Ta parte em Aue trato do ritual de

    de!envolvimento* abordarei as tcnicas utiliOadas na produo do corpo do transe e da

    incorporao

    Darei continuidade min+a anlise sobre as N+%%+*)+& R*u+&, desta *eO,

    $alando sobre o panteo umbandista e sua +ierarAuia e dedicando o pen3ltimo cap/tulo de

    meu trabal+o a isto 0presento uma construo Aue $iO a partir, principalmente, dosponto!

    cantado!-

    Tas C#'&$e%+=>e& F'+&, alm de explicitar, como de praxe, a Aue conclus[es

    meu trabal+o me le*ou, aponto alguns temas de pesAuisa como sugest[es para algum

    pesAuisador Aue leia meu trabal+o e este(a interessado em dar prosseguimento ao tema

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    IK

    5 PERCURSOS

    #s relatos Aue seguem so $rutos de entre*istas Aue realiOei ao longo da pesAuisa

    Dentro de todas as Aue tin+am comigo, estas Auatro me c+amaram mais ateno, por tanto,

    seguem aAui explicitadas # critrio Aue utiliOei para $aOer esta seleo $oi a presena de

    in$orma[es Aue me le*assem a uma descrio da *ida ritual/stica do terreiro ao longo de sua

    +istria

    ?tiliOei o mtodo proposto por &os Carlos Sebe 8om Mei+] Kou*e algum umbandista ou algum de outra religio de matriOa$ricana na $am/liaf uem $oif ual era essa religiof : Como con+eceu a ?mbandaf :

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    23

    II

    Passou por outras casas antes de con+ecer sua atualf: ual o moti*o de sua iniciaof :

    Passou por di$iculdades $inanceiras ou te*e complica[es com a sa3def : Procurou outros

    meios de resoluo para a crisef Deram resultado positi*of Parcial, total ou nen+umf : 0

    crise, se existiu, se resol*eu com a iniciaof De Aue $ormaf : uem l+e apresentou a casa

    onde se deu sua iniciaof : # Aue l+e moti*ou na escol+a da casa para sua iniciaof >a*ia

    outras op[esf : >ou*e resistncia pessoal ou $amiliar Aue se $eO de obstculo sua iniciaof

    uaisfL %%- Qida de iniciado" 0lgo mudou em sua rotina de *idaf # Auf : Qoc permanece na

    casa onde se iniciouf : Se no, Aual o moti*of Mudou de religiof Migrou para outro terreirof

    0briu sua prpria casaf %mpossibilidades pessoais de manter as obriga[esf uaisf

    4inanceirasf Sa3def Di*ergncias com pai:me-de-santof : ue rituais e $estas acontecem no

    terreiro ao Aual *oc est ligado aN atualmentef : 'ssa ritual/stica permanece a mesma desde

    a poca de sua iniciao ou *oc obser*a mudanasf : ue mudanas so essasf : Consegue

    localiO-las no tempof : PorAue essas mudanas rituais aconteceramf Consegue relacionar as

    causas dessas mudanas a algum e*ento ocorrido no terreirof ual isNfL %%% - !r*ore $amiliar

    inicitica" Qoc te*e mais de um aN pai:me-de-santo durante sua *ida religiosaf : Como era

    o $uncionamento da casa de seu pai:me-de-santof : ue rituais ele aN realiOa*af : Se *oc

    tem casa aberta, Auais rituais *oc mantm +o(e em dia Aue identi$ica como +eranaf :

    Con+eceu seu suaN a*1:a*-de-santof : ual o $uncionamento da casa dele aNf Parecia com

    a casa de seu suaN pai:me-de-santof : 0t onde consegue *oltar em sua r*ore iniciticaf

    5odas estes eram Auestionamentos me acompan+aram durante as con*ersas e

    orienta*am min+as entre*istas 0 maioria no $oi $eita diretamente ou de $orma estruturada,

    estando presente, na maior parte do tempo, apenas de $orma impl/cita, norteando min+a

    in*estigao

    IK T0SC' ?M0 M'-D'-S0T5#

    B'u nasci e me criei em apuri, no 0cre 4iAuei l at casar . era a coisa mel+or

    do mundo De ruim s tem o $rio, Aue eu no gosto

    BMin+a me se c+ama*a 'lse, era pro$essora l Meu pai era (udeu e mdico da

    regio 5in+a seringal, cria*a gado e atendia as pessoas das redondeOas 'u sou a primeira

    $il+a dos dois (untos Meu pai Aueria Aue nascesse um +omem, a/ nasceu QalZ/ria" ele no

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    24

    I9

    gostouE Mas $aOia de tudo por mim, me Aueria muito bemE

    Buando eu era moa menor 0ssim, trs ou Auatro anos, ele comprou um

    carneirin+o todo eAuipado e me deu de presente de ani*ersrio ueria Aue aprendesse a

    montar, para andar a ca*alo PorAue meu pai tin+a tudo" ca*alo, boi Mas como eu era muita

    peAuena para aprender num ca*alo, me treinou no carneirin+o ' eu ti*e Aue aprender a

    montar, porAue se no ele grita*a" hQoc tem Aue aprender a montarE QamosE Qoc tem Aue

    aprender a montarE 0nde_E $ina $ora, nof 0t Aue aprendi mesmoEF

    BPapai e mame ti*eram QalZ/ria, Qalmira, Qaldir, Qaldira e Qagner ' o Simo,

    Aue a mame criou uase todos ( morreram, s $iAuei eu e Qaldir, meu irmo Aue da

    Marin+a 4ora esses, alguns irmos Aue a gente est descobrindo agora, mas Aue so s por

    parte de pai_

    BMeu marido, con+eci em apuri 'ra um $ederal 0uditor $iscalE 4oi ser*ir l,

    $oi Auando me casei .ogo depois $oi trans$erido para ManacapuruYe de l, para 4ortaleOa 'u

    *im com ele 0Aui ele morreuE 'ra ;K, o anoE ' eu $iAuei 'stou at +o(e PagandoFE

    B0 >rima, nossa 3nica $il+a, era beb, Auando aconteceu Mor*amos em

    0nt1nio 8eOerra e, logo Aue ele $aleceu, nos mudamos para 0ldeota, na ./dia QalenteF

    BDepois Aue meu marido morreu *eio a doena So$ri muitoE 'u adoeci de uma

    tal maneira Aue $ica*a abirobada 0 >rima era peAueninin+a e o outro menino era menor

    'les $ica*am com a empregada e eu ia receber o din+eiro da penso 0t +o(e como e bebo do

    Aue meu marido me deixou meu marido" cuida de mim at +o(eE 'u *e(o as coisas e,

    depois Aue ele se $oi, ainda apareceu para mim umas trs *eOes, me dando a*iso de doena ou

    de algum Aue esta*a para morrerF

    ?ma das categorias nati*as Aue aparece re$erida ao longo de todo texto a dos

    en:meno! Medinico!- Por mediunidade se entende a capacidade Aue uma pessoa serencarnado, dotado de matriaN possui de comunicar-se com esp/ritos seres imateriais, Aue (

    ti*eram *ida e +istria na terraN 0 mediunidade*aria de acordo com a Aualidade dessas

    mensagens, pode ser" auditi*a, *isual, de acordo com o sentido Aue Btomado de

    emprstimoF pelos esp/ritos, ou incorporati*a Auando a conscincia pessoal $ica em

    suspenso e o corpo do su(eito tomado totalmente pelo ser espiritualN 0 presena dessa

    terminologia no *ocabulrio umbandista de*e-se ao contato Aue tais religi[es ti*eram com o

    Rardecismo, em solo brasileiro, como dito mais a $rente

    Y 6egio Metropolitana de Manaus

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    25

    IV

    #s umbandistas acreditam Aue o percurso Aue *ai do nascimento morte de um

    indi*/duo como apenas um peAueno tra(eto de sua existncia Segundo tal crena, a pessoa

    seria $ormada por duas partes" o corpo $/sico tambm re$erido como mat1ria8, Aue perec/*el

    e pro*isrio e a alma ou esp/rito, Aue eterno ao tempo e as mudanas Durante a existncia,

    essa alma Aue *ai caracteriOar a conscincia indi*idual do serN adAuire morada em *rias

    $ormas materiais presentes na natureOa como roc+as, plantas e animais 0 mudana de uma

