Quem Determina o Que é Arte

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Quem determina o que é Arte? O modernismo se dá inicio com um choque cultural nas primeiras exposições experimentais em Nova Iorque, uma forma trágica de zombar daquela que sempre foi tida como incontestável: o belo. Marcel Duchamp foi um francês que ficou conhecido internacionalmente depois que algumas de suas obras foram para os Estados Unidos e expostas, o mais incrível de tudo é que a que mais chamou a atenção dos americanos foi o nu descendo uma escada, mesma obra que tinha sido negada na França pelo Salão dos Independentes, Duchamp em nenhum momento poderia ser classificado como um artista convencional. Mas quem decide se o que Duchamp faz é arte ou não? O que classifica a arte? No berço do nascimento da arte helenística, cultura que influenciou nossa civilização, Grécia antiga, a arte era a procura da perfeição, do belo, do simétrico, estes conceitos influenciaram a criação artística e arquitetônica por milênios, nos perseguindo até hoje, impondo-nos e nos educando a uma simetria irreal, muitos hoje ainda acreditam que arte é aquilo que é belo, mas o conceito de belo muda com o tempo e a necessidade. A arte por muito tempo se dedicava a fazer uma cópia real da natureza, mas com a evolução da fotografia, isto já não havia necessidade, logo os artistas procuravam maneiras de dar a arte uma função precisa, mostrar através de uma obra aquilo que não está explico, ou aquilo que é de um outro angulo, ou até mesmo vários ângulos juntos, essa foi a principal ideia do cubismo, a arte que capturou o tempo no espaço. Mesmo com estes conceitos, Marcel Duchamp não era classificado como um cubista, mais humorístico que isso, este nem se preocupava se sua arte seria aceita, e não foi por um

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Quem determina o que é Arte?

O modernismo se dá inicio com um choque cultural nas primeiras exposições experimentais em Nova Iorque, uma forma trágica de zombar daquela que sempre foi tida como incontestável: o belo.

Marcel Duchamp foi um francês que ficou conhecido internacionalmente depois que algumas de suas obras foram para os Estados Unidos e expostas, o mais incrível de tudo é que a que mais chamou a atenção dos americanos foi o nu descendo uma escada, mesma obra que tinha sido negada na França pelo Salão dos Independentes, Duchamp em nenhum momento poderia ser classificado como um artista convencional.

Mas quem decide se o que Duchamp faz é arte ou não? O que classifica a arte?

No berço do nascimento da arte helenística, cultura que influenciou nossa civilização, Grécia antiga, a arte era a procura da perfeição, do belo, do simétrico, estes conceitos influenciaram a criação artística e arquitetônica por milênios, nos perseguindo até hoje, impondo-nos e nos educando a uma simetria irreal, muitos hoje ainda acreditam que arte é aquilo que é belo, mas o conceito de belo muda com o tempo e a necessidade.

A arte por muito tempo se dedicava a fazer uma cópia real da natureza, mas com a evolução da fotografia, isto já não havia necessidade, logo os artistas procuravam maneiras de dar a arte uma função precisa, mostrar através de uma obra aquilo que não está explico, ou aquilo que é de um outro angulo, ou até mesmo vários ângulos juntos, essa foi a principal ideia do cubismo, a arte que capturou o tempo no espaço.

Mesmo com estes conceitos, Marcel Duchamp não era classificado como um cubista, mais humorístico que isso, este nem se preocupava se sua arte seria aceita, e não foi por um tempo, renegada em seu país, logo teve que abarcar novos espaços para expor aquilo do qual queria destruir na arte, zombar do que era tido como incontestável, entre outras formas inteligentes de se fazer humor.

Um outro conceito de arte que o contemporâneo destruiu, foi ideia de que arte era aquilo que é único e sem cópias, o Pop Art investiu drasticamente contra as convenções e arrancou as fronteiras entre obra artística e criação de outra natureza, a divisa entre original e cópia, juntou alta cultura e cultura popular. Inseriu a arte no cotidiano e na lógica do mercado de massa, réplicas de obras de artistas famosos a preços acessíveis, implodindo os significados ocultos do abstracionismo e do expressionismo, criando uma arte auto suficiente e auto explicável.

Mas voltando, a arte retrata o belo? E o belo seria aquilo que nos agrada? Francis Bacon retratava em sua obra algo que não era tão bonitinho de se ver, mas reflexivo, muitos artistas tomaram esse caminho e com o tempo sua arte conceitual ganhou a história e mudou o rumo que a arte tomava, aquela que incomoda e mostra o que a sociedade não quer ver, o que

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quer esconder entre os podres da humanidade e o que havia de mais banal na hipocrisia de uma arte elitista.

Nos anos imediatamente anteriores à Primeira Guerra Mundial, as energias do movimento modernista pareciam ter recebido novo impulso. Em 1912, Picasso e Braque levaram a revolução cubista para a segunda fase, “sintética”, com invenção da colagem, a mais significativa e característica das intervenções da arte no século XX. Ao colar pedaços de papel, pano e outros fragmentos do mundo real na superfície das telas, eles deram ainda mais força à função imitativa da arte e localizaram a “realidade” ainda mais enfaticamente dentro da própria pintura. (TOMKINS, 1996, p. 77)

Os movimentos artísticos tentam abarcar os acontecimentos e seu próprio tempo para transpor em sua arte e fazer com que seja compreendida, mas um artista do modernismo não encontra seu tempo tão pouco é compreendido, havia aqueles que diziam não ser arte, que não representava o belo, mas representava o tempo, o espaço, aquilo que não queremos ver e vemos, então se vê a arte não apenas a exploração de uma nova estética, mas de uma nova linguagem, em permanente construção, associada a uma nova racionalidade, desconhecida, muito além da convencional razão iluminista.

Quem determina o que é arte sabe que no mundo contemporâneo capitalista a arte já deixou de representar o belo e virou uma simples mercadoria que pode ser fabricada numa linha de produção, não sabemos o nome do artista, arte é boa pra vender, artista não se ouve falar, apenas quando convém ao mercado e a mídia divulgar aquele artista que futuramente pode gerar lucro, mas será que tudo isso é arte? Tudo o que consumimos pode ser chamada de arte, todo produto humano com uma assinatura pode ser?

O mundo não para e ontem já não vale se o lucro já se gastou, a história não sai dos livros e muitas vezes repetimos os erros dos antepassados, há quem diga que a idade das trevas foi um período horrendo e que nunca vai se repetir, não se acredita, voltar ao passado num momento em que a arte era apenas a mídia da igreja, feita apenas para propagar medo, aquilo era arte, será que a TV que hoje tem essa mesma função também é? Medo é produto humano com uma assinatura em baixo? Há de se evitar um novo retrocesso, ninguém além da humanidade pode determinar o que é belo e o que consumir, tão pouco evita que se diga que algo não é arte, mas todo produto da mente humana é.

TOMKINS, Calvin. Marcel Duchamp. França: Cosac Naify. 2005.

MANUELA MENDONÇA MARINHO

Artes Visuais