Propriedades Flexurais de Pinos Metálicos e Não

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    30 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    Propriedades flexurais de pinos

    diretos metálico e não - metálicos

    Daniel Tozatti Mazzoccato*, Ronaldo Hirata**, Luiz Antônio G. Pires***,

    Eduardo Mota****, Lourenço Farias de Moraes*****, Sandra Tozatti Mazzoccato******

    RESMCom a evolução dos materiais res-tauradores, novas técnicas que bus-cam preservar ao máximo a estrutu-ra dentária remanescente de dentestratados endodonticamente vêmsurgindo. O objetivo deste trabalhofoi comparar e medir a resistência

    à flexão entre pinos pré-fabricadosdireto metálicos (aço inoxidável) e

    PALARAS-HAE: Palavras-chave: Pinos intra-radiculares. Módulo de elasticidade. Fibra de vidro. Fibra de carbono. Resistência flexural.

    não metálicos (4 marcas comerciaisde pinos de fibra de vidro, 1 de fibrade carbono e 1 marca de fibra dequartzo). Estes pinos foram testadosem uma máquina de ensaio univer-sal Pantec 500 (Panambra) de acor-do com as especificações da ISO 178para testes transversais de três pon-

    tos. Baseado na análise estatísticaaplicada aos dados obtidos ao final

    * Especialista em Dentística Restauradora pela Universidade Federal do Paraná -UFPR- Curitiba, PR.  ** Mestre em Materiais Dentários pela Pontifícia Universidade Católica - PUC -Porto Alegre, RS;

    doutorando em Dentística Restauradora pela UERJ, Rio de Janeiro, RJ.  *** Mestre em Prótese Dentária pela ULBRA, Canoas, RS; professor da disciplina de Materiais Dentários I e II

    da ULBRA, campus Canoas, RS.

      **** Mestre em Materiais Dentários pela Pontifícia Universidade Católica - PUC -Porto Alegre, RS;professor da disciplina de Materiais Dentários I da ULBRA, campus Canoas, RS. ***** Cirurgião-dentista. ****** Aluna do curso de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Porto Alegre, RS.

    do estudo concluiu-se que: todos osgrupos tiveram valores médios domódulo flexural superiores ao módu-lo da dentina relatado na literatura;os pinos poliméricos reforçados porfibras obtiveram resistência máximaflexural superior ao pino metálico enão houve diferenças significativas

    entre os grupos em relação ao mó-dulo flexural.

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    31R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    ITRD

    A restauração de dentes tratados endo-

    donticamente ainda representa um desafio

    à odontologia moderna. Esses dentes nor-

    malmente são mais frágeis pela perda de es-

    trutura por lesão cariosa, preparo cavitário e

    desvitalização pulpar. Isso favorece a desidra-

    tação da dentina e conseqüentemente causa

    perda de elasticidade tornando-os mais sus-

    cetíveis a fraturas3.

    Em um dente hígido, a distribuição das

    forças oclusais ocorre de forma harmônica

    pela coroa, estrutura radicular e tecidos de

    suporte dos dentes. As modificações estru-

    turais pelo tratamento endodôntico, bem

    como as forças laterais, podem levar a con-

    centrações de tensões em um determinado

    local da estrutura dentária podendo levar à

    fratura radicular ou corono-radicular16.

    Dessa forma, o uso de retentores intra-

    radiculares é recomendado para restaurar a

    estética e função de dentes tratados endo-

    donticamente. Um aspecto importante é que

    o uso de pinos intracanais deve ser indicado,

    quando existe a necessidade de confecção

    de um núcleo que irá reter uma coroa proté-

    tica visando o restabelecimento do sistema

    estomatognático6. Outros fatores devem ser

    observados antes da colocação de um pino

    intra-radicular: a qualidade do tratamento

    endodôntico, a presença de patologias no

    ápice radicular, pois a necessidade de retra-

    tamento leva a uma delicada conduta clínica;

    a remoção de pinos intracanais5.

    O processo de fundição dos metais pos-

    sibilitou um grande avanço na odontologia.

