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1 Prezado(a) candidato(a): Assine e coloque seu número de inscrição no quadro abaixo. Preencha, com traços firmes, o espaço reservado a cada opção na folha de resposta. Nº de Inscrição Nome PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA BRASILEIRA PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 01 A 05, LEIA O TEXTO A SEGUIR. MULTICULTURALISMO E IDENTIDADE NACIONAL Ligia Chiappini O multiculturalismo pode ser visto como um sistema de transformações so- ciais básicas, ocorridas na segunda metade do século XX, no mundo todo pós- segunda guerra mundial. Pode ser visto também como uma ideologia, a do poli- ticamente correto, ou como aspiração, desejo coletivo de uma sociedade mais justa e igualitária no respeito às diferenças. Conseqüência de múltiplas misturas raciais e culturais provocadas pelo incremento das migrações em escala plane- tária, pelo desenvolvimento dos estudos antropológicos, do próprio direito e da lingüística, além das outras ciências sociais e humanas, o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento de fronteiras de todo tipo, principal- mente da monoculturalidade e, com esta, de um conceito de nação nela basea- do. Visto como militância, o multiculturalismo implica reivindicações e conquistas por parte das chamadas minorias. Reivindicações e conquistas muito concretas: legais, políticas, sociais e econômicas. Para a maior parte dos governos, grupos ou indivíduos que não conseguem administrar a diferença e aceitá-la como constitutiva da nacionalidade, ela tem de estar contida no espaço privado, em guetos, com maior ou menor repressão, porque é considerada um risco à identidade e à unidade nacionais. Mas não há como negar que, cada vez mais, as identidades são plurais e as nações sempre se compuseram na diferença, mais ou menos escamoteada por uma homoge- neização forçada, em grande parte artificial. (...)

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Prezado(a) candidato(a): Assine e coloque seu número de inscrição no quadro abaixo. Preencha, com traços firmes, o espaço reservado a cada opção na folha de resposta.

Nº de Inscrição Nome

PPRROOVVAA DDEE LLÍÍNNGGUUAA PPOORRTTUUGGUUEESSAA EE LLIITTEERRAATTUURRAA BBRRAASSIILLEEIIRRAA

PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 01 A 05, LEIA O TEXTO A SEGUIR.

MULTICULTURALISMO E IDENTIDADE NACIONAL Ligia Chiappini

O multiculturalismo pode ser visto como um sistema de transformações so-

ciais básicas, ocorridas na segunda metade do século XX, no mundo todo pós-segunda guerra mundial. Pode ser visto também como uma ideologia, a do poli-ticamente correto, ou como aspiração, desejo coletivo de uma sociedade mais justa e igualitária no respeito às diferenças. Conseqüência de múltiplas misturas raciais e culturais provocadas pelo incremento das migrações em escala plane-tária, pelo desenvolvimento dos estudos antropológicos, do próprio direito e da lingüística, além das outras ciências sociais e humanas, o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento de fronteiras de todo tipo, principal-mente da monoculturalidade e, com esta, de um conceito de nação nela basea-do. Visto como militância, o multiculturalismo implica reivindicações e conquistas por parte das chamadas minorias. Reivindicações e conquistas muito concretas: legais, políticas, sociais e econômicas.

Para a maior parte dos governos, grupos ou indivíduos que não conseguem administrar a diferença e aceitá-la como constitutiva da nacionalidade, ela tem de estar contida no espaço privado, em guetos, com maior ou menor repressão, porque é considerada um risco à identidade e à unidade nacionais. Mas não há como negar que, cada vez mais, as identidades são plurais e as nações sempre se compuseram na diferença, mais ou menos escamoteada por uma homoge-neização forçada, em grande parte artificial.

(...)

