Quantificação de atropelamentos de vertebrados silvestres em um trecho da GO 213 e análise de...
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QUANTIFICAÇÃO DE ATROPELAMENTOS DE VERTEBRADOS SILVESTRES EM UM TRECHO DA GO 213 E ANÁLISE DE FATORES ENVOLVIDOS.
KAIO CÉSAR DAMACENA SILVA1,2; DHESY ALLAX CÂNDIDO DE FREITAS1,3;
KYRLY MORAIS CARNEIRO1,4; NILSON KÁSSIO PEREIRA LIMA1,5; PÂMELLA
APARECIDA DE SOUZA PIRES7,6 & JONAS BYK8,9
1Universidade Estadual de Goiás, Un.U. Morrinhos 2([email protected])
3([email protected]) 4([email protected])
5([email protected]) 6Universidade Federal de Goiás; 7([email protected])
8Docente do Curso de Ciências Biológicas; 9([email protected])
RESUMO
O Brasil possui uma estrutura de transportes de cargas e passageiros voltada quase em sua
totalidade para o modal rodoviário. Dessa forma, em países como o nosso, as rodovias englobam alto valor
econômico e social. No Estado de Goiás, a situação não é diferente, pois utiliza-se em grande escala o
transporte nessas vias, principalmente para o escoamento de safras. Apesar disso, estas trazem consigo
um grande transtorno ambiental, ocasionando severos impactos na fauna e flora locais. Entre os
problemas, destacam-se os atropelamentos de vários animais que se arriscam atravessando as estradas, o
que pode ter grau significativo de importância para às populações e comunidades locais. Quando certo
trecho rodoviário tem maior circulação de veículos e o mesmo se encontra próximo a fragmentos ou
reservas florestais, como Unidades de Conservação (UCs), a agressividade é ainda maior. Diante de tal
circunstância, objetivou-se realizar um estudo desta temática em um trecho das GO 213 no sentido
Morrinhos – Caldas Novas – Morrinhos, sendo que próximo à Caldas Novas há o Parque Estadual da Serra
de Caldas Novas (PESCAN), uma UC com alta biodiversidade. Foi realizado um monitoramento de maio
de 2010 à abril de 2011, mediante duas viagens ao mês, onde forão quantificados os indivíduos, e
levantadas as informações necessárias: situação dos espécimes e dos locais de ocorrência. Analisou-se os
indíces de incidência das espécies e taxas encontrados, com também alguns fatores ambientais e sociais
relocionados com a distribuição espacial e temporal dos atropelamentos. Assim, ao longo do estudo,
contabilizou-se um total de cem indivíduos, distribuídos em quatro classes, sendo a maioria, mamíferos.
Palavras-chave: Atropelamento; Biodiversidade, Malha rodoviária; Vertebrados silvestres.
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INTRODUÇÃO
As rodovias são causadoras de grandes impactos nos ecossistemas onde estão
inseridas, provocando, invasão, fragmentação e perda de habitat; dispersão de espécies
exóticas e remoção de espécies nativas; disseminação de doenças; poluição luminosa,
sonora, visual e atmosférica; interrupção de secções de corpos d’água; criação de efeito
de borda; aumento de focos de incêndio; “cicatrização” do solo e intensificação do calor,
quando há pavimentação; entre outros; podendo as perturbações se perpetuarem de
100m à mais de 1 km, transversalmente as vias (TROMBULAK & FRISSEL, 2000). Os
impactos diretos à fauna, como o obstáculo ao deslocamento natural dos animais,
obrigando algumas populações a evitarem os locais próximos às estradas ou até mesmo
se isolarem; provocando mudanças no comportamento de indivíduos, como, por
exemplo, nos padrões de área de vida e reprodução; deterioração fisiológica; alterações
nos níveis tróficos de cadeia alimentar em certas comunidades; e os atropelamentos de
vários indivíduos que, apesar de tudo, se expõe para forragear, acasalar, etc. Em outros
casos alguns indíviduos são atraídos pelas rodovias, quando há disponibilidade de
alimentos nas mesmas (na maioria das vezes grãos), que são deixados na via pelos
usuários (LIMA & OBORA, 2004; PRADA, 2004; FRISSEL, 2000)
Em Goiás, as malhas rodoviárias federais e estaduais encontram-se em constante
expansão quantitativa e qualitativa. Além disso, o estado é localizado no Brasil Central,
em região de Bioma Cerrado, segundo maior do país, ocupando, originalmente, quase
dois milhões de quilômetros quadrados e aproximadamente 22% do território nacional.
