PUBLICAÇÃO DE LIVROS E ARTIGOS - Pós-Graduação · A comunicação científica se faz,...

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PUBLICAÇÃO DE LIVROS E ARTIGOS CIÊNCIAS HUMANAS PROPPi UFF junho de 2012

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PUBLICAÇÃO DE LIVROS E

ARTIGOS

CIÊNCIAS HUMANAS

PROPPi – UFF

junho de 2012

Apresentadoras

Ana Maria Mauad Essus

Programa de Pós-Graduação em História

[email protected]

Simoni Lahud Guedes

Programa de Pós-Graduação em Antropologia

[email protected]

Universidade Federal Fluminense

Por que falamos sobre isso?

Refletir sobre os textos acadêmicos, embora não seja uma preocupação nova, não

é muito usual. Em geral, não há uma disciplina acadêmica com este objetivo e aprendemos sem tomar consciência das inúmeras regras que vamos incorporando em nossa vida acadêmica. Atualmente, há algumas reflexões importantes sobre isso pelo menos em nossas disciplinas específicas (antropologia e história).

Nesta oportunidade, estamos aqui tentando explicitar algumas das regras e normas que incorporamos em nosso fazer acadêmico, visando refletir junto com vocês sobre as dificuldades para a produção de textos científicos em ciências humanas.

De onde falamos?

Nossas experiências pessoais são

disciplinares, no caso, história e

antropologia.

Há uma expressiva diversidade disciplinar

no interior das chamadas ciências

humanas mas há também uma série de

aspectos em comum.

A especificidade das ciências

humanas

Vistas por um lado,são ciências, portanto estão

delimitadas por questões teóricas e

metodológicas no interior das quais são

elaborados os textos. Por outro lado, seu objeto

são as ações, relações e interações sociais e

seus sentidos e significados, refletindo sobre o

seu estar no mundo. Trata-se de um objeto

muito específico: são pessoas que interagem

com o pesquisador e também produzem teorias

sobre suas vidas.

A especificidade das ciências

humanas

Um outro aspecto a destacar é a continuidade e acumulação do conhecimento: nas ciências humanas, os diferentes paradigmas convivem não sendo, em geral, completamente superados por teorias mais recentes. Desse modo, acumulamos diferentes e longas tradições disciplinares que não podem ser apreendidas no manual mais recente. Daí também a importância permanente dos livros em nossas disciplinas, não substituíveis pelos artigos em periódicos, como acontece em outras grandes áreas.

Valor específico dos livros nas

ciências humanas Uma das características especificas das ciências humanas, comparadas às ciências mais “duras” é que não se pode falar de superação de saberes com a mesma velocidade que ocorre em outras áreas. O conhecimento se acumula e se superpõe, se complementa, dificilmente sendo possível considerar algum texto como completamente superado e inútil.

Deste modo, nas ciências humanas, a publicação de livros e capítulos é tão ou mais importante que a publicação em periódicos, ao contrário de outras áreas em que os livros são apenas manuais didáticos, com utilidade limitada e rapidamente superados pela velocidade em que novos conhecimentos se acumulam.

A diversidade das ciências

humanas Dois exemplos da diversidade de cada campo disciplinar e seu impacto nos textos:

1. Disciplinas mais normativas (pedagogia, educação física, ciência política, direito por exemplo) cujos textos têm impacto mais direto nas organizações sociais e que dialogam mais diretamente, por exemplo, com políticas públicas. Estes textos têm um público mais amplo e isto deve ser levado em consideração. Outras disciplinas aão menos normativas e seus textos mais voltados para o campo acadêmico:. Outras diferenças aparecerão na sequência de nossas discussões.

A diversidade das ciências

humanas

2. Tradições teóricas e metodológicas distintas

impactam diferentemente nos textos. Por

exemplo, os textos etnográficos da Antropologia

têm características específicas que, em alguns

casos, são estratégias para convencer o leitor

de que o etnográfo <esteve lá> como vai

colocar Clifford Geertz. Já os textos de História

têm regras específicas de credibilidade que se

baseiam nas reflexões historiográficas.

