Prova Final de Antropologia

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PROVA FINAL DE ANTROPOLOGIA Prof. John Monteiro, PED ErnenekMejía Renato Nunes de Souza Junior RA: 121323 Ciências Sociais 2011 Diurno

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PROVA FINAL DE ANTROPOLOGIA

Prof. John Monteiro, PED ErnenekMejía

Renato Nunes de Souza Junior

RA: 121323

Ciências Sociais 2011 Diurno

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Questão 2:

Apresento, a seguir, alguns dos significados atribuídos aos textos de

Malinowski, Geertz e Lévi Strauss. Ao pensar sobre tais questões, como

objeto e posicionamento do antropólogo perante a ele, colocarei em

referência o texto “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, em seguida

apresentando o diálogo criado por Geertz.

A antropologia moderna muito se deve ao trabalho de Malinowski

(1978), que revolucionou a utilização da etnografia como uma fundamental

ferramenta de trabalho do antropólogo, visto que tais métodos não eram

utilizados antes de sua pesquisa, no início do século XX. Na introdução de

“Os Argonautas”, ele mostra preocupação em determinar os eixos da

pesquisa antropológica, propondo também três fases para a pesquisa

etnográfica.

O pesquisador deve ter objetivos realmente científicos e conhecer os

valores e critérios da etnografia moderna; deve colocar-se em boas

condições de trabalho, vivendo no meio dos nativos; deve aplicar métodos

particulares para coletar, manipular e estabelecer seus dados.

Essa investigação profunda da vida nativa se coloca de modo a levar

o etnógrafo a uma melhor compreensão daquela determinada estrutura

social, sendo que o antropólogo interpreta essa organização graças à sua

experiência, constante diálogo e observação participante por dentro da

civilização em questão. A aplicação desses princípios é importante parte da

obra do autor, que ao introduzir o livro, expõe todo um novo método.

A etnologia sistematizou o conhecimento sobre as comunidades

primitivas. Malinowski (1978) coloca como finalidade da pesquisa de campo

a descrição da constituição social de maneira clara e nítida e a distinção das

leis e regularidades de todos os fenômenos culturais. Deve-se primeiro,

descobrir os detalhes da vida tribal enfatizando todos os fenômenos

observados, em todos os seus aspectos. Como não há códigos de lei numa

sociedade tribal, o pesquisador deve buscar dados concretos sobre todos os

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fatos observados a partir da indução, e formular as interpretações

Malinowski propõe que o pesquisador dê ênfase aos fatos, ou seja, todos

devem ser observados, e aqueles que se repetem devem ser anotados. É

preciso que além do esboço claro da vida tribal, da coleta dos dados da vida

diária e do comportamento cotidiano, os pontos de vista e opiniões dos

nativos sejam percebidos. Para isso, é preciso que o pesquisador estude as

maneiras típicas de pensar e sentir dos nativos, sendo fundamental o

conhecimento da língua. Organização da tribo e a anatomia de sua cultura

devem ser registradas de forma concreta e estatística.

Lévi-Strauss se aproxima então da discussão metodológica, numa

tentativa de travar um debate a cerca do método de investigação

antropológica.

Para ele, a etnografia tem um papel de observar e analisar as

particularidades dos grupos humanos até que seja possível a reconstrução

fiel de forma virtual do seu modo de vida. É preciso alcançar o contexto de

determinada sociedade, para que seja possível alcançar o inconsciente

individual. Este, por estar sujeito às regras daquela determinada sociedade,

leva a uma maior compreensão da estrutura em si.

Também é colocado que o antropólogo deve pôr-se num ponto

elevado e afastado, independente das contingências individuais desta

sociedade. Pode-se dizer então, que a etnografia diz respeito aos métodos e

técnicas que se relacionam com o trabalho de campo a descrição e análise

dos fenômenos culturais ímpares.

Geertz expõe outra problemática, questionando a capacidade do

antropólogo de se adaptar perfeitamente ao meio: “como é possível que os

antropólogos cheguem a conhecer a maneira como um nativo pensa, sente

e percebe o mundo? (GEERTZ, 2001, p.86).” Para ele, a problemática se

concentra nessa constante busca pela forma de pensar dos nativos. O autor

diz que a vivência de “experiências próximas”para outros indivíduos pode vir

a construir um conceito de “experiência distante”, o que ajudaria na

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compreensão da cultura. Para tanto, o antropólogo deve entender os

aspectos do ponto de vista dos nativos em relação às suas práticas, sendo

necessária uma constante análise de seus dados científicos.

“Geertz ao destacar a importância da análise das

formas simbólicas ratifica a proposta de Malinowski de

compreensão do mundo nativo em seus próprios

termos. Mas, se diferencia, ao considerar a cultura não

apenas em termos de uma totalidade que pode ser

investigada em seus múltiplos aspectos.” (CARINO,

Giselle, 2009).¹

Para finalizar, vale citar James Clifford, cujo ponto sobre a autoridade

etnográfica se diz muito interessante. Clifford não dá importância aos

“processos criativos pelos quais os objetos culturais são inventados e

tratados como significativos.” (CLIFFORD, 1988, p.39)², demonstrando a

coerência que se busca dentro da etnografia.