O mesmo sofre de ocupação descontrolada, que se intensificou nas décadas de 60 e 70,
movida pelo pogresso agropecuário, industrial e urbano. O cerrado encontra-se
antropizado em torno de 66% à 70% de sua extensão original e faz parte dos 25 “hot
spots” mundiais de biodiversidade (DOUROJEANE & PÁDUA, 2001; BRASIL, 2007;
SANTOS et al, 2008)
A GO 213, que liga as cidades de Caldas Novas e Morrinhos, encontra-se próximo
ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCAN), que segundo Nascimento et al
(2008) possui alto nível de riqueza e diversidade de espécies, além de outros
remanescentes florestais. Existe grande possibilidade das populações destes locais
também estarem sendo afetadas com as rodovias, em decorrência destas estarem em
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rotas turísticas que segundo Campos et tal (2005) é de fluxo elevado, devido a busca das
atividades turísticas daquelas cidades.
Este artigo consiste no monitoramento em trechos das GOs 213 sentido
Morrinhos – Caldas Novas – Morrinhos, objetivando quantificar ocorrências de
atropelamentos de vertebrados silvestres, bem como analisar os fatores ambientais
antropicos e naturais e à distribuição espacial e temporal destas alem de propor medidas
mitigatórias.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas vinte e quatro viagens ao longo de um trecho da GO 213 no
sentido Morrinhos – Caldas Novas (Figura 1), para que se pudessem realizar as
amostragens. O trecho tem aproximadamente cinquenta e oito quilômetros e meio,
pavimentados, com acostamento, em variadas condições geométricas e de conservação e
quase em sua totalidade de pista única, com exceção de um pequeno trecho de pista
dupla próximo a um posto da Polícia Militar Rodoviária Estadual localizado na saída do
município de Morrinhos. Sendo assim, foi percorrido um total de aproximadamente
1406,4 quilômetros ao longo de todas as coletas, sem contabilizar o trajeto de retorno.
Estas foram realizadas duas vezes ao mês, no período compreendido entre maio de 2010
e abril de 2011, de forma que se procurou manter constante o intervalo entre as mesmas.
As viagens foram feitas em veículo automotor do tipo passeio, marca Volkswagen,
modelo Gol MI, com dois observadores, procurando-se manter uma velocidade média
de 55 km/h para facilitar a visualização. Começaram no início da manhã, para que se
pudesse observar também as carcaças de animais vitimados no crepúsculo e aurora
imediatamente anteriores, que é o período de maior movimentação da maioria das
espécies, principalmente carnívoros (SILVEIRA, 1999), e ainda às condições climáticas
nesse período serem normalmente mais propícias à observações.
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Figura 1. Imagem de satélite com a localização da área de estudo, trecho da GO-213.
Fonte: Google Maps, 2010 (modificado).
Durante as amostragens, sempre que foi avistado algum animal atropelado, era
feita uma parada imediata, para melhor visualização. Caso fosse um vertebrado silvestre,
fazia-se o registro e a identificação do indivíduo, conforme bibliografia especializada
Gwynne et al (2010), Oliveira e Cassarro (1999), juntamente com anotações em banco de
dados de informações possíveis do mesmo: nome da espécie ou taxon, sexo e idade
aproximada (quando as condições permitiram), dados biométricos medidos com fita
métrica Huaxing (comprimento, altura, etc.), posição na via (pista de rolamento,
acostamento ou zona de refúgio). Também sobre o trecho: quilometragem, condições
de conservação e geométricas da pista, altura da vegetação na zona de refúgio medido
também com fita métrica Huaxing, tipo de ambiente às margens do trecho, velocidade
máxima permitida e ainda quanto às condições climáticas, horário, entre outras que se
acharem necessárias. Para a altura da vegetação e o tipo de ambiente, eram anotadas as
informações do lado mais próximo e distante da posição do espécime.
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Grande parte das ocorrências foram fotografadas com câmera digital Kodak
Easyshare Z 980, possibilitando assim o esclarecimento de dúvidas quanto à
identificação dos indivíduos, como também a geração de um acervo fotográfico.
Também foram registradas as coordenadas geográficas dos registros em aparelho
receptor do sistema GPS (“Global Position Sistem - Garmin MAP 76 CSX).
