Quando o Vinculo Se Rompe

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  • 7/27/2019 Quando o Vinculo Se Rompe

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    Esly Regina Carvalho

    QUANDO O VNCULO SE ROMPEseparao, divrcio e novo casamento

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    Ao Ken,

    que me ensinou a amar de novo.

    Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; aparecem as flores na terra, chego

    empo de cantarem as aves, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A figueira comeou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma;

    evanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas dos penhascos, no esconderijo das rochas escarpadas,

    me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz doce, e o teu rosto, amvel. (Ct 2.10-14.)

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    AGRADECIMENTOS

    ma Pessoa, que, quando editora da revista Casal Feliz, convidou-me a escrever sobre o tema deste livro.

    nelize Edwards, companheira de orao, que atravessou comigo os ltimos anos daquele casamento e os primeiros anos da separao, com amizade e or

    astor David Jones no h palavras para expressar a gratido que tenho ao homem que, pela primeira vez na vida, ensinou-me a ter confiana no gnero

    asculino. Aquelas reunies de orao na igreja e suas palavras de consolo e sabedoria resgataram a minha vida da porta do prprio inferno em que eu vivi

    stauraram a esperana de viver de novo.

    ev. Manoel Ferreira, pastor metodista que deixava os recadinhos na minha secretria eletrnica.

    ev. Srgio Marcus Pinto Lopes, que achou bom o que eu estava escrevendo e que valia a pena continuar.

    a Maria de Brito Almeida, que acompanhou o processo do luto, da dor, da convalescena e da vitria. Que bom que ela e o Francisco, estimados padrin

    asamento, se alegraram comigo quando casei-me novamente!

    smar Ludovico da Silva, pastor que deu-me a primeira oportunidade de falar deste tema em pblico.

    migos do CPPC, Corpo de Psiclogos e Psiquiatras Cristos, que foram amigos de verdade na hora em que mais precisei deles.

    meus pais, Loamy, que muito ensinou-me sobre a misericrdia de Deus, sua graa e seu poder restaurador na vida das pessoas, e Dona Zizi, que foi o ap

    lencioso de todas as horas das experincias aqui descritas. At hoje meus pacientes tm o privilgio de ouvir os ditados e expresses que ouvi dela a vida

    ue passei tambm Raquel. Alguns deles foram ouvidos de sua me, que ouviu de sua av.

    ecialmente minha filha Raquel, que me permitiu contar a nossa histria nestas pginas.

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    SUMRIO

    Prefcio

    Introduo

    Solteira outra vez

    Separao e divrcio

    A dor do divrcioA vida continua

    E quando pinta a saudade?

    Quando meu filho se divorcia

    E os amigos, com quem ficam?

    Divorciados, porm amigos. possvel?

    possvel uma reconciliao?

    . Mulher, crist, descasada

    . Sua lmpada no se apaga

    . A igreja e o divrcio

    . Vamos casar de novo?

    . Deus, o santo casamenteiro

    Apndice: O divrcio, a lei e Jesus

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    PREFCIO

    Conheci a psicodramista Esly Regina Carvalho no avio que levaria um grupo de brasileiros ao II Congresso Internacional de Evangelizao Mundial (Lauado em Manila, capital das Filipinas, em julho de 1989. Naquela poca, Esly tinha um consultrio particular de psicoterapia em Braslia e era psicao Hospitalar do Distrito Federal. Se algum lhe perguntasse se era solteira ou casada, ela responderia: Sou divorciada. Pouco tempo depois, Esly sQuito, no Equador, para trabalhar na Pastoral da Famlia, Mulheres e Crianas do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI). Mais tarde, transferiaz, na Bolvia, onde ocupou o cargo de coordenadora da Eirene Internacional. A essa altura, se algum lhe perguntasse se era solteira ou divorc

    onderia: Sou casada. Atualmente, Esly mora com o segundo marido, Ken Grant, em Quito, Equador, e coordenadora da Exodus Amrica Latina, orgoordena e credencia ministrios de ajuda a homossexuais.O grande valor de Quando o vnculo se rompe est no fato de que os trs delicadssimos temas da separao, do divrcio e do novo casamento so trapsicloga temente a Deus, que passou por essa desagradvel experincia. O livro leva em considerao a Palavra de Deus e a psicologia, mas no nemco. De forma discreta, porm transparente, a autora mostra o quanto sofreu com a separao depois de um casamento de cinco anos e meio. Lembra qurao indolor: Deixar de amar leva tempo, da mesma forma que para aprender a conviver levou tempo. Ela usa uma palavra dura para se referir ao probrao um aborto que interrompe o processo natural do desenvolvimento da vida familiar.Quando o vnculo se rompe no pretende facilitar a separao, o divrcio e o novo casamento. Para a autora, o divrcio significa a perda de um dos prmais importantes: o casamento. Repetidas vezes, ela afirma que a separao tem o movimento inverso da intimidade, o que vale dizer: o meu ntimo made virar um estranho. A separao di porque antes era uma s carne e agora essa carne nica rasgada em dois pedaos.Esly tem coragem de chamar de pecado o divrcio, porque a separao no mesmo da vontade soberana de Deus. Ela cita o texto de Malaquias 2.16

    que o Senhor odeia o repdio, mas acrescenta, com acerto, que o mesmo Deus no odeia o divorciado. Para se curar de seu prprio drama, Esly preo de Deus, perdo que nem sempre a igreja d. Ora, o divrcio no o nico pecado que o crente comete nem o pecado imperdovel de que fala a

    oa divorciada tem que ter rosto, nome e sobrenome, carne e osso. No deve ser encarada como uma mera generalizao, ou com uma pessoa de segunaparentada com os pagos. O arrependimento e a certeza do perdo de Deus tm de anteceder um eventual novo casamento.

    Esly no faz coro com aqueles que dizem levianamente: Se o casamento no der certo a gente sempre pode se separarQuando o vnculo se rompe vem ao encontro de muitos que tiveram surpresas desagradveis e esto profundamente feridos e, quem sabe, por alguusos. Trar bnos tambm igreja que se sente responsvel para no deixar bagunar o casamento sem perder a noo da misericrdia divina.Creio que, alm de tudo, o livro de Esly Regina Carvalho, aquela mulher extrovertida e falante, que na viagem a Manila morria de saudades da filha Raq18 anos, ser de grande valor aos jovens casais. bom que eles saibam que, na separao o processo de desenvolvimento da intimidade tem de eha a r. Cuidados preventivos levados a srio podem impedir tamanha catstrofe.

    Elben M. Le

    Viosa (MG), maro

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    INTRODUO

    Parece que finalmente chegou a hora de ajeitar este livro. Venho escrevendo sobre o tema h muitos anos, mas sempre em artigos curtos, quase todo

    a Casal Feliz, da JUMOC Junta de Mocidade da Conveno Batista Brasileira. Certa vez, juntamos os artigos e publicamos em conjunto logo se

    eito em espanhol. Agora juntamos tudo novamente, organizamos, reescrevemos algumas partes, adicionamos novos materiais e oferecemos a vocs, lei

    lho que possa auxili-los a entender o processo de separao e divrcio e a ajudar os que passam por isso.

    De quebra, estamos incluindo tambm uma parte sobre novo casamento e famlias reorganizadas. E, j que todo mundo sempre pergunta, resolvi contar

    mo eu voltei a me casar, porque isso merecia realmente um livro.No apndice, Walter Callison apresenta uma exegese bblica sobre o divrcio, a lei e Jesus, com o propsito de reconsiderarmos a atitude da igreja em r

    casamento.

    Escrever de uma maneira franca, crist e prudente sobre este tema no fcil. Atravs dos anos recebi muita crtica e imagino que sempre haver q

    orde com o que estou compartilhando aqui. Por outro lado, espero que as pessoas que viveram e vivem essas situaes possam se ver nas pginas dest

    o aberto e rasgado. E que, com o tempo e a graa de Deus, possam sarar e ser teis no seu reino.

    Esly Regina

    Quito, Equador, janeiro

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    1.

    SOLTEIRA OUTRA VEZA minha histria

    Escrever sobre este assunto anos depois do meu divrcio deu-me a singular oportunidade de refletir sobre algumas das experincias por que passei no caridade, pelo qual Deus me conduziu. Foi um processo relativamente simples, mas decididamente nada fcil. Agora posso dizer, honestamente, que a vida ds inesperadas, mas podemos aprender a enfrentar estas surpresas como algo que nos faz crescer e, no, como algo que nos pode arrasar completamente.

    rda

    Quando minha filha completou dois anos, meu casamento j vinha enfrentando graves problemas. Menos de um ano depois, havia acabado.oi uma poca horrvel na minha vida, um tempo de muitas perdas. Nunca havia parado para pensar em quanta coisa se perde com um divrcio, at que a

    earam a chegar. Perdi meu estado civil, meu marido (bvio), sua filha de seu primeiro casamento, que tinha vindo morar conosco depois que a nossa filhaa poca ela tinha 12 anos e tornara-se uma pessoa muito significativa na minha vida. Tivemos de deixar a casa onde morvamos, a vizinhana e aqueleinham andado conosco de tantas formas diferentes. Um ms depois que ele foi embora, descobri que estava grvida. Com esta descoberta, vieram um

    ntneo e todos os sentimentos conflitivos relacionados com tal experincia. Recusei-me a pensar em um aborto provocado e perdi o beb antes mear a me acostumar com a ideia da gravidez. Mesmo assim, ca num pranto quando vi minha melhor amiga usando as roupas de gravidez que eu lhe tis antes At o cachorro morreu. Foi um tempo de morte um tempo para morrer.

    Eclesiastes fala de um tempo para viver e um tempo para morrer. Sem dvida, este foi o meu tempo de morte. Muitas coisas morreram, mas muito mao de mim. Quando deixei o hospital depois do aborto, compreendi que o amor que eu tivera para com meu marido morrera com o beb. Mortas tambmas esperanas de uma reconciliao. Eu no queria mais que o casamento se recuperasse e me preparei para enfrentar a vida s.e houve um sentimento que me descrevia nessa poca era ambivalncia: um sentimento que eu tinha em relao a mim mesma, a meu esposo, a meus a igreja e, at mesmo, a Deus.

    Naquela poca, eu no tinha certeza se algum dia iria me sentir bem com a ideia de ser uma mulher divorciada. No se tratava de um papel que euo de aprender e ia contra muito do que eu queria para mim, do que eu esperava da vida. Mas tive de admitir que, querendo ou no, a separao havia ficar. Por outro lado, a separao tinha tambm algo de muito positivo, pois proporcionava alvio. Nos ltimos meses do casamento, eu tinha vivido c

    o, que sua ausncia melhorava muito minha qualidade de vida. Era um alvio frgil, como uma pausa, mas eu via que talvez um dia pudesse se tornar manente, em vez de uma trgua temporria.Os meus sentimentos em relao ao meu marido tambm eram ambivalentes. Como podia odiar e temer a uma pessoa por quem havia sentido tanto amometido cuidar dele por toda a minha vida! Tive uma filha com este homem (uma experincia to especial!) e agora ela tambm havia se tornado ponto de d

    o podia ter tanta raiva dele? Mas eu sabia que ele ainda era muito importante para mim. Meus amigos bem intencionados s vezes me gozavam, dizendo amava. No comeo, eu negava veementemente. Com o tempo, resolvi assumir que era muito difcil arrancar, assim de golpe, algum que havia

    rtante na minha vida. Compreendi que o divrcio significava inverter a direo da intimidade: quando nos casamos, trabalhamos duro para desenvolveidade. Com a separao, eu teria de me esforar para fazer dele um estranho outra vez.

