PUC a Fé Em Grandes Cientista Da Fé Cristã

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FÉ RELIGIÃO E CIÊNCIA PÓS MODENA

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PUCR 1 ORotorPe. Jesus Hortal Snchez SJVice-ReitorPe.Josaf Carlos deSiqueiraSJVice-Reitor para Assuntos AcadmicosProf. Jos RicardoBergmannVice-Reitor para Assuntos Administrates Prof. Luiz Carlos Scavarda do CarmoVice-Reitor para Assuntos ComunitriosProf. Augusto Luiz Duarte Lopes SampaioVice-Reitor para Assuntos de DesenvolvimentoPe. Francisco IvernSimSJDecanosProf Maria Clara Lucchetti Bingemer (CTCH) Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS) Prof. Reinaldo Calixto de Campos (CTC) Prof. Hilton Augusto Koch (CCBM)

A F EM DEUS DE GRANDES CIENTISTASPe. Pedro Magalhes Guimares Ferreira SJ Digitalizado por: jolosa"

Ferreira, Pedro Magalhes GuimaresA f em Deus de grandes cientistas / Pe. Pedro Magalhes Guimares Ferreira. - Rio de Janeiro : PUC-Rio ; So Paulo : Ed. Loyola, 2009.310 p.; 21 cmIncluibibliografia1. Religio e cincia. 2. F e razo. 3. Cientistas - Biografia. III. Ttulo.CDD: 201.65Conselho Editorial PUC-Rio: Augusto Sampaio,Cesar Romero Jacob,Fernando S,JosRicardoBergmann,Luiz Roberto Cunha,Maria Clara Lucchetti Bingemer,Miguel PereiraeReinaldo Calixto de Campos.FotodeCapa:NASADiagramacao: Jos Antonio de OliveiraRevisodeprovas: Dbora FleckEditora PUC-RioRua Marqus de S. Vicente, 255 - Projeto ComunicarPraa Alceu Amoroso Lima, casa Editora22453-900 Rio de Janeiro, RJT/F 55 21 3527 1760/55 21 3527 [email protected]/editorapucrioEdicoes LoyolaRua 1822,347 - Ipiranga04216-000 So Paulo, SPT55 11 2914 1922F 55 11 2063 4275editorialloyola.com.brvendas@loyola.com.brwww.loyola.com.brTodos os direius reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou trammitida por qualquer forma e/ou quaisquer mews (eletromco ou mecdmco, inclumdo fotocpia e gravacao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Editora.ISBN 978-85-I5-O365I-6 Ediqoes Loyola, So Paulo, Brasil, 2009isbn 978-85-87926-58-6 Editora PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 20093aedi?ao:fevereirode2010

A Deus, com meu amor e minha adoracao.memriade:meus pais, Jos Luize Sarah,meu irmo Alfredo eminha irm Thereza e meu cunhado Francisco. PUC-Rio, pelo seu compromisso com a verdade, no empenho pela excelnciaacadmica.Ao Grupo Pe. Leonel Franca, principal inspirador deste texto nas nossas reuniessemanais.CompanhiadeJesus.

SumrioNotucao10Introduce11Nlimeros preocupantes para quem tem f? Ou pelo contrrio?15Cientistas ilustres com f em Deus19Coprnico19Clavius20Napier21Galileo24Marin Mersenne28Kepler29Girard32Descartes33Roberval35Grimaldi36Pascal37Boyle41Huygens44Barrow47Hooke49Newton 51Leibniz55Halley58DeMoivre60Saccheri63Bernoulli63Riccati66Maupertuis66Vincenzo Riccati69Euler70Coulomb73Laplace76Dalton80Fourier84Biot86Ampre87Gauss88Brewster90Bolzano93

Fresnel96Cauchy99Faraday101Babbage105Herschel108Henry112Abel114Sturm 116Jacobi117De Morgan119LeVerrier121Boole123Joule 126Fizeau129Foucaull130Stokes.132John Couch Adams135Hermite137Kronecker139Kelvin140Riemann143Maxwell 147Gibbs149Rayleigh151Cantor153J. J. Thomson155Hertz156Planck 158Pierre Duhem.-.162Roberto Landell de Moura165Whitehead170Bragg178Millikan 180Marconi183James Jeans186Einstein188Eddington199Victor Hess204Schrdinger206210Compton

Morse214Lemaitre216Milne217Isidor Isaac Rabi219Pauli 222Heisenberg225Margenau232Von Neumann233NevillMott236Gdel238Charles Townes251Arthur Schawlow254Freeman Dyson256Anthony Hewish259AbdusSaiam261JohnPolkinghorne264ArnoPenzias269Donald Knuth273Joseph H. Taylor, Jr.275Stephen Hawking277Isham283William D. Phillips285Referncias291fndice dos cientistas em ordem alfabtica307

Notacao: Usarei [ ] - entre colchetes - para indicar as referncias bibliogrficas 1 no final da obra; para enumerar essas referncias ao lado do nome do cientista pelo qual ele mais conhecido; e para acrscimo de palavra(s) a frases citadas para torn-las mais claras. Usarei [...] - reticncias entre colchetes - para indicar a omisso de parte de frase citada. Usarei {{}} - entre chaves dobradas -para minhas observances e reflexes pessoais sobre os cientistas. As referncias ao lado dos nomes dos cientistas dizem respeito principalmente vida do cientista, sendo que ao longo do respectivo texto aparecem s vezes outras, principalmente as cita96es de seu pensamento a respeito de Deus e religio. Quando se remete a outro cientista do livro, isto indicado com () aps o nome.

IntroducoEste trabalho no pretende abordar a questo da f dos cientistas em todos seus aspectos, longe disto. Pretende apresentar biografias, algumas mais breves, outras mais longas, dependendo da importncia do cientista, dos seus ditos sobre o tenia que abordo e da facilidade de acessar os dados biogrficos deles. Boa parte das biografias tern citacoes sobre o que pensa-vam sobre a f. Todos, ou quase todos, os cientistas neste livro foram/so de primeira classe, alguns deles ainda vivos. Limitei-me aos matemticos e fsicos porque conheo estas cincias (bem) melhor que as outras, ou se-ria mais apropriado dizer que as conheo (bem) menos mal que as outras. Em vrios casos me estendi mais pelo que o cientista tern de interessante na sua biografia, no necessariamente pelo seu testemunho de f ou reli-giosidade. H excentricidades na vida de muitos dos gnios, o que torna suas biografias interessantes e, muitas vezes, pitorescas.A Matemtica tem uma posio destacada nos tempos atuais, pois na linguagem dela que se exprimem a Fsica e vrias Cincias de En-genharia, como, por exemplo, Informtica, Telecomunicacoes e Ro-btica e, cada vez mais, a Qumica, a Economia, as Finanas e vrios ramos da Biologia, mas tambm, de modo ainda bem mais limitado, as Cincias Humanas.Quanto Fsica, ela a mais matematizada das cincias da natureza. Na realidade, os fsicos tern sido corresponsveis pela solucao de vrios problemas matemticos, na medida em que formulam - e na maioria das vezes resolvem, sozinhos - os problemas. (Em matemtica, muitas vezes o mais importante formular com preciso urn problema.)E o mesmo tem acontecido de forma cada vez mais forte com rela-cao s Cincias de Engenharia e em outras. O que me motivou a escre-ver estas pginas, alm do que foi dito ao incio, que muitas pessoas acham que a cincia provou que Deus no existe. Vejam, no entanto, o que escreveu Schrdinger, um dos grandes da Mecnica Quntica:Eu fico impressionado como a realidade descrita pela cincia defi-ciente. A cincia nos d um conjunto enorme de informacoes factuais e coloca toda nossa experincia numa ordem magnfica, mas [...] no nos pode dizer uma palavra sobre o vermelho e o azul, amargo ou doce, dor fsica e prazer, belo ou feio, Deus e eternidade. A cincia s vezes pretende nos oferecer respostas nestes domnios, mas elas so muito frequentemente to estpidas que eu no posso lev-las a srio ([403] citado em [39]).

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A f em Deus de grandes cientistasComo veremos, no somente alguns, mas possivelmente a maio-ria dos grandes matemticos e fsicos acreditaram/acreditam num Ser supremo, independente do universo. De acordo com [146], ci-tadoem[39]:Referncias a Deus continuaram na literatura cientfica at meados dos anos 1800. Parece que a ausncia de referncias religio depois des-ta poca foi devido mais a uma mudana em convencoes sociais entre cientistas do que a uma mudana no modo de pensar. Efetivamente, ao contrrio de um mito popular, os cientistas parecem ter a mesma gama de atitudes sobre assuntos religiosos como a maioria das pessoas.Opinio abalizada de Max Jammer: Com o aparecimento do livro de William Paley, Natural Theology, (Londres: Faulder, 1802), a ideia de que o estudo da natureza e da fsica, em particular, revela um mundo que manifesta uma inteligncia divina, ganhou uma grande audincia, o que continua at hoje ([17], p.158). E algum no menor que um Einstein disse, entre muitas outras afirmacoes, e at mais enfticas, como veremos mais adiante:Se se tern uma ideia adequada da cincia e da religio, ento um confli-to entre elas parece impossvel. Porque a cincia se ocupa somente do que , mas no do que deveria ser [...]. A Religio, pelo contrrio, trata somente da avaliacao dos pensamentos e atos humanos, e no pode, de modo razovel, falar sobre fatos e relacoes entre eles. De acordo com esta interpretacao, os bem conhecidos conflitos entre cincia e religio nopassado devem ser atribudos a mal-entendidos... ([181], apud [121], pg. 45).O fsico de partculas Jeremy Bernstein escreveu: Se eu fosse um mstico oriental, a ltima coisa do mundo que eu desejaria seria uma reconciliacao com a cincia moderna [porque] ligar uma nlosofia reli-giosa a uma cincia contempornea um caminho seguro para a obso-lescncia. O misticismo genuno perfeitamente capaz de oferecer a sua prpria justificacao, sua prpria evidncia, suas prprias afirma96es e suas prprias provas. ([145], prefcio, pp.ix, x).A fsica moderna tern sido usada para apoiar e refutar o determinis-mo, o livre arbtrio, Deus, esprito, imortalidade, predestinacao, budis-mo, hinduismo, cristianismo e taosmo. ([145], Introducao, p.3). Estes fsicos tericos [Einstein, Schrdinger, Heisenberg, Bohr, Eddington,

