Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0?

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16 a 25 de Fevereiro A WEB 2.0 E A BIBLIOTECA 2.0 Maria José Domingues Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0? A melhor concepção da BE 2.0 neste momento será uma interface de rede social que o usuário desenha. Isto é realidade virtual da biblioteca, um lugar onde alguém pode não apenas procurar por livros e revistas, mas interagir com uma comunidade, com um bibliotecário e compartilhar conhecimento e entendimento com eles. A biblioteca 1.0 levou coleções e serviços dispersos para um ambiente online, e a biblioteca 2.0 irá levar o pacote completo de serviços de biblioteca para um meio eletrónico, possibilitando o acesso à informação para a sociedade, o compartilhamento dessa informação e a sua utilização para o progresso da sociedade. Com o desenvolvimento das redes, a leitura de documentos faz-se cada vez mais por intermédio da tecnologia digital. Às bibliotecas colocou-se rapidamente não só a questão da “digitalização” dos documentos impressos, mas também a da transformação de filmes ou de registos sonoros, a fim de facilitar a sua divulgação. Encontra-se, assim, uma concepção social da informação e do conhecimento que constrói ao mesmo tempo um património (as obras do passado) e um acesso às informações mais atuais (as publicações científicas). Relativizamos as visões estritamente comerciais da produção de cultura e de conhecimento colocando-nos do ponto de vista dos bens comuns da informação e de seus efeitos sobre o desenvolvimento das pessoas e dos países. Atualmente, a noção de biblioteca escolar é indissociável das bibliotecas virtuais, da Internet, da cooperação com as bibliotecas públicas e com a comunidade educativa. Como há cada vez mais notícias sobre o uso de tecnologias da web 2.0 entre jovens, não é surpreendente ver que o uso geral da Internet nesta faixa etária é cada vez maior. Os jovens usam blogs, redes sociais, sites de compartilhamento de fotos e vídeos num ritmo nunca visto antes, por isso é inquestionável, hoje, que o paradigma tecnológico leve a biblioteca escolar a assumir um novo papel no seio da comunidade escolar/educativa. Neste contexto, procurando responder às múltiplas solicitações desta sociedade da informação e do conhecimento as bibliotecas têm vindo a consciencializar- se da necessidade de mudança e adaptação a esta nova realidade. Sendo este um processo dinâmico e evolutivo, julgo que nos encontramos ainda numa primeira fase, a de exploração dos recursos e ferramentas que a web 2.0 nos oferece. Aproximamo-nos

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Maria José Domingues

Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um

modelo de biblioteca 2.0?

A melhor concepção da BE 2.0 neste momento será uma interface de rede social

que o usuário desenha. Isto é realidade virtual da biblioteca, um lugar onde alguém pode

não apenas procurar por livros e revistas, mas interagir com uma comunidade, com um

bibliotecário e compartilhar conhecimento e entendimento com eles.

A biblioteca 1.0 levou coleções e serviços dispersos para um ambiente online, e a

biblioteca 2.0 irá levar o pacote completo de serviços de biblioteca para um meio

eletrónico, possibilitando o acesso à informação para a sociedade, o compartilhamento

dessa informação e a sua utilização para o progresso da sociedade.

Com o desenvolvimento das redes, a leitura de documentos faz-se cada vez mais

por intermédio da tecnologia digital. Às bibliotecas colocou-se rapidamente não só a

questão da “digitalização” dos documentos impressos, mas também a da transformação

de filmes ou de registos sonoros, a fim de facilitar a sua divulgação.

Encontra-se, assim, uma concepção social da informação e do conhecimento que

constrói ao mesmo tempo um património (as obras do passado) e um acesso às

informações mais atuais (as publicações científicas). Relativizamos as visões

estritamente comerciais da produção de cultura e de conhecimento colocando-nos do

ponto de vista dos bens comuns da informação e de seus efeitos sobre o

desenvolvimento das pessoas e dos países.

Atualmente, a noção de biblioteca escolar é indissociável das bibliotecas virtuais,

da Internet, da cooperação com as bibliotecas públicas e com a comunidade educativa.

