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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE EDUCAÇÃO CURSO PEDAGOGIA EDU 193 - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II 1 Quando Ciência e literatura se encontram: as potencialidades do uso de livros infantis no Ensino de Ciências Raiana Fernanda Silvério RESUMO Ensinar Ciências nas escolas é algo de fundamental importância para a formação dos estudantes que integram nossa sociedade. Nesse contexto, acreditamos que a Alfabetização Científica pode contribuir para essa formação dos futuros cidadãos, possibilitando o entendimento da Ciência, uma vez que trata das complexas relações entre a Ciência e a Sociedade. Neste artigo, propomos o uso da literatura como um material didático que colabora com a Alfabetização Científica. Para oferecermos sugestões de livros de literatura infantil que abordam conceitos científicos de maneira sistematizada e prática para a consulta dos educadores, analisamos o acervo de leituras complementares, oferecidos pelo Ministério da Educação e disponível nas escolas públicas do país. Nesta análise pudemos observar que a maioria dos livros estão adequados para o uso nas escolas e tem um grande potencial para o ensino de Ciências. Palavras-chave: Ensino de Ciências; Alfabetização Científica; Literatura Infantil. INTRODUÇÃO O presente artigo nasceu a partir de inquietações acerca do trabalho com livros didáticos e paradidáticos nas instituições de ensino onde realizei os estágios obrigatórios e os não-obrigatórios durante o curso de licenciatura em Pedagogia. Outra inquietação diz respeito à prática pedagógica e às metodologias voltadas para o Ensino de Ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Estas discussões foram levantadas durante a disciplina “Narrativas Infantis”, ministrada pela professora Suzana Vargas, na qual aprendemos sobre os usos dos livros de literatura infantil na escola. A área de Ensino de Ciências foi escolhida por sua relevância na formação social, visto que a aquisição de conhecimentos científicos proporciona às pessoas maior entendimento de diversas atividades cotidianas pessoais, como cuidados com a saúde e também com cuidados com meio ambiente e a preservação do nosso planeta. Dessa forma, compreendemos que pessoas alfabetizadas cientificamente têm mais condições de contribuírem com a sociedade. Para estimular esse dinamismo no ensino e ampliar o conhecimento dos estudantes nessa área, o Ministério da Educação criou um programa para a distribuição de livros paradidáticos nas escolas públicas do país, denominado Plano Nacional do Livro Didático

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CURSO PEDAGOGIA EDU 193 - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II

1

Quando Ciência e literatura se encontram: as

potencialidades do uso de livros infantis no Ensino de Ciências

Raiana Fernanda Silvério

RESUMO

Ensinar Ciências nas escolas é algo de fundamental importância para a formação dos

estudantes que integram nossa sociedade. Nesse contexto, acreditamos que a Alfabetização

Científica pode contribuir para essa formação dos futuros cidadãos, possibilitando o

entendimento da Ciência, uma vez que trata das complexas relações entre a Ciência e a

Sociedade. Neste artigo, propomos o uso da literatura como um material didático que

colabora com a Alfabetização Científica. Para oferecermos sugestões de livros de literatura

infantil que abordam conceitos científicos de maneira sistematizada e prática para a consulta

dos educadores, analisamos o acervo de leituras complementares, oferecidos pelo Ministério

da Educação e disponível nas escolas públicas do país. Nesta análise pudemos observar que a

maioria dos livros estão adequados para o uso nas escolas e tem um grande potencial para o

ensino de Ciências.

Palavras-chave: Ensino de Ciências; Alfabetização Científica; Literatura Infantil.

INTRODUÇÃO

O presente artigo nasceu a partir de inquietações acerca do trabalho com livros

didáticos e paradidáticos nas instituições de ensino onde realizei os estágios obrigatórios e os

não-obrigatórios durante o curso de licenciatura em Pedagogia. Outra inquietação diz respeito

à prática pedagógica e às metodologias voltadas para o Ensino de Ciências nas séries iniciais

do Ensino Fundamental. Estas discussões foram levantadas durante a disciplina “Narrativas

Infantis”, ministrada pela professora Suzana Vargas, na qual aprendemos sobre os usos dos

livros de literatura infantil na escola.

A área de Ensino de Ciências foi escolhida por sua relevância na formação social,

visto que a aquisição de conhecimentos científicos proporciona às pessoas maior

entendimento de diversas atividades cotidianas pessoais, como cuidados com a saúde e

também com cuidados com meio ambiente e a preservação do nosso planeta. Dessa forma,

compreendemos que pessoas alfabetizadas cientificamente têm mais condições de

contribuírem com a sociedade.

Para estimular esse dinamismo no ensino e ampliar o conhecimento dos estudantes

nessa área, o Ministério da Educação criou um programa para a distribuição de livros

paradidáticos nas escolas públicas do país, denominado Plano Nacional do Livro Didático

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(PNLD) e também um programa de livros literários, o Plano Nacional de Bibliotecas na

Escola (PNBE). Esses livros chegam até as escolas e, por vezes, os professores acabam

optando por não utilizá-los, muitas vezes por não saberem que a maioria possui um conteúdo

interessante para serem trabalhado nas aulas, além de serem adequados às faixas etárias

propostas e ao currículo escolar. Baseio esta afirmação em reflexões feitas em grupo durante

as aulas da Prof.ª Suzana Vargas na disciplina “Narrativas infantis”. Nestas aulas contávamos

experiências vividas em estágios obrigatórios, não obrigatórios e projetos em escolas

públicas, no que diz respeito à utilização de livros infantis para o ensino de alguns conteúdos

escolares, como português, ciências e matemática. Pensando neste contexto, questionamos:

Quais livros do PNLD e do PNBE abordam temas/temáticas que podem favorecer ao

professor(a) a abordagem de conteúdos de Ciências?

