PROPOSTA PARA O SERVIÇO EDUCATIVO DO MUSEU MUNICIPAL DO...
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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
PROPOSTA PARA O SERVIÇO EDUCATIVO DO
MUSEU MUNICIPAL DO MONTIJO
O livro infantil como estratégia de divulgação da Casa Mora
Maria Julieta da Silva Almeida
Dissertação
Mestrado em Educação Artística
Dissertação orientada pela Prof.ª Doutora Margarida Calado
2016
DECLARAÇÃO DE AUTORIA
Eu Maria Julieta da Silva Almeida, declaro que a presente dissertação de mestrado intitulada “Proposta para o
Serviço Educativo do Museu Municipal do Montijo. O livro infantil como estratégia de divulgação da Casa
Mora”, é o resultado da minha investigação pessoal e independente. O conteúdo é original e todas as fontes
consultadas estão devidamente mencionadas na bibliografia ou outras listagens de fontes documentais, tal como
todas as citações diretas ou indiretas têm devida indicação ao longo do trabalho segundo as normas académicas.
O Candidato
Lisboa, 29 de Dezembro de 2016.
I
RESUMO
O estudo do património e da educação patrimonial revelam que estes são bastante
importantes para o equilíbrio psíquico, o bem-estar e o progresso do ser humano, tal como
o livro constitui uma ferramenta útil na criação de sentido, na apreciação estética e na
salvaguarda do património. A proposta editorial “A casa do Sr. Domingos”, presente nesta
dissertação, visa transmitir aos mais novos a história e o passado da Casa Mora, onde está
sedeado o Museu Municipal do Montijo (Portugal), um património carenciado de
investigação e de estratégias de valorização.
Para que tal proposta seja realizada, é necessário estudar a relevância que os testemunhos do
passado têm na era moderna, em vários níveis, desde o significado e o conceito de
património, à sua ligação com a identidade e com a herança dos indivíduos. É preciso
também entender o comportamento contemporâneo das comunidades face ao património,
saber que estratégias foram e podem ser utilizadas para que a educação patrimonial seja eficaz
e ter uma noção clara sobre a importância que estas podem ter na vida dos cidadãos.
Como a proposta do livro “A casa do Sr. Domingos” está destinada a um público-alvo
específico, crianças dos 7 aos 12 anos de idade, é relevante conhecer este tipo de público,
tendo em conta o seu desenvolvimento cognitivo e os seus principais interesses. Antes disso,
é também necessário estudar a importância do livro infantil na vida das crianças e de que
forma este pode contribuir para o seu progresso e para a abertura de novas consciências.
Devido ao facto da Casa Mora ter tão pouca informação ao dispor dos munícipes e dos
visitantes em geral, acreditamos que incluir um estudo sobre da mesma nesta dissertação será
bastante enriquecedor, tanto para este trabalho, como para a história local.
Foram feitas várias visitas ao património investigado e, tendo em conta a carência de
informação, apenas foi possível compilar diversos testemunhos e comparar a arquitetura do
edifício do Museu Municipal do Montijo (Casa Mora), com a das restantes construções locais
da mesma época.
Palavras-Chave:
Património; Educação Patrimonial; Livro Infantil; Casa Mora; Montijo
II
III
ABSTRACT
The study of heritage and of the heritage education are an important issue. This has effect
on the psychic balance and progress of the human being. For instance, a book is a useful tool
for the understanding, creation and evaluation of heritage safeguarding.
The proposal of the book "A casa do Sr. Domingos" aims to transmit the youngest the
history of Casa Mora, where is located the Municipal Museum of Montijo (Portugal) due to
the lack of research and evaluation strategies for this place.
For this proposal to be realized, it is necessary to study the relevance that the past testimonies
have in the modern era, at various levels, from the meaning and concept of heritage, its
connection with an identity and with an inheritance of individuals.
It is also necessary to understand the contemporary behaviour of communities in relation to
heritage. This knowledge can be used to an effective heritage education, and to have a clear
idea of an interest that can change the lives of citizens.
The proposal of these book, "A casa do Sr. Domingos", is oriented for a specific target
audience: children from 7 to 12 years old. It is important to know the type of audience and
to consider their cognitive development and their interests. Before that, it is also necessary
to study the importance of children books in their lives and how they can contribute to their
progress and to the opening of new awareness.
Since Casa Mora has so little information available to municipalities and visitors in general,
we believe that including a study of it in this essay will be very enriching, both for this work
and for local history. Several visits were made to this place and, due to the lack of
information, it was only possible to compile several testimonies and compare the architecture
of the Montijo’s Municipal Museum (Casa Mora) building with other local buildings of the
same period.
Keywords:
Heritage; Heritage Education; Children Book; Casa Mora; Montijo
IV
V
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente, e em primeiro lugar, à minha orientadora, a Professora Doutora
Margarida Calado, por toda a partilha de conhecimento, pela disponibilidade imediata e pela
extrema atenção com que esclareceu cada dúvida, tendo sempre paciência para todas as
minhas ausências, todos os receios e todas as incertezas.
Agradeço à minha família, por todo o apoio incondicional e incentivo durante esta
investigação, por terem acreditado sempre em mim e por todas as noites que também
passaram em claro, seguindo todos os progressos desta dissertação.
Um especial agradecimento também a todos os meus amigos que me acompanharam nesta
etapa, por todas as palavras de incentivo e pela atenção com que me ajudaram.
Agradeço à Câmara Municipal do Montijo, aos serviços do Museu Municipal e do Arquivo
Municipal, pela disponibilidade e atenção com que me auxiliaram em todos os momentos
necessários. Guardo um especial agradecimento para a Dra. Fernanda Pinho, para os
arquitetos Paulo Lima e Rogério Dias, e para Joaquim Baldrico, por todas as conversas que
me elucidaram e contribuíram em muito para esta investigação.
Agradeço a todos os que, de uma forma ou de outra, se cruzaram no meu caminho ao longo
desta pesquisa, inspirando-me com os seus conhecimentos e simpatia.
VI
VII
ÍNDICE
Introdução …………..........……………………………………….………………….…1
I. O património e o contributo da educação patrimonial para a valorização e
preservação dos testemunhos do passado…………………….…..…………………...6
1. A consciencialização da existência do património…………....……….......……...6
1.1. O património enquanto identidade…………………………………...10
1.2. O património enquanto herança……………………………………..13
2. O reconhecimento dos bens patrimoniais e a importância da sua salvaguarda….18
3. A educação patrimonial e as principais iniciativas………………………………20
II. O edifício do Museu Municipal do Montijo e os seus antigos proprietários. Um
património a preservar..………………………………………………………………..29
1. As motivações que levaram à escolha deste edifício……………………………29
2. As diversas estratégias de valorização do edifício e a alternativa do livro
informativo………………………………………………………………....……30
3. O passado e o presente da Casa Mora. De habitação oitocentista a Museu
Municipal do Montijo……………………………………………………………31
3.1. O Montijo do século XIX……………………………………………34
3.2. Os detalhes do quotidiano montijense do século XIX……….……….37
3.3. As manifestações arquitetónicas da viragem do século XIX: as
semelhanças entre a Casa Mora e as restantes construções regionais da
época….…………………………………………………………...……..38
3.4. A burguesia endinheirada oitocentista………………………………..40
4. Domingos Tavares: um homem influente…………………………………..….41
5. Um percurso pela Casa Mora…………………………………………………..48
5.1. As fachadas…………………………………………………………..48
5.2. O jardim……………………………………………………………..53
5.3. O interior……………………………………………………………59
III. O livro informativo como estratégia de divulgação do património. Proposta
editorial sobre a Casa Mora para crianças………………...………………………….74
1. A importância do livro informativo na infância………………………………..74
VIII
2. O público-alvo e a sua capacidade de processamento de informação…………..78
3. As estratégias a adotar para uma melhor apreciação do livro……………………80
4. A ilustração enquanto mediadora entre o livro e o leitor……………………….82
5. “A casa do Sr. Domingos”. Uma proposta editorial para a divulgação da Casa
Mora, Museu Municipal do Montijo……..……………………………………..…86
Conclusão…………………………………………………………………………...….96
Bibliografia…….…...……………………………………………………………....... 100
a) Bibliografia geral………………………………………………………….....100
b) Bibliografia específica……………………………………………………… 111
IX
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. 1. Retrato de Domingo Tavares. Imagem de GRAÇA, L. – Montijo: Imagens da
Tradição Concelhia, 2001…………………………………………………………..….…43
Fig. 2, fig. 3. e fig. 4. Primeira edição monárquica de cédulas municipais. Imagens do Museu
do Papel Moeda – Fundação Dr. António Cupertino de Miranda em BALDRICO, J. – As
Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922,
2013……………………………………………………….…………………………….44
Fig. 5, fig. 6 e fig. 7., fig. 8 e fig. 9. Segunda edição de cédulas. Imagens de autor em
BALDRICO, J. – As Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922,
2013……………………………………………………………..………………………45
Fig. 10. Fachada principal da Casa Mora. Fotografia da autora……………………………51
Fig. 11. Fachada Norte da Casa Mora. Fotografia da autora………………………………53
Fig. 12. Zona do anfiteatro. Fotografia da autora……………………...…………………54
Fig. 13. Zona de recolhimento com o candeeiro central. Fotografia da autora…………….55
Fig. 14. Zona do poço encimado por um moinho americano. Fotografia da autora………55
Fig. 15. Zona de catering com caramanchão. Fotografia da autora………………………...56
Fig. 16. Pormenor dos embrechados e dos azulejos da fonte. Fotografia da autora…..…...57
Fig. 17. Marco de légua. Fotografia da autora…………………………………………….57
Fig. 18. Pormenor do arco de influência gótica. Fotografia da autora…………………….58
Fig. 18. Pormenor dos cachorros. Fotografia da autora…………………………………..59
X
Fig. 19. Planta do rés-do-chão, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do
Montijo………………………………………………………………………………….60
Fig. 20. Pormenor do fecho do arco da entrada e do trabalho de estuques do teto com as
iniciais “D.T.” Fotografia da autora………………………………………………………61
Fig. 21. Espaço da galeria, antigas salas de armazenamento. Fotografia da autora…………62
Fig. 22. Pormenor da alegoria em estuque do teto do antigo escritório da Casa Mora.
Fotografia da autora……………………………………………………………………...63
Fig. 23. Planta do piso nobre, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do
Montijo………………………………………………………………………………….63
Fig. 24. Sala Azul. Fotografia da autora…………………………………………………..65
Fig. 25. Pormenor do trabalho de estuques da Sala Cor-de-rosa. Fotografia da autora……66
Fig. 26. Pormenor do trabalho de estuques do Quarto de Vestir. Fotografia da autora……66
Fig. 27. Atual recheio do Oratório. Fotografia da autora……...………………………….67
Fig. 28. Pormenor do trabalho de estuques do teto do Oratório. Fotografia da
autora………………………………………………………...………………………….67
Fig. 29. Pormenor dos frescos e dos estuques do teto da Casa de Banho. Fotografia da
autora……………………………………………………………………………………68
Fig. 30. Pormenor de um dos frescos da Sala de Jantar, alusivo a Sintra. Fotografia da
autora……………………………………………………………………………………69
Fig. 31 Pormenor dos estuques e dos frescos do teto da Sala de Jantar. Fotografia da
autora……………………………………………………………………………………69
XI
Fig. 32. Cozinha. Fotografia da autora…………………………………………………..70
Fig. 33. Pormenor dos frescos do Quarto de Hóspedes. Fotografia da autora…………..72
Fig. 34. Pormenor dos estuques do teto do Quarto de Hóspedes. Fotografia da autora…..72
Fig. 35. Planta da mansarda, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do
Montijo………………………………………………………………………………….72
Fig. 36. Capa do livro “El Madrid de los Austrias contado a los niños”, de Maria Molina e
Pilarín de Luna. Edições Miguel Sanchez, 2006…………………………………………..93
Fig. 37. Capa do livro “Lisboa”, de David Pintor, 2013. Imagem retirada do catálogo online
da editora Kalandraka……………………………………………………………………94
XII
1
INTRODUÇÃO.
A presente dissertação de Mestrado em Educação Artística tem como principais
objetivos, o estudo sobre a importância do património, da educação patrimonial, a
investigação sobre o edifício da Casa Mora, uma antiga casa nobre datada de 1875 e
situada no centro da malha urbana da cidade do Montijo, e a apresentação de uma
proposta de divulgação deste património, junto de crianças dos 7 aos 12 anos. Este
edifício constitui hoje parte do núcleo museológico da localidade, sendo a sede do Museu
Municipal, contudo, sente-se uma ligeira falta de iniciativas que visem proteger, valorizar
e dar conhecer este património à comunidade envolvente.
A carência de recursos humanos no Serviço Educativo do Museu Municipal do
Montijo não permite o planeamento de atividades de forma regular para diferentes
públicos-alvo, e muito menos a sua execução. Outro fator que dificulta a criação de
qualquer tipo de investigação e divulgação sobre este imóvel é a ausência de informação
sobre o mesmo, visto que a carência de documentação cria barreiras à aproximação de
estudiosos.
Estas limitações levaram-nos a crer que seria bastante útil a concretização de uma
investigação geral sobre a Casa Mora, de modo a que fosse possível o enriquecimento da
documentação regional sobre a mesma. É possível realizar um estudo sólido sobre o
edifício, contemplando-o e registando as suas principais caraterísticas arquitetónicas e
decorativas, com base na história da arquitetura regional e nas principais influências e
gostos da época em que foi construído.
Contudo, esta dissertação não iria ao encontro da Educação Artística se não fossem
pensadas e propostas estratégias de divulgação do imóvel. Visto que é bastante proveitoso
o desenvolvimento de iniciativas de educação artística e patrimonial, e em especial em
torno de patrimónios pouco estudados e contemplados pelas comunidades a que
pertencem, nesta dissertação apresentaremos um pequeno projeto editorial, destinado a
crianças dos 7 aos 12 anos, que visa aproximar a antiga habitação oitocentista aos mais
pequenos. Intitulado de “A casa do Sr. Domingos”, o livro lúdico-didático que iremos
propor mais à frente terá a estrutura de conto ficcional, remetendo para o clássico tema
da «viagem no tempo», sem que nenhuma informação histórica seja deturpada.
Acreditamos que seja esta uma das melhores estratégias para cativar a atenção dos mais
novos, aliando a aprendizagem ao mundo da imaginação, proporcionando momentos
únicos, enquanto se estabelece uma ligação à Casa Mora.
2
Como o tema desta dissertação passa sobretudo pelas questões do património e da
educação artístico-patrimonial, iniciaremos este trabalho com um primeiro capítulo
destinado ao estudo da consciencialização sobre a existência do património. Será neste
capítulo que iremos abordar a importância que o património tem na vida do ser humano,
principalmente no que diz respeito ao seu sentido de pertença, de identidade, ao seu
progressivo desenvolvimento e até ao seu equilíbrio psíquico e ao seu bem-estar. Com
base em alguns autores, iremos esclarecer a temática do passado de um sítio, dizendo que
este constitui tudo o que antes se passou naquele mesmo lugar, tudo o que se lê sobre ele
e tudo o que se imagina também. Neste campo, a Casa Mora é palco de memórias de
vivências anteriores às que se vão construindo no dia-a-dia dos serviços municipais, e é
essa «essência» que tentamos resgatar com este trabalho.
Continuando o percurso pelo primeiro capítulo, iremos refletir sobre o conceito de
património, analisar diferentes tipologias, desde o material, ao imaterial, e iremos
debruçar-nos sobre a destruição e a ruína, percebendo que fatores contribuem para que tal
aconteça e em que medida as novas atividades turísticas e culturais dinamizam e
preservam o património histórico-artístico das comunidades. Será abordado de seguida o
conceito de identidade e de herança, onde iremos, muito rapidamente, tentar compreender
a importância de estarmos rodeados de testemunhos do passado e como tal pode favorecer
o nosso quotidiano.
Nos dias que correm, há cada vez mais fragmentação. Os indivíduos andam numa
azáfama constante e muitas vezes não param para refletir sobre diversas questões, sendo
uma das quais a pressa com que observam o património, captando-o apenas através de
uma máquina fotográfica ou de um telemóvel, ou, muitas vezes, nem lhe prestando
atenção. Na continuidade do primeiro capítulo, iremos também debruçarmo-nos sobre a
era contemporânea e analisaremos o comportamento da sociedade face ao passado que
compete contra inúmeros pontos de dispersão.
Com a modernidade, surgiram novas aberturas de consciência e novas iniciativas que
têm como objetivo manter vivo o «espírito dos lugares» e torná-los em polos turísticos
interessantes. No Capítulo I, iremos dar a conhecer algumas dessas atividades que estão
consequentemente ligadas à temática do turismo cultural e à educação patrimonial. São
exemplos a prática do estudo e divulgação da História da Arte, da recriação histórica e
dos roteiros temáticos. Contudo, visto que estas atividades são sustentadas pela
componente pedagógica, mesmo que direcionadas para um público mais velho, iremos
refletir sobre a definição de educação patrimonial, qual a sua importância no
3
desenvolvimento do ser humano e de que maneira esta pode ajudá-lo a construir a sua
identidade, o seu sentido crítico, a sua sensibilidade estética e a sua consciencialização
quanto à salvaguarda do património.
Seguindo para o Capítulo II, iremos dar a conhecer a Casa Mora aos leitores desta
dissertação, começando por justificar, mais uma vez, a escolha deste edifício como objeto
de estudo para a proposta editorial, e apresentá-lo-emos, enquadrando-o na sua época de
construção. Para que tal aconteça, iremos aproximarmo-nos do Montijo do século XIX,
explorando as atividades económicas que delinearam o traçado urbano, analisando o
quotidiano das gentes da terra e as principais caraterísticas arquitetónicas presentes nas
construções da localidade, para que haja suporte de comparação entre a arquitetura do
imóvel em estudo e as restantes habitações oitocentistas da cidade.
Sendo uma antiga casa nobre, a Casa Mora teve em tempos um proprietário
responsável pela sua existência. De nome Domingos Tavares, este homem foi um grande
proprietário rural na região e Presidente da Câmara Municipal da localidade durante mais
de 20 anos. É sobre a sua história que também nos vamos debruçar, para que se entenda
em que contexto surgiu a casa e por que motivo chegou aos dias de hoje com a atual
designação de «Mora».
Terminada toda a fase de contexto, iremos colocar em destaque, ainda no Capítulo
II, a envolvência espacial da casa, descrevendo as suas fachadas, em termos
arquitetónicos e decorativos; o jardim, tendo em conta a ambiência e os elementos
expostos; e o seu interior, em termos de decoração, de sistema organizacional das plantas
dos diferentes pisos, aludindo para a vida quotidiana do século XIX.
Para finalizar, o terceiro capítulo irá conter em si a proposta editorial “A casa do Sr.
Domingos”, mas para que esta iniciativa contasse com uma boa estratégia de execução,
seria necessária uma introdução teórica acerca dos benefícios da utilização do livro na
infância e conhecer o público-alvo. Assim sendo, no capítulo III, para além de ser
destacado o potencial do livro junto das crianças, irá ser analisado o desenvolvimento
cognitivo dos indivíduos de 7 a 12 anos, os seus principais interesses, bem como as
principais estratégias para tornar um livro o mais prazeroso possível aos olhos destes
pequenos leitores.
Por último, mas não menos importante, será descrito o projeto do livro, onde estarão
delineadas as principais ideias e suas justificações. Começaremos por colocar em
destaque os motivos que nos levaram a adotar o livro como intermediário entre o
património em estudo e a proposta para a sua divulgação, exploraremos as várias
4
alternativas de narrativa, de linguagem gráfica e de interatividade, para que este livro
perdure na memória dos seus leitores e não caia na monotonia de uma leitura por
obrigação. Por esta dissertação ser teórica, visto que grande parte do seu volume consiste
em estudos, este trabalho não terá incluído um apêndice com o aspeto final da proposta.
5
6
I. O PATRIMÓNIO E O CONTRIBUTO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
PARA A VALORIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DOS TESTEMUNHOS DO
PASSADO.
1. A consciencialização da existência do património.
Nos dias que correm, surgem cada vez mais estudos sobre a noção de património,
como por exemplo, dissertações de mestrado, teses e monografias, devido ao crescimento
da consciencialização em torno da importância do estudo desta temática. Tal como afirma
Jorge Amado Mendes, “as questões relacionadas com o património estão na moda e toda
a gente, hoje, invoca o património para justificar um número diversificado de ações ou de
atuações.”1
Ana Martins2 afirma que o interesse pelo património e a consciência da sua existência
parecem estar associados à resistência face à mudança que reside nos indivíduos. Segundo
a autora, essa atitude aparenta ser um dos principais efeitos das constantes transformações
aceleradas da sociedade contemporânea. Quanto mais rápidas e generalizadas são essas
transformações, mais se manifesta a necessidade de enraizamento e de aproximação ao
passado. Através dessa necessidade, os indivíduos tendem a retirar elementos que lhes
permitam situar-se no mundo contemporâneo, a partir da relação com os lugares
históricos, monumentos e ruínas, transmitindo-lhes assim a sensação de segurança e de
familiarização com o meio a que pertencem.
O mesmo salienta Jorge Pais da Silva, referindo que “o equilíbrio psíquico do ser
humano exige no dia-a-dia da sua existência de trabalho e de lazer, de alegria e de dor,
referências históricas, balizas que assinalam as raízes donde provém. (…).”3
Concordamos com Pais da Silva, pois “a atmosfera definida pelo passado (…) confere ao
habitante local o sentimento de segurança das coisas estáveis, dos objetos conhecidos, do
ar de família.”4
1 MENDES, J. – Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 11. 2 Em “A protecção do património Arqueológico: proteger o quê, como e porquê. Reflexões a partir do
direito do património cultural e do ambiente”, p. 4. 3 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. Para uma teoria da preservação do Património Histórico-Artístico,
p. 28. 4 Idem, ibidem.
7
Na realidade, o cenário histórico auxilia na resistência do ser humano ao isolamento,
pois funciona como articulação entre as diferentes gerações sociais, conferindo-lhes
hipóteses de continuidade. A cada geração cabe o compromisso de transmitir, nas
melhores condições possíveis, o espólio histórico-artístico herdado e construído
coletivamente ao longo de séculos, por vezes de forma bastante penosa.
Tal como Pais da Silva, também nós acreditamos que o Homem que desconhece o seu
passado se sente desamparado, desequilibrado e incompleto. A memória coletiva deve ser
entendida como uma peça fundamental do progresso humano, visto que ao olharmos para
o passado, enriquecemos o futuro5. Nesta matéria, Virgolino Jorge6 completa-nos este
raciocínio, referindo que o Homem necessita de memórias e de interiorizar o passado.
Como ser cultural e coletivo que é, o ser humano não conseguirá evoluir sem referências
passadas e sem o sentimento de tradição e de costume.
Para Vítor Oliveira Jorge7, o passado de determinado sítio é múltiplo, é o que cada
um de nós retira da experiência de diálogo com ele, do que leu sobre ele, ou do que
conseguiu percecionar através da imaginação. Já Guilherme d’ Oliveira Martins refere-se
ao passado como uma «aura» que identifica determinado espaço. Segundo Martins, “as
casas, os lugares, as regiões, os povos, as nações têm um espírito, sempre feito de
diferenças e de interdependência. Temos, por isso, de entender o «espírito dos lugares» e
de transformar essa compreensão num modo de nos enriquecermos culturalmente a partir
do diálogo entre o que recebemos dos nossos antepassados, (…).”8
De acordo com a teoria de Guilherme Martins, e no caso específico do património que
nos propusemos a investigar, podemos afirmar que todo ele está revestido pelo «espírito»
de um passado de vivências familiares e sociais. Temos consciência da ocorrência de
alguns deles, devido a documentação que o comprova, mas tantos outros se escaparam,
deixando apenas como testemunhas as paredes da Casa Mora. Este facto transforma o
imóvel num lugar «mágico», visto que a nossa perceção e a nossa imaginação guiam-nos
até à época de construção e de ocupação do imóvel e levam-nos a tentar compreendê-lo
e estimá-lo.
É claro que nem em todos os sítios se atribui o mesmo valor a determinados elementos
do passado. Queremos com isto dizer que o que uma comunidade considera património,
5 PIRES, J. – Produção Audiovisual. Um processo de desenvolvimento da capacidade de expressão e
comunicação visual em educação patrimonial, p. 31. 6 Em “Património: memória e identidade”, p. 800. 7 Em “Encenações do passado: coreografia de sítios arqueológicos”, p. 74. 8 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 24.
8
outra pode não o reconhecer como tal, fazendo com que este conceito não tenha um valor
único e definitivo.
De acordo com Jorge Amado Mendes9, o património acompanhou o contexto
histórico, social ou cultural da época em que foi perspetivado, acabando por variar ao
longo dos tempos. Assim, aquilo que em determinada altura era estimado de forma
especial por uma população, noutras épocas e noutras comunidades, pode ser
secundarizado ou até mesmo destruído. Deste modo, o património apresenta-se como uma
construção de cada geração.
De acordo com Vítor Oliveira Jorge10, esta ideia de património só existe, porque nós,
enquanto humanos, o inventámos e reinventámos continuamente, colocando-o sob a
necessidade urgente de salvaguarda. A sua definição tem sido alterada ao longo dos
tempos pelos indivíduos, mas tem vindo a ser considerado sobretudo como expressão e
sobretudo como testemunho dos valores dos nossos antepassados11.
Segundo José Bravo12, património é tudo aquilo que sentimos como tal, podendo
incluir qualquer tipo de herança que nos tivesse sido deixada, sendo esse o motivo da
alteração do conceito ao longo dos tempos. Com base nesta afirmação, levanta-se outra
questão: tudo aquilo que uma pessoa sente como património, outra poderá não sentir, ou
seja, um monumento/objeto patrimonial poderá estar a salvo na consciência de uma
pessoa, enquanto pode nunca vir a estar, nas mãos de outra.
Este pensamento leva-nos a outros caminhos, pois, assim sendo, poderão ser também
considerados património os simples documentos e objetos pessoais que tenham sido
estimados e guardados durante gerações, no seio familiar, se forem sentidos como tal
pelos seus tutores. É aqui que somos confrontados com dois tipos distintos de
interveniência por parte do indivíduo: ou esses documentos/objetos continuarão a ser
zelados e ampliados em número, ao longo do tempo, ou irão perder-se definitivamente.