Introdu^aoPauli, de Broglie, Jeans e Planck] so praticamente unnimes ao decla-rar que a fsica moderna no oferece qualquer apoio para o misticismo ou transcendentalismo de qualquer tipo. E, no entanto, todos eles foram msticos de uma maneira ou outra. ([145], introducao, p.5).Tendo feito as suas descobertas mais importantes nas duas primei-ras dcadas do sculo XX, Einstein tornou-se uma celebridade e era convidado a dar palestras em toda a parte e sobre os mais variados as-suntos. Sobre isso, disse Friedrich Diirrenmatt ([18], apud [16]): Einstein falava sobre Deus to frequentemente que para mim ele parecia urn telogo disfarado (Einstein pflegte so oft von Gott zu sprechen, dass ich beinahe vermute, er sei ein verkappter Theologe gewesen).Este texto se apresenta urn pouco como uma enciclopdia sobre o tema. Mas, mesmo uma leitura superficial verificar que est longe de s-lo: em primeiro lugar, porque no de forma alguma exaustivo, ficando de fora, certamente, iniimeros matemticos e fsicos com crena religiosa, a maioria deles, possivelmente, no tendo se pronunciado pu-blicamente sobre o tema. Uma segunda diferena, bem mais superficial, que a ordem no alfabtica, e sim cronolgica, o que permite apre-ciar, numa leitura completa, a evolucao das duas cincias nos ltimos cincosculos.Mas, alm do ndice cronolgico, apresentado tambm um ndice alfabtico, apropriado para consultas. O objetivo principal deste livro mostrar a crena em Deus e a religiosidade de vrios dos maiores matemticos e fsicos. Mas isto torna inevitvel uma breve biografia de cada um, tanto mais que todos eles foram personalidades interessantssimas. Veja-se esta frase, que revela uma humildade profunda daquele que ter sido o maior fsico de todos os tempos, Einstein:O culto de indivduos , na minha opinio, injustificvel [....] a natu-reza distribui seus dons de maneira desigual entre seus filhos. Mas h um grande niimero de pessoas bem dotadas, graas a Deus, e eu estou convencido de que a maioria deles vive tranquilamente [...]. Considero pouco justo, e mesmo de mau gosto, selecionar uns poucos que recebem uma admiracao sem medida, atribuindo-se poderes sobre-humanos a eles. Este tern sido meu destino e o contraste entre o prestgio popular e a realidade simplesmente grotesco ([122], apud [121], p.4).O presente texto se restringir matemtica e fsica modernas, mais concretamente, comeando com Coprnico. A contributo dos antigos matemtica, comeando com a Escola de Pitgoras j no s-

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A f em Deus de grandes cientistasculo VIII A.C., notvel; mas no que concerne fsica, ela s come-a, de fato, na Idade Moderna, ao se fazer a abstract de variveis de difcil mensuracao e estabelecendo modelos matemticos, que tern evoludo gradualmente, numa compreenso cada vez melhor do Uni-verso em que vivemos. Na relao de cientistas que se segue, h alguns poucos em que se fica sem certeza sobre suas crenas, a palavra Deus podendo ser usada de modo quase leve, sem compromissos maiores. claro que os nomes apresentados esto longe da totalidade, como j observado acima. H urn site - Scientists of Christian Faith [219] -com uma grande relacao de cientistas cristos. Engloba todas as cin-cias, mas nem todos so estrelas de primeira grandeza. Neste trabalho, pelo contrrio, somente (ou quase somente, sempre haveria diferentes opinies quanto a isso) so apresentados aqueles que tiveram grande destaque nas respectivas cincias.

Nmeros preocupantes para quern tern f? Ou pelo contrrio?Em 1916 o cientista social James Leuba [1] fez uma pesquisa junto a mil cientistas nos Estados Unidos, escolhidos aleatoriamente no livro American Men and Women of Science. Perguntou aos cientistas se eles acreditavam na existncia de urn Deus que atendesse s nossas oracoes; alm disso, foi-lhes questionado se acreditavam em vida aps a morte. O resultado da pesquisa foi que cerca de 40% responderam afirmativa-mente, o que chocou a opinio piiblica de ento. Pensava-se que seria muitomais.Em 1996, Larson & Witham [2] replicaram a pesquisa, utilizando o mesmo mimero de cientistas escolhidos aleatoriamente; o resultado foi surpreendente para a maioria das pessoas, mas agora no sentido inverso: cerca de 40% afirmaram que acreditavam, 45% no acreditavam, e 15% se declararam em diivida; ou seja - e esta foi a surpresa para muitos, talvez para a maioria -, apesar do enorme progresso cientfico durante os 80 anos que antecederam a pesquisa, no houve reducao no nmero de cientistas de valor que acreditam num Deus pessoal e na vida aps a morte. (Deus pessoal aquele que atende s nossas oracoes.)Mais recentemente foi realizada uma pesquisa junto aos membros da National Academy of Sciences, dos Estados Unidos [3], que obvia-mente uma nata da cincia mundial. O resultado surpreendeu de novo no sentido oposto ao anterior: somente 7% responderam que acreditavam num Deus pessoal e 7,9% acreditavam em vida aps a morte.Porm, a National Academy of Sciences (NAS) composta de 2.100 membros e a pergunta foi feita a 517 membros, dos quais apenas a meta-de respondeu. Portanto, a partir dos dados da refernda [3] - no tendo eu encontrado outra fonte que esclarecesse melhor -, esta pesquisa no permite concluir muita coisa: tanto pelo critrio na escolha dos 517, como pelo pequeno nmero de respostas. Imagino que, para muitos cientistas, a f religiosa algo estritamente pessoal, preferindo no se manifestararespeito.A propsito dessas pesquisas, creio que nenhuma delas satisfat-ria, pois seria necessrio distinguir: i) crena ou descrena em Deus; ii) crena ou descrena num Deus pessoal para os que creem em Deus; iii) crena em vida aps a morte; iv) agnosticismo, que a posicao daqueles, provavelmente muitos, que duvidam, nem afirmando nem negando seja urn Deus pessoal" seja um Deus no pessoal" seja a vida aps a morte. No imagino que exista algum que acredite em vida aps a morte sem

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A f em Deus de grandes cientistasacreditar em Deus, mas seria perfeitamente possvel, logicamente falan-do, acreditar em vida aps a morte sem acreditar num Deus pessoal no sentido acima, o que alis confirmado pela pesquisa, mencionada acima, na NAS. Ou seja, a pesquisa teria que ser desdobrada em vrias perguntas para nos apresentar urn quadro satisfatrio da f dos cientis-tas. claro que muitos, provavelmente, que no acreditam num Deus pessoal, acreditam em Deus, a exemplo de Einstein e, possivelmente, urn nmero significativo de agnsticos, sendo, nessa hiptese, bastan-te reduzido o nmero de ateus entre os cientistas. Pelo menos certo que so muito poucos os que se declaram ateus, a no ser os cientistas da antiga Unio Sovitica, em que o atesmo era doutrina oficial.Vale observar que em 1996 o grupo de cientistas que apresenta maior percentual de crentes (quase 45%) so os matemticos. Pensan-do bem, no de se estranhar, pois os matemticos so platnicos, no sentido de que afirmam que as estruturas matemticas e os teore-mas que vo descobrindo existem realmente, independentemente da inteligncia humana. Ora, essas estruturas matemticas so perfeitas. Da para se passar a uma Razo Suficiente para essas perfeicoes, o pas-so parece no ser muito grande. Ou ? Outra coisa, porm, acreditar num Deus pessoal.E aqui, para possvel surpresa de eventuais leitores deste trabalho que tern alguma familiaridade com o pensamento catlico, preciso notar que as famosas cinco vias de So Toms de Aquino [4] para de-monstrar a existncia de Deus no provam diretamente urn Deus pessoal. Provam, certamente, que Deus infinitamente bom, mas da no se pode concluir logicamente que Ele atenda s nossas oracoes. A crena em urn Deus pessoal certamente uma verdade de f crist e cat-lica e/ou resultado de experincia pessoal, a qual bem mais comum em pessoas mais simples, especialmente as deserdadas da histria e da geografia (Dostoievski). So experincias bastante comuns, em geral, entre os que tm f robusta: essas pessoas constatam a presena de Deus, a Providncia de Deus, em vrios pequenos milagres, com frequncia I vrias vezes por dia. Coincidncias" dir quern no cr num Deus pes- 1 soal. "E muita coincidncia, diria qualquer urn que testemunha, como o autor destas linhas, de inmeras confidncias, que, alis, muitas delas, nem precisariam permanecer confidenciais.Passamos a seguir para o testemunho de vrios cientistas. Como veremos, as biografias revelam personalidades interessantssimas. Sem-pre houve cientistas ateus, urn dos mais ilustres tendo sido Paul A. M. Dirac, urn dos grandes da Mecnica Quntica. Mas em compensacao,

NmEROS preoCUPanTES paRA QUEM TEM f? Ou pELO COnTRARIO?o (considerado geralmente) prncipe dos matemticos, Carl Friedrich Gauss (), e o maior dos matemticos-fsicos de todos os tempos, Isaac Newton (), acreditavam no Deus pessoal, como veremos. Sem falar em Einstein (), possivelmente o maior fsico de todos os tempos, longe do atesmo, apesar de no acreditar num Deus pessoal.Cabe uma palavra a respeito das refernces: a pesquisa da qual re-sultou este trabalho foi fortemente baseada em informacoes recolhidas da internet, isto , da web, usando a ferramenta Google. Como sabi-do, h muitas informacoes no confiveis na internet e bom conferir sempre com outra fonte da mesma internet ou livro/artigo. Mas para surpresa do autor destas linhas, as pginas da web referentes s vidas de matemticos e fsicos revelaram-se, medida que o trabalho avanava, extremamente confiveis. Destaque especial para a muito citada wikipe-dia em ingls. O que, pensando bem, no de admirar, pois os autores desses sites so, eles mesmos, cientistas/professores de cincias, que, por profisso, tern compromisso com a verdade.