Nesse artigo realizamos uma busca pelos conteúdos de Ciências distribuídos nos livros

desses Programas, a identificação destes conteúdos e a análise literária dos livros

recomendados, com o objetivo de categorizá-los e trazê-los de maneira sistematizada ao

conhecimento dos professores de Ciências das séries iniciais. Como veremos adiante, não

basta apenas serem livros de Ciências com conteúdos corretos, existe uma exigência quanto à

linguagem e apresentação dos livros que se dizem adequados a determinados níveis de

aprendizagem. Por serem livros infantis, devem atender a algumas características essenciais,

tais como uma narrativa coerente, adequação às normas da língua portuguesa e à faixa etária a

que se propõe, ser atrativo visualmente, entre outras características que apresentaremos ao

decorrer deste artigo.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 – O ensino de Ciências numa visão de Alfabetização Científica

Iniciaremos nossa reflexão a partir de um questionamento comum quando falamos

sobre Ciências na escola: por que ensinar Ciências?

A Ciência está em tudo que nos rodeia, inclusive no ato de investigar os fenômenos

que ocorrem em nosso dia-a-dia. Como Romanatto e Viveiro nos dizem:

A primeira característica da atividade científica é que mobilizamos

conhecimentos quando nos admiramos ou surpreendemos com um fato,

fenômeno ou evento da realidade (física, humana ou pensamento). Isso nos leva a uma pergunta, um questionamento, e pode nos impulsionar a uma

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investigação. Então, temos o foco sobre a interação entre a curiosidade da

mente humana e a realidade do mundo. A pergunta e a tentativa de buscar uma resposta é aquilo que move o conhecimento científico. (ROMANATTO

e VIVEIRO, 2015, p.10)

A Ciência aproxima a curiosidade humana com a realidade em que vivemos e a partir

dela passamos a buscar respostas e soluções através do conhecimento científico. Logo, a

Ciência deve ser ensinada não apenas para que conceitos sejam repassados, mas para que isso

possa ser um dos agentes que possibilite a transformação da realidade vivida pelos indivíduos

que integram nossa sociedade. Concordamos com Selbach et al (2010, p.41) quando

asseveram que “aprendemos Ciências para viver e conviver, para nos conhecermos melhor e

melhor compreender o outro.” (SELBACH et al, 2010, p. 41).

Portanto, ensinar Ciências faz-se necessário a todos e principalmente para as crianças,

para que os estudantes possam construir sua relação com a Ciência ao longo do tempo, o que

os ajudarão diariamente na realização de tarefas pessoais ou sociais. O ensino de Ciências,

além de estabelecer conceitos, deve estar sempre acompanhando a realidade atual, a

tecnologia e as questões ambientais. Afinal, o conhecimento científico deve sempre que

possível estar relacionado a temas como estes, como afirma Selbach (2010, p.35).

O ensino de ciências é necessário para que todo aluno possa dominar fatos

científicos e saber integrar leituras, observações e experimentações entre o que aprende fora com o que aprende na escola, entre os desafios que os

problemas diários propõem e as soluções experimentadas em sala de aula.

(SELBACH et al, 2010, p. 35)

Para que esse ensino ocorra de forma efetiva logo nas séries iniciais do ensino

fundamental, recorreremos à Alfabetização Científica (AC). Alguns autores descrevem a AC

e nos mostram seus benefícios no trabalho com as crianças para a colaboração de pessoas bem

instruídas cientificamente. Segundo Romanatto e Viveiro, a Alfabetização Científica pode ser

entendida como:

[...] um processo que deve articular: domínio de vocabulário, simbolismos,

fatos, conceitos, princípios e procedimentos da ciência, tecnologia, sociedade e ambiente e suas repercussões para entender a complexidade do

mundo possibilitando, assim, às pessoas, atuar, avaliar e até transformar a

realidade. (ROMANATTO e VIVEIRO, 2015, p. 9).

Chassot (2002, p. 93), nos diz que existe uma explicação do mundo real em que

vivemos e essa explicação vem carregada de uma linguagem científica. Quando nos

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propomos a trazer o entendimento sobre esta linguagem estamos fazendo a alfabetização

científica.

A Alfabetização Científica deve ser uma prioridade nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, assim como afirmam Romanatto e Viveiro (2015, p.9) ao dizer que a AC “pode

contribuir para uma leitura e interpretação de mundo que favoreça posicionamentos e tomadas

de decisão, de modo crítico e criativo, em questões que envolvam nós, os outros e o

ambiente.”

O Ensino de Ciências orientado pela AC pode e deve ser um grande instrumento na

formação científica dos estudantes, que segundo Romanatto e Viveiro (2015, p. 16) “podem

agregar valores nas suas mais diversas atividades diárias, por exemplo, no cuidado com a

alimentação e a saúde, no âmbito pessoal, bem como na interação mais sustentável com o

ambiente ou na participação mais eficiente no mundo do trabalho, em âmbito mais geral.”