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Os teóricos do multiculturalismo costumam opô-lo à Modernidade, a cujo discurso homogeneizador se contrapõem o pluralismo, o hibridismo, a intercultu-ralidade e os discursos e valores de fronteira. Faz parte dessa crítica à Moderni-dade a crítica à noção homogeneizadora de nação e de identidade nacional. Em troca, fala-se da nação como um constructo, como uma invenção com base em mitos, cuja narrativa silencia fraturas e contradições.

Mas há quem considere que, na América Latina, nem as nações são homo-gêneas nem a modernidade é linear, mas palco de múltiplas temporalidades que nunca foi possível disfarçar de todo. E as reflexões menos simplificadoras sus-tentam que a identidade, uma vez inventada e incutida por gerações e gerações, tem uma positividade para o bem e para o mal, servindo tanto para justificar a violência contra outras nações como para defender as mais fracas — econômi-ca, política e militarmente — contra as mais poderosas. Ou seja, essas refle-xões, com as quais me identifico, reconhecem que as identidades são históricas e relacionais, mas ainda identidades. Elas também reconsideram como fator enriquecedor o múltiplo e cada vez mais múltiplo pertencimento dos indivíduos, suas ambivalências, as identidades ambíguas que se combinam: continental, nacional, regional, local, de idade, de gênero, étnica, profissional e de classe. A diversidade cultural e étnica é vista como desafio para a identidade da nação, mas também como fator de enriquecimento e abertura de novas e múltiplas pos-sibilidades.

(Revista Cult – maio de 2001.)

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 11 Todas as passagens que seguem, retiradas do texto, podem ser entendidas co-mo uma definição do termo muticulturalismo, EXCETO: a) “O multiculturalismo pode ser visto como um sintoma de transformações so-

ciais básicas, ocorridas na segunda metade do século XX (...).” b) “(...) o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento de fron-

teiras de todo tipo (...)” c) “Visto como militância, o multiculturalismo implica reivindicações e conquis-

tas por parte das chamadas minorias.” d) “A diversidade cultural e étnica é vista como desafio para a identidade da

nação (...)”

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 22 Todas as considerações sobre o texto são adequadas, EXCETO: a) O multiculturalismo implica a leitura do conceito de nação como agrupamen-

to de seres, geralmente fixos num território, ligados por origens, tradições e lembranças, costumes, cultura, interesses e aspirações e, em geral, por uma língua.

b) O multiculturalismo é um fenômeno mundial que deve ser compreendido como efeito de miscigenações múltiplas que revigoram a noção de identida-de nacional.

c) O multiculturalismo constitui, ao mesmo tempo, um indício de mutações so-ciais e um ideário representativo de um grupo a respeito de determinada ati-tude agregadora e não excludente.

d) O multiculturalismo não deve ser comparado a Modernidade, conceito que, na visão da autora, escamoteia os discursos e valores plurais e intercultu-rais, submetendo a noção de nação a uma homogeneização utópica.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 33 Em todas as alternativas, o referente do item destacado foi corretamente indica-do entre parênteses, EXCETO: a) “Os teóricos do multiculturalismo costumam opô-lo à Modernidade, a cujo

discurso homogeneizador se contrapõem o pluralismo, o hibridismo (...)” (Modernidade)

b) “Em troca, fala-se da nação como um constructo, como uma invenção com base em mitos, cuja narrativa silencia fraturas e contradições.” (construc-to)

c) “(...) nem as nações são homogêneas nem a modernidade é linear, mas pal-co de múltiplas temporalidades que nunca foi possível disfarçar de todo.” (múltiplas temporalidades)

d) “Ou seja, essas reflexões, com as quais me identifico, reconhecem que as identidades são históricas e relacionais, mas ainda identidades. Elas tam-bém reconsideram (...)” (reflexões)

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 44 Ao longo do texto, o conceito de identidade vai sendo (re)construído pela autora. Considere as seguintes interpretações: I. A identidade de uma nação é construída levando em conta a unidade lin-

güística e territorial. II. A identidade nacional é construída nas relações sociais e históricas. III. A identidade nacional constitui-se na multiplicidade presente na formação