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Cientistas ilustres com f em DeusCoprnico [13],[15], [159]Nicolaus Copernicus (1473-1543) foi um clrigo (catlico) polons. Seu pai, com o mesmo nome, foi um negociante de cobre, mas tambm se interessava por poltica, tornando-se um lder na cidade onde morava (Torun,tendovindode Krakow).Coprnico tinha doze anos quando seu pai faleceu, sendo ento ado-tado por um tio, que era cnego. Depois de uma formacao humanstica, ingressou na Universidade de Cracvia. Ali aprendeu astronomia num tratado do sculo XII, que adotava o geocentrismo de Ptolomeu e a fsica de Aristteles. Ainda em Cracvia, adquiriu os Elementos, de Euclides.Voltando a Torun, seu tio insistiu em que se tornasse clrigo, o que era comum na poca para quern quisesse fazer uma carreira intelec-tual. Assim, matriculou-se na Universidade de Bolonha (a mais antiga das universidades) a fim de se graduar em Direito Cannico, em 1503. Quando estava ainda em Bolonha, seu tio lhe garantiu a posicao de cnego na Catedral de Frauenberg, o que lhe proporcionou uma so-brevivncia tranqila, que lhe permitiria continuar seus estudos. Em Bolonha, alm de Direito Cannico, estudou grego, matemtica e astronomia. A seguir foi para Roma, observou um eclipse da lua e resolveu estudar tambm medicina, em Pdua. Naquela poca, a medicina fazia uso da astrologia, que era, na realidade, a astronomia da poca. Alm de astrnomo, Coprnico foi matemtico, jurista, mdico, um scholarnos clssicos, administrador, lder militar, diplomata e economista. Consi-derava sua pesquisa como um amvel dever de buscar a verdade em todas as coisas, enquanto Deus o permita.Em 1514 fez circular um pequeno livro, intitulado Pequeno comen-trio, sem constar o seu nome como autor, em que propunha o heliocen-trismo, um documento fascinante. Prope sete axiomas, no no sentido de que fossem evidentes por si mesmos. Um deles diz que o centro do universo est prximo do Sol, o que corresponde mais exatamente verdade, no que concerne ao Sistema Solar, do que dizer que o centro est exatamente no Sol, pois, na realidade, o centro do Sistema Solar no coincide com o centro do prprio Sol, ainda que esteja no seu interior.Um outro axioma que a distncia da Terra ao Sol impercep-tvel em comparacao com a distncia s estrelas. Um terceiro diz que a rotacao da Terra responsvel pela aparente rotacao diria das estrelas. Um quarto diz que o ciclo anual de estacoes causado pelo movimento da Terra em torno do Sol. O stimo axioma, o mais notvel, que o apa-

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A f em Deus de grandes cientistasrente movimento retrgrado dos planetas em torno da Terra causado pelo movimento da Terra. Foi o mais notvel, porque ningum, antes dele, havia dado essa explicacao do movimento retrgrado dos planetas.Observe-se que o heliocentrismo no era uma verdade inteira-mente nova, pois j havia sido afirmado por sbios da Grcia, com Aristarco de Samos no sculo III a.C. e, na ndia, pelo grande matem-tico e astrnomo Aryabhatta, mais de 1.000 anos antes de Coprnico, mas era desconhecido pelo mundo ocidental de ento, onde prevalecia amplamente o sistema geocntrico proposto em cerca do ano 150 da nossa era pelo grego Ptolomeu.Aps este pequeno texto, em que s apresentava os resultados de sua pesquisa, Coprnico comeou logo a escrever outro, mais longo, com as provas matemticas das afirmacoes que fizera, o De revolutioni-bus orbium coelestium (A respeito das rotacoes no orbe celeste), obra que s foi publicada em 1543. Embora o heliocentrismo fosse causar uma verdadeira revolucao no modo de pensar dos homens, na medida em que a Terra no era mais o centro do universo, a teoria no pertur-bou em nada a f catlica do prprio Coprnico. Na realidade, a possibi-lidade de a Terra girar em volta do Sol j tinha sido discutida livremente no sculo XIII por urn bispo francs, Nicole Oresme e, no sculo XIV, pelo grande filsofo e telogo, que foi feito cardeal, Nicolaus de Cusa. importante observar que em 1533 foi dada uma srie de conferncias sobre a teoria heliocntrica de Coprnico, despertando o interesse do papa Clemente VII e de vrios cardeais catlicos. A maior oposicao a Coprnico no mundo religioso foi entre telogos protestantes, por motivos bblicos. A oposicao entre catlicos comearia 73 anos mais tarde, ocasionada pelo affair Galileo ().Coprnico demorou bastante a publicar sua teoria, por receio da reacao, no dos clrigos, mas dos cientistas, de acordo com os historia-dores da cincia David Undberg e Ronald Numbers. A teoria de Coprnico considerada de extraordinria importncia na histria do conhe-cimento humano. H urn paralelismo entre as vidas de Coprnico e a de Charles Darwin, na medida em que ambos demoraram a publicar seus resultados, em funcao da revolucao que iriam operar na nossa maneira deentenderascoisas.Clavius[11],[12],[157],[158]Christopher Clau (1538-1612), padre catlico jesuta, alemo, foi urn matemtico e astrnomo ilustre, personalidade principal na refor-ma do calendrio, o atual, que foi chamado gregoriano, em homenagem

Cientistas ilustres com f em Deusao papa de ento, Gregrio XIII. Fez-se jesuta em 1555, logo chamando a atencao de seus superiores religiosos para seu talento em matemti-ca. Estudou em Coimbra e depois teologia no Colgio Romano (na realidade, uma instituicao de ensino superior) dos jesutas, que depois veio a ser a Universidade Gregoriana. Professor de matemtica do Colgio Romano durante muitos anos, manteve correspondncia cientinca constante com os grandes nomes da cincia de seu tempo: Tycho Brahe, Kepler (), Galileo () etc. Kepler, Descartes () e Leibniz () reconhe-ceram que Clavius foi uma fonte de suas inspiracoes. Foi cognominado o Euclides do sculo XVI. Efetivamente, seu texto Eudidis elemento-rum Hvri XV contm urn grande mimero de comentrios e esclareci-mentos sobre a obra fundante da geometria como cincia exata. Alm disso, o texto de Clavius tern uma avaliacao crtica sobre os axiomas de Euclides, principalmente o quinto, tema que seria urn leitmotiv nos ge-metras posteriores. Clavius foi tambm precursor da ideia de logaritmo, utilizando, ao invs, senos e cossenos, fazendo uma tbua de sete casas decimais para clculos aritmticos.O Comentrio (sobre Euclides) de Clavius tornou-se texto padro no sculo XVII. Publicou 19 livros sobre aritmtica, geometria, lgebra e astronomia, que seriam amplamente utilizados durante o sculo XVII por todas as escolas dirigidas pelos jesutas, fazendo-o virtualmente o instru-tor das escolas catlicas (e de no poucas protestantes) na Europa naquele perodo. Alm da aritmtica, lgebra e geometria, Clavius trabalhou em teoria harmnica e astronomia. O historiador de cincias George Sarton o denominou o mais influente professor da Renascena [158]. Clavius manteve sempre relacao de amizade com Galileo (). Seus muitos escritos em matemtica foram recolhidos em cinco grandes volumes, Christo-phori Clavii e Societate Jesu opera mathematica, quinque tomis distributer. (Obra matemtica em cinco volumes por Christopher Clavius)Napier [378], [380]John Napier (1550-1617) foi urn matemtico escocs que nasceu em Edinburgh, num castelo, e faleceu na mesma cidade. Seu pai, Archibald, foi pessoa importante ao final do sculo XVI na Esccia. Sua fa-mlia tinha amplas propriedades desde os anos 1430. Archibald Napier foi feito Sir em 1564 e Master of the Mint em 1582. A me de Napier era Janeth Bothwell, irm do bispo de Orkney. O local de nascimento de Napier hoje parte da Napier University. Cabe uma palavra a propsito do sobrenome de John Napier. Ele citado na literatura como Napier, Nepair, Nepeir, Neper, Napare, Naper e Naipper. A forma Neper que

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A f em Deus de grandes cientistasdeu origem ao nome do logaritmo neperiano, fundamental no clculo diferencial e integral e em vrios ramos da matemtica.Sabe-se pouco sobre os primeiros anos de John. Ingressou na St. Andrews University, na Esccia, com treze anos de idade, morando no St. Salvator's College. Pouco depois de Napier se matricular na univer-sidade, sua me morreu. Na universidade ele se apaixonou pela Teolo-gia. Seu nome no consta entre os que se graduaram em St. Andrews. Portanto, deve ter ido estudar em outra parte da Europa, antes de se graduar. certo que no adquiriu em St. Andrews seu conhecimento de alta matemtica, nem seu profundo conhecimento de literatura clssica. provvel que tenha passado pela Universidade de Paris e tambm pela Itlia e pela Holanda. Teria retornado Esccia por volta de 1571, pois estava presente ao segundo casamento de seu pai, que teve lugar naque-le ano. Encontrou seu pas numa guerra civil entre as foras da rainha Mary, tentando fazer o pas retornar ao Catolicismo, e seu filho regente, determinado a manter a Igreja Reformada Protestante.Ele prprio se casou dois anos mais tarde e recebeu a maior parte das propriedades da famlia, residindo no Castelo de Gartness. Napier dedicou-se ento a administrar suas posses. Aplicou-se a essa tarefa com grande dedicacao e competncia, dono de inteligncia brilhante e inventi-va. E fez experincias bem-sucedidas e novas na agricultura. Tambm to-mou parte nas controvrsias religiosas do seu tempo. Era urn protestante fervoroso e publicou o que ele considerava a sua mais importante obra, o livro Plaine discovery of the whole Revelation of St. John (A simples desco-berta de toda a Revelacao de So Joo) em 1593. (Este urn tratado do que chamado em muitas lnguas de o Livro da Revelacao, que no Brasil e em outros se chama o Livro do Apocalipse ). De acordo com [380], seu objetivo era provar que o papa seria o anticristo.Baseado nesses estudos, Napier acreditava que o fim do mundo ocorreria em 1688 ou em 1700. Ele foi acusado de necromania, mas esse tipo de acusacao era comum aos cientistas da poca. De acordo com [378], Napier tinha sido urn protestante fantico desde seus { tempos de aluno de graduacao em St. Andrews. Ele escreveu o livro mencionado acima, como diz no prefcio, for preventing the apparent danger of Papistry arising within this Island..!' (para impedir o perigo aparente de o Papismo surgir nesta ilha...). Esse livro de Napier teve bastante influncia no somente na Esccia; foi traduzido para o ho-lands,francsealemo.Napier confessa que era difcil encontrar tempo para a matemtica no meio dos seus estudos de teologia e administrate das suas proprie-