    Tambm senti ambivalncia em relao aos meus amigos e minha igreja. Eu sabia que precisava muito deles, mas tambm me dava conta de que tinha dejeio para ganhar seu apoio.ui abenoada por pessoas muito especiais nessa poca. Uma senhora crist orava comigo todos os dias durante as difceis semanas que enfrentei depoiEla recebe da minha parte uma eterna gratido por me ter ouvido e por suas oraes. Tenho certeza que deve ter se cansado muitas vezes de ouvir nha, mas aguentou firme e me apoiou muito durante o perodo em que precisei dela.Outros tambm ajudaram. Um pastor me chamava a cada duas semanas e deixava um recadinho na secretria eletrnica. Queria simplesmente que eu

    ele estava pensando em mim e que, se eu precisasse, era s cham-lo. Lembro-me disto at hoje com gratido.Uma pequena igreja me aceitou sem me fazer perguntas indiscretas. Eu sabia que podia contar com eles e eles oravam por mim. O divrcio no mudou nante. Agora me dou conta de que foi outra bno.As perdas haviam sido tremendas. No era toa que sentia que a minha energia andava a zero. Compreendi que estava trabalhando essas perdas. Muitme permitia chorar quando parecia que no ia dar conta do recado. No resolvia nada, mas eu me sentia melhor depois. Anos mais tarde, quando co

    lhar na Amrica Latina, treinando facilitadores em recuperao emocional diante de grandes catstrofes naturais (terremotos, guerras, inundaes etc.) ais, percebi que Deus havia guiado os meus passos no meu prprio processo. Intuitivamente (ou foi o Esprito Santo?) eu me tinha permitido sentir a i

    minhas perdas e fazer meu luto. No acontecem enterros para os divrcios nem h outras maneiras socialmente aceitas de elaborar essa perda. Ao conoas cochicham s escondidas, como se houvesse algo vergonhoso no fato de outros se divorciarem. Chorar parte do processo de recuperao. Pes pacientes que no choravam suas perdas demoravam muito mais tempo para se recuperar. Muitas vezes, era necessrio encoraj-los para que chorassemAinda tinha muito medo da rejeio. No me envolvia com programas da igreja, ia a poucas reunies, falava pouco, pensando que talvez assim pudesercebida e, quem sabe, ser aceita.Mais que tudo, eu estava muito ambivalente em relao a Deus. Realmente no conseguia compreender como um Deus de amor, harmonia e reconciliaomitir que me acabasse o casamento. Achava que era responsabilidade de Deus manter a unio. Fiquei chateada com Ele um bom tempo e, no entanto, eu speradamente do seu Santo Esprito. Precisava de seu consolo, sabedoria, conforto e esperana. Deus era tudo para mim e em seus braos muitas vez

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    air no sono.Muitas pessoas haviam comentado que Deus as tinha ajudado a atravessar os momentos difceis da vida. Agora era a minha vez de descobrir a veena de Deus. Havia muitas coisas que sentia incapaz de dar conta. Fazer coisas corriqueiras era um esforo terrvel, especialmente em meio a uma depreme largava. Mas encontrei a fidelidade de Deus de uma nova forma. O dinheiro sempre entrava. A carga de pacientes aumentava no consultrio sem esa parte. E tnhamos paz em casa.

    Passei um ano de luto. A vida estava sempre cinzenta. Ri pouco. Meu ex-marido e eu choramos ao telefone, no Natal, quando nos lembramos que o bebascido por aqueles dias.inalmente, um dia a vida comeou a recuperar suas cores.

    valescena

    Parte do processo de recuperao comeou com o luto, mas de uma maneira to vagarosa, que apenas consegui perceb-lo quando tinha terminado um p

    oi uma fase de cura, de vamos dar a volta por cima. Era muito difcil remendar o que estava rasgado, resgatar o que era bom e jogar fora o que no pbm tinha seus altos e baixos, mas coisas boas comearam a surgir da dor. Escutei a minha filha rir pela primeira vez em seis meses, aquela risada gostosae dar conta de quanto tempo fazia que ela no ria dessa maneira. Percebi que a neve de seu inverno tambm estava comeando a derreter.

    Nessa poca, gastei muito tempo pensando, talvez mais ainda conversando. Fiz um pouco de terapia, o que me ajudou. Orava para que Deus me mua a no repetir os mesmos erros. Tomei algumas gratas decises muito significativas, cujas consequncias se fazem notar at o dia de hoje. Decidi quuel ramos famlia: reorganizada, no tradicional, mas famlia. Teramos um lar, no apenas uma casa. Deus seria o cabea da casa, o pai, o marido. Li PrIsaas 54, at que eu conseguisse recit-los de cor.

    Quem que diz que apenas as mulheres casadas so mulheres virtuosas? No acreditava que a virtude se derivava do meu estado civil. Ento tenteiprimeiro livro, mas tive de parar na metade devido s hemorragias internas. Havia sarado o suficiente para comear, mas no o suficiente para terminar.

    Comecei a sair e fazer coisas interessantes. Iniciei meu mestrado. Por saber como sou exigente comigo mesma, me prometi comear, mas consciente dria parar se no conseguisse terminar ou se a minha filha precisasse mais de mim que os livros. Acabou que os livros me faziam companhia nos fins de seassava com o pai. Tambm ajudavam a aliviar a dor do quarto vazio. Ela tinha apenas quatro anos Terminei trs anos depois com uma tese sobre a est

    a.iz novas amizades. Consegui manter algumas das minhas amizades casadas, mas em geral tnhamos horrios diferentes, moravam longe ou estavamns se afastaram de mim, mas a maioria das amizades perdeu o sentido. Outros tinham sido amigos dele para comeo de conversa.

    Descobri que eu tinha uma nova liberdade de ir e vir. Alguns dias me sentia mais casada que solteira. Por exemplo, quando tinha a minha filha comsava de algum que cuidasse dela e eu no tinha com quem deix-la depois da escola para continuar trabalhando. Mas, em outros momentos, sentia-mevez. Nunca havia imaginado que a solido pudesse me fazer uma companhia agradvel. Estar s no significava solido necessariamente. Foi um tempoa vida, quando comecei a gostar da minha prpria companhia, mas em doses homeopticas. No conseguia aguent-la todo o tempo. Lia um livro,la msica de que eu gostava, comia quando tinha vontade, preparava meus trabalhos para a universidade ou dormia no meio da tarde (mais e mais de vez menos depresso). Quando cansava de mim mesma, chamava uma amiga e dava uma volta.

    A vida comeou a desabrochar em novas cores.

    em frente

    Tambm comecei a desabrochar em novas cores medida que a vida despontava seu novo visual. Vestia vermelho, e no negro; verde cheguei, e nomorto. A vida comeou a ficar interessante. Cada dia trazia novos desafios, e no simplesmente um novo captulo de sobrevivncia no Manual da Vidaa vida depois do divrcio.

    O mais incrvel foi que me dei conta de que era uma vida joia. Sobreviver no era mais a questo. Talvez porque eu tambm fui me tornando uma pesessante, acabei sendo convidada a fazer coisas que nunca havia feito antes. Vibrava com esses novos desafios e transmitia esse entusiasmo. As pessoasme lanavam novos desafios. Recebi meu primeiro convite para ensinar no exterior em outro idioma. Aceitei e a plateia me aguentou enquanto eu tropenhol. Creio que foram pacientes comigo porque pensavam que eu tinha algo com que contribuir. Anos mais tarde, alguns daqueles estudantes pacientes fmeira associao de psicodrama no Equador.Mandaram-me Nicargua em janeiro de 1989. Meu corao voltou despedaado com a dor da guerra e o estrago do furaco Juana. Chorei com as mm perdido seus filhos defendendo a ptria. Sentia-me reverentemente humilhada pelas oraes que abenoavam a comida que compartiladeiramente foram almoos santos. Essa gente agradecia de verdade a refeio que tinham, sem saber de onde viria a prxima. Apaixonei-me porrafia do meu corao, voc vai encontrar um lugar especial para os nicas.

    ronicamente, descobri que me encontrava especialmente equipada para ensinar a recuperao emocional. Eu sabia que tinha sada, eu tinha vencido aas.Os outros filhos que no tive tornaram-se novos empreendimentos. Reproduzia por meio de livros e artigos que comecei a escrever. No comeo foi is, com mais confiana. Dei luz novas vidas no consultrio. Compreendi que as pessoas melhoravam tambm porque eu acreditava profundamenteriam sair de suas crises. E eu podia crer nisso porque enfim a primavera viera golpear a minha porta.

    No comeo do perodo da convalescena, estava sempre pensando em quando voltaria a me casar. Cada nova pessoa (leia-se: os homens da raa humva na minha vida era olhada como um prncipe encantado em potencial. medida que fui sarando, me dei conta de que isso era pura bobagem. Eu nonder da existncia de uma outra pessoa na minha vida para que ela tivesse sentido. E se o prncipe nunca chegasse? E se eu gastasse a minha vidando passo, esperando Godot? Uma vez que resolvi essa questo, eu tinha a liberdade de fazer amizade com todos. Na verdade, a vida foi se transflgo cada vez mais interessante. Cheguei a duvidar que um relacionamento pudesse enriquecer ainda mais a minha vida. Eu me mantive aberta possibilidadamor (evitando a conhecida armadilha de que todos os homens so iguais e que no se pode confiar em nenhum deles), mas parei de persegui-lo

    de passo.Lembrei-me que Deus me havia chamado ao ministrio da reconciliao quando eu tinha apenas 17 anos. Deus fiel e fez com que esse ministrio se

    ero nestes anos, desde o meu divrcio. A vida nunca tinha sido melhor. Na verdade, nunca poderia ter imaginado que ela pudesse ser to boa sem o caa oportunidade de viajar pela Amrica Latina e aprender um novo idioma. Fiz novos amigos de hbitos e costumes diferentes. Fui levada ao ntimo do co

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    que habita meu continente. Que privilgio! Fui amada, apreciada e reconhecida por causa de meus esforos. Fui tambm criticada e recebi algumas pdescobri que tambm posso aguentar isso. Ainda mais, aprendi a amar os outros de um modo melhor e compreender uma nova dimenso da miseric.

    Agora que a tristeza no nos mantm caladas, minha filha e eu somos mais amigas. No h nenhuma vergonha em ser uma famlia reorganizada. Somorentes. Deus est sempre presente em nossas vidas. Para Ele nos voltamos porque h uma nova relao de confiana. Quando recebemos o convite paquador, a minha filha aceitou o desafio comigo. Por que no? Havamos superado situaes ainda mais difceis que esta juntas.

    Meu relacionamento com Deus se aprofundou. Confio nele num outro nvel. As coisas no precisam sair do jeito que eu quero para que eu mantenha ade com Deus. Comecei a escrever um novo livro, de poemas. Desta vez, sei que serei capaz de conclu-lo.inalmente, percebo que Paulo tinha razo: quando estamos fracos a que somos fortes. Minhas maiores foras e bnos vieram das minhas maiores frastias. Ou, como disse Ernest Hemmingway: a vida nos rompe a todos mas alguns se tornam fortes nos seus lugares quebrados. Deus me fortaleceu nes quebrados.

    ado originalmente emSingle Women: Affirming our Spiritual Journeys (EUA: Bergin & Garvey, 1993).

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    2.