    $orma material para a outra, se d com a destruio da matria antigamente +abitada onde

    uma das $ormas con+ecidas a morteN e a subseAuente passagem do esp/rito para outra $orma

    0credita-se tambm Aue a alma c+ega a uma no*a $orma com conscincia parcial de seu

    per/odo como $orma anterior e *em com uma misso espec/$ica para concluir naAuela $orma

    atual, antes de mudar para outro estgio, Aue obrigatoriamente mais e*olu/do %sso se d

    num continuum e*oluti*o onde a $orma mais a*anada seria Deus, Aue re$erido dentro da

    ?mbanda por *rios nomes

    0 $orma material mais a*anada a ser alcanada a de ser +umano dotado de

    escol+as ?ma alma pode reencarnar por di*ersas *eOes como ser +umano, antes de

    completar sua escala e*oluti*a e todas as suas miss[es e de!encarnar # desencarne a

    passagem para outro estgio da e*oluo, onde o esp/rito pode cumprir suas miss[es sem

    necessitar de uma matria prpria

    0credita-se Aue as di*indades re*erenciadas na ?mbanda so seres Aue ( ti*eram

    *ida como +umanos encarnados e Aue ( desencarnaram 'mbora no precisem de um corpo

    $/sico o tempo todo, tm como misso orientar a *ida das pessoas na terra com relao aos

    seus estados de a$lio e, em troca, poder e*oluir na condio de esp/rito

    Buando ia receber o din+eiro para sustentar min+a $am/lia, me perdia no mundo

    de tal $orma Aue descon+ecia onde esta*a .embro uma *eO Aue eu $ui l pro lado deMaranguape Sabia nem onde eraE C+eguei l, perguntei onde Aue $ica*a a delegacia 0

    mul+er disse"

    h) 0 sen+ora t doidaf_

    h) ToE_ 'u disse h'u t1 atrs de procurar aonde eu estouE PorAue eu no sei

    aonde eu estouE_

    h) 0+E 0 sen+ora no t normal, noE 'u *ou botar a sen+ora num 1nibus 0

    sen+ora Aue *oltar pra 4ortaleOaf_h) ueroE_ 0/ *oltei pra 4ortaleOa, no le*ei din+eiro nem nada Buando $oi no

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    I;

    outro dia eu peguei uma pessoa pra ir comigo no bancoF

    BTessa poca ainda no con+ecia a ?mbanda To con+ecia nadaE 'ra catlica

    apostlica romana, dessas Aue se con$essam e comungam toda semana 8eataE Passei um ano

    de luto $ec+ado To tira*a nem as sobrancel+as, usa*a *estido preto de mangas compridas

    Aue iam at o pulso e um cabelo enormeF

    Buando adoeci, no ti*e condi[es de $icar com as crianas" mandei c+amar a

    mame no 0cre para me a(udar e ela *eio uando eu da*a ataAue, $ica*a dura, dura, dura

    Sem condio de nadaE 0 mame c+ama*a a 0ssistncia para *ir em casa TaAuela poca no

    existia ainda %&4@, esses carros de para-mdicos de +o(e C+ama*a a 0ssistncia e a o carro da

    0ssistncia *in+a buscar em casa Min+a $il+a $ica*a agarrada com uma esttua de Tossa

    Sen+ora das Graas Aue ten+o at +o(e uebrou muitas *eOes o pescoo dessa santa

    .e*a*am-me ao +ospital e ela $ica*a atracada com a santa pedindo Aue no le*asse a me, Aue

    ( tin+a l+e le*ado o pai ' normalmente Auebra*aE 0perta*a tanto Aue Auebra*a o pescoo da

    imagem ' os mdicos diOiam" hTo nadaE To nada_E ' da*am uma in(eo pra ner*os,

    era Auando eu *olta*a Passa*a de um mdico pra outro e as pessoas no descobriam o

    $undamento daAuela doena 0t Aue um algum, con+ecida da min+a me, disse" h# mdico

    ( $alou Aue no tem soluoE 0 medicina no tem soluoE 'nto por Aue Aue *oc no

    procura o 'spiritismof ?m centro esp/rita_f ' ela $oi procurar Ta poca tin+a o %rmo

    0lmeida, Aue era uma mesa RardecistaF

    B4ui a esse %rmo 0lmeida uando comeou o negcio l, comecei a gritar

    ?m esp/rito pegou To sei o Aue $oiE Me senti pior e Aueria sair dali Me senti pior, pior,

    piorF

    B'scul+ambei todo mundoE PorAue a mul+er disse Aue eu esta*a assim porAue

    esta*a namorando com +omem casado Coitada de mimE 'u nem pra namorarE PorAue eu erato doente Aue no tin+a tempo nem pra namorar Dei uma escul+ambadaE 'u $alei pra ela Aue

    ela Auem de*ia estar doida 'u no esta*a doida no, esta*a precisando de a(uda Tisso,

    desci as escadas correndo e um sen+or do bairro *iu Aue eu ta*a c+orando e gritando 0inda

    +o(e me lembro 'le me sentou diOendo" h'spere Aue eu *ou l+e dar um calmante_ ' trouxe

    um p/lula e me deu para beber Tunca mais *oltei lFE

    @ %nstituto Doutor &os 4rota >ospital da Pre$eitura Municipal de 4ortaleOa e primeiroser*io de pronto-socorro da cidade 5rata-se da mesma 0ssistncia P3blica de 4ortaleOare$erida por D QalZ/ria 0 instituio $oi inaugurada em II de agosto de K

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    27

    IX

    BTessa poca, $reAenta*a l em casa um amigo de min+a me Aue era sobrin+o

    daAuele empresrio Aue morreu de desastre 4oi ter com mame e disse" hQoc sabe Aual o

    problemaf 0 QalZ/ria est precisando de um caboclo De ?mbandaE .e*e-a na ?mbanda Aue

    ela *ai $icar boaOin+a_ Da/ ele me le*ou para con+ecer meu pai-de-santo Aue ( morreu

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    28/

    IY

    BTessa poca min+a $il+a ( estuda*a ' era s eu, ela e o menino e uma

    empregada uando entrei, de*e ter sido por *olta do ano de ;Y .ogo depois, abandonei a

    ?mbanda e para cuidar de casa e de min+a *ida pessoal 0/ eu $ui con*idada pra uma $esta de

    ani*ersrio ' eu no como carne de porcoE ' eu pra no $aOer su(eira 'sta*a com essededo indicador in$lamado ' eu, pra no $aOer su(eira, comi aAuele pedacin+o de nada de

    carne de porco coOin+ada Casa de pessoal c+iAue" no podia $aOer $eioE To outro dia

    aman+eci com o corpo todo inc+ado, parecia um bic+oEF

    BTisso, c+egou-me onde esta*a deitada, uma entidade Pulando e brincando e

    disse assim"

    h) 5 doentefE_

    h) 51E_ 'u disse hMe mate logoE_h) ToE To *im pra l+e matar no Qim l+e $irmarE Posso at matar, se *oc no

    $iOer o Aue eu mandarE_

    Sou uma pessoa Aue tambm sou *idente" o Aue de l eu enxergo

    h) #l+e_, continuou a entidade heu *ou deixar *oc boaOin+a aman+ mesmo, mas

    se *oc *oltar pra ?mbandaE Se no *oltar eu passo aman+ mesmo 'u passo *oc aman+

    mesmoE_ ' era um rapaOin+oE ' eu disse"

    h) Mas eu ten+o dois $il+os, no ten+o marido, no ten+o ningum, no ten+o com

    Auem deixar meus $il+os Como Aue eu *ou deixar meus $il+os soOin+os em casa esse

    tempo todof_

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    I@

    h) , se *oc *oltar pra ?mbanda *oc *ai $icar boa Mas se no *oltar, aman+

    mesmo eu l+e carregoE_ 0/ eu s ti*e esse (eito" *oltarE

    h) 0gora *oltar pra nunca mais sair, s sair Auando eu disser N ' a/f Qoc *ai

    *oltarf_ 'u disse"

    h) o (eitoE ual o outro (eito Aue eu ten+of esseE 5en+o Aue *oltarE_

    h) Pois bem, aman+ *oc se le*anta, d ban+o, *este a roupa branca e procura um

    lugar pra $aOer uma $, um trabal+o 6eOar, receber seu caboclo lE 'u *ou l+e orientar onde

