¡Que se vayan todos! - ardaga.net comum ou bandido fardado (este último, porem, pago por nós mês...

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¡Que se vayan todos! Caras irmãs e caros irmãos espalhados pela Mãe Gaia: Fora todos!” Seria esta, mais ou menos, uma tradução adequada para o título desta mensagem. Que foi o grito revoltoso do povo argentino tomando as ruas em Dezembro de 2001 e direcionado aos “seus representantes”. TODOS eles. Mas não quero tratar aqui da Argentina da qual empiricamente conheço poucas áreas. Quero tratar é do país que melhor e mais profundamente conheço entre todos neste mundo por onde já andei, trabalhei, vivi: Brasil. “O que é, ou como é o Brasil?” Uma pergunta que às vezes é direcionada a mim por parte de estrangeiros (e, raras vezes, por Brasileiros). E se me parecer um interlocutor genuinamente interessado (na verdade) respondo assim (neste sentido) partindo de três décadas de experiência intensa: Brasil é onde a Constituição consta a maior obra de ficção literária nacional. É onde você vai pra padaria para comprar pão e morre baleado por bandido comum ou bandido fardado (este último, porem, pago por nós mês por mês). É onde são assassinados uns 60mil cada ano e onde a bancada da bala quer bombear mais armas na sociedade.

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Que se vayan todos!

Caras irms e caros irmos espalhados pela Me Gaia: Fora todos! Seria esta, mais ou menos, uma traduo adequada para o ttulo desta mensagem. Que foi o grito revoltoso do povo argentino tomando as ruas em Dezembro de 2001 e direcionado aos seus representantes. TODOS eles. Mas no quero tratar aqui da Argentina da qual empiricamente conheo poucas reas. Quero tratar do pas que melhor e mais profundamente conheo entre todos neste mundo por onde j andei, trabalhei, vivi: Brasil. O que , ou como o Brasil? Uma pergunta que s vezes direcionada a mim por parte de estrangeiros (e, raras vezes, por Brasileiros). E se me parecer um interlocutor genuinamente interessado (na verdade) respondo assim (neste sentido) partindo de trs dcadas de experincia intensa: Brasil onde a Constituio consta a maior obra de fico literria nacional. onde voc vai pra padaria para comprar po e morre baleado por bandido comum ou bandido fardado (este ltimo, porem, pago por ns ms por ms). onde so assassinados uns 60mil cada ano e onde a bancada da bala quer bombear mais armas na sociedade.

onde 08 em cada 100 dos assassinatos tornam investigao policial e menos ainda caso de justia. onde tem mais inocentes, ladres de galinha e maconheiros que fumavam no lugar errado na hora errado nas cadeias medievais e letais que bandidos.

onde voc paga altas tarifas pela gua e fica com sede ou diarria. onde voc paga a mais alta tarifa de energia eltrica do mundo e precisa estocar velas e fsforos.

onde temos uma das maiores petrolferas do mundo e enormes reservas e pagamos um dos mais altos preos de gasolina e diesel do mundo (e assim, porque contrariamente a inteligncia tudo aqui se transporta exclusivamente pelo rodovirio, encarecendo todos os produtos que no so produzidos no quintal mesmo). onde temos as melhores condies para produzir energia limpa em massa (muito sol, vento, ondas) e preferimos gastar bilhes de dinheiro pblico e exterminar comunidades e biossistemas inteiras para construir usinas que depois no ou mal funcionam.

onde se inicia a construo de uma linha de metr no ano 2000 e se inaugura o primeiro trecho de 12 km em dezembro de 2015 com atraso de 12 anos e o triplo do preo. onde voc vai pro hospital/posto de sade, porm chega no cemitrio sem ter conseguido entrar em hospital ou sem ter visto mdico algum. onde crianinha curiosa entra numa escola e sair uns anos depois um/a moo/a de fantasia e raciocino abatidos. onde voc vai ao banco (correio, frum, INSS, Detran..., tudo) e murcha numa interminvel fila sem conseguir resolver nada (fora perder tempo e sade mental e dinheiro). onde voc vai justia/promotoria buscando seu direito e termina ou na loucura ou no Nirvana. onde quer ligar o amigo ou abrir uma pgina da internet e enriquece a telefnica (tarifas mais altas do mundo!) sem conseguir falar com ningum ou abrir pgina alguma. onde se entrega um aparelho com problema pra fazer reviso na concessionria e recebe de volta um aparelho com exatamente o mesmo problema ou completamente quebrado. onde transporte pblico por muitos caro demais para ir trabalhar/estudar e se tiver condies de pegar vira sardinha enlatada (seno assaltada).

onde homens parceiros mais matam suas parceiras no mundo. onde tem lei contra racismo e o esporte urbano mais popular entre policiais e seus patrocinadores dos bairros nobres tiro em negro na favela. (No campo so fazendeiros que praticam com igual paixo o tiro em ndio.)

onde se pega a estrada e some em cratera.