Cientistas ilustres com f em Deusdades. Ele se tornou especialmente conhecido pela invencao dos logaritmos, mas deu outras contributes, como um mtodo mnemnico para frmulas usadas para resolver tringulos esfricos, duas frmulas chamadas analogias de Napier e uma invencao chamada de ossos (sic) de Napier usada para, mecanicamente, multiplicar, dividir, extrair razes quadradas e razes cbicas. Tratava-se, efetivamente, de barras de forma cilndricas e de marfim, por isso parecendo ossos. Napier achou lambm expresses exponenciais para funcoes trigonomtricas e intro-duziu a notacao decimal para fracoes. Os logaritmos tornaram os clcu-los a mo muito mais rpidos e simples.O estudo de Napier dos logaritmos aparece em Mirifici logarith-morum canonis descriptio (Descricao cannica dos admirveis logaritmos), em 1614. A traducao em ingls apareceu dois anos depois. O loga-ritmo inventado por Napier era diferente daquele que acabou se impondo na matemtica. Efetivamente, Napier no pensou no logaritmo como uma entidade algbrica. Como a lgebra era pouco desenvolvida naquela poca, ele pensou esta nova entidade em termos cinemticos (sic).Briggs se interessou muito pela nova invencao, fez um enorme elo-gio ao texto de Napier e props algumas modificacoes, inclusive, a base, que ele props que fosse 10, com log 1 = 0. Briggs, de Londres, fez duas visitas prolongadas a Napier, trocando ideias, e faria uma terceira, se o escocs no tivesse falecido nesse meio tempo.Entre suas invencoes, mantidas em segredo, um espelho de grandes dimenses para refletir os raios do sol com o objetivo de queimar a armada inimiga (catlica), um tanque de guerra, movido pelos homens, um submarino e uma forma de artilharia que podia destruir qualquer coisa que estivesse pelo menos a 30 cm de altura. Nenhuma dessas invencoes foi efetivamente usada.Napier viveu num tempo de muitas supersticoes, sua ptria, a Es-ccia, sendo muito dada a isto. De modo que no de se estranhar que seus contemporneos fizeram circular histrias estranhas a seu respeito, e a tal ponto que Mark Napier, um dos seus descendentes, afirmava que Napier estava associado ao poder das trevas, transmitindo na sua bio-grafia o que havia ouvido de contemporneos. Efetivamente, durante dcadas Napier trabalhou em matemtica na privacidade do seu quarto, dele saindo, com a sua barba negra, vestido de um gown (uma espcie de manto) preto, alimentando, portanto, a fama de feiticeiro.A contribuicao de Napier para o desenvolvimento da cincia com a invencao dos logaritmos foi notvel. Foi usando logaritmos que Kepler () pde reduzir suas observances e produzir as trs leis dos mo-

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A f em Deus de grandes cientistasvimentos dos planetas. De acordo com [380], no fosse a invencao dos logaritmos e do uso da fracao decimal, as descobertas de Kepler, Galileo () e Newton () teriam sido retardadas por anos em virtude dos cl-culos complexos envolvidos. Efetivamente, Kepler gastou quatro anos para calcular somente a trajetria de Marte. Se ele no contasse, da para frente, com os logaritmos de Napier, provavelmente ficaria o resto da vida para calcular as trajetrias dos outros planetas.Em 1619, Kepler escreveu a Napier agradecendo a sua contribute, mas este j havia morrido havia dois anos. Laplace () diria, 200 anos mais tarde, que o uso dos logaritmos, reduzindo o trabalho [dos clcu-los], dobrava a vida dos astrnomos.Napier se casou duas vezes: a primeira em 1571, com Elizabeth, filha de Sir James Stirling of Keir, com a qual teve urn filho e uma filha, e a segunda vez com Agnes, filha de James Chisholm of Cromlix, com a qual teve 10 filhos. Seu filho mais velho, Archibald, foi feito baro por Charles I em 1627, com o ttulo de Lord Napier, que ainda usado por seus descendentes. De acordo com o intelectual escocs David Flume, Napier foi a pessoa para a qual o ttulo de grande homem devido mais do que a qualquer outro que este pas (Esccia) produziu. Ele foi sepultado na St. Cutberth Church em Edinburgh.Galileo [45], [51], [274]Galileo Galilei (1564-1642) nasceu em Pisa e faleceu em Florena. Foi fsico, matemtico e astrnomo e considerado por muitos um dos maiores gnios da histria da humanidade. O mais velho de sete filhos, aos sete anos comeou sua educacao formal num Mosteiro da Ordem dos Valombrosos e ingressou na Ordem, deixando-a, entretanto, antes de completar o ano de Noviciado. Na juventude interessou-se por litera-tura e, seguindo a vontade de seu pai, estudou medicina na Universida-de de Pisa, tendo ali ingressado em 1581. Aos 17 anos, observando um lustre oscilando na catedral, ele mediu o perodo, a partir dos batimen-tos do prprio pulso, e verificou que o perodo era constante, indepen-dentemente da elongacao do mesmo, fato desconhecido na poca.Em 1586 inventou a balana hidrosttica e, em 1588, escreveu um tratado sobre o centro de gravidade dos slidos. Em 1589 tornou-se professor de matemtica da Universidade de Pisa, mas dois anos depois deixou a Universidade por causa do aristotelismo prevalente, transfe-rindo-se para a Universidade de Pdua, onde ficou at 1610, retornando a Florena na qualidade de filsofo e matemtico de Cosme II. J nes-sa poca s se interessava por fazer experincias de fsica. Deixando a

Cientistas ilustres com f em Deusmedicina, passou a estudar matemtica. Galileo formulou o princpio da inrcia da fsica, e demonstrou experimentalmente a constncia da aceleracao da gravidade na queda livre dos corpos, utilizando planos Inclinados para minimizar, relativamente, a resistncia do ar. {{Este fato de enorme importncia e se pode dizer que, com ele, Galileo inaugura a fsica moderna. Com efeito, antes dele, as experincias eram tomadas de forma bruta, global. Aps ele, a fsica formula suas leis rigorosas do ponto de vista matemtico, mas sempre fazendo alguma aproximacao ouabstracao fsica}}.Galileo fez amplo uso da luneta astronmica, por ele mesmo cons-truda em 1609, descobrindo as montanhas da lua, as manchas sola-res e as fases nos planetas Merciirio e Vnus. Seus estudos o levaram conviccao forte, enunciada por Coprnico () vrios anos antes, como vimos, de que o Sol, e no a Terra, o centro do nosso sistema. Por causa dessa afirmacao, que antes tinha sido razoavelmente bem acolhida pela Igreja, como vimos no verbete sobre Coprnico, foi condenado pela In-quisicao: esta declarou que a posio de Galileu estava teologicamente errada (1616).Muito se escreveu e continua se escrevendo sobre o affair Galileo. Scholars ilustres escreveram livros sobre o assunto, a maioria condenan-do a posicao da Igreja. Efetivamente, houve na controvrsia urn equ-voco elementar - assim parece hoje - por parte da Igreja, confundindo os registros epistemolgicos. Galileo escreveu a propsito [49]: "E urn ato de piedade e prudncia afirmar que a Bblia no contm erros, se o seu verdadeiro sentido for compreendido. Mas eu acho que ningum negar que ela frequentemente bastante abstrusa no seu sentido literal e quer dizer coisas bem distintas deste sentido [literal]. {{Observo que Galileo, ao afirmar isso, no dizia nada de novo, pois desde Orgenes, pelo menos, no incio do sculo III, ficou consagrada a interpretacao alegrica dos textos da Sagrada Escritura, principalmente os do Antigo Testamento, que, como ensinaria depois Santo Agostinho, torna-se in-teligvel a partir do Novo Testamento. O Concilio Vaticano II, na Cons-tituicao Dei Verbum, diz que a Sagrada Escritura no contm erros relativos 'Verdade salvfica, no sendo urn texto de cincias}}.Isto, alis, no era novidade no tempo de Galileo. Mas ele falava sobre astronomia, talvez de modo polmico, e era interpretado como se fizesse afirmacoes teolgicas, quando se tratava, na verdade, de afir-macoes cientficas. Consta que Galileo costumava dizer que a Bblia nos ensina como se vai para o cu, e no como vai o cu [51]. (Mas o padre Paul Schweitzer, bom conhecedor do affair Galileo, diz que esta

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A f em Deus de grandes cientistasfrase, na realidade, do cardeal Baronio). Sendo catlico fervoroso, Ga-lileu tinha, entretanto, urn temperamento afirmativo e inclinado con-trovfeia. Vivendo numa poca atribulada na Igreja, diante da Reforma protestante, Galileo foi novamente julgado e condenado a abjurar sua posicao heliocntrica em priso domiciliar. Quanto ao que padeceu nas mos da Inquisicao, vale referir o que diz seu bigrafo protestante, von Gebler [51]: ...Galileo esteve ao todo 22 dias nos prdios do Santo Of-cio (isto , da Inquisicao), e no numa cela com grades, mas num apar-tamento cmodo de urn funcionrio da Inquisicao. E para o resto do tempo de priso, ele teve permisso para usar casas de amigos, sempre confortveisealgumasluxuosas. completamente falsa a afirmacao de que ele tenha sido torturado ou tornado cego por algozes. (Efetivamente, ele ficou totalmente cego cinco anos antes de morrer, e consta que foi por observar o Sol com luneta). Passou os ltimos anos de sua vida retirado em sua vila perto de Florena, de onde escreveu uma obra fundamental sobre dinmica. Tambm falsa a afirmacao de que lhe tenha sido negada sepultura em cemitrio catlico; na verdade, foi enterrado dentro da igreja de Santa Croce em Florena, e o papa (Urbano VIII) lhe enviou uma bncao especial pouco antes da morte.Galileo tinha uma f robusta. No famoso Dilogo sobre os grandes sistemas do mundo, diz: A Inteligncia Divina conhece infmitamente mais proposicoes verdadeiras que a nossa. Mas com relacao s poucas que o intelecto humano entende, eu creio que seu conhecimento iguala em certeza objetiva ao de Deus (citado em [49]). E a propsito da sua controvrsia com a Igreja [50]: Eu no me sinto obrigado a acreditar que o mesmo Deus que nos proporcionou os sentidos e a inteligncia no queria que os usssemos. Langford [274] sintetiza bem a polmica em tornode Galileo:Parece que a polmica da disputa entre Galileo e a Igreja Catlica nunca vai terminar. Trezentos anos de mitos, relatos preconceituosos e apologticos acabaram distorcendo os fatos e o que estava em questo na disputa [...]. Acusacoes e negacoes foram veementes at menos do que 100 anos atrs. O esprito do sculo XIX, com seu acento de liberdade intelectual ilimitada, encorajou os historiadores a produzirem a imagem de Galileo como o gran-de e corajoso cientista, cujos pensamentos foram encadeados por uma Igreja tirnica. Muitos historiadores usaram o nome de Galileo como urn grito de guerra na sua polmica contra a Igreja de Roma. Os pensadores catlicos, ao responderem a esses ataques, foram para o extremo oposto. Muitas vezes,