étnica, cultural e social de um povo. IV. Uma visão homogeneizadora de identidade nega a heterogeneidade pró-

pria da sociedade. Assinale: a) Se apenas a afirmativa I for verdadeira. b) Se apenas as afirmativas I e II forem verdadeiras. c) Se apenas as afirmativas II, III e IV forem verdadeiras. d) Se todas as afirmativas forem verdadeiras. QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 55 Sobre as relações morfossintáticas e semânticas do primeiro parágrafo do texto, leia atentamente os itens a seguir. I. Os vocábulos “esta” e “nela” referem-se à monoculturalidade. II. O uso da forma verbal “pode” (linha 1) impõe ao leitor um argumento,

apresentando-o como incontestável. III. No período “visto como militância, o multiculturalismo implica reivindica-

ções e conquistas por parte das chamadas minorias”, estabelece-se uma relação de condição.

A afirmativa está INCORRETA em: a) I apenas. b) II apenas. c) III apenas. d) I e II.

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LEIA O TEXTO ABAIXO PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 06 E 07.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 66 Em todas as alternativas, há uma análise adequada do trecho em destaque, EXCETO: a) Em “a gente ainda morre disso”, recupera-se um discurso do senso comum

– a voz do povo. b) Em “De jeitinho em jeitinho”, pode-se ver relação intertextual com o provér-

bio popular “de grão em grão a galinha enche o papo”, o que realça uma ironia.

c) O uso das aspas, em “jeitinho”, pode ser interpretado como uma estratégia por meio da qual o produtor procura desqualificar uma imagem do compor-tamento do povo brasileiro, vista por muitos como positiva.

d) Em “O Brasil está numa situação que a gente está até sem jeito”, não há expressões de cunho coloquial.

JEITINHO. A GENTE AINDA MORRE DISSO

De jeitinho em jeitinho, o Brasil está numa situação que a gente fica até sem jeito de falar. E o que mais preocupa é que esse “jeitinho” é cada vez mais tido como uma virtude, quando na verdade é um defeito. Um defeito grave que está levando nosso país cada vez mais para o fundo. Vamos ser um país sem jeitinho. Quem sabe aí a coisa começa a tomar jeito.

(Trecho retirado de material didático)

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 77 Considere as afirmações sobre o texto: I. Identifica-se a atuação do produtor que interpela o leitor como aquele que

também se investe da condição de ser brasileiro. As expressões emprega-das que concorrem para promover tal efeito são: “a gente”, “nosso país”, “vamos ser um país” (...).

II. Em relação aos elementos coesivos, percebe-se que em “A gente ainda morre disso”, o pronome negritado retoma o referente jeitinho; em “quando na verdade é um defeito. Um defeito grave”, ocorre retomada do mesmo elemento lingüístico feita por repetição.

III. Em “Quem sabe aí a coisa começa a tomar jeito”, a expressão em negrito deve ser entendida como um recurso lingüístico por meio do qual o produ-tor pretende expressar inúmeros fatos que fazem do brasileiro um sujeito sem compromisso, despreocupado.

Assinale: a) Se apenas a afirmativa I for verdadeira. b) Se apenas as afirmativas I e II forem verdadeiras. c) Se apenas as afirmativas II e III forem verdadeiras. d) Se as afirmativas I, II e III forem verdadeiras.

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PARA RESPONDER À QUESTÃO 08, LEIA A SEGUINTE CHARGE.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 88 Considere as seguintes afirmações sobre a charge: I. A charge tematiza a perda de identidade cultural do índio brasileiro, o que

ilustra as reflexões desenvolvidas no texto “Multiculturalismo e identidade nacional”.

II. A charge assume um tom de denúncia de um problema social e histórico, evidenciado pela oposição entre as imagens.

III. A charge permite a compreensão de que a perda de identidade de um gru-po é inevitável e decorre de um processo de urbanização.