onde caminhoneiro atendido no posto com diesel e cocana. onde rodam carros sem papis nem freios, mas com som automotivo mais potente do mundo. onde quem bebe e no dirige considerado trouxa. onde morrem uns 50mil nas estradas, todos os anos. onde colocamos estdio de futebol com dinheiro pblico na mata enquanto h fome, municpios sem ambulncia, universidades sem luz...

onde vai ao mercado comprar fruta e verdura e recebe bombas agrotxicas. (Inclusive aquelas cheias de venenos j proibidos em todos os outros pases do mundo h dcadas). onde vai Terra Indgena ou rea de Proteo Ambiental e encontra a festa permanente de madeireiros, mineradoras/garimpeiros, fazendeiros e seus pistoleiros e incendirios.

onde esbanjamos bilhes para transpor um rio j em plena agonia. onde insistimos em prticas agrcolas danosas mesmo em plena fase de desertificao. onde 200mil camponeses continuam sem ter uma rea para cultivar. onde a concentrao de terra no pra de crescer e os latifndios j equivalem a quase trs estados de Sergipe, sendo mais que a metade das areas do latifndio improdutiva. onde cerca de 1% dos proprietrios rurais detm em torno de 46% de todas as terras. onde a ministra de agricultura diz que latifndio no existe mais no pas, e que preciso tirar terras dos povos indgenas para manter e aumentar a produtividade.

onde os minifndios e pequenas propriedades (com menos de 10 H) absorvem 40,7% da mo-de-obra. Enquanto as propriedades acima de 1.000 Ha absorvem s 4,2% da mo-de-obra. onde os minifndios e pequenas e mdias propriedades, estes que produzem quase toda comida que os Brasileiros consomem e que proporcionalmente mais empregos criam no campo, no parem de diminuir.

onde latifundirios criminosos controlam o legislativo e o executivo e acabam tanto com as terras e a gua, quanto com a coeso social no campo e com a prpria democracia parlamentar. onde o que um tpico representante dos 10% mais ricos ganha em pouco mais de uma semana equivale quilo que um dos representes dos mais pobres leva um ano para ganhar. onde a renda somada de quase meia centena de famlias entre as mais pobres equivale renda de uma nica famlia do contingente formado pelos 10% mais ricos. onde tem salrio mnimo estipulado pela lei que, fora dos centros urbanos, quase ningum recebe. onde os mais pobres pagam, proporcionalmente, os mais altos impostos.

onde os filhos de pobres sero pouco e mal escolarizados, ocuparo funes mal remuneradas e tero filhos mal escolarizados.

onde filhos de ricos sero bem escolarizados nas instituies particulares, tero rendas mais altas e filhos melhor escolarizados. onde na mdia uma pessoa l dois livros ao longo de sua vida, e onde intelectual no-alinhado tem de emigrar para no morrer de fome nem de desdm hostil da sociedade. onde o nico ramo econmico que sempre cresce e funciona sem problema nenhum e com muita diligncia e habilidade da parte de seus praticantes e funcionrios a Corrupo.

onde a Corrupo desvia R$ 200 bilhes por ano. Dinheiro suficiente para triplicar os oramentos da Sade e Educao ou quintuplicar os recursos destinados Segurana Pblica, anualmente.

onde falta dinheiro para remdio na sade pblica, cadeira na escola, salrio para enfermeira e professor e onde, portanto, o pobre morre por infeco insignificante e seu filho perde a formao por repetveis greves nas universidades pblicas da parte de professores que fiquem sem remunerao. onde obrigatrio ter que ouvir o hino nacional (e muitas vezes tambm o hino estadual) at antes de qualquer insignificante joginho de futebol, que nem na Coria do Norte ou na Alemanha nazista, s pra inflamar o vcuo orgulho nacional embora no haver nada de se orgulhar.

onde dirigentes de escola que no executam o hino nacional respondero na Justia.

onde se vota em partido e candidato e ganha (independentemente em quem votou) mfia e ladro-assassino. Que cuidam em seguida que tudo acima mencionado o sistema se prolongue por mais um perodo legislativo. (...)

Sem dvida, Brasil especial. Um pas de superlativos. E tudo isto, repito, porque j o sublinhei outras tantas vezes, no PAS MAIS RICO (por Natureza) DO MUNDO. Vivemos no pas mais rico do mundo, pagamos as tarifas mais altas do mundo (sem receber NADA CONSTRUTIVO em contrapartida) e vivemos (ao menos a metade de ns) entre pobreza e misria e (quase todos, miserveis ou bem-abastecidos) em profunda e zelada ignorncia. E como Brasil a lanterna sulamericana em termos de educao e (portanto) conscincia poltica (e de tudo mais, menos o jeitinho) nunca chegamos neste nvel de ao popular revoltosa que nem os nossos vizinhos argentinos intimando seus flagelos politiqueiros a se retirarem todos.