    SEPARAO E DIVRCIO

    H alguns anos assisti a uma srie de conferncias em Quito, Equador, ministradas pelo Dr. Jorge Maldonado sobre o ciclo vital da famlia. mediderencista desenvolvia o tema, percebi que era necessrio incluir tambm uma situao que atualmente afeta nossas famlias, crists ou no. Refiro-me sevrcio. Gostaria de compartilhar algumas ideias sobre as tarefas, os conflitos e a teraputica desse processo.

    Creio que a separao um aborto: interrompe o processo natural do desenvolvimento da vida familiar. A separao implica uma srie de perdas imedisam ser elaboradas, e alguns benefcios, a mdio e longo prazo. Existe uma srie de tarefas emocionais no ciclo vital do casal que se separa. Analisemo.

    Elaborao das perdas. Em primeiro lugar, a famlia perde a convivncia constante de todos os seus membros. s vezes, essa perda pode significar um em muitos casos a convivncia havia se tornado insuportvel. Mas, mesmo na pior das situaes, perde-se aquilo e aqueles com quem se estava acostummudana bsica na convivncia. H explicaes a dar, principalmente aos filhos: Por que meu pai no mora mais aqui? Como que vocs pararam de

    ndo que ele vai voltar? Por que no podem ficar juntos? Por que minha me no quer mais viver com voc? E assim por diante. Perguntas justificcem respostas honestas e srias, mas muito difceis porque, muitas vezes, at a prpria pessoa no tem as respostas.

    No s os filhos perdem a convivncia com um dos pais, mas um cnjuge perde a convivncia com o outro. Bem ou mal, trata-se de uma perda. As p

    m para ficar juntas e a separao pe fim a esse projeto de vida. Esperava-se compartilhar a vida, ter com quem contar nas horas difceis, ter a quem recias e nas tristezas, ter filhos e envelhecer juntos. Esse sonho acaba.Muitas outras coisas acabam comum ter que mudar de casa, o nvel socioeconmico cai, os salrios que sustentavam uma famlia agora devem suste, a me tem de sair para trabalhar, se j no o fazia. Os filhos perdem a convivncia dos dois. A me, que trabalha fora e passa 8 horas no trabalh

    ada e tem de resolver mil (pelo menos mil!) problemas. Antes algumas tarefas eram divididas; agora existe um s para fazer tudo, resolver tudo, olhar tudoir com quem no est presente.

    O casal que se separa perde seu estado civil. Isso parece bvio, mas suas consequncias so mais sutis. Espera-se que o homem caia na gandaia. Se a mica malfalada. Agora ela desquitada, divorciada, e perdeu, de certa forma, a proteo do casamento que seu estado civil lhe concedia. Afinal, umarada (liberada para qu?!).

    Parece que se perde o uso dos nomes prprios dos cnjuges: o marido vira o pai das crianas, e a esposa se torna a me dos meninos, como izar que a ligao entre um e outro no mais o amor, mas, sim, os filhos. No fossem os filhos jamais se veria a quem se jurou eterno amor.

    Reorganizao. A comea a segunda tarefa nesta etapa da vida: a de se reorganizar como pessoa e como famlia. preciso reorganizar os horrios, o dinheiro, o tempo. Que fazer ao entrar em casa e no ter ningum esperando? Como ter pacincia para contar os dias

    hos? Como fazer o fim de semana passar se no h crianas para preench-lo? Como lidar com o convite para sair? E se ele der uma cantada? E se eu na cama com ela?

    Este um perodo para perguntas sem respostas fceis. Parece at que se voltou aos 5 anos de idade. A sobrevivncia volta a ser a questo principal. Cer de depresso em meio a tudo isso?

    O tempo um grande aliado. Aos poucos surge a oportunidade de se conhecer de uma nova forma. Sozinha, a pessoa descobre seu prprio tamanho. Hobertas a serem feitas: sua prpria companhia pode ser boa, gostosa. Voltar a ter um tempo s para si: ouvir aquela msica, ler aquele livro, fazer umerado, meditar e refletir sobre as questes corriqueiras e existenciais da vida, descobrir que estar sozinho no uma maldio ou castigo. Poder ser umo, se bem aproveitado.

    O segundo aspecto a ser reorganizado o afetivo. Namorar ou no namorar? Como? Quando? So questes difceis e delicadas, mas h grande emoz de amar de novo (esse dia chega sim!), de sentir aquelas coisas de adolescente, de poder ver passarinho verde. Lidar com isso tudo e os filhos plicado ou mais simples do que se esperava. difcil prever, mas uma tarefa necessria.O terceiro aspecto da reorganizao diz respeito relao com os filhos. Como vai ser sua relao com eles daqui para frente? No se iluda, ningum

    e pai, mesmo que acumule as tarefas de um e de outro. A me que faz coisas de pai continua sendo me. Qual a relao que voc quer ter com seua relao que lhe ser possvel manter?Os filhos precisam entender que eles no so culpados pela separao. muito fcil s crianas tomarem para si esta culpa por conexes mentais xulas. preciso que eles ouam claramente que a separao do casal, uma deciso de adultos, tomada por adultos e que eles tambm vo ter deequncias dessa deciso.Muitas dessas questes trazem conflitos enormes, o que normal. Se estivermos conscientes do tamanho e do nvel de ambivalncia e conflitos preses, poderemos lidar com esses conflitos de uma forma mais saudvel.

    Uma ambivalncia tremendamente ignorada entre os prprios casais a relao amor/raiva. Como compreender a raiva que se sente por algum por quexonado? Como entender o amor que se sente por algum que lhe feriu tanto?Assim como em qualquer situao de perda, perdem-se tambm as coisas boas, mesmo que elas atualmente tenham um peso menor. Houve um tempocoisas boas foram compartilhadas. Parece at que se a pessoa admitir isso na hora da separao ela est traindo sua deciso ou admitindo que ainda amarelao de tanto tempo no acaba em um dia. O avesso do amor no o dio ou a raiva a indiferena. Leva muito tempo para se chegar ao ponto e

    ou as aes do outro no mexem mais com os sentimentos. Isso normal.

    A separao a inverso de um movimento. Casa-se para estar mais prximo do outro, ter uma intimidade maior, estar junto mais tempo. A separamovimento: agora h um afastamento, um distanciar do outro, uma perda da intimidade. Da mesma forma que levou tempo e esforo para forjar a intim

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    so tempo e esforo para perd-la.H um mecanismo de defesa que muitas vezes entra em ao nessas situaes. Existe uma tendncia a denegrir a imagem do outro como uma forma de ocesso de perda. Convenhamos, muito mais fcil perder o que no presta, o que no era bom, do que admitir o tamanho real da perda. Coisas boas tamem.

    Um segundo conflito diz respeito ambivalncia dos filhos em relao aos pais. Afinal, os pais deveriam estar suprindo e fornecendo apoio, carinho, tranqrana e um bom modelo de casamento para o bom desenvolvimento dos filhos. No entanto, tornam-se a fonte de um grande sofrimento. Ao mesmo tempohos percebem que precisam dos pais, pois o cuidado paterno e materno ainda muito importante, sentem uma raiva incrvel, mgoas e ressentimentos ais. Por que os filhos tm que pagar pelas dificuldades dos pais? So perguntas nem sempre verbalizadas. Em geral, passam apenas pelos sentimentos. m passar a viver como se houvesse uma grande traio em que seus pais so culpados por trarem sua confiana.

    Desses conflitos e desapontamentos, facilmente se passa a padres disfuncionais de comportamento.Fazer aliana com um dos pais. Quer essa proposta venha de um dos pais, quer venha do prprio filho, todos saem perdendo. Quando termina uma renjuges no est completamente certo e o outro completamente errado, ainda que grande esforo seja feito para comprovar isso. Um deles pode ter des

    o, no quer mais investir nela. Falta aos filhos objetividade para fazer qualquer tipo de avaliao. medida que os pais apresentam mensagens do tipo com ele, est dizendo que no me ama colocam os filhos em uma situao terrvel. claro que os filhos amam os pais. No pararam de amar nenhumente porque eles resolveram se separar. Os filhos querem ser leais para com os dois, mas percebem que os dois se puseram em campos opostos. Difcil mdo veem que, ao agradar um, desagradam ao outro. s vezes mais fcil optar por uma convivncia com apenas um dos dois como um meio de daste constante. Mas, em geral, os filhos que perdem a convivncia com um dos pais por essa razo, mais tarde acabam se arrependendo.eparao no guerra armada, ou pelo menos no deveria ser. No h partidos a serem tomados. Os pais que esto empreendendo a separao, no para os filhos a tarefa de suportar as consequncias das decises de seus pais.

    Usar os filhos contra o cnjuge. Como os filhos so muito importantes para os dois, privar um cnjuge de seus filhos uma arma poderosa. Infelizmequem sai perdendo so os prprios filhos medida que percebem que esto sendo usados por um (ou pelos dois) como se fossem peas de um imensez. Filho gente, tem sentimentos e vontade prpria que precisam ser respeitados. No use seu filho como uma arma!Casar-se rapidamente logo depois da separao. Em geral, h muito prejuzo para todos nessa opo. O cnjuge no tem tempo para elaborar sua peo anterior. Um outro aspecto desta armadilha a tentativa de pr um fim a um sofrimento to grande, usando-se um novo amor para consegui-lo. mento precisa primeiro ser vivido, no evitado. Se no for bem digerido, ele aparece depois de forma muito mais prejudicial.Outros se casam para no cair na prostituio ou vida livre. comum ter muitas dvidas e dificuldades em relao sua sexualidade, principalmente dseparao. Quantas vezes surgem as perguntas: No foi o fator sexual uma das causas da prpria separao? Ser que no fui homem suficiente para

    no sou boa de cama e por isso no consegui prend-lo? comum tambm que, depois de uma separao, as pessoas tenham algumas experincias sexuais com outros parceiros at como uma forma de anular

    creio que essa seja uma soluo bblica e muitas vezes ela traz consequncias dolorosas. Ter algumas experincias sexuais com essas motivaes nssariamente que a pessoa esteja entrando numa vida dissoluta. s vezes, uma tentativa de se equilibrar e viver algo novo em meio a muita dificuldaportamento at a prostituio h um bom pedao de cho. No entanto, alguns se casam rapidamente como uma forma de frear essa tendncia, que ema em pouco tempo. Dizem que melhor casar do que viver abrasado e se casam na primeira oportunidade de pr fim a seu abrasamento. Pouco endem. Essa jamais foi uma boa motivao para o casamento feliz. O fogo passa e o casamento se desfaz.

    Ter uma vida sexual livre. Liberar-se sexualmente como forma de se proteger de relacionamentos mais ntimos ou duradouros pode se tornar uma arce paradoxal que uma relao sexual tida como a forma mais ntima de comunicao de um casal possa ser considerada justamente o oposto. Mas eo isso acontece. comum que as pessoas se procurem para um programa. Conversam, se divertem, vo para a cama e no outro dia repetem o me

    s pessoas. Desta forma, o sexo acaba por impedir o desenvolvimento de relacionamentos mais prximos, mais ntimos, relacionamentos de ampartilhamento, que poderiam levar a uma relao mais duradoura, um outro casamento Esse compromisso o que a pessoa mais teme. Inconscienteoa arma uma forma de no se vincular a mais ningum para no sofrer de novo o que passou na separao. Assim, jamais ser ferida. Tampouco ser feliVejamos agora alguns delineamentos teraputicos e profilticos para a questo. claro que a grande vantagem teraputica relativa ao divrcio o fortalecimento dos laos conjugais de forma a evitar separaes. O ministrio de Einvolvido todo um programa de enriquecimento matrimonial que visa justamente isto: ajudar os casais a serem mais felizes e saudveis nas suas relaes uns e, consequentemente, com seus filhos. No entanto, nem sempre possvel evitar a separao.