Vítor Jorge13 afirma que o património tanto pode ser uma forma de opressão, como
de libertação, enquanto instrumento de criatividade, apenas nos compete a nós escolher e
9 Em “Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 263. 10 Em “Encenações do passado: (…)”, p. 66. 11 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 28. 12 Em “Um instrumento da Gestão de Património. Inventariação do Património Cultural, uma abordagem
teórica e prática no concelho de Cascais”, p. 13. 13 Em “Património, neurose contemporânea? Alguns apontamentos sobre o papel da memória coletiva na
Idade da Fragmentação”, p. 21.
9
distinguir o que serve para conservar, em que memórias queremos ancorar a nossa
identidade e o que iremos às gerações vindouras.
Nesta matéria, e de acordo com Pais da Silva, “nem tudo o que é antigo no domínio
do património histórico-artístico merece ser conservado (…).”14 O autor refere que o
caminho não deve ser tomado pela sobrevalorização exclusiva dos objetos do passado,
pois temos que adotar uma posição de exigência connosco próprios e com o que vai
surgindo. Acreditamos que, ao adotarmos este tipo de atitude, permitimos que o presente
em construção substitua passados que talvez já não façam sentido para nós. Por sua vez,
tudo aquilo que construímos no presente, também tem todo o direito em ser
salvaguardado, a fim de chegar ao futuro próximo.
Assim sendo, o respeito que deve envolver os nossos testemunhos ancestrais, passa
indiscutivelmente por tudo o que nós deixamos também de nosso às gerações seguintes.
Como salienta, mais uma vez, Pais da Silva, “a vida não pode parar”15, e também nós
iremos ser testemunho do passado, num futuro que se avizinha.
Segundo o referido autor, a vida contemporânea está cheia de exigências que podem
e devem ser satisfeitas. Pais da Silva revela-nos que “muitas destruições são aceitáveis
sem que com isso fique de modo algum prejudicado o progresso material das populações,
a indispensável modernização da vida, ou a satisfação das necessidades sociais da
comunidade.”16 É claro que para que este equilíbrio entre a preservação do passado e a
resposta à contemporaneidade possa acontecer, é necessário que cada cidadão,
empenhado no esforço da salvaguarda do património, tenha lucidez suficiente para decidir
o que deverá ser ou não deixado.
Acreditamos que cada indivíduo, e em particular aquele que poderá estar relacionado
com o sistema governativo das comunidades, ou com a área da educação – ao nível da
arte e da história –, deve ter consigo qualidades de ponderação, de sensibilidade e de
discernimento. Tem de ser um cidadão com iniciativa, com experiência visual e com um
forte sentido de serviço à comunidade17. Dando um exemplo dessa ponderação, podemos
destacar o restauro e a conservação de património edificado, cujas funções originais já se
tivessem perdido, pois, é quase sempre menos dispendioso adaptar a novas funções
14 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), p. 24. 15 Idem, ibidem, p. 25. 16 Idem, ibidem, p. 31. 17 Idem, ibidem, p. 26.
10
imóveis antigos com um certo interesse histórico-artístico, do que construir um edifício
novo para o mesmo efeito18.
Sobre este assunto, Vítor Jorge contesta, dizendo que a modernidade se manifesta na
vontade de construir algo novo, o que implica a destruição do antigo ou a sua integração
no moderno, apenas para que haja pequenas referências históricas. Este autor termina a
sua ideia, dizendo que aparentemente existe uma negação do tempo “(…) de corte com o
passado, através não da conservação e colocação da realidade em redoma, mas da
destruição, da vontade de fazer tábua rasa e de imitar o demiurgo ou Criador,
recomeçando (…) a História, o futuro todo (…).”19
Segundo Jorge, há que fazer do património, não uma “herança pesada, mas um valor
dinâmico, incorporado e vivenciado coletivamente e voltado para a nossa felicidade e
para a requalificação do nosso quotidiano”20, de modo a que as pessoas se sintam
genuinamente interessadas em conhecer, preservar e acarinhar o que lhes foi deixado.
Posto isto, cremos que, desde que haja respeito e consideração, cada um de nós tem a
liberdade de poder escolher aquilo com que se identifica. Um pouco ao encontro do que
nos diz José Bravo, cada um de nós tem o direito de sentir, sem obrigações, aquilo que é
para si o património, visto que esta ideologia aparenta estar ligada à apreciação estética,
ou seja, à estesia provocada por determinado local ou objeto, sempre diferente em cada
pessoa.
No fundo, e de acordo com o que já referimos, o património reflete tudo aquilo que
faz com que cada comunidade seja única e facilmente distinta das restantes, tratando-se
da sua identidade. Para Maria Pinto, o património “é expressão de uma comunidade, da
sua cultura, (…), sendo por isso um fator identitário”21.
1.1. O património enquanto identidade.
O conceito de identidade refere-se às diferentes características que nos tornam
ímpares e nos diferenciam uns dos outros em vários níveis. Podemos começar por falar
da noção de identidade individual, ou seja, o «eu», aquilo que define cada um de nós
18 Idem, ibidem, p. 29. 19 JORGE, Vítor – Património, neurose contemporânea? (…), p. 23. 20 Idem, ibidem. 21 PINTO, M. – Educação histórica e patrimonial: conceções de alunos e professores sobre o passado em
espaços do presente, p. 10.
11
enquanto pessoa, e este facto determina consequentemente a existência de um «outro»,
um «eu» alheio ao nosso. Porém, estas duas dimensões podem relacionar-se entre si, pois,
quando o «eu» é conjugado com vários «outros», estabelece-se a identidade coletiva, ou
seja, a noção de «nós», que acaba por ser também distinta de outras identidades coletivas,
«eles»22.
Posto isto, conseguimos entender que não só existe unicidade em cada um de nós,
como também a encontramos em cada grupo, e a junção de diversas comunidades
estabelece, por fim, a identidade nacional, aquela que é comum a toda uma nação, sendo
pertença de todos. Conseguimos então perceber que as identidades são múltiplas, podem
começar pelo nosso ADN, mas passam inevitavelmente pela história de cada um de nós,
enquanto indivíduos, e pela história de cada grupo, enquanto comunidade.
Segundo Maria Pinto23 e Maria Horta24, este fio condutor de memória define o
desenvolvimento do sujeito no tempo e distingue-o de outros sujeitos, tendo em linha de
conta a sua interação com o meio envolvente, pois um indivíduo constrói a sua própria
identidade quando aprende a fazer parte de um grupo.
Devido a tantas divergências contidas no mundo da identidade, tem que existir
obrigatoriamente uma capacidade de “aceitação do outro, do diferente, permitindo
compreender a dinâmica e a complexidade das relações sociais no respetivo contexto.”25
É aqui que nos permitimos conhecer e darmo-nos a conhecer aos nossos opostos,
respeitando-nos mutuamente, com a certeza de que não existem culturas mais importantes
do que outras.
Tal como nos diz Guilherme d’ Oliveira Martins, “as identidades só ganham pleno
sentido quando [estão] abertas e disponíveis para dar e receber, e para assegurarem um
permanente diálogo entre a tradição e a modernidade.”26 Martins reforça esta sua última
afirmação, constatando que a nossa sociedade é por norma conflitual, por isso “importa
promover a igual consideração e o respeito como valores fundamentais da sociedade
aberta.”27
Com o passar do tempo, a singularidade inerente a cada indivíduo e a cada grupo
acaba por ir sofrendo mudanças na sua estrutura. A nível pessoal, podemos dizer que, aos
22 Idem, ibidem, p. 9. 23 Em Idem, ibidem. 24 Em “Guia básico da educação patrimonial”, p. 5. 25 PINTO, M. - Educação histórica e patrimonial: (…), p. 10. 26 MARTINS, G. – Portugal: memória, património e cidadania, p. 23. 27 Idem, ibidem, p. 25.
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poucos, tanto a nossa mentalidade, como a nossa personalidade evoluem e determinam
as nossas escolhas e todo um percurso com variadas experiências de vida que serão
sempre diferentes de «eu» para «eu». A um nível mais global, o fio condutor de memória
coletiva acaba por se modificar também, pois, há sempre tradições que se perdem ou
reinventam, e até mesmo, monumentos identitários de determinadas populações que
cedem o seu lugar a outros, ou se reconstroem sob novos ideais, consoante as vicissitudes
encontradas nas diferentes épocas e as respetivas alterações do gosto.
No domínio desta questão, deparamo-nos com Vítor Serrão28 que nos diz que é natural
que haja destruição, pois, como tudo o que é finito nesta vida, as construções e as obras
de arte também envelhecem e definham, a menos que haja um programa de restauro,
vontade política e medidas cautelares que atrasem esse processo. Para o autor, existem
imensos fatores que auxiliam a ruína e o abandono do património. A perda das funções
de origem dos espaços e a desvalorização da marca estilística, as guerras e as invasões
estrangeiras, as catástrofes naturais e os incêndios, a má gestão dos bens e as fracas
campanhas de restauro, a inconsciência das tutelas e a ambição do ser humano, o
vandalismo sistemático, a desmemória de muitas comunidades e a falta de instrumentos
legais de prevenção de preservação e de salvaguarda são alguns deles. Jorge Pais da
Silva29 salienta também os principais fatores da degradação do património, entre os quais
se encontram a ignorância, o alheamento e a cobiça do Homem, os interesses unicamente
comerciais e a falta de formação generalizada dos valores culturais, o peso da burocracia
e o comodismo que se instalou nas pessoas.
O património renova-se e enriquece-se, mas essas mudanças não precisam de ser
inevitavelmente marcadas por ondas de destruição ou por abandono sem critério30.
Atualmente, e para além da tomada de consciência acerca da existência do passado e da
constante procura em se estabelecer uma ligação com ele, afirma-se ainda uma clara
tendência para o desrespeito por esse legado.
No nosso dia-a-dia, podemos deparar-nos com situações de puro desconhecimento da
nossa história e com a própria vandalização ou destruição propositada dos testemunhos
do passado. Aparentemente, esta falta de respeito surge em maior número por parte dos
jovens que praticam atos maldosos de vandalismo em obras expostas ou em património
edificado, sem terem consciência de que é errado danificar algo que é pertença de todos.
28 Em “Portugal em ruínas. Uma história cripto-artística do património construído”, pp. 11-13. 29 Em “Pais da – Pretérito Presente. (…)”, pp. 26-27. 30 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 30.
13
Margarida Calado esclarece esta questão em algumas das suas obras31, onde refere a
importância do ensino da História da Arte como arma principal no combate contra este
paradigma.
São muitos os casos de patrimónios histórico-artísticos que se encontram sob ameaça
de roubo, de descuido, de esquecimento, de abandono e de ruína. É, portanto, verdade e
lugar-comum dizer-se que o património suscita cuidados e impõe medidas cautelares.
Para além do estudo, é imperativo que haja divulgação.
A ruína assume agora conotações de culpa, abandonando a ideologia melancólica que
o Romantismo lhe atribuiu. Hoje, ao olharmos para uma ruína, já não perspetivamos a
ideia de fim/viragem de um ciclo da História, constatamos antes que “pouco ou nada se
fez para evitar a desonra e a indignidade.”32
A sociedade contemporânea aparenta estar tão distraída que acaba por não se
aperceber do que se passa à sua volta, sendo os destroços que atualmente podemos
encontrar, um pouco por todo o nosso país, testemunhas de abandono e de desmemória.
Cada um de nós tem a responsabilidade de colaborar com a defesa do património, e tal
como nos diz Pais da Silva, “ninguém tem o direito de se sentir dispensado ou de querer
delegar essa tarefa em outrem (…).”33
1.2. O património enquanto herança.
Para Maria Pinto34, a palavra “património” esteve desde sempre conectada aos valores
de pertença, pessoal ou universal, associados às ideias de herança paterna e de bens de
família, acabando por nos definir através de determinadas posses. Com o passar do tempo,
este conceito acabou por integrar também os bens culturais, ligando diversas dimensões
e dando prioridade a tudo o que fosse edificado, pois é essa tipologia que se impõe de
forma mais imediata. Assim, o património representa tudo aquilo que nos é intimamente
significativo, tanto a nível familiar, como nacional.
É considerado património todo o resultado de uma seleção que tem como objetivo
colocar em destaque determinados elementos, móveis ou imóveis, na categoria de objeto
31 Por exemplo: “Porque ensinar História da Arte” e “Educação artística e respeito pelo património
histórico”. 32 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 37. 33 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), p. 28. 34 Em “Educação histórica e patrimonial: (…)”, p. 9.
14
patrimonial, ou de um acontecimento marcante, pertencente à narrativa da história de um
povo, de modo a que as gerações vindouras observem os seus antepassados através dos
testemunhos que lhes foram deixados35.
Ao longo do tempo, esta prática foi obedecendo a diferentes critérios e a um conjunto
de regras, tendo em conta a noção do que era, ou não, considerado património aos olhos
dos eruditos das diferentes épocas. Podemos dizer que a ideia de património continua a
alterar-se em conformidade com as diferenças culturais, políticas, sociais e económicas
que separam as épocas e as comunidades36.
Segundo Margarida Calado37, e de acordo com o ponto de vista legislativo, as
primeiras iniciativas de reconhecimento das heranças do nosso passado português
surgiram em alvará com data de 30 de Agosto de 1721, durante o reinado de D. João V.
Nessa altura, eram considerados património os edifícios; as estátuas e os mármores; as
medalhas e as moedas; e os cipos e as lâminas com figuras ou inscrições esculpidas.
Estabeleceu-se desde logo um espaço cronológico – desde os Fenícios, até ao reinado do
rei D. Sebastião –, cujo património nele integrado seria alvo de proteção por parte das
autarquias locais. A responsabilidade financeira na conservação destes valores históricos
fazia-se por parte da Academia de História, e recorria-se a penas significativas aos que,
de algum modo, destruíssem as peças referidas.
Alexandre Herculano escreveu alguns artigos para o jornal “O Panorama”38, onde
destacou de forma clara a importância da salvaguarda do património, sensibilizando a
opinião pública nacional para a conservação dos monumentos e denunciando o
vandalismo, que já se fazia sentir em pleno século XIX. Muito perto do fim da monarquia,
foi estabelecido um consenso sobre o conceito de monumento e iniciaram-se os trabalhos
de inventariação e de levantamento científico sobre edifícios e objetos com valor
arqueológico, histórico e artístico, no qual colaboraram as Câmaras Municipais.
Durante a Primeira República, passou a considerar-se importante o papel da educação
enquanto depuradora dos conceitos de obra de arte e de objeto arqueológico, de modo a
que começasse a circular “o melhor empenho em despertar e manter no espírito dos alunos
(…) o respeito por todos os monumentos, e pela própria paisagem nacional, e (…)
procurar dar aos outros o conhecimento conveniente da origem e valor histórico de tais
35 PIRES, J. – Educação patrimonial e produção audiovisual, p. 251. 36 BRAVO, J. – Um instrumento da Gestão de Património. (…), p. 18. 37 Em “Portugal detentor da segunda mais antiga legislação da Europa sobre Património”, pp. 1-3. 38 Nos números 69 e 70, de 1838, e nos números 93 e 94, de 1839. Em BRAVO, J. – Um instrumento da
Gestão de Património. (…), p. 24.
15
monumentos, de maneira a firmar nos educandos o caráter cívico e patriótico, ao mesmo
tempo que se lhes desenvolve o gosto e amor pela arte”39.
Já durante o Estado Novo, foram revistos os mecanismos de classificação dos
monumentos nacionais, bem como o próprio conceito, e foi imposta a primeira disposição
legal moderna que regulamentava a prática de escavações arqueológicas. Em 1972, foi
aprovada a “Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural”, da
Unesco, onde já se constatava que o património estava em constante ameaça de
destruição, não apenas pelas causas naturais, “mas também pela evolução da vida social
e económica que as agrava através de fenómenos de alteração ou de destruição ainda mais
importantes.”40 Porém, apenas com a chegada da Revolução de Abril, é que o conceito
tradicional de património se alargou na sua totalidade. Foi nessa altura que se abriram
portas a novos entendimentos e se tornou possível a aposta significativa em associações
de defesa do património cultural e na educação patrimonial.
Durante algum tempo, eram considerados herança apenas os bens materiais,
descurando-se a importância da preservação das práticas imateriais, transmitidas de
geração em geração e de mestres para aprendizes. Atualmente, o património estende-se
em diversas tipologias, entre as quais, a forma imaterial, que já foi incluída nas
preocupações quanto à salvaguarda do nosso legado.
De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, de
2003, da UNESCO, as formas incorpóreas de herança cultural passam pelas “práticas,
representações, expressões, conhecimentos e competências – bem como os instrumentos,
objetos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades,
grupos e, eventualmente, indivíduos reconhecem como fazendo parte do seu património
cultural.”41
É uma tipologia de património que se encontra em constante recriação por parte das
comunidades e grupos, em função do seu meio envolvente, conferindo-lhes um sentido
de identidade e de continuidade. Podemos considerar ainda como património imaterial,
todas as tradições e expressões orais; as artes do espetáculo; as práticas sociais; rituais; e
atos festivos, bem como os conhecimentos e as técnicas artesanais tradicionais42.
39 A partir de uma circular distribuída por João de Barros, em 1915. Excerto citado em BRAVO, J. – Um
instrumento da Gestão de Património. (…), p. 25. 40 UNESCO – Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural, 1972, p. 1. 41 UNESCO – Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Artigo 2º, ponto 1. 42 Idem, ibidem. Artigo 2.º, ponto 2.
16
Já o património material, aquele que sempre se reconheceu por ser físico e sobretudo
edificado, passa pelos monumentos. Segundo Jorge Amado Mendes43, a palavra
“monumento” deriva do latim monumentum, termo que por sua vez provém de monere,
que significa recordar, o que por si só já nos remete para a questão da memória. Mendes
refere ainda que ao se edificar um monumento, o que se pretende é perpetuar aquilo que
ele próprio testemunha, como por exemplo uma homenagem a determinados
acontecimentos ou personalidades.
Esta teoria é reforçada por Françoise Choay44, que afirma que pode ser considerado
monumento todo o artefacto edificado por uma comunidade para que esta se recorde a si
mesma, ou seja, reveja os seus acontecimentos, sacrifícios ou crenças. É este tipo de
património que tranquiliza e apazigua o medo do esquecimento e da aniquilação,
assegurando determinadas memórias, tais como as origens dos indivíduos. Atualmente, o
património edificado é muito vasto. Chega-se a incluir tanto os edifícios isolados, como
os grandes conjuntos construídos, tais como os bairros ou cidades inteiras45.
Na “Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural”, de
1972, a Unesco considerou como património cultural os monumentos, destacando-se por
serem obras arquitetónicas de escultura ou de pintura, por serem elementos ou estruturas
de caráter arqueológico e por serem elementos com valor universal do ponto de vista
histórico, artístico ou científico. Nesta convenção, a Unesco destacou também os
conjuntos, classificando-os como grupos de construções, isolados ou reunidos, de valor
excecional em virtude do ponto de vista arquitetónico, histórico, ou científico. Foram
também considerados património todos os possíveis locais de interesse, chamados de
obras do Homem, conjugados, ou não, com a natureza e com os locais arqueológicos de
importância histórica, estética, etnológica ou antropológica46.
É através da observação dos monumentos que nos apercebemos da quantidade infinita
de história que determinada povoação possui, pois, não só ficamos a conhecer alguns dos
variados estilos arquitetónicos que perduraram em diferentes épocas, como imaginamos
aquele lugar no seu tempo, tal como as diversas dificuldades passadas para o consolidar.
Assim, promovemos a sensibilidade quanto à proteção dessa herança e estimulamos a
apreciação estética.
43 Em “Estudos do Património: Museus e Educação”, p. 15. 44 Em “Alegoria do Património”, p. 71. 45 Idem, ibidem, p. 69. 46 UNESCO – Convenção para a Protecção do património Mundial, Cultural e Natural, 1972, Artigo 1.º.
17
Quando falamos de património edificado, temos obrigatoriamente que incluir o meio
que o envolve. Queremos com isto dizer que até o espaço natural em torno das
edificações, por exemplo, pode ser considerado de herança. A Unesco chega a defini-lo
como “monumentos naturais”47, incluindo as formações físicas e biológicas, geológicas
e fisiográficas; as zonas estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies
animais e vegetais ameaçadas; e os locais de interesse naturais ou zonas naturais
estritamente delimitadas, com valor universal excecional do ponto de vista da ciência, ou
da beleza natural48.
Ainda no âmbito do tema do património natural, Ana Duarte49 salienta que a relação
dos jovens com a natureza é fundamental. A autora diz-nos ainda que é igualmente
imprescindível a realização de visitas guiadas a áreas a proteger e a elaboração de fichas-
guias, de roteiros turístico-culturais e de brochuras que tenham como objetivo a
divulgação do património natural.
Segundo José Bravo50, o património pode ser dividido em diferentes categorias, tais
como: património rural e urbano; património científico, tecnológico, industrial e
ferroviário; património empresarial e operário; património do gás, da eletricidade e da
água; património mineiro, florestal e natural; e património literário, artístico e
museológico. Como podemos reparar, o conceito alargou-se a um extremo tal que se
tornou vulgar a questão da sustentabilidade da salvaguarda dos lugares onde está inserido,
sendo este o resultado da tomada de consciência quanto aos direitos e deveres da
comunidade perante o espaço que ocupa.
Atualmente, as populações também fazem parte dos processos de gestão e de
educação patrimonial, contribuindo e desenvolvendo ideias para a preservação dos seus
legados, pois há cada vez mais estudos, iniciativas e ações que se refletem nesta temática
do património, como afirmamos de início. Porém, como conseguimos despertar nos
indivíduos tal consciência? Acreditamos que a educação patrimonial desempenha um
papel fundamental de forma muito clara.
47 UNESCO – Convenção para a protecção do Património Mundial, Cultural e Natural. Artigo 2.º. 48 Idem, ibidem. 49 Em “Educação Patrimonial: guia para professores, educadores e monitores de museus e tempos livres”,
p. 14. 50 Em “Um instrumento da Gestão de Património. (…)”, p. 18.
18
2. O reconhecimento dos bens patrimoniais e a importância da sua salvaguarda.
Começámos este capítulo com o tema da consciencialização quando à existência do
património e percebemos que o ser humano precisa de referências históricas para
conseguir evoluir, reinventar-se e integrar-se. Neste contexto, constatámos que
salvaguardar o passado é, antes de mais, enriquecer o futuro, pois as referências que nos
foram deixadas pelos nossos antepassados permitem-nos situar a nossa existência no
tempo presente.
Com a preservação do património, tornamo-nos pessoas integradas no meio a que
pertencemos, portadores de um sentido de segurança e de pertença. Ter noção do passado
faz com que o nosso conhecimento fique mais rico e podemos assim entender, ou
imaginar, por exemplo, como seria a vida, a mentalidade e o gosto do Homem nas
diferentes épocas da sua história, quais as dificuldades por que este passou e que saberes
e tradições foram transmitidos de geração em geração.
É possível que algumas pessoas não entendam estes valores identitários, tão
importantes para o ser humano. Acreditamos que a constante na azáfama em que vivemos
no nosso dia-a-dia seja a razão inerente a esse facto, pois faz-nos sentir o forte desejo de
abrigarmo-nos no passado, mas não nos permite contemplá-lo.
É certo que olhar o passado não nos transporta para acontecimentos exclusivamente
felizes. No domínio da realidade pessoal e interpessoal, todos temos certamente
recordação de situações menos boas da nossa história, seja porque não nos orgulhamos
de certos eventos, ou, porque os mesmos foram considerados como extremamente difíceis
de ultrapassar. Porém, se tais acontecimentos pudessem ser eliminados da nossa história,
o fio condutor de memória iria levar-nos a um presente completamente diferente daquele
que conhecemos.
Tal situação também se revela na realidade nacional. Há património que pode estar
em risco, ou até mesmo já nem existir, porque os indivíduos pretendiam não se recordar
de determinados eventos da história da sua nação. Como exemplo desta tentativa de
apagar o passado, temos as alterações de topónimos de ruas, ou de pontes, cuja anterior
designação estava ligada à ditadura salazarista. É do conhecimento geral da nação que a
atual Ponte 25 de Abril se denominava de Ponte Salazar, antes da Revolução de Abril.
Este exemplo relata uma situação de mudança, não de destruição permanente de
património, mas é um indicativo de tentativa de esquecimento do passado, por este ter
sido talvez demasiado penoso aos olhos dos indivíduos. Na matéria da danificação,
19
Virgolino Jorge51 diz-nos que são destruídos constantemente fragmentos da história da
humanidade, mas em muitos dos casos, estes elementos são eliminados sob critérios de
singularidade, pois a vida quotidiana das comunidades seria impossível e paralisante se
estivessem repletas de excessivas memórias, acumuladas ao longo de gerações.
O património não é só importante para o desenvolvimento do ser humano, enquanto
ser cultural, mas também é relevante para o crescimento económico das populações. Os
projetos de salvaguarda, de reanimação do património e de educação patrimonial podem
gerar novos postos de trabalho em diferentes setores, tais como o do restauro e o das
novas publicações de divulgação, que podem levar à abertura de novos museus, à guarda
e à manutenção de peças e às visitas orientadas. A proteção do património e a sua
conservação podem gerar também um maior desenvolvimento do turismo interno e
internacional, o crescimento das indústrias de hotelaria, de restauração e de transportes
coletivos e a valorização do artesanato e do comércio local.
Estas questões relacionadas com a vertente económica do património têm vindo a ser
estudadas por pessoas do meio e têm sido equacionadas, a fim de serem exploradas as
suas potencialidades quanto ao desenvolvimento local. A salvaguarda do património
passou a ser uma área que não só determina o conhecimento e a valorização dos valores
histórico-artísticos e culturais das populações, como também passou a assegurar o
desenvolvimento económico ligado ao turismo cultural52, aparecendo novas soluções que
gerem novas atividades.
O turismo cultural tem como principais alicerces os próprios museus e a visita de
diferentes públicos a todo o tipo de património construído. A prática do turismo cultural
induz a dinamização das instituições museológicas, hoteleiras, as transportadoras e a
gastronomia, criando empregos e desenvolvendo a economia local.
Tal como Margarida Calado, também nós acreditamos que “um conhecimento
razoável da arte nacional pode auxiliar o desenvolvimento do turismo (…) e contribuir
também para o desenvolvimento das economias locais”53. Cremos que a iniciativa que irá
ser apresentada nesta dissertação, ligada à tentativa de divulgação do edifício do Museu
Municipal do Montijo, a Casa Mora, poderá produzir um efeito de maior procura e de
estima por parte da comunidade, atraindo cada vez mais visitantes.
51 Em “Património: memória e identidade”, p. 799. 52 MENDES, J. – Estudos do Património: Museus e Educação, p. 16. 53 CALADO, M. – Porque ensinar História da Arte, p. 61.