    Durante vários anos, a restauração de dentes

    desvitalizados com extensa perda coronária

    tinha como única alternativa para reter uma

    coroa os núcleos metálicos fundidos7. Entre-

    tanto, essa técnica de reconstrução apresen-

    tava alguns problemas como à dificuldade

    para a remoção do pino, caso seja necessá-

    rio uma nova intervenção no canal radicu-

    lar, a necessidade de um aporte laboratorial

    para sua confecção e a corrosão na interface

    pino/paredes dentinárias7,17. Outra desvanta-

    gem é o elevado módulo de elasticidade que

    proporciona a concentração de tensões e a

    transmissão das forças diretamente à estru-

    tura radicular piorando o prognóstico da res-

    tauração3,7,15,17.

    Com o passar dos anos surgiram técnicas

    diferenciadas que utilizam pinos pré-fabri-

    cados que substituem os núcleos metálicos

    fundidos convencionais. Através deles foi

    possível à racionalização de passos clínicos,

    diminuição de custos, visto que este siste-

    ma é de utilização imediata, não necessitan-

    do de etapa laboratorial para sua confecção.

    Também, com o uso dessa técnica é possível

    preservar a estrutura dental remanescente

    através da confecção de um núcleo em resina

    composta20.

    A introdução no mercado de pinos pré-

    fabricados reforçados por fibras determinou

    uma mudança importante na reconstituição

    coroa-raiz. A partir disso, buscou-se um ma-

    terial que se aproximasse, do ponto de vista

    mecânico, às características do tecido dental

    perdido com a inclusão de fibras de carbono

    em uma matriz resinosa7.

    Dessa maneira, esse novo sistema de pi-

    nos pré-fabricado trouxe grandes avanços,

    principalmente nas propriedades mecânicas,

    como a elevada resistência à flexão e o mó-

    dulo flexural próximo à estrutura dental. Ou-

    tros aspectos importantes como volume, dis-

    posição e saturação da matriz resinosa pelas

    fibras, a perfeita união através dos agentes

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    Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos

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    de ligação entre as fibras e a matriz e a den-

    sidade de acondicionamento dessas fibras

    irão interferir no desempenho desses pinos

    em testes laboratoriais e conseqüentemente

    na prática clínica8,15. Outra vantagem dos pi-

    nos à base de fibras é a facilidade de remoção

    através de instrumentos rotatórios, facilitan-

    do o acesso ao canal radicular em situações

    de retratamentos ou de fraturas, o que torna

    esse procedimento simplificado17.

    Nos estudos de resistência flexural e mi-

    croscopia eletrônica, Drummond concluiu

    que os pinos FiberKor post (Jeneric/Pentron,

    USA) tiveram desempenho mecânico 3 vezes

    superior que as barras FiberKor bars (Jene-

    ric/Pentron, USA)8. Nesses dois produtos, a

    microestrutura e a técnica de processamen-

    to foram diferentes. Nas barras (fabricação

    manual) as fibras foram levemente saturadas

    com partículas de resina reforçada, enquanto

    que, nos pinos existiu uma saturação maior,

    ou seja, ocorre uma maior penetração da ma-

    triz resinosa nas fibras dos pinos. Outros fa-

    tores que devem ser levados em considera-

    ção, segundo o autor, para que isso ocorresse

    é que a resistência de flexão esta vinculada a

    proporção comprimento/diâmetro, carga e o

    ambiente de teste8.

    O avanço das pesquisas ocasionou o sur-

    gimento de um pino pré-fabricado que apre-

    sentava fibra de vidro e/ou fibra de quartzo

    na sua composição. A introdução desse tipo

    de fibra na matriz resinosa resultou em um

    pino com características estéticas, pois se

    apresentam na cor branca ou translúcida po-

    dendo ser utilizado em regiões que requerem

    uma maior demanda estética15.

    Do ponto de vista mecânico esse tipo

    de fibra melhorou a resistência à fratura de

    dentes tratados endodonticamente e restau-

    rados com esse sistema de pinos sendo pro-

    missor o seu uso em próteses parciais fixas

    posteriores. Isso pelo fato de que os pinos

    de fibra de vidro apresentaram resultados de

    módulo flexural inferior, quando comparados

    aos pinos de fibra de carbono/grafite e tam-

    bém muito próximos da dentina15,17.