    O que fazer nesse caso?Uma das primeiras sugestes viver intensamente tudo o que estiver ligado experincia de separao. A Bblia fala que no devemos estranhar o sofrimrio, devemos nos regozijar nele (1 Pe 4.12-13). Moffat, na sua verso, diz que devemos abraar o sofrimento j que ele desenvolve nosso carter. Ql! Mas sbia! Somente indo fundo na nossa dor possvel esgot-la e cicatrizar as marcas que ela nos deixa. Leva tempo e requer coragem, mas o came.D tempo ao tempo. H poucas situaes em que o tempo realmente ajuda a melhorar. Dar tempo ao processo de luto uma delas. No exija de si mesm

    voc ainda no est pronto para enfrentar. s vezes, passam alguns meses e os amigos e familiares comeam a pensar que j hora de deixar isso pra lpor cima. Mas a recuperao emocional de um divrcio leva anos, uma mdia de um a dois anos pelo menos. Tenha pacincia com voc mesmo. Haores e dias piores, mas, com o tempo, aqueles sero mais numerosos que estes.

    No se assuste com a recada. Algumas vezes, depois de um tempo bom, voltam lembranas, desejos, recordaes. Isso tambm normal. No preindo a fossa. Permita-se um tempinho para viver o que est aparecendo e tranquilize-se. Isso passa logo.inalmente, a separao pode ser uma experincia de crescimento. No das formas mais agradveis de amadurecer. A separao, uma vez que j do um fato na vida de uma pessoa, pode ser utilizada como um meio de crescimento e sade, no de tormenta e patologia. Por isso, importante que nessa poca. Sofrer no o fim do mundo, mesmo que possa parecer assim. Jesus aprendeu a obedincia pelas coisas que sofreu (Hb 5.8). E Ele mesmoneste mundo passaramos por aflies (Jo 5.8). Ter uma perspectiva de crescimento, de aproveitar o que h de bom nessas experincias e uma viso dom desenvolver em seu carter melhor do que revoltar-se e rebelar-se contra algo razoavelmente inevitvel. Todos sofrem de uma forma ou de outra. P

    rao pode ser a grande crise que nos faz crescer em uma nova direo, abrindo novos horizontes e nos possibilitando novas conquistas de vida.

    ado originalmente na srie Separao e divrcio, pelo Conselho Latino-americano de Igrejas (1992).

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    3.

    ADOR DO DIVRCIO

    Davi respondeu: Muito bem. Eu farei um acordo com voc, porm com uma condio: quando vier falar comigo, voc vai me trazer Mical,e Saul. Ento Davi mandou alguns mensageiros dizerem a Isbosete: Entregue-me a minha esposa Mical. Eu paguei cem prepcios de filisteus

    ter o direito de me casar com ela. Ento Isbosete mandou tir-la de seu marido Paltiel, filho de Las. Paltiel seguiu-a chorando pelo caminho,

    chegarem cidade de Baurim. A Abner ordenou: Volte para casa. E ele voltou. (2 Sm 3.13-16, BLH.)

    Um dos fatores mais bvios e mais difceis de digerir sobre a separao que ela di. Di e di muito. Di tanto que muitas vezes se tenta esquivar de senprovoca. No se iluda: no h separao indolor, como fica claro na passagem acima em que Paltiel perdeu sua esposa.A dor da separao realmente imensa. Parece at que nunca acabar, que jamais ser possvel acordar um dia de manh e ouvir os pssaros cantandozul. Isso normal. Leva meses, s vezes anos, para que uma pessoa se refaa de uma perda to grande. uma das maiores perdas na vida. A separao

    m dos projetos de vida mais importantes: o casamento. Essa perda vem acompanhada de um sentimento de derrota, pois, bem ou mal, um projetoizado fracassou.

    No importa quem quis a separao ou se a deciso foi de comum acordo. Mesmo assim di muito. Aprender a conviver com algum leva tempo. Assimtempo para deixar de amar a pessoa com quem essa convivncia ficou estabelecida. Sentir mgoa, dor, ressentimento em relao ao cnjuge que se foi sensibilidade sinal de amor? No sei, mas impossvel se tornar imediatamente indiferente ao parceiro a quem se jurou eterno amor e com quem seA indiferena, como sinal de que tudo se resolveu, leva tempo, leva anos para se obter. No entanto, a dor no precisa ser eterna.

    Evitar sentir dor a pior atitude. Em primeiro lugar impossvel porque, se a pessoa no experimentar os sentimentos negativos, eles se manifestaro as bem menos saudveis. H um perodo em que preciso mergulhar na dor, chorar as perdas, permitir-se um tempo de luto. preciso que as pesam os que sofrem tais situaes tambm percebam essa necessidade e permitam que eles chorem suas perdas. Quando o parceiro morre, a socie

    mite um enterro, um luto. Quando o cnjuge se separa, preciso chorar, fazer um enterro, porque de certa forma um est morrendo para o outro.Uma relao conjugal est morrendo. Ainda que o outro seja um dos pais de seus filhos at que a morte os separe, a relao ntima que se teve com osa ser desfeita. De prximo mais prximo, o outro precisa se tornar um estranho, com quem no se compartilha mais o cotidiano. Quando muito, ser nsobre algum problema relativo aos filhos.

    Console-se. Di por um tempo. Um dia para de doer. O luto bem feito no deixa sequelas patolgicas. Deixa maturidade, sabedoria e compaixo pel.

    Quem passa pela dor da perda pela primeira vez no acredita nestas palavras. No importa. So verdadeiras. H de chegar o dia em que ser possvel falauge sem tremer, sem chorar, sem sentir raiva ou dor. Quem mergulha na dor da separao sai dela mais fortalecido, mais sbio. Sabe que pode sofrer, qata, mas no mata.

    A dor bem vivida traz seus ganhos e benefcios. O grande perigo neg-la. Negar-se a sofrer a dor, evitar chorar, ser forte, duro ou durona svitar contato com a dor. J que ela se esgota um dia, por que no viv-la? O sofrimento mal resolvido traz somatizaes, crises secundrias, depresses pras coisas mais. Pior, dura muito mais tempo e ser necessrio uma ajuda profissional para sair dela. No h vergonha em sofrer. Muitos pais evitam chous filhos. Mas, se o fizessem, dariam permisso aos filhos para tambm chorarem suas perdas. Os filhos esto sofrendo e o exemplo dos pais dir muito ibilidade de eles poderem trabalhar o seu luto.

    O mais importante em todo esse processo lembrar que Deus tambm nos consola. Ele o Pai das misericrdias e do consolo. Lembre-se de busc-loncontro. Ele sempre espera voc de braos abertos.

    ndo a dor intensa

    . Permita-se viver sua dor. Ela vai se esgotar um dia.

    . Reflita bem sobre o que est acontecendo com voc. Pense. Se puder participar de algum grupo de compartilhamento da sua igreja, faa-o. Um grupo r lhe dar suporte, consolo, compreenso e companhia. Se no existirem tais grupos em sua comunidade, pense em organiz-los. H muitas pessoas sofre acolheriam correndo a possibilidade de receber ajuda.. Pense na possibilidade de fazer psicoterapia ou aconselhamento com algum de confiana. A psicoterapia, alm de prover alento, facilita a compreeesso. Poder ajud-lo a entender como voc entrou nessa, e mais importante, como no repetir a dose!. No se afaste da igreja, ou pelo menos, de irmos queridos. Eles podem ajud-lo nessa fase difcil. H pessoas dispostas a emprestar seus ouvidouma pessoa que possa andar junto com voc nessa etapa, que ande verdadeiramente a segunda milha. O pastor costuma ser bastante ocupado e nemlhe dar a assistncia prxima da qual voc precisa. Mas h outros irmos e irms que podero faz-lo, se souberem que voc est passando

    mento.

    mpanhando quem est se separando

    . Oua. Quando voc tiver terminado de ouvir, oua mais um pouco. muito importante ouvir.

    . Oua sem fazer juzo de valor. No busque descobrir quem est certo ou errado. Toda separao tem dois lados. No entre no mrito da questo. N

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    ver se a separao deveria ou no acontecer. Isso um problema deles. Quem est sofrendo precisa mais de um ombro amigo que de um conselho.. Lembre-se de que pessoas em situaes de separao s vezes podem se tornar cansativas. S sabem falar sobre o divrcio. Tente distrair a pessoa naossvel. Convide-a para visitar sua casa. Adote-a. No force a barra. Saia com seus filhos para que fique a ss um pouco, se esse for o desejo dela. Co almoo de domingo. Convide para passar o Natal ou outras datas significativas. Permita que a pessoa lhe diga no, mas que saiba que bem-vinenvolvimento d muito trabalho, mas o preo da segunda milha.

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    4.

    AVIDA CONTINUA

    imada amiga:

    o, voc quer saber se a vida continua depois de um divrcio?

    e, estes dias tm sido dias de luto para mim. Na semana passada recebi um telefonema do Brasormando sobre a morte de trs pastores em um acidente automobilstico. Um deles era meu tio,to querido; o outro era um pastor missionrio que tinha consagrado a minha filha quando elaceu; o terceiro era um bom amigo de minha me. Uma quarta pessoa se atrasara e, portanto, hado sem ela. Chorava copiosamente no enterro.

    sei os ltimos dias pensando na minha tia e nas outras duas vivas que ficaram. Faz um ano qho acompanhando trs vivos aqui em Quito, pessoas que esto passando pelo processo difcil uperao emocional. Claro que tudo isso me faz lembrar da minha separao. Quem sabe, alm dar lhe escrevendo, eu esteja tambm escrevendo para a minha tia, para os vivos e vivas, a compartilhar com eles um pouco do que penso que o futuro trar.

    vida continua? voc me pergunta., mas, s vezes, quem sabe preferssemos o seu fim. A dor da separao por morte ou divrciogrande que chegamos a nos questionar se vamos sobreviver a tanto sofrimento. Nos primeiros

    entos, durante os primeiros dias e semanas, nem temos vontade de continuar vivendo. Muitos stem assim. Pensam que seria melhor morrer para evitar a dor. Por algum tempo, at o levantarmanh parece um pesadelo porque nos obriga a enfrentar a realidade. Essa depresso dura um cpo.

    tos no aguentam nos ver sofrer e querem que a depresso passe logo. Como consequncia, tentconsolar com palavras vs. O carinho dos amigos e familiares sempre bem-vindo, mas a falt

    misso para sofrer incomoda muito. Agora, preciso chorar, sofrer, se entregar dor, esquea coisa de ser forte. Voc est vivendo a perda de um grande amor, de um sonho que no secretizou ou, quem sabe, de um inferno que acabou. preciso chorar e chorar at que as lgriesgotem.

    o tempo isso melhora. Quando temos bons amigos que nos acompanham durante esse perodo ficail. Um bom amigo aquele que nos deixa falar sobre a morte do amado ou sobre o casamento qubou. Falar cura. H poucos dias um rapaz comentou sobre a atitude de seus amigos durante oversrio da morte de sua me: Parece que minha conversa sobre a minha me os incomoda! Nosigo entender, ela morreu, est certo, mas no quero me esquecer dela. Ela me deixou muitassas boas. Tomamos caf juntos e ele me contou muito sobre sua me. O que ficou dela agora sbranas.