20
3. A educação patrimonial e as principais iniciativas.
Para que os projetos de valorização e de salvaguarda do património aconteçam, é
necessário que sejam estudados primeiramente os valores históricos, artísticos e culturais
das diferentes regiões, edificações, objetos patrimoniais ou tradições, para que tais
conhecimentos possam ser transmitidos. O conhecimento da história e do património
locais é um importante ponto de partida para compreender e respeitar os restantes
patrimónios, pois todo aquele indivíduo que estima o seu legado poderá aprender mais
rapidamente a respeitar o dos outros. A educação patrimonial visa promover esse
reconhecimento e essa valorização dos bens patrimoniais, de modo a que as populações
fiquem cientes dos espaços que as rodeiam e sintam por eles afinidade.
Trabalhar a educação patrimonial é desenvolver a educação artística, visto que a arte
poderá obter a categoria de património histórico54. De geração em geração, o Homem foi
deixando sinais, apropriava-se dos lugares e materializava as suas alegrias, as suas dores,
as vitórias, as derrotas e as crenças. Estas obras de arte constituem parte do grande grupo
a que chamamos de património.
A educação artística, aliada à educação patrimonial, poderá fornecer ferramentas à
comunidade que lhe permitam olhar de forma mais atenta para aquilo que a rodeia no seu
quotidiano e acreditamos que essa estabilidade é necessária para o equilíbrio do ser
humano, como já tivemos oportunidade de constatar. Na sociedade contemporânea, onde
há diversas atrações ligadas diretamente ao consumismo e à tamanha variedade de
produtos interativos, torna-se pouco comum prestarmos atenção aos objetos imóveis, ou
às edificações com que nos cruzamos.
Tendo como exemplo a malha urbana das cidades, constatamos que são espaços com
uma grande concentração de património histórico-artístico, porém, as informações visuais
– tais como os anúncios, as montras das lojas, o grande número de transportes públicos e
turísticos, entre outros –, aparentam estar em permanente competição pela nossa atenção,
e torna-se difícil focarmo-nos unicamente nos elementos patrimoniais, apreciando-os.
Devido à intensidade com que se vive no ambiente citadino, muitas vezes o nosso
entendimento desse espaço é simplesmente confuso, extremamente carregado de
informação. A educação visual ajuda os indivíduos a organizarem tudo aquilo que é visto,
54 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na Educação Patrimonial. Projeto editorial sobre
património histórico-artístico de Lisboa, p. 6.
21
de modo a que o mundo da arte e do património possa desenvolver-se em conjunto com
o grande mundo da audiência, do espetáculo, do consumismo e do excesso.
Tal como nos diz o escultor Rui Chafes, “vivemos numa época sem estética. Não
temos falta de imagens, bem pelo contrário, sofremos a excessiva e invasora proliferação
de imagens.”55 Para Chafes, a quantidade insana de imagens que invadem o nosso
quotidiano e competem pela nossa atenção deixa-nos completamente intoxicados com
uma estética sedutora, que pode ser encontrada na televisão, na publicidade, nos posters
e nos videoclips.
Segundo o autor, somos constantemente assaltados pela vulgaridade, pelos clichés e
pelo vazio, a partir do qual nada se cria. A arte exprime a necessidade do Homem se sentir
em equilíbrio e em harmonia consigo mesmo, e, portanto, é “essencial continuar a
transportar a chama, a preservá-la, a salvá-la cuidadosamente, a passá-la a alguém que
há-de vir, a mantê-la acesa.”56
Para apreciar o património, também é necessário que o indivíduo tenha vontade de o
fazer, que tenha curiosidade de saber mais, dependendo daquilo que consegue
percecionar. Nos dias que correm, qualquer lugar designado de polo turístico tem como
principal característica a sucessiva enchente de pessoas, o que por si só já dificulta a
concentração na apreciação do património. Cada indivíduo costuma trazer consigo uma
máquina fotográfica, ou um tablet, com o objetivo de registar o momento e o espaço.
Uma vez feito esse registo, o comum é seguir-se imediatamente em frente, em busca de
outro momento e de outro espaço merecedores de serem captados57. Desta forma,
experienciar o património, hoje em dia, tornou-se uma sucessão de eventos momentâneos,
onde os indivíduos não chegam sequer a ter tempo para usufruir do passado, muito menos
para o entender ou apreciar.
A sociedade em que vivemos carateriza-se por ser fragmentada. Aqui, a fragmentação
não se estende apenas às coordenadas da existência humana – espaço e tempo –, mas
também atinge o próprio núcleo das vivências, e, portanto, as identidades. Vivemos
tempos de inquietude, de insatisfação, de aceleração e de incompletude, inerentes ao
consumismo como sistema global58.
55 CHAFES, R. – Entre o Céu e a Terra, p. 57. 56 Idem, ibidem, p. 47. 57 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na Educação Patrimonial. (…), p. 10. 58 JORGE, Vítor – Património, neurose contemporânea? (…), p. 15.
22
Para além dos ritmos quotidianos e sazonais, existe também um «artefacto» que
impede o acesso do indivíduo à sua individualidade/identidade sem que este seja
interrompido: o telemóvel. Este aparelho fratura permanentemente a continuação de
qualquer atividade. O silêncio e o recolhimento, necessários ao autoconhecimento do ser
humano, tornou-se escasso, e leva consigo o tempo necessário para entender o «espírito
dos lugares», de que nos fala Guilherme d’ Oliveira Martins.
O indivíduo vive em constante fracturação, com necessidade de se preencher através
dos outros, não percebendo que assim contribui para a intensificação do seu próprio mal-
estar. Temos tendência em comunicar com os outros de modo a adiar a comunicação
connosco próprios, tentando disfarçar a sensação de vazio. Este fator contribui para que
o ser humano corra de experiência em experiência, de espetáculo em espetáculo, e até, de
pessoa em pessoa, num movimento de fluidez tal que se esquece da sua identidade e de
refletir sobre o passado. É esta a prática que deriva dos media e dos ritmos artificiais que
se impõem na vida contemporânea quotidiana. Obtida uma satisfação, procuramos de
imediato outra, e este paradigma tem consequentemente impactos na maneira como
olhamos o património, que muitas das vezes fica esquecido.
Trata-se da prática do «vale tudo», e a maioria das pessoas desconhece ser vítima
deste sistema, pois apresenta-se sem tempo nem recuo crítico para poder pensar sobre o
assunto. O trabalho da educação patrimonial visa levar crianças e adultos a um processo
de conhecimento, de apropriação e de valorização da sua herança cultural, capacitando-
os para o melhor usufruto dos seus bens, e abrindo-lhes as consciências, para que os
testemunhos do passado sejam transmitidos às gerações seguintes59.
Hoje em dia, se não houver um esforço para que haja materiais, como os livros, os
documentários, ou os guias, eficazes na transmissão de conhecimentos e na estimulação
do interesse, corre-se o risco de que cada vez mais sejam apagadas memórias da história
da humanidade, apesar de algumas delas não nos trazerem orgulho. A educação artística
e patrimonial tem como objetivo levar essa informação de uma forma clara e acessível a
todos os tipos de público, para que se sintam sensibilizados pela salvaguarda dos valores
patrimoniais. É um instrumento de alfabetização cultural que ajuda o indivíduo a fazer
uma leitura mais eficaz do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo
sociocultural e histórico-temporal desse lugar a que pertence.
59 PIRES, J. – Produção Audiovisual. (…), p. 45.
23
Segundo Ana Duarte60, a educação patrimonial é aprender a saber ver, ou seja, a
contemplar e percecionar. Faz, sobretudo, parte do processo de apreciação estética e essa
adquire-se e desenvolve-se consoante critérios base que educam o olhar. A autora diz-nos
que é através da procura, da pesquisa e da vontade de descoberta que se criam raízes cada
vez mais fortes com o património.
A educação patrimonial, parceira incondicional da educação artística, é realmente
necessária e não deve sustentar-se apenas na investigação e na consciencialização, mas
deve incluir também a criação61. Ao se interessar e investigar, o indivíduo conhecerá o
património estudado, preservando-o, mas é ao criar estratégias de divulgação dessa
herança que surge a íntima relação com ela, convocando também a comunidade
envolvente.
Exemplo disso é a investigação sobre determinados edifícios históricos e a criação de
atividades em torno deles, para que sejam dados a conhecer ao público e sejam
consequentemente mais valorizados. Esta dissertação pretende ser modelo dessa prática,
pois ao estudarmos a história e as características formais do edifício da Casa Mora, com
o propósito de criarmos um livro lúdico-pedagógico sobre a mesma, estabeleceram-se
laços com o património investigado.
A metodologia pedagógica da educação patrimonial pode ser aplicada a qualquer
evidência material ou imaterial. Pode ser dirigida a um objeto; a um conjunto de bens; a
um monumento; a um centro histórico, de caráter urbano ou rural; a todo um lugar
histórico ou arqueológico; e a uma paisagem natural, área protegida ou a um parque. As
manifestações populares, como os rituais; o folclore; os processos de produção industrial
ou artesanal; as tecnologias; os saberes populares; e qualquer outra expressão resultante
da relação entre os indivíduos e o seu meio, também podem ser alvo de programas
pedagógicos de salvaguarda.
A salvaguarda do património pode ser composta por atividades simples, suscetíveis
de serem realizadas em ambiente educacional, tais como o registo fotográfico,
audiovisual ou documental. Pais da Silva realça esta questão dizendo que “a primeira
linha de defesa ativa do património histórico-artístico situa-se nos bancos das escolas de
todos os níveis, do escalão pré-primário até ao superior. (…) [A] iniciação da juventude
60 Em “Educação Patrimonial: (…)”, p. 67. 61 PIRES, J. – Educação patrimonial e produção audiovisual, p. 253.
24
no conhecimento dos valores histórico-artísticos do país constitui também auxílio
indispensável no sistema geral de proteção e revitalização dos seus valores: (…).”62
Depois de uma breve investigação sobre métodos de educação patrimonial, podemos
referir algumas das estratégias pedagógicas, para todas as idades, que estabelecem laços
com o passado. Ninguém defende o que não conhece, ou que pretende que seja
desconhecido63, e é estudando, inventariando e conhecendo que aprendemos a interpretar
e a estimar o que vemos no nosso dia-a-dia. Já o pedagogo Joaquim de Vasconcelos
defendeu esta ideia, tendo indicado o ensino da História da Arte como ferramenta
principal da educação patrimonial, na sua publicação “O Ensino da História da Arte nos
Lyceus e as Excursões Escolares”, de 1908.
Se imaginarmos que todas as crianças e jovens, principalmente aqueles que vivem
sem referências históricas, pudessem ter acesso ao estudo – mesmo que pouco
aprofundado –, da nossa História da Arte, fazendo-se acompanhar por breves visitas de
estudo aos locais histórico-artísticos mais próximos das suas escolas, rapidamente
verificávamos que esta prática iria ser uma mais-valia para que esses alunos adquirissem
consciência sobre o que os rodeia, tornando-se improvável a existência de desinteresse,
ou de desconsideração e vandalismo futuros por parte desses indivíduos. Esta disciplina,
se estivesse integrada no programa curricular, poderia ajudar as crianças e os jovens, não
só a entenderem a história global da nação, mas também a olharem o património artístico
com uma visão mais generalizada. Assim, os espaços e as obras consideradas de menores
estariam incluídas nos programas de valorização e seria justificada igualmente a sua
preservação64.
Observando uma fração da situação atual do nosso país, constatamos que há
iniciativas que mantêm vivas as memórias materiais e incorpóreas da nação. São projetos
que se destacam por contribuírem para o desenvolvimento de comunidades mais
conscientes quanto à importância da preservação do património. Temos como exemplo o
conceito de história viva, ferramenta lúdico-didática para divulgação do património em
contexto escolar, museológico, autárquico e turístico, destacando-se por dar vida a certos
acontecimentos do passado através de recriações dos mesmos65.
62 SILVA, J. Pais da – Pretérito Presente. (…), pp. 38-39. 63 SERRÃO, V. - Portugal em ruínas. (…), p. 31. 64 SERRÃO, V. – A História de Arte em Portugal e a consciência do estudo e salvaguarda do património
histórico-cultural, p. 4. 65 COELHO, R. – História Viva: a recriação histórica como veículo de divulgação do património histórico
e artístico nacional. (1986-2009). Conceitos e práticas, p. 5.
25
Olhando atentamente para esta estratégia, podemos aperceber-nos de que contribuem
para aproximar as comunidades à memória de determinada época e ao passado de
determinado lugar, recorrendo à expressão dramática, sem, no entanto, se tratar de teatro.
Se estivermos atentos ao mundo da televisão, podemos observar que em alguns casos
recorre-se a uma prática idêntica, sendo recriados determinados momentos da história,
com base em investigações minuciosas, tornando-a mais acessível e compreensível aos
olhos do espetador.
Segundo Vítor Jorge66, a recriação viva de cenas do passado, com trajes e ambientes
de época, em que as pessoas imitam o que julgam ter sido a vida em determinados tempos,
tem como objetivo ser uma atividade lúdico-didática. Este tipo de encenações pode ser
feita em cenários formais de teatro, ou ao ar livre, identificando-se desta vez com a
modalidade da performance. Pode ainda desenrolar-se no contexto de sítios ou de
percursos arqueológicos, numa tentativa de animar o local, partindo do princípio que a
simples visita, embora acompanhada por um guia, não seja suficiente para transmitir à
comunidade o que se pensa ter acontecido ali.
Esta é uma prática que se tornou muito apelativa ultimamente, visto que as localidades
procuram atrair cada vez mais visitantes. Criam-se constantemente novas comemorações
e tradições, eventos que colocam as ditas terras ou cidades no mapa turístico, tornando-
as produto de consumo.
Há aqui uma conotação de festa, um dos fenómenos mais antigos da humanidade,
ligados aos rituais de festejo de determinadas marcas histórico-temporais67. Trata-se de
um exemplo de como viver o património histórico e artístico, e destaca-se através dos
mais recentes eventos autárquicos anuais, como as feiras de época, acompanhadas de
atividades participativas.
Muitos de nós acreditamos que este tipo de eventos não passam de formas superficiais
de comemorar e relembrar determinados acontecimentos do passado de determinada
região, e também há quem os veja apenas como simples veículos para o desenvolvimento
económico local, no entanto, é possível que estas feiras de época suscitem o interesse de
quem nelas participa em descobrir a história, a sociedade e as artes do passado.
Cremos que esta atitude referida é «meio caminho andado» para a consciencialização
da salvaguarda do património e para a criação de laços com a história. No fundo, é
66 Em “Encenações do passado: (…)”, p. 63. 67 Idem, ibidem.
26
também isto que a educação patrimonial pretende: fazer nascer desde cedo, e de forma
genuína, o desejo de investigação e consideração pelo património.
As encenações do passado permitem a elaboração de memórias, de narrativas e de
passatempos onde a comunidade é convidada a participar. Porém, se estas recriações se
basearem na deturpação dos factos, envolvem sempre aspetos de improvisação, de
imperfeição, de tentativa-erro, que passam bem em ambiente lúdico, mas seriam
intoleráveis cientificamente68. Ana Duarte69 diz-nos que a história não pode ser, em
momento algum, ficcionada ou alterada.
Outra prática que se desenvolveu no nosso país, e já com raízes bem fundas, é a
criação de roteiros temáticos que visam propor ao público um percurso específico, onde
se enquadrem os principais monumentos pertencentes a cada temática. São demasiados
os exemplos deste tipo de atividade de norte a sul do nosso país, e alguns deles estão
ligados a associações de defesa do património, tal como a “Spira”.
A “Spira” foi fundada por Catarina Valença Gonçalves, no dia Mundial da Criança
do ano de 2007, na sequência da conceção da primeira rota de turismo cultural em
Portugal, a “Rota do Fresco”, de 1998. Com sede no Alentejo, em Vila Nova de Baronia,
Alvito, a “Spira” tornou-se especialista na criação, execução e produção de projetos de
revitalização patrimonial70.
Este projeto conta com diversos parceiros e com alguns roteiros, entre os quais se
inserem a própria “Rota do Fresco” e a “Rota Tons de Mármore”. Focando-nos apenas
nestes dois roteiros, podemos perceber que o primeiro propõe a descoberta das pinturas
murais, relacionadas com o desenvolvimento do território, e agrega vários municípios:
Alvito; Cuba; Vidigueira; Viana do Alentejo; Portel; Évora; Borba; Vila Viçosa;
Alandroal; Serpa; Moura; Castro Verde; Aljustrel; e Beja. Relacionada com esta rota,
estão ainda ateliers de pintura a fresco, onde os participantes poderão experienciar e
desvendar os segredos e técnicas das obras de arte que tiveram oportunidade de
observar71.
Já a “Rota Tons de Mármore”, como o nome indica, está ligada diretamente ao mundo
do mármore alentejano, nas localidades de Alandroal; Borba; Estremoz; Sousel; e Vila
Viçosa. O objetivo é estabelecer um percurso onde irão ser visitadas algumas pedreiras;
68 Idem, ibidem, p. 64. 69 Em “Educação Patrimonial: (…)”, p. 62. 70 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.spira.pt/nos/identidade/1>. 71 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.rotadofresco.com/>.
27
galerias de exploração subterrânea; fábricas, equipamentos; e software, onde serão
desvendados aos participantes os processos da transposição desta matéria-prima para a
cantaria, para os trabalhos de escultura e para a dimensão artística dos monumentos da
região72.
Outro exemplo destes roteiros temáticos é a “Rota do Românico”, realizada em terras
dos vales do Sousa, do Douro e do Tâmega, e concebido de modo a sensibilizar os
cidadãos para a apreciação e salvaguarda do património histórico, artístico, cultural e
paisagístico locais, através de elementos de integração, educação e formação. Entre
atividades lúdicas e pedagógicas em contexto educativo, cultural e social, este projeto
reforça o interesse da comunidade pelo seu património de origem românica, promovendo
o orgulho pelo passado e contribuindo para o desenvolvimento de novos saberes e
competências.
Em cada ano letivo, a “Rota do Românico” lança um programa pedagógico que visa
complementar o currículo escolar. Este projeto estabelece ligações entre os alunos e o
património local, dando-lhes a conhecer o estilo românico, a sociedade e a cultura da
época medieval no Tâmega e Sousa, passando pela abordagem à paisagem natural e aos
saberes tradicionais.
É através do contacto direto com os monumentos que os alunos poderão refletir sobre
a sua história e a sua arte. A programação dos Serviços Educativos da “Rota do
Românico” integra um conjunto de atividades para os diferentes níveis de ensino, desde
o pré-escolar ao universitário, e conta ainda com jogos pedagógicos que poderão ser
dinamizados em contexto de sala de aula ou durante a visita às edificações.
No sítio oficial desta iniciativa na internet73, para além de estarem disponibilizadas a
maior parte das informações sobre a região, podemos encontrar também documentação
variada e dividida por temas e em diferentes formatos, como artigos; monografias;
revistas; vídeos; documentários; músicas; e sons relacionados com os locais e com a
época. Encontramos ainda um glossário de conceitos, uma bibliografia auxiliar e uma
plataforma de visitas virtuais às construções pertencentes ao percurso.
A pensar nos mais pequenos, a “Rota do Românico” criou um “Canal Juvenil”74,
destinado à aquisição de conhecimentos sobre a Idade Média de uma forma global, apesar
da maior parte da informação ser referente ao caso específico do norte do país. Este canal
72 Mais informações disponíveis em: <URL: http://www.rotatonsdemarmore.com/>. 73 Disponível em: <URL: http://www.rotadoromanico.com/>. 74 Disponível em: <URL: http://www.rotadoromanico.com/canaljuvenil>.
28
contém ilustrações, fotografias, vídeos e visitas virtuais aos monumentos pertencentes ao
percurso, bem como um glossário de conceitos e jogos, que fazem com que a
aprendizagem da história se torne em algo bastante agradável aos olhos dos mais
pequenos, estimulando o interesse.
Concluímos este capítulo dizendo que é necessário colaborar e participar em
iniciativas de educação patrimonial para que nos sintamos seguros no nosso meio. É
extremamente importante que esses valores sejam transmitidos às gerações futuras e só
conseguiremos alcançar esse objetivo se começarmos por educar os nossos pequenos e
graúdos em ambiente familiar, para que todos, um dia, possamos olhar para as nossas
heranças de igual forma: com reconhecimento, orgulho e estima.
Contudo, tem que haver uma certa compreensão e flexibilidade em aceitar que há
passados que têm que ceder o seu lugar ao presente, de modo a que este seja construído
em conformidade com as necessidades e interesses da população.
29
II. O EDIFÍCIO DO MUSEU MUNICIPAL DO MONTIJO E OS SEUS ANTIGOS
PROPRIETÁRIOS. UM PATRIMÓNIO A PRESERVAR.
1. As motivações que levaram à escolha deste edifício.
No Montijo, existem construções de outros tempos que nos permitem criar uma
ligação com a memória coletiva do povo e com os seus costumes e os seus gostos, nas
diferentes épocas. Ao estudarmos o núcleo da cidade, conseguimos estabelecer um
paralelismo entre a história da povoação e as edificações que foram surgindo com o passar
dos séculos. Essa prática permite-nos entender como era a vida nas diversas etapas
cronológicas e que dificuldades tiveram de ser ultrapassadas, permitindo-nos criar um fio
condutor de memória que nos ajuda a compreender todo o desenvolvimento ocorrido na
cidade, desde os tempos mais remotos.
A história reflete-se nas tradições, nos costumes e nos saberes populares que
chegaram até ao nosso presente, nas caraterísticas arquitetónicas e decorativas dos
edifícios e até na individualidade do traçado urbano. Revela-se perante os documentos
encontrados, os estudos elaborados e o olhar contemplativo de quem se dedica a
estabelecer laços com o património montijense. Contudo, a «essência» do lugar nem
sempre chega a todos, por isso a educação patrimonial tem um papel fulcral na abertura
de novas consciências e na salvaguarda do património, estabelecendo um sentido de
pertença nos indivíduos que ainda não conhecem a identidade do meio em que se inserem.
Na cidade do Montijo, encontramos história em cada recanto e existem estudos que
recaem sobre alguns edifícios específicos, porém, nem todos têm sido base para uma
pesquisa aprofundada, devido à falta de documentação a seu respeito. Sem uma
investigação fundamentada, não é possível criar uma relação com esse património,
deixando de haver consciencialização quanto à sua salvaguarda.
O imóvel a que nos propusemos a estudar para esta dissertação é conhecido entre as
gentes da terra por Casa Mora, uma antiga habitação oitocentista, e é exemplo deste
paradigma. A carência informativa em relação ao passado histórico do edifício não
permite a ocorrência de estudos aprofundados, nem o surgimento de publicações
centralizadas no assunto, sentindo-se um certo distanciamento e uma ligeira falta de
procura em conhecer o espaço e em estabelecer ligações afetivas com ele. Acreditamos
30
que este trabalho de investigação e a proposta de criação de um livro educativo sobre esta
casa possa torná-la mais próxima da comunidade.
2. As diversas estratégias de valorização do edifício e a alternativa do livro
informativo
Em termos de Serviço Educativo municipal, existe uma série de atividades que
abrangem todo o património da cidade do Montijo, contudo, de uma maneira geral, há
mais incidência nas visitas orientadas pelos edifícios funcionais da localidade, tais como
os moinhos de vento e de maré. Existe também a falta de recursos humanos e de
investimento que permitam o desenvolvimento e execução de atividades mais elaboradas
e direcionadas para diversos tipos de património e de arte.
No decorrer da criação desta dissertação, foi elaborada uma breve investigação sobre
as iniciativas criadas, ou em processo de criação, pela Câmara Municipal do Montijo, em
torno do património e da história montijenses, onde se destacaram, de entre outros
exemplos, os roteiros temáticos. Dentro desta área, podemos encontrar uma pequena
publicação intitulada de “Roteiro Casa Mora”, sem data, onde são descritos os diferentes
compartimentos do imóvel, as suas antigas funções e alguns dos aspetos da decoração
interna. Porém, esta publicação não parece ser suficiente para criar empatia por parte da
comunidade.
Para que tal aconteça, é necessário conhecer a história da Casa Mora, enquadrá-la e
imaginá-la na sua época, saber quem foram os seus proprietários, quais os acontecimentos
marcantes passados no seu interior, e estabelecer o fio condutor entre o passado e o
presente da construção, pois não se protege, nem sequer se tem interesse, pelo que não se
conhece. A procura por todo este conhecimento deve ter início na chamada de atenção
para o imóvel e existem diferentes formas de o conseguir.
Uma das alternativas de valorizar o imóvel passa pelo seu restauro e
reaproveitamento, dando-lhe funções públicas que façam com que a população tenha que
interagir com o lugar. Fala-se, por exemplo, da implementação de um Museu Municipal
no local, facto que a Autarquia já concretizou. Todavia, a Casa Mora apresenta condições
muito precárias no que toca à receção de um museu, principalmente nos pisos superiores.
Não existem condições para albergar os equipamentos de controlo de temperatura, de
humidade, de luminosidade ou de segurança. Os suportes expositivos iriam interferir com
31
a leitura e com a «essência» da casa e a sua acústica é constantemente afetada pela
sonoridade da via pública. A luz natural é demasiado forte, especialmente durante o
Verão, obrigando os responsáveis a fecharem as portadas interiores para preservar o
imóvel, evitando o sobreaquecimento das salas.
Visto que o recheio original da habitação já se perdeu, uma outra ideia exequível seria
o preenchimento da casa com peças de mobiliário adequado à época da sua construção,
de maneira a que esta não perdesse autenticidade, porém, cremos que o conceito de Casa-
museu, apesar de interessante, não se enquadra na ideia de Museu Municipal, pois este
tem como objetivo a exposição e valorização do património do concelho onde se insere.
Se a origem das peças a colocar na Casa Mora fosse alheia ao concelho do Montijo, as
informações concretas sobre o passado do lugar perder-se-iam, havendo incidência
apenas na história do design e na vivência habitacional no século XIX.
Assim sendo, e tendo em conta as alternativas enumeradas e as dificuldades referentes
à falta de recursos humanos, parece-nos realmente sensato apostar na criação de um
projeto educativo orientado para o livro pedagógico e informativo. Acreditamos que o
caráter independente de um livro facilitaria os serviços em vários aspetos. O livro sempre
foi exímio na partilha de conhecimento entre indivíduos, na interação interpessoal e na
aprendizagem mútua, e não necessita obrigatoriamente da presença de responsáveis por
parte dos serviços camarários para poder ser acedido e trabalhado.