    Qoc Auer $icar boaf_

    h) ueroE_ Mandou $aOer um c+ assim, assim, assimE 'u tin+a min+a empregada,

    acordei a pobre da empregada pra $aOer o c+

    h) 4aa o c+ pra eu beber todo diaE_ 'ra mais ou menos 'ra de man+E 'u

    esta*a deitada entra a *ida e a morte, ti*e de escol+er_E Qoltei para ?mbandaFE

    0 mediunidade encarada pelos $is como um dom inato, um presente de Deus e

    algo Aue *em acompan+ada de uma BmissoB 'm min+as entre*istas, recorrente a $ala do

    umbandista carregada de imperati*os Auanto ao uso da mediunidade, a exemplo" BDe*e ser

    usada para a caridadeEF, B4il+o de caboclo tem uma misso" $aOer o bemEF ou BCuidar dos

    a$litos nossa sinaEF So comuns +istrias de pessoas Aue entraram pra ?mbanda e Aue,

    depois de iniciadas, abandonam a religio passam a so$rer com um no*o estado de cobran.a

    5emos assim, um recomeo do ciclo do drama social descrito acima, Auando + o a$astamento

    das $un[es religiosas rupturaNL o conseguinte estado de cobran.acrise e intensi$icao da

    criseNL por *eOes, o retorno religio ao reparadoraN e o apaOiguamento das $oras Aue

    geram a$lio des$ec+oN

    %sso nos remete ao sistema de presta[es totais Aue Marcel Mauss K

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    30

    Iassam 0compan+ei-o numa *iagem 8a+ia e l procuramos uma pessoa Aue pudesse $aOer

    o ritual em min+a cabea 4iAuei sete dias comendo s bolac+a Cream/Craerbebendo c+

    4oi na $loresta Aue dei min+a cabea . tem um lugar apropriado para isso 5em at pol/ciaE

    c+eio de policial em *olta, como $osse um parAueF

    Tas religi[es de matriO a$ricana, in*aria*elmente, a cabea considerada a parte

    mais importante do corpo, por isso, a mais carregada de simbolismos e ob(eto central de *asta

    ritual/stica 0 exemplo do Candombl, as deidades cultuadas recebem o nome de oriF! Do

    iorub" Ori cabeaNL $!a guardioN 0 cabea sua morada, ligao com sagrado por

    excelncia por esse moti*o Aue antes processo de iniciao do Candombl, c+amado

    eitura, o $iel passa por um ritual c+amadoBori- 'm iorub,Boripoder ser traduOido como

    Bdar comida cabeaF KK # ato est alicerado na crena de Aue a cabea precisa ser

    preparada para entra em contato com a energia sagrada - OriF - sendo $ortalecida com

    comidas sagradas

    ?sa-se a expresso mo na cabe.a para se re$erir $am/lia religiosa de um

    iniciado Portanto, se digo Aue .uis tem a mo na cabe.a de QalZ/ria, estarei diOendo Aue

    QaZ/ria $oi iniciada na religio por .uis, sendo este, seu pai-de-santo uando um pai ou me-

    de-santo $alece, diO-se Aue seu esp/rito ainda permanece sobre as cabeas dos Aue $oram por

    ele iniciados de $orma parasitria, sugando as $oras e se alimentando de toda a comida Aue

    se d a essas cabeas Para se li*rar dessa in$luncia maligna, o iniciado de*e procurar outro

    pai ou me-de-santo, Aue se(a mais *el+o dentro da religio, disposto a reno*ar-l+e as

    obri)a.3e!KI,numa espcie de adoo ritual 5al ato recebe o nome de tirar a mo do mortoou tirar a Mo/de/umbe

    II M0D6%T>0 800

    BSou natural de 8aturit, mas moro em 4ortaleOa desde Aue tin+a oito anos deKK Corruptela das pala*rasb2 comidaN e Ori cabeaN

    KI Tome dado aos sacramentos recebidos nas religi[es de matriO a$ricana no geral

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    33

    9I

    idade Casei aos *intes e dois e, logo ento, *eio a doena Tessa poca, min+a me reOa*a

    'la era de mesa brancaK9E uando eu passa*a mal, ela reOa*a, a/ pronto" eu mel+ora*aEF

    B4oi para tentar me curar Aue tambm $ui procurar uma mesa branca 'ncontrei

    uma Aue $ica*a no Pirambu uando c+eguei l, o mestre do recinto mandou me botar na

    ponta da mesa Depois de acabada a sesso, ele c+egou e disse ao meu cun+ado" h%rmo

    6aimundo, essa sen+ora no de mesa branca da ?mbandaE Procure um terreiroE 'u *ou

    l+e dar o nome de um terreiro, 'nto me indicou o nome da Madrin+a QalZ/ria %sso

    aconteceu numa sexta-$eiraE To domingo, eu $uiF

    To 8rasil, relao do Rardecismo com a ?mbanda sempre $oi estreita e, ao

    mesmo tempo, contraditria, por se tratar de uma religio onde incorporao tambm tem um

    lugar pri*ilegiado no rito 0s mani$esta[es caboclas, de entidades Aue remetiam

    brasilidade, insistiam em acontecer nas mesas brancas 0s respostas Aue os centro Zardecistas

    da*am eram as mais di*ersas 0lguns tenta*am doutrinar o m1diumde $orma Aue controlasse

    sua incorporao, restringindo-a aos boca/&unda - categoria utiliOada para classi$icar um

    esp/rito recm-desencarnado, a Auem so destinadas as sess[es de mesa branca #utros

    doutrina*am os esp/ritos caboclos a somente se mani$estar em determinado dia da semana,

    Auando o ocorria uma sesso especial, com a $inalidade de atender somente a esses esp/ritos

    Geralmente eram sess[es secretas ao grande p3blico, acess/*eis apenas a uma elite medi3nica

    ( preparada do centro >a*ia ainda os Aue encamin+a*am o m1diumpara se desen*ol*er nos

    terreiros de ?mbanda Toto Aue estas trs a[es *isam $aOer certa ascese ritual/stica, de $orma

    Aue o rito Zardecista $icasse preser*ado e no so$resse in$luncia dos meios umbandistas

    Buando c+eguei na porta do terreiro, o 0eu G1r!on, incorporado na Madrin+a

    QalZ/ria, *in+a c+egando, ele $alou" hSe tu no morreu at ontem, de +o(e em diante tu no

    morre maisE_ 0/ eu ( entrei para me desen*ol*erFBTo dei trabal+o no desen*ol*imento" com dois desen*ol*imentos, ( peguei

    caboclo Com um me Aue esta*a no terreiro, o caboclo ( cantou, ( danou, ( bebeu cac+aa,

    ( bebeu ca$ 'u sou $il+a de preto/velho, mas trabal+a*a com oEaimundo Na minha

    cabe.a, ele bebia cac+aa, bebia *in+o 8ebia o Aue desseFE

    B'u era cabona e meu marido o cabonoKV 'le, $il+o de tranca-ruas e eu, $il+a de

    preto-*el+o 0/ pronto" ele recebia o caboclo dele, eu recebia o meu !s *eOes eu esta*a meio

    K9 6itual do Rardecismo onde a incorporao acontece 5em como uns dos ob(eti*osdoutrinar esp/ritos desencarnados para Aue estes continuem seu camin+o e*oluti*oKV 4ormas aportuguesadas do termo canbone

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    34

    99

    assim 'la manda*a logo eu trabal+ar pra poder receber a corrente, pra poder $icar a(udando

    ela no de!envolvimento do po*o Depois Aue desperta*a, a(uda*a no desen*ol*imento do

    po*oF

    BDepois Aue a gente esta*a bem $irme no caboclo, comea*am os cru'o! Se $osse

    preto/velho, tin+a a obrigao de preto/velhoE 5in+a a o$erenda de preto/velho, o ca$, o

    cac+imbo, $aro$a 'ssas coisas assimE 'u sou cruOada em todas as lin+as Mas s depois

    Aue eu esta*a bem $irme, $oi Aue pude receber cruOo To era ela Auem da*a a odre, era Seu

    Grson uando esta*a no tempo, ele $ala*a" hMaria, tu *ais te cruOar tal diaE 5e limpa, no