Todavia, para que a AC seja bem estabelecida e os conceitos científicos sejam

entendidos pelas crianças é necessário que elas já tenham certo domínio do código escrito,

como é dito por Lorenzetti e Delizoicov:

A definição de alfabetização científica como a capacidade do indivíduo ler,

compreender e expressar opinião sobre assuntos que envolvam a Ciência,

parte do pressuposto de que o indivíduo já tenha interagido com a educação formal, dominando, dessa forma, o código escrito. [...] esta alfabetização

científica poderá auxiliar significativamente o processo de aquisição do

código escrito, propiciando condições para que os alunos possam ampliar a sua cultura. (LORENZETTI e DELIZOICOV. 2001, p. 3)

1.2 – Literatura: um caminho possível

É verdade que o ensino de Ciências é muito importante, porém nos traz desafios, uma

vez que “a linguagem científica precisa ser trabalhada adequadamente com as crianças para

que não se torne um obstáculo à compreensão de conceitos, princípios e procedimentos

científicos.” (ROMANATTO e VIVEIRO, 2015, p. 15). Portanto, é nosso dever enquanto

educadores, pensar e repensar nossas práticas pedagógicas e nossas metodologias de ensino

para que a Ciência se torne algo atrativo para as crianças. Além disso,

[...] toda aula de Ciências, nas primeiras ou últimas séries do Ensino Fundamental, precisa sempre cercar-se de atividades interessantes que

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permitam a exploração e a sistematização de conhecimentos compatíveis

com o nível de desenvolvimento dos alunos, que sempre se modifica. (SELBACH et al, 2010, p. 48)

Muitos professores acabam se apegando às aulas expositivas, que se tornam exaustivas

para as crianças. Talvez isso ocorra por falta de recursos ou de capacitação para o uso de

outros materiais didáticos em sala de aula. Porém, porque não usarmos livros de literatura

infantil no Ensino de Ciências? Porque não usarmos livros atrativos e com histórias que

envolvam nossos alunos? Linsingen (2008, p. 6) nos dá três motivos para adotar a literatura

nas aulas de Ciências. O primeiro é que nos livros infantis existem temas pertencentes ao

currículo de Ciências, quanto a outros temas que podem gerar interesses das crianças e

questionamentos.

Ainda seguindo no pensamento de que os livros geram interesses, o segundo motivo

apresentado por Linsingen refere-se à importância desta leitura, pois,

escritores, inclusive de Literatura Infantil e Juvenil, são interessados no que

a figura emblemática “Ciência” inventa, e os resultados destas invenções. Este interesse gera reflexões, temores e esperanças que são, muitas vezes,

transformados em ficção. A ficção tem em si grande teor de ludicidade, a

qual, por sua vez, tem a faculdade de incidir sobre as emoções. [...] O que

digo é justamente o contrário: não só se deve estimular a leitura do estudante (por outra razão, que está escrita mais adiante) como também a do professor

deste estudante. O hábito da leitura deve fazer parte também do educador.

Não somente a leitura de livros, artigos e outros textos voltados à sua prática – atividade também muito recomendada -, como também dos livros, artigos e

outros textos voltados aos estudantes. (LINSINGEN, 2008, p. 6)

Como um terceiro motivo, Linsingen nos apresenta a contribuição da leitura com a

formação da criança e sua influência na visão de mundo, pois os livros trazem em si

conhecimentos de variados assuntos de maneira lúdica e isto gera um estímulo constante.

Mais um motivo está no estímulo constante, no estudante e no professor, da

prática da leitura, e de preferência, de leituras diversificadas. O ato da leitura

tem importância fundamental no desenvolvimento do intelecto, da Língua e

da conversação com um social que às vezes é familiar, às vezes não, o que favorece o exercício da alteridade. (LINSINGEN, 2008, p. 6)

É baseado nestes conceitos e nestes benefícios da literatura que nos propomos a

analisar os livros de literatura infantil do PNLD com o objetivo de identificar leituras que são

mais apropriadas para serem incorporadas às aulas de Ciências. Estas leituras inclusive dão

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margens para trabalhos interdisciplinares, o que alarga ainda mais as possibilidades na busca e

apropriação do conhecimento em várias áreas e disciplinas escolares.

Para que um ensino assim aconteça cabe o professor abandonar aulas de

exposição de narrativas visando à memorização de conceitos e, em seu lugar,

desenvolvendo situações de aprendizagens que promovam o questionamento, estimulem o debate, proponham investigações sem jamais

perder o foco central de perceber a ciência como uma construção histórica,

uma atitude interdisciplinar e um saber efetivamente prático. (SELBACH et al, 2010, p. 35).

Por isso, defendemos neste trabalho que a articulação da Literatura com o Ensino de

Ciências é possível, pois fomenta o conhecimento por parte das crianças, incita

questionamento e ajuda na compreensão de conceitos, além de desenvolver o domínio do

código escrito e ser um ato prazeroso que acrescenta bagagem cultural dos indivíduos.

2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

Para atingirmos o objetivo proposto em nossa pesquisa, de caráter qualitativo, optamos

pela análise de conteúdo temática. Para entendermos a análise de conteúdo temática,

precisamos compreende sua metodologia de origem, a análise de conteúdo, que visa

categorizar o objeto de pesquisa de maneira objetiva, relacionando discursos a fatores

externos a eles. Para Bardin (1995, p. 42), a análise de conteúdo pode ser entendida como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por

procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) destas mensagens.

Esta técnica de análise de dados propõe a sistematização dos conteúdos e sua

organização de maneira clara. Tal fato nos ajuda a refletir juntamente ao referencial teórico,

permitindo ao pesquisador e ao leitor uma visão melhor dos dados obtidos a fim de nos fazer

compreender e utilizar o que nos é apresentado. Como é colocado por Santos,

[...] a análise de conteúdo é uma leitura “profunda”, determinada pelas

condições oferecidas pelo sistema linguístico e objetiva a descoberta das relações existentes entre o conteúdo do discurso e os aspectos exteriores.