Os exemplares poderiam ser distribuídos pelas escolas, como complemento das
matérias dadas, ou como atividade extracurricular, ou ser editado e adquirido no Posto de
Turismo ou até nas livrarias, de modo a que possa ser usufruído por todos os que o
desejarem. Para além de garantir momentos lúdico-didáticos, já não tão comuns nos dias
de hoje, o livro poderá aproximar a população, e em especial o público-alvo escolhido, à
Casa Mora, estando perante ela, ou encontrando-se no conforto das suas próprias
habitações. Contudo, iremos debruçar-nos a fundo sobre esta proposta apenas no capítulo
seguinte.
3. O passado e o presente da Casa Mora. De habitação oitocentista a Museu
Municipal do Montijo.
Ao percorremos as ruas da cidade do Montijo, encontramos alguns edifícios
habitacionais que nos conduzem para uma época de grande desenvolvimento local,
32
devido ao crescimento industrial e económico da região. Este facto acabou por se refletir
na evolução significativa da malha urbana, em grande parte, impulsionada por uma nova
classe social, composta por proprietários rurais e industriais, e pelas suas habitações.
De uma maneira geral, os imóveis habitacionais dos finais do século XIX que hoje
podemos contemplar, retratam o poderio dos seus primeiros proprietários, tanto ao nível
económico como social, apresentando fachadas com linguagens decorativas que traduzem
um certo gosto eclético, muito comum no Portugal oitocentista. Foi dentro deste contexto
do passado histórico que se ergueu, no centro urbano do Montijo, uma das construções
de maior importância patrimonial da região, a Casa Mora.
Datado de 1875, e passados cerca de 110 anos após o término da sua construção, o
edifício passou definitivamente para a posse da Autarquia e procedeu-se de imediato ao
seu restauro, a cargo da Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra75.
Em conjunto com essa intervenção, adequaram-se os seus compartimentos internos às
funções que o imóvel iria assumir: o alojamento da Biblioteca Municipal Manuel Giraldes
da Silva e a respetiva equipa técnica. Porém, é desde 1993 que a Casa Mora apresenta-se
como sede dos núcleos museológicos da região, devido à deslocação da Biblioteca para a
antiga Casa dos Magistrados e à necessidade de implementar na cidade um Museu
Municipal.
Na altura, estava exposto no edifício um número considerável de peças, onde uma das
coleções era composta por objetos pessoais do músico e compositor Jorge Peixinho
(1940-1995), natural do Montijo, mas as vicissitudes que os anos seguintes trouxeram,
como por exemplo, alterações de posse autárquica e mudanças na estrutura das equipas
de administração, levaram a que a gestão e a continuidade do Museu tivessem de ser
interrompidas, ficando a maior parte das peças em depósito. Agora, a Casa Mora alberga
apenas, no seu piso térreo, adaptado para o efeito, algumas exposições temáticas e
temporárias, assim como as instalações do Posto de Turismo.
Na entrada principal do edifício, podemos encontrar algumas peças de natureza
histórica, arqueológica e ornamental e, no piso superior, existem obras de arte decorativa
do âmbito religioso, bem como mobiliário com diversas origens. Estas peças e tantos
outros artefactos arqueológicos que se encontram em depósito na mansarda da casa, são
exemplos do seu atual recheio. Já no jardim, para além de estarem expostas peças com
algum interesse histórico, podemos ainda observar os elementos naturais e os de
75 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 414.
33
abastecimento e/ou de decoração pertencentes à época da primeira ocupação do edifício.
Este jardim, antigamente privado, apenas para usufruto dos habitantes da casa, está agora
adaptado para acolher diversos tipos de atividades de âmbito cultural e/ou de lazer.
É este o presente histórico da propriedade que nos propomos a estudar, contudo, no
seu passado e durante aproximadamente um século, a sua única função baseou-se na
instalação de uma família de grande influência económica, social e política na região, os
Tavares Mora. Como esta dissertação tem o objetivo de apresentar um livro baseado neste
património em particular, é necessário fazer alusão ao espaço e integrá-lo devidamente
na sua época. Para tal acontecer, acreditamos que seja necessária esta introdução histórica
que se segue, de modo a criar um fio condutor entre a memória coletiva da localidade e a
contextualização da construção e do aspeto do edifício, envolvendo-o por completo no
lugar e na época em que foi construído. Cremos que é importante estabelecer uma certa
familiarização entre os leitores desta investigação e o património alvo de estudo, assim,
ao descrevê-lo e contextualizá-lo nas páginas seguintes, é possível criar um contacto
direto com os conteúdos que irão ser trabalhados no livro educativo. Por último, visto que
não existem publicações que abordem minuciosamente o edifício da Casa Mora, julgamos
que complementar esta dissertação com a investigação elaborada em torno do imóvel irá
contribuir para enriquecer a bibliografia existente sobre o mesmo.
Posto isto, iremos deslocar-nos até ao Montijo do século XIX para conhecer de forma
generalizada o lugar e os aspetos mais importantes da terra onde se ergueu a Casa Mora.
Iremos começar por perceber como seria a malha urbana da localidade e destacaremos as
principais caraterísticas do ambiente local, durante a segunda metade do século
oitocentista. É também proveitoso sabermos quais os aspetos arquitetónicos da época, por
isso abordaremos as principais tendências construtivas e decorativas no tempo em que a
Casa Mora foi construída, para conseguirmos compreender e enquadrar o aspeto geral do
edifício.
Não seria favorável destacar este património sem investigar os impulsionadores da
obra, por isso, iremos colocar em relevo a personalidade que fez erguer este imóvel, de
seu nome Domingos Tavares. Natural da localidade e proprietário de imensas herdades
que se estendiam até Alcácer do Sal, Tavares teve também uma forte ligação à política
local, assumindo dois cargos autárquicos de extrema responsabilidade – o de Vereador e,
posteriormente, o de Presidente da Câmara Municipal – durante mais de vinte anos.
Neste subcapítulo, para além de salientarmos alguns episódios da vida do homem que
mandou construir a Casa Mora e que muito honrou a sua terra, iremos contemplar a sua
34
antiga residência pessoal, convertida na atual sede do Museu Municipal do Montijo. Para
tal, analisaremos algumas das suas caraterísticas arquitetónicas e decorativas, e
descreveremos os seus compartimentos internos em termos de organização do espaço,
aludindo ao quotidiano habitacional dos finais do século XIX.
3.1. O Montijo do século XIX.
Em termos temporais, a Casa Mora ergueu-se numa época de grande desenvolvimento
local e regional, completando o enquadramento urbanístico já existente no núcleo do
Montijo. Porém, não é de longa data que a cidade se designa desta maneira, pois foi
apenas em 1930 que obteve este topónimo, homenageando uma antiga povoação
ribeirinha, localizada onde hoje se encontra a Base Aérea N.º 6, da Força Aérea
Portuguesa. No século XIX, o Montijo era ainda uma vila em expansão à beira do rio Tejo
e possuía a sua antiga denominação, conforme a nomenclatura oficial da época: “Aldea
Gallega do Ribatejo”76.
Hoje em dia, torna-se difícil imaginar como seria antes a malha urbana da localidade
onde se implantou a Casa Mora, pois ao longo do tempo, esta tornou-se cada vez mais
complexa, impulsionada pelas exigências das condições agrícolas, da criação de suínos,
do desenvolvimento industrial e do crescimento demográfico. As grandes atividades que
se praticaram na vila, tais como a agricultura, a pesca, a salicultura, a moagem e a
suinicultura, tiveram um papel de grande importância e representaram uma mais-valia a
nível económico e social, quer para a população em si, quer para toda a zona circundante,
por isso mesmo, a organização da vila estava determinada por espaços destinados a estes
labores.
76 PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 107. Conta-se que esta designação estava ligada à lenda
de Alda, uma locanda galega que se instalou na vila e desenvolveu o seu negócio junto ao cais. Diz-se que,
desde então, a vila ficou conhecida por “Aldagallega”, ou “Alde a gallega”. No entanto, o referido topónimo
pode significar “fraca fertilização” ou “mau cultivo das terras”, pois os antigos povos chamavam de
“gallego” a tudo o que tinha pouca qualidade ou ao que estivesse mal tratado. O complemento “do Ribatejo”
identificava o concelho a que a localidade pertencia. Sobre o assunto, veja-se: Pe. CARDOSO, L. –
Diccionario Geografico ou Noticia Historica (…), p. 207; LEAL, A. – Portugal Antigo e Moderno (…),
vol. I, p. 85; RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra: Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-
Tejo, pp. 79-93; e TAPADINHAS, J. C. – Aldeia Galega no tempo dos Descobrimentos, pp. 31-34 e pp.
49-62.
35
No século XIX, o traçado urbano e o sistema de organização das edificações estavam
moldados sobretudo por herdades e por estruturas comerciais adjacentes, como por
exemplo, as adegas, os lagares e o mercado. Nas propriedades, dava-se a grande produção
de vinhas e de produtos hortícolas, como a batata e as leguminosas; nos moinhos,
testemunhava-se a moagem do cereal; e, nas salinas, realizava-se a extração do sal. Todos
estes produtos eram bastante comercializados na região, daí a extrema importância que
as áreas laborais destinadas à sua produção tiveram na formação do rendilhado urbano da
vila77.
Devido à sua situação geográfica e a estas e outras atividades económicas, Aldeia
Galega sempre foi uma localidade privilegiada em termos de passagem de mercadores e,
consequentemente, de desenvolvimento demográfico. Grande parte dos produtos
mencionados era transportada em carroças até ao mercado, onde era adquirida por
negociantes vindos de Lisboa ou até mesmo de zonas mais distantes do país. Outra parte
da produção era carregada em faluas e levada até à capital, onde depois era distribuída
rapidamente.
Esta proximidade com o rio desde sempre proporcionou ao povo de Aldeia Galega do
Ribatejo, não só uma deslocação até Lisboa, ou até outras zonas ribeirinhas próximas, de
forma mais acessível, mas também contribuiu para que toda a economia em torno da pesca
se desenvolvesse. Esta forte relação entre a vila e o Tejo permitiu de igual modo a criação
de labores ligados à zona ribeirinha, como a apanha de ostra, realizada sobretudo por
mulheres, que perdurou apenas até meados dos anos 30 do passado século. Foram estas
atividades relacionadas com o rio que contribuíram para que, desde o século XVI, a vila
e a sua população se concentrassem aos poucos em torno dos limites terrenos.
Uma outra indústria bastante importante para a organização urbana da vila, e com
origens muito remotas, era a transformação da carne de porco, que passava pela criação,
engorda e chacina dos suínos, cujos registos apontam para um possível início de atividade
no século XVI78. No século XIX, o número de chacinarias no centro urbano era já
relativamente considerável, fazendo com que a população convivesse diariamente com as
mesmas e com o rasto que os animais deixavam79.
77 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: as primeiras décadas do século XX, p. 18. 78 Há referências da existência da “Rua dos Mata Porcos”, em 1588, destinada à chacina dos suínos. Em
CORREIA, F. – Toponímia do Concelho do Montijo. (…), p. 125. 79 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 18.
36
Mais tarde, e a par da inauguração de um troço de caminhos-de-ferro, que fazia a
ligação entre o Pinhal Novo e Aldeia Galega, o centro urbano da vila viu-se obrigado a
sofrer uma reestruturação devido às novas indústrias que se instalaram junto aos locais de
maior dinamismo ferroviário e ribeirinho, de modo a facilitar o transporte das matérias-
primas para diferentes polos comerciais da região. Falamos do surgimento de estruturas
de apoio à instalação dos trabalhadores, bem como às atividades corticeiras, dos fornos
de cal, de produção de tijolo, de telha, de “guano de peixe”80 e de óleos.
Posto isto, o desenho urbano mostrou-se instintivo e genuíno, apresentando-se através
da forma orgânica, ou seja, sem obedecer a esquematizações de qualquer tipo e
acompanhando o núcleo da vila já existente. Contudo, não só o traçado urbano se expôs
desta referida maneira, mas também as fachadas dos edifícios assumiram características
peculiares ao gosto da época e de cada proprietário em particular. No fundo, falamos de
um esquema comum a todo o espaço urbano português, apesar de este ter tido mais
destaque no litoral, onde é evidente o aproveitamento dos contornos das zonas
ribeirinhas81.
O conjunto da Casa Mora surgiu numa altura em que era comum as moradias fazerem-
se acompanhar por extensas propriedades, dando oportunidade de labor aos trabalhadores
da terra. Segundo Fernanda Pinho e Rogério Dias82, a Casa Mora estava outrora rodeada
por quintas, orientadas sobretudo para Norte. Com a edificação de novas estruturas e
habitações, esta e outras herdades e/ou quintas que se encontravam junto às imediações
das linhas férreas e no centro do núcleo urbano extinguiram-se, iniciando-se assim a
expansão urbana da vila83.
Note-se que o crescimento da localidade foi demasiado significativo e contínuo, por
isso, o seu anterior topónimo já não se ajustava ao conceito de modernidade, tendo sido
alterado em 1930. Apesar do atual nome ter origens ancestrais que remontam para o
passado histórico da região, a vila acabou por se ver liberta da imagem de ruralidade e
por poder abraçar a novidade e a expansão urbana e demográfica que as atividades
económicas proporcionaram84.
80 Designação que se dava ao adubo obtido através da redução a pó de peixe seco. Em PEREIRA, N. T. [et
al.] – Glossário, p. 100. 81 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 26. 82 Em visitas informais ao edifício. 83 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 19. 84 Idem, ibidem, p. 20.
37
3.2. Os detalhes do quotidiano montijense do século XIX.
Se recuássemos no tempo e visitássemos a Casa Mora do século XIX, verificávamos
que o ambiente envolvente, os sons, os cheiros e os costumes da localidade eram muito
diferentes dos da atualidade. Segundo Alberto Pimentel85, naquele tempo, a vila era ainda
pequena, mas já possuía ruas largas e planas, com aspeto alegre, claro e atraente, enquanto
José Rana86 nos diz que, em 1850, a vila apresentava um aspeto pouco edificante, sem
progressos desde o século XVIII, pavimentos deteriorados, ruas sujas e muito poucas
condições de higiene. Contudo, já existiam algumas escolas oficiais, tais como a Escola
Conde de Ferreira87, e já tinham surgido alguns jornais locais, como o “Jornal de
Aldegallega do Ribatejo”, de 1886, “A Comarca”, de 1888, e “O Aldegallense”, de 1895.
Junto ao Tejo, havia uma azáfama constante, pois os pescadores, os carregadores e os
descarregadores de mercadorias, animavam toda a zona do cais. Contudo, o rio não estava
somente ligado ao trabalho. Sempre que lhe fosse permitido, o povo de Aldeia Galega do
Ribatejo banhava-se junto à chamada Ponte dos Vapores88, destinada ao embarque e
desembarque de passageiros das travessias entre a vila e a capital.
A prosperidade oitocentista nem sempre foi contínua. Podemos indicar um período
em que foi registada uma forte recessão, pois o caminho-de-ferro que unia o Barreiro ao
sul do país, cuja construção se iniciou em 1855, deixou a vila desviada das rotas habituais
de passagem de mercadores e de visitantes. No entanto, e apesar da dificuldade que
passava, o povo praticava anualmente um número considerável de festas – tais como as
do Espírito Santo; as do Menino Jesus; as de S. João; e as de S. Pedro89 – e de círios à
Senhora da Atalaia, constando que, em 1607, já existiam cerca de vinte e três90.
85 Em “A Extremadura Portugueza”, p. 109. 86 Em “Cousas da Nossa Terra: (…)”, pp. 22-23. 87 O Conde Joaquim Ferreira dos Santos destinou parte do seu legado à construção de 120 escolas em
localidades que fossem cabeça de concelho em todo o país. Após a sua morte, a 24 de Março de 1866,
Aldeia Galega foi das primeiras localidades a dar utilização aos 1,200$000 réis que lhe pertenciam para
erguer uma escola. Em PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 110. Sobre o Conde de Ferreira,
consultar “Percursos de um Brasileiro do Porto. O Conde de Ferreira”, de Jorge Fernandes Alves. 88 Informação disponível em: <URL: http://ruki-luki.blogspot.pt/2012/12/aspectos-da-vida-em-aldegalega-
do_12.html>. 89 Em PIMENTEL, A. – A Extremadura Portugueza, p. 111; e em RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra:
Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-Tejo, pp. 24-26. 90 Sobre este tema, veja-se: PIMENTEL, A. – A Extremadura Portuguesa, pp. 114-118; Pe. CARDOSO, L.
– Diccionario Geografico ou Noticia Historica (…), pp. 210-211; RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra:
Breves Notícias da Villa de Aldeia Gallega do Riba-Tejo, pp. 49-59; e CALADO, M. e REGATÃO, J. –
Artes Plásticas no Montijo. Passado e Presente, pp. 54-57.
38
Era o tempo de se ouvir os sons das carroças que passavam, o martelar dos ferreiros
e as vozes do comércio que se ia instalando nas principais artérias de Aldeia Galega,
sendo um dos pregões mais aguardados, o do vendedor de água potável. Como não havia
luz elétrica, a vila estava sempre pouco iluminada, e a falta de esgotos, levava a que os
dejetos tivessem de ser recolhidos em carroças municipais91.
3.3 As manifestações arquitetónicas da viragem do século XIX: as semelhanças
entre a Casa Mora e as restantes construções regionais da época.
Ao contemplarmos a Casa Mora, percebemos que, em termos estilísticos, existe um
conjunto de caraterísticas que só podemos compreender quando as enquadramos na sua
época. O nosso passado histórico, e em particular as últimas décadas do século XIX,
caracterizaram-se pela ideia de “fim dos estilos”92, visto que, na altura, eram conjugados
vários modelos numa só construção, sempre retirados de referências arquitetónicas e
decorativas anteriores. Esta prática estava associada ao período dos revivalismos e
definia-se por gosto eclético, surgindo em Portugal, nomeadamente fora das grandes
cidades, mais tardiamente do que em relação à restante Europa, confirmando o efeito
retrógrado que as crises económico-sociais acarretaram.
A origem da escolha deste estilo peculiar acompanhou o sentimento de nostalgia que
contagiou o século XIX. Era usual, na altura, engrandecer-se o passado de forma mítica
e sobrevalorizada, o que despontou a reutilização de elementos arquitetónicos anteriores.
Era sob este fascínio de exaltação do passado que as fachadas se desenhavam com uma
carga simbólica bastante evidente, aludindo para diferentes momentos arquitetónicos da
história e conjugando diversas influências.
No caso particular do Montijo, a vontade de apostar no revivalismo nem sempre foi
devidamente controlada, sendo percetível a falta de suporte conceptual num só
historicismo em concreto. É fácil de notar que alguns elementos presentes nas fachadas
dos edifícios dos finais o século XIX têm origem clássica, gótica e até mesmo maneirista
ou barroca, e, quando conjugados, torna-se ligeiramente difícil aceder a uma leitura eficaz
dos alçados e dos interiores das construções.
91 Informação disponível em: <URL: http://ruki-luki.blogspot.pt/2012/12/aspectos-da-vida-em-aldegalega-
do_12.html>. 92 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 26.
39
Ao analisarmos uma fachada oitocentista, constatamos que esta não nos permite
enquadrar todo o seu conjunto num movimento estilístico em particular, pois há uma série
de evidências formais e morfológicas, cuja combinação não se inclui diretamente num
determinado momento da história da arquitetura. Justifica-se esta afirmação, fazendo
alusão à relevância que o gosto particular e os conhecimentos artísticos de cada
proprietário tinham na execução dos projetos, levando muitas vezes à extrema fusão de
elementos historicistas.
No fundo, existe também uma diferença temporal significativa entre o nascimento
europeu do fenómeno revivalista e o aparecimento dos primeiros edifícios ecléticos da
localidade93. Por esta razão, será mais sensato acrescentar a palavra “tardio”, quando o
tema for o Ecletismo, neste caso, presente no Montijo. Quanto à Casa Mora, percebemos
que as suas influências arquitetónicas remetem-nos de facto para esse Ecletismo tardio,
sobretudo, porque este despontou enquanto reflexo do desenvolvimento económico,
assumindo uma carga simbólica que transmitia a imagem de enriquecimento e poderio,
evidência que se confirma com base no requinte presente no imóvel. Há, no entanto, em
todo o conjunto, uma série de caraterísticas que são comuns ao enquadramento
arquitetónico eclético local.
Para além de algumas influências clássicas, como os arcos de volta perfeita, ou
góticas, como os arcos quebrados, um dos elementos decorativos de maior frequência era
a platibanda. Esta funcionava como uma moldura que ocultava parte do telhado,
prolongava a altura do imóvel e transmitia uma aparência palaciana e imponente. Podia
apresentar diversas tipologias, desde a alusão ao entablamento clássico até à recuperação
dos valores românicos, ou surgir sobre a forma de cercadura de balaustres ou de
rendilhado robusto94.
Em paralelo com esta prática, produzia-se faiança para decorar os extremos dos
edifícios, sendo os exemplos de maior destaque as formas naturais, ou o recurso a
balaustradas, fogaréus ou jarrões. Estes pequenos elementos decorativos eram utilizados
em larga escala nos edifícios da vila, mas a ideia de requinte e de grandeza completava-
se com a exploração das potencialidades decorativas e expressivas do ferro. Este material
era utilizado para efeitos de proteção das janelas e das sacadas e poderia apresentar
diversos motivos ornamentais, tornando as composições dos alçados mais elegantes.
93 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 33. 94 LOPES, I. – Aldeia Galega torna-se Montijo: (…), p. 27.
40
3.4. A burguesia endinheirada oitocentista.
Como o crescimento industrial da região foi gradual e dele surgiram as vantagens
económicas que as novas explorações acarretavam, a vila conheceu em maior número
uma nova classe social privilegiada e empenhada em levar por diante alguns dos negócios
anteriormente mencionados: a “burguesia comercial endinheirada”95. Estes proprietários
contribuíram para que se erguessem algumas moradias no núcleo da malha urbana com
fachadas que transpareciam o seu poder socioeconómico às gentes da época,
acompanhados, ou não, por estruturas de apoio às suas atividades comerciais.
De uma maneira geral, estes imóveis ergueram-se espontaneamente, sem que existisse
uma base rigorosa inerente, moldando-se no território de forma genuína, e apresentando-
se de acordo com a vontade e com o gosto pessoal dos intervenientes. Contudo, a falta de
informação documental não nos permite saber, por exemplo, quais as intenções dos
proprietários, tendo em conta o emprego de determinados elementos arquitetónicos e
decorativos nos seus edifícios, e muito menos nos indicam quem foram os artistas
encarregues a esses processos96.
Toda a dinâmica presente na arquitetura doméstica da localidade evidencia um
especial cuidado no tratamento das fachadas, visto serem estas as principais transmissoras
da imagem de bom gosto dos proprietários, por isso, teriam de ser requintadas e
imponentes. A Casa Mora, erguida segundo a alçada de Domingos Tavares, grande
proprietário rural da região, foi um dos exemplos deste paradigma97.
A designação com que este património montijense é conhecido regionalmente,
remete-nos para a época de enlace matrimonial entre a filha legítima do seu primeiro
proprietário, Maria Antónia Tavares, e um membro da família Mora98. A partir desse
momento, a casa passou a ser o local de residência de toda esta nova linhagem99, levando
até aos nossos dias a memória do sobrenome da família. Todavia, interessa-nos saber
quem foi o homem que impulsionou a construção do edifício.
95 FRANÇA, J. – A Arte em Portugal no Século XIX, p. 349. 96 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 93. 97 Exemplos de outras construções em Idem, ibidem. 98 Manuel Justiniano Mora, nascido em Abrantes, no dia 26 de Abril de 1845. Formou-se em 1871 na Escola
Médico-Cirúrgica de Lisboa e faleceu no dia 28 de Novembro de 1900, em Aldeia Galega do Ribatejo. Em
FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 412. 99 A casa foi habitada, já no século XX, por Álvaro Tavares Mora (1882-1962), personalidade ligada à
política e à advocacia. Em CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 133. Segundo os testemunhos locais, as
últimas residentes foram duas irmãs, extremamente devotas e solitárias, conhecidas por «irmãs Mora».
41
4. Domingos Tavares: um homem influente.
No dia 22 de Fevereiro de 1828, nasceu um menino em Aldeia Galega do Ribatejo,
filho do casal João Tavares de Basto e Maria do Carmo. Como era costume na época, o
batismo da criança foi celebrado semanas depois, a 16 de Março, na Igreja do Divino
Espírito Santo da vila. Tendo-lhe sido colocado o nome de Domingos Tavares, o pequeno
teve como madrinha a Nossa Senhora da Purificação e como padrinho o seu tio paterno
Frei Domingos Tavares Basto, representado por José Rodrigues, também natural de
Aldeia Galega100.
Após os seus 22 anos de idade, no dia 12 de Dezembro de 1850, Domingos Tavares
casou-se com Margarida Inácia dos Anjos, filha de Dionísio dos Anjos e de Maria
Angélica, também naturais e residentes da vila. A cerimónia foi celebrada na igreja da
terra e assistida por algumas pessoas ilustres da época101, conforme o registo do
casamento assinado pelo Prior José da Roza Figueira102, o que por si só denuncia o poder
social das famílias envolvidas na mesma. Como fruto desta união, nasceu Maria Antónia,
no dia 27 de Janeiro de 1854.
Em Janeiro de 1862, Domingos Tavares iniciou a sua vida política, tendo sido eleito
Vereador da Câmara de Aldeia Galega, durante o executivo de António Virgolino dos
Santos e Oliveira, ocupando este cargo apenas até ao último dia do ano seguinte. Quatro
anos mais tarde, voltou a exercer esta mesma função, já durante a presidência de
Francisco Duarte Laranja, tendo-se seguido a este último António da Silva Sustância, em
1868103.
Foi durante esta vereação, no dia 23 de Janeiro de 1868, que a população assistiu à
implementação definitiva da Comarca de Aldeia Galega, depois desta se ter deslocado
para a Vila da Moita104. Por volta de 1876, Tavares assume novamente uma função
autárquica, na presidência de Fernando dos Santos Calado, e permaneceu como Vereador
até ao final do ano seguinte. Por fim, aos 49 anos, atinge o cargo de Presidente da Câmara
100 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 6. 101 Os irmãos Laranja. Na época, Francisco Duarte Laranja exercia o cargo de Vereador da Câmara
Municipal de Aldeia Galega do Ribatejo. 102 Conservatória do Registo Civil do Montijo – Casamentos. 1848-1860, p. 17. Disponível em: <URL:
http://digitarq.adstb.arquivos.pt/viewer?id=1208379>. 103 LUCAS, I. – Subsídios para a História do Concelho de Montijo. Cronologia Geral. 1997, p. 39. 104 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 6. Sobre o tema da Comarca em Aldeia Galega do Ribatejo,
veja-se o catálogo da exposição temporária comemorativa do aniversário do edifício dos Paços do Concelho
em “130 Anos de um edifício: de tribunal a Paços do Concelho”, de 2009.