    *en+as su(aE_ uem *iesse a(udar se prepara*a, se isola*a das $arras, das bebedeiras Como

    eu era a cambonada casa, toda obrigao Aue ti*esse, eu passa*a a noite com a Madrin+a S

    *olta*a para casa depois das Auatro da madrugada Dormia no terreiro, no c+o Da/ eu $ui

    pembada na cabea, nas costas, na $rente, nos lados 'sse era o cru'oFE

    BSeu Pedro e eu acompan+*amos a madrin+a a todos os lados Tessas andanas,

    con+eci inclusi*e o Seu .uis da Serrin+a # terreiro dele era muito bonito Tas $estas, lota*a

    de genteE ' l a gente sempre $oi muito bem recebido, da*am tudo na mo" comida, bebida,

    assento 'ra muita gente Aue ela le*a*aE 0 madrin+a Aue abria o trabal+o - por ser $il+a-de-

    santo dele - e ele $ec+a*aF

    B0 madrin+a sempre gostou de $aOer as coisas certasE Desde Aue o terreiro abriu,

    somos registrados na 4ederao 'la diOia Aue ia 0 esses cantos para tirar a licena para

    podermos trabal+ar em paO, sem ser perturbado por pol/cia Desta $orma, nunca ti*emos

    problemaE #s policias entra*am, $ala*am com a madrin+a # caboclo na cabea da madrin+a

    sempre $oi muito amigoE 'les ol+a*am unicamente se tin+a a bebida Como no *iam, iam

    embora ProntoE uanto a isso, nunca deram $lagrante" os nossos caboclo! trabal+a*am com a

    garra$a escondida embaixo da roupa, enrolada num panoF# surgimento das $edera[es de ?mbanda pelo pa/s *em atender a duas demandas

    espec/$icas 0 primeira delas diO respeito a legalidade da religio" a $ora da instituio

    (uridicamente alicerada iria con$erir armas no combate s medidas discriminatrias e

    repressi*as Aue, muitas *eOes, eram implementadas pelo prprio 'stado 0 segunda era tentar

    trabal+ar no rumo oposto ao da segmentao e da disperso da religio, ou se(a, era num

    longo praOo, tornar a ?mbanda como a religio legitimamente brasileira 8%6M0T, K

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    35

    9V

    elaborar um modelo ritual, composto de normas Aue passa*am a ser seguidas pelos $iliados a

    essas institui[es, em troca da proteo (udicial no Aue diO respeito liberdade de prtica

    religiosa Prticas como a Macumba, o 5erec1 e o Camtib, Aue remetiam a um passado

    BtnicoF como uma identi$icao com os po*os a$ricanos ou ind/genas, a exemploN eram

    re(eitadas ou, por *eOes, $agocitadas e incorporadas pelo panteo umbandista To Cear, esse

    mo*imento se inicia com a $undao da ?'C?M ?nio 'sp/rita Cearense de ?mbandaN, em

    K

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    36

    9;

    B.arguei o estudo cedo por causa de $arra Ta poca tin+a discotecas, seresta,

    samba 5udo perto de casa, *iOin+o 0 gente con+ecia de tudoE To tin+a coisa certaE Muita

    bagunaE Por causa disso ti*e de comear a trabal+ar cedo tambmF

    BMin+a me *i*ia na ?mbanda e eu sempre acompan+a*a Certo dia, por causa de

    briga e bebida, $iAuei com um inc+ao muito grande no brao 'la me le*ou *ou a um

    terreiro, para reOar Da/ eu gostei e $iAueiFE

    B0 me-de-santo se c+ama*a S/l*ia . era uma misturaE PorAue ela era deCandombl e o marido dela, meu padrin+o era de ?mbanda Para no des$aOer dele, ela

    misturou Da/ $icou, como se c+ama" #moloc1 4icou aAuela ?mbanda traada Candombl

    traadoF

    0 $ala de Srgio me remete constatao de Prandi Auando, ao abordar o cenrio

    religioso no sudeste brasileiro, diO"

    Durante o! ano! "?* al)uma coi!a !urpreendente come.ou a acontecer- Com alar)a mi)ra.o do Norde!te em bu!ca da! )rande! cidade! indu!triali'ada! no

    0ude!te* o candombl1 come.ou a penetrar o bem e!tabelecido territ2rio daumbanda* e velho! umbandi!ta! come.aram e !e iniciar no candombl1* muito! dele!abandonando o! rito! da umbanda para !e e!tabelecer como pai! e me!/de/!antoda! modalidade! mai! tradicionai! de culto ao! oriF!- Ne!te movimento* a

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    37

    9X

    umbanda 1 remetida de novo ao candombl1* !ua velha e verdadeira rai' ori)inal*con!iderada pelo! novo! !e)uidore! como !endo mai! mi!terio!a* mai! &orte* mai!podero!a (ue !ua moderna e embran(uecida de!cendente- 5#randi* 8

    'ste mo*imento de adeso ao Candombl por parte dos umbandistas $eO com Aue

    o prprio rito umbandista absor*esse elementos rituais prprios do Candombl 'sse

    mo*imento ele*ado mxima potncia deu origem a religi[es +/bridas, c+amadas de

    ?mbandombl, #moloc1 ou ?mbanda traada

    B4oi l Aue eu con+eci a >rima # ex-marido dela era meu irmo-de-santo 'la

    era da marin+a e *ia(a muito 4oi *ia(ando Aue eles se con+eceram uando ele con*idou-a

    para con+ecer a casa da Madrin+a S/l*ia, eles ( tin+am o >assam 4oi a/ Aue $iOemos aAuela

    amiOade 0lgum tem depois, eles *ia(aram para 4ortaleOa e $iOeram o con*ite para eu ir

    tambm 'u *im s e estou aAui at +o(e 4iAuei morandoE Desde a dcada de YJE Tesse

    tempo Aue passou, $iAuei pelo menos uns *inte anos morando $ora Casei, ti*e $il+o, saparei,

    *oltei a morar no terreiro 0ssim" passei *inte anos s morando $ora, porAue deixar as

    $un[es, nunca deixei Sempre *in+a, a(uda*a e *olta*a para casa 5ambm nunca sa/ do

    bairro, mora*a aAui prximoF

    B# terreiro$ica*a no meio do Auarteiro, onde +o(e, e a gente mora*a mais para

    l, numa outra casa, na esAuina Com o tempo, $oi preciso *ender a casa e usar o din+eiro na

    re$orma e na construo de outras instala[es 0 estrutura era totalmente di$erente" onde +o(e

    o terreiro, $ica*am o Auarto da OFum, o Auarto de OFal e a camarinha #s trabal+os eram

    realiOados no local onde +o(e em dia a garagem e a escada Aue d para os c1modos

    superiores Mais para trs $ica*am o Auarto deFu e o Auarto do 0eu G1r!onF

    B# ritual tambm era di$erente 0ntes era mais puxado na ?mbanda pura,

    tradicional Principalmente a abertura" *in+am os ronda! abrir o trabal+o Passa*am trs

    ronda!, s *eOes Auatro Qaria*aE Dependia muito de como a casa esti*esse na ocasio

    uando ns c+egamos do 6io, ( comeamos a modi$icar alguma coisa # ritual era mais

    *oltado para os caboclo!, os oriF! *ieram com a misturaFK;

    B>o(e em dia, ela comea despac+ando Fu .ou*a O)um, Aue o +omem da

    casa Pan):, as santas e, no $inal, OFal # pessoal at se admira porAue, se OFal o

    supremo, de*eria ser o primeiro Mas OFal sempre o 3ltimo PorAue primeiro sempre *em

    o po*o da rua, Aue Auem toma conta do trabal+o e da casa 'les Aue so os guardi[es da

    casa, por isso tem Aue cantar pra eles primeiroF

    K; 4alo no cap/tulo seguinte sobre essas mudanas na estrutura do ritual

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    9Y

    B0 gente saia pouco, passa*a mais tempo dentro do terreiro, $aOendo as

    obriga[es 0ntigamente, tin+a baia trs *eOes na semana" na tera, na Auinta e no domingo 0

    macumba acontecia a partir da orientao do 0eu G1r!on, Aue diOia em Aual linha trabal+ar"

    se era mata, se era gua, se era O)um 0os domingos, geralmente aconteciam os

    desen*ol*imentos e, na 3ltima baia do ms, geralmente eraFuF

    B'la desen*ol*eu muita genteE 5em pai e me-de-santo desen*ol*ido por ela at

    morando no exterior Gente com terreiro aberto, gente Aue desen*ol*eu gente >o(e em dia,

    o terreiro peAueno ?ns se $oram, outros morreram, outros deixaram a religio, outros

    abriram casaF

    B0gora ela no d mais cruOo, porAue no tem m1diumcom preparo para receber

    cru'o 'u no sei o Aue acontece Parece Aue os caboclos esto mais maneiros +o(e To

    du*ido dos caboclo!, no Auesto de $, no issoE 0 min+a $ est mantidaE Mas no *e(o

    mais, +o(e em dia, caboclo $aOer como $aOia antigamente To canto em $rente dispensa, $ica

    apedra da peia uando o caboclo Aueria disciplinar o $il+o por alguma coisa Aue esti*esse

