Psicologia Da Família- 3 Frequencia

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Psicologia da família- 3ª frequência Capitulo 2- Desenvolvimento familiar Ciclo vital: identificação de uma sequência previsível de transformações na organização familiar, em função de tarefas bem definidas. O desenvolvimento familiar reporta- se à mudança da família enquanto grupo, bem como às mudanças nos seus membros individuais. A marcação das diferentes etapas do ciclo vital: aparecimento de novos elementos, de novos sub-sistemas, tarefas de desenvolvimento a realizar mudanças funcionais e estruturais a operar e a saída de elementos do núcleo familiar. Isto tem como referência a família nuclear tradicional, composta pelo pai, mãe e filhos, e a idade e evolução do filho mais velho. Como afirma Asen e Tomson, o termo “ciclo” implica a roda da vida familiar que gira de modo interminável, ligando as diferentes gerações, logo os ciclos de vida de todas as gerações se entrelaçam e repercutem um nos outros. O alargamento do aspetro geracional pode enriquecer o tecido relacional das novas gerações e aumentar as suas próprias experiências de vida e os seus conhecimentos, dando também um apoio às gerações intermédias, mas também podem comportar fontes de stress pela necessidade de se (re)equacionarem, a cada nova crise, as mudanças a realizar pelos diferentes elementos e núcleos familiares. 1. A formação do casal Nota: ter em conta a equivalência dos casamentos legais e as uniões de facto Namoro: Durante o namoro iludem-se ou esquecem-se as divergências e os aspetos menos amados. Fortalece-se a ideia de que depois do casamento o outro transformar-se-à. Organizamos as nossas vidas para estar o máximo de tempo jutos com o outro. Durante este sentimos que o outro nos considera a pessoa mais importante (PMI). É também um tempo de ilusões pois pensamos que conhecemos bem o parceiro. O sucesso depende mais do próprio processo que se desenvolve do que dos pré-requesitos que se possam amealhar.

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Psicologia da família- 3ª frequência

Capitulo 2- Desenvolvimento familiar

Ciclo vital: identificação de uma sequência previsível de transformações na organização familiar, em função de tarefas bem definidas. O desenvolvimento familiar reporta-se à mudança da família enquanto grupo, bem como às mudanças nos seus membros individuais. A marcação das diferentes etapas do ciclo vital: aparecimento de novos elementos, de novos sub-sistemas, tarefas de desenvolvimento a realizar mudanças funcionais e estruturais a operar e a saída de elementos do núcleo familiar. Isto tem como referência a família nuclear tradicional, composta pelo pai, mãe e filhos, e a idade e evolução do filho mais velho. Como afirma Asen e Tomson, o termo “ciclo” implica a roda da vida familiar que gira de modo interminável, ligando as diferentes gerações, logo os ciclos de vida de todas as gerações se entrelaçam e repercutem um nos outros. O alargamento do aspetro geracional pode enriquecer o tecido relacional das novas gerações e aumentar as suas próprias experiências de vida e os seus conhecimentos, dando também um apoio às gerações intermédias, mas também podem comportar fontes de stress pela necessidade de se (re)equacionarem, a cada nova crise, as mudanças a realizar pelos diferentes elementos e núcleos familiares.

1. A formação do casal

Nota: ter em conta a equivalência dos casamentos legais e as uniões de facto

Namoro: Durante o namoro iludem-se ou esquecem-se as divergências e os aspetos menos amados. Fortalece-se a ideia de que depois do casamento o outro transformar-se-à. Organizamos as nossas vidas para estar o máximo de tempo jutos com o outro. Durante este sentimos que o outro nos considera a pessoa mais importante (PMI). É também um tempo de ilusões pois pensamos que conhecemos bem o parceiro. O sucesso depende mais do próprio processo que se desenvolve do que dos pré-requesitos que se possam amealhar.

Quando nos casamos damos origem a um novo sistema, formando um sub-sistema particular, o conjugal. Como se desenvolveu este novo sub-sistema, isto implica o desenvolvimento de novas funções. O sub-sistema conjugal tem que, num movimento centrípeto, permitir articular a sua individualidade e a sua totalidade.