42
Municipal de Aldeia Galega, começando o seu primeiro mandato no dia 2 de Janeiro de
1878, sendo reeleito consecutivamente até 1892.
No dia 25 de Maio de 1879, ainda na sequência do retorno da Comarca à vila e devido
à necessidade da existência de um edifício que tivesse como função a instalação do
Tribunal Judicial, o então Presidente Domingos Tavares inaugurou um novo imóvel, de
estilo neoclássico, situado na zona ribeirinha, que tinha como função albergar não só o
Tribunal e a Cadeia, mas também a Administração do Concelho e a Repartição da
Fazenda105. Sobre este dia, podemos encontrar documentados alguns acontecimentos
interessantes e entre muitas outras informações, conseguimos ter acesso, por exemplo, à
lista de convidados para a abertura do Tribunal, bem como ao decorrer de todo o processo
de inauguração106.
Para além de este evento ser de extrema importância para a presidência de Domingos
Tavares, daí termos-lhe feito alusão, a sua documentação é uma mais-valia para o acesso
à história de Aldeia Galega do Ribatejo. Através dos relatos efetuados, é-nos permitido
percecionar como seria viver um acontecimento destes, no século XIX, deixando-nos
mais próximos da história e da memória coletiva da localidade. Há ainda referências a
uma refeição fornecida pela Casa Ferrari, de Lisboa, concretizada na residência do
Presidente, onde estão descritos os brindes propostos, bem como a ementa servida107.
Porém, tendo em conta este trabalho de investigação, o mais interessante é avaliar os
detalhes da residência de Tavares, descritos nas colunas do “Diário Illustrado” do dia 27
de Maio de 1879: “(…) é um palacio aquella casa, palacio em que se revela o apuramento
do gosto do sr. Tavares. A sala em que foi servido o lunch pode dizer-se sumptuosa. O
tecto, de cujo centro pende um magnífico lustre de crystal, é recamado de florões
dourados; as paredes, almofadadas de azul, são guarnecidas de espelhos. (…)”. Com essas
informações, podemos ter alguns vislumbres de como seria o aspeto da Casa Mora após
o término da sua construção.
105 Idem, ibidem. 106 RANA, J. S. – Cousas da Nossa Terra: (…), pp. 75-76; e “Diário Illustrado”, Lisboa, n.º 2178, 27 de
Maio de 1879, p. 3. 107 “Diário Illustrado”, Lisboa, n.º 2178, 27 de Maio de 1879, p. 3.
43
Fig. 1. Retrato de Domingo Tavares. Desenho a lápis,
executado em Paris, por Torres, em 1878. Encontra-se
emoldurado e colocado na entrada na Casa Mora, edifício
que mandou erigir108.
Domingos Tavares revelou ser um Presidente digno e interessado pelo bem-estar da
população109. Foi igualmente durante o seu executivo, concretamente no ano de 1881, que
foram emitidas as primeiras cédulas municipais de Aldeia Galega do Ribatejo, quando o
país atravessava uma forte crise económica e havia uma extrema necessidade de acorrer
ao dinheiro metálico de baixo valor.
Desde 1891, e ao longo de 31 anos, Portugal conheceu duas crises económico-
financeiras. Foi nesta fase da história nacional que o Estado se viu forçado a proceder à
emissão de dinheiro de emergência para compensar as vicissitudes que as dificuldades
financeiras trouxeram. Neste contexto, surgiram as cédulas, caracterizadas por papel-
moeda, que substituíam o monetário metálico, visto que o custo dos materiais em que as
moedas eram cunhadas tinha aumentado. Durante o reinado de D. Carlos I, no ano de
1891, procedeu-se à impressão da primeira emissão de cédulas110.
O referido aumento dos preços dos metais, tal como a dificuldade para os obter, levou
a que o Governo autorizasse as Autarquias a emitirem cédulas próprias, de modo a
108 Imagem de GRAÇA, L. – Montijo: Imagens da Tradição Concelhia, 2001 109 “O Aldegallense”, n.º 56, II Ano, 27 de Setembro de 1896, p. 1. 110 BALDRICO, J. – As Cédulas emitidas pela Câmara Municipal de Aldegallega. 1891-1922, p. 14.
44
facilitar as transações diárias, nos limites dos concelhos. Assim sendo, no caso do Montijo
de antigamente, as primeiras cédulas foram lançadas no mercado, no executivo de
Domingos Tavares, composto por Francisco da Silva, João Bento Maria, José António
Belo e João Rodrigues Oliveira. Nas três figuras que se seguem, estão destacados os
primeiros exemplares das cédulas municipais de Aldeia Galega, impressas unicamente a
preto e detentoras de selo branco111.
Fig. 2, fig. 3. e fig. 4. Primeira edição monárquica
de cédulas municipais. Mancha de 84x51mm.
Imagens do Museu do Papel Moeda – Fundação
Dr. António Cupertino de Miranda112.
Posta em circulação a primeira emissão de cédulas monetárias municipais, o
executivo de Domingos Tavares procedeu a uma segunda edição monárquica de valores,
desta vez, ainda mais distintos, impressas com diferentes cores, referentes a cada valor
monetário. Apresentavam as mesmas características da versão anterior, porém, foi-lhes
acrescentado um cuidado superior no ponto de vista gráfico, tornando esta edição a “(…)
mais bonita de todas aquelas que foram impressas pela Câmara Municipal de Aldeia
Gallega.”113
111 Idem, ibidem, p. 17. 112 Imagem em Idem, ibidem. 113 Idem, ibidem, p. 19.
45
Fig. 5, fig. 6, fig. 7., fig. 8. e fig. 9. Segunda edição
de cédulas. Mancha de 93x63mm114.
Presume-se que as cédulas emitidas pelo executivo presidido por Domingos Tavares
tivessem sido colocadas fora de circulação, pois o Estado deixou de permitir a livre
circulação de cédulas em paralelo com as suas, devido às ilegalidades que surgiram em
todo o país. Para além disso, os exemplares que hoje podemos observar encontram-se
geralmente em bom estado de conservação, dando alusão para a pouca utilização que
tiveram no seu passado115.
Fechando mais um episódio da vida de Tavares, iremos deslocarmo-nos para o ano
de 1893, onde, no dia 27 de Março, e ao fim de 42 anos de vida em comum, faleceu a sua
114 Imagem de autor em Idem, ibidem, p. 18. 115 Idem, ibidem, p. 22.
46
companheira, Margarida Inácia dos Anjos. Nessa altura, e apesar de Tavares já não ser
Presidente da Autarquia, visto que o seu último mandato tinha terminado um ano antes,
o executivo de então não deixou de manifestar o seu pesar na ata da sessão do dia 1 de
Abril, desse mesmo ano, pois a vereação reconhecia que o anterior Presidente tinha
contribuído em muito para os melhoramentos da vila116. Após esta infelicidade,
Domingos Tavares passou a viver com uma outra senhora, de nome Severina Ferreira
Velhinho, da qual teve ainda dois filhos gémeos, Domingos Tavares Basto e João Tavares
Basto117.
Sabe-se que esta personalidade teve muita influência política, mas a sua importância
regional não se cingia aos cargos políticos que exercia. Domingos Tavares tinha muitas
propriedades rurais em torno do concelho de Aldeia Galega e há conhecimento de que
chegavam até Alcácer do Sal118. Contudo, a sua carreira política não tinha ainda
terminado. Após uma breve pausa das suas funções como Presidente da vila, Tavares
volta à sua lida de autarca no dia 7 de Janeiro de 1896, porém, nesse mesmo ano viu-se
obrigado a abandonar a Câmara devido a uma enfermidade, voltando meses depois,
apenas quando se sentiu recuperado119.
Quando Francisco dos Santos, Presidente substituto, anunciou ao restante executivo
o retorno de Domingos Tavares, a vereação ficou muito satisfeita com a notícia, e mandou
inclusive “(…) celebrar por essa ocasião na Igreja Parochial um Te-Deum em
demonstração de regozijo pelo prompto restabelecimento de tão prestimoso cidadão.”120
Esta citação descreve o respeito e a consideração que depositavam na pessoa de Tavares.
Não foi apenas Aldeia Galega que se entusiasmou com o regresso desta figura à terra
que o viu nascer e presidir, mas também a vila de Samouco se alegrou com o evento, pois
a maior parte dessa população e a respetiva banda filarmónica deslocaram-se até à
residência particular do estimado Presidente e apresentaram as suas mais sinceras
simpatias pela recuperação. Sucedeu-se o mesmo com a Sociedade Agrícola 1.º
d’Outubro, que chegou a mandou rezar um Te-Deum na Igreja de Nossa Senhora da
116 BALDRICO, J. – Domingos Tavares, p. 7. 117 Idem, ibidem. 118 Referência à Herdade de São Bento, em Alcácer do Sal, em Idem, ibidem. 119 Não se conhece concretamente de que enfermidade sofreu, mas sabe-se que ficou sem visão durante um
período de tempo, tendo recuperado após os tratamentos médicos a que foi sujeito, provavelmente na cidade
de Lisboa. Em Idem, ibidem. 120 Mandato da vereação do dia 16 de Novembro de 1896, citado em Idem, ibidem.
47
Atalaia. Entre algumas homenagens, pode ler-se, no número 65 do periódico “O
Aldegallense”, o seguinte:
“A recepção com que o exmo sr. Domingos Tavares era esperado, deve ter mostrado ao
distincto aldegallense que os seus serviços são reconhecidos e que o seu nome é por isso,
justamente estimado e respeitado. / (…) E em boa verdade: o sr. Tavares (…) tem sempre
trabalhado em favor da sua terra e em beneficio dos seus conterrâneos. Não esquecendo nem
por momentos o bem estar collectivo d’aquelles com quem convive, o seu fito constante é
fazer bem sem reparar nos meios de que tem de lançar mão para conseguir esse fim. / Na
politica o seu ideal é conquistar melhoramentos para a sua terra querida; na lavoura dar o
exemplo do uso dos mais modernos progressos; na vida particular, prestar a quantos com ele
convivem todas as manifestações do seu valimento que é inexcedível. / Devido a isso,
ninguém ainda adquiriu maior preponderância no seu meio.”121
Assim, Domingos Tavares regressou às suas funções e foi mais uma vez
sucessivamente reeleito, ocupando o cargo da presidência até ao dia 15 de Junho de 1905,
falecendo uma semana depois, com 77 anos de idade, vítima de congestão pulmonar122.
Foi velado pela sua família e por pessoas suas amigas, sob o estandarte da Autarquia que
presidiu durante 23 anos, tendo sido o Presidente que mais tempo se manteve no
executivo, em Aldeia Galega do Ribatejo. O funeral realizou-se no dia 23 de Junho, pelas
21h, tendo sido acompanhado pelo Prior da Freguesia João Pereira Vicente Ramos, pelo
Padre Theodoro de Sousa Rego e por um enorme cortejo, composto por pessoas de
diferentes classes sociais e de diversas localidades circundantes123. Os seus restos mortais
foram depositados no jazigo da família, no cemitério da mesma localidade, depois de ter
sido realizada a missa de corpo presente124.
Em sua homenagem, o jornal “O Domingo”, na edição do dia 25 de Junho de 1905,
referiu-se à pessoa de Tavares como um político de grande prestígio, sempre disposto a
prestar serviços de melhoramento da terra que administrou com distinção, durante anos a
fio. Por entre muitas outras palavras de reconhecimento, que demostram o apreço do povo
por esta personalidade, podemos ler a seguinte frase: “(…) [e]ra o tudo nesta villa, e sem
elle nada se fazia fosse o que fosse. (…)”125.
121 Citação do periódico “O Aldegallense”, número 65, em Idem, ibidem. 122 Idem, ibidem. 123 Idem, ibidem, p. 11. 124 Idem, ibidem. 125 “O Domingo”, edição de 25 de Junho de 1905, cit. por Idem, ibidem.
48
5. Um percurso pela Casa Mora.
Acabámos de conhecer uma das personalidades da história de Aldeia Galega do
Ribatejo, atual Montijo, que mais contribuiu para os avanços da localidade e da região
circundante, mostrando ter sido um homem, um proprietário e um Presidente dignos,
segundo a documentação existente. Para além de extensas propriedades dispersas pelo
concelho, Domingos Tavares estabeleceu a sua morada no centro da então vila de Aldeia
Galega, cujas obras de construção se concluíram no ano de 1875.
Ao longo do tempo, o imóvel foi sofrendo alterações, acompanhando os avanços da
comodidade, tendo sido adaptado para acolher as novas exigências do quotidiano
familiar. Porém, a Casa Mora, como viria a ser conhecida até aos nossos dias, manteve
sempre o seu carisma, conservando-se a maior parte dos pormenores decorativos, que,
segundo Fernanda Pinho, teriam sido trabalhados muito provavelmente pelos melhores
artistas da região à luz da época.
A falta de documentação acessível sobre este edifício não nos permite tirar
conclusões plausíveis acerca do mesmo. Queremos com isto dizer que há uma série de
dificuldades no que toca ao esclarecimento de várias interrogações, como por exemplo:
quais foram as razões do aspeto arquitetónico do edifício; quais os motivos que levaram
à aplicação de determinadas características decorativas; e quem foram os artistas e os
construtores envolvidos no projeto. Assim sendo, a habitação podia ter sido concebida
segundo a visão pessoal dos proprietários, ou de algum arquiteto ou artista em particular.
Visto que o imóvel foi anteriormente contextualizado, é igualmente importante
procedermos à sua descrição. Começaremos por colocar primeiramente em destaque todo
o exterior da casa e só depois conheceremos o seu interior, onde serão abordados os
sistemas de organização e de decoração das salas, bem como cada uma das suas anteriores
funções, aludindo para o quotidiano oitocentista.
5.1. As fachadas.
De uma maneira geral, quando observamos o aspeto do edifício, apercebemo-nos de
que este foi erguido sob um gosto erudito e eclético126, no entanto, destacam-se a
126 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.
49
simplicidade, a harmonia e a sobriedade, principalmente no que diz respeito ao traçado
arquitetónico e à sua simetria. Por ser consideravelmente mais alta e por se denotar uma
certa monumentalidade na sua fachada, a Casa Mora distingue-se das envolventes de
forma muito clara. Contribui para este efeito o revestimento da frontaria, virada para Sul,
em pedra calcária, mais concretamente sob a forma de painéis de cantaria, facto que lhe
concede uma aproximação às influências neoclássicas127. Este aspeto classicista demostra
imponência e reflete a importância e o poderio do proprietário aos níveis social e
económico.
Apesar de deter um carácter clássico, o coroamento da fachada não tem frontão, mas
sim uma platibanda totalmente composta por balaustres, limitada inferiormente por um
friso do tipo cimalha. Esta balaustrada cobre parcialmente o telhado de duas águas,
transmite um aspeto palaciano e divide-se em três secções que se estendem ao longo da
fachada, separando a composição central das restantes. As divisórias apresentam-se sob
a forma de pilastras que intensificam a simetria e o rigor com que todos os vãos estão
enquadrados. O desenho desses vãos e dos respetivos emolduramentos é extremamente
equilibrado, estando todos os traçados alinhados e enquadrados entre si, embora haja uma
exceção: a entrada principal, cujas dimensões são superiores, tanto em termos de altura,
como de largura, quando comparada com as restantes.
De madeira maciça, pintada de verde-escuro, a porta principal tem puxadores em
ferro, apoiados entre cabeças de leões128, e ainda uma fechadura, igualmente em ferro,
trabalhada sob a forma de elementos naturais. O vão está totalmente emoldurado e o lintel
tem o formato de arco de volta perfeita, abrigando sob ele a bandeira, onde se pode
encontrar, pintada a branco, a data do término de construção do imóvel. Com um olhar
atento sobre o arco, encontramos ainda uma pedra de fecho no seu ponto mais alto,
formada por uma máscara estilizada.
Ainda sobre o conjunto central do piso inferior, encontramos duas janelas, uma de
cada lado do portal de entrada, com vãos emoldurados e lintéis em forma de arco abatido,
rematados com pedras de fecho em cantaria. Para proteção de cada janela, encontra-se
um gradeado trabalhado em ferro, onde é evidente um padrão que lhe preenche uma terça
parte. Quanto às extremidades do piso inferior, podemos observar que ambas contêm uma
127 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 57. 128 A observação de puxadores de edifícios da mesma época remete-nos para a ideia de que esta estilização
foi muito comum nos finais do século XIX. O prédio situado nos números 35 a 43 da Rua Ivens, no centro
da cidade de Lisboa é outro exemplo disso.
50
entrada secundária, cujos lintéis voltam a insinuar-se sob o formato de arco abatido. À
semelhança do que acontece com a porta de entrada, estas últimas apresentam-se
revestidas de um verde-escuro e contêm fechaduras e puxadores em ferro sob a forma de
máscaras.
Na fachada principal da Casa Mora, evidenciamos uma caraterística própria das casas
nobres: a soberania do andar superior, tendo este último uma maior decoração,
principalmente ao nível das ferragens. Focando-nos agora neste piso, podemos de forma
rápida apercebermo-nos da presença de três varandas: uma ao centro, de maiores
dimensões, com três vãos, e outras duas mais pequenas, nas extremidades do edifício,
com apenas um vão em cada. Os lintéis destes cinco vãos detêm o formato de arco abatido
e as pedras de fecho em cantaria são trabalhadas em relevo, sendo a do centro a mais
pormenorizada.
Todas as varandas têm um gradeamento elegantemente trabalhado em ferro como
proteção, sendo o da sacada central abaulado, e os das sacadas laterais, simplesmente
retos. O efeito visual presente entre estes três gradeamentos pintados a branco dá-nos a
sensação de que todos eles estão articulados, como se de uma única grade se tratasse129.
Para além desta decoração em ferro, existem, sob as varandas, dez mísulas em formato
de modilhão, sendo as duas mais ao centro, aquelas que apresentam um maior trabalho
escultórico. Abordando particularmente estes últimos dois apoios, podemos destacar as
suas principais características: uma orientação diagonal e apresentação de volutas
cobertas por folhas de acanto, remetendo para as influências clássicas130. Os restantes
modilhões são mais simples e encontram-se sobre a orientação vertical, representando
apenas volutas.
Quando prestamos atenção ao telhado, apercebemo-nos de que existe um pormenor
bastante peculiar: um lanternim. Nos finais do século XIX, Aldeia Galega ainda não
possuía as construções que hoje podemos encontrar junto às imediações da Casa Mora,
visto que antigamente todo o espaço envolvente era composto por quintas, por isso, o
local de edificação da residência particular de Domingos Tavares era extremamente
privilegiado, oferecendo aos residentes uma vista encantadora sobre o rio Tejo e sobre
toda a paisagem.
129 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 218, nota 413. 130 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.
51
Tratando-se de um detalhe curioso que não permite olhares desinteressados, o
lanternim funcionava, e ainda funciona, como um pequeno miradouro131. Apresenta um
formato hexagonal e vidros coloridos (amarelo e verde), encimados por arcos quebrados,
de influência gótica, que complementam a armação em maneira. No seu interior,
encontram-se pequenos assentos, pertencentes à própria estrutura, que nos intensifica a
ideia de que este elemento tinha a função de mirante para fruição das paisagens.
Fig. 10. Fachada principal da Casa Mora. Fotografia da autora.
Quanto aos alçados laterais, podemos dizer que são mais simples e planos, tendo o
da esquerda, virado para Oeste, apenas duas janelas ao nível do piso superior, com lintéis
em arco quebrado, e três outras janelas retangulares muito simples ao nível do sótão. Já a
fachada à esquerda, orientada para Este, possui unicamente uma pequena janela
retangular à altura da mansarda, estando ambos os alçados laterais atualmente pintados a
bege claro.
A fachada posicionada a Norte é composta por dois pisos e, tal como acontece com
a fachada principal, o andar superior mostra-se mais pormenorizado que o inferior.
Atualmente pintada também em tons de bege, a fachada das traseiras é coroada por uma
platibanda com um rendilhado robusto em vez de balaustres, mais uma das influências
ecléticas a que fizemos referência anteriormente. Esta platibanda já não apresenta
secções, visto que a fachada que a acompanha não é dividida em diferentes conjuntos
131 COELHO, H. P. – Caracterização tipográfica, construtiva e formal dos edifícios, p. 57.
52
necessitados de enquadramento, tratando-se apenas de uma composição geral.
Observando ainda a platibanda, notamos que existem duas peças em faiança que coroam
os seus terminais, tendo acontecido exatamente o mesmo na balaustrada da fachada
principal, porém, as estatuetas antigamente existentes, encontram-se hoje
desaparecidas132.
Dando início à análise do piso inferior das traseiras, podemos contar com três portas
e duas janelas, de caráter bem mais simples e retilíneo, com vãos igualmente
emoldurados. Uma dessas portas situa-se numa posição perpendicular em relação ao
alçado e dá acesso a um compartimento existente sob a escadaria que liga o jardim ao
primeiro andar. As janelas, com o formato retangular, estão protegidas por uma grade
robusta em ferro, dando a ideia de que se trata de uma inspiração arquitetónica muito
antiga. A escadaria possuiu um trabalho de ferragens como proteção, pintadas de branco
que se prolonga por todo o comprimento da sacada do primeiro andar, tratando-se de um
só conjunto.
Abordando agora o piso superior, na varanda reta que preenche todo o alçado Norte
até ao seu extremo direito, abrem-se quatro vãos, que se encontram, mais uma vez,
emoldurados e apresentam-se sobre a forma de arco quebrado. À semelhança do que
acontece com as sacadas da fachada principal, esta varanda também se encontra
sustentada por cachorros, mas desta vez, bem mais simples e retilíneos. Para finalizar,
podemos ainda vislumbrar uma chaminé do tipo alentejano no extremo esquerdo do
telhado, quando visto pelas traseiras, pertencente à cozinha.
É bastante curioso o facto de serem utilizadas influências góticas apenas nas traseiras,
no mirante e nos alçados laterais. Talvez o motivo esteja ligado ao facto de tal
historicismo não ser considerado tão nobre a fim de o exporem na fachada principal, visto
que esta é a mais imponente do edifício, devido ao seu traçado neoclássico.
132 Supostamente, cada estatueta encimava uma seção da platibanda de balaustres, tratando-se de quatro
peças no total, cujo paradeiro é desconhecido. Em C.M.M. – Roteiro Casa Mora.
53
Fig. 11. Fachada Norte da Casa Mora. Fotografia da autora.
5.2. O jardim.
Noutros tempos, o jardim da casa era totalmente privado, fazendo parte de todo o
conjunto da propriedade. Era um espaço destinado ao lazer dos habitantes do edifício e
de acesso aos empregados para as suas tarefas diárias. Nele, podemos encontrar ainda os
elementos naturais dessa época, tal como as palmeiras que, ao longo do século XIX, eram
sinónimo de grande prestígio, quer em ambiente rural como urbano133.
Segundo Fernanda Pinho e Rogério Dias, arquiteto responsável pela projeção do
jardim, este era muralhado a toda a volta e possuía apenas um portão lateral de entrada,
mas não se sabe ao certo se sempre teve estas características, ou se as obteve após a
extinção das quintas em torno da casa. Nos dias de hoje, o mesmo jardim, apesar de
público, encontra-se gradeado em ferro, continuando a ser bastante recolhedor, embora
se mostre disponível para olhares curiosos.
A atual configuração do jardim é bastante interessante e alegórica. Foi projetada
durante os planeamentos da Autarquia para implantar a sede do Museu Municipal no
edifício da Casa Mora, aproveitando a vegetação e os restantes espaços decorativos ou de
abastecimento da casa já existentes, como por exemplo, o poço e o fontanário. O objetivo
principal da forma do jardim é estabelecer uma certa proximidade e um contato direto
com a rua, sem que esta interfira nos espaços interiores. Assim sendo, o muro foi
133 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.
54
aproveitado, mas cortado até pouco acima da altura do chão, e o gradeamento, com um
simples trabalhado em ondas, alusivo à proximidade da cidade ao rio Tejo, permite a
proteção do jardim, não o distanciando do visitante.
Segundo o arquiteto Rogério Dias, o desenho do calcetamento de todo o jardim
assemelha-se a uma mulher grávida, associado ao conceito de germinação de ideias e de
cultura, estando esta intrinsecamente ligada à qualidade de Museu que o edifício adjacente
teria. Para o arquiteto, existem dois espaços diferentes, estando o primeiro ligado à
gestação, ou seja à elaboração de atividades de cariz museológico e cultural, de onde se
desenvolvem novas consciências, e o segundo, significativamente mais pequeno,
tratando-se de uma zona de descanso, de apaziguamento e de recolhimento, para que se
dê azo ao surgimento de novas ideias.
Rogério Dias diz-nos que a barriga da mulher encontra-se representada pela calçada
principal, onde se situa o anfiteatro do jardim, e a sua cabeça, revela-se num espaço
igualmente redondo, mas mais pequeno e recatado, ladeado por elementos naturais de
diferentes espécies e por bancos de jardim. Segundo o arquiteto, a própria ideia de cérebro
é reforçada pelo candeeiro central de aspeto antigo – facto que nos aproxima ao passado
histórico do local – que alude para um certo aclaramento de consciências, pois é este o
único componente que ilumina o pequeno recinto, caraterizado como um lugar de
tranquilidade, de introspeção e de intelectualidade.
Já o anfiteatro, mostra-se como um espaço bastante mais abrangente e envolvente,
circundando toda a área da entrada do jardim e recebendo-nos sem aprisionamentos. A
toda a volta deste largo, encontra-se uma série de escadarias de dois a três degraus, altos
e largos, que devem ser entendidos como lugares sentados.
Fig. 12. Zona do anfiteatro.
Fotografia da autora.
55
Fig. 13. Zona de recolhimento
com o candeeiro central.
Fotografia da autora.
Contudo, não só destes elementos vive o cenário central do jardim. Encontra-se
mesmo em frente ao portão de entrada, e na continuidade do palco do anfiteatro, uma
fonte, que surgiu do aproveitamento do equipamento antigo que já se encontrava no local.
Segundo Rogério Dias, esta fonte foi projetada com a intenção de ser «mágica», contendo
diversas intensidades de jatos de água, acompanhados por jogos de luz e por um sistema
de som, porém, atualmente, encontra-se desativada.
Fig. 14. Zona do poço encimado por um moinho
americano. Fotografia da autora.