    $aOendo de errado, batia com as mos deste na pedra at sair sangue 0 pancada era $orte 0

    gente ol+a*a e se arrepia*a todo, sentia a energiaKXSabia Aue o caboclo esta*a l mesmoE #

    ca*alo ia embora com as mos inc+adas, tal Auilo um sapo cururu" grossa e c+eia de bol+a das

    pancadas >o(e eu no *e(o mais isso # caboclopede licena pra disciplinar o $il+o e s $aO

    alisar a pedra Parece Aue est s limpando, tirando a poeira uando a gente ia trabal+ar

    $ora, na encruOil+ada ou nas matas, tin+aFu Aue mata*a galin+a no dente 5in+a um $il+o-

    de-santo Aue trabal+a*a com o Fu Gato #reto Di*ersas *eOes ele desperta*a em cima de

    uma r*ore, porAue oFu subia e no descia mais >o(e no tem mais issoF

    IV M' D?.C' D# OGM

    C+ego casa de Me QalZ/ria para realiOar min+a pesAuisa num tempo em Aue seu

    terreiro est bem reduOido 0 maioria dos m1diun! Aue trabalham nas baia! so pessoas

    oriundas de outros terreiros, Aue ( c+egaram l pais ou mes-de-santo, carregando os tre(eitos

    KX 0pedra da peia um paralelep/pedo, de aproximadamente meio metro de aresta, na$rente do Aual o caboclo se a(oel+a*a para castigar o m1diumAue no esti*esse cumprindocom suas obriga[es religiosas # castigo era aplicado batendo repetidamente as palmas eas costas das mos e a cabea na pedra, at *erter sangue

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    9@

    de seus grupos de origens #s poucos m1diun! da corrente Aue eram seus $il+os

    originalmente, ainda esta*am se de!envolvendo Gan+ou independncia religiosa cedo, em XK,

    Auando $unda seu terreiro Passa desta $orma, condio de me-de-santo, de $orma Aue as

    responsabilidades com sua casa e seus $il+os-de-santo acabam por apart-la da con*i*ncia

    cotidiana com seu pai-de-santo, na condio de $il+a:aprendiO # contato dos dois, a partir de

    ento, $ica restrito a umas poucas datas $esti*as, onde um c+ega*a casa do outro, como uma

    *isita Auerida e distante

    >alb\acs opcit-N $ala Aue os Auadros sociais precisam se manter prximos no

    tempo para Aue a memria no se desarticule, caso o contrrio, ocorre um esAuecimento pelo

    a$astamento do grupo Creio Aue as mudanas nos rituais na casa de Me QalZ/ria, as Auais

    descre*o no prximo cap/tulo, ocorreram por causa deste $en1meno, Aue $oi se intensi$icando

    ao longo dos anos, medida Aue esta mantm contato com outras tradi[es religiosas - e por

    conseAncia, outros grupos, outras memrias - Aue acabam sobrecodi$icando experincias

    anteriores De modo Aue, no tempo da pesAuisa, a 3nica testemun+a do tempo de Me QaZ/ria

    no terreiro de Sr .uis da Serrin+a ela prpria

    Teste sentido, o encontro com Me Dulce de #gum me $oi de extrema

    importncia para o des$ec+o deste trabal+o 5rata-se de uma sen+ora Aue acompan+ou Pai

    .uis at seus 3ltimos dias de *ida e Aue *eio abrir terreiro muito recentemente To momento

    Aue ti*e com ela, pude perceber uma memria de sua r*ore iniciati*a ainda muito *i*a De

    tal $orma Aue pude comparar as $ormas de rito presente nos dois terreiros e perceber as

    mudanas e as permanncias descritas por Srgio no relato anterior

    BSou a mais *el+a de Auatro irmosE 0t os onOe anos de *ida, eu no con+ecia

    ?mbandaE 4il+a de me dona de casa e cantora de igre(aE 0 min+a me era prima do Padre

    5ito de 4ortaleOa e da Madre 4, Aue era diretora do Colgio das Dorotias Mora*a emMesse(anaE Meu pai era comercianteE 'ra um +omem de muitos recursos e, graas sua boa

    condio $inanceira, *i*/amos muito bem, nessa pocaF

    B4oi por essa idade Aue comecei a me sentir doenteE 'u no sentia nadaE 0paguei

    de tudoE 4iAuei dentro de uma rede, sem comer e sem beber 0/ $oram pra mdico, $iOeram

    exame TaAuele tempo a medicina era mais $raca, no tin+a os recursos, nem as mAuinas

    Aue tm +o(e ?m primo meu mdico 'le se aposentou como coronel do exrcito, mas

    nessa poca ele no era coronel, disse" h.e*e pra morrer em casa_E PorAue eu no comia, nobebia, no con+ecia pai, no con+ecia meE 0/ a la*adeira da min+a a*, D .aura - ela *ou

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    98-

    De maneira anloga ao cabula, o cabone de ?mbanda secunda o pai:me-de-

    santo c+amado tambm ponta/de/me!ae, durante a incorporao do pai:me-de-santo,

    adAuire a $uno de sacri$icador, organiOando as pessoas nas corrente!, controlando o tempo

    da baia, orientando Aual caboclo de*e cantar seupontonaAuela *eO uando em terra, aocambone Aue as entidades se dirigem

    0ntes de entrar para a baia, cada iniciado de*e manter certos cuidados com o

    corpo a $im de a$astar os perigos rituais descritos no cap/tulo anterior, bem como coloc-lo

    num estado de maior contato com as potncias sagradas Pede-se Aue resguarde nas +oras Aue

    antecedem ao ritual - desde o dia anterior at a +ora da gira - de lcool, $estas, sexo e Aue,

    momento antes de entrar para a corrente se ban+e com uma mistura de er*as pre*iamentepreparada

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    ; um

    entrelace entre som e linguagem Aue $orma um Bestilo oral r/tmicoF, Aue $aO com Aue os

    atabaAues e maracs se(am componentes de um gnero potico particular #s instrumentos so

    dotados de uma $ala Aue se mante*e ao longo do tempo em sua Aualidade de m3sica idemN

    sobre este trip Aue os ponto! cantado! tecem o panteo umbandista

    constru/do" narrati*as orais propriamente ditas, as narrati*as orais percussi*as e as narrati*as

    corporais De $orma mais precisa, posso diOer Aue o ritual o prprio panteo, inspirado por

    .eac+, Auando este diO" B# mito, em min+a terminologia, a contrapartida do ritualL mito

    implica ritual, ritual, implica mito, ambos so uma s e a mesma coisaF .'0C>, #p Cit, p

    YXN Contrariando, desta maneira, uma tendncia clssica da antropologia social inglesa de

    tomar o ritual como a dramatiOao do mito e o mito como uma (usti$icati*a do ritual

    ibdemN

    0inda me detendo em 0ustin e as condi[es Aue se de*e atender para Aue se

    $ormem per$ormati*os $eliOes"

    No! ca!o! em (ue* como ocorre com &re(u9ncia* o procedimento vi!a J! pe!!oa!

    com !eu! pen!amento! e !entimento!* ou vi!a J in!taura.o de uma condutacorre!pondente por parte de al)un! do! participante! devem ter a inten.o de !econdu'irem de maneira ade(uada* e* al1m di!!o* devem realmente condu'ir/!ede!!a maneira !ub!e(uentemente 5A0T$N* Op- Cit* p- I"8-