    e de uma coisa, amiga? No comeo, a lembrana di muito. Ontem, fui procurar um trabalho queha guardado na minha caixa de coisas e tropecei em alguns artigos escritos por meu tio. Quanconta, lgrimas corriam pelo meu rosto. Foi assim quando me separei. Tropeava nas coisas q

    iam lembrar dele. Parecia que essas coisas me diziam: Veja, ele no vai voltar, a separaoinitiva. Mesmo que eu nunca tenha desejado a reconciliao, doa-me saber que aquele projeta tinha sido frustrado. Aqueles que perderam seus cnjuges pela morte devem sofrer muito mai

    , a vida continua. Um dia, ao amanhecer, nem tudo estar cinzento. Chegar o dia em que a matar a ter cores. E a viro outros sentimentos: ser que posso ser feliz depois de tudo issdireito tenho de ser feliz agora que meu cnjuge morreu? Como posso ser feliz se fracassei?

    timento de culpa muito sagaz e sutil, parece at uma serpente. Esse sentimento de culpa, dpa falsa, serve para sabotar a frgil felicidade que comea a brotar em alguns momentos.

    so que o tempo de luto um tempo nosso. Um vivo entregou seu cargo de chefia depois de tquinze anos porque no queria a responsabilidade de resolver os problemas do escritrio dep

    morte da esposa. Ele precisava de um tempo para si mesmo. Um ano depois, a energia comeou atar. Observou o luto e, portanto, foi sbio. Soube respeitar seus limites. Mais tarde, contohouve dias em que, s 3 horas da tarde, ia para casa chorar, ficar sozinho. Foi seu tempo d

    valescena emocional.

    a o que voc d conta de fazer. No exija demais de voc mesma. H coisas que temos de fazeranas tm de ser alimentadas, a roupa tem de ser lavada, o salrio tem de ser ganho honestam

    erdade, mas procure fazer o mnimo por um tempo. Convalescer exige muita energia e por issmdicos nos obrigam a descansar quando quebramos a perna. Precisamos de repouso ainda mais qcorao que est se recuperando!

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    deixe que as pessoas pressionem voc! Muita gente pensa que, como j passaram trs meses, oblema foi resolvido. Com base na minha prpria experincia, posso afirmar: elaborar o luto ltante tempo. Lembro-me das queixas das divorciadas e vivas no meu escritrio. Diziam que os gos no as entendiam. Na verdade, no caso das divorciadas, apenas trs meses depois quelmente estavam comeando a acreditar que o cnjuge no voltaria. Parece que, no incio do lusamos que a pessoa est viajando. Inconscientemente, esperamos que volte. Somente com o temprealmente acreditamos que no vai mesmo voltar, e ento comea outra etapa da recuperao

    cional.

    se frustre com as recadas. So normais. Seis anos depois que me separei, passei um diaervel ao me lembrar que aquele teria sido meu aniversrio de casamento. No dia seguinte, java normal outra vez. O corao sara, mas a cicatriz fica.

    os o privilgio de voltar a ser feliz. Quem sabe ser uma felicidade diferente, acredito queida porque a mo de Deus nos sustentou com o seu consolo. Quantas vezes tive de ir para o co

    hor e pedir o seu abrao? Mas, como sarar se no for assim? Como Paulo, carregamos no corpo gas do sofrimento, o conhecimento calado e a lembrana de quem perdemos. Chega o dia em queemos acordar sem chorar. Um dia nos recuperamos.

    anos depois de se tornar viva, minha av me contou que cumprimentava a foto do meu av tods. A diferena que agora podia faz-lo sem chorar e sem tristeza, confiante de que um dia ncontr-lo. Naquele momento, porm, a vida continuava.

    aos, minha amiga. A vida continua

    y

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    5.

    E QUANDO PINTA A SAUDADE?

    No se preocupe, assim mesmo. Sentir saudades demonstra simplesmente que voc normal.Um casamento feito de muitas coisas, de muitas emoes. Existe o amor, a amizade, a intimidade, e mais um milho de outros sentimentos. Quando deasamento aparece mais meio milho de sentimentos. Estes so mais complexos, mais complicados, quem sabe. No temos apenas um sentimento. Em rimentamos apenas coisas ruins na relao. As boas experincias no desaparecem somente porque nos separamos ou porque os fatores negativos se soositivos. Mesmo reconhecendo que aquela unio difcil, na qual no era possvel manter uma boa relao conjugal, acabou, precisamos admitir que houvea coisa boa. Afinal, casamo-nos porque acreditvamos que valia a pena tentar viver juntos.A saudade aparece porque uma relao ntima no se desfaz em vinte e quatro horas. Como j disse, creio que a separao tem o movimento inidade. Quando nos casamos, crescemos juntos, procuramos crescer na mesma direo, no mesmo rumo. Aprendemos a conviver. Ele no gosta de pimda, ela odeia a toalha molhada em cima da cama. s vezes, chegamos a nos conhecer tanto, que s pelo som do passo j sabemos se o outro est de boo. Compartilhamos experincias marcantes: os filhos que nascem da relao; dividimos a emoo de ver uma vida sair das nossas entranhas e surgir do nada. s vezes, morrem parentes nossos e choramos no ombro um do outro. Outras vezes, o filho que adoece gravemente tambm nessa hora

    uge que aguenta o tranco conosco. Enfim, experincias difceis nos unem porque juntos passamos por elas e juntos sobrevivemos.

    Quando optamos pela separao, o processo de desenvolvimento da intimidade tem de entrar em marcha a r. Isto , nosso ntimo mais ntimo tem denho. E esse processo leva tempo, s vezes, anos.A saudade sinal de amor? No sei. H muitos outros sentimentos envolvidos na experincia da saudade. A Bblia nos fala que, quando casamos, nos ts carne. O divrcio significa rasgar essa carne nica dois pedaos. Havia uma ligao ntima, de unidade, que est se desfazendo, se desmanchando

    nder melhor por que a separao di?H um outro aspecto. Certa vez, ouvi um colega fazer um comentrio que resume de forma brilhante algo que j tinha observado ao trabalhar com meus nca subestime a fora do conhecido. incrvel o que continuamos a fazer e a sentir simplesmente porque conhecido. Sentimos saudades das formas cover. Sabemos o que se espera de ns nestas ou naquelas circunstncias. vi esse fenmeno se manifestar em mulheres maltratadas. bvio que elas precisam sair da relao, mas o desconhecido lhes to ameaador, que coasamento simplesmente porque conhecido, familiar; sabem o que esperar, mesmo que seja pancada. Talvez a explicao para a proverbial mndro, que gosta de apanhar, seja esse apego ao conhecido. Ningum gosta de apanhar. O sadismo uma perverso sexual bem diferente do que sianamente a esse fenmeno. Acontece que entra em ao o poder do conhecido e a mulher teme sair da relao por outros motivos: no sabe o que viro se sustentar, tem medo de perder os filhos. Pior aquela me que diz: Ruim com ele, pior sem ele.

    Ento, quando finalmente nos separamos, sentimos saudades do conhecido, do esperado. Realmente, a separao nos impe uma vida cheia de novos bons, outros difceis e ainda outros inesperados. Isso normal. normal ter medo do desconhecido e de no conseguir dar conta do recado. Enfrentamos desde que samos do tero. Buscamos um den onde possamos descansar e viver eternamente. Lamento dizer que esse desejo no ser realizado nestEnfim, no se desespere. Se a deciso pelo divrcio a que vale, mande o corao aguentar as pontas por algum tempo. Vai passando. D tempo aoade no significa necessariamente que voc ainda ama a outra pessoa. s vezes, sinal de que voc ainda est ligado quelas coisas conhecidas daado ao desejo de viver aquilo com que voc estava acostumado. Se compreender que se trata desse apego ao conhecido, talvez seja mais fcil lidade. Ela vai embora se no for alimentada. E no se assuste com as recadas. A recuperao um processo, e no um evento estanque em sua vida.Nem sempre os nossos sentimentos acompanham as nossas decises. s vezes, decidimos algo porque temos convico de que a melhor soluo, m

    uma amiga nordestina, o corao um bicho besta, que nem sempre colabora imediatamente com o nosso racional. Leva tempo para que morra um s, crucificamos esse amor com o divrcio, mas ele se demora agonizando at que, finalmente, se esvai.

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    6.

    QUANDO MEU FILHO SE DIVORCIA

    Tive apenas um filho, que eu e o pai procuramos criar com todo o carinho. Cresceu como qualquer criana normal e desde pequeno foi levaominicalmente igreja. Educ-lo nas verdades de Deus era fundamental para ns. Estudou, chegou universidade e j nessa poca namorava f

    a moa com quem veio a se casar um ano depois da formatura. A cerimnia, linda, foi realizada pelo mesmo pastor que oficiou meu casament

    veram dois filhos que so a nossa alegria, as crianas mais maravilhosas do mundo! Apesar de algumas crises, considerava o casamento de me

    normal. At que no sexto ano os desentendimentos se agravaram, a relao foi ficando muito desgastante e eles resolveram se separar. Meu filh

    divorciou! E agora, que fao? (Uma me triste e preocupada.)

    A separao um momento muito difcil, tanto para seus filhos quanto para voc que acompanha o processo e sofre suas consequncias. Muitas vezes, hitos envolvendo as crianas, que so seus netos.

    O exemplo bblico que me ocorre vem do livro de Rute e diz respeito personagem de Noemi. Muitas e muitas vezes tenho me perguntado: que sogra era nora (estrangeira!) quis seguir?! Rute deixou famlia, casa, terra conhecida, amigos e at seus prprios costumes para ir a uma terra estranha e desco

    pelida apenas pela vida e pelo exemplo de Noemi, e pelo relacionamento que mantinham. Muitas vezes tenho pedido a Deus a sabedoria de Noemi. Queser uma sogra como ela!Vou tomar a liberdade de dar asas imaginao e compartilhar algumas coisas que, segundo entendo, Noemi faria caso tivesse que enfrentar uma situaoConsiderando o livro de Rute, reflita sobre os aspectos que passo a expor, mesmo entendendo que o livro de Rute no trata expressamente do asrao.Antes de mais nada, preciso estar consciente de que ningum muda ningum. No creio que Noemi quis mudar Rute. No incio do enredo, a sogrraja sua nora moabita a ficar em Moabe e a voltar para seus familiares e costumes moabitas. Noemi aceitava Rute como era: moabita. Noemi via em Ra ntegra que se mostrava uma boa esposa para seu filho, agora falecido. Seguramente Rute seguiu sua sogra em parte por essa aceitao. Noemi respeitaugal de seu filho com Rute. Agora viva, Rute sabia que podia confiar em sua sogra.Veja bem, o seu conselho no vai mudar o que aconteceu. Muitas vezes os pais querem oferecer conselhos aos filhos sobre o que esto fazendo. Deira que os pais no conseguem impedir o casamento de seus filhos, tambm no conseguem impedir sua separao. Infelizmente, os pais podem, sim, a separao, se no souberem deixar seus filhos viverem suas prprias vidas; se no permitirem que o filho deixe me e pai para se juntar sua mulh

    na o livro de Gnesis. Conheo um pastor que faz os pais dos noivos jurarem, durante a cerimnia de casamento, que no vo se meter na vida do novo

    o difcil para alguns cumprir essa promessa!Assim, muito pouco pode ser feito para mudar a situao. O que voc precisa fazer aceitar esse fato. Aceitao no implica aprovao. Nem sempre ape nossos filhos fazem. Mas precisamos ter a maturidade de respeitar suas decises e aceit-las, mesmo que isso nos faa sofrer.Aceitar a situao permitir a voc um tempo de luto. Afinal, eles no so os nicos que sofreram perdas com a separao. Voc possivelmente pivncia com pessoas de quem gostava. Pior, s vezes, fica difcil visitar os netos. So perdas que precisam ser vividas e sentidas, ainda que sejam dolorolhor extravasar a dor do que engarraf-la e depois beber do clice do ressentimento.