Para analisar os dados, foi usada a ánalise descritiva, de forma a calcular as taxas
de espécies e grupos atropelados por km da rodovia e do percurso, por viagem, por mês
e por estação. E ainda, a abundância relativa de cada espécie ou taxon, em relação ao
total de registros em geral e por grupo, percentuadamente. Também, utilizou-se da
estatística inferencial, com o intuito de se observar a distribuição temporal das
ocorrências de atropelamentos. Por meio daquela, foi observada a relação destes com as
duas estações no Cerrado, ou seja, seca e chuvosa. Para tanto, foi usado o teste
estatístico paramétrico t de student para amostragem idependente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo dos doze meses de estudo foi registrado um total de 100 vertebrados
silvestres mortos por atropelamento. (Tabela 1) Esses registros se referem a 4 classes, 13
ordens, 15 famílias e 19 espécies identificados. Devido ao estado de deterioração de
algumas carcaças houveram 40 espécimes que não puderam ser identificados ao nível de
espécie. Destes 6 aves, 14 mamíferos e 2 répteis não foram identificados ao nível de
ordem e 3 indivíduos não puderam ser registrados sequer quanto à classe.
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Tabela 1. Lista de vertebrados silvestres atropelados no local e período de estudo. N=
número de atropelamentos. NI= não identificado.
Classe Ordem Família Espécie nome comum N
Anfíbios Anura NI 4
Gymnophiona NI 1
Aves Cathartiformes Chatartidae Coragypus atratus Urubu 3
Craciformes Cracidae Penelope superciliaris Jacupemba 1
Gruiformes Cariamidae Cariama cristata Seriema 7
Falconiformes Falconidae Caracara plancus Caracará 2
Milvago chilmachima Carrapateiro 1
Strigiformes Tytonidae Tyto alba coruja igrejeira 1
Tinamiformes Tinamidae Rhynchotus rufescens Perdiz 2
NI 6
Mamífero
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Carnivora Canidae Cerdocyon thous cachorro-do-mato 8
Crysocyon brachyurus lobo guará 1
NI 6
Didelphidae Didelphis marsupialis Gambá 1
Mustelidae Galictis cuja Furão 1
NI 2
Felidae NI 1
Procyonidae Nasua Nasua Quati 1
Cingulata Dasypodidae Dasypus novemcinctus tatu-galinha 2
Eupharactus sexcintus Tatu 1
Eupharactus vilosus Tatu 10
NI 1
Rodentia Hydrochoeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara 1
Xenarthra Myrmecophagidae Myrcomecophaga tridacyla tamanduá-bandeira 11
Tamandua tetractyla tamanduá-mirim 5
NI 14
Répteis Squamata Boidae Boa constrictor Jibóia 1
Squamata Teiidae Tupinambis merianae Lagarto teiú 2
NI 3
Total 100
Fonte: Dados de pesquisa, 2011.
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Porém, levando em conta os 1406,4 quilômetros totais percorridos ao longo de
todo o estudo (sem levar em conta o trajeto de volta), ou seja, o espaço amostral, houve
uma média de 0,0685 animais/km percorrido, valor este superior a muitos trabalhos
com a mesma temática. Entre eles: Prada (2004) com 0,048 animais/km percorrido,
Montovani (2001) que encontrou 0,0015 animais/km percorrido, Silveira (1999) com
0,045 animais/km percorrido e Jácomo et al (1996) que registrou 0,06 animais/km
percorrido. Os dois primeiros trabalhos foram realizados em trechos de rodovias
estaduais do estado de São Paulo e estes, feitos ao longo de rodovias que margeiam o
Parque Nacional das Emas.
A classe de mamíferos somou maioria absoluta (66%); seguida por aves (23%); e
anfíbios e répteis, que tiveram o percentual 5% e 3%, respectivamente. Os espécimes
que não puderam ser identificados nem quanto à classe corresponderam a 3%. (Figura 2)
Os resultados não diferiram da maioria dos levantamentos realizados para estas quatro
classes em outras regiões do país. Em geral, nesses trabalhos, mamíferos e aves estão
entre os dois grupos mais registrados, e répteis e anfíbios são apresentados como os de
menor ocorrência, a não ser por algumas exceções, como os estudo feitos por
Hengemuhle e Cademartori (2003) e Turci e Bernarde (2009), onde as quatro classes
foram registradas na mesma proporção, aproximadamente. As semelhanças dos dados
devem estar relacionadas ao tipo de amostragem empregado ou às características do
local de estudo, ou a ambos. Como a maioria dos estudos com esta temática, as coletas
deste foram feitas em carro de passeio, o que influência bastante na visualização dos
espécimes, visto que os de menor porte serão mais difíceis de serem vistos. (LIMA E
OBARA, 2004; PRADA, 2004)
Foram registrados apenas cinco carcaças de anfíbios, sendo quatro da ordem
Anura e um da ordem Gymnophiona, porém não identificados quanto á família devido
ao estado de conservação das carcaças. Talvez a contabilização dessa classe tenha sido a
mais subestimada entre todas. Isso devido ao porte reduzido dos animais e a maior
velocidade de deterioração das carcaças, o que dificulta muito os registros.