Bem junto à referida fonte, está plantado um poço antigo, pertença da propriedade de
Domingos Tavares, que servia naturalmente de abastecimento da casa e auxiliava nos
56
trabalhos diários, e um moinho do tipo americano, pintado com as cores do município,
amarelo e verde. Acompanhando estes últimos elementos, e já mais próximo da zona de
recolhimento, encontra-se uma pequena área que, segundo o arquiteto Dias, poderia
tratar-se em tempos de uma estufa. Agora constituída por uma bancada retangular com
uma entrada lateral que permite aceder ao seu núcleo, esta composição encontra-se
reaproveitada sob um caramanchão em ferro pintado de amarelo, parcialmente coberto
por plantas trepadeiras, de maneira a proporcionar sombra e frescura, na eventualidade
de existir um serviço de catering durante uma atividade.
Fig. 15. Zona de catering com caramanchão. Fotografia da autora.
No centro do jardim, mais propriamente na área de divisão entre o anfiteatro e a zona
de repouso, destaca-se um elemento com um certo volume, pertencente ao tempo em que
a Casa Mora era habitada. De formato retangular e de orientação vertical, com decoração
em embrechados compostos por conchas, fragmentos de cerâmica, azulejos Bordalo
Pinheiro134 e pedra calcária, o fontanário, ainda funcional, não passa despercebido para
quem entra neste jardim, tornando-se muitas vezes na atração principal de quem quer
saciar a sede ou refrescar-se num dia de intenso calor. O seu tanque exibe cantos
arredondados, é caiado no seu interior e ladeado por bancos com traçados curvilíneos e
dinâmicos. Por último, e junto desta referida composição, estão dispostos dois marcos de
134 Encontramos uma pequena descrição deste fontanário na dissertação de Mestrado em Estudos do
Património, de Liliana Santos: “Estratégias para o aproveitamento e valorização do património de Montijo”,
volume I, onde se afirma na página 138, que os azulejos empregues na fonte do jardim são hispano-árabes,
com o qual discordamos.
57
légua em calcário, muito provavelmente datados do século XVIII135 e provenientes da
antiga Estrada Real, colocados bem ao centro de uma das áreas de relvado.
Fig. 16. e fig. 17. À esquerda, um pormenor dos embrechados e dos azulejos da fonte, e à direita, um
marco de légua. Fotografias da autora.
Terminada a enumeração de elementos dispostos pelo jardim, podemos
debruçarmo-nos sobre as zonas de apoio necessárias para os trabalhadores responsáveis
pela sua manutenção. Junto à casa, está construído um anexo muito simples que funciona
como sanitário público e arrecadação, mas o que o torna curioso é o facto de existir uma
característica que o permite aproximar-se do traçado arquitetónico da própria casa.
Apenas com um simples coroamento em arco quebrado, este núcleo vai ao encontro das
influências góticas presentes nas portas do primeiro andar do alçado norte do edifício,
dando à nova estrutura um sentido de pertença àquele lugar e revelando gosto pós-
moderno.
135 FERNANDES, P. A. [et al.] – Património artístico-cultural do Montijo, p. 24; e SANTOS, L. C –
Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p. 140.
58
Fig. 18. Pormenor do arco de
influência gótica. Fotografia da
autora.
Todavia, esta área não é o único apoio que podemos observar no jardim. Junto à
fachada da antiga habitação, existe um espaço de repouso, facilmente identificado como
uma esplanada de auxílio à cafetaria, que se iria situar aparentemente numa antiga zona
de cocheira, tal como indicou o arquiteto Rogério Dias. Porém, esse projeto acabou por
nunca se concretizar, acabando por se instalar, nesse local, o Posto de Turismo do
município.
Depois de feita a abordagem geral aos elementos que compõem o jardim, podemos
destacar a calçada portuguesa que emoldura todas as zonas mencionadas, bem como os
relvados e os canteiros. A área de maior calcetamento, junto ao anfiteatro, apresenta
padrões bastante interessantes. Segundo Rogério Dias, alguns dos elementos que os
formam caraterizam-se por ondas, denunciando a proximidade com o rio, que desde
sempre fez parte da identidade e da história da terra, como já constatámos. Já outros
motivos decorativos, para o arquiteto, estão relacionados com a figura humana, como os
semicírculos que formam um pentágono, aproximando-se da composição do conhecido
desenho do “Homem Vitruviano”, e apelando para o sentido de perfeição, neste caso, face
à estesia provocada pela cultura, contribuindo para o desenvolvimento de um novo olhar
e de uma outra consciencialização.
Por trás da fonte e junto à esplanada, existe uma parede que denuncia a continuação
da propriedade em questão, estando ainda evidentes vários cachorros e ainda alguns
umbrais em pedra que denunciam a antiga presença de portas e janelas naquele mesmo
alçado. No entanto, não há registos que nos elucidem sobre as verdadeiras funções
daquele espaço, havendo apenas teorias de que talvez se pudesse tratar de cavalariças.
59
Fig. 18. Pormenor dos cachorros.
Fotografia da autora.
Mediante este estudo, e ao desfrutarmos deste jardim, acabamos inerentemente por
refletir sobre os diferentes significados empregues em cada detalhe e iniciamos o processo
de imaginar como seria aquele lugar e o quotidiano da família Tavares Mora, bem como
de todas as pessoas que ali passaram e trabalharam, nos finais do século XIX. É esta
procura de respostas que se torna uma mais-valia para despertar a curiosidade e o interesse
por um património que à partida parece estar carenciado de estudo.
5.3. O interior.
Analisado o espaço exterior do atual Museu Municipal do Montijo, iremos de
imediato debruçar-nos sobre o interior desta antiga habitação. Como já tivemos
oportunidade de constatar através da descrição das fachadas, o edifício tem três pisos,
sendo o do rés-do-chão aquele que apresenta mais alterações, pois é nele que se albergam
o Posto de Turismo e as salas de exposição, departamentos com maior necessidade de
equipamento moderno.
A partir da entrada principal, seguiremos um trajeto correspondente à rotação dos
ponteiros do relógio, abordando cada sala tendo em conta as suas principais características
decorativas e as suas anteriores funções. Assim, para além de descrevermos o edifício,
conseguiremos também remeter o leitor desta dissertação para o passado histórico da Casa
Mora, fazendo-o imaginar como seria viver antigamente neste património oitocentista.
Na continuidade do presente texto, intitularemos cada compartimento – de acordo
com a publicação camarária “Roteiro Casa Mora” –, e iremos numerá-los nas plantas que
acompanharão o texto, para que seja mais acessível encontrar o posicionamento das
divisões no espaço habitacional.
60
Fig. 19. Planta do rés-do-chão, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.
Começando pelo rés-do-chão, deparamo-nos primeiramente com a entrada da casa
(1), onde nos recebe um chão lajeado composto por uma decoração em xadrez preto e
branco. Nas paredes laterais, estão expostos dois estandartes de duas épocas diferentes136,
e as portas, nelas contidas, apresentam vãos e umbrais emoldurados em madeira, são
coroadas por bandeiras, e os seus lintéis têm o formato de arco de volta perfeita.
Na continuidade destas paredes, existem sancas, junto ao teto, encimadas por faixas
de folhas de acanto, salientando-se, de seguida, o excecional trabalho de estuque137 em
relevo pintado de verde e branco, que preenche o teto. Podemos igualmente observar um
arco de volta perfeita que antecede a escadaria principal da casa, seguindo-se as iniciais
“DT”, trabalhadas a estuque, alusivas ao nome do primeiro proprietário.
136 Brasões Do Montijo, sendo um deles do tempo da vila, e o outro, referente à atualidade. 137 Argamassa de revestimento. Existem vários tipos de estuque, podendo servir para revestir paredes
internas ou forros, ou para vedar. As decorações em estuque podem ser executadas à mão livre, ou com
recurso a formas ou moldes. Após o terramoto de 1755, os tetos em estuque tornam-se comuns em Portugal.
Vários materiais podem ser empregues na composição do estuque, desde pó de mármore, a gesso, ou a cal,
podendo ainda adquirir um pigmento colorido durante a sua feitura. Em ROZISKY, C. [et al.] – A Arte
Decorativa de Estuques de Interiores em Pelotas. De 1870 a 1931, pp. 136-137.
61
Fig. 20. Pormenor do fecho do arco da entrada e do
trabalho de estuques do teto com as iniciais “D.T.”
Fotografia da autora.
As escadas têm dois lances, sendo o primeiro de pedra e o segundo, de madeira, e
estão acompanhados por uma elegante grade de proteção em ferro e por um friso em
estuque marmorizado138 com tons de verde. Sob o segundo lance, estão expostas algumas
peças em pedra, como por exemplo, Brasões de antigas famílias, provenientes de outros
edifícios, e um marco de légua. Por fim, todos os arcos presentes no hall possuem chaves
em relevo que os rematam nos seus pontos mais altos, tal como acontece na fachada.
Seguindo a direção dos ponteiros do relógio, deparamo-nos com quatro divisões
contínuas, onde hoje se situam as Salas de Exposição (2). Este espaço ainda contém os
sistemas de descargas de forças, e destina-se ao acolhimento de exposições temporárias.
Estas salas estavam reservadas ao armazenamento de produtos de apoio à cozinha,
tratando-se de uma normalidade em residências deste género139. Porém, tendo em conta
as dimensões e a quantidade de divisões, pensa-se que algumas das atividades financeiras
da família – possivelmente ligadas à propriedade que envolvia a casa – pudessem estar
relacionadas com aqueles espaços.
138 Um dos tipos de estuque utilizados no revestimento de paredes, complementando a decoração. Imita a
pedra mármore, tornando os espaços mais imponentes. Em Idem, ibidem. 139 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.
62
Fig. 21. Espaço de galeria, antigas salas de
armazenamento. Fotografia da autora.
Na continuidade deste percurso, e já na direção Norte, iremos deparar-nos com o
Posto de Turismo (3). Não há estudos concretos que revelem quais as anteriores funções
deste compartimento, podendo tratar-se de uma zona de cocheira, ou apenas de mais uma
sala de armazenamento, pois, pela observação da planta, percebemos que existia uma
passagem entre esta referida área e a atual galeria de exposições.
Voltando à entrada, encontramos à direita a Receção (4), ocupando o antigo escritório
da casa, onde eram recebidos os empregados e outras pessoas alheias ao ambiente
familiar, assim, o espaço privado nunca estaria conjugado com o de maior movimentação
diária. A decoração deste espaço é muito simples, contendo apenas estuques no teto.
Pensa-se que os motivos decorativos representam as atividades financeiras de Domingos
Tavares. O capacete com asas e o caduceu com as serpentes são referências a Mercúrio,
deus dos comerciantes, portanto é muito provável que esta representação se trate de uma
alegoria às atividades agrícolas do proprietário.
63
Fig. 22. Pormenor da alegoria em estuque do teto do
antigo escritório da Casa Mora. Fotografia da autora.
Fig. 23. Planta do piso nobre, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.
64
Seguindo para o piso superior, começamos por comentar que os dez diferentes
compartimentos estão distribuídos com muita minucia em termos funcionais, pois os
espaços complementam-se entre si. É a partir do corredor, com um certo carácter
labiríntico, que se tem acesso às diferentes salas, estando o início deste atual percurso
estabelecido no salão nobre, primeira divisão com que nos deparamos assim que a
escadaria termina.
Com orientação voltada para a avenida, este compartimento estava unicamente
destinado à receção de convidados, e denomina-se agora de Sala Azul (5), devido à cor
predominante empregue na sua decoração. Esta divisão apresenta uma ornamentação
muito rica, principalmente no que diz respeito aos estuques revestidos com tons de azul,
branco e dourado. Neles podemos encontrar diversos motivos decorativos de inspiração
clássica140, tais como as folhas de acanto e os bouquets de flores, e alguns padrões que
preenchem as superfícies. As paredes estão decoradas com uma pintura bastante
caraterística, assemelhando-se a um tecido azul de seda adamascado, com jogos de luz-
sombra, e em torno destes frescos existem molduras em estuque pintado de dourado.
O recurso aos espelhos como elementos decorativos é bastante interessante. Estão
colocados estrategicamente sob os arcos de volta perfeita que encimam as passagens entre
o salão e as divisões a si adjacentes, proporcionando uma sensação de profundidade e de
amplitude de espaço, pois os reflexos dos estuques iludem para a continuidade da
decoração. A Sala Azul possui ainda três janelas com portadas interiores, onde os seus
vãos se apresentam emoldurados e pintados de bege e os lintéis assumem a forma de arco
de volta perfeita. Os espaços vazios entre estas últimas composições e a sanca, trabalhada
com folhas de acanto, estão enquadrados relevos em estuque, elegantemente revestidos
de branco e dourado.
140 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.
65
Fig. 24. Sala Azul. Fotografia da
autora.
Continuando pelo sentido dos ponteiros do relógio, entramos na Sala Cor-de-rosa (6),
quarto principal da antiga habitação141, onde constatamos que há uma ligeira simplicidade
em relação à divisão anterior, especialmente em termos de frescos, pois neste último
compartimento não há pinturas murais. À exceção da cozinha, este é o único espaço da
casa onde aparentemente a presença de frescos foi negada, e como tal efeito causa uma
certa perplexidade. Segundo Paulo Lima142, não se pode descartar a hipótese das paredes
terem sido antes forradas a tecido, pois essa era uma prática comum na época. Contudo,
o trabalho de estuques mantém-se bastante meticuloso, estando presentes os bouquets de
flores, as folhas de acanto, os padrões, os emolduramentos, e as máscaras estilizadas.
O nome desta sala faz alusão à pigmentação das suas decorações, sendo o tom
dominante o cor-de-rosa. Este compartimento abre para a fachada principal do edifício
duas janelas de sacada e, tal como acontece com a divisão anterior, os vãos internos estão
emoldurados e os lintéis denunciam o formato de arco de volta perfeita. À semelhança da
Sala Azul, esta assoalhada também possuiu espelhos sob os arcos sobrepostos aos acessos
para o corredor e para a divisão adjacente, que era um quarto auxiliar de vestir143,
indiciando o aparato com que uma família deste estatuto vivia nos finais do século XIX.
141 C.M.M. – Roteiro Casa Mora. 142 Em visita informal ao edifício. 143 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.
66
Fig. 25. Pormenor do trabalho de estuques
da Sala Cor-de-rosa. Fotografia da autora.
De tamanho inferior aos das salas abordadas anteriormente, o Quarto de Vestir (7)
apresenta uma coloração em tons de verde, principalmente no teto, onde os estuques são
novamente evidentes. Os motivos decorativos presentes nos relevos são dominantemente
padrões emoldurados e pintados de branco, sobrepondo-se ao verde da pintura sólida que
reveste o teto. Sob a sanca, encontram-se frescos que dão alusão às anteriores junções da
divisão, estando representados tecidos em renda e arranjos florais.
Fig. 26. Pormenor do trabalho de
estuques do Quarto de Vestir. Fotografia
da autora.
O compartimento seguinte distingue-se por ter um caráter religioso, tratando-se de
um Oratório (8), aparentemente destinado às tradições religiosas da família Tavares,
porém, há indícios da existência de símbolos maçónicos enquadrados na sua decoração144.
144 Entre a decoração, existem alguns símbolos que podem estar relacionados com a Maçonaria, tais como
o «delta luminoso», alusivo aos três ideais (igualdade, fraternidade e liberdade) e às três virtudes (beleza,
sabedoria e força). Informações recolhidas no documentário “Viagem pela Maçonaria”, disponível em:
<URL: http://www.maconariaportugal.com/maconaria-em-portugal>. Porém, não há documentos
concretos que afirmem a ligação dos proprietários à Maçonaria.
67
A decoração do Oratório é bastante peculiar, constituída por frescos junto à sanca, de
onde sobressaem estrelas douradas de seis pontas, entre outros elementos, e os estuques
do teto são constituídos por um padrão que evoca a abóbada celeste, estando
representadas novamente as estrelas e um conjunto de oito querubins que envolvem o
trabalho de relevo central, de onde se ressalta uma pirâmide com um olho. Como
exemplos de recheio deste pequeno espaço, podemos mencionar as obras de arte sacra e
de arte decorativa, tais como um cruxifixo e dois castiçais, bem como uma Bíblia Sagrada
datada do século XVIII, sendo estes elementos, segundo Paulo Lima, provenientes da
Ermida de Santo António, localizada a uns escassos metros da Casa Mora, visto que as
semelhanças entre estes objetos e os que se encontravam naquele local são bastante
evidentes.
Fig. 27. e fig. 28. Atual recheio do Oratório e pormenor do trabalho
de estuque do teto. Fotografia da autora.
Continuando o percurso, deparamo-nos com a Casa de Banho (9) da casa, resultante
da adaptação de um antigo quarto145, visto que as famílias abastadas do século XIX não
conheciam ainda o conceito de casa de banho da maneira como passou a ser entendido a
partir do século XX, mas já detinham nas suas habitações, segundo Rogério Dias, um
quarto destinado aos hábitos de higiene. De decoração relativamente simples, esta divisão
não deixa de conter frescos coloridos, junto à sanca, com aparência alusiva à Arte Nova,
de onde se sobressaem pequenas borboletas. O teto apresenta um trabalho de estuque
muito simples, composto por um centro preenchido com folhas de acanto.
145 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.
68
Fig. 29. Pormenor dos frescos e dos estuques do teto da Casa de
Banho. Fotografia da autora.
Seguindo o corredor na direção Norte, encontramos uma sala completamente
ornamentada, tanto em termos de frescos como de estuques. Denominada de Sala de
Jantar (10), devido às suas funções comprovadas pela proximidade à cozinha e pelos
motivos decorativos, este espaço apresenta uma magistralidade única. Nas suas paredes,
ostenta-se um conjunto de sete medalhões ovais em estilo rocaille, onde se encontram
representadas paisagens românticas e cenas campestres de caráter figurativo e aspeto
estrangeirado146, identificando-se como nacional apenas a que se refere à serra de Sintra
e ao Palácio da Pena.
A falta de documentação referente a este edifício não nos permite saber quais as
intenções dos proprietários, ou dos artistas envolvidos no projeto, em pintar tais cenários,
mas existem várias teorias que nos podem remeter tanto para a representação de alegorias
referentes às propriedades de Domingos Tavares – apesar de não haver indícios de que se
estendessem até Sintra –, como para a ideia de crescimento pessoal e aperfeiçoamento do
ser, que, segundo Rogério Dias, está representado através da montanha e do caminho que
se tem que percorrer até ao topo. Estes medalhões ovalados complementam-se por
pequenas molduras, onde se denotam pinturas com temas associados às peças de caça e
às naturezas mortas. Os espaços vazios estão também decorados a fresco com padrões
elegantes em tons de verde.
146 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.
139; e C. M. M. – Roteiro Casa Mora.
69
Fig. 30. Pormenor de um dos frescos da Sala de Jantar, alusivo a
Sintra. Fotografia da autora.
O teto da Sala de Jantar é o mais rico de toda a casa, pois para além do revestimento
a estuque, possui também medalhões com pinturas referentes às peças de caça. Todo o
conjunto de relevos associa-se à utilidade da sala em questão, pois, para além dos
elementos comuns às restantes assoalhadas, tais como as folhagens, os emolduramentos
e os padrões, aqui o teto pintado de verde-claro é também ornamentado com cachos de
uvas, peras, maçãs, figos, entre outras frutas. A sanca apresenta um friso de óvulos, sendo
esta mais uma das características clássicas utilizadas na decoração do imóvel147.
Fig. 31. Pormenor dos estuques e dos frescos do teto da Sala de Jantar. Fotografia da autora.
147 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 132.
70
Tal como era comum na época, as habitações deste género tinham uma sala de fumo,
para onde se deslocavam os homens após o jantar. Segundo o “Roteiro Casa Mora”, a
pequena divisão de recolhimento, junto à zona de refeições, era a antiga Sala de Estar
(11) da casa. Porém, há indícios de que esta pequena sala se destinava aos afazeres da
costura148. Com vista para toda a zona Norte da cidade, esta sala apresenta uma decoração
especialmente simples, mas continua a conter frescos em estilo rocaille junto à sanca e
um pequeno apontamento emoldurado em estuque no centro do teto.
Adjacente à sala de refeições, encontra-se a Cozinha (12), servindo apenas para a
confeção dos alimentos, visto que os produtos chegavam já amanhados ao piso superior.
Segundo Fernanda Pinho, era pelas escadas exteriores que se fazia o acesso a esta divisão,
depois de serem efetuados os «trabalhos sujos», como o arranjo de carnes. Ostentando
paredes integralmente revestidas de azulejos tipo pombalino, padronizados a azul e
branco e contornados por cercaduras, a cozinha tem ainda conjuntos de grandes armários
em madeira. Existem também recantos de armazenamento e toda uma zona de lavagem e
confeção dos alimentos. O chão da cozinha é revestido por lajes de tijoleira castanha,
sendo esta a solução encontrada para harmonizar os contrastes que podiam surgir entre
este pavimento e todo o restante149, composto por madeira envernizada. O teto exibe um
trabalho de estuque simples, estando emoldurado a toda a volta e tendo um centro
composto por folhas de acanto.
Fig. 32. Cozinha. Fotografia da autora.
148 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.
139. 149 SANTOS, L. C – Estratégias para o aproveitamento e valorização do Património de Montijo, vol. I, p.
138.
71
Adjacente a esta última divisão, existe uma pequena despensa para arrumos, chamada
de Sala dos Louceiros (13). Segundo o “Roteiro Casa Mora”, era neste compartimento
que se situavam os armários de acondicionamento das louças utilizadas na casa, e podia
ser acedido tanto pelo corredor, como pela cozinha, através de uma passagem situada
debaixo das escadas de ligação à mansarda. De decoração também simples, esta pequena
sala possui um teto muito idêntico ao da cozinha, tendo ao centro estuques com folhas de
acanto. Junto à sanca encontramos novamente as pinturas murais padronizadas, tão
características da Casa Mora, desta vez, em tons de azul e laranja.
Para finalizar o percurso pelo primeiro piso, encontramos a última divisão, que pode
ser acedida pelo término do corredor, ou pela Sala Azul. Trata-se de um Quarto de
Hóspedes (14), segundo o “Roteiro Casa Mora”. A sua decoração remete-nos novamente
para os grandes trabalhados de estuque e frescos, estando o teto revestido com padrões,
emolduramentos requintados e folhagens. Contudo, encontramos também um conjunto
de elementos zoomórficos, consistindo num casal de pombos enquadrados num medalhão
de fundo bege. Estes animais fazem-se acompanhar por uma tocha acesa e algumas
flechas, havendo hipóteses de existir uma certa simbologia orientada para a mensagem da
paz.
Junto à sanca, e por toda a altura das paredes, encontram-se pinturas murais, onde se
destacam os arranjos florais e os rubis. Estes frescos funcionam como emolduramentos.
A ligação entre este quarto e o salão nobre é feita através de duas passagens, cujos vãos
se apresentam emoldurados e os lintéis voltam a assumir o formato de arco de volta
perfeita. Os espelhos ressurgem nesta divisão, situando-se sobre as passagens para a Sala
Azul, e os espaços vazios entre a curvatura dos arcos e a sanca estão revestidos de
pinturas.
72
Fig. 33. e fig. 34. Pormenor dos frescos e dos estuques do
Quarto de Hóspedes. Fotografias da autora.
Fig. 35. Planta da mansarda, de 1998, por Inês Lopes. Cedência da Câmara Municipal do Montijo.
Resta-nos espreitar a área da mansarda, cuja funcionalidade estava relacionada com
os alojamentos das empregadas, espaço que não poderia estar relacionado com o piso de
maior privacidade dos proprietários. Esta grande área estava hierarquicamente dividida
por diferentes compartimentos, sendo um deles o quarto individual da Governanta e os
restantes, mais amplos, teriam de ser partilhados pelas restantes criadas150.
150 C.M.M. – Roteiro Casa Mora.
73
Há ainda uma casa de banho, possivelmente instalada após a época de ocupação do
edifício pelos primeiros proprietários, e uma grande sala (15) que antecede os quartos,
onde se desenrolavam as atividades rotineiras e de lazer das empregadas. É através dessa
mesma divisão que se pode aceder ao Lanternim.
Existe um pormenor bastante curioso sobre a escadaria de acesso ao mirante (16),
tratando-se de uma tipologia parecida às escadas de navio, que, segundo o arquiteto Paulo
Lima, aproxima o trabalho de construção da casa aos saberes e tradições ligadas ao rio e
às embarcações.
Toda a variedade de linguagens decorativas que podemos encontrar neste edifício
traduz o gosto eclético com que foi erguido, tentando conjugar o clássico com o barroco
e com o gótico presente em alguns vãos, prática muito comum no Portugal oitocentista151.
Muitos outros detalhes poderiam ter sido referidos nesta descrição sobre a Casa Mora,
porém não se justifica a sua menção na presente dissertação, visto que esta não se trata
exclusivamente do estudo deste património, mas também da apresentação da proposta de
um exercício no âmbito da educação patrimonial, trabalhando na sua divulgação.
151 CARVALHO, R. S. – O Século XIX, p. 133.
74
III. O LIVRO INFORMATIVO COMO ESTRATÉGIA DE DIVULGAÇÃO DO
PATRIMÓNIO. PROPOSTA EDITORIAL SOBRE A CASA MORA PARA
CRIANÇAS.
1. A importância do livro informativo na infância.
Nos capítulos anteriores, tivemos oportunidade de analisar a importância que o
património e a educação patrimonial têm na vida dos cidadãos, tanto ao nível do seu
equilíbrio psíquico, como do sentido de pertença e de estima pelas suas identidades e
heranças. Constatámos que existem diversas iniciativas de educação patrimonial que
revertem para a valorização do património nacional e contribuem para uma maior
consciencialização quanto à sua salvaguarda. Investigámos também o património que irá
servir de base para a criação desta proposta, a Casa Mora, edifício do Museu Municipal
do Montijo, revelando alguns dos episódios que ocorreram, tanto na vida do seu primeiro
proprietário, como na própria habitação. Foram observados tanto o exterior como o
interior do imóvel e destacados os seus principais detalhes arquitetónicos e decorativos,
para que o leitor desta dissertação possa conhecer o conteúdo do projeto.
Terminado o estudo mencionado, segue-se a descrição geral da proposta de
salvaguarda que pretendemos apresentar ao Serviço Educativo do Museu Municipal do
Montijo. Consistindo num livro informativo com a estrutura de conto, este pequeno
projeto visa promover a divulgação da Casa Mora junto de crianças com idades
compreendidas entre os 7 e os 12 anos.
Antes de mais, é necessário justificar a nossa escolha em relação ao material lúdico-
didático apresentado nesta proposta, analisando a forma como os livros relacionados com
o património podem constituir uma ferramenta essencial para a educação patrimonial e
para a passagem de informação de geração em geração. Precisamos, portanto, de
compreender que influência tem o livro junto das crianças, para que seja estabelecida uma
maior amplitude de conhecimento e de consciencialização, surgindo assim a estima pelo
património que as rodeia. Neste presente capítulo, iremos abordar o potencial dos livros
como estratégia para educar o olhar da criança, tornando-as mais atentas a tudo o que as
rodeia, no meio de tantos pontos de dispersão.