Ademais, a técnica permite a compreensão, a utilização e a aplicação a um

determinado conteúdo. (SANTOS, 2012, p. 387)

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Na análise de conteúdo temática podemos usar um pouco mais da subjetividade no que

se refere à interpretação dos dados por parte do pesquisador. Os dados não são totalmente

quantificados, mas compreendidos, interpretados e analisados quase de maneira intuitiva.

Também analisamos os dados observando o sentido do discurso presente no suporte

pesquisado, em nosso caso, os livros literários.

A pesquisa deste artigo foi desenvolvida a partir da análise dos livros de literatura

infantil indicados nos acervos complementares ao PNLD. Essa escolha se baseia na existência

destes acervos em todas as escolas públicas do país, onde muitos professores não tem sequer o

conhecimento de tais livros para livre uso em sala de aula.

Para que houvesse um trabalho mais disseminado com o uso de livros infantis nas

escolas do país, o MEC lançou em 2012 um programa de distribuição de livros denominado

“Acervos Complementares” para o período entre 2013 e 2015, que são livros infantis

paradidáticos complementares aos livros didáticos. Mas, essa foi apenas uma ação, já que

outros programas existem nas redes públicas de ensino, tais como: o PNBE (livros literários

para leitura e fruição), o PNLD (livros didáticos), e PNLD/Dicionários (dicionários atrativos

para crianças em fase de alfabetização).

De acordo com o documento “Acervos Complementares – Alfabetização e letramento

nas diferentes áreas do conhecimento”, que acompanha os acervos, as obras literárias foram

selecionadas de acordo com o currículo proposto na época, regido pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (BRASIL, 1997). Outro ponto destacado

nesse documento é que os livros, além de serem paradidáticos, teriam em si o caráter de

“livros de leitura” que circulam hoje para o deleite dos leitores.

Nossa opção foi por pesquisar apenas os livros dos Acervos Complementares, pelo seu

foco ser exatamente de complementar os conhecimentos dos livros didáticos e por serem

livros de literatura, como já foi explicitado anteriormente.

[...] os acervos não são chamados de complementares por acaso: sua função é a de oferecer a professores e alunos oportunidades de trabalho e vias de

acesso a conteúdos curriculares que as coleções didáticas ou contemplam ou

não, ou só os fazem esporádica e secundariamente. (BRASIL, 2012, p. 21).

Os Acervos Complementares contam com um total de 180 livros, sendo que destes,

não foram encontrados apenas 03 livros, “ABC dos animais”, “Que delícia de bolo” e “Tanta

água”. Portanto, foram lidos 177 livros um a um e estes foram submetidos a uma pré-análise

que buscava observar quais livros continham conteúdos de ciências. Após esta pré-análise

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começamos a análise da pesquisa em si, que foi baseada em dois pontos: adequação ao

currículo (conteúdos científicos) e adequação literária.

Para analisar a adequação do currículo, optamos por usar como ponto norteador a nova

Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pois apesar de o acervo ter sido escolhido com

base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) na época em que aconteceu, hoje é a

BNCC que está substituindo os PCNs. No segundo ponto de análise, sobre a adequação

literária, foram observadas a linguagem utilizada para explicação das temáticas, o projeto

gráfico e a qualidade temática.

3. ANÁLISE DOS LIVROS PARADIDÁTICOS

3.1. Blocos temáticos

Os livros foram separados por temas de acordo com a Base Nacional Comum

Curricular (BRASIL, 2012): Matéria e energia, Vida e evolução e Terra e Universo.

Apresentamos a seguir uma breve síntese de cada tema:

a) Matéria e energia: Compreende o estudo de fontes e tipos de energia, além de

materiais e suas transformações. Aqui encontramos as utilizações e processamentos de

recursos naturais e energéticos e como são utilizados na vida prática (relação de

Ciência, Tecnologia e Sociedade). Também são estudados os materiais e seus usos,

além de suas interações com elementos como som, eletricidade, calor, luz, etc. Dessa

forma “espera-se também que os alunos possam reconhecer a importância, por

exemplo, da água, em seus diferentes estados, para a agricultura, o clima, a

preservação do solo, a geração de energia elétrica, a qualidade do ar atmosférico e o

equilíbrio dos ecossistemas.”

b) Vida e evolução: Neste tema são propostos os estudos sobre os seres vivos, de

maneira geral, noções de cuidados com o corpo humano e a compreensão dos

processos evolutivos. Os conteúdos compreendem o estudo das características dos

ecossistemas (focando nas interações dos seres vivos entre si e com outros fatores não

vivos). Ainda sobre os ecossistemas, pretende-se demonstrar a importância da

preservação da biodiversidade e como podemos ter iniciativas individuais e coletivas a

respeito disso, para que assim vivamos em um mundo sustentável, bem como mostrar

sua distribuição nos ecossistemas brasileiros. Outros assuntos abordados são os

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referentes aos cuidados com o corpo (hábitos de higiene) e respeito à diversidade

étnico-cultural, em relação à inclusão de alunos da educação especial.

c) Terra e Universo: Neste tema busca-se trazer uma compreensão, juntamente com

as características, localizações, movimentos e forças da Terra, da Lua, do Sol e de

outros corpos presentes no Universo. O foco é que o estudo seja feito mais

amplamente sobre as áreas habitadas por seres humanos e sobre sua observação e

dessa forma mostrar a importância de cada elemento para a vida na Terra. Dessa

maneira também são estudados conteúdos como efeito estufa, camada de ozônio,

terremotos, vulcões, tsunamis, aquecimento global, clima, entre outros, para que assim

haja maior conhecimento por parte das crianças quanto aos fenômenos naturais,

catástrofes ambientais e outros elementos que cercam a vida humana, como por

exemplo, o clima e as estações.