Individualidade e conjugalidade: Ao casaros transportamos heranças familiares e aquisições nossas, é através do contato com estas “vivências” que cada um contrói um modelo de vida pessoal (afetiva, profissional e social), conjugal e familiar que vai ter que ser confrontado e negociado com o do nosso parceiro. O casamento pode servir como um escape aos progenitores, como pode ser um aespécie de vingança. A interiorização dos modelos familiares de conjugalidade não se fez, nem se fará, por (re)construção individual mas apenas por colagem ou duplicação negativa. Com esta designação pretende-se significar que o jovem organiza um modelo de conjugalidade apenas pela negativa, tentando ser o oposto daquilo que os seus pais (ou cônjuges de referência) foram. Só é possível ultrapassar isto se o casal metacomunicar ou faça terapia de casal. São diversas as armadilhas durante a vida de casal, as mais perigosas são as lealdades invisíveis(p.e. a lealdade com algum dos pais pode afetar o

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casamento) e as coligações negadas. Na coligação negada existe uma alinaça, geralmente oculta, entre duas pessoas contra uma terceira de tal forma que um dos membros desenvolve ativamente ks de falsa aliança com um segundo enquanto que, na realidade, protege aquele contra quem estaria implicitamente coligado.

Nota: conjugalidade fantasmática- ideia que cada um de nós faz do que é ser conjugue e do que é ser casal, ideia edificada com base nos modelos da nossa infância e da nossa adolescência, construídos na interação que estabelecemos, desde logo, com os nossos pais e, mais tarde, com os nossos pares. Apesar de pensarmos que esta é a influência mais determinante, é obvio que os valores, as atitudes e os ks de outros adultos significativos e da própria cultura em que estamos inseridos não podem ser esquecidos neste processo de construção.

Diferenciação do casal: À medida que se vai formando (movimento centrípeto), ganhando identidade e segurança, o casal começa a abrir-se progressivamente ao exterior. O primeiro marco do movimento de abertura da nova família ao exterior seja o nascimento do primeiro filho.

Eu, tu e nós: Todo o casal faz-se de três elementos:eu,tu e nós. O eu e o tu correspondem a cada um dos sujeitos: aos seus desejos, às suas necessidades aos seus valores, às suas atitudes, às suas expectativas, aos seus ks, às suas aprendizagens, em suma, às suas características físicas, cognitivas, emocionais e morais. O nós engloba o par e diz respeito ao projeto e ao processo de casal. Representa, também, o casal que cada um dos respetivos progenitores foi e, além disso, as histórias que a família criou e desenvolveu sobre a conjugabilidade. A necessidade que os cônjugues tem de construir um nós pessoal, fruto de múltiplas influências.

Complementaridade: É, então, neste processo, que partilha e negociação se tornam fundamentais. Em termos relacionais, a complementaridade torna-se o modelo comunicacional por excelência, numa articulação oscilante das posições one-up e one-down. Conhecendo e assumindo as diferenças existente entre os cônjugues, o casal transforma-se numa vantagem em vez de convertê-las num impedimento. Os cônjuges cristalizam um modelo de conjugalidade que se define pela equação, dominador/dominado. Em alguns casos, o elemento dominado construi o sua identidade com base num modelo de vinculação insegura, ansiosa, e a relação de permanente dependência face ao par prolonga o estilo relacional que já tinha na família de origem ou que, por razões defensivas. Geralmente confortável na sua posição, desde que, ao nível do seu Eu, seja mantida uma zona de liberdade. Para o elemento dominador a posição é, durante algum tempo, confortável, no entanto, as suas próprias necessidades de dependência far-se-ão sentir e é provável que, de forma direta ou indireta, ele reclame, do cônjuge, um apoio, difícil de prestar já que o casal não treinou a oscilação da complementaridade. A violência que pode surgir nalguns destes casais confirma e promove o estilo comunicacional que conhecem, pelo que ambos os parceiros contribuem para a sua manutenção, mesmo quando a vitjma assume o discurso, manifesto, de uma enorme infelicidade.

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Nota: ao falarmos de violência reportamo-nos a situações de agressão física e/ou verbal bem como a casos de Desconfirmação sistemática e de negligência face às necessidades bio-psico-sociais básicas do sujeito.