75
Desde a antiguidade que as narrativas fazem parte do dia-a-dia dos mais novos e o
conteúdo moral das histórias foi sempre instrumento de educação, desde a Idade Média.
Assim sendo, os contos tinham, e ainda hoje têm, uma forte componente pedagógica152.
O Homem teve sempre a necessidade de recordar os acontecimentos do passado e, por
isso, acabou por recorrer à construção de histórias fantásticas com personagens de
determinados eventos como forma de transmissão de informações153.
Atualmente, as nossas crianças deparam-se com inúmeras formas de comunicação, a
maioria provenientes das novas tecnologias, mas a família tem um papel importantíssimo
no diálogo e na interpretação dos eventos da nossa história. No entanto, e por diversas
circunstâncias, a família parece estar cada vez mais distanciada dessa função154. A criança
possui a capacidade de sonhar e é algo que os adultos não fazem, pelo menos com tanta
frequência, devido à realidade do quotidiano a que são forçados a viver sistematicamente.
Pensamos que seja essa a causa da falta de diálogo entre pais e filhos, nos dias que correm,
pois os primeiros não conseguem prescindir da interpretação literal das suas realidades155.
O acesso aos livros está cada vez mais facilitado, visto que há maior oferta.
Recentemente, os livros passaram a competir com as novas tecnologias, com o tablet, os
telemóveis e os jogos de computador. A nova moda do ebook também tem vindo a
prevalecer no quotidiano das comunidades contemporâneas, pois, é possível aceder-lhe
através de um dispositivo com internet, onde quer que se esteja.
Ironicamente, são as novas tecnologias que permitem uma maior aproximação dos
indivíduos aos livros, mas distancia-os uns dos outros, pois, muitas vezes, deixam de
socializar entre si. As novas tecnologias e a internet facilitam a pesquisa de exemplares
junto dos sítios oficiais das editoras, por exemplo, e também auxiliam a exploração de
novos formatos e soluções gráficas. No entanto, mesmo com todas as alternativas e
comodidades que se encontram hoje ao dispor do ser humano, acreditamos que nada
substitui a sensação de folhear as páginas de um livro, nem de sentir o cheiro ou a textura
do papel156.
152 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. Projeto editorial
sobre património histórico-artístico de Lisboa, pp. 43-44. 153 EGAN, K. cit. por Idem, ibidem, p. 73. 154 RODRIGUES, C. – Literatura para a infância em Portugal: conceptualização e contextualização
histórica, p. 162. 155 RIBEIRO, M. – Do desenho à ilustração infantil, p. 64. 156 RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), p. 44.
76
Os livros de arte para a criança podem tornar-se em excelentes recursos para o
processo de aprendizagem, porque existem imensas limitações quanto ao trabalho dos
professores de arte. Segundo Renata Sant’Anna e Valquíria Prates157, há barreiras nas
práticas de ensino de artes na infância, tais como a falta de materiais, a falta de formação
sobre os processos de aprendizagem em artes para os professores da infância e as
dificuldades financeiras que condicionam o acesso por parte das escolas aos museus, aos
centros de arte e/ou aos monumentos. Para preencher esta lacuna, é possível recorrer-se
aos materiais didáticos que, muitas vezes, são inadequados, comprometendo o ensino das
artes e do património. Estando estas crianças privadas do contacto direto com a arte e com
os lugares, o livro poderá ser a solução para estimular o interesse do público infantil pela
arte e pelo património, apesar de esta alternativa nunca conseguir substituir a experiência
de observar as obras na sua dimensão real.
O livro informativo sobre arte destaca-se por ser capaz de contribuir para o
desenvolvimento da compreensão artística e da apreciação estética. Este tipo de livros
tem a capacidade de inspirar as crianças a quererem saber mais sobre os temas trabalhados
e de promover a criação de laços com a história da arte e com o património. De uma
maneira geral, os livros são também peças imprescindíveis na formação de diálogo entre
os indivíduos e ótimos apoios quando se trata da aproximação do público-alvo aos seus
mediadores de leitura, sejam família, professores, ou educadores.
Segundo José Gomes158, o livro infantil é um dos melhores instrumentos que
proporcionam aos mais novos a possibilidade de se tornarem seres humanos mais cultos
e críticos, graças ao gradual domínio da palavra e da competência literária. Aliado à
prática convencional de contar histórias, a literatura em geral, e em particular quando se
destina à infância, desempenha um papel crucial na formação do indivíduo. Gomes refere
que a leitura é capaz de tornar as crianças em adultos capazes de “entender melhor as
alegrias, dores e sonhos de um ser humano; gente capaz de saber enfrentar as duras
realidades da existência, as frustrações e as feridas narcísicas e de empreender um
percurso de vida em sociedade (…).”159
O autor salienta que a leitura participa ativamente na formação de indivíduos que
sabem interagir de forma adequada com os seus semelhantes, tendo como base a
comunicação verbal, a argumentação e a negociação, tanto no exame lógico de problemas,
157 Em “Porque criar uma coleção de livros de arte para crianças”, p. 260. 158 Em “Literatura para a infância e a juventude e promoção de leitura”, p. 5. 159 Idem, ibidem.
77
como na expressão de discordâncias, de protestos ou de afetos. Resumidamente, José
Gomes diz-nos que o livro é uma ferramenta indispensável na educação e na construção
da cidadania.
Segundo André Letria160, quando falamos de livros para a infância, é importante que
estes não lhes sejam impostos, pois, não é suposto que a criança os leia por obrigação. Os
livros também não têm de ser feitos com o propósito de forçar os seus leitores a gostarem
de ler, antes pelo contrário. Primeiro, e falando no caso específico das crianças, estas têm
de gostar daquilo que veem, por isso é aconselhável que os livros a si destinados tenham
ilustrações e imagens apelativas, de modo a que seja estabelecida de imediato a
fidelização do público infantil aos respetivos livros. Assim, a leitura torna-se uma
atividade prazerosa e divertida, tendo em conta que esta se encontra em constante
competição com diferentes meios, como o das novas tecnologias, como já referimos.
Existem imensos livros de caráter informativo no nosso mercado que são formados
apenas por aglomerados de informações dispostas por temas. Tal caraterística faz com
que o prazer da leitura se desvaneça, tornando este tipo de livros em meros instrumentos
auxiliares na aprendizagem das matérias escolares161. Segundo Luisa Villarejo162, um
bom livro informativo para crianças estimula a curiosidade; favorece as conexões com
outros aspetos do tema tratado; desenvolve hábitos e métodos de trabalho intelectual; cria
autonomia de critério; melhora a capacidade de análise; e entretém, enquanto é ampliado
o conhecimento do mundo em que a criança habita.
Porém, para que a proposta que pretendemos apresentar nesta dissertação esteja de
acordo com os interesses do público-alvo e com as suas capacidades interpretativas, é
necessário conhecer as principais caraterísticas e limitações cognitivas da criança entre
os 7 e os 12 anos de vida.
160 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil
em Portugal, Anexo I, p. 113. 161 CARTER, B. cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e
patrimonial. (…), pp. 45-46. 162 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. El uso de otros documentos
(informativos) en la biblioteca escolar del siglo XXI”, p. 316.
78
2. O público-alvo e a sua capacidade de processamento de informação.
Regra geral, a criança recorda mais facilmente informações que sejam diferentes do
seu quotidiano. A partir dos dois anos, a criança começa a conseguir compreender a forma
da narrativa das histórias, principalmente os opostos binários – alegria/tristeza,
coragem/medo, bem/mal, amor/ódio, entre outros – presentes na sua estrutura, bastante
comuns nos contos clássicos163.
Segundo Ana Garralón164, a criança deseja crescer rapidamente e vê tudo o que se
passa ao seu redor a acontecer a grande velocidade. Este desejo em crescer faz com que
os pequenos tenham tendência para querer participar nas questões e atividades do mundo
dos adultos, adorando falar sobre os seus próprios conhecimentos e exibindo-os
orgulhosamente. Garralón diz-nos que a criança quer ser sempre lavada a sério, prefere
que lhe expliquem como é a realidade, não através da infantilização dos assuntos, mas
com sinceridade e clareza. A criança só aceita explicações que sejam honestas e
espontâneas, mesmo que sejam pesadas e abstratas165.
Construindo a sua visão com base na sensibilidade, os mais pequenos interessam-se
vivamente pelas coisas, pois os seus sentimentos manifestam-se “com pureza e sem
ambiguidade.”166 Enquanto os adultos passam o seu tempo a racionalizar, ordenar e
controlar, a criança conhece o mundo com fantasia e emoção puras. Segundo Durlei de
Carvalho Cavicchia167, a capacidade da criança em conhecer a sua realidade é resultado
da relação com o próprio meio, uma vez que a cognição está sempre aliada à afetividade
em todas as fases da adaptação humana.
É precisamente por volta dos sete anos de idade que a atividade cognitiva da criança
torna-se operatória, suscetível à reversibilidade lógica. As trocas cognitivas entre a
criança e a sua realidade são finalmente mais ricas, mais estáveis e mais abertas. Tal como
Jean Piaget168 refere, o essencial a reter é que a criança a partir dos 7 anos começa a pensar
antes de agir e a adquirir capacidades de reflexão gerais, em vez de permanecer nas
163 EGAN, K. cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial.
(…), p. 73. 164 Em “Los libros informativos ya están aqui”, p. 14. 165 BENJAMIN, W. cit. por SCHLESENER, A. – Educação e infância em alguns escritos de Walter
Benjamin, p. 132. 166 SCHLESENER, A. – Educação e infância em alguns escritos de Walter Benjamin, p. 129. 167 Em “O desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida”, p. 4. 168 Em “Seis estudos de psicologia”, p. 42.
79
condutas impulsivas da primeira infância, devido à anterior fase de desenvolvimento,
caraterizada pelo egocentrismo intelectual.
Segundo a perspetiva de Arnold Gesell169, é também a partir dos 7 anos que se verifica
uma diminuição na impulsividade e se dá o aumento de comportamentos de concentração
mental e de capacidades de interiorização, refletindo-se no maior esforço em
compreender e assimilar o mundo exterior. Esta assimilação é ainda feita com base na
intuição, ou seja, face àquilo que a criança sente em determinada situação. Este exercício
das capacidades de compreensão leva a que os mais pequenos tenham maior consciência
de si e dos outros.
Na continuação do raciocínio de Gesell, aos 8 anos estas caraterísticas tendem a
expandir-se e exteriorizar-se em pleno. Em termos afetivos, regista-se uma maior
dependência em relação à família e aos professores, começando a surgir o sentido de
pertença a um grupo, tão importante no processo de apreciação do património e na
capacidade de compreender que este faz parte da sua identidade. A nível intelectual, há
maior capacidade de avaliação das situações e de chegar a conclusões.
Com a continuidade do seu crescimento, a criança estabelece um nível de integração
superior e começa a surgir a motivação pessoal, ou seja, a própria criança encontra razões
para se comportar de determinada maneira e é capaz de tomar iniciativas, envolvendo-se
por completo nas suas tarefas. É aqui que o caráter apelativo do livro tem bastante
importância, visto que a criança começa a saber escolher aquilo que lhe suscita maior
interesse.
Para completar esta teoria de Arnold Gesell, a partir dos 10 anos de idade estabelece-
se um período de consolidação e de generalização do equilíbrio geral. Segundo Gesell, os
10 anos de idade são marcados pela estabilidade emotiva, pelo autocontrolo, pelo sentido
crítico e pela perceção mais apurada, havendo maiores capacidades de raciocínio e de
individualidade, contribuindo em muito, mais uma vez, para o sentido de pertença em
relação ao meio a que a criança pertence.
Jean Piaget170, refere que em termos de compreensão dos tempos históricos e dos
acontecimentos do passado, a criança com 9 ou mais anos de idade começa a ser capaz
de fazer conexões entre eventos de forma consistente, pois, o seu pensamento deixou de
ser egocêntrico, possibilitando a visão dos problemas pela perspetiva dos outros. É aqui
169 Cit. por BORGES, M. – Introdução à psicologia do desenvolvimento, pp. 129-131. 170 Cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), pp.
31-33.
80
que a criança começa a ter perceção das diferentes datas históricas e estima há quanto
tempo atrás é que determinados acontecimentos ocorreram. Todavia, é só a partir dos 11
anos que o indivíduo começa a diferenciar largos períodos de tempo, tal como as diversas
épocas.
Elaborada esta reflexão generalizada sobre as principais caraterísticas do
desenvolvimento dos indivíduos dos primeiros ciclos de escolaridade, resta-nos tentar
compreender que características precisa de ter um bom livro sobre arte e património para
que as crianças o achem significativo e interessante.
3. As estratégias a adotar para uma melhor apreciação do livro.
Como já tivemos oportunidade de perceber, as crianças não aceitam apenas a
simplificação e infantilização dos assuntos, é necessário adaptá-los eficazmente aos seus
interesses e competências cognitivas. Importa perceber que estratégias poderão ser
utilizadas para que o livro informativo infantil consiga chegar ao seu público. As suas
caraterísticas têm que ser concordantes com as da própria criança, para que esta se sinta
verdadeiramente interessada pelos temas e suscite a curiosidade de os conhecer cada vez
mais.
Antes de elaborarmos um projeto editorial sobre determinado assunto, é necessário
conhecê-lo bem e entender os seus destinatários, tentando compreender de que forma
pode ser organizado todo o conteúdo. Segundo Luisa Villarejo171, tem que ser oferecido
aos leitores apenas um tema, de forma concisa para que não lhes semeie dúvidas. A
estrutura do livro pode ser trabalhada com base em perguntas e respostas, em jogos
interativos, e em contos relacionados, ou não, com o mundo da fantasia e/ou com o humor,
onde se transmite os derivados assuntos de forma mais divertida.
É aconselhável que a narrativa empregue no livro tenha pontos de viragem
significativos, para que a atenção dos leitores seja mantida. Segundo José Gomes172, as
narrativas para o público infantojuvenil podem assumir contornos novelísticos,
explorando por exemplo a clássica temática da «viagem no tempo», de modo a que sejam
transmitidos factos históricos e personalidades do passado, enquanto é trabalhada a
componente da imaginação e da curiosidade. Um livro sem o fator da surpresa não
171 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 311. 172 Em “Literatura para a infância e a juventude e promoção de leitura”, p. 7.
81
consegue alcançar a atenção do leitor infantojuvenil, pois, este último deixa de se sentir
cativado pela leitura e não se estabelece uma relação com o imaginário do indivíduo.
A criança poderá sentir-se mais entusiasmada ao ler um livro que lhe ofereça uma
narrativa com momentos de tensão e de expectativa, cuja história seja desvendada aos
poucos, suscitando o interesse em querer ler e em querer descobrir as revelações
seguintes. Caso o livro esteja incluído numa coleção, acreditamos que seja proveitoso que
a narrativa não se encerre em si mesma, pois, assim é permitida a continuação da história
ao longo de toda a respetiva coleção, incentivando a leitura de livro após livro. Neste
caso, para que a narrativa do último livro faça sentido, é necessária a leitura do primeiro,
facto que permite uma maior afeição às personagens, quando existentes, e mais interesse
pelos temas trabalhados.
Para que a narrativa conquiste o público, é necessário que seja identificado
primeiramente tudo aquilo que é emocionalmente importante no tema. Kieran Egan173
sugere que devem ser encontrados os opostos binários presentes no tema, sejam lutas
entre o bem e o mal, seja a persistência ou desistência de determinadas personagens, ou
até o amor ou o ódio que possa existir entre elas. Egan salienta ainda que é importante
que os conceitos binários forneçam pistas sobre os assuntos que se pretendem tratar e que
deve escolher-se o conteúdo de maneira a articular toda a história de forma clara, tendo
em conta as metáforas que esta sugere.
A linguagem tem que ser acessível, para que seja percetível a mensagem que se deseja
passar, e os factos abordados têm de ser limitados àquilo que é realmente importante
trabalhar com o público, de modo a que a leitura da obra não fique comprometida. À
criança de 11 ou 12 anos de idade, podem ser oferecidos livros com diferentes níveis de
informação, sendo utilizados anexos ou comentários à margem, verdadeiros apoios ao
texto principal.
Toda a informação documental precisa de ser exata e rigorosa. Embora a narrativa
possua um caráter lúdico e novelístico, os factos tratados não podem ser ficcionais, pois
como já tivemos oportunidade de constatar, no primeiro capítulo desta dissertação, a
história não pode ser deturpada em momento algum.
Segundo Villarejo174, um livro histórico destinado a crianças e a jovens tem que conter
nele uma extrema coerência científica baseada em documentação. Para a autora, tanto o
173 Cit. por RICARDO, C. – O livro infantil como ferramenta na educação artística e patrimonial. (…), p.
74. 174 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 323.
82
método literário, como o grafismo têm que acompanhar a realidade das crianças,
apresentando um aspeto atualizado face à era contemporânea.
4. A ilustração enquanto mediadora entre o livro e o leitor.
Atualmente, os indivíduos em geral encontram-se rodeados e expostos a variados
estímulos visuais que chegam pelos diversos meios de comunicação. Segundo Marta
Ribeiro175, a imagem ocupa grande parte do quotidiano das populações, e esta situação é
capaz de provocar instabilidade emocional. Assim sendo, o papel do ilustrador passa por
sensibilizar o público, dando-lhe exemplos de imagens que vão ajudá-lo a entender os
lugares que o rodeiam.
A autora refere ainda que as crianças do século XXI são constantemente tentadas pelas
imagens animadas dos programas de televisão, dos jogos de computador e da internet,
por isso, é necessário o recurso à ilustração, não só para atrair a atenção da criança para
o livro, mas também para que as imagens sem preocupação estética não sejam a sua única
realidade. A ilustração auxilia assim o processo de literacia visual da criança, visto que
estimula a sua perceção, a sua imaginação, e aumenta o seu sentido de observação e de
apreciação estética.
Quando se trata de um livro para a infância, a ilustração é uma forma pedagógica de
acesso à leitura, pois, tal como nos diz Villarejo176, as ilustrações permitem suscitar o
interesse do público que não aprecia a prática da leitura. Para a autora, a abundância de
imagens faz com que a criança folheie um livro e satisfaça a sua curiosidade sem ter de o
ler obrigatoriamente. Se as ilustrações lhe interessarem o suficiente, a criança irá dirigir-
se ao texto para saber mais.
A ilustração deve de ter uma relação muito próxima com o texto, interpretando-o e
auxiliando na comunicação entre o leitor e a situação narrada. É uma forma do público
ter a perceção imediata daquilo que vê. Nelly Coelho177 refere que só através da palavra,
a criança teria dificuldades em perceber todo o enquadramento das histórias. Segundo a
175 Em “Do desenho à ilustração infantil”, p. 22. 176 Em “Libros documentales y de información para niños y jóvenes. (…)”, p. 318. 177 Cit. por BAIÃO, A. – Experiências de leitura na narrativa gráfica: o papel do designer na criação de
livros sem texto, p. 25.
83
autora, as ilustrações tocam a sensibilidade dos mais pequenos, permitindo a estimulação
da sua imaginação através da dita relação do texto com a imagem.
Maioritariamente, o ensino encontra-se concentrado na alfabetização dos indivíduos
e na criação de hábitos de leitura, mas não se educa o olhar da mesma forma. O ensino
deve focar-se também na contemplação e no «saber ver», prática essencial na educação
patrimonial, e o livro ilustrado ajuda a apurar os sentidos da criança e a despertar o seu
olhar.
Marta Ribeiro178 refere que as ilustrações podem dar à criança o sentido de identidade
pessoal e uma maior consciencialização da sua herança cultural. Ribeiro salienta que as
ilustrações eliminam estereótipos e corrigem noções erradas de cultura. Uma criança em
desenvolvimento conhece muito pouco do que a rodeia e a ilustração tem como objetivo
informar e dar a conhecer o que ainda há por descobrir. Para além disso, a ilustração
apresenta-se como uma ferramenta auxiliar no processo de mediação de leitura por parte
dos pais e educadores, visto que, muitas vezes, estes podem não conseguir explicar, por
palavras suas, certas circunstâncias da narrativa.
No fundo, a ilustração é um meio para contar a história através de imagens, tendo
sempre a preocupação de ligar cada uma delas ao excerto do texto a que se destina, visto
que a criança procura sempre elementos comuns entre a imagem e a narrativa. Contudo,
a ilustração também pode contar a sua própria história e “deve permitir às pessoas que
leem o livro, poder imaginar mais qualquer coisa para além daquilo que está naquele livro,
para além daquilo que está naquela história e naquela ilustração.”179
Desta forma, podemos afirmar que a ilustração não pretende representar fielmente o
que está escrito, mas sim sugerir ao leitor outras possibilidades de imaginar a história
empregue no livro, recriando-a. Se todos os pormenores apresentados na ilustração
fossem narrados integralmente, os textos seriam extremamente longos e pesados. Assim,
o aspeto descritivo da ilustração conta com uma série de caraterísticas que são
apreendidas no ato de leitura da imagem, não sobrecarregando a narrativa.
A ilustração ganha então autonomia, evitando redundâncias em relação ao texto,
sugerindo diversas leituras de forma implícita, embora tenha sempre como ponto de
partida a história contada. Os livros ilustrados acabam por ser mais estimulantes aos olhos
do público, primeiro, porque as imagens chamam a atenção do olhar, e segundo, porque
178 Em “Do desenho à ilustração infantil”, p. 63. 179 LETRIA, A. cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do
livro infantil em Portugal, Anexo I, p. 106.
84
a observação de uma ilustração constitui um momento de pausa, onde o leitor recorre ao
imaginário e se desprende da leitura sucessiva de texto após texto.
Terminada a abordagem sobre a importância da ilustração para a infância, resta-nos
refletir sobre as estratégias que podem tornar as imagens presentes nos livros infantis mais
apelativas ao olhar. Se assim for, a experiência de folhear, de apreciar e de ler o livro
poderá ser bem mais agradável e perpetuará na memória da criança leitora.
Antes de mais, o processo criativo da ilustração para crianças não pode ser restritivo,
o ilustrador precisa de ter liberdade para interpretar a história à sua maneira e representá-
la a pensar também no adulto. Como refere André Letria180, o agrado do adulto pela
linguagem plástica de um livro sugere grandes vantagens económicas, visto que os livros
são objetos comerciais, que passam pelos pais antes de chegarem às crianças. Todavia, a
satisfação do adulto ao observar determinado livro estabelece uma maior afeição e ligação
entre pais e filhos durante a prática da leitura, porque os primeiros envolvem-se também
na atividade.
Os crescidos têm um papel fulcral na mediação entre a criança e o livro, pois alguns
temas podem ser difíceis de entender, sendo imprescindível a elucidação por parte de um
adulto. Assim sendo, a ilustração para a criança, por exemplo, de 7 anos não deve estar
unicamente destinada a essa faixa etária, como se fosse interdito ao adulto, ou a crianças
de outras idades, apreciar os seus grafismos. “Um bom livro para a infância tem que ser
também um bom livro para os adultos, (…)”, refere Margarida Botelho181, com o que
concordamos, porque, se o livro infantil for bem ilustrado e bem pensado, irá cativar e
sensibilizar igualmente o adulto.
Nos últimos tempos, ocorreu uma notável expansão no mundo da ilustração para os
livros. Aos poucos, a imagem saiu dos limites impostos pelas cercaduras simétricas e
pelas margens das páginas, instalando-se no centro do livro e competindo pelo olhar do
leitor. Tradicionalmente, a ilustração cingia-se ao enquadramento que lhe era destinado,
delimitado por linhas, molduras ou por fundos coloridos, porém, atualmente encontramos
livros cujas imagens não apresentam qualquer tipo de limitação, podendo ocupar páginas
inteiras e convivendo com o texto. Nestes casos, a criança irá tentando descobrir o sentido
da imagem e da narrativa em simultâneo, visto que estes últimos acabam por formar um
todo.
180 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil
em Portugal, Anexo I, p. 106. 181 Cit. por Idem, ibidem, Anexo I, p. 151.
85
Acreditamos que este método pode tornar-se ligeiramente confuso no que diz respeito
a livros sobre arte e património, pois o leitor poderá não conseguir percecionar na íntegra
os detalhes da imagem da obra ou do acontecimento que se propõe explorar. Cremos que
tem que ser dada uma certa «liberdade» à ilustração, contudo, achamos que a
sobreposição de texto sobre a mesma aparenta ser uma estratégia demasiado arriscada,
que talvez resulte no excessivo ruído visual, acabando por gerar pouco entendimento do
conjunto por parte do público.
Tendo em conta o estilo da ilustração a aplicar, podemos dizer que não há
obrigatoriedade de trabalhar determinadas linguagens gráficas nos livros infantis, porém,
há estilos que podem cativar mais as crianças de uma certa idade, enquanto outras podem
não se interessar tanto. Este processo é ditado pela apreciação, sempre diferente em cada
indivíduo, por isso uma criança de 11 ou 12 anos pode interessar-se pelo grafismo de um
livro para o público de 7 anos, embora possa achar ligeiramente infantil o seu conteúdo,
se este estiver exclusivamente destinado aos mais novos.
Segundo João Fazenda182, o tipo de imagem que aparece nos livros destinados a
crianças até aos 9 anos é muito mais interessante no ponto de vista gráfico do que a que
surge nos livros juvenis. Para o ilustrador, os mais novos têm maior disponibilidade para
ver e brincar, fator que se vai perdendo ao longo do crescimento, e a ilustração torna-se
muito mais aliciante ao seu olhar quando apresenta valores muito plásticos ao nível da
cor e da textura dos materiais. Estas imagens podem estabelecer uma relação
surpreendente com o texto e aliciar a curiosidade até dos mais crescidos. Quanto aos livros
juvenis, Fazenda refere ainda que muitas vezes apresentam um aspeto muito
estereotipado, relacionado com a linguagem da animação televisiva standard, o que no
ponto de vista do ilustrador, deixa de ser interessante, visto que é uma tipologia vulgar.
Os próprios jovens preferem esse tipo de estímulos, porque acham-se já demasiado
crescidos para livros coloridos e plásticos. João Fazenda termina esse tema dizendo que
o público jovem opta por grafismos muito fortes, muito duros, com ligação à manga e aos
jogos de computador. Tal como o ilustrador, também nós acreditamos que assim “se perde
o tal terreno que se pode ganhar com a própria educação visual, que passa pela educação
pelos livros infantis ilustrados do olhar, do gosto pelas cores e formas, que pode ser
despertado.”183
182 Cit. por AZEVEDO, C. – Imagens para a infância. Processos construtivos da ilustração do livro infantil
em Portugal, Anexo I, p. 137. 183 Idem, ibidem.