Para realizar esta análise e, posteriormente, distribuir os dados em quadros, analisamos

o assunto principal do livro, ou seja, qual era o conteúdo de Ciências mais focado no livro,

pois muitos livros contêm em si conteúdos escolares das Ciências da Natureza e de outras

áreas de conhecimento.

3.2. Análise literária

Na análise literária observamos três aspectos: projeto gráfico, qualidade temática e

aproximações dos textos com os conteúdos de Ciências. O projeto gráfico se refere às

ilustrações/fotografias presentes nos livros, além de seu design e tipos de fonte utilizadas. As

fontes com letra maiores e menos detalhadas favorecem a leitura autônoma do leitor iniciante,

leitores esses em fase de alfabetização, sendo eles o público alvo dos livros aqui analisados.

As imagens que o livro contém nos ajudam a fazer a leitura do texto, nos situando e

colaborando com o entendimento do leitor.

A ilustração infantil, em particular, aquela que consideramos de qualidade,

conjuga o potencial persuasivo das imagens com a fluidez da narratividade

do texto literário. Deverá ser tão poético quanto sensível, pois se trata de texto destinado às crianças. (CHARRÉU. 2012, p. 02)

A qualidade temática diz respeito ao tipo de livro, se é apenas paradidático ou se

também pode ser considerado literário. Podemos compreender um livro literário como uma

obra,

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[...] de caráter ficcional, conforme já referido, enunciado pelo autor com um

alto grau de originalidade, atendendo à necessidade de propiciar efeitos estéticos capazes de causar um certo estranhamento. Garante espaço para

abrigar relações com outros textos (dimensão intertextual), pressupondo uma

recepção sensível por parte do leitor, com a competência para identificar os recursos empregados, comunicá-los e valorizar, assim, o texto produzido

numa perspectiva bastante criativa. (TAVARES E RÖSING. 2017, p.118)

Para compreendermos o objetivo do livro paradidático recorreremos ao conceito

exposto por Tavares e Rösing:

[...] os livros paradidáticos, são publicações criadas para conscientizar crianças na escola sobre cuidados com um determinado tema, com o meio

ambiente, alvo deste estudo. [...] São destinados ao aprofundamento

conceitual de determinada/o questão/conteúdo, extremamente úteis à

formação da criança enquanto qualificação de suas práticas sociais atuais e futuras. Diferentemente dos textos literários, apresentam temas de interesse

de curto prazo, como é o caso do combate ao mosquito da dengue. As

narrativas, produzidas por seus autores e ilustradas por artistas plásticos e/ou designers gráficos, apresentam o uso de recursos ficcionais e ilustrações para

conscientizar os leitores acerca de problemas emergentes. [...] Não se

referem, nesta perspectiva, às possibilidades de ampliação do imaginário do leitor, nem às possibilidades de experimentação estética oferecidas pelo

envolvimento dos pequenos leitores com textos literários. (TAVARES e

RÖSING. 2017, p.123)

Em nossa pesquisa vimos claramente que há diferenças entre os dois tipos de leituras,

porém defendemos aqui que pode haver uma união entre esses aspectos, fazendo dos livros

literários boas fontes de informação para além das histórias, principalmente no que diz

respeito aos conteúdos de Ciências presentes neles.

No que diz respeito às aproximações dos textos com os conteúdos analisamos a

adequação da temática de Ciências ao público alvo, pois como já discutimos anteriormente,

estes livros devem dar margens às discussões dos temas, explicá-los de maneira

compreensível, para assim contribuir com a Alfabetização Cientifica dos estudantes, e

possuírem um contexto narrativo coerente com uma história que faça sentido, contendo os

devidos elementos que lhes são característicos, como enredo e narrador.

Portanto, observamos os pontos considerados potenciais e limitadores dos livros que

compõem o acervo, afinal, os livros deveriam não apenas trazer informações, sendo apenas

um complemento aos livros didáticos, mas devem possuir as características citadas para

prender a atenção do leitor, instigando-o a buscar por mais conhecimento científico, fazendo-

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o entender os conceitos de Ciências, divertindo-o, contribuindo para sua formação como leitor

e dando-lhe o prazer da leitura.

3.3. Análise dos dados

Pudemos classificar apenas 41 dos 177 livros lidos do acervo como possuidores de

conteúdos de Ciências. Estes 41 livros foram classificados em temáticas, sendo assim

classificamos 27 livros no tema Vida e Evolução, 08 no tema Matéria e Energia e 06 no

tema Terra e Universo. A análise literária é apresentada de forma sucinta nos quadros a

seguir, nos quais destacamos características que julgamos necessárias e marcantes dos livros,

indicando ao leitor como os conceitos científicos foram tratados ao longo dos textos.

Quadro 01 – Análise dos livros pertencentes ao tema Matéria e energia.

TÍTULO CONCEITOS CIENTÍFICOS COMENTÁRIOS LITERÁRIOS

Ar – Pra que

serve o ar?

- Ar. O texto é poético e traz as diversas funções do ar

para manter a vida humana (no sentido biológico

e psicológico).