Simetria: A simetria comunicacional tem também que existir no casal. Procurando amplificar as semelhanças entre os comunicantes, a simetria permite o exercício da sua própria individualidade e o treino da competição, consigo póprio e com o outro.

Metacomunicação: Para que ambos tenham as mesmas oportunidades é necessário que sejam igualmente complementares, auxiliando-se e apoiano-se mutuamente. Como é fundamental, também, que possam metacomunicar, isto +e, comunicar sobre a sua comunicação ou, se quisermos, comentar a informação que estão transmitindo. Isto é um elemento necessário à construção e evolução do processo de casal, na medida em que ela possibilita, aos cônjuges, esclarecerem-se, negociarem, ultrapassarem conflitos, ligarem-se. Durante o namoro, treina-se pouco a metacomunicação pensando que o amor é suficiente para fazê-lo. Com o casamento pensam que o amor é suficiente para que a vida de casal se desenrole automaticamente. É curioso este engano, porque para sobreviver o amor tem que ser alimentado. Normalmente, os conflitos não resolvidos, as negociações não interrompidas e falhadas, as divergências sistemáticas de opinião, a descoberta das características menos positivas do outro, tudo isto associado à tensão erosiva do quotidiano, só a metacomunicação, porque se situa num nível lógico diferente da comunicação, pode ajudar a resolver. A metacomunicação é, ainda, importante na medida em que nos conduz a uma clarificação e congruência comunicacionais que são ingredientes fundamentais da relação.

Mitos conjugais: O processo de construção e desenvolvimento do casal vê-se armadilhado por certos mitos. Uns são fortemente sustentados por heranças familiares, outros por ofertas sociais. Amor e casamento podem, então, estar fortemente conotados com perda de individualidade (física, cognitiva e afetiva). “Se me amas dar-me-ás o que eu quero”, “ Marido e mulher devem ser os melhores amigos”… Estes são alguns mitos, ou crenças, que podem agrilhoar os cônjuges, deixando-os presos de double-blinds que tornam a comunicação disfuncional.

O desenvolvimento da vida conjugal e da vida familiar inicia-se com a formação do sub-sistema conjugal, um processo que será o esteio da vida do casal. Dai a exigência posta na clarificação das suas fronteiras com outros sistemas (p.e. família de origem, grupo de amigos), na definição do modelo conjugal (articulação dos modelos individuais) e no desenvolvimento de uma comunidade funcional (articulação da simetria e da complementaridade, importância da metacomunicação). Mas são igualmente importantes outro dois níveis: modelo de identidade sexual e conjugal para os filhos.

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2. Familia com filhos pequenos

A segunda etapa do ciclo vital da família é marcada pelo nascimento do primeiro filho. Com ele surge não só um novo sub-sistema (parental) mas, também, novas funções, novas tarefas e um conjunto de reorganizações relacionais, intra e inter-familiares bem como inter-sistémicas.

Conjugalidade e parentalidade: A conjugalidade não pode ser anulada, nem mesmo ocultada, pela parentalidade, tem que ser com ela articulada. Conjugalidade e parentalidade t~em, cada uma delas, o seu ciclo de vida, desenvolvendo-se num espaço e num tempo próprios ainda que permanentemente inter-atuantes. A dimensão temporal da conjugalidade tem duas particularidades que importa realçar: por um lado, se deseja e espera que a conjugalidade se prolongue para além do tempo ativo da parentalidade, por outro lado, o tempo conjugal é muito vulnerável e pode ser anulado ou interrompido.

Nota: Com a expressão “tempo ativo da parentalidade” queremos significar o período de tempo, relativamente longo, em que os pais têm de exercer, de forma notória, os seus papéis parentais. Quando os filhos saem de casa, para iniciar um novo ciclo familiar, os pais, mantendo o seu estatuto parental, alteram claramente o exercício dessa parentalidae. Como adiante veremos, as relações pais-filhos desenvolvem-se no contexto da horizontalidade própria das relações existentes entre adultos e os filhos solicitam-nos cada vez menos, permitindo-lhes usufruir de mais tempo e de mais espaço para a vivência da conjugalidade e da individualidade.