¹ http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/index

² tradução livre

Bibliografia:

MALINOWSKI, B. Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo, Abril

Cultural, 1976.

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Guanabara

Koogan, 1989.

STRAUSS, L. Passim.

ESPAÇO ACADÊMICO. Maringá: UEM, 2000-

CLIFFORD, J. The Predicament of Culture: Twentieth-Century Ethnography,

Literature, and Art. Cambridge: Harvard University Press, 1988.

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Questão 3:

Na obra “As formas elementares da vida religiosa”, Durkheim analisa

uma religião primitiva, isto é, que é o mais simples possível e não é baseada

em nenhuma outra religião, para chegar à conclusão que a religião é a

própria idealização da sociedade, ou seja, reflete seus anseios. É desse

modo, a origem das categorias de pensamento.

Para Durkheim (1912), noções como o tempo, espaço, substância,

gênero, causa, matérias nasceram da religião, e não da razão, como

afirmaram determinados filósofos. Afirma que o tempo, por exemplo, é uma

construção coletiva e religiosa - os meses, anos, décadas e etc.

correspondem aos dias dos ritos, celebrações, cerimônias. Ou seja, o

calendário assegura a regularidade religiosa. Desse modo, o tempo não é

interno à consciência, e sim coletivo e religioso.

Assim, a religião exerce um papel humanizador, e possibilita a

formulação do pensamento lógico, uma vez que determina as categorias do

pensamento. Desse modo, é fundamental em uma sociedade (Durkheim

afirma isso baseado principalmente no fato de que a religião faz agir), pois

integra o homem e o ensina a pensar.

Portanto, a religião seria complementar à ciência (que não pode

negar a religião, uma vez que ela, de fato, existe). A religião também não

deve negar a ciência, e sim partir dela.

"A fé é antes de tudo agir e a ciência, por mais longe

que se a conduza, permanece sempre distante da

ação. [...] Teorias destinadas a fazer viver, a fazer agir,

são, portanto, obrigadas a passar adiante da ciência."

(DURKHEIM, Formas Elementares da Vida Religiosa,

1912)

No entanto, se Durkheim discute a importância da religião, Lévi-

Strauss (1949) coloca a importância do estudo da religião em pauta.

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Inicia o livro citando três aspectos complementares na crença em

magia: crença no feiticeiro e na eficácia de suas técnicas; crença da vítima

no poder do feiticeiro e a confiança da opinião pública. Segue-se o livro com

dois exemplos importantes.

O primeiro consiste nas observações feitas por Stevenson (1905). Diz

respeito a um menino da tribo dos Zuni, no Novo México. Acusado de

enfeitiçar uma moça, o jovem então admite ser feiticeiro, mesmo não o

sendo, para conseguir absolvição. Aos olhos racionais do ocidente, tal falso

testemunho poderia levar a uma perda de legitimidade na crença em

questão. No entanto, o mesmo Strauss (1975) afirma que o inconsciente

está sujeito às leis e ao contexto geral de determinada sociedade,

produzindo símbolos que regem o seu pensamento. O menino estava sujeito

à crença na magia, assim como toda a comunidade que o julgava. Logo, de

certa forma, o ato de crer passa a legitimar a própria crença.

O segundo diz respeito à um trabalho de Boas (1930), relatando a

história do índio Quesalid, totalmente cético em relação à magia. Para provar

a não legitimidade da feitiçaria, Quesalid passou a se envolver com xamãs,

logo se tornando aprendiz de um. Ao colocar em prática o que aprendeu,

consegue sucesso contra uma tribo inimiga, mas ainda sim permanece

cético.

Porém, após a morte do xamã de um clã vizinho, Quesalid amena seu

ceticismo e passa a acreditar em xamãs verdadeiros. Tal fato reforça a idéia

mostrada na primeira história, mostrando a influência do inconsciente e do

contexto dentro da crença e, consequentemente, legitimação de uma

religião.

A idéia da compreensão desses determinados fenômenos é reforçada

por Geertz:

“O conceito de cultura que eu defendo [...] é

essencialmente semiótico. Acreditando, como Max

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Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de

significado que ele mesmo teceu, assume a cultura

como sendo essas teias e a sua análise não como uma

ciência experimental em busca de leis, mas como uma

ciência interpretativa, à procura de significado.”

(GEERTZ, A Interpretação das Culturas, 1989).

Assim, Geertz (1989) afirma que a Antropologia não pode

simplesmente olhar o objeto de estudo (no caso, a religião) como se fosse

algo fechado e objetivo, empírico, mas sim através de um outro jogo de

objetivos.

Bibliografia:

DURKHEIM, E. Formas Elementares da Vida Religiosa 3. ed. São Paulo:

Martins Fontes, 2003.

LÉVI-STRAUSS, C. O Feiticeiro e Sua Magia In: Antropologia Estrutural. Rio

de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Guanabara

Koogan, 1989.