Psicanálise II- Aula 3 : Transferência (parte II)
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Tema:
A TRANSFERÊNCIA(parte 2)
Alexandre Simões
Continuemos com mais algumas observações
sobre a transferência na psicanálise
ALEXANDRE SIMÕES
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Chegamos a ver que a transferência não é um processo que se desenvolve em uma única direção. Aliás, uma das
características fundamentais da transferência é que ela é ambígua:
O alerta de Freud sobre esta dupla face da transferência:
“... na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento.” (FREUD. A dinâmica da transferência, p. 135)
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Como compreender que a transferência, até então imprescindível à análise e tida como motor
da mesma, possa comportar uma considerável resistência ao trabalho da análise?
“À primeira vista, parece ser uma imensa desvantagem, para a psicanálise como método, que aquilo que alhures constitui o fator mais forte no sentido do sucesso nela se transforme no mais poderoso meio de resistência” (FREUD. A
dinâmica da transferência, p. 135)
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Freud indica uma cena clínica para localizar este aspecto:
“... Se as associações de um paciente faltam [neste ponto, Freud faz referência a uma suspensão do discurso e não somente à evitação ou desvio de um assunto] a interrupção pode invariavelmente ser removida pela garantia de que ele está sendo dominado, momentaneamente, por uma associação relacionada com o próprio médico ou com algo a este vinculado.” (A dinâmica da transferência, p. 135)
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Esta característica da transferência leva-nos a considerar uma
circunstância especialmente importante na condução de uma
análise: o atrelamento ao Outro (que é mais amplo do que o espaço da
transferência)
“A resistência acompanha o tratamento passo a passo. Cada associação isolada, cada ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõem.” (A dinâmica da transferência, p. 138)
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O vínculo amoroso com o analista
Uma forma de manifestação dos fenômenos da transferência que em grande parte chamou a atenção de
Freud foi a face do amor, mais precisamente, o amor do analisando
dirigido ao analista
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Em vários momentos dos textos de Freud dedicados ao assunto, ele localiza o analista nesta
problemática por meio da designação “figura do médico”.
Isto nos ajuda a pensar que o analista, para o analisando, conta menos como aquilo que ele é e muito mais como o lugar que ele ocupa na fantasia do analisando.
No caso do amor, estamos nos referindo a um lugar de preenchimento (como resolução da demanda do paciente)
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Este vínculo preenchedor ...
Conduz o paciente a “... desprezar a regra fundamental da psicanálise, que estabelece que tudo que lhe venha à
cabeça deve ser comunicado sem crítica...” (A dinâmica da transferência, p. 142)
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Como, por outro lado, o amor também impulsiona uma análise, Freud é levado a enfrentar este
problema (o da ambiguidade ou ambivalência da transferência) por meio de um artifício:
a distinção entre uma “transferência positiva” (também chamada de “transferência erótica”) e
uma “transferência negativa” ALEXANDRE SIMÕES
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Devemos ter atenção para não fazer um uso dicotômico ou meramente instrumental dessa distinção entre duas formas de transferência
Freud irá nos lembrar que a “a transferência negativa (...) é encontrada lado a lado com a transferência afetuosa, amiúde dirigidas simultaneamente para a mesma pessoa.” (A dinâmica da transferência, p. 141)
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Podemos partir da premissa que a transferência positiva seja constituída por sentimentos conscientes de simpatia, envolvimento com o tratamento e cordialidade dirigidos à figura do analista; logo, como uma circunstância conveniente ao desenvolvimento da análise.
Todavia, isto é também um problema para a condução das análises.
Caso nos concentremos no campo movediço da transferência positiva, podemos cair nos erro de nos aliarmos excessivamente ao eu do analisando (e, por fim, do próprio analista) e manter, assim, a ignorância acerca de seus avessos.
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Certamente, a face aprazível da transferência positiva é mais cômoda para a administração do setting analítico. Isto se torna mais visível (e perigoso) na medida em que tudo
isto pode convergir para os fantasmas narcisistas do analista.
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Já no que tange àquilo que Freud nomeou como
“transferência negativa” podemos encontrar o paciente reticente a dirigir seu discurso ao analista; ele desconfia do
profissionalismo e comprometimento do analista, argumenta sobre a inocuidade do próprio trabalho
terapêutico e mantem uma distância cautelosa (“não acredito nisto...”). Este posicionamento, em boa parte, responde pelos abandonos precipitados que costumam
ocorrer ao início de uma análise.
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É este entrecruzamento que conduz Freud a propor o “manejo” ou “manobra” da transferência, com a seguinte ressalva:
“Não se discute que controlar os fenômenos da transferência representa para o psicanalista as
maiores dificuldades; mas não se deve esquecer que são precisamente elas que nos
prestam o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos
ocultos e esquecidos do paciente. Pois, quando tudo está dito e feito, é impossível destruir
alguém in absentia ou in effigie.”
(A dinâmica da transferência, p. 143)
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Prosseguiremos na próxima aula!
Prof. Alexandre Simões
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