Pelo contrário, é se pai ou mãe para toda a vida. O tempo conjugal, é durante os primeiros 20 anos de cada filho, frequentemente intersectado pela paentalidade. O espaço de intimidade que a conjugalidade cria e exige é, muitas vezes, atravessado por outras relações familiares que o perturbam e lhe podem dificultar a existência. Uma das primeiras dificuldades que o sub-sistema conjugal tem que enfrentar é a articulação espácio-temporal de funções diferentes protagonizadas pelos mesmos adultos: na primeira etapa do ciclo vital os cônjuges têm que fundamentalmente alimentar o nós do casal e o eu. Na segunda para além da manutenção destas funções, os adultos têm que fazer crescer os filhos, socializando-os e dando-lhes autonomia.

De díade á tríade: Outra dificuldade diz respeito à configuração da nova trama relacional. Com o nascimento do primeiro filho a configuraçãio triangular passa a estar presente. Esta convivência didática e triádica complexifica-se. A díade surge, na vida do ser humano, como a unidade relacional fundamental á sua sobrevivência, física, e, sobretudo, psíquica. A qualidade do vinculo, é durante os primeiros meses de vida, fusional o que afasta desta díade qualquer terceiro. Já no fim da gravidez, a unidade mãe-ciança sobrepõe-se a outras relações, nomeadamente à conjugal. Mas é, sem dúvida, depois do nascimento que a díade mãe-bebé ocupa um tempo e um espaço que alcançam território de outras diades. Na sala, na cozinha, no carro, na rua, um pouco por todo o lado, a vida do casal reduz-se do ponto de vista quantitativo ainda que o mesmo não tenha que acontecer no plano qualitativo. A vida sexual do casal tranforma-se e novos ritmos se impõem, o casal pode ressentir-se. Este é, pois, um momento de crise para o processo de casal. Como toda a crise, também esta pode ser ocasião de crescimento ou risco de perturbação da vida conjugal. Na resolução desta crise é importante não só a qualidade da construção conjugal anterior como a qualidade do afeto conjugal presente, a relação entre a díade conjugal e a díade parental (qualidade das fronteiras existentes entre estes dois sub-sistemas) e a forma

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como esta última aceita a relação triádica. São também os pais que têm que aprender a relacionar-se diadicamente na presença de um terceiro. As características da criança vão ter, aqui, um paple importante: se for alegre, simpática, saudável, fácil o dormir, no comer, no estar com os outros, nomeadamente com os pais, a tarefa destes encontra-se bem mais facilitada e a vida a três desenvolver-se-à. Este balanceamento entre vinculação e separação, dependência e autonomia, relacionamento diático e triádico, é uma das tarefas mais importantes do desenvolvimento humano, familiar e individual; mas, é também um das mais difíceis. Mas nem sempre é fácil para o pai: mesmo que o deseje muito, por vezes, a criança não o escolhe ou afirma claramente que prefere a mãe, ainda que tenha aberto a porta à entrada do pai. Também não é fácil para a mãe: muitas vezes sente-se dividida entre duas vinculações que, temporariamente, podem tornar-se concorrentes- a maternal e a conjugal. Nestes momentos, a metacomunicação ao novel da díade conjugal e da díade parental torna-se fundamental. Um outro apoio importante é aquele que pode ser oferecido pela família de origem e/ou família extensa, pelos amigos, colegas de trabalho, vizinhos, etc. Amplifica as potencialidades do apoio e não satura nem esvazia os seus protagonistas como porque corre menos riscos de introduzir novas diades que, pela sua permanência, possam vir a constituir-se como alvos de triangulação de diades em tensão. Pode ocorrer, com alguma frequ~encia, no contexto de tríades geracionais que se organizam em torno da nova criança. A chegada do primeiro filho vai ecoar, também, nas diades profissionais e na díade parental e, até conjugal. Estes serão momentos em que a simetria e a complementaridade comunicacional correm riscos de disfuncionamento dada a tensão a que ficam submetidos os diversos elementos. Na gestão das relações triangulares, a dimensão e a resolução da tensão ou do conflito dependerá, então, do sentimento do elemento que fique excluído. Satir afirma que o terceiro elemento tem a possibilidade de interro