Cientistas ilustres com f em Deuso que comeou como uma explicate terminou como uma justificacao da condenacao. [...]. O debate continua atualmente. E infelizmente continuam tambm os mal-entendidos (o.c., Introduction, p. xiii).E o mesmo autor resume da pgina 208 210: Em 1611 os astrnomos jesutas confirmam suas descobertas, Galileo eleito para a Accidentia dei Lincei. Volta para Florena e se envolve numa disputa sobre o comportamento dos corpos na gua; Em 1613 ouve que sua doutrina foi impugnada, com base na Sagrada Escritura da corte do Grande Duque; Em 1614 atacado publicamente pelo padre Cassini; Em 1615 o padre Foscarini publica urn livro tentando reconciliar a Sagrada Escritura com a nova astronomia. O cardeal Bellarmino escreve cartas ao padre Foscarini e a Galileo convencendo-os a permanecerem no terreno das hipteses at que aparea prova demonstrativa. Galileo vai a Roma para defender sua posicao. Thomas Campanella escreve Apologia pro Galileo, a pedido do cardeal Gaetani; Em 1616 consultores teolgicos so convocados pela Santa S e concluem que a doutrina de Coprnico hertica, e o papa Paulo V encarrega o car-deal Bellarmino de dizer a Galileo que ele no defenda a sua teoria; Em 1623 o cardeal Barberini, amigo de Galileo, eleito papa, tomando o nome de Urbano VIII. Galileo vai a Roma, tentando obter a revogacao da condenacao da doutrina de Coprnico. Recebido seis vezes pelo papa, sendo encorajado a escrever, mas a se manter nos limites daquilo que bemdemonstrado; De 1625 a 1630 escreve o Dilogo sobre os dois grandes sistemas, Em 1632 a publicacao dessa obra suspensa e sua venda proibida por ordem da Santa S; nesse mesmo ano Galileo convocado a Roma. Sua sade estava debilitada; na viagem foi assistido por servos do grande duque; permaneceu na Vila Mediei durante dois meses antes de ir para os aposentos do Santo Ofcio" onde recebeu tratamento sem precedentes: uma sute com cinco quartos e urn servo (o.c, pp. 138 e ss.). Em 1633 Galileo julgado pelo Santo Ofcio, sendo que o frade domi-nicano encarregado da acusacao era pessoalmente favorvel ao sistema copernicano. Apresenta sua defesa ao Santo Ofcio, mas urn relatrio tendencioso enviado ao papa. Este decreta que Galileo deve abjurar publicamente sua opinio e seu livro deve ser proibido. Galileo abjura. Sua sentena comutada. Ele fica sob a custdia do arcebispo de Siena; Em 1637, j cego, escreve novo livro, Discurso sobre duas cincias, que publicado no ano seguinte em Leyden, na Holanda.

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A fe em Deus de gbandes cientistasMarin Mersenne [133], [136]Marin Mersenne (1588-1648) nasceu e viveu na Frana, falecendo em Paris. Filho de famlia catlica que vivia do trabalho, demonstrou desde cedo piedade religiosa e uma grande vontade de aprender. Assim, apesar das dificuldades financeiras, foi enviado ao Collge de Mans, onde fez os primeiros estudos. Mais tarde, j com 16 anos, pediu para ser admitido no recm-fundado colgio jesuta de La Fleche. Descartes (), que era oito anos mais moo, ingressou no mesmo colgio, mas os dois s se tornariam amigos bem mais tarde. Seu pai queria que ele fizesse carreira na Igreja, mas Mersenne gostava demais de estudar e assim foi para Paris. Na viagem, hospedou-se num convento dos Frades Mnimos (Ordem fundada por So Francisco de Paula no sculo XV) e ali ficou encantado com aquela vida. Prosseguiu, entretanto, a viagem.Em Paris estudou no Collge Royal de France e depois na Sorbonne, obtendo o grau de mestre em filosofia. Decidiu-se ento a entrar, em 1611, na Ordem dos Mnimos, que era dedicada oracao, ao estudo e scholarship. No ano seguinte foi ordenado sacerdote. Enviado ao Convento de Nevers em 1614 para ensinar filosofia e teologia. Foi durante esse perodo que descobriu a cicloide, uma curva geomtrica. Dois anos mais tarde foi enviado a Paris, onde permaneceria at a morte.Desde o comeo de sua estada em Paris, os problemas matemticos passaram a ter uma grande importncia na sua vida, comeando logo a interagir com matemticos importantes. De acordo com [134], Mersenne foi pea central em Paris nos anos 1630 e 1640 no novo estudo dos problemas de fsica por meio da matemtica. Ele foi dos mais entusiastas nisto, tendo publicado vrios livros que tiveram muita influncia ento. Durante os anos 1620 Mersenne era conhecido em Paris como urn firme defensor da fsica de Aristteles, rejeitando as posicoes de Galileo (). Entretanto, ele mudaria a partir do incio dos anos 1630, tornando-se inclusive urn dos que mais apoiaram Galileo. Foi a matemtica a cincia que ele passou a estudar em profundidade, persuadindo-se de que, sem ela, nenhuma cincia seria possvel. Ele atacava os problemas matematicos de urn modo filosfico, estando convencido de que a causa das cinciasDeus.Mersenne comeou a tornar-se naquela poca uma espcie de coor-denador de todos os scholars europeus, correspondendo-se com cientistas at da Transilvnia e Constantinopla. A lista de seus correspondentes e que tambm o visitavam regularmente inclua nomes como Gassendi, Descartes (), Roberval (), Fermat, Hobbes e Blaise Pascal (). Ele organizava seminrios com cientistas convidados de toda a Europa, du-28

Cientistas ilustres com f em Deusrante os quais eram apresentados e discutidos trabalhos cientfkos. Es-es seminrios passaram a ser conhecidos como Academia Parisiensis, lendo que entre os amigos era chamada de Academie Mersenne. Reu-niam-se semanalmente e se constituiu num dos mais produtivos centros depesquisacientfica do tempo.Mersenne gostava muito de msica e em 1627 publicou L'harmonie universelle, em que pela primeira vez foi proposta uma lei que estabele-cia uma relacao entre a frequncia, tenso, o comprimento, o dimetro e o peso de uma corda vibrante. Durante sua vida Mersenne estimulou vrios cientistas em potencial, encaminhando-os na direcao certa. Tra-balhou tambm bastante com nmeros primos, pretendendo achar uma frmula que gerasse todos eles. Apesar de no a ter encontrado [sendo este urn problema em aberto at hoje], seus estudos sobre nmeros da forma 2P -1, ondep urn nmero primo, suscitaram ao longo dos tempos interesse na investigacao de grandes nmeros primos.Nos ltimos anos de sua vida, Mersenne trabalhou bastante no problema da presso atmosfrica e mediu o peso do ar. Uma questo inte-ressante como ele pde trabalhar cientificamente com tanta liberdade numa poca em que a Igreja havia condenado o sistema copernicano (a terra girando em torno do sol), pois Mersenne permaneceu sempre urn membro devoto da Igreja. Hine [136] observa que, na Frana, havia, na prtica, possibilidade de se continuar a estudar dentro do sistema copernicano.Kepler [13], [39], [80], [81], [286]Johannes Kepler (1571-1630), alemo, nasceu em Weil der Stadt. Seu pai era urn bbado que dissipou toda a fortuna familiar. Sua me tinha urn temperamento azedo. Kepler trabalhou, ainda menino, na ta-verna de seu pai e, quando esta faliu, o pai abandonou a famlia. Kepler contraiu varola, o que lhe deixou parcialmente prejudicado em termos motores e com a vista muito ruim. Apesar dessas desvantagens, demons-trou considered habilidade para a matemtica e foi sempre urn aluno nota 10. Seu desejo maior era ingressar no ministrio eclesistico (ele era luterano) e estudou inicialmente para seguir carreira teolgica, mas a necessidade econmica o fez aceitar uma posicao na Universidade de Graz,na ustria, em 1594.Foi somente aps concluir seus estudos universitrios que Kepler se ocupou da matemtica e astronomia, interessando-se, sobretudo, pe-los trabalhos de Coprnico (). Mas poucos anos depois, por confllitos com a Igreja Catlica, foi ento para Praga trabalhar com Tycho Brahe.