    Nos estudos de Maccari e colaboradores,

    os dentes restaurados com pinos de f ibra de

    vidro (Fibrekor Post, Jeneric/Pentron, USA)

    tiveram os maiores valores de resistência

    em testes laboratoriais. Outra característi-

    ca confirmada pelos testes é que esses pinos

    apresentam um baixo módulo de elasticida-

    de, dessa forma quando incide uma carga so-

    bre a estrutura radicular o estresse é minimi-

    zado e também ocorre uma melhor absorção

    das tensões entre pino e raiz. Isso poderá ex-

    plicar a ausência de raízes e pinos fraturados

    nos testes17.

    Dentro desse panorama, e pelas inúmeras

    dúvidas que persistem em relação à restau-

    ração de dentes tratados endodonticamente,

    este trabalho tem como proposta determinar

    e comparar a resistência flexural e o módulo

    flexural de pinos diretos intra-radiculares.

    MATERIAIS E MÉTD

    Foram utilizados nesta pesquisa 6 marcas

    comerciais de pinos pré-fabricados diretos:

    U. M. Aestheti Plus (Bisco,USA), Reforpost

    (Angelus,Br), Postec (Ivoclar/Vivadent, Lie), Fi-

    brekor Post (Pentron, USA), Luscent Anchors

    (Dentatus, USA), Classic (Dentatus,USA). Seus

    respectivos grupos, fabricantes, composi-

    ções, diâmetros e número de amostras estão

    apresentados na tabela 1.

    Foi confeccionada uma matriz metálica

    retangular com dimensões de 12,3 x 5,6 x

    2,7 cm sendo a sua base plana e na extremi-

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    Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato

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    Grupo Marca Fabricanteomposição

    (Informações do Fabricante)º de Amostras

    Diâmetro(mm)

    1 Reforpost Angelus, Br.62% fibra de carbono e 38%

    de resina epóxi05 1,4

    2 PostecIvoclar/Vivadet,Liechtenstein.

    61,5% de fibra de vidro,25,9% de Resina BIS-GMA e12,3% de Agente de carga

    05 1,5

    3 Fibrekor Post Pentron USA.

    42% de fibra de vidro, 29%

    de Resina BIS-GMA e 29% deAgente de carga

    05 1,1

    4 Reforpost Angelus, Br.57% de fibra de vidro e 43%de Resina BIS-GMA e Agente

    de carga05 1,1

    5 U. M. AESTHETI Plus Bisco, USA60% de fibra de quartzo e

    40% de Resina Epóxi05 1,3

    6 Luscent Anchors Dentatus, USA70% de fibra de vidro e 30%

    de resina BIS-GMA05 1,5

    7 Classic Dentatus, USA Aço inoxidável 05 1,3

    Tabela 1 - Categoria dos pinos usados no teste mecânico.

    Figura 1 - Pino em contato com a matriz metálica.

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    Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos

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    dade oposta a base, realizou-se um rebaixa-

    mento de aproximadamente 1,9 cm de pro-

    fundidade. Esse rebaixamento deixou uma

    extremidade livre eqüidistante de 14 mm,

    determinação para propriedades flexurais de

    materiais plásticos com secção circular para

    testes transversais de três pontos12. As su-

    perfícies de contato entre o corpo de prova,

    matriz metálica e braço fixo possuíam 2 mm

    de espessura13 (Fig. 1).

    Essa matriz foi acoplada a uma Máquina

    de Ensaio Universal Pantec 500 (Panambra,

    Br), com célula de carga de 500 N. Os pinos

    foram dispostos horizontalmente em con-

    tato com a matriz e em seguida a máquina

    foi acionada com uma velocidade de 0,5mm/

    min (velocidade de carregamento). A porção

    móvel da máquina incidiu sob o braço fixo,

    atingindo perpendicularmente os corpos de

    prova na sua região central.