    Pode ocorrer Aue uma pessoa, agindo de m $, durante a !e!!o, $in(a estar

    incorporada, de $orma a con*encer os outros membros da correntee os espectadores do ritual

    da *eracidade de seu transe 5al $eito c+amado e9*no lingua(ar religioso e *isto de $orma

    extremamente pe(orati*a pela comunidade de $iis #s atos concretiOados por um indi*/duo

    Aue este(a dando e9no so dignos de crdito, nem deles se espera e$iccia

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    YJ

    9X 0 CZAMADA DO0 CABOCLO0

    ?ma *eO saudados todos os orixs, +ora de c+amar os caboclos c+e$es da casa

    para declararem os trabal+os abertos 6espeitada a +ierarAuia, os primeiros a passar so

    sempre os caboclos c+e$es da casa, na cabe.ada me-de-santo 'sta segue at o altar, $ec+a

    os ol+os e $ranOe a testa em sinal de concentrao 'rgue a cabea um pouco, como esti*esse

    esperando algo *indo de cima De repente, seu corpo comea a tremer em mo*imentos

    epilepsi$ormes, cessados por um $irme piso de seu p direito contra o c+o Sua $ace adAuire

    $ei[es masculinas e sua *oO se torna gra*e e $irme Tessa +ora no mais Me QalZ/ria

    Auem est no comando, mas Tapinar1 ouEei do! [ndio!, como tambm con+ecidoN, o

    &lecheiroI9da me-de-santo 0o c+egar em terra, o cabone l+e entrega os instrumentos Aue so

    seus" uma $aixa de tecido branco Aue este coloca por sobre o ombro e o cigarro aceso

    0ntes de tudo, cumpre protocolo cab/*el a todo caboclo, se dirige ao cambone

    dando graas" B.ou*ado se(a DeusFE 0 resposta" BPara sempre se(a lou*adoEF acompan+ada

    do !inal da cru'catlicoN ' sa3da" BSal*e DeusEF 0 resposta" BSal*eEF acompan+ada por

    palmasN 4acultando-se aAui, acrescentar a esta, sauda[es a outras pessoas:elementos,

    con$orme a necessidade 0 exemplo, a entidade pode saudar" o grande dia de +o(e, o), os

    pais e mes-de-santo Aue esto no reino, os $il+os da casa, Auem tem $, Auem no tem $, o

    seu c+e$e superiorL todas estas respondidas com um BSal*eFE acompan+ado de palmas

    4inalmente, pede licena para trabalhar" BDa/-me a permissoFE 0 resposta" BDada por Deus

    e a Qirgem da ConceioFE ' canta"

    0ou eu um caboclo 4ndio

    u !ou &ilho do #ar

    u !ou um caboclo )uerreiro* meu pai

    Na!ci para )uerrear

    A &lecha (ue eu atirar* meu pai

    02 Deu! (uem pode tirar

    II uando um determinado m1diumincorpora um esp/rito, diO-se Aue aAuele esp/rito estna cabe.aou na coroa do m1dium-I9 lecheiro o nome dado ao caboclo c+e$e da lin+a das matas

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    YK

    4inda sua passagem saudando todos Aue esto presentes e declarando"

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    YI

    Cai no cho

    0imbamba da! !ete onda!

    W* 0ibamba*

    Bebe at1 rolar pelo cho

    olha por &olha*

    L da! mata! vem 0ibamba*

    Olha o bebo na Macumba % rolou

    Olha o bebo na Macumba vai rolar

    mbola* embola 1 na Macumba au9

    @ na Macumba* au9 @ na macumba* au

    # terceiro esp/rito a c+egar J cabe.a de D QalZ/ria 0eu N9)o G1r!on, )uiada

    me-de-santo # cabone cuida para Aue o c+apu de marin+eiro se(a trocado por um gorro

    branco pertencente entidade, para Aue o cigarro se(a trocado por um c+aruto e para Aue o

    peAueno copo no $iAue totalmente *aOio de u/sAue Cumprido mais uma *eO o protocolo de

    c+egada, +ora do esp/rito anunciar sua c+egada em m3sica"

    u tava lon)e* eu

    Tava lon)e* eu

    Tava lon)e

    De!!a terra

    0o Aue as pessoas respondem"

    Tava lon)e* ele

    Tava lon)e* ele

    Tava lon)e

    e!t em terra

    Cumprimenta os componentes da sesso, um a um #bser*ando de $orma OelosaAuem *isita, Auem amigo antigo do terreiro, Auem cliente e Auem est na eirapela

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    Y9

    primeira *eO, dando a cada um o tratamento e ateno Aue l+e so de*idos na condio de

    c+e$e espiritual da casa, de bom tom Aue $aa as +onras de recepoN

    #bser*a tambm se + algum na corrente Aue este(a em de!envolvimento- #

    m1dium em de!envolvimento aAuele Aue possui a misso de trabalharcom caboclos, mas

    Aue ainda no incorpora, portanto, sua incorporao precisa ser treinada Qia de regra, so

    pessoas Aue entraram para a religio + pouco tempo, sendo esta a primeira $ase de sua

    iniciao

    9Y #D0NOL$MNTO' #S CE6O0

    #s de!envolvente!so c+amados um por *eO # $il+o sa3da o altar tocando-l+e a

    cabea num dos patamaresL sa3da o tambor tocando-l+e o c+o com a mo e depois, a prpria

    cabeaL a(oel+a-se aos ps de 0eu G1r!on para tomar-l+e a bno 'ste, por sua *eO, o

    !aravaIVe o conduO ao centro do terreiro ordenando" BPense em DeusEF 0 ordem soa como

    a*al para o desen*ol*ente comear a se concentrar 4orma-se ao seu redor um c/rculo

    composto pelas pessoas Aue *o a(udar no processo

    5o logo o no*o m1diumeste(a de ol+os $ec+ados, 0eu G1r!oncomea a cantar os

    ponto!de chamada-ponto! cantado! Aue tm por ob(eti*o con*ocar os caboclos da corrente

    Aue o no*o m1diumcarre)aa se mani$estarem por meio da incorporao 5ais ora[es *ariam

    de um terreiro a outro 0baixo transcre*o algumas das Aue escutei no per/odo de campo"

    0e eu chamar ele vem

    0e eu mandar ele vai

    0u!tenta a Gira* Cabocloilho de mbanda no cai

    Bota e!!e! m1diun! para trabalhar

    #ra ver a &or.a (ue a Hurema tem

    Hurema W* Hurema

    la 1 uma linda cabocla de pena!

    IV 0arav / 8antuniOao da pala*ra Bsal*eF .#P'S, IJJ9N Gesto de cumprimentoutiliOado nos terreiros de ?mbanda 6ealiOado $aOendo seu ombro tocar o ombro oposto deoutrem, de ambos os lados, enAuanto l+e aperta as mos ou no decorrer de um abrao

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    YV

    Ai:* Huremeiro

    Ai:* Hurem

    A &olha caiu !erena* Hurema*

    dentro de!!e con)a

    A &olha caiu !erena* Hurema*

    Dentro de!!e con)a

    ou chamar todo! caboclo! de pena

    #ara trabalhar

    OFal chamou

    % mandou bu!car

    O! caboclo! da Humrema

    No !eu Hurem

    #ai OFal*

    Que 1 rei do mundo inteiro

    H deu orden! pra Hurema

    Mandar !eu! capan)ueiro!

    Mandai* mandai

    Linda Cabocla Hurema*

    O! !eu! )uerreiro!

    !!a 1 a ordem !uprema

    OFal chamou

    Arreia capan)ueiro

    Capan)ueiro da Hurema

    Arreia Capan)ueiro

    Arreia na !anta pa'

    0eu Eei do! [ndio!