Não afunde no

lixo!

- Reciclagem de materiais. O livro narra a história de Zeca, que junto a seus

amigos resolve contribuir para a preservação do

planeta incentivando a reciclagem dos materiais.

O silencioso

mundo de Flor

- Som e vibração.

- Inclusão (pessoa surda).

Apesar de o livro tratar da surdez da personagem

Flor, vemos um foco maior na descoberta do

som e da vibração e na explicação deste

conceito.

Pato! Coelho! - Ilusão de ótica. A história narra duas crianças conversando

acerca do que estão vendo nas nuvens e como a

perspectiva de cada um é diferente. O conceito

científico não aparece de maneira explícita.

Se o lixo

falasse...

- Reciclagem e exploração de

recursos naturais.

O livro traz uma narrativa bem extensa e

dividida em partes, porém é muito coerente e

clara em seu objetivo.

Sombra - Luz e sombra. Esta narrativa foi feita por imagem e nos

permite ver a relação entre luz e sombra na

brincadeira feita pela personagem. O conceito

científico não aparece de maneira explícita.

Uma tarde do

barulho

- Som. O livro contém uma narrativa e uma explicação

sobre como surgem os barulhos que rondam a

história.

Viagens de um

pãozinho

- Substâncias e misturas. A obra narra o processo de fabricação de um

pão, desde a colheita de seus ingredientes até a

mistura e cozimento mostrando de forma

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discreta o processo químico envolvido.

Fonte: dados da pesquisa.

Quadro 02 – Análise dos livros pertencentes ao tema Vida e evolução.

TÍTULO CONCEITOS CIENTÍFICOS COMENTÁRIOS LITERÁRIOS

A abelha - Ecologia.

- Abelhas (anatomia, ciclo,

interações, importância e

fabricação de alimento).

Este livro não se difere muito de um livro

didático, ele informa sobre as abelhas sem

conter uma história, além de não ter ilustrações,

mas sim imagens reais.

A baleia - Ecologia.

- Baleias (ciclo de vida e

interações, características

anatômicas).

A baleia que narra a história vai dando

informações durante o livro sobre sua espécie

em vários aspectos.

Águas - Ecossistemas e diversidade.

- Ciclo da água.

A narrativa poética e as ilustrações que

completam o texto nos fazem perceber a

trajetória das águas e sua relação com a vida e

diversidade dos animais.

A quarta-feira de

Jonas

- Preservação da fauna. O texto nos conta uma história que envolve

amor por golfinhos e preservação de espécies

aquáticas. O livro é feito em papel reciclado,

reforçando sua mensagem.

Balas, bombons,

caramelos

- Cuidados com a saúde.

- Ecologia.

O livro nos conta a história de Pipo e seus

amigos (onde vemos a diversidade de animais na

região do Rio Nilo). O foco da narrativa é

mostrar como o consumo exagerado de

guloseimas pode afetar sua saúde gerando

doenças diversas.

Dudu e a tagarela

Bac

- Micro-organismos

(bactérias)

Este livro conta com uma narrativa mais longa e

muito informativa. De maneira dinâmica e

didática o autor propõe uma viagem ao “mini

mundo” dos micro-organismos.

Dudu e o

professor

Aspergildo

- Micro-organismos (fungos)

- Tecnologia

O tema do livro é tratado da mesma forma que

em “Dudu e a tagarela Bac”, afinal os livros

pertencem a uma mesma sequência, onde uma

história dá continuidade à outra.

Em busca da

meleca perdida

- Anatomia (órgãos

envolvidos no processo de

formação de mucos).

- Processo respiratório.

- Higiene e doenças.

Apesar de não haver uma narrativa e ser um

livro apenas informativo vemos uma coerência

entre as informações passadas e a presença de

uma temática no projeto gráfico do livro. As

informações são bem extensas, porém muito

bem explicadas e de fácil entendimento pelos

pequenos leitores.

Era uma vez uma

gota de chuva

- Ciclo da água e sua

preservação.

No livro, a partir de uma gotinha, duas crianças

começam a ter curiosidade sobre a água. Apesar

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do livro se iniciar com um questionamento de

duas crianças (que aparecem a todo tempo nas

ilustrações), não há uma narrativa.

Essa não é minha

cauda

- Ecologia.

- Anatomia.

O livro traz uma narrativa divertida que mostra o

aparecimento da cauda e sua função em

diferentes espécies de animais.

História de

Dentinho

- Saúde bucal. O dente de Nina, que ficou doente, conta como

foi este fato, como foi tratado e como devemos

agir para evitar problemas em nossa boca.

Matar sapo dá

azar

- Ecossistema e

desequilíbrio.

A narrativa mostra como a matança de uma

espécie pode causar o desequilíbrio de um

ecossistema. Além disso, o livro mostra essa

temática partindo de uma afirmativa de senso

comum: “matar sapo dá azar”.

Meu primeiro

livro dos cinco sentidos

- Anatomia (órgãos dos

sentidos).

O livro traz informações e ilustrações sobre os

órgãos dos sentidos e não propõe uma história.

Minha família é

colorida

- Genética. Nesta obra há uma história sobre diferenças em

família (de cabelo, cor da pele e etc.), tendo no

fim do livro uma explicação mais detalhada do

conceito científico.

O mundinho azul - Características da água,

ciclo, preservação e sua

importância para a vida no

planeta Terra.