    A partir dos resultados de força e deflexão

    determinados pela máquina foi realizado o

    cálculo do módulo flexural e resistência má-

    xima flexural. O módulo flexural foi determi-

    nado por meio da equação Ef= 4FL³ / 3πd4Y,

    onde F é a carga suportada pelo pino, L é à

    distância entre os suportes, d é o diâmetro

    do pino testado e Y é a deflexão correspon-

    dente à carga F, onde o resultado será dado

    em MPA e transformado para GPA. A resistên-

    cia máxima flexural foi calculada pela fórmu-

    la σf= 8FL /πd³ com resultado em MPA.

    As diferenças entre os vários grupos foram

    calculadas estatisticamente por meio do teste

    de Análise de Variância (p< 0,05) complemen-

    tado pelo teste de Comparações Múltiplas de

    Tukey ao nível de significância de 5%.

    RESLTADSA análise estatística dos resultados ob-

    tidos em relação à resistência flexural está

    apresentada na tabela 2. Diferentes valores

    médios de resistência flexural máxima foi ob-

    tido para os pinos diretos utilizados no tes-

    te. O grupo da marca comercial Classic (Den-

    tatus, USA) apresentou a menor resistência

    flexural, os demais grupos apresentaram de-

    sempenho semelhante, com exceção dos pi-

    nos U.M. AESTHETI Plus (Bisco, USA), os quais

    tiveram desempenho superior a p< 0,05. Para

    os grupos compostos por pinos poliméricos,

    pode-se verificar que não houve diferença

    estatística significativa (p < 0,05) em relação

    ao módulo flexural (Tab. 3).

    DISSS

    Buscar harmonia entre a forma, função e

    resistência de um dente tratado endodonti-

    camente é um grande desafio para a odonto-

    logia, pois o prognóstico de um dente hígido

    é infinitamente melhor que de um dente res-

    taurado. Além disso, deve-se considerar que o

    conteúdo da polpa é basicamente composto

    por tecido conjuntivo. Desta forma, quando

    é feita a desvitalização pulpar e a posterior

    substituição do tecido por um material mais

    rígido, estaria indo ao encontro dos princí-

    pios naturais da estrutura dentária.

    Freqüentemente, fracassos clínicos ocor-

    rem com os sistemas tradicionais de recons-

    trução corono-radicular como as fraturas ra-

    diculares; outro aspecto importante é a baixa

    demanda estética, principalmente quando

    são utilizados nos dentes anteriores7,17. O alto

    módulo de elasticidade dos pinos metálicos

    causa um aumento do estresse na estrutu-

    ra radicular resultando em maiores chances

    de fraturas. O sistema ideal seria aquele que

    tivesse o pino com módulo de elasticidadeigual ou próximo da dentina8,17.

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    Grupo Média Desvio Padrão

    7 568,23 a 500,93

    3 1124,97 b 160,31

    4 1153,41 b 287,76

    6 1153,84 bc 163,78

    1 1339,36 bc 137,11

    2 1474,30 bc 72,45

    5 1688,46 c 155,15

    Grupo Média Desvio Padrão

    1 26,49 ª 7,87

    2 28,11 ª 8,23

    3 26,93 ª 9,03

    4 25,68 ª 12,95

    5 36,76 ª 10,01

    6 24,82 ª 3,79

    Tabela 2 - Média e desvio padrão da Resistência Flexural Máxima (MPA) nos diferentes grupos.

    Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente através da Análise de Variância complementada pelo teste de Comparações Múltiplas deTukey, ao nível de significância de 5%.

    Tabela 3 - Média e desvio padrão do Módulo Flexural (GPA) nos diferentes grupos.

    Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente através da Análise de Variância complementada pelo teste de Comparações Múltiplas deTukey, ao nível de significância de 5%.