    Trata-se de um momento em que os filhos precisam ser compreendidos e ouvidos. A maioria das pessoas tm a tendncia contrria: dar conselhos. dindo suas dificuldades, mas importante que seu filho saiba que qualquer que seja a deciso, ele conta com voc. Muitas vezes os filhos no lanam mnativa, preferem desabafar com seus amigos. Mas importante para eles saberem que contam com voc.Uma das coisas mais desastrosas e mais comuns tomar partido. No faa isso. Todos perdem. Todo casamento tem dois lados; toda separao tama nos ensina o caminho do amor. No momento, esse caminho ainda mais necessrio. Faa como Noemi, comporte-se de tal maneira que algum posr seu exemplo.

    Lembre-se das crianas. Elas so as que sofrem mais nessas situaes, mesmo no tendo culpa de nada. Tambm podem ser as que mais rapidamperam se voc puder ajud-las ao longo do caminho. Se voc tomar partido ou falar mal de um dos pais, elas perdero a liberdade de lhe fazer confidncno querem que voc concorde nem discorde com suas queixas, reclamaes ou com a imensa dor que sentem. Necessitam de quem os oua e cons

    udo, precisam de carinho, mesmo quando reagem de forma agressiva e revoltada. Existe pouco que uma boa dose de colinho no resolva.inalmente, lembre-se de orar por todos os envolvidos, incluindo voc mesmo, pois muito pode a orao do justo. No ore necessariamente pela recoquesto pertence a eles, apesar de podermos levar ao Senhor o desejo do nosso corao. s vezes, as pessoas ficam to fixadas em promo

    nciliao, que no consideram outros aspectos da situao. Ore pedindo o consolo dos cus. Que o Pai de toda a misericrdia e consolao poolando todos os envolvidos durante os tempos difceis. impossvel acompanhar o sofrimento dos outros sem sofrer, ainda mais quando se trata de algdo como um filho. Sofra a perda e no se envergonhe por isso. Mas receba de Deus o consolo para essas dificuldades. Deus nos ensina que Ele nos conf

    possamos ajudar outros com o mesmo consolo que Ele nos d (2 Co 1.3-7).Assim seja!

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    7.

    E OS AMIGOS, COM QUEM FICAM?

    Para comeo de conversa, isso depende de quem eram os amigos.Quando somos casados temos amigos meus, teus e nossos. Os meus amigos em geral acabam ficando comigo. Por que haveriam de me deixar? s um amigo ou amiga do mesmo sexo de quem ramos mais prximos. Estes em geral acabam ficando conosco.

    Os amigos do ex-cnjuge tendem a tomar o partido dele. A amizade requer essa lealdade. Armam-se as alianas e os amigos dele ficam do lado de l enqs vm para o lado de c.ituaes interessantes so criadas com relao aos amigos em comum. Alguns decidem ficar do lado de um enquanto se afastam do outro e assim a qu

    mitao de campo fica resolvida. Outros decidem que querem continuar a amizade com os dois, o que constitui um grande desafio.Lembro-me bem de uns amigos nossos que tiveram atitudes brilhantes. Logo que nos separamos, Mrcia me ligou: Esly, o aniversrio do meu marido e queria que voc viesse festa que vamos fazer para ele no sbado.Resolvi que esse assunto no poderia ser tratado por telefone e fui sua casa. Voc o convidou? perguntei. Quem, o fulano, seu marido?

    . Sim.Pensei um momento, respirei fundo e lhe respondi: Sabe, Mrcia, ento eu no venho. Ou melhor, venho outro dia para fazer visita e comemorar o aniversrio, mas realmente no quero me encontro, ainda mais que certamente ele vir acompanhado. Ainda no estou curada o suficiente para enfrentar tudo isso.

    Ela ficou triste, mas compreendeu. Uns dias depois, fui fazer a tal visita e ela me disse: Esly, j sei como podemos fazer. Queremos ser amigos dos dois e entendemos o lado de cada um de vocs e no vamos tomar partido. Ento didar voc para uma festa e ele para a prxima. Teremos o cuidado de no convidar os dois ao mesmo tempo. Que tal?

    Pareceu-me excelente. E assim foi. Durante anos fui convidada s suas festas e me divertia. Tinha a liberdade de aceitar o convite sem me preocupar. Ddo eu sabia de alguma festa deles para a qual eu no tinha sido convidada e compreendia que era a vez do outro. Eu me sentia respeitada e protegida. o fantstica. Quando me casei pela segunda vez, esses mesmos amigos vieram participar da cerimnia.

    Nem sempre os amigos tm solues to sbias. Mas trata-se de um exemplo que pode nos ajudar muito. Creio que tanto os divorciados como seu

    sam de discernimento, mas a amizade se baseia na maturidade, no respeito e no carinho.No entanto, h amigos que vamos perdendo ao longo do tempo depois da separao. Os interesses mudam, assim como as prioridades, o ritmo e o estiloentamos perder algumas amizades e outras vo sendo desfeitas sem que percebamos. E, finalmente, perdemos alguns porque passam a nos rejeitar. trimos em Cristo fazerem isso, o que uma pena. O perodo em que mais precisamos de amigos justamente o perodo em que estamos passando peloparao. Precisamos especialmente de amigos que nos acompanhem em orao. No cabe aos outros julgar as razes da separao e, sim, acompanhadoria de Deus no que esto fazendo como amigos.inalmente, aos que acham que no tm esse problema porque no tm amigos, dou-lhes uma palavra de alerta! Certa vez, disse a uma amiga: Vivo semno posso viver sem amigos. Bons amigos so dons preciosos de Deus, amigos mais chegados que irmos. Para termos bons amigos, precisamos os. Precisamos nos empenhar nessa arte. Muitas vezes, os amigos fazem o papel de famlia substituta quando no temos familiares por perto oupreendam. A amizade fundamental na vida. No devemos prescindir dela. A falta de amigos implica a falta de sade emocional. Somos seres sominao divina: No bom que o homem esteja s. No bom que estejamos sem amigos. E a famlia da f deve demonstrar o maior exemplo de ami

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    8.

    DIVORCIADOS, PORM AMIGOS. POSSVEL?

    Puxa vida, poderamos pelo menos ficar amigos!Essa expresso ao telefone me fez parar e pensar. Ns, amigos?Creio que, depois de uma separao, uma das muitas coisas que acabam sendo renunciadas a relao ps-casamento. E, paradoxalmente, um doentes o de manter ao menos a amizade.

    Dona Zizi, com sua sabedoria de me, me diria que desejar isso querer todos os proveitos num saco s! De fato, a vontade de manter essa amizades desejos!

    Primeiro, h o desejo de no perder, de no sentir a perda profunda que a separao; a vontade de amenizar a ameaa da perda total. como se acinasse assim: Se ficamos amigos, salvamos pelo menos alguma coisa da relao. Talvez alguma coisa boa. E com essa iluso a pessoa se consola.egundo, h o desejo real e sincero de ter uma relao de amizade com o outro. Porm, esse desejo faz parte da ambivalncia que se vive ao se desengavalncia normal. Faz parte do processo de perda da intimidade do cotidiano. O casamento estabelece uma intimidade que vivida pelos dois. A si essa intimidade e d incio ao processo inverso: o de tornar os cnjuges estranhos um para o outro.

    Pensar na possibilidade de ex-esposos continuarem amigos traz tona a pergunta: o que significa ser amigo? Embora na amizade se partilhe um tipo de in

    ente, a confiana, a aceitao e o respeito continuam sendo indispensveis. Nossos amigos frequentam nossa casa. Voc quer mesmo que o seu ex visitas? Compartilhamos com amigos nossos segredos, nossos desejos e intenes, a nossa luta. Deles esperamos lealdade, fidelidade e aliana. Est ficaaonde quero chegar?

    Com o ex-cnjuge, em geral, essas coisas no existem. Na poca da separao, a relao se parece mais com um campo de batalha do que com umcio a bate-papos amistosos. Como bons inimigos, os ex-cnjuges jogam em times opostos, tm interesses diversos e at conflitantes.

    Muitas das dificuldades que levaram separao continuam existindo. Por exemplo, se o casal no conseguia se comunicar claramente e cada um descono outro dizia, razovel supor que a simples separao mudar ou resolver essa realidade? Afinal, se os dois conseguissem ser bons amigos, n

    manecido juntos?Entretanto, h excees e pseudo-excees. Nas pseudo-excees, um dos dois, para provar que uma pessoa legal, faz tudo para ser amvel e atencro. O preo disso alto, pois uma tentativa perdida e frustrada desde o incio. Se o seu ex-cnjuge realmente achasse voc legal, ele estaria comConseguir aceitar a ideia de que o outro no aprova a sua pessoa e que no gosta mais de voc constitui uma verdadeira libertao pessoal. Voc fica

    r se justificar ou se defender, de se explicar para o outro. Pode deixar o outro pensar mal de voc. Da, o que vier de bom lucro.Conheo situaes em que os ex-cnjuges tm um bom relacionamento. Geralmente, chegaram a esse ponto s depois de muitos anos de separao e os terem se casado novamente. Tambm tenho visto situaes em que o ex-cnjuge casou-se e se relaciona bem com sua nova famlia. Defino o relacioo ex-cnjuge como bom quando ambos podem combinar os assuntos necessrios de forma educada. s vezes, d at para falar abobrinha sobre as essa liberdade tambm resultado de aprendizado e leva tempo.

    Quando um casamento acaba, o que realmente pode e deve ficar o respeito. E respeito se impe. Sou da firme opinio que, caso seja possvel reer o respeito, o ex-casal deve ficar satisfeito. uma conquista. Para tanto, deve-se dar o exemplo. No permitia que conversas sobre determinados

    m no desrespeito. melhor encerrar a conversa do que proceder em desacordo com as regras da boa educao. Algumas vezes esse princpio de se ito vai exigir um esforo concentrado para no se envolver novamente. Mas vale a pena o investimento.

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    POSSVEL UMA RECONCILIAO?