Por que escrever?

A comunicação científica se faz, predominantemente, através dos textos científicos.

Nenhum trabalho existe sem o texto: a pesquisa mais elaborada, se não for redigida para comunicação simplesmente não existe. Mesmo a apresentação oral em congressos pressupõe alguma textualização.

A redação de um ou mais textos e sua publicação são o único ponto final (relativo) do trabalho de investigação em ciências humanas. Sem os textos, muitos investimentos em pesquisa, até de grande qualidade, se perdem, deixam de existir porque não foram textualizados

Resumindo, citamos Howard Becker (1986, p.5) , com seu habitual bom senso: Ninguém pode ler o que nunca foi colocado em papel.

O que escrever?

Formas de publicação em ciências humanas:

Livros Integrais

Coletâneas temáticas (individuais ou coletivas; capítulos)

Artigos em periódicos

Dossiês em periódicos especializados

Instrumentos de pesquisa: guia de fontes; inventário de locais de pesquisa relacionados a temas específicos (em geral disponibilizados on-line)

Artigos de divulgação: magazines temáticos como a Revista da BN

Resenhas

Comunicações em atas de congresso

Há que se preocupar com o

Qualis/Capes?

Qualis de periódicos

A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 C

Qualis de livros

L4 L3 l2 L1 LNC

Informações em

capes.gov.br/avaliacao/qualis

Escrever e criar

Quero chamar a atenção sobre isso, de modo a tornar claro que – pelo menos no meu modo de ver – é no processo de redação de um texto que nosso pensamento caminha, encontrando soluções que dificilmente aparecerão antes da textualização dos dados provenientes da observação sistemática.Assim sendo, seria um equívoco imaginar que, primeiro, chegamos a conclusões relativas a estes mesmos dados, para, em seguida, podermos inscrever essas conclusões no texto. Portanto, dissociando-se o pensar do escrever.Pelo menos minha experiência indica que o ato de escrever e o de pensar são de tal forma solidários entre si que, juntos, formam praticamente um mesmo ato cognitivo.Isso significa que, nesse caso, o texto não espera que seu autor tenha primeiro todas as respostas para, só então, ser iniciado.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso, 1998, p. 32

Escrever e criar

Jack Goody (1986, entre outros) reflete sobre a invenção da escrita como produção de novas tecnologias da mente e seu impacto na organização social. Aponta para as relações entre o registro escrito e as mudanças sociais.

Estamos agora diante de mudanças nas tecnologias de produção de textos igualmente revolucionárias? O que o computador significa em termos destas novas tecnologias da escrita? Não estaríamos diante de uma nova revolução quase equivalente àquelas da invenção da escrita e da imprensa?

Precisamos refletir sobre o impacto destas tecnologias em nossos textos. Potencialidades e limites da reescrita.

Escrever e criar

A maioria dos estudantes tem um ponto de vista convencional, incorporado na máxima popular que, se você pensa claramente, você escreverá claramente. Pensam que têm trabalhar cada detalhe antes de escrever a primeira palavra, tendo primeiro congregado todas as suas impressões, idéias e dados e explicitamente decidido cada questão importante de teoria e fato. Entretanto, eles podem estar errados...Minha teoria conduz à posição oposta: você já fez muitas escolhas quando você se senta para escrever mas, provavelmente, você não sabe quais são elas.

BECKER, Howard, 1986, p. 16/17

Escrever e criar

Sob tal ponto de vista, escrever é parte fundamental do processo de produção do saber nas ciências sociais. Momento de interpretação e correlação de dados que, muitas vezes, só aparecem no processo de textualização como ato cognitivo básico.

Escrever não é, portanto, simplesmente inscrever algo já dado: é pensar e produzir saber e conhecimento num ato único, insubstituível e, porque não dizer, muitas vezes doloroso.

Escrever, reescrever e editar

Correção gramatical como condição sine

qua non

Plano de redação

Descobrir sua forma própria de escrever

(tempo, espaço, rituais...)