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    Os primeiros pinos reforçados tinham as

    fibras de carbono, que representa 64% da

    estrutura total, com 8 µm de diâmetro apre-

    sentando disposição longitudinal e unidire-

    cional. A matriz é uma resina epóxi que re-

    presenta os 36% restantes. A interface que

    liga a matriz epóxi ao reforço de fibras, apre-

    senta uma compatibilidade com ambos os

    materiais, assegurando uma perfeita coesão

    entre fibra e matriz7.Posteriormente surgiram os pinos de fibra

    de vidro e fibras de quartzo suprindo a deman-

    da estética, pois se apresentam na cor trans-

    parente ou branca. Em relação à sua composi-

    ção química, elas apresentam o vidro elétrico

    (E-glass) que no seu estágio amorfo é uma

    mistura de óxidos de silício, cálcio, alumínio

    e bário e outros óxidos de metais alcalinos.

    Algumas fibras de vidro apresentam na sua

    composição o vidro elétrico (S-glass) de alta

    resistência, também amorfa, mas diferente nacomposição. Os pinos de fibra de quartzo têm

    Figura 2 - Microscopia eletrônica de uma fibra dos pinos reforçados.

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    a sílica pura em forma cristalizada15.

    A fibra é uma estrutura flexível, aproximada-

    mente cilíndrica em sua forma, unidirecional e

    que possui comprimento maior que o diâmetro4 

    (Fig. 2, 3). Na figura 4 temos um corte transversal

    ilustrativo do pino Reforpost (Ângelus, BR) que

    apresenta na sua composição fibras de vidro.

    O direcionamento das pesquisas para um

    melhor entendimento da microestrutura dos

    pinos reforçados por fibras refletiu direta-mente no sucesso da prática clínica e labo-

    ratorial. Através delas se conseguiu entender

    o desempenho mecânico e ao mesmo tem-

    po estabelecer relações entre a estruturação

    desses pinos e valores, tanto de resistência,

    quanto de módulo flexural conseguidos nos

    testes laboratoriais. Na microscopia eletrôni-

    ca realizada por Lassila e colaboradores con-

    cluiram que existia porosidade em todos os

    pinos reforçados por fibras analisados e que

    a porosidade nos pinos SnowPost (Carbotech,France) foi facilmente identificada.

    Figura 3 - Várias fibras paralelas e unidirecionais.

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    Essa porosidade explica a redução das

    propriedades mecânicas, ao contrário dos pi-

    nos EverStich (StichTech, Finland) que apre-sentou uma estrutura sólida e compacta e

    a maior Resistência Flexural entre os pinos

    testados15. Na figura 05 esta ilustrada o pino

    composto por fibras de carbono, Reforpost

    (Ângelus, BR), diferentemente dos pinos com-

    postos por fibras de vidro, (Reforpost, Ânge-

    lus, BR), não podemos observar as estruturascirculares e sim uma massa de carbono contínua.

    Em um aumento maior (Fig. 6) podemos ve-

    rificar a presença de porosidades. A longe-

    vidade das restaurações de dentes tratadosendodonticamente e restaurados com esse

    sistema de pinos pode ficar comprometida

    em virtude desse aspecto pelo aumento das

    chances de fratura desses pinos.

    Em estudos de resistência e análise mi-

    croscópica Drummond e Bapna8  encontrou

    valores de resistência à flexão diferente paraas amostras testadas, entretanto os valores

    Figura 4 - Corte transversal do pino Reforpost (fibra de vidro). As setas mostran a presença fibras circulares.

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    39R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    de módulo flexural foram próximos. Apesar

    de pinos Carbon Post (Bisco, USA) e Light

    Post (Bisco, USA) apresentarem o mesmo diâ-metro e semelhante densidade de acondicio-

    namento das fibras os valores de resistência

    à flexão dos pinos Light Post foram 50% me-

    nor que os pinos Carbon Post. Fatores como

    o número de fibras introduzidas na matriz

    resinosa, talvez, não seja determinante para

    uma resistência flexural elevada e sim a li-gação entre fibra e matriz resinosa8. Na mi-

    croscopia eletrônica dos pinos Esthetic post

    (Bisco, USA) observamos um melhor padrão

    de estruturação das fibras de quartzo dentrode uma massa de carbono (Fig. 7, 8). Pode-se

    notar a presença de vãos na superfície das

    fibras mesmo resultado encontrado nas mi-

    croscopias eletrônicas de Drummond e Bap-

    na8.