86
Sobre este assunto, Pedro Morais184, diz-nos que os desenhos para o público mais
velho tendem em ser mais realistas e anatomicamente mais corretos, pois os jovens são
mais exigentes quanto a isso, embora não seja obrigatório. No entanto, para o ilustrador,
um bom desenho consegue agradar tanto à criança como ao adulto. A ideia de que o
desenho mais simples e infantil, despido de detalhes, está destinado unicamente aos mais
novos é errada, pois a própria criança também gosta de andar à procura e descobrir
pormenores na imagem.
Em suma, qualquer estilo pode adaptar-se a qualquer público, sem que seja necessário
criar linguagens gráficas específicas para determinadas faixas etárias. Contudo, é
importante que o ilustrador tenha em atenção a quantidade de elementos descritivos que
emprega no desenho, de modo a que este não fique sobrecarregado de informação.
Terminada esta investigação sobre a importância do livro informativo e da leitura na
infância, sobre o desenvolvimento cognitivo da criança e sobre as estratégias a adotar
para que um livro se torne apelativo aos olhos desta, seguem-se a descrição e as ideias-
chave referentes à proposta para o livro sobre o património que estudámos anteriormente.
5. “A casa do Sr. Domingos”. Uma proposta editorial para a divulgação da Casa
Mora, Museu Municipal do Montijo.
Como já tivemos oportunidade de referir, esta proposta consiste na criação de um
livro informativo com a estrutura de conto para crianças com idades compreendidas entre
os 7 e os 12 anos, cujo conteúdo irá incidir sobre a investigação elaborada acerca da Casa
Mora, atual sede do Museu Municipal do Montijo. No capítulo anterior, vimos que o
estudo deste património em particular poderá ser enriquecedor para a história local e para
a salvaguarda do património concelhio, e por isso, um livro infantil sobre este tema poderá
também constituir uma mais-valia para a sua divulgação e salvaguarda.
Há diversos fatores que contribuem para a falta de investimento em atividades de
educação patrimonial em torno do imóvel. O primeiro, como já destacámos, consiste na
carência de informação histórica sobre o edifício, não permitindo uma investigação
aprofundada, por exemplo, sobre os detalhes de construção ou sobre os motivos que
levaram os antigos proprietários a optar por determinadas linguagens decorativas. Toda a
184 Cit. por Idem, ibidem, Anexo I, p. 137.
87
informação que conseguimos recolher baseia-se em testemunhos que passaram de
geração em geração até aos nossos dias e deve-se também à observação de cada pormenor
do edifício. Sem este sucessivo diálogo não seria possível estabelecer uma ligação ao
edifício nem surgiria a apreciação estética do mesmo. É esse o objetivo deste livro, incutir
no público-alvo a curiosidade em contemplar e descobrir ou redescobrir a casa, olhando-
a com outros olhos e apreciando-a.
O segundo fator revela-se na falta de recursos humanos por parte do Serviço
Educativo municipal, pois as equipas têm demasiado poucos elementos na sua
constituição, o que impossibilita o planeamento e concretização de atividades. Mediante
este cenário, e tendo em conta todas as vantagens que o livro poderá trazer para a
educação dos indivíduos, julgamos ser esta a solução mais viável no que toca à liberdade
que os serviços municipais teriam na execução desta estratégia de dinamização do seu
património.
Neste capítulo, salientámos algumas das pertinências da utilização do livro, desde o
auxílio na formação de indivíduos de uma maneira geral, ao desenvolvimento da literacia.
Vimos que o livro pode ser uma ferramenta útil para o despertar da cidadania, do sentido
crítico e da apreciação estética. Pode também ser um excelente apoio na aprendizagem
das matérias escolares, como na aproximação das comunidades à arte, porém existem
outros fatores que nos levaram a definir esta estratégia do livro como a mais interessante.
Em primeiro lugar, visto que o Serviço Educativo existente na Casa Mora, como já
foi referido, carece de recursos humanos, o livro poderá ser uma ferramenta bastante útil
no ponto de vista do alívio da carga horária devido a agendamentos de atividades. A
leitura do livro sobre património não necessita obrigatoriamente de visitas orientadas pelo
edifício, pois, a leitura pode ser feita tanto em contexto escolar, sendo os professores os
mediadores de leitura, como em contexto doméstico.
Na era do consumismo, da comunicação, dos media, das novas tecnologias e das redes
sociais, seriam muitas as alternativas de valorização da Casa Mora que estariam à nossa
disposição. Poderíamos ter optado por criar aplicações de telemóvel, jogos de
computador, ou atividades em grupo dentro do próprio espaço, mas continuamos a
acreditar que o livro, grande sobrevivente no âmbito do contexto da modernidade, deveria
ter o seu destaque neste projeto.
As novas tecnologias prejudicam, mesmo que a longo prazo, a saúde ocular dos
indivíduos. O sucessivo foco nos pequenos ecrãs dos smartphones, dos tablets e dos
computadores podem causar lesões oculares, por vezes irreversíveis, desde tenra idade. É
88
certo que a prática da leitura, quando em demasia, também pode provocar situações de
cansaço, mas em comparação com o ecrã de um telemóvel, julgamos não ser tão imediato,
devido à ausência de brilho nas folhas de papel.
Como já foi comentado anteriormente, cremos que as novas tecnologias nos
distanciam uns dos outros. Os indivíduos passam minutos ou horas seguidas com os olhos
postos nos jogos, nas mensagens trocadas, por vezes com pessoas que estão mesmo ao
seu lado, ou nas páginas das redes sociais, à procura de novas formas de interagir com a
restante sociedade, descurando o tempo necessário para si próprios.
No caso do património, este acaba por sofrer com esta mesma falta de reflexão. O ser
humano parece não lhe dar atenção, mesmo quando tira um pouco do seu tempo para o
visitar. Parece haver pouca disponibilidade para a contemplação e apreciação, para o
desenvolvimento da curiosidade sobre o património e para a tentativa de descoberta da
história. Mesmo em tempos de férias, as novas possibilidades de registar o momento
torna-nos cada vez mais distantes dele.
Atualmente, observamos o património e os eventos culturais através de uma máquina
fotográfica ou de uma câmara de telemóvel. Se não forem tiradas as fotografias do
acontecimento, é como se este nunca tivesse existido, sendo cada vez mais a exigência de
que a fotografia fique perfeita, com o intuito de ser partilhada com o resto do mundo, na
internet. Assim, a experiência do indivíduo é validada pelos outros, pelo número de
«gostos» que recebe, tornando a prática de recordar o passado num sistema de partilhas
sociais. Este paradigma não tem de ser de todo mau ou errado, basta que seja equilibrado
e o livro pode contrariar a compulsão do registo e da partilha imediata do momento, visto
que o conteúdo presente no livro já se encontra registado nele e é permanente, tornando
a experiência o mais pessoal possível.
O livro aproxima os indivíduos de si próprios, mas também, uns dos outros. Um leitor,
quando a sós, tira tempo para si mesmo ao ler um livro, levando a um momento de
autoconsciência; em ambiente escolar, as crianças poderão ler, apreciar a narrativa e as
imagens, tirar conclusões e partilhar com os seus colegas, dialogando em tempo real; em
ambiente familiar, os mediadores de leitura poderão também usufruir de um bom
momento com os mais pequenos, pois o património chega a todos, e, tal como já fizemos
referência, um bom livro para crianças é igualmente um bom livro para adultos.
Justificada a escolha do livro como ferramenta desta proposta, iremos referir o que
nos levou a optar por este público-alvo em específico. É na infância que tudo começa, é
quando somos pequenos que descobrimos o mundo da forma mais genuína possível, e
89
iniciamos o processo de traçar o caminho para os interesses futuros. Assim sendo,
acreditamos que a educação patrimonial deve ter início desde cedo.
Apesar das crianças mais pequenas não terem a perceção do tempo histórico nem das
diferentes épocas, deve começar-se a incutir desde tenra idade o gosto por querer
conhecer o passado e o fascínio pela nossa identidade, tendo os contos como
intermediários, uma vez que as crianças gostam de histórias. Quanto mais uma criança se
aproxima da consciencialização de proteger o seu património, mais se revela protetora do
património dos outros. Não queremos com isto dizer que todos os indivíduos devem
reconhecer todo o tipo de património como tal, até porque já tivemos oportunidade de
verificar no primeiro capítulo desta dissertação, que o património será tudo aquilo com
que nos identificamos, mas deve haver obrigatoriamente respeito mútuo pelas diversas
manifestações da cultura, essencial ao progresso do ser humano em geral.
Este livro, destinado a crianças dos 7 aos 12 anos, poderá ser um excelente apoio na
aproximação dos indivíduos a essa consciencialização. Dirige-se a crianças que já sabem
ler e têm maior entendimento dos assuntos, podendo estes ser tratados de forma mais
abrangente, sem que no entanto se tornem exaustivos. Estas crianças já reconhecem datas
e grandes períodos de tempo, conseguindo ter a perceção da época e do contexto em que
a Casa Mora surgiu.
Quando olhamos para este imóvel, rapidamente percebemos que não pode ser
ignorado. Trata-se de um património único no concelho, uma casa nobre do século XIX,
que auxilia bastante o entendimento dessa época, da mentalidade e dos gostos das gentes
da antiga vila de Aldeia Galega. Naquele tempo, não havia os sistemas de construção que
temos atualmente, por isso, percecionar e imaginar como poderia ter sido a edificação de
uma habitação deste género aproxima-nos de imediato ao desejo da sua salvaguarda.
A escolha do tema não foi, portanto, difícil. A imponência do edifício não passa
despercebida – e a verdade é que o espaço foi escolhido para Museu Municipal –, mas a
sociedade contemporânea, tal como já abordámos, está em constante movimento e
aceleração, o que por vezes impede a contemplação de tudo aquilo que está para lá da sua
rotina e das suas deslocações diárias. O facto de um indivíduo já estar acostumado à
presença de determinados elementos artísticos na sua área de residência e no seu dia-a-
dia, faz com que não os olhe com atenção. Este projeto visa aproximar o imóvel sobretudo
às gentes da terra, mas também dá-lo a conhecer à população em geral.
Revelados os principais motivos para a escolha das caraterísticas deste livro
informativo, iremos partir para a descrição física da proposta. Como foi brevemente
90
estudado, as crianças não aceitam a infantilização dos temas, basta que os abordemos de
forma clara, genuína e estrategicamente bem conseguida.
A narrativa deste livro terá caraterísticas como a acessibilidade, a exatidão e o rigor
histórico. Apesar do texto apresentar a estrutura de conto, de história ficcionada, as
informações não serão deturpadas. Iremos recorrer ao mundo da imaginação e da fantasia
para aproximar as crianças ao património, fazendo-as recuar até ao século XIX, através
de um «portal do tempo», como se conhecessem a Casa Mora diretamente na sua época.
Acreditamos que esta estratégia poderá ser bastante elucidativa para que seja possível
a compreensão por parte das crianças de que existe o passado e que esse é relevante para
o futuro. A temática da «viagem no tempo» também aparenta estar cada vez mais presente
na vida das comunidades, como podemos constatar pela concretização de eventos
municipais e de atividades de época, já para não falar da quantidade de documentários,
séries e filmes cuja história se baseia no recuo de personagens no percurso temporal, para
resolverem determinados assuntos do passado. Entre a emoção da narrativa e do
envolvimento entre as diferentes personagens, são dadas informações de acontecimentos
ocorridos em determinadas épocas.
Para que a narrativa do livro resulte, será selecionado primeiramente todo o conteúdo
com mais significado, mais emoção e maior relevância. No ponto de vista das crianças, e
para que o livro não seja exaustivo, a história da Casa Mora transmitida terá de ser
equilibrada, excluindo-se a carência de informações disponibilizadas, tal como o seu
excesso. Os indivíduos não aceitam textos infindáveis, mas também sentem a falta de
suporte histórico e de interesse quando os assuntos são abordados superficialmente, por
isso é importante que estes estejam articulados de forma explícita. Os conceitos binários
estabelecidos entre personagens podem também enquadrar os acontecimentos da
narrativa de forma clara.
Hoje em dia, e no meio de tantos pontos de dispersão, ler poderá tornar-se numa
atividade cansativa para os mais novos quando os textos aparentam não ter pontos de
viragem, expectativa, tensão ou emoção. O fator da surpresa é bastante importante para
que seja mantido o foco de atenção. A pressa para jogarem mais um jogo, por exemplo,
pode não permitir que a concentração da criança esteja estabelecida na leitura, por isso
estratégias como recorrer à ideia de fantasia e de aventura, a utilização do humor, bem
como a descoberta da história aos poucos, serão utilizadas. Como o público-alvo desta
proposta aparenta ser exigente, visto que há risco das crianças de 12 anos acharem
demasiado infantil o conteúdo dos livros e as ilustrações para os mais novos, iremos tentar
91
equilibrar e enquadrar tanto os assuntos como a linguagem, de modo a que não sejam
inalcançáveis por parte dos mais pequenos, nem insignificantes para os mais crescidos.
Pensa-se que a disposição do texto, o espaçamento entre linhas e a harmonia dos
alinhamentos também poderão ser fatores que contribuem para uma maior vontade em
descobrir o que está escrito. Realçando a frase popular de que «os olhos também comem»,
neste caso, cremos que o primeiro olhar estabelece de imediato uma ligação de interesse
ou desinteresse para as soluções gráficas e para a leitura. Para este efeito, pensamos que
o tipo de letra também precisa de ser o mais simples possível, não apresentando rigidez
(aspeto bold) para a visão das crianças e despertando uma certa leveza na leitura, tornando
a atividade mais prazerosa.
Julgamos ser proveitoso para a estima do património e para a educação patrimonial
da região o facto da história deste livro não se encerrar em si mesma, pois, tal como já
fizemos alusão, assim será possível estabelecer a sua continuidade, criando afinidade
entre o leitor e as personagens e uma maior procura e vontade de descoberta de outros
tipos de património da cidade. Uma coleção deste formato sobre o património e a arte do
Montijo, poderá constituir uma mais-valia para a valorização do património e para a
educação patrimonial dos indivíduos da região, sem que haja muito esforço ou aumento
da carga horária das equipas responsáveis pelos espaços.
Um livro com base em perguntas e respostas estabelece uma certa dinâmica, pois, este
esquema será motivo para que se olhe o tema mais que uma vez, estimulando a procura
de conhecimentos. Visto que um texto para as crianças mais crescidas poderá conter
informações laterais e auxiliares, acreditamos que fazer uso desse esquema poderá ser útil
na definição de conceitos ou de termos artísticos que possam surgir durante o decorrer da
narrativa. Uma vez que o livro irá conter ilustrações, a própria imagem pode ser detentora
de elementos explicativos desses assuntos tratados no texto, como se de comentários à
margem se tratassem.
Como a criança aprecia o jogo, a interatividade, acreditamos que o conto só estará
completo se conter em si pequenos momentos lúdicos que visam estabelecer um contato
direto entre a criança e o tema do livro. Todavia, talvez se perdesse a continuidade da
narrativa se fossem criados enigmas durante o percurso da história, pois, assim o fio
condutor da narrativa e o raciocínio dos leitores quebrar-se-iam.
Devido a este possível efeito, optámos por propor a colocação de pequenos jogos
como anexo do livro, na continuidade do texto e das ilustrações, assim, a criança irá
compreender integralmente o conto sem dispersões e testar os seus conhecimentos sobre
92
o que reteve dele. As últimas páginas do livro serão então dedicadas à comunicação entre
as personagens e as crianças, onde serão lançados desafios sobre a Casa Mora. Aqui, mais
uma vez, tentaremos equilibrar os conteúdos e a dificuldade dos jogos, para que não sejam
tomados como demasiado difíceis pelos mais pequenos, nem demasiado fáceis para os
mais crescidos.
No que toca às ilustrações, estas serão pensadas consoante o momento-chave da
narrativa presente em cada página, auxiliando a comunicação entre o leitor e o texto. As
imagens serão pensadas como uma forma de acesso à leitura, pois, como já referimos, a
ilustração pode suscitar o interesse do público que não aprecia ler, visto que a abundância
de imagens permite-lhe desenvolver interesse pelo texto. Tendo em conta esta perspetiva,
as imagens irão ocupar grande parte das páginas do livro, sem qualquer limitação ou
margens, competindo em grande escala com a narrativa pela atenção do olhar da criança.
Não tendo qualquer tipo de cercadura e contendo sobretudo fundos neutros, o
alinhamento do texto será conjugado com os detalhes das imagens, sem que haja
sobreposição de elementos. Parece-nos ser esta uma prática bastante harmoniosa de tratar
o conjunto texto-ilustração, havendo também dinâmica na solução gráfica.
De maneira geral, as imagens irão apresentar harmonia entre as cores e alguma
simplicidade, de maneira a que estas cheguem a todas as idades. Os tons poderão ser
sobretudo pastel e a mancha aparenta ser uma boa solução quanto às exigências do
público infantil e do público juvenil. Assim, a componente plástica permanece, enquanto
os detalhes se apresentam realistas, indo ao encontro das realidades das diferentes idades,
visto que os mais pequenos apreciam a diversidade de pormenores, das texturas e das
cores, enquanto os mais velhos gostam de imagens mais realistas.
Os conteúdos das imagens irão estar sempre relacionados com os detalhes decorativos
da Casa Mora, com as personagens presentes no livro e com as diferentes situações da
narrativa, prestando auxílio ao momento narrado e aos conceitos destacados nas
respetivas páginas adjacentes. Pensa-se que a perspetiva e a anatomia não têm que
representar fielmente a realidade, pois se assim fosse, não dariam azo à criatividade e à
imaginação dos leitores.
Destacamos como exemplo um livro, que de certa forma abriu-nos horizontes para a
estruturação desta proposta, intitulado de “El Madrid de los Austrias contado a los niños”,
de Maria Aguado Molina, com ilustrações de Pilarín Bayés de Luna, das Edições Miguel
Sanchez. Neste livro, a história de Madrid é contada através da fantasia, onde quatro
personagens, crianças, vão ao encontro do século XVIII, após se aperceberem que uma
93
das meninas retratadas na obra “As Meninas de Velazquez”, em exposição no Museu do
Prado, se move no próprio quadro e os convida a viverem uma aventura pelo passado. As
próprias ilustrações estão cheias de detalhes e convivem harmoniosamente com o texto,
não havendo contornos, nem limites, embora todos os elementos se enquadrem uns nos
outros. Este exemplo mostra ser muito relevante para esta proposta, visto que
consideramos ter sido uma excelente estratégia para transmitir alguns dos acontecimentos
históricos às crianças pequenas, tendo como ponto de partida uma personagem de um
quadro.
Fig. 36. Capa do livro “El Madrid de los Austrias contado a los
niños”, de Maria Molina e Pilarín de Luna. Edições Miguel
Sanchez, 2006.
Um outro exemplo de relevância foi “Lisboa”, de David Pintor e da editora
Kalandraka, que mostrou ser bastante original no ponto de vista da criatividade com que
o património da cidade de Lisboa é tratado. Consiste num livro baseado numa coleção de
imagens, como se de um álbum de viagem se tratasse. O autor dá a conhecer a capital
portuguesa segundo a sua imaginação, com elementos fantasiosos, como peixes voadores,
ou passeios de barco junto à Assembleia da República. Existe um texto inicial, cuja
conjugação verbal encontra-se na primeira pessoa do singular, facto que transmite a ideia
de diário autobiográfico, característica fascinante na literatura, capaz de aproximar os
leitores à experiência da personagem narradora.
94
Fig. 37. Capa do livro “Lisboa”, de David Pintor185.
Este género de narrativa será muito interessante quando ligada à componente ficcional
da «viagem no tempo», criando empatia entre o público e a personagem que conta a sua
própria história, permitindo que este se identifique com as suas emoções e expectativas
ao longo da mesma. Neste campo, “A casa do Sr. Domingos” conta pelo menos com duas
personagens do nosso tempo, Carlos e Laura, crianças de 12 anos, que irão conviver com
a vila de Aldeia Galega e com a Casa Mora do século XIX. Nesta história, personalidades
como Domingos Tavares, Margarida Inácia dos Anjos, Maria Antónia Tavares e Manuel
Justiniano Mora, entre outras, irão fazer parte de um elenco que irá transmitir aos leitores
as informações necessárias ao entendimento da história do Montijo e do atual edifício do
Museu Municipal, através de uma narrativa fantasiosa, cujo objetivo é não deixar os seus
leitores indiferentes.
185 Imagem retirada do catálogo online da editora Kalandraka.
95
96
CONCLUSÃO.
Esta dissertação tinha como objetivo refletir sobre as questões do património, da
educação patrimonial, e apresentar uma investigação com base na Casa Mora, atual
edifício sede do Museu Municipal do Montijo, acompanhada por uma breve proposta de
divulgação. Ao longo de todo este estudo, verificou-se que o património é demasiado
importante na vida dos cidadãos para ser descurado, esquecido ou subvalorizado. É certo
que o excessivo aglomerado de memórias pode afetar o percurso natural do presente e
dificultar o desenvolvimento humano, mas enquanto existem determinados testemunhos
do passado, há que salvaguardá-los e protegê-los para que sejam levados às gerações
seguintes.
Verificou-se que, nos dias que correm, existem cada vez mais iniciativas que nos
permitem sentir o património como parte da nossa identidade e nos levam a conhecer
outras culturas e comunidades. Analisámos algumas delas e percebemos que são muito
importantes, pois aproximam-nos da apreciação estética e da consciencialização quando
ao sentido de pertença a um lugar.
A sociedade atual vive em constante movimento e acreditamos que esta dissertação
é uma chamada de atenção para a constante azáfama do ser humano e para a falta de
recolhimento e de reflexão. Existem demasiados pontos de dispersão entre o Homem e as
suas manifestações de cultura, o que muitas vezes dificulta a permanência num
determinado foco de atenção, e o património e a educação patrimonial acabam por ser
«vítimas» deste sistema. No fundo, esta investigação, ao tratar todos estes temas,
constituiu um apelo à consciencialização quanto à importância do património para o nosso
progresso, para o nosso equilíbrio psíquico e para o nosso bem-estar.
Analisámos diversas alternativas que trabalham em conjunto com a educação
patrimonial, de modo a que nos aproximemos das nossas heranças com mais vontade e
ânimo. Facilmente percebemos que todas elas constituem uma mais-valia para o
conhecimento de nós próprios e da nossa cultura.
Ao estudarmos a Casa Mora e o seu contexto histórico, facultámos uma série de
informações que, de uma maneira ou de outra, contribuíram para que mais indivíduos
conheçam uma das principais construções montijenses, que muito oferece ao
enquadramento artístico local. Trata-se de uma antiga habitação, do ano de 1875, que nos
mostra parte dos gostos da sua época, das influências arquitetónicas e do estilo de vida
das famílias endinheiradas.
97
Estudar a Casa Mora, não só presta um contributo à comunidade como abre portas a
novas consciências quanto à sua salvaguarda, pois imaginar as dificuldades que poderiam
ter passado os indivíduos encarregados da sua edificação e a minúcia com que os artistas
trabalharam nas suas decorações, estabelece à partida uma forte ligação com este
património. Um dos objetivos desta dissertação era esse mesmo, fazer os seus leitores
imaginarem e refletirem sobre a relevância que esta casa tem no contexto patrimonial do
Montijo e dá-la a conhecer a quem nunca ouviu falar dela.
A proposta de livro infantil sobre este edifício, atual Museu Municipal do Montijo, é
uma vantagem em termos de serviço educativo e no âmbito da educação patrimonial.
Como pudemos constatar, a educação patrimonial deve ser iniciada desde cedo na vida
dos indivíduos, e o livro revelou-se bastante útil nessa tarefa.
Nesta dissertação, defendemos a temática do livro como apoio da educação,
principalmente por ser uma ferramenta que não depende necessariamente das novas
tecnologias. O livro aproxima as pessoas e é bastante aliciante, visto que tudo o que passa
pela rotina dos mais pequenos – jogos de computador, telemóveis, tablets – já se tornou
vulgar. O livro ainda resiste e luta contra os paradigmas típicos da fragmentação social,
tais como a despreocupação estética, a dispersão e a falta de momentos de reflexão e de
recolhimento.
Defender o livro nesta dissertação pareceu-nos o mais lógico, e sensibilizar a
comunidade para a aproximação à leitura foi uma das nossas principais escolhas. Nada
melhor do que provocar o desejo pela leitura e pelo conhecimento da história e do
património, estando o livro infantil, neste caso, ligado à Casa Mora, um testemunho do
passado que tanto merece atenção, como estima.
Temos consciência que o mundo do património e da educação patrimonial é
demasiado vasto, tendo-se feito apenas um breve estudo generalizado sobre estes
assuntos. O mesmo aconteceu com a questão da importância do livro infantil, com a
cognição da criança e com as principais estratégias para a elaboração de um livro, visto
que o espaço para todas estas informações na dissertação era limitado e também não era
suposto sobrepor a restante investigação ao estudo da Casa Mora.
Tendo em conta este último estudo, acreditamos que não era possível aprofundá-lo
muito mais, pois era necessária uma seleção de conteúdos, contudo, foi-nos apenas
possível comparar a arquitetura da casa com as restantes construções locais da época e
através da observação do edifício, foram feitas apreciações sobre o aspeto exterior e
interior. É claro que há sempre muito mais a dizer, porque acaba por haver pormenores
98
que escapam, daí terem sido necessárias várias visitas ao imóvel e várias conversas
informais com os responsáveis e com as entidades que, de uma maneira ou de outra, já se
debruçaram sobre o espaço – como por exemplo, o arquiteto Rogério Dias, responsável
pela recuperação do jardim; a Dra. Fernanda Pinho, que companha as visitas orientadas
pelo edifício; e Joaquim Baldrico, que elaborou uma investigação aprofundada sobre
Domingos Tavares. Foram, portanto, reunidos os testemunhos mais significativos e feita
uma reflexão pessoal sobre este património, para que conseguíssemos compilar e
transmitir todas as informações necessárias à elaboração da proposta de livro para
crianças.
Infelizmente, não nos foi possível adicionar o apêndice onde se revelaria o enredo da
narrativa o livro, e onde se colocariam exemplos de ilustrações, devido ao tempo limitado,
maioritariamente ocupado pela busca de informações sobre os diferentes temas tratados
nos primeiros capítulos. Apenas conseguimos assegurar a descrição das principais ideias-
chave que irão compor o projeto, bem como as estratégias já delineadas, garantindo de
futuro a sua realização.
99
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