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A f em Deus de grandes cientistasMais tarde ele reconheceria a Providncia divina na carreira cientfica queabraara.Kepler foi atormentado por problemas financeiros durante toda sua vida. Isto, em primeiro lugar, o motivou a se dedicar astronomia, mas tambm a se engajar em atividades pseudocientficas, como, por exemplo, os horscopos para complementar sua renda. A esse pro-psito, porm, em defesa de Coprnico, deve-se dizer que a frontei-ra entre cincia e pseudocincia no era nada ntida naquela poca. {{Se, at hoje, depois de tanto progresso cientfico, h tantos que ainda acreditam em horscopo... Mas claro que nenhum fsico, matem-tico ou astrnomo atual leva a srio os horscopos}}. Mas Kepler se empenhou em mostrar que a astrologia podia ser levada a srio como cincia. Sua teoria era que, embora as estrelas no nos compelissem nas nossas decises, elas imprimiam caractersticas especiais na nossa alma.Tycho Brahe (1546-1601), dono de vista invejvel, vinha fazendo havia muitos anos, de modo notvel, observacoes a respeito do movi-mento dos planetas. Kepler procurou-o. Ao incio, Brahe tratou Kepler com certo desprezo, recusando-lhe informacoes importantes. Mas Kepler logo mostrou seu talento. Brahe o encarregou de estudar o movi-mento de Marte, e Kepler concluiu que o planeta girava no em volta da Terra, mas do Sol. Brahe era geocentrista e desconhecia a paralaxe este-lar, concluindo que a afirmacao de Coprnico de que a Terra girava em torno do Sol estava errada. Brahe morreu dez meses depois que Kepler comeouatrabalharcomele.Com a morte de Brahe, Coprnico foi designado, em seu lugar, matemtico imperial, tendo como primeira misso completar as observacoes de Brahe. O velho astrnomo, no seu leito de morte, havia solicitado exatamente isto, esperando que suas teorias fossem demons-tradas. Durante anos Kepler trabalhou sem ajuda de assistentes, con-vencido de que o Universo tinha que ser belo, harmonioso e exprimvel em frmulas matemticas. Depois de enfrentar urn sem-nmero de di-ficuldades, Kepler concluiu que as rbitas dos planetas no podiam ser circulares, como se acreditava ento, mas sim elpticas, o Sol ocupando urn dos focos. Verificou ainda que os planetas se moviam mais rapida-mente quando estavam mais prximos do Sol. E pouco depois verificou a relacao entre a distncia mdia do planeta ao Sol e o tempo necessrio para completar uma rbita. Ele chegou a esses resultados no somente utilizando as observacoes de Tycho Brahe mas tambm estudando cui-dadosamente a rbita de Marte.

Cientistas ilustres com f em DeusAs trs Ids de Kepler foram o primeiro hreakthrough ps-coper-nicano na moderna compreenso da astronomia. O novo sistema era quase cem vezes mais rigoroso do que os precedentes e eliminava os complexos diagramas de cicloides e epi-cicloides necessrios na doutri-naptolemaica.As trs leis de Kepler so assim formuladas modernamente: i) as rbitas so elpticas, o sol ocupando um dos focos; ii) a velocidade areolar constante;iii) o quadrado do perodo de uma rbita completa diretamente proporcional ao cubo do eixo maior da elipse.Seu trabalho marca o nascimento da astronomia moderna. Estas leis permitiriam a Isaac Newton () demonstrar matematicamente a lei da gravitacao universal. Newton diria mais tarde: Se enxerguei longe, foi porque me apoiei em ombros de gigantes.Kepler verificou tambm que o Sol exerce sobre os planetas uma fora enorme. Mas no tendo o conceito de fora gravitacional, atribuiu esta fora a alguma forma de magnetismo. {{Vale observar como se abusa desta palavra at hoje, usando-a, por exemplo, na parapsicologia, at o presente uma pseudocincia, na medida em que incapaz de pre-ver acontecimentos a partir de leis. E, no entanto, desde Maxwell (), se no antes, na segunda metade do sculo XIX, o conceito de magnetismo definido com preciso matemtica, nada tendo a ver com o seu (fre-qente e errneo) uso na linguagem comum}}.Os estudos astronmicos de Kepler o levaram a um melhor conhe-cimento de tica. Descartes (n) considerava Kepler seu mestre nesse do-mnio. Efetivamente, seus estudos o levaram a uma compreenso acura-da das leis da distncia focal no telescpio e sua relacao com o poder de ampliacao da imagem. Fato surpreendente na histria da cincia que Galileo () deu pouca atencao s descobertas de Kepler, considerando-as to inteis como seus horscopos. Efetivamente, Kepler transcrevia suas descobertas em livros compridos e msticos. Newton (), porm, que foi um mstico e ocultista, estudou rapidamente as obras de Kepler e aceitou suas descobertas sem hesitacao. Kepler sugeriu que as caudas dos cometas so foradas para fora pelos raios solares. Este um fato bemdocumentadoatualmente.Kepler casou-se a primeira vez com Barbara Miiller, viva e divor-ciada, com a qual no foi feliz, e teve cinco filhos, dos quais apenas dois sobreviveram infncia. Barbara tambm morreu cedo e Kepler casou-se de novo com uma rf, com a qual foi feliz e teve sete filhos, dos quais apenas dois chegaram idade adulta.31

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A f em Deus de grandes cientistasTodos os textos e cartas de Kepler mostram conviccoes religiosas profundas. E ele percebeu que a Bblia um guia espiritual, e no cien-tfico. Ele se considerava um padre com relacao natureza, cujas des-cobertas glorificavam o nome de Deus [286].Ele foi um cristo luterano devoto, inclusive afirmando que a dou-trina teolgica da Trindade sugeria que o Universo fosse constitudo de trs partes, a saber, o sistema heliocntrico, as estrelas fixas e o espao entre estas e aquele. Quando perguntado por que fazia cincia, respondeu que, atravs da pesquisa, pretendia obter um pouco da alegria e deleite do Deus Criador. Quanto mais o homem avana na penetracao dos segre-dos da natureza, melhor se desvenda a universalidade do plano eterno.Girard[297],[301],[219]Albert Girard (1595-1632) era francs, mas foi para a Holanda como refugiado religioso. Ele ingressou aos 22 anos na Universidade de Leiden, onde estudou matemtica. Mas na realidade seu primeiro inte-resse havia sido a msica e ele chegou a tocar flauta profissionalmente. Trabalhou em lgebra, trigonometria e aritmtica (teoria dos mimeros), publicando em 1626 um tratado em trigonometria que continha pela primeira vez as abreviacoes sin, cos e tg. Tambm produziu frmulas para um tringulo esfrico. Em lgebra, fez alguns trabalhos sobre o assim chamado teorema fundamental da lgebra (ver [298]), que afirma que uma equacao polinomial de grau n tern n solucoes. Ao estudar esse problema, Girard determinou tambm as relacoes entre os coeficientes e as razes das equacoes de segundo, terceiro e quarto graus [300],Ele foi tambm o primeiro a formular, independentemente de Kepler, usando inducao matemtica, a definicao da sequencia de Fibonacci, f2 = f, + /, mostrando tambm que ela d origem razo urea, largamente usada em arquitetura e artes plsticas em geral pela sua harmonia, descoberta pelos gregos a partir da relacao entre os lados de um retngulo. Como muitos matemticos do seu tempo, Girard era interessado em aplicacoes militares da matemtica, tendo estudado de modo especial as fortificacoes. Ele fez muitas traducoes do francs para o flamengo (holands) e tambm do flamengo para o francs. Em 1629 escreveu Invention nouvelle en lalgbre, demonstrando que as equacoes podem ter razes negativas e imaginrias. Como professor, ensinou matemtica, engenharia, tica, pesquisando tambm a lei da refracao e a msica. {{O fato de ter se mudado para a Holanda por causa da perse-guicao religiosa contra os huguenotes, os calvinistas franceses, revela sua conviccao crist. Ele citado em [219] como cientista de f crist}}.

Cientistas ilustres com f em DeUSDescartes [37], [38], [160], [161]Ren Descartes (1596-1650) nasceu em 1596, em La Haye, urn po-voado da Touraine, numa famlia da pequena nobreza. rfo de me no primeiro ano de idade, foi educado pelos avs. Essa circunstncia influenciaria a vida futura de Descartes, pois o liberou facilmente para avidamilitareviagens.Francs e catlico, foi educado no famoso colgio dos jesutas de La Flche, de 1604 a 1612, que ele considerava a melhor escola da Europa. Descartes teve ento urn condiscpulo, que j em 1611 entrou na Or-dem dos Mnimos (fundada por So Francisco de Paula com a primitiva regra franciscana), e se faria notvel, o padre Marin Mersenne (). Ao padre Mersenne continuou Descartes fazendo confidncias, por carta, ou durante visitas em Paris. Em La Flche gozava de um regime de privilge, pois se levantava quando queria, o que o levou a adquirir um hbito que o acompanharia por toda sua vida: meditar no prprio leito. Eram os jesutas uma Ordem nova, sem maiores presilhas com o passa-do, como a dos franciscanos e a dos dominicanos. Todavia, os jesutas continuaram na esteira aristotlica, que se firmou na Igreja a partir de So Tomsde Aquino.Descartes seguiu depois seus estudos, graduando-se em Direito em 1616 pela Universidade de Poitiers. No entanto, Descartes nunca exerceu o Direito, e em 1618 alistou-se no exrcito do prncipe Mau-rcio de Nassau, com a intencao de seguir carreira militar. Pouco aps ter se alistado no exrcito, Descartes descobriu que tinha talento para a matemtica, de modo que passou a maior parte de seus anos militares e subsequentes (ele pediria demisso quatro anos mais tarde) estudan-do matemtica pura, especialmente geometria analtica, por ele criada, uma fuso da lgebra com a geometria, que se tornou o campo da matemtica no qual fez suas maiores contributes.Apesar de apreciado por seus professores (jesutas, em sua maior parte), ele se declara, no Discurso sobre o Mtodo, decepcionado com o ensino que lhe foi ministrado: No encontramos a (na filosofia esco-lstica) nenhuma coisa sobre a qual no se dispute. S as matemticas demonstram o que afirmam: As matemticas agradavam-me sobretudo por causa da certeza e da evidncia de seus raciocnios. Mas as matemticas so uma excecao, uma vez que ainda no se tentou aplicar seu rigoroso mtodo a outros domnios.Eis porque o jovem Descartes, decepcionado com a Escolstica, parte procura de novas fontes de conhecimento, a saber, longe dos livros e dos regentes de colgio, a experincia da vida e a reflexo pessoal:

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A f em Deus de grandes cientistasAssim que a idade me permitiu sair da sujeicao a meus preceptores, abandonei inteiramente o estudo das letras; e resolvendo no procurar outra cincia que aquela que poderia ser encontrada em mim mesmo ou no grande livro do mundo, empreguei o resto de minha juventude em viajar, em ver cortes e exrcitos, conviver com pessoas de diversos tem-peramentos e condicoes. Em 1626 ele se estabeleceu em Paris, mas foi persuadido a mudar-se para a Holanda em 1628, pas que estava, ento, no auge do seu poder. Ali morou e trabalhou nos vinte anos seguintes, devotando seu tempo e esforos ao estudo da matemtica e filosofia, na perseguicao da verdade. Em 1649, foi convidado para ser professor pela rainha Cristina, da Sucia, mudando-se para Estocolmo, mas morreu poucos meses aps chegar, de pneumonia aguda, em fevereiro de 1650.Os trabalhos de Descartes em filosofia e cincia foram publicados em cinco livros, o mais citado e provavelmente o mais importante sendo o Discours de la Mthode Pour Bien Conduire Sa Raison et Chercher La Vrit Dans Les Sciences (Discurso sobre o Mtodo de Bern Conduzir sua Razo e Procurar a Verdade nas Cincias).Descartes destacou-se mais como filsofo, sendo considerado o fundador da filosofia moderna; na realidade, inaugurou o racionalismo da Idade Moderna. Mas foi tambm matemtico ilustre, alm de fsico. bom lembrar que quela poca essas trs cincias estavam muito im-bricadas, bastando exemplificar com a grande obra de Newton - que viveu bem depois - que tratava de matemtica e fsica e se intitulava Philosophiae naturalis principia mathematical ou seja, Princpios ma-temticos de filosofia natural. As contributes de Descartes fsica foram feitas principalmente na tica, mas ele escreveu extensamente sobre muitos outros temas, incluindo biologia, crebro e mente. Ele no foi umexperimentalista,noentanto.Descartes ocupou-se tambm de problemas teolgicos, polemizan-do com Arnaud (lder jansenista) e com o telogo holands Johan de Kater, entre outros. Sua prova da existncia de Deus pode ser resumida nassuasprpriaspalavras:Dentre as ideias do meu cogito existe uma inteiramente extraordin-ria. fi a ideia de perfei9ao, de infinito. No posso t-la tirado de mim mesmo, visto que sou finito e imperfeito. Eu, to imperfeito, que tenho a ideia de Perfeicao, s posso t-la recebido de um Ser perfeito que me ultrapassa e que o autor do meu ser. Por conseguinte, eis demonstra-da a existncia de Deus. E note-se que se trata de um Deus perfeito, que, por conseguinte, todo bondade. Eis o fantasma do gnio maligno

Cientistas ilustres com e em Deusexorcizado. Se Deus perfeito, ele no pode ter querido enganar-me e todas as minhas ideias claras e distintas so garantidas pela veracidade divina. Uma vez que Deus existe, eu ento posso crer na existncia do mundo [160].{{O caminho o inverso do seguido por So Toms de Aquino nas suas famosas cinco vias para demonstrar a existncia de Deus; ou seja, para Descartes, a existncia do mundo demonstrada a partir do pr-prio pensamento, do qual no pode duvidar, passando por Deus}}.Para Descartes, Deus transcende totalmente a natureza a ponto de no se submeter a nenhuma verdade prvia. Ele criou as verdades pelo seu livre arbtrio. Assim, por exemplo, que a soma dos ngulos de urn tringulo seja igual soma de dois ngulos retos o resultado da vonta-de livre de Deus. {{Creio que nenhum outro grande pensador tenha sido to radical quanto transcendncia de Deus}}. Alm do mais, segundo ele, Deus cria o mundo a cada instante, as leis da natureza so o que so a cada momento em virtude da vontade do Criador. Sendo totalmente transcendente ao homem, este no parte de Deus, da a autonomia, o livre arbtrio do ser humano. Estamos, nesse ponto, nos antpodas de Einstein, como veremos adiante.Roberval [394], [396], [398]Gilles Personne de Roberval (1602-1675) nasceu provavelmente em Roberval, onde foi criado, perto de Beauvais, na Frana, e faleceu em Paris. Seu nome original era Gilles Personne ou Gilles Personier. Co-meou a estudar matemtica aos catorze anos. J adulto, viajou muito, estando em vrios lugares da sua Frana, discutindo assuntos avanados de matemtica nas universidades por onde passava. Ele vivia das aulas que dava. Em Bordeaux encontrou Fermat e, em Paris, aonde chegou em 1628, integrou o grupo do padre Mersenne (), estabelecendo con-tatos com Pascal (), entre outros. Em 1632 foi nomeado professor de fi-losofia no Collge Gervais de Paris e, dois anos depois, obteve a ctedra Ramus no Collge Royal. A condicao para que o professor mantivesse essa ctedra era que propusesse problemas para outros resolverem, e deveria renunciar se algum outro resolvesse o problema melhor. Roberval foi capaz de manter essa ctedra at o fim da vida. Em 1655 obteve a ctedra Gassendf, alm da Ramus.Roberval foi urn dos matemticos que, pouco antes da invencao do clculo infinitesimal, se ocupou com problemas que ou s podiam ser resolvidos com esse mtodo ou com limites de infinitsimos - proble-

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A f em Deus de grandes cientistasmas que hoje so resolvidos com o clculo diferencial e integral -, escre-vendo o Trait des indivisibles. Calculou a integral definida da senoide, estudou as propriedades da cicloide e o tamanho do arco de uma espiral. Trabalhou tambm na quadratura de superfcies (isto , achar urn qua-drado que tenha rea igual de uma dada superfcie) e na cubatura de volumes.Tornou-se importante tambm por suas descobertas nas curvas planas e pelo mtodo de traar tangentes, que tinha sido sugerido por Torricelli (). Este mtodo fez de Roberval o fundador da geometria cinemtica. Eleito para a Acadmie Royale des Sciences em 1666, sen-do, alis, urn dos fundadores desta Academia. Em 1669 inventou a ba-lana de Roberval [395]. Roberval tambm trabalhou em cartografia e escreveu sobre o mapa da Frana. Estudou tambm o vcuo e projetou a mquina que foi usada por Pascal nas suas experincias. Ele foi urn defensor do sistema heliocntrico. Roberval citado como urn cientista def crist em [219].Grimaldi [302], [305]Padre Francesco Grimaldi SJ (1613-1663), urn jesuta (indicado pelo SJ depois do nome), nasceu e faleceu em Bolonha, na Itlia, ten-do sido professor de matemtica e fsica no Colgio dos Jesutas (na realidade, uma Faculdade) por muito anos, de acordo com [302], cujo autor do site, Padre Joseph McDonnel SJ, falecido recentemente, foi urn especialista na histria de jesutas cientistas.Segundo [304], ele teria nascido em 1618, data menos provvel, tendo em vista o ano do seu ingresso na Companhia de Jesus (a Ordem dos Jesutas) em 1632. Foi ordenado sacerdote em 1651, tendo feito seus estudos em Novellara, Parma e Bologna. Em Bologna ensinou filosofia e, depois, matemtica.De acordo com [302], ele foi urn dos grandes gemetras-fsicos de seu tempo, tendo sido urn observador hbil e exato, principalmente na tica. Descobriu a difracao da luz, descrevendo-a com preciso, tendo dado ao fenmeno o nome, que significa quebrar em partes (fracoes), estabelecendo os fundamentos para que mais tarde se nzessem grades de difracao. (De acordo com [304], citando [305], Leonardo da Yinci j teria observadoo fenmeno).Grimaldi foi urn dos primeiros cientistas a sugerir que a natureza da luz ondulatria, formulando uma base geomtrica para uma teoria ondulatria da luz no seu texto Physico-mathesis de lumine (1666) (Fsica Matemtica da luz). De acordo com [302], foi esse texto que

Cientistas ilustres com f em Deusatraiu Isaac Newton () para o estudo da tica. Efetivamente, Newton e, mais tarde, Robert Young (), se referiram s experincias de Grimaldi, repetindo-aseaperfeioando-as.Na astronomia, o trabalho de Grimaldi esteve fortemente ligado ao de urn outro jesuta, Giovanni Battista Riccioli. Em 1640 conduziu experincias de queda livre de corpos com Riccioli, concluindo, inde-pendentemente de Galileo (), que o quadrado do tempo da queda proporcional altura da queda, fato que fora demonstrado de modo mais preciso por Galileo, utilizando planos inclinados. A contribuicao de Grimaldi para a astronomia, feita com instrumentos por ele mesmo elaborados, incluiu a medida da altura de montanhas lunares, enquanto que, para a Meteorologia, contribuiu com a medida da altura de nuvens. Foi Grimaldi quern introduziu o costume de dar nome de cientistas s crateras da Lua, antes sendo denominados de outra forma como, por exemplo, o Mar da tranqilidade. Juntamente com Riccioli, comps urn mapa da Lua muito exato, cuja cpia est na entrada do National Space Museum de Washington.Pascal [13], [103H106], [286], [306]Blaise Pascal (1623-1662) nasceu em Clermont-Ferrand e faleceu em Paris. Brilhante em matemtica, fsica e filosofia. Seu talento precoce para as cincias levou a famlia para Paris, onde se dedicou ao estudo da matemtica. Sua me faleceu quando ele tinha apenas trs anos de idade. Seu pai, urn homem rico, era advogado e urn matemtico muito bom, que educou pessoalmente o filho. Nessa educacao, adotou urn mtodo no convencional: em vez de encher a cabea do filho com o latim, como era o costume, insistiu em ensin-lo mtodos racionais e de julgamentos, pelos quais compreenderia as razes por trs dos fatos. O ensino do latim foi postergado at Pascal chegar aos doze anos. Mais ainda, de acordo com uma das fontes mencionadas acima, o pai deter-minou que ele estudasse lnguas antigas antes de estudar matemtica, proibindo que lesse livros de geometria.Mas o talento do jovem Pascal era tanto que aos doze anos ele j provava teoremas de Euclides por si prprio. Aos dezesseis anos pu-blicou urn livro sobre as secoes cnicas. Essa obra continha o maior avano da geometria desde os gregos, de acordo com [286]. Ele criou com esse trabalho a Geometria Projetiva. Descartes, que era o filso-fo e matemtico dominante na poca, no quis acreditar que tal obra pudesse ser produzida por algum to jovem. Entretanto, sua intensa aplicacao ao trabalho intelectual teve urn preo: dores de estmago e