    O módulo de elasticidade dos materiais res-

    tauradores é, sem dúvida, uma das principaispropriedades mecânicas que estes possuem,

    Figura 5 - Corte transversal do pino Reforpost (fibra de carbono).

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    pois interfere diretamente no prognóstico

    do dente restaurado. Duret e colaboradores7 

    determinaram o módulo de elasticidade depinos fundidos e pinos pré-fabricados metáli-

    cos, encontrando valores que se aproximaram

    a 180 GPA, muito superiores aos da dentina,

    determinado por Ko14, em 18,6 GPA.

    Analisando os resultados obtidos na tabela

    3 em relação ao módulo flexural, verificamos

    não haver diferença estatística significanteentre os grupos (valores entre 24,82 e 36,76

    GPA). Todos apresentaram módulo de elasti-

    cidade superior ao da dentina determinado

    por Ko14. Nesse sentido, nossos resultadossão semelhantes aos encontrados por Lassila

    e pesquisadores, os quais não encontraram

    diferenças nos valores de módulo flexural das

    amostras testadas15.

    Outra propriedade mecânica importante é

    a resistência flexural, que é a capacidade de

    um determinado material suportar uma for-ça até um determinado limite, sofrendo certa

    Figura 6 - As setas mostram porosidades no pino Reforpost (fibra de carbono).

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    41R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    flexão. Essa resistência flexural passa por um

    limite elástico, no qual as fibras estão sendo

    flexionadas e absorvendo as tensões até che-gar a uma resistência máxima. A partir desse

    momento ocorre o rompimento da fibra11.

    Com relação à resistência flexural, os re-

    sultados indicaram que os pinos poliméricos

    de fibra de carbono, vidro e quartzo possuem

    uma resistência flexural máxima superior ao

    pino metálico (Classic, Dentatus, USA). Foiconstatado também que os pinos do grupo

    5 (U.M.AESTHETI Plus, Bisco, USA) apresenta-

    ram valores de resistência máxima flexural

    superiores aos outros grupos de fibra e qua-se 3x maior que o grupo composto por pino

    metálico, (Fig. 9).

    Há diversas controvérsias em relação ao

    aumento da resistência à fratura de dentes

    tratados endodonticamente através do uso

    de pinos pré-fabricados diretos ou indiretos.

    McDonald e colaboradores18  ao compararema resistência à fratura de dentes desvitali-

    Figura 7 - Corte transversal de um pino Esthetic post (Bisco, USA).

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    Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos

    42 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    zados restaurados com pino de aço, fibra de

    carbono, resina composta e sem pino intra-

    radicular não encontraram diferenças sig-nificativas entre os grupos. Por outro lado,

    Albuquerque2  relatou que dentes desvitali-

    zados reconstruídos com núcleo de resina

    composta mostraram maior resistência à

    fratura quando comparados aos núcleos de

    amálgama ou cimento de ionômero de vidro

    reforçados com prata; a esses dentes foram,também, associados a um pino pré-fabrica-

    do metálico, fio ortodôntico ou mesmo sem

    pino apresentando a mesma resistência à fra-

    tura.  Martinez-Insua19  e seu grupo de estudo

    avaliaram o desempenho em relação à resis-

    tência à fratura de dentes despolpados e res-

    taurados com pino-núcleo metálico fundido e

    pinos de fibra de carbono e evidenciaram que

    o limiar de fratura dos pinos fundidos (fratu-

    ra da parede radicular em 91% dos casos) foisignificativamente maior que nos pinos de

    Figura 8 - Presença de vãos no interior das fibras.

  • 8/17/2019 Propriedades Flexurais de Pinos Metálicos e Não

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    Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato

    43R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    fibra de carbono (fratura da parede radicular

    em 5% dos casos), confirmando que o módulo

    de elasticidade dos pinos de fibra foi próximoao tecido dentinário, diminuindo com isso a

    possibilidade de fraturas radiculares.

    Akkayan & Gülmez1 encontraram fraturas

    desfavoráveis (fraturas que impossibilitam

    uma nova restauração) nos sistemas de Ti-

    tânio e em todos os grupos que apresenta-

    vam pinos de zircônia ocorreram fraturas dospinos. Por outro lado, os grupos que tinham

    pinos de fibra de quatzo e fibra de vidro tive-

    ram a maior resistência à fratura e as fratu-

    ras que ocorreram foram favoráveis (fraturaspossíveis de serem restauradas).