Como há cada vez mais notícias sobre o uso de tecnologias da web 2.0 entre

jovens, não é surpreendente ver que o uso geral da Internet nesta faixa etária é cada vez

maior. Os jovens usam blogs, redes sociais, sites de compartilhamento de fotos e vídeos

num ritmo nunca visto antes, por isso é inquestionável, hoje, que o paradigma

tecnológico leve a biblioteca escolar a assumir um novo papel no seio da comunidade

escolar/educativa. Neste contexto, procurando responder às múltiplas solicitações desta

sociedade da informação e do conhecimento as bibliotecas têm vindo a consciencializar-

se da necessidade de mudança e adaptação a esta nova realidade. Sendo este um

processo dinâmico e evolutivo, julgo que nos encontramos ainda numa primeira fase, a

de exploração dos recursos e ferramentas que a web 2.0 nos oferece. Aproximamo-nos

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do conceito da biblioteca 2.0, mas para este ser pleno é necessário que as bibliotecas se

centrem no utilizador, como parceiro na construção de conhecimento, participando na

criação de conteúdos, partilhando-os e interagindo com outros elementos de uma mesma

comunidade virtual por isso também consideradas, socialmente ricas.

Maness (2006) aponta 4 características que definem a Biblioteca 2.0:

• Centrada no utilizador. O utilizador participa na criação de conteúdos e

serviços disponibilizados na Web pela biblioteca.

• Disponibiliza uma experiência multimédia. Tanto as coleções como os

serviços da biblioteca 2.0 contêm componentes, vídeo, áudio, realidade virtual.

• Socialmente rica. Interage com os utilizadores, quer de forma síncrona (por ex.

IM – mensagens instantâneas), quer de forma assíncrona (por ex. wikis).

• Inovadora ao serviço da comunidade. Procura constantemente a inovação e

acompanha as mudanças que ocorrem na comunidade, adaptando os seus serviços para

permitir aos utilizadores procurar, encontrar e utilizar a informação.

Considerando a atual importância dada à informação como fator estratégico de

decisão, e atendendo ao grande desenvolvimento das tecnologias da informação e

comunicação de que é exemplo a Internet, as bibliotecas digitais são um importante e

decisivo aplicativo, nesta nova era, incorporando materiais, produtos e serviços

eletrónicos, digitais e virtuais nas bibliotecas tradicionais.

Uma biblioteca digital de serviço completo, terá de alcançar todos os serviços das

bibliotecas tradicionais e também de explorar as conhecidas vantagens do

armazenamento digital, pesquisa e comunicação”. Segundo Leiner, 1998 “Uma

biblioteca digital é a colecção de serviços e a colecção de objectos de informação, sua

organização, estrutura e apresentação, que suporta o relacionamento dos utilizadores

com os objectos de informação, disponíveis directa ou indirectamente via meio

electrónico/ digital”.

O desafio tecnológico apresenta-se tanto ao nível da coleção que agora se estende

a recursos online, como ao nível da gestão onde a web disponibiliza instrumentos que

permitem uma maior interação com os utilizadores.

Para Carlos Pinheiro e João Paulo Proença, “À biblioteca escolar, mais do que

criar repositórios de informação com ligações à leitura, ao entretenimento ou aos vários

domínios curriculares e das interacções que no âmbito da Web consiga estabelecer com

os utilizadores, cabe uma enorme tarefa: a de preparar os seus públicos para as literacias

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necessárias ao acesso e uso da informação em ambientes digitais. Literacias de natureza

operacional, mas também e acima de tudo de natureza crítica”.

É minha convicção que os desafios - tecnológico e de agente de formação - são os

mais difíceis de operacionalizar, mas vitais para o tempo presente.

A biblioteca 2.0 tem de melhorar os serviços atuais para responder às

necessidades dos utilizadores, devendo ser vista como uma oportunidade que temos

para mudar o sistema educativo e ajudar a transformar a forma como se processa o

ensino aprendizagem.