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A f em Deus de grandes cientistasinsnia. Influenciado pelas experinces de Torricelli, enunciou os pri-meiros trabalhos sobre o vcuo e demonstrou as variacoes da presso atmosfrica.Em 1646-1647 fez uma srie de estudos sobre a atmosfera e me-cnica dos fluidos. Demonstrou o que Torricelli tinha conjecturado, a saber, que a atmosfera tern peso e que, portanto, a presso atmosfrica varia de acordo com a altura. Tambm provou que possvel obter-se o vcuo invertendo urn tubo cheio de mercrio. Alm disso, inventou a seringa e o elevador hidrulico.Essas invencoes eram baseadas no depois denominado princpio de Pascal, que diz que a presso exercida sobre a superfcie de urn lquido se transmite igualmente em todas as direcoes. Conta-se que ele demonstrou isso em praa pblica, usando urn barril reforado com cintas de ferro, cheio de gua, no qual fez urn orifcio circular com o dimetro de uma bengala e, introduzindo a bengala no orifcio, o barril explodiu.Desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifes, seringas, foles e tubos de vrios tamanhos e formas e com lquidos como gua, mercrio, leo, vinho, ar etc. no vcuo e sob presso atmosfrica. Aperfeioou o ba-rmetro de Torricelli e, na matemtica, publicou o clebre Trait du triangle arithmtique (1654). Juntamente com Pierre de Fermat, estabeleceu as bases da teoria das probabilidades e da anlise combinatria (1654), que o holands Huygens () ampliou posteriormente (1657) [103].Excelente matemtico, especializou-se em clculos infinitesimais, abrindo caminho para a descoberta do clculo integral por Newton () e Leibniz () e criou urn tipo de mquina de somar que foi chamada de La pascaline (1642), a primeira calculadora mecnica que se conhece, preservada no Conservatry de Artes e Medidas de Paris.O invento de Pascal foi considerado uma verdadeira revolucao, pois transformava uma mquina em cincia, cincia que reside inteiramente \ no esprito. A construcao da mquina foi todavia muito complicada e V Pascal levou dois anos trabalhando com artesos. Essa fadiga compro-meteu definitivamente sua sade, que se tornou muito frgil da por diante [105].Alguns dos seus textos: Essai sur les coniques (1640); Avis ceux qui verront la machine arithmtique (1645); Rcit de la grande experience de lequilibre des liqueurs (1648); e Trait du triangle arithmetique (1654). Mas as consideradas obras primas de Pascal so Provin-ciales e Penses.

Cientistas ilustres com f em DeusEm 1646 Pascal se converteu a uma forma austera de catolicismo, o jansenismo, influenciando tambm sua irm Jacqueline. Da em diante, sua vida foi de tenso entre o racional e o mstico; frequentemente ele abandonava os trabalhos cientficos, considerando uma perda de tempo tudo que no fosse espiritual. Tendo sido educado sob forte influncia religiosa, tornou-se catlico fervoroso aps uma viso divina, abando-nando as cincias para se dedicar exclusivamente teologia; extrema-mente asceta, escreveu vrias obras teolgicas.As Provinciales foram escritas sob urn pseudnimo, tendo como assunto a moral e a poltica dos jesutas. As quatro primeiras tratam da questo dogmtica que formam a base do jansenismo no problema da graa e da liberdade humana. De acordo com [306], a posicao de Pascal foi, na prtica, se no teoricamente, de negar a graa suficiente e a liberdade. {{Urn problema de difcil equacionamento, cuja solucao urn mistrio}}. A 17a e a 18a cartas tratam do mesmo problema, mas de forma mais matizada. Da 4a a 16a cartas, ele censura o cdigo moral dos Jesutas, ou antes, seu casusmo. As mais famosas foram a 4% com acusa-coes de ignorncia, e a 13% sobre o homicdio. No se pode negar a boa f de Pascal, testemunhada inclusive no leito de morte, mas, de acordo com [306], seus mtodos so questionveis, organizando as acusacoes contra os jesutas, muitas vezes casusticas. Mas, segundo a mesma fon-te, a grande censura que se deve fazer a ele o fato de ter censurado Injustamente e de modo exclusivo a Companhia de Jesus (a Ordem dos Jesutas), acusando-os de diminuir o ideal cristo, tornando mais suave o seu cdigo moral em funcao de interesses polticos.Por alguns anos seu fervor religioso arrefeceu. Mas urn acidente quase fatal com uma carruagem f-lo interpretar o fato como urn aviso de Deus, tornando-se mais fervoroso do que nunca em termos espiritu-ais. Foi ento que escreveu as Lettres Provinciales que, de acordo com [286], seus bigrafos consideram que elevaram a prosa francesa a urn mais alto e novo patamar em termos de poder e forma. Suas Penses tiveram uma longa e profunda influncia desde que foram publicadas. Desejando intensamente a certeza da f, ele concluiu que o coracao tern razes que a razo desconhece. {{Permita-se-me uma observacao, com a humildade devida diante de urn gnio como Pascal: a f no se apoia nem na razo nem no coracao; a f uma virtude infusa, seu autor sendo o prprio Deus. Existem os prembulos da f, pelos quais ela se torna urn obsquio razovel; esses prembulos a tornam verossmil: existn-cia de Deus, divindade de Cristo, a Igreja Catlica sendo a continuacao do reino de Deus inaugurado por Cristo. Mas no h constringncia

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A f em Deus de grandes cientistaslgica nesses prembulos, trata-se de plausibilidade. E isto exige estudo srio e imparcial, coisa que a maioria das pessoas no se dispe a fa-zer, preferindo muitas vezes a leitura de literatura fantasiosa a respeito, como vimos recentemente no sucesso de O Cdigo da Vinci}}.Em 1654 Pascal teve uma espcie de viso mstica, escrevendo:Ano da graa de 1654, segunda-feira, 23 de novembro, dia de So Cle-mente, Papa e mrtir, e de outros no martirolgio. Viglia de So Crisgo-no, mrtir, e de outros. Das dez horas e meia da noite, mais ou menos, at cerca de meia-noite e meia. Fogo. Deus de Abrao, Deus de Isaac, Deus de Jac, e no dos filsofos e dos sbios. Certeza, certeza, sentimento, ale-gria, paz. Deus de Jesus Cristo. Deum meum et Deum vestrum (meu Deus e vosso Deus). Esquecimento do mundo e de tudo, menos de Deus. No se encontra fora das vias ensinadas no Evangelho. Grandeza da alma hu-mana. Pai justo, o mundo no te conheceu, mas eu te conhed. Alegria, alegria, alegria, lgrimas de alegria. Eu me separei dEle, Dereliquerunt Me fontem aquae vivae (Abandonaram a Mim, fonte da gua viva). Abando-nar-me-eis vs, meu Deus? Que eu no me separe dele pela eternidade. A vida eterna esta: que eles te conheam a ti, o Deus nico e verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo. Jesus Cristo, Jesus Cristo, Eu me afastei dEle, evitei-O, reneguei-O, crucifiquei-O, que eu jamais me separe dEle. No se conserva seno pelas vias ensinadas no Evangelho. Remincia total e doce. Submisso completa a Jesus Cristo e ao meu diretor. Alegria eterna por urn dia de provacao na terra. Non obliviar sermones tuos. Amen (No me esquecerei das tuas palavras. Amm) [106],Ele costurou essas palavras na sua roupa e morreria com elas sobre seu coracao. Em 1658 recolheu-se abadia de Port-Royal des Champs, centro do jansenismo. O jansenismo era uma espcie de luteranismo um pouco mitigado; como sabido, Lutero escreveu De servo arbitrio, negando a liberdade humana, uma vez que a natureza teria sido comple-tamente corrompida pelo pecado original. O luteranismo foi, ao longo dos tempos, mitigando este radicalismo de Lutero.Nos seus Penses, uma obra que ficou incomplete Pascal apresen-ta vrias ideias de valor sobre as relacoes entre cincia e religio. Deus deseja mover o coracao, mais do que a razo ([13] e [103]). Este um tratado de espiritualidade, escrito em 1660, que faz a defesa do cris-tianismo e marca o incio de seu afastamento dos jansenistas. Deus se revela parcialmente e se esconde parcialmente. E isto porque tanto perigoso para o homem conhecer a Deus sem conhecer a prpria mal-

Cientistas ilustres com f em Deusdade, como conhecer a prpria maldade sem conhecer a Deus [13]:(...) o centro de todas as suas reflexes religiosas e filosficas [] a figura de Cristo, mediador entre o finito (as criaturas) e o infinito (Deus).Em funcao de Cristo, Pascal estabelece a verdadeira relacao entre os dois Testamentos: o Antigo revelaria a justice de Deus, perante a qual todos os homens seriam culpados pela transmisso do pecado original; o Novo [Testamento] revelaria a misericrdia de Deus, que o leva a des-ccr entre os homens por intermdio de seu Filho, cujo sacrifcio infunde a graa santificante no coracao dos homens e os redime. A ideia central de Pascal sobre o problema religioso , portanto, a de que sem Cristo o homem est no vcio e na misria; com Cristo, est na felicidade, na virtude e na luz [105]. Cristo era o centro da sua teologia e da sua f, Jesus Cristo, que o Antigo e o Novo Testamentos consideram, respecti-vamente, como sua expectativa e modelo.Ao final da sua breve, mas fecundssima vida, Pascal se afastou do jansenismo, retornando ortodoxia catlica, de acordo com uma das fontescitadasacima.Pascal tern urn famoso argumento, em termos de probabilidade a favor da existncia de Deus (ligeiramente modificado da sua forma original [306], para torn-lo mais compreensvel): se eu aposto que Deus existe e Ele de fato existe, meu ganho infinito (a vida eterna); se eu perder a aposta, isto , se ele no existir, terei perdido urn bem finito.Boyle [219], [243], [245], [286]Robert Boyle (1627-1691) foi urn fsico, qumico, filsofo e inventor, que deu o nome, juntamente com Mariotte, lei da fsica que rege a relacao entre a presso e o volume de urn gs. Ele considerado urn dos fundadores da moderna qumica. Nascido em Waterford, na Irlanda, stimo filho do primeiro Conde de Cork, de urn total de catorze, seu pai, urn empreendedor, adquiriu grandes extenses de terra na Irlanda tornando-se o homem possivelmente mais rico da Gr-Bretanha. Sua me, a bela Catherine Fenton, morreu quando Boyle tinha apenas trs anos. Robert era ainda uma criana quando aprendeu a falar latim, gre-go e francs. Ele era o filho predileto do pai, que gostava especialmente da sua veracidade, j que ele preferia ser objeto da ira de seu pai a dizer uma mentira. Com oito anos de idade, foi enviado, com urn irmo, para o Eton College na Inglaterra. Nessa poca esse college estava ficando na moda; as pessoas importantes mandavam seus filhos para l. Ali os dois estudaram os clssicos, como era a voga, e tiveram tutores especiais de francs, dan