    Boa perguntaComecemos primeiro por situaes em que creio no haver possibilidade de reconciliao. Isso ocorre principalmente quando um dos cnjuges (ou os a de corao que isso acontea. O casamento uma aliana entre duas pessoas. Quando uma rompe ou rescinde o contrato e no tem o desejo real de rs os esforos do outro so relativamente inteis.Muita gente pensa que se deve fazer qualquer negcio para se manter o casamento e acaba por violentar aspectos bsicos da sade emocional do ser humeres que toleram a infidelidade do marido com essa desculpa, mas, no fundo, isso demonstra apenas seu autodesprezo e falta de amor prprio. Deus ja

    u que tolerssemos a infidelidade conjugal, embora o perdo sincero diante do arrependimento real sempre tenha seu lugar e valor. O marido percebe -prprio da esposa e acaba por desprez-la, agravando a situao. Isso tende a reforar ainda mais a humilhao. Ao tolerar situaes intolerveis a pe

    ndo: Eu tenho to pouco valor, que posso aguentar qualquer coisa. Isso grave. H pessoas que suportam at a violncia fsica, o espancamento, os quanto de crianas, porque no tm coragem para enfrentar novas situaes. Nisso a igreja tem um ministrio. H situaes insustentveis naveno espiritual deve ser de compaixo e misericrdia e, no, de condenao e jugos pesados. O fardo de Jesus leve e no nos deve pesar.Em segundo lugar, h situaes em que a reconciliao no deve ocorrer ou, pelo menos, no da forma em que as coisas esto naquele momento. Explico

    pessoas no esto se entendendo bem ao ponto de se separarem, a reconciliao dever ser buscada somente depois de se ter produzido mudanas ficativas em cada um. Essas mudanas podem ocorrer por meio da psicoterapia, de grupos de crescimento emocional, ou por uma transformao espiritPor que digo isso?e as pessoas no tiverem seus coraes transformados, fatalmente repetiro os mesmos erros e cairo nos mesmos vcios. Assim, apenas produzi

    mento para todos os envolvidos. muito significativo o fato de que quando nascemos de novo o nosso corao que se transforma, e no a nossa caNo corao est a sede de nosso comportamento. O corao nossa alma, nosso inconsciente, o que nos faz reagir, at mesmo em desacordo co

    amos. nosso corao e consequentemente nosso comportamento que precisa ser redimido, resgatado. Portanto, enquanto no transformamos de relacionamento, intil tentar uma reconciliao.

    Tambm intil reconciliar-se somente por causa das crianas. O casamento no um contrato entre crianas e adultos. Se queremos proteger nosss de ajustar a relao conjugal e no empurrar com a barriga um casamento de aparncias. Os filhos no so tolos sabem muito bem quando os pou mal. Basta observar a lista de indisposies e doenas que aparecem no dia seguinte s brigas dos pais para comprovar isso. O que no conseguemas somatizam. Permanecer com o cnjuge por causa das crianas encobre muitas vezes outras motivaes: o medo de viver e envelhecer sozinhntrar outra pessoa, de no saber como viver financeiramente sem o outro, questes sexuais, enfim, milhares de outras razes esto escondidas por tr

    ulpa. Os filhos nunca impedem nada nem para casar-se nem para descasar-se. Reconciliar-se nesses moldes um preo demasiado alto para os filhosAssim tambm, no se deve buscar uma reconciliao sem que haja uma disposio grande e real de perdoar-se um ao outro. H o que chamo de defeitoonvivncia: infidelidade, violncia fsica (inclusive o estupro dentro do casamento), ataques verbais (muita gente se queixa mais dos comentrios ferinosatomas) e assim por diante. Uma reconciliao s possvel quando existe um verdadeiro perdo e provas reais de mudana. A confiana algo que se covez perdida, difcil readquiri-la.

    Quando recebo casais com crises conjugais em meu consultrio, dou-lhes a seguinte tarefa: Ao chegar em casa, faa uma lista de tudo que seu cnjuge fcolocando os detalhes. No mostre essa lista para ningum, mas encontre uma maneira de comear a perdo-lo. Depois, faa uma lista de tudo que

    a seu cnjuge, pelo que voc deve pedir-lhe perdo. Na prxima consulta eles trazem as listas e peo-lhes que cada um leia sua lista para o outro e peesultados so impressionantes!Quero assinalar outro aspecto sobre a questo da agresso fsica. Qualquer pessoa que for aconselhar algum com problemas deve ter temor a Deus e ico do Esprito Santo antes de sugerir uma reconciliao numa relao em que houve agresses entre os cnjuges. Conheo um caso trgico, no qualder cristo aconselhou a mulher a voltar para casa, onde ela encontrou-se com a morte pelas mos do marido.

    Tanto a vtima como o agressor necessitam de muita ajuda: este, por razes bvias, e aquela, por toler-lo. A ajuda para ambos a mesma: psicoteabilidade de esse tipo de comportamento voltar a surgir enorme. No se deve iludir com mudanas superficiais.Talvez voc, leitor, se surpreenda com a meno desses fatos num livro cristo. Mas os cristos tambm guardam terrveis segredos na intimidade de sebm se agridem, lamentavelmente. A salvao no garantia de perfeio.Ento, quando possvel a reconciliao?Uma reconciliao d muito trabalho. infinitamente mais fcil desistir. Entretanto, quando os dois querem muito, ao ponto de pagar o preo de panas interiores para alcan-la, a reconciliao torna-se possvel. Algumas vezes isso significa estar separados por um tempo, j que essas mudanas sfica ter de recomear desde o princpio como no namoro, com uma nova conquista. Aprender a escutar o outro, querer o outro, am-lo da manesa ser amado. Desejar suprir as necessidades do outro. Ter disposio para renegociar clusula por clusula um novo contrato de casamento.omente a graa de Deus pode sustentar as pessoas que se empenham nessa rdua tarefa. Mas todos vivemos da graa de Deus. Sobretudo para um casa relao como se cuida do mais precioso tesouro. Para que jamais tenham de enfrentar a dura realidade de uma separao.

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    MULHER, CRIST, DESCASADA

    E agora, Esly, gostaramos que nos contasse um pouco sobre como ser uma mulher crist e descasadaAs palavras do pastor pairaram sobre um imenso silncio enquanto todos seguraram a respirao. Sentiram quo fundo havia tocado aquela padamente ofereci um testemunho que deu incio a um novo ministrio na minha vida: o ministrio com os descasados.Creio que h trs sentimentos que costumam estar presentes, especialmente entre as mulheres descasadas os homens tm a tendncia de ocupar as fasamento por muito menos tempo. Gostaria de examinar algumas ideias com misericrdia e compreenso.Primeiro, existe um enorme sentimento de culpa. H entre as mulheres, mesmo as casadas, uma forte tendncia de angariar para si toda a culpa de tudo. No h dvida de que, quando um casamento se desfaz, erros foram cometidos dos dois lados. Mas falo de um sentimento de tormenta: se eu tivado mais, se tivesse feito isso ou aquilo quem sabe? A verdade que o casamento uma aliana entre duas pessoas. Quando uma das dualao, por qualquer motivo, o casamento acaba, mesmo que os dois continuem vivendo juntos por muito mais tempo. A no ser que o desistente resolvaompromisso em fazer a relao funcionar, o casamento continua morto. No h muito mais a fazer a no ser enterr-lo. Deus pode at ressuscit-ria ressurreio mostra que houve primeiro uma morte.

    Por alguma razo misteriosa, parece que s mulheres sempre cabe a culpa. Irmos em Cristo insinuam que elas no aguentaram o suficiente. Mesmo que

    sido infiel, a culpa ainda cai sobre a mulher: Voc no soube ser mulher o suficiente para segur-lo e ele acabou procurando fora Esses conselhoss, so oferecidos com a melhor das intenes, mas acabam amontoando verdadeiras brasas vivas de culpa sobre a cabea da esposa desnorteada.Repito o que j disse nos primeiros captulos: creio que a separao um aborto, pois interrompe o processo natural do desenvolvimento da famlia. Deucio, mas no o divorciado. Deus somente tolera o divrcio pela dureza dos coraes dos seres humanos. No entanto, necessrio termos compaixo patravessando esse momento de grande dificuldade na vida. Os sentimentos de culpa pairam sobre a cabea da pessoa recm-separada. No precisamorazes para que ela se sinta contrita.egundo, como consequncia do sentimento de culpa, a pessoa desenvolve tambm uma sensao de inferioridade, de fracasso: Fui incapaz. Fracass

    projetos mais importantes na vida do ser humano o casamento. E como facilmente os amigos, crentes ou no, marginalizam a pessoa recm-sermao do fracasso cresce e suas razes se aprofundam. Na igreja, at parece que a pessoa virou cidado de segunda categoria. No mais casal? No. Nossas igrejas no esto estruturadas para acolher os descasados.

    Terceiro, o descasado carrega, muitas vezes, um sentimento de inadequao. Como desenvolver esse novo papel, o de descasado? Quem nunca foi desabe como . Repentinamente, a pessoa se v s voltas com uma srie de situaes novas, muitas extremamente ameaadoras. A separao cauanas! H muito para ser aprendido e pouqussimas pessoas para ensinar. O que a igreja pode fazer em situaes como essas? Reflexes sobre a responsa

    reja em relao ao crescente nmero de famlias divorciadas sero feitas no prximo captulo. Gostaria agora de tecer alguns comentrios sobre os centes em nossa sociedade em relao mulher, em geral, e mulher descasada, em especfico.

    er virtuosa: quem a achar?

    Provrbios 31 fala da mulher virtuosa e faz uma descrio inesquecvel dela. J se pregaram muitos sermes sobre esse assunto, em louvor da mulher campara essa descrio com a relao da igreja e seu noivo, Jesus.

    Em nossa cultura latino-americana, a mulher casada, ou melhor, a me dos meus filhos louvada. H quase uma venerao pela mulher nessa condio.Em compensao, nunca se descreveu a mulher separada como sendo virtuosa. Ao contrrio, parece haver sempre uma certa suspeita pairando sobre ela, osse devedora ou, pior, sofresse de alguma falha moral. A mulher pode ter sido abandonada e a iniciativa da separao pode no ter sido sua, mas a

    manece.A separao tira a virtude da mulher? A mulher virtuosa porque seu estado civil lhe confere esse status? Sua virtude existe em funo da relao coanto, trata-se de uma virtude derivada de outra pessoa?Quando as perguntas so colocadas dessa maneira, a resposta tende a ser um enftico no. Mas, na prtica, a realidade outra.A igreja no deve defender a separao e o divrcio, apesar de que, em alguns casos, essa a soluo mais saudvel para todos. Mas ela deve deude dos descasados. Somos informados pelo salmista que Deus o defensor das vivas, dos rfos e dos estrangeiros. Como seguidores de Cristo, br o seu exemplo. Devemos, ento, defender os interesses dos vivos e vivas modernos.

    Muito se tem escrito sobre o machismo e o feminismo. Gostaria de tecer alguns comentrios, de um ponto de vista extremamente pessoal, sobre pensamecorreram durante o tempo em que desenvolvi meu papel de mulher descasada e crist.

    Primeiramente, em nossa sociedade, toda mulher tem permisso para ser me. Alis, esse parece ser o papel que mais define a mulher. Sentimos peres que no podem ter filhos. Elas se sentem devedoras vida como se valessem menos, porque no podem ou no querem procriar.

    Enquanto a mulher se mantm dentro do supervalorizado papel de me venerada, dificilmente ser criticada. Afinal, esse o lugar da mulher, seu domnio aEm nossa cultura, a educao dos filhos e a religio pertencem ao domnio da mulher. mais fcil delegar esse trabalho a quem mais sensvel e entendas coisas, como me disse um distinto cavalheiro.O sacrifcio pelos filhos, outra prerrogativa exclusiva da mulher, louvado em verso e prosa. A mulher morre mas no entrega os filhos, trabalha fora e

    mes dificuldades por amor a eles! Mas ser que essa situao est certa? Como a sociedade chegou a essa condio? certo que a morte ceifa alguns maridos. Todavia, sabemos que, se estamos chegando a uma cifra em que quase a metade dos lares latino-americ

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    ados por mulheres, no devido exclusivamente morte dos maridos. Deve haver alguma outra razo.Apesar dos muitos ganhos advindos do movimento feminista, as mulheres tambm pagaram um preo.Por um lado, j vi muitas mulheres quererem desempenhar papis atribudos aos homens. Vi essas mulheres lutando para chegar a posies brilhdade, mostrando que tm capacidade. Abriram muitos espaos profissionais para si mesmas, com muita dificuldade de acesso ao mercado de trabalho s, recebendo salrios inferiores aos dos homens nas mesmas funes.Por outro lado, dificilmente vi os homens almejarem os papis das mulheres. Portanto, as mulheres ficaram sobrecarregadas, acumulando duas jornadas deas, a do trabalho profissional e a da casa. Enquanto isso, os homens sentiram-se ameaados e, quem sabe, at passaram a se limitar cada vez mais em secionais. No vejo o homem na Amrica Latina lutando desesperadamente para ficar em casa com seus filhos, trocando as fraldas do beb, lavando a r.