Busca da objetividade e da clareza

Rascunhos e reescritas INCANSÁVEIS

Como escrever? Estilo

No campo acadêmico brasileiro das ciências humanas (cf. KANT DE LIMA, 1985), admite-se um estilo próprio, sem rigidez quanto à formatação do artigo ou capítulo mas, sem dúvida, a clareza e correção gramatical são essenciais. Uma linguagem coloquial, sem justificativa, é inadequada, assim como o excesso de metáforas que criam um estilo falsamente erudito mas, no mais das vezes, incompreensível ao leitor.

Ter um estilo próprio também não significa que o autor possa ignorar a produção relevante no tema ou assunto de que trata, preferencialmente situando os debates principais e situando-se no interior deste diálogo: este é um aspecto fundamental de avaliação do texto.

Há modelos a seguir?

Da mesma forma, não há, nas ciências humanas, um modelo rígido de texto a seguir (talvez infelizmente), não há receita tipo (introdução, objetivos, hipótese etc...).

Cada autor deve encontrar seu estilo e a formatação do seu texto, levando em conta, todavia, a necessidade de explicitar com clareza seu tema ou objeto, o que implica em um diálogo com a teoria social, sua fundamentação metodológica e a apresentação analítica dos seus dados.

Para quem escrevemos?

Pares

Bancas

Clareza e difusão acadêmica: neste caso, há que se atentar para as diferenças entre as ciências humanas que atingem dliferentes públicos.

Título, resumo e descritores são essenciais para a divulgação do seu trabalho. Cautela com títulos poéticos ou metafóricos.

Diferentes estilos e estratégias discursivas, envolvendo novas perspectivas teóricas: por exemplo, na antropologia, o chamado <nós majestático> caiu em desuso, sendo substituído pela primeira pessoa, colocando o pesquisador cada vez de forma mais visívell dentro do seu próprio texto. (cf CLIFFORD, James, 1998)

Importância das reescritas e leituras intermediárias: para quem pedir a leitura dos rascunhos ou copiões?

Quem é o autor?

A organização atual do trabalho

acadêmico, as pesquisas coletivas e a

questão da autoria. Quem é o autor?

Citações

Paráfrases

Cuidado permanente de atribuir a autoria

das ideias a quem de direito.

Uma palavra sobre resenhas

Fazer uma resenha de um livro pode ser um exercício extremamente produtivo: exercita-se a reflexão e a textualização, familiariza-se com um texto importante, permite que nos situemos nos debates dentro de um tema ou assunto... Além disso, quase todos os periódicos, necessitam de boas resenhas para publicar, sendo um espaço, em gerlal pouco ocupado e que pode se abrir com bastante facilidade para novos autores.

Sobre as resenhas, mais duas observações: 1) neste caso, é importante que o livro escolhido para ser resenhado seja relativamente recente pois a finalidade principal de uma resenha é apresentar um determinado texto à comunidade científica; 2) resenhar não é fazer resumo (tipo, no capítulo 1 o autor fala disso...) Resenhas também são textos reflexivos e criativos e as boas resenhas procuram apresentar critica e reflexivamente as principais questões do texto, preferencialmente colocando-as no contexto de debates mais amplos.

Neste caso, como em qualquer outro, para aprender a fazer boas resenhas, é preciso ler muitas resenhas. E isto, evidentemente, é essencial para todos nós.

Outras formas de publicizaçao do

trabalho acadêmico

Sites dos grupos de pesquisa onde se

disponibilizam os produtos resultados das

pesquisas

Produção audiovisual – a escrita

videográfica.

(Ana MAUAD)

Referências Bibliográficas

BECKER, Howard – Writing for social scientists. How to start and finish your thesis, book, or article. Chicago: The University of Chicago Press, 1986

CLIFFORD, James – A experiência etnográfica. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998

GOODY, Jack. A Lógica da escrita e a organização da sociedade. Lisboa: Edições 70, 1986

KANT DE LIMA, Roberto. Antropologia da academia: quando os índios somos nós. Niterói: EDUFF, 1985

OLIVEIRA, Roberto Cardoso – O trabalho do antropólogo. Campinas: UNESP, 1998