(HENGEMUHLE e CADEMARTORI, 2003; PRADA, 2002)
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Figura 2. Número de atropelamentos de vertebrados silvestres, por classe de tetrápodos,
na GO-213. NI= não identificado
Fonte: Dados de pesquisa, 2011.
Já quanto as aves, ocorreram vinte e três indivíduos pertencentes à seis ordens e
mais seis espécimes não foram identificados nem quanto à esse nível. A espécie mais
encontrada nesse grupo, foi a siriema (Cariama cristata), com sete registros. Este é uma
animal que vive no chão e voa apenas em situações de perigo, mesmo assim a curtas
distâncias e é considerado comum neste local segundo relatos de usuários do trecho de
estudo. Somado a isso, seu porte maior, quando comparado ao grupo das aves, deve ter
facilitado à sua contabilização durante as coletas. Foi também a quarta espécie mais
vitimada com atropelamento, ao longo do estudo, entre todos os registros,
correspondendo portanto à 7% da amostragem. O segundo mais registrado entre as aves
foi o urubu (Coragypus atratus), que foi encontrado atropelado três vezes. Vale a pena
salientar, ainda, as ocorrências de Falconiformes da família Falconidae, dos quais foram
obtidas três carcaças, sendo dois caracará (Caracara plancus), (Figura 4) e um
carrapateiro (Milvago chilmachima). È importante ressaltar, que assim como os anfíbios,
muitos dos indivíduos dessa classe possuem porte reduzido, o que pode ter dificultado a
visualização (HEGEMUHLE e CADERMATORI, 2003).
Em relação aos mamíferos, registrou-se sessenta e seis indivíduos, pertencentes à
quatro ordens, oito famílias, mais quatorze não identificados. A ordem mais atingida foi
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a Carnívora, com vinte e um indivíduos, ou seja, aproximadamente 32% da classe, sendo
que quinze eram Canidae. Número este, também muito semelhante com alguns dos
inventários no Brasil, onde esta ordem normalmente é a mais vitimada entre os
mamíferos. (HENGEMUHLE e CADEMARTORI, 2003; PRADA, 2002) Silveira (1999) e
Prada (2002), afirmam que carnívoros estão entre os animais que mais necessitam de
uma extensa área de vida para sobreviverem, além do hábito de necrofagia, muito
presente em algumas espécies. Isso justificaria, em partes, esse número expressivo de
atropelamentos, visto que devido a maior movimentação ao longo do território, eles
ficam mais expostos a esse perigo, quando há rodovias em seu hábitat.
Na família Canidae, se encontra a terceira espécie mais registrada do trabalho:
Cerdocyon thous (cachorro do mato), indicado em 8% dos atropelamentos. Segundo
Rodrigues et al (2010) o cachorro do mato, como também o urubu e o carcará, que
também foram registrados no presente estudo, estão entre os animais que mais se
ocupam da alimentação de carcaças de atropelados, em nossa região. Esse fato pode
aumentar o risco para eles, também. Como foi supracitado, ele foi a terceira expécie com
maior expressividade nesse trabalho. Por isso, é provável que o hábito de se alimentar de
animais em putrefação tenha contribuído para tanto. Além disso, para Coelho (2003) e
Hengemuhle e Cademartori (2003), que também registraram Cerdocyon thous em seus
trabalhos, essa espécie, como muitos carnívoros, é abundante na região, apresenta
grande mobilidade e costuma utilizar estradas para forrageio. Apesar de ser um
marsupial com hábitos tolerantes e oportunistas, que costuma utilizar com frequência
ambientes antropizados, devido às diminuições significativas de populações de
carnívoros de grande porte, eles podem assumir papéis fundamentais no ecossistema
local, como predação e dispersão de sementes, que são de extrema importância.
(COELHO, 2003) Em geral, trabalhos realizados em rodovias da região central do Brasil,
costumam apresentar um número alto de pequenos canídeos. (VIEIRA, 1996) Entre eles,
o Cerdocyon thous.