A afirmação está CORRETA em: a) I apenas. b) I e II apenas. c) I e III apenas. d) I, II e III.

OPINIÃO

Folha de S.Paulo, 24/02/2005.

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PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 09 E 10, LEIA OS SEGUINTES TRECHOS:

TRECHO 1

Sobre a atual vergonha de ser brasileiro

Affonso Romano de Sant'Anna

Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro e estar crucificado num cruzeiro erguido num monte de corrupção. Antes nos matavam de porrada e choque nas celas da subversão. Agora nos matam de vergonha e fome exibindo estatísticas na mão. Estão zombando de mim. Não acredito. Debocham a viva voz e por escrito É abrir jornal, lá vem desgosto. Cada notícia é um vídeo-tapa no rosto. Cada vez é mais difícil ser brasileiro. (...)

(www.releituras.com)

TRECHO 2

Chega desse negócio

Manifesto contra a moda de se falar mal do Brasil

João Ubaldo Ribeiro

Sim, o Brasil tem problemas medonhos e não é um exemplo de desenvolvimento e justiça social, mas, com perdão da má palavra, já ando de saco cheio desse negócio de tudo aqui ser o pior do mundo, ninguém aqui prestar e nada aqui funcionar e sermos cul-pados de tudo o que de ruim acontece na Terra. Saco cheiíssimo de sair do Brasil e enfrentar ares de superioridade e desprezo por parte da gringalhada, todos nos olhando como traficantes de coca-ína, assassinos de índios e crianças, corruptos natos e mais uma vasta coleção de outras coisas, a depender do país e da platéia.

Tem muito brasileiro que, nessas ocasiões, bota o rabo entre as pernas, já vi muitos. Eu não. Posso ter envergonhado a Pátria por escrever mal ou me comportar de forma pouco recomendável em coquetéis literários, mas, em matéria de reagir a dichotes, nun-ca envergonhei. Não nego os problemas brasileiros, mas me recu-so a aceitar que sejamos os únicos vilões e que não se veja em

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nós nenhuma qualidade positiva, a não ser sambar, distribuir abra-ços e beijos a todos e exibir os traseiros de nossas mulheres a quem solicitar. Aí eu dou um troco a eles. (...)

(Veja, PR, ano 26, nº 13)

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 00 99 São corretas todas as afirmações sobre os trechos, EXCETO: a) O trecho 1 exemplifica o discurso da indignação a uma realidade social,

enquanto o trecho 2 sugere uma resposta a críticas que denigrem a imagem do brasileiro.

b) O trecho 2 traz uma voz que reage a um sentimento de submissão a um discurso considerado hegemônico.

c) O trecho 1 faz alusão a fatos para ilustrar, no percurso da história do país, a dificuldade de se assumir como brasileiro.

d) No trecho 1, não se projeta possibilidade alguma de superação dos proble-mas apontados, enquanto, no trecho 2, há passagens que permitem vis-lumbrar mudanças no cenário brasileiro.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 00 Considere as seguintes passagens retiradas dos trechos 1 e 2: I. “(...) já ando de saco cheio desse negócio de tudo aqui ser o pior do mun-

do, ninguém aqui prestar e nada aqui funcionar e sermos culpados de tu-do.”

II. “Tem muito brasileiro que, nessas ocasiões, bota o rabo entre as pernas, já vi muitos. Eu não.”

III. “Não nego os problemas brasileiros, mas me recuso a aceitar que sejamos os únicos vilões (...)”

IV. “Que vergonha, meu Deus! ser brasileiro” V. “Estão zombando de mim. Não acredito.” VI. “Cada vez é mais difícil ser brasileiro.” São corretas todas as análises das passagens em destaque, EXCETO: a) Nos itens I e II, identificam-se estratégias que reiteram um posicionamento

de não-submissão. b) No item III, manifesta-se o recurso da refutação, o que revela um posicio-

namento crítico em relação ao cenário brasileiro. c) Nos itens IV e V, são utilizados recursos lingüísticos que não só produzem

um efeito de ironia mas também revelam um posicionamento de inquieta-ção.

d) No item VI, há uma voz por meio da qual se nega uma identidade nacional.