    Em outras palavras, enquanto as mulheres passaram a almejar papis que a sociedade reservava aos homens, estes continuaram a se restringir nos seusis, sem nenhum interesse pelos papis que tradicionalmente cabiam s mulheres.

    Mas, quando abrimos a Bblia, no esse o exemplo que temos em Jesus. Ele no se fechou em um papel tradicionalmente masculino. Vemos um Jesus

    ra um atributo feminino. Vemos um Jesus que chora homem no chora. Que pega as crianas no colo, lhes ensina e as abenoa. Vemos um Jfica a mulher, que fala com ela como um ser humano inteligente (o caso de Marta, por exemplo) e que a considera igual aos homens. Finalmente, vemos uem, que d sua vida por sua noiva, a igreja. Jesus, terno e misericordioso, d o exemplo de amor supremo, dando a sua prpria vida.O exemplo de Jesus contrrio expectativa atual, em que, da mulher, se espera sacrifcio incondicional em favor dos filhos e, do homem, se espera muitoA mulher de Provrbios 31 boa me sua lmpada no se apaga de noite , trabalhadora no come o po da preguia , boa comerciante po e o compra e boa gerente d ordens s suas servas. Entre as muitas coisas que se espera da mulher virtuosa descrita nessa passagem nfcio que Jesus, homem, fez.Concluindo, creio que as duas expectativas com relao mulher comentadas neste captulo colocam um fardo muito pesado sobre a mulher. Em primeira sociedade espera que a mulher segure o marido, ou seja, que mantenha o casamento a qualquer custo. Em segundo, delegado a ela o cuidado quase euitas vezes, sacrificial dos filhos.Compartilho essas ideias para que possamos iniciar uma nova reflexo sobre essas questes. Quando fazemos da mulher descasada menos, estamos atira. Quando pedimos que esconda o seu estado civil porque no aceitamos a famlia divorciada como um estado digno de existncia, mesmo que itecido contra a sua vontade. O nico estado civil bom para um cristo o de casado? Quando no abrimos espao para a mulher descasada em nossasossos lares, estamos discriminando-a.

    ado originalmente na revistaKerigma(1989).

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    SUA LMPADA NO SE APAGA

    Mame! Mame! Estou com medo. Sonhei que a cobra ia me pegar e agora no consigo mais dormir. Ainda a vejo quando fecho os olhos.Raquel subiu na minha cama e, tremendo, enfiou-se debaixo das cobertas.Abracei a menina e falei baixinho com ela, suspirando por dentro diante de mais uma interrupo do sono. Mas criana assim Dormir a noite inteira m, no de me. Me, eu quero orar. Assim posso parar de tremer.Orei com Raquel, pedindo a Deus que lhe tirasse o medo e lhe restaurasse o sono tranquilo. Mal havia dito amm, quando ela deu incio sua orao, la. Quando terminou disse-me:

    Eu ainda me lembro da cobra, mas j posso dormir sem medo. Fique perto de mim at eu dormir de novo.egurando na minha mo, virou-se e, em poucos minutos, havia adormecido na minha cama. Fiquei espantada com sua simplicidade e sua soluo rpl, era isto que eu lhe havia ensinado: que Deus era o pai da casa e dele dependia a soluo de nossos problemas.

    Alis, este havia sido um dos grandes ganhos da minha separao: poder criar minha filha de quatro anos nos caminhos do Senhor. Formvamos uma fammarido, o Pai, e nele encostvamos quando estvamos aflitas. Sob sua sombra buscvamos refgio e abrigo.

    Enquanto minha filha dormia em meus braos, permaneci muito tempo ali pensando. Cheguei concluso de que quem havia inventado a cama de inava o bem que havia feito s mes. Alguns instantes depois eu iria levar Raquel de volta sua cama, onde sempre dormia. Mas como era confortvea de casal em que ns duas coubssemos, com nossos sonhos e oraes.s vezes, eu adormecia antes de levar Raquel de volta sua cama. Pela manh, ela me olhava com ar de malandra: Eu dormi aqui, no foi?E eu ria, tentando fazer cara de brava: Foi, mas esta no a sua cama. Eu sei, mas eu estava com tanto medo, que vim para c. Mas no se acostume.Eu bem sabia que a cena se repetiria. Mas o importante era que minha filha soubesse onde me encontrar quando precisasse de mim.O importante era que minha lmpada no se apagasse de noite.

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    AIGREJA E O DIVRCIO

    Qual o ideal de Deus para o casamento? O que dizer da dureza dos nossos coraes? H pecado sem perdo? O que significa o termo igreunidade teraputica no que diz respeito aos divorciados? Essas questes precisam ser consideradas para podermos ter uma boa viso do papel da o aos divorciados.

    No h grandes dvidas quanto ao ideal de Deus com relao ao matrimnio. A Bblia comea com a descrio de um casamento (Gn 2.22). Deus pssidade de Ado ter uma companheira. Observe o detalhe: Ado no pede a Deus uma esposa! O prprio Senhor forma e prepara Eva para Ado e deenta pessoalmente essa companheira. Deus toma a iniciativa para que eles se casem. Os dois se encontram como resultado do desejo de Deus. Que difeo ao que se v hoje em dia!

    A Bblia termina com a descrio de outro casamento: as bodas do Cordeiro (Apocalipse). Deus apresenta sua noiva, a igreja que Ele vem formarando , ao seu filho Jesus, o noivo. Paulo j nos informou que isso um mistrio. Como ser esse casamento, s mesmo o Senhor sabe, mas assegurse de uma festa que eu no tenho a menor inteno de perder!

    Mas, e o divrcio?Deus odeia o divrcio (Ml 2.16) mas no odeia o divorciado. Aleluia! Seria incongruente com seu carter e com suas promessas a rejeio das pesso

    ciaram. Deus no deixa de amar a pessoa que se divorcia! Nunca foi da perfeita vontade de Deus que as pessoas se divorciassem. Pensando bem, nuo de Deus que o ser humano pecasse. No entanto, o livre arbtrio foi o primeiro dom que Deus nos deu aps nos ter dado vida. Assim, Deus permitiuo, um espao no qual era possvel ao homem desobedecer a Deus. Desde o comeo, a desobedincia traz consigo consequncias inevitveis, aindaecidas.

    Ento, podemos considerar que o divrcio segue como uma das consequncias da queda do homem. Jesus afirma aos fariseus que o divrcio foi permitMoiss devido dureza dos coraes humanos. Algum entre ns duvida que continuem a existir coraes duros? Na verdade, o divrcio que Moiss pr

    a proteger a mulher. Ao homem que queria abandonar sua mulher, era-lhe exigido que desse mulher repudiada uma carta (escrita) de divrcio parasse eventualmente voltar a se casar sem ser considerada adltera. A palavra divrcio vem sendo mal traduzida em nossas Bblias. Quem adulterava aouma mulher separada era aquele que se unia a uma mulher repudiada, sem a carta de divrcio. Na lei judaica sempre foi permitido o novo casamento ivrcio formal, sem que isso implicasse adultrio.1

    De qualquer forma, fica a pergunta: seria o divrcio o pecado sem perdo, contra o Esprito Santo, do qual a Bblia fala em Mateus 12.31? No po. Uma pessoa cujo cnjuge no quer, no pode ou no deve continuar o casamento perde seu privilgio salvao?

    Mesmo com todo o desgosto que um divrcio causa ao Senhor, no creio que esse seja um pecado para o qual Ele no tenha perdo. A Bblia nos inform

    dos perdoados so lanados no mar do esquecimento. Acabou. Para Deus, um pecado perdoado no existe mais, ainda que tenhamos de sofrer as consuao que criamos. O que quero enfatizar que no h mais condenao para os que esto em Cristo Jesus (Rm 8.1).

    No reino de Deus, h cidados de segunda classe? Haver filhos de um lado e servos do outro? A parbola do filho prdigo nos mostra que h filhos naMesmo que o filho se sinta indigno ou condenado, o pai abre os braos e lhe chama de filho. O pai no permite que o filho trabalhe no seu reino comovo! No me incomodaria ser escrava do Senhor, contanto que pudesse estar perto dele. Mas, at hoje, me assombro ao lembrar que Ele no toibilidade. Ou entro no seu reino como sua filha, ou no entro. Ponto final.

    E a igreja? Qual ser o seu papel diante dessas colocaes?A igreja chamada para iluminar o mundo, inclusive os divorciados. Ela chamada a refletir a postura de Deus para com as pessoas. Uma postura de rsgate do pecado, de misericrdia, perdo e reconciliao. Enfim, deve ter uma funo teraputica, curativa. No somos chamados a julgar. Julgamenogativa de Deus. Jesus nos afirma que seremos julgados com a mesma medida com que julgarmos aos outros. Pessoalmente, quero que Deus me julgue cricrdia e assim tenho procedido nas minhas relaes tanto pessoais como profissionais. O juzo cura muito pouco, o amor, no entanto, cobre uma mudos.

    Mas, na realidade, como tem sido a atuao da igreja?Aprendi vrias lies nesses anos em que estive separada. Gostaria de compartilhar algumas, no com o intuito de crtica, mas com o desejo de edificar o o.

    Existe um preconceito muito sutil operando nas igrejas: os solteiros e os descasados so menos valorizados que os outros. Os solteiros so menos prestigerem conseguido arrumar algum com quem se casar; os descasados, por no terem sido hbeis o suficiente para manter o casamento.

    No entanto, contra fatos no h argumentos: em nosso pas e, consequentemente, em nossas igrejas, existe uma populao crescente de pessoas desch espao para elas nas nossas igrejas. No se encaixam na sociedade de senhoras porque, em geral, trabalham fora. Certamente no voltaro a fazer dade de jovens o status de jovem foi perdido quando se casaram. No se enquadram nos grupos de casais porque seus problemas so bastante difer

    dos. E, se tm filhos, no so solteiros, a no ser nos fins de semana ou frias escolares, quando seus filhos vo passar um tempo com o ex-cnjuge. Nnical para adultos, em que a maioria so casais, os assuntos de famlia so sempre vistos de uma perspectiva da famlia tradicional. E assim por diante.

    Pior so os comentrios bem intencionados que escondem essa discriminao velada porque na verdade, disso que se trata: discriminao.Estou orando por voc, para que Deus possa restaurar sua vida. Deve ser muito ruim viver num lar desfeito. Que lar desfeito?! O lar em que vivemoa filha est muito bem feito. No tem nada de desfeito. Mudou de forma, quem sabe, desde que houve a separao, mas um lar sadio, acolhedor e a

    j nos restaurou. Se nunca voltasse a me casa