    Nos testes laboratoriais realizados por

    Maccari e colaboradores17, compararam pinos

    de fibra de vidro, carbono e pinos cerâmicos.

    Os pinos de fibra de vidro e carbono não apre-

    sentaram diferenças estatísticas significantes

    quanto à resistência à fratura e também nãohouve a fratura de nenhum desses pinos; já os

    Figura 9 - Pino de fibra de quartzo (UM AESTHETI Plus, Bisco, USA) fraturado.

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    Propriedades flexurais de pinos diretos metálico e não - metálicos

    44 R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

    pinos cerâmicos apresentaram 100% de fratu-

    ras. Essas opiniões reforçam os resultados ob-

    tidos em nosso estudo de forma que concor-

    damos com Fernandes e Dessai9  que há uma

    correlação indiscutível entre o material do pino

    intra-radicular e a fratura da raiz. Consideram

    as opiniões de Duret, Ferrari e Mannocci7 que

    o ideal seria que o material do pino intra-radi-

    cular apresentasse o mesmo módulo de elasti-

    cidade da dentina radicular para que a tensão

    das forças que interagem ao longo do pino e da

    raiz fosse distribuída de forma homogênea.

    É importante ressaltar que os resultados

    obtidos nos testes de flexão não significam,

    necessariamente, que os pinos de fibra possam

    ter ou não um bom desempenho clínico, vis-

    to que este também depende de uma série de

    outros fatores que devem ser avaliados e es-

    tudados em conjunto com estudos in vitro e,

    principalmente, avaliações clínicas em longo

    prazo. Que estas pesquisas possam, quem sabe

    no futuro, trazer uma forma de reconstrução

    mais satisfatória de dentes tratados endodon-

    ticamente, consciente que nenhum material

    ou técnica restauradora substitui tecido den-

    tal sadio.

    LSÕES

    Baseados na análise estatística aplicada aos

    resultados e conforme as condições experimen-

    tais dessa pesquisa, conclui-se que:

    1. Todos os grupos tiveram valores médios

    de módulo flexural superiores ao módulo flexu-

    ral da dentina encontrado na literatura;

    2. O grupo composto por pinos pré-fabrica-

    do metálico apresentou, em média, resistência

    flexural máxima menor que os pinos de fibra de

    carbono, vidro e quartzo;

    3. Não houve diferenças significativas entre

    os grupos em relação ao módulo flexural.

    With the restorative materials evolution,

    new techniques that look for preservation ofremaining dental structure from endodonticaly

    treated tooth are coming. The aim of this study

    was compare flexural strength of metallic

    direct posts (stainless steel) and metal-free

    posts (4 trademarks of glass fiber, 1 of carbon

    fiber and 1 of quartz fiber). Those posts were

    tested in an Universal Testing Machine Pantec

    500 (Panambra) following ISO 178 specifications

    to three points flexural strength. Based uponresults statistical analysis, we can conclude

    that: all groups had flexural modulus medium

    values superior to dentin; polymeric posts

    reinforced with fiber showed maximum flexural

    strength superior to metallic posts and was

    not difference significant at a relation flexural

    modulus.

    KEY WORDS: Intra-canal posts. Elasticity modulus. Glass fiber. Carbon fiber. Flexural strength.

    Abstract

    Flexural Properties of Direct Metallic

    and Metal Free Posts

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    Daniel Tozatti Mazzoccato, Ronaldo Hirata, Luiz Antônio G. Pires, Eduardo Mota, Lourenço Farias de Moraes, Sandra Tozatti Mazzoccato

    45R Dental Press Estét, Maringá, v. 3, n. 3, p. 000-000, jul./ago./set. 2006

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    Daniel Tozatti Mazzoccato

    R. Sylvio Zeny 82/202, PortãoCuritiba, PR - CEP: 80320-190E-mail: [email protected]

    Endereço para correspondência