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AS QUESTÕES DE 11 A 13 ESTÃO RELACIONADAS À OBRA RELATO DE UM CERTO ORIENTE, DE MILTON HATOUM.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 11 Sobre o tempo da narrativa em Relato de um certo oriente, é CORRETO afirmar que: a) organiza-se linearmente. b) reproduz o funcionamento da memória. c) revela a simultaneidade dos fatos narrados. d) coincide com o momento da enunciação.

PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 12 E 13, LEIA O TRECHO A SEGUIR, PARTE DE UMA ENTREVISTA FEITA POR AIDA HANANIA A MILTON HATOUM:

Aida Hanania: Como você classificaria, em parâmetros tradicionais, um livro tão original como o Relato? Memória ou ficção? E em que medida personagens e temáticas são reais? Milton Hatoum: No relato há um tom de confissão, é um texto de memória sem ser memorialístico, sem ser autobiográfico; (...). Num certo momento de nossa vida, nossa história é também a história de nossa família e a de nosso país (...). Uma autobiografia nunca é verossímil, nunca é verdadeira... ela não é uma con-fissão de verdade. Todo relato autobiográfico entre aspas, que se pretende au-tobiográfico, tem uma dose de mentira, tem seu lado ficcional.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 22 Assinale a alternativa em que a característica indicada NÃO comprova a passa-gem “Num certo momento de nossa vida, nossa história é também a história de nossa família e a de nosso país (...).” a) A dramaticidade de várias cenas. b) A presença de vários discursos entrelaçados. c) A fusão de diferentes culturas. d) A voz narrativa feminina.

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 33 Para dar a sua obra caráter de memória, no sentido que afirma no trecho dado, Milton Hatoum só NÃO constrói: a) o espaço manauense associado ao Oriente. b) personagens imigrantes orientais. c) relações envolvidas pela miscigenação. d) correspondência entre autor e narrador.

AS QUESTÕES DE 14 A 16 ESTÃO RELACIONADAS À OBRA LAÇOS DE FAMÍLIA, DE CLARICE LISPECTOR.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 44 Leia o fragmento, do conto “Devaneio e embriaguez duma rapariga”, de Laços de Família:

“E, já que os filhos estavam na quinta das titias em Jacarepaguá, ela apro-veitou para amanhecer esquisita: túrbida e leve na cama, um desses caprichos, sabe-se lá. O marido apareceu-lhe já trajado e ela nem sabia o que o homem fizera para o seu pequeno almoço, e nem olhou-lhe o fato, se estava ou não por escovar, pouco se lhe importava se hoje era dia dele tratar os negócios na cida-de. Mas quando ele se inclinou para beijá-la, sua leveza crepitou como uma folha seca:

– Larga-te daí! – E o que tens? pergunta-lhe o homem atônito, a ensaiar imediatamente

carinho mais eficaz. Obstinada, ela não saberia responder, estava tão rasa e princesa que não tinha sequer onde se lhe buscar uma resposta.”

No fragmento, SÓ NÃO se verifica: a) a expressão do estado de espírito da personagem. b) o emprego de vocabulário e dicção (sintaxe) lusitanos. c) a atuação da personagem como narrador. d) o uso de discurso direto.