Possui uma narrativa simples e coerente com

letras grandes facilitando a leitura. O tema da

água é mostrado de forma a fazer o leitor

compreender sua importância para a vida na

Terra.

O que Ana sabe

sobre...

Alimentos

saudáveis

- Alimentação saudável

(nutrição) e higiene

alimentar.

Apesar de trazer Ana como narradora, o livro

não se prende a uma história, focando mais nas

informações que traz.

Pingo d’água - Ciclo da água e problemas

ambientais.

Tanto o texto poético quanto o projeto gráfico

do livro (ilustrações e letras grandes) permitem

ao leitor iniciante uma compreensão mais clara

do ciclo da água e os problemas ambientais

ligados a isto.

Pinga, pingo,

pingado

- Preservação e consumo da

água.

O texto é bem poético e não trata do assunto

diretamente, o tema aparece de forma subjetiva

no texto e nas ilustrações. O livro mostra a

importância do homem na preservação da água.

Plantando as

árvores do

Quênia: A

história de

Wangari Maathai

- Botânica e preservação da

flora.

Esta biografia mostra como uma mulher

conseguiu convencer seu povo a cooperar e

trabalhar para a reposição da flora local e como

isso impactou na natureza e na vida das pessoas.

Por que os

gêmeos são tão

- Genética e biotecnologia. A obra trata do tema científico a partir das

confusões ocorridas pela semelhança de dois

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iguais? irmãos gêmeos. A mãe dos meninos é médica e

explica todo o processo que ocorre para que o

fenômeno aconteça e também explica questões

sobre o uso de tecnologia para clonagem.

Por que somos de

cores diferentes?

- Genética e substâncias. Este livro traz o questionamento de algumas

crianças sobre o porquê de termos cores

diferentes. Durante um passeio eles terão sua

resposta explicada cientificamente mas com uma

linguagem de fácil entendimento.

Quem é Glória? - Inclusão (deficiência

física).

O livro traz o tema de maneira inteligente

narrando a vida de Glória sem revelar sua

deficiência (só é dito em determinado

momento), o que mostra a normalidade de sua

vida apesar de certas limitações físicas.

Quem é o centro

do mundo?

- Cadeia alimentar.

- Exploração.

A narrativa de fácil leitura foca inicialmente na

cadeia alimentar de maneira bem explicita, até

que surge o homem e começa uma reflexão com

o leitor sobre a exploração da natureza e suas

consequências.

Rimas saborosas - Nutrição. O livro de poesias rimadas fala sobre os

alimentos saudáveis e suas propriedades. No fim

do livro existem também algumas receitas

utilizando esses alimentos.

Rubens, o

semeador

- Botânica. A biografia de Rubens traz em si a importância

do plantio de árvores e as ilustrações

demonstram a diversidade de espécies e partes

de uma árvore.

Sabores da

América

- Nutrição e misturas. Sabores da América é um livro de informações

sobre alimentos produzidos na América e

também um livro de receitas com bonitas

ilustrações.

Um por todos e

todos por um: a

vida em grupo

dos mamíferos

- Animais sociais

(mamíferos).

- Biomas brasileiros.

Não há uma história no livro, apenas

informações sobre os biomas brasileiros e os

animais, com bastante texto e ilustrações.

Fonte: dados da pesquisa.

Quadro 03 – Análise dos livros pertencentes ao tema Terra e universo.

TÍTULO CONCEITOS CIENTÍFICOS COMENTÁRIOS LITERÁRIOS

A poluição tem

solução

- Poluição e preservação. O livro possui uma narrativa que permite ao

leitor entender a poluição (ambiental e sonora) e

como nossas atitudes podem mudar esse quadro,

assim como acontece com o personagem.

Estrelas e - Sistema solar (localizações, Este livro não possui uma história, contém

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planetas movimentos e constelações).

- Tecnologia (telescópio e

foguete).

apenas informações diversas sobre o universo e

ilustrações.

O caminho do rio - Componentes do rio e ciclo

da água.

O livro traz em seu texto, que é bem coerente, a

trajetória de um rio desde seu nascimento até

chegar ao mar focando em mostrar sua trajetória

geográfica.

O ônibus mágico:

no interior da

Terra

- Planeta Terra.

- Composição dos solos.

A história sobre a viagem de uma turma com sua

professora ao centro da Terra é fictícia porém

nos traz muitas informações sobre as camadas da

Terra e os tipos de solo. Achei um pouco confuso o modo como os conteúdos são

distribuídos, pois todas as páginas são

preenchidas de informações, seja no texto ou nas ilustrações.

Tudo por causa

do pum?

- Aquecimento global. Esta divertida narrativa conta a história da

revolta das vacas cansadas de serem acusadas

pelo aquecimento global. No texto as vacas

falam o real motivo do aquecimento global de

maneira didática.

Uma viagem ao

espaço

- Astronomia e tecnologias. O livro mistura a realidade com a imaginação,

fotos reais com ilustrações, quadrinhos e textos

informativos, conceitos de astronomia e

matemática. Por esse motivo consideramos a

leitura confusa e a narrativa desconexa.

Fonte: dados da pesquisa.

Verificamos que temas relacionados à preservação do meio ambiente (água, solo, ar,

fauna e flora) foram os que mais apareceram nas histórias e, na maioria das vezes, incitando a

reflexão do leitor, fazendo-o perceber que ele pode ser um individuo importante na

preservação de nosso planeta, trazendo sugestões do que pode ser feito para evitar a poluição

e os problemas ambientais.

Classificamos os livros, “Em busca da meleca perdida”, “O que Ana sabe sobre...