    Chama o! 4ndio! 1 pra aldeia@ pra aldeia* caboclo

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    76

    Y;

    @ pra aldeia

    Caboclo no tem caminho para caminhar

    Caminha por cima*

    #or baiFo da &olha*

    m (ual(uer lu)ar

    O9* caboclo

    A Hurema mandou di'er

    Que na !ua aldeia ainda tem caboclo

    #i!a no ra!tro do outro* caboclo

    #i!a no ra!tro do outro

    u % !elei meu cavalo !opra no andar a p1

    A minha ca!a 1 num morro de areia

    @ c1u @ mar

    @ morro e no 1 mar1

    Olha palha do co(ueiro* orir9

    Olha palha do co(ueiro* orir

    Orir9 Orir

    0e a !ua banda no vier*

    u vou bu!car

    Abre e!!a porta*

    u no mandei porta &echar*

    Quem tem !an)ue de caboclo

    T na hora de baiar

    # corpo do de!envolvente no centro do terreiro, antes em repouso, comea a

    demonstrar t/midos mo*imentos" bre*es contra[es dos m3sculos da testa, peAuenos tremoresnos ombros e nas pernas, um balano pendular do tronco para $rente e para trs Con$orme as

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    YX

    can[es a*anam, tais mo*imentos *o gan+ando intensidade at se trans$ormarem em

    *erdadeiros espasmos Aue colocam o m1dium para rodar incessantemente, percorrendo, de

    $orma irregular, todo o espao do terreiro 0s pessoas Aue se colocam em sua *olta abrem os

    braos de $orma a aparar seu corpo, impedindo com isso Aue se mac+uAue, escorregando,

    caindo ou tombando com algum obstculo como pilastras, o altar, cadeiras ou outras

    pessoasN 6elata-se Aue, durante este estado de semi-transe, os sentidos adormecem, sobretudo

    o tato Portanto, comum Aue se mac+uAue enAuanto se roda, c+egando at a *erter sangue

    por conta de uma pancada numa Oona mais delicada do corpo, e s *ir a sentir as

    conseAuncias do acidente +oras mais tarde

    0 sesso de de!envolvimento continua por deO ou AuinOe minutos, at Aue 0eu

    G1r!onindiAue Aue ( o bastante 5oma o de!envolvente em seus braos, como num abrao

    e l+e sopra em cada um dos ou*idos para Aue este torne ao estado de conscincia desperto

    Pode le*ar meses ou at anos para o primeiro esp/rito tomar por completo corpo e

    mente de um indi*/duo, necessitando passar por *rias sess[es de de!envolvimento- #

    primeiro esp/rito a incorporar no cavalo de $orma completa o su$iciente para conseguir cantar

    opontopor sua boca c+amado)uiaou caboclo da direita-0credita-se Aue este acompan+a

    o m1dium a todo o momento, como um duplo espiritual ele Aue abre a! linha!, ou se(a, Aue

    abre e mantm abertoN o canal de comunicao do corpo $/sico do m1dium com o plano

    espiritual Portanto, todas as outras entidades Aue incorporarem naAuele cavalo, s o $aro

    com a permisso de seu)uia 'ste, por sua *eO, $unciona como uma espcie de Oelador da

    cabea de seu aparelho, $ec+ando-l+e o corpo para AuaisAuer energias indese(*eis

    Certa *eO, $oi-me contada uma +istria de uma garota Aue ( trabalhava de

    caboclo + certo tempo, mas no esta*a cumprindo com as ordens passadas por seu)uia

    6eceio Aue +a*ia algo relacionado com a$astar-se de $estas e lcool ou resguardossemel+antes Seu)uiaapro*eitou-se da ocasio de uma baiapara *ir em !ua cabe.ae disse

    em alto e bom tom pro*a*elmente se dirigindo ao cambone*porm, Auem esta*a presente

    tambm escutouN" BDiga a meu cavalo Aue no sou menino pra $icar diOendo uma coisa e ela

    se $aOer de surdaE De +o(e em diante eu no *en+o mais na cabe.a delaE Se ela me der uma

    cabea de boi como sacri$/cio, tal*eO eu at *olte, antes disso noEF ' a garota, nunca mais

    incorporouE

    'sp/rito e mat1ria corpo $/sicoN so potncias estran+as entre si # processo dede!envolvimentoconsiste numa gradati*a aproximao das duas metades de um modo Aue

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    78/

    YY

    possam se con+ecer aos poucos e criar */nculos cada *eO mais $ortes Para tanto, a ?mbanda

    lana mo de *rias tcnicas Aue agem tanto sobre o corpo do iniciante, Auando sobre a

    potncia sagrada a Aual se Auer acessar 5ais tcnicas transcendem o espao do terreiroe o

    tempo da baia, incidindo inclusi*e na *ida comum do su(eito 0 exemplo" banho! de &or.a

    ban+os de er*as Aue tm por $uno preparar o corpo para a aproximao do )uiaN, ora[es,

    *elas e o$erendas para seu )uia- 0 $orma e a $reAuncia dessas tcnicas auxiliares so

    de$inidas e ensinadas por 0eu G1r!one *ariam dependendo da pessoa e dos caboclos Aue ela

    carrega

    # !tatu! de de!envolvente considerado uma condio liminar, pois seu corpo

    est se abrindo para as energias sagradas, porm, seu caboclo ainda no est em plena

    +armonia com o corpo $/sico para de$end-lo de AuaisAuer male$/cios Como o m1dium se

    encontra numa posio espiritualmente $ragiliOada, as precau[es contra os perigos rituais so

    redobradas e as medidas de ascese religiosa Aue descre*i anteriormente se tornam ainda mais

    imperati*as neste per/odo

    Tas primeiras incorpora[es de um m1dium, o esp/rito ainda no tem o total

    controle de seu corpo, porAue ainda no se acostumou totalmente com ele Qem com

    mo*imentos robticos, sem eAuil/brio e, muitas *eOes, mudo Cabe s pessoas Aue esto

    dando assistncia orient-lo ordenando" BD sustento matriaEFL BCuidado com seu

    aparelhoE To precisa maltratarEFL BPode cantar, meu *el+oE Seu cavalo tem bocaEFL B0bra a

    boca do cavaloE Comece oponto*Aue a gente a(udaFE

    Pode acontecer tambm uma disputada entre dois ou mais esp/ritos pelo dom/nio

    de um aparelho-Tesses casos, tare$a do pai ou me-de-santo ou d_alguma entidadeem !ua

    cabe.a inter*ir, resol*endo a disputa Sobre isto, uma *eO 0eu G1r!on incorporado em Me

    QalZ/ria, por ocasio de uma sesso de de!envolvimento* *irou-se para mim e explicou asituao do m1diumAue era (ogado de um canto a outro do terreirona inteno de incorporar"

    B5em dois caboclos Auerendo a cabea desse meninoE 'sto em guerraE 'u Aue ten+o de

    resol*er isso" ten+o Aue passar um dos dois pra $rente, pra toma conta da cabea e o outro $ica

    em segundoFE

    ?ma *eO Aue a incorporao ( ten+a se dado, o processo de educao do corpo

    em transe ainda no termina 0s entidades Aue ocupam o corpo do m1dium precisam ser

    ensinadas a se portar Portanto, $aO parte tambm do processo de desen*ol*imento, treinar ocorpo em transe a adAuirir comportamentos Aue *o caracteriOar cada entidade e di$erencia-

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    Y@

    ls entre si 4aOem parte dessa pedagogia" ensinar aos pretos-*el+os a $umarem cac+imbo,

    tomarem c+ e ca$L s crian.a! de !ombraa pedirem moedas e bombons

    uando a incorporao do m1dium( est bem treinada e as entidades *m em seu

    corpo com mo*imentos mais de$inidos e seguros, o $iel passa da categoria de de!envolventea

    trabalhador Tessa no*a condio, tem por obrigao trabalhar nas baia!-

    Con$orme o iniciado *ai a*anando na religio, *ai passando por sacramentos por

    nome cru'o! So sete ao todo, cada um correspondente a uma das linha!da ?mbanda #s

    cru'o!tm a $uno de consagrar o m1dium energia re$erida pela linha, con$erindo-l+e mais

    controle sobre seu acesso e manipulao desta

    0 +ora de dar o cru'o dita por um caboclo incorporado na me-de-santo ou no

    prprio m1dium a ser cruOado e este tempo *aria muito de um m1dium para outro Qaria

    tambm a ordem deles Portanto, no porAue um $iel cruOado na Linha da! Mata! antes de

    $aO-lo naLinha de #reto/Qel+o, Aue a mesma ordem *al+a como regra para outro $il+o-de-

    santo Tisto se di$erencia do Candombl, onde as obriga[es so datadas no tempo contado a

    partir da &eituraI;- 0 exemplo do Candombl Retu, temos obriga[es com um, trs, sete,