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 55 O discurso indireto-livre, recurso que consiste na fusão das vozes do narrador e do personagem, é freqüentemente utilizado nos contos de Clarice Lispector pa-ra dar dimensão psicológica às narrativas. Em todas as passagens, extraídas dos contos de Laços de Família, a voz do narrador funde-se à voz do persona-gem, EXCETO: a) “A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a trico-

tara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo.”

b) “Sim, porque, já tendo feito a coisa, mais vali aproveitar, não seria boba de ficar com a fama sem o proveito. Era isso mesmo o que faria.”

c) “Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cóle-ra de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família.”

d) “Não! Não queria explicar-se com Carlinhos e ninguém lhe diria como usar o dinheiro que teria, e Carlinhos podia pensar que era com bicicletas, mas se fosse o que é que tem? E se nunca, mas nunca, quisesse gastar o seu dinheiro?”

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 66 São temáticas abordadas pelos contos de Laços de Família, EXCETO: a) a submissão da mulher de classe média à rotina familiar, em “Amor”. b) o sentimento da maternidade, em “Uma galinha”. c) a hipocrisia nas relações familiares, em “Feliz aniversário”. d) o sistema educacional, em “O crime do professor de matemática”.

AS QUESTÕES DE 17 A 20 ESTÃO RELACIONADAS À OBRA O LIVRO DAS IGNORÃÇAS, DE MANOEL DE BARROS.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 77 Todas as alternativas apresentam influências perceptíveis na poesia de Manoel de Barros, EXCETO: a) O Simbolismo, pela preocupação com o apelo sensorial. b) O Futurismo, pela valorização do ritmo urbano. c) O Dadaísmo, pelo ilogismo e pela técnica da colagem. d) O Modernismo de 22, pelo apreço aos versos livres e ao coloquialismo.

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QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 88 Leia o poema, de Manoel de Barros:

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No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá onde a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer nascimentos — O verbo tem que pegar delírio.

Todos as passagens, extraídas de O livro das ignorãças, apresentam o “delírio do verbo” tal como definido no poema acima, EXCETO: a) “Hoje eu desenho o cheiro das árvores.” b) “Qualquer defeito vegetal de um pássaro pode modificar seus gorjeios.” c) “Lembro um menino repetindo as tardes naquele quintal”. d) “A chuva atravessou um pato pelo meio.”

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PARA RESPONDER ÀS QUESTÕES 19 E 20, LEIA ATENTAMENTE O POE-MA A SEGUIR.

AUTO RETRATO FALADO

Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da

Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do

chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz. Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me sinto como que desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo

que fui salvo. Descobri que todos os caminhos levam à ignorância. Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral, porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore.

QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 11 99 Sobre o poema, é INCORRETO afirmar que: a) utiliza formas típicas da linguagem coloquial. b) explora a regularidade métrica para criar ritmo. c) possui características do gênero autobiográfico. d) refere-se metalingüisticamente ao fazer poético do autor. QQ UU EE SS TT ÃÃ OO 22 00 São ineditismos de linguagem produzidos no poema, EXCETO: a) o uso do vocábulo ‘garimpo’ com função de adjetivo, no 1o. verso. b) o jogo sonoro presente no 5o. verso, pela semelhança entre desprezível,

prezado e apraz. c) o emprego do particípio em ruelas entortadas (1o. verso), que configura

uma cena construída (foram entortadas). d) a repetição do pronome pessoal oblíquo me, no 7o. verso.

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PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE TEXTO

jornal da Universidade onde você estuda vem promovendo fó-runs de discussão a respeito de questões relacionadas à forma-ção da sociedade brasileira. A fim de ampliar o debate, foi criada

pelo jornal uma coluna destinada a publicar textos cujo objetivo é refletir sobre aspectos envolvidos na constituição da identidade nacional.

Você, como estudante da Instituição, motivado por essa proposta e dis-posto a contribuir para o debate, deverá produzir um artigo de opinião a ser publicado na coluna em questão, apresentando seu ponto de vista a respeito do tema e levando em conta a diversidade cultural, étnica e social do povo brasilei-ro.

Lembre-se de usar o registro culto, adequado à situação comunica-tiva proposta.

O

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