Alimentos saudáveis”, “Era uma vez uma gota de chuva” e “Meu primeiro livro dos cinco

sentidos” apenas como paradidático porque apesar de haver uma contextualização, não há

uma narrativa em si e os personagens apresentados não possuem uma história, apenas

apresentam informações. Já os livros “A abelha”, “Um por todos e todos por um: a vida em

grupo dos mamíferos” e “Estrelas e planetas” foram classificados como paradidáticos por não

possuírem nenhum elemento que os ligue a uma narrativa. Estes livros são apenas

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informativos e no caso de “A abelha” e “Estrelas e planeta” a semelhança com livros

didáticos é perceptível.

Os outros livros não citados como paradidáticos foram entendidos como literários e

estão dentro dos critérios de análise da pesquisa. Fazemos apenas algumas observações para

os livros “Sombra”, “Pato! Coelho!” e “Uma viagem ao espaço”. No caso de “Sombra” e

“Pato! Coelho!” os conceitos científicos não são explicados, apenas vemos as manifestações

dos fenômenos naturais. Entretanto, julgamos esses livros adequados, pois tratam de conceitos

de física que geralmente não seriam trabalhados na escola com crianças da idade aos quais os

livros se destinam. Assim, estes livros apenas dão margens para discussões e explicações

feitas pelo professor. O livro “Uma viagem ao espaço” também aparece em destaque, pois

mistura muitos conceitos de áreas diferentes, tipos de imagens diferentes e tipos textuais

diferentes, o que pode desanimar o leitor iniciante ou confundi-lo.

Destacamos também que a maioria dos livros aqui listados abordam temas

transversais, que são temas para além dos conteúdos escolares. Estes temas são: trabalho,

cooperação, amizade, atitudes relacionadas à formação e atuação cidadã, respeito às

diferenças e inclusão. Ou seja, estes temas trazem discussões sobre a vida em sociedade e

sobre a atuação dos indivíduos visando à convivência respeitosa entre todos.

De maneira geral, os livros possuem uma linguagem de fácil entendimento

colaborando com a leitura autônoma das crianças na fase de alfabetização. Os livros vêm

carregados de uma linguagem científica, porém essa linguagem aparece voltada para o

universo infantil colaborando com seu entendimento. Os conceitos científicos são explicados

de forma didática de modo a aguçar a curiosidade do leitor, fazendo com que as crianças os

relacionem aos problemas da sociedade e os fazendo problematizar situações reais (na maior

parte dos livros) e assim podendo refletir de modo a produzirem novas atitudes que colaborem

com o mundo em que vivemos.

Esta proposta que aparece nos livros mostra a relação existente entre sociedade e

Ciência e, desta maneira, está extremamente ligada à Alfabetização Científica e a formação

dos futuros cidadãos. Afinal, como já vimos anteriormente, a Alfabetização Científica deve

articular as relações entre Ciência e sociedade, bem como trazer o entendimento dos conceitos

científicos, preparando os futuros cidadãos, para que possam participar da sociedade e

transformar suas atitudes com relação ao meio ambiente.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pudemos notar, ao decorrer desta pesquisa, que existem 41 livros do PNLD - Acervos

Complementares com conteúdos de Ciências e que são muito interessantes para o uso em sala

de aula. A maioria dos livros analisados propõe reflexões ao leitor, os ensinam conceitos de

maneira didática, contribui para sua formação como leitor, como cidadão participativo e

também favorece o desenvolvimento da Alfabetização Científica.

Consideramos que este trabalho pode fornecer aos professores um novo leque de

materiais didáticos interessantes para as crianças e com alto cunho pedagógico. Queremos

trazer estes livros e seus temas ao conhecimento dos professores do ensino fundamental,

mostrando que existem essas ferramentas diferenciadas, de maneira sistematizada e prática

para a consulta destes educadores.

Quando a boa literatura se une a conceitos científicos bem estabelecidos, vemos as

potencialidades do ensino de Ciências e da literatura trabalhando juntas, cooperando para que

as situações de ensino-aprendizagem sejam cada vez mais enriquecedoras.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995.

CHARRÉU, Leonardo. Arte visual contemporânea, ilustração e literatura para a

infância: fazendo conexões entre mundos criativos. Revista Digital do LAV. 2012, vol. 5, n.

9, pp. 1-20.

CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social.

Revista Brasileira de Educação. 2003, n.22, pp.89-100.

LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV, Demétrio. Alfabetização Científica no Contexto

das Séries Iniciais. Ensaio. Pesquisa em Educação em Ciências, Belo Horizonte, v. 03, n.

V.3, p. 37-50, 2001.

ROMANATTO, Mauro Carlos; VIVEIRO, Alessandra Aparecida. Alfabetização Científica:

um direito de aprendizagem. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação

Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa. Ciências da Natureza no Ciclo de Alfabetização. Caderno 08. Brasília: MEC,

SEB, 2015.

SANTOS, Fernanda Marsaro dos. Análise de conteúdo: a visão de Lawrence Bardin. Resenha

de [BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229 p.] Revista

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Eletrônica de Educação. São Carlos, SP: UFSCar, v. 6, no. 1, p. 383-387, mai. 2012.

Disponivel em HTTP://www.reveduc.ufscar.br.

TAVARES, Mayara Corrêa; ROSÏNG, Tânia M. Kuchenbecker. Do literário ao

paradidático: textos para crianças em meio a crises ambientais. Textura, Canoas, v. 19, n.

39, p. 112-133, jan./abr. 2017.