    AuatorOe e *inte e um anos

    # ritual de cru'ar um m1dium $eito parte da baia, a portas $ec+adas, pois

    secreto S iniciados escol+idos a dedo pela me-de-santo ou por seu cabocloN podem assistir

    a um m1diumser cru'ado

    Cada m1dium possui uma entidade Aue responde por cada linha na Aual $oi

    cru'ado 'stas entidade! so c+amadas che&e! de linha Ta +ora de receber o cru'o,

    c+amada a entidade Aue *ai ser che&e daAuela linha Aue est sendo cru'adanaAuele m1dium-

    > tambm o caso de entidade! +/bridas Aue, por sua prpria caracteriOao, podem trabal+ar

    em mais de uma linha- Testes casos, pode ocorrer, por exemplo, de 0ibamba, Aue umMestre, ser o che&edaLinha de Me!tre numa cabea porAue $oi a entidade Aue respondeu

    chamadaAuando aAuele indi*/duo $io cru'ado na linha- De outra $orma, por ser maru(o e

    passar tambm naLinha do Mar, pode c+e$iar esta Auando em outra cabe.a, desde Aue ten+a

    respondido na +ora de dar o cru'ore$erente

    Sendo assim, o processo inic/tico na ?mbanda segue a $rmula B*rios esp/ritos

    numa s cabeaF 8%6M0T, op cit, p I9N, $undando, desta $orma, o corpo-iniciado como

    palco de um teatro a$eti*o .Q%-S560?SS, K

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

    80/

    Y206CU,

    Op- CitN0 literatura romntica um dos $ortes exemplos de saberes Aue se debruou sobre

    essa Auesto, construindo um leAue de tipos e alegorias cu(as caracter/sticas mais exacerbadas

    se aproximam bastante dos personagens mitolgicos Aue comp[em a Linha da! Mata! na

    ?mbanda Sobretudo nos personagens da literatura indigenista9V 4'66'%60

    P'..'G6%T%, K

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    KJ;

    Ta ?mbanda, incorporam eretos 5m express[es ariscas e mo*imentos rpidos

    Danam pelo terreiro como se atirassem $lec+as com a ponta dos dedos Gritam e ui*am

    con$orme *o trabal+ando 5raOem consigo todo o esteretipo do /ndio *alente, arrogante e

    rebelde o mito do sel*agem atualiOado no teatro de possesso

    Seusponto! $alam das caadas aos animais, na luta constante pela comida e pela

    sobre*i*ncia nas matas *irgens"

    le andava na! mata!

    le andava ca.ando

    m cima do rochedo !e perdeu

    oi l (ue !e encantou

    Olha (uem che)ou o [ndio da 0olido

    Com !ua &lecha*

    ai &lechar no cora.o-

    com !eu punhal*

    ai vencer toda (ue!to

    u tava na mata ca.ando tatu

    Ah* eu vi meu pai l no Arer9

    Caboclo bom

    Caboclo baia* Dend9

    A patrulha de mbanda

    mandou procurarm bom ca.ador

    Que !oube!!e atirar

    le atirou* atirou*

    Atirou no veado e no matou

    Atira Atira

    la vai atirar

    Atira Atirale % atirou

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    KJX

    Caboclo Gentil*

    L do p1 da !erra

    @ matador de on.a

    atirador de &lecha

    amo! embora* )ente

    Que eu no !ou de!!a terra

    u moro 1 muito lon)e*

    @ na loca da! pedra!

    0 re$erncia constante &urema nas ora[es denota a presena de um lingua(ar

    nordestino na religio 0 r*ore ocorre em todo semi-rido e s/mbolo de extrema rele*ncia

    na construo da cultura cabocla, como planta Aue se destaca na paisagem por uma srie de

    propriedades, sobre as Auais $ala 'uclides da Cun+a"

    A! %urema!* predileta! do! caboclo! / o !eu haFiFe capito!o* &ornecendo/lhe!* )rti!*ine!timvel bebera)em* (ue o! revi)ora depoi! da! caminhada! lon)a!*eFtin)uindo/lhe! a! &adi)a! em momento!* &eito &iltro m)ico / derramam/!e em

    !ebe!* impenetrvei! tran(ueira! di!&ar.ada! em &olha! diminuta!; re&rondam o!maFiFeiro! raro! / mi!terio!a! rvore! (ue pre!!a)iam a volta da! chuva! e da!1poca! anelada! do verde e o termo da ma)r1m / (uando* em pleno &la)elar da!eca* lhe! pore%am na ca!ca re!!e(uida do! tronco! al)uma! )ota! d,)ua;reverdecem o! an)ico!; loureiam o! %u! em moita!; e a! barana! de &lore! emcacho!* e o! araticun! J ourela do! banhado!--- 5CNZA* >* ##- R? R>8-

    Como re$lexo da importncia desta planta para a *ida do caboclo nordestino, a

    &urema gan+a lugar de destaAue dentro da religio comum, por exemplo, encontrarmos

    tocos da r*ore como parte dos a!!entamento!dos caboclos To dia IJ de (aneiro, dia de So

    Sebastio, a data em Aue se celebra OFo!!i orix regente dos caboclosN na ?mbanda

    Comumente preparada a beberagem +om1nima r*ore para ser ser*ida aos esp/ritosincorporados, de $orma a reconstruir no espao m/tico a realidade sob a Aual *i*eram os

    caboclos

    u bebi Hurema

    u bebi Hurema

    No me embria)uei

    No me embria)ueiu comi )uin1

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    KJY

    u comi )uin1

    No adormeci

    No adormeci

    ntrei na! mata! !em pedir licen.a

    02 pra ver a &or.a (ue a Hurema tem

    Ai:* Hurema Ai:* Hurema

    Ai: Hurema ilha de Tupinamb

    %nd/cios de uma linguagem tipicamente cearense so encontrados nesta parcela do

    panteo # mel+or exemplo disto so os personagens dos li*ro de &os de 0lencar maior

    expoente da literatura indigenista do estadoN $igurando como caboclos de pena e a presena de

    algumas $iguras $amosas da literatura de cordel

    O 4ndio #eri che)ou

    O 4ndio #eri che)ou

    le vem na linha de na):

    le vem virar o! contrrio!*

    irar a macumba (ue a $ta mandou

    Quem canta !eu! male! e!panta

    Quem chora relembra uma dor

    0olta o! cabelo! entre a! pena!

    0ou eu uma 4ndia $racema

    0ou 4nida brava )uerreira

    Na!cida em Acara4

    ui bati'ada na! )ua!

    o meu nome 1 NecS

    Avan.a )uerreira* avan.a

    Di!para &lecha (ue tra'02 temo a Deu! na! altura!

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    KJ@

    o meu mano Hupi

    V; 0L$NZA DA0 CACZO$EA0#?L$NZA D PANGW

    0ssim como a Linha da! Matas, aLinha da! Cachoeira! composta de esp/ritos

    sel*agens, de uma estrema ligao com a natureOa, Aue no con+eceram a Bci*iliOaoF do

    +omem branco 0credita-se Aue estes se encantaramnas pedras ou nas guas Aue comp[em as

    cac+oeiras e delas retiram a energia para trabalhar-

    6egidos pelo oriF Pan):, estas entidade!Auando *m terra para trabalhar

    numa s3plica por (ustia aos $il+os Auando esto sendo */timas de algumas perseguio, se(a

    (ur/dica, se(a pessoal, se(a na $orma de $eitios uando esto trabalhando na de!mancha dos

    $eitios, $aOem o corpo do m1dium se cur*ar e sua cabea dar repetidas *oltas em torno de sua

    coluna em mo*imentos parecidos com o da incorporao, mas com os ps $irmes, sem bat-

    los contra o c+oN, como num mo*imento de mimetismo ao de um redemoin+o de guas

    comum aparecerem men[es a OFum e$an! s *eOes identi$icada como Santa

    8rbaraN nosponto!dessa linha, $ato Aue se (usti$ica por ambas terem sido esposas de Pan):

    e o acompan+arem

    Pan):* meu pai

    u vou pedir a prote.o ao meu Pan):

    O! inimi)o (uer me derrubar

    Quem rola pedra por cima da cachoeira!*#or cima da cabe.a de (uem (uer me ver na poeira

    Quarta/&eira J mie/noite

    u &ui na pedreira de Pan):

    Acendi uma vela

    Chamei pelo meu protetor

    0arav 0aravChamei pelo meu #ai Pan):

  • 5/20/2018 Quem Filho de G rson N o Deve Temer a Ningu m

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    KJ