Chegamos quase em 2013. Ms o trip Poder Poltico Poder Econmico Poder Manipulativo (Grande Telemdia) conseguiram confundir e dividir as massas entre os bons que infelizmente e por sua segurana devem ficar em casa e os maus (os que queriam mudana substancial) e integralmente rotulados de Black blocs (com quantos agentes de provocao infiltrados entre eles?) que tm de ser apagados. O que as Foras de Represso se encarregam a fazer com gosto e habitual dedicao brutal. Como se estes meninos fossem aqueles responsveis para ESTE Brasil e os 200 bilhes roubados do povo ano por ano. A sempre igual tragicomdia cnica dos de cima. Que da certo onde o povo justamente revoltado no descobre a encenao, no preparado cognitivamente, sem plano como prosseguir e nem firme nas suas convices.

H ainda um fator agravante desta apatia, deste despreparo e desta falta de firmeza do Brasileiro de conquistar sua liberdade, seus direitos humanos atravs da mudana sistmica ou, ao menos, o cumprimento daquilo que est escrito na Constituio: Seu autismo cultural. Falta-lhe experincia com/em outras sociedades e culturas (e, portanto idias diferentes) e assim no pode colocar sua prpria situao miservel em relao s outras (sociedades e culturas). Os que podem viajar pro exterior uma minoria minscula economicamente privilegiada e os que poderiam ler livros em ingls, castelhano, francs, alemo, mandarim (...) so menos ainda. No embora, mas por causa das cada vez mais sucateadas escolas brasileiras. Cuja funo principal (sob comando da suprema mfia da grande economia da corrupo) cuidar do deserto pensativo-cognitivo no povo ao implant-lo e zel-lo em todas as crianas.

O Brasileiro um secularmente (seno eterno) iludido e explorado e solta sua raiva (quando tomar uma chispa de conscincia e o rolo soltar) exclusivamente no seu prximo semelhante ou de lado ou de baixo. Nunca sua raiva se direciona para cima, aos responsveis de seus problemas e sua misria. Dirigido assim, pelos chefes proto-brasileiros, desde o incio, a instalao dos primeiros aventureiros invasores do Portugal nas costas brasileiras. J que continuao do velho modelo bandeirante. Homens brutos e sem nexo cultural, filhos de portugueses desterrados e suas ate centenas de mulheres indgenas, adestrados pelos seus pais a propsito de caar, escravizar e exterminar sua prpria matriz indgena. Pro progresso vulgo crescimento econmico de seus pais biolgicos e dos novos e cada vez mais invasores chegando do ultramar.

O Brasileiro, mas no s ele, antes adestrado de desconfiar daqueles que se empenham por sua emancipao, e condicionado de apoiar e defender os seus senhores. Graas as escolas e a grande mquina de lavagem cerebral/idiotizao globo-band-sbt-record-redetv... Com a exceo atual de alguns alunos e estudantes nos centros urbanos (que aprenderam com os companheiros chilenos e argentinos e apanham por exercerem seu direito democrtico!) ele nunca toma as ruas (ltimo palco do possvel poder do povo = democracia), no retoma o que seu, mas foi tomado pelo poder que nada tem de pblico aqui (seno for roubo de tudo pblico), no toma iniciativa (no bairro, no quarteiro) alguma. Prefere esperar, esperar, esperar. O dia que Deus quiser interferir... E os hermanos, o povo argentino? Infelizmente tampouco conseguiu sua meta gritada Que se vayan todos!. Porque no a perseguiu. Naquela poca, com a revolta na cabea e no corao. Os Argentinos protestaram, exclamaram, marcharam..., sem plano claro at cansaram. E 14 anos depois foram s urnas e votaram num daqueles, o novo presidente Macri, que representa exatamente a razo de sua raiva de outrora.

Da histria do homem podemos aprender que o homem nada aprende da histria. (Aforismo do filsofo alemo Hegel.)

Mas fazer o que se todos os candidatos so, de uma ou outra maneira, mafiosos e/ou incapazes...? Refutar Hegel, e sua tese! Pensar, discutir, organizar-se, fazer um plano... E renunciar, primeiro cada um no seu interior, da implantao agrilhoante da representao (das massas e de cada um de ns atravs de um punhado de privilegiados deputados sem transparncia).

No precisamos de ningum que fale por ns. Falarmos e fazermos ns mesmos! Como j foi o caso durante muito tempo na (pr-) histria humana. E como hoje em dia em alguns cantos escondidos pela grande mdia porque temem com razo que esta moda pegasse onda. Por que ter medo pensar o mundo, seu municpio, sua rua (...) sem empecilho corrupto como chefe e/ou superior e/ou diretor e/ou presidente-senador-prefeito (...) algum?

Por que no sem estes??? Poderia ser pior do que o acima colocado diagnstico real do Brasil, fruto podre e imutvel do atual sistema eleitoral tomado refm por um grupo de banqueiros e diretores de mega-empresas transnacionais e seus corruptos lacaios nacionais, as diversas mfias conhecidas como lobbys e bancadas? Um Mundo Um Amor Muitas Culturas

Ardaga, em Janeiro de 2016