A segunda e terceira ordem mais registrada entre os mamíferos foram,
respectivamente: Xenartha com 15 espécimes e Cingulata com 14. Inclui-se no primeiro
grupo o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridacyla), que representou 11% dos
atropelamentos e assim foi o mais registrado entre todas as espécies. (Figura 6) Foi
também a espécie de maior porte encontrada, tanto que o indivíduo com as maiores
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medidas do trabalho era um tamanduá-bandeira. Ele tinha dois metros de
comprimento, 0,5 metro de altura e 0,22 metros de largura. Existe na natureza, a
tendência de ocorrer o aumento de movimentação e área de vida conforme o porte do
animal, visto que o tamanduá bandeira utiliza uma área de vida relativamente grande
(SILVEIRA, 1999) Com 10% das ocorrências, a segunda espécie mais encontrada, entre
todas, foi também um mamífero: Eupharactus vilosus, um tipo de tatu considerado
comum pelos usuários da via e moradores da região. Ele pertence à ordem Cingulata.
Os répteis foram representados por apenas três indivíduos, sendo eles uma
serpente: Boa constrictor (jibóia), da família Boidae e dois lagartos-teiú (Tupinambis
merianae), que são da ordem Squamata e família Teiidae. Essa classe foi a de menor
expressividade no trabalho, chegando a se igualar em número com as carcaças não
identificadas nem quanto à classe, ou seja, três espécimes. O resultado se mostra
totalmente o inverso do trabalho de Hengemuhle e Cademartori (2003), que registrou
cinquenta e oito répteis e teve esse grupo como o de maior ocorrência entre as quatro
classes. O trabalho citado foi realizado entre os quilômetros oito e vinte da RS-389,
também conhecida como Estrada do Mar. Na metodologia, as coletas foram feitas a pé, o
que deve ter facilitado a visualização de carcaças de menor porte, que é o caso dos
répteis e também dos anfíbios.
Em comparação com outros trabalhos semelhantes realizados em território
brasileiro (JÁCOMO et al, 1996; LIMA e OBARA, 2004; OLMOS, 1996; FISHER, 1997;
MONTOVANI, 2001; FARIA e MORNI, 2000), pode-se admitir como relevante e alta a
contabilização de animais registrados. Isso levando em consideração as diferentes
metodologias empregadas, como quantidade e ritmo de coletas em intervalos de tempo
e forma de tráfego nas viagens. Também as características do local de estudo: tamanho
do trecho de estudo e intensidade de uso. No presente trabalho, o trecho de estudo e a
quantidade de coletas foram relativamente pequenos, em relação aos números
encontrados, na comparação.
Quarenta e nove indivíduos foram registrados na estação seca e cinquenta e um
na chuvosa. (Figura 9) Utilizando-se o teste estatístico paramétrico t de student não
pareado, para comparar o número de atropelados nesses dois períodos encontrou-se o
valor calculado de 0,4086, que por ser menor que o valor tabelado à 5%, 15 graus de
liberdade (2,95), não é significante, ou seja, a estação não interferiu no número de
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ocorrências e as médias em ambos os casos não são significativamente diferentes entre
si. Como se pode observar já pela pequena diferença entre os dois períodos,
provavelmente eventuais mudanças em fatores como nível do fluxo de veículos,
características das espécies ou do clima não têm interferido no atropelamento dos
animais, ou estão se equivalendo quanto às possíveis mudanças nas proporções em cada
época.
Figura 3. Quantidade de indivíduos encontrados ao longo do trabalho durante as
estações seca e chuvosa.
Fonte: Dados de pesquisa, 2011.
Para interpretar os dados geográficos, advindos do registro das coordenadas, foi
dividido o trecho em estudo em cinco partes iguais, conforme os graus de longitude da
rodovia e analisado o número de indivíduos encontrados em cada trecho. Assim,
considerando o sentido Morrinhos – Caldas Novas, obteve-se os seguintes resultados:
trecho 1 (longitude 49° em diante): dezesseis indivíduos; trecho 2: (longitude 48°51’ à
48°60’): quarenta e cinco indivíduos; trecho 3: (longitude 48°41’ à 48°50’): trinta e quatro
indivíduos; trecho 4: (longitude abaixo de 48°40’): cinco indivíduos;
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CONCLUSÕES
Os resultados demonstram um diagnóstico preliminar acerca das espécies mais
afetadas com esse trecho da GO 213 e consequente desequilíbrio ecológico causado,
como também aspectos da biologia e ecologia da fauna do local: padrões sazonais e de
deslocamento, por exemplo. Isso parece bem evidente, visto que animais mais
abundantes, de maior atividade e área de vida têm mais chance de serem atropelados,
considerando a área de estudo.
Embora seja este um estudo básico e que portanto necessita de maiores esforços
amostrais e outros testes, devido ao maior número de registros encontrados no trecho 2
(quarenta e cinco espécimes), aconselha-se empregar maior sinalização nessa parte.
Poderia ser, por exemplo, placas e/ ou redutores de velocidade.
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