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PROPOSTA DE UMA SEDE SUSTENTÁVEL PARA A COMUNIDADE MORADA DA PAZ Caroline Kehl (1), Luís Fernando C. Felix (2), Cecília G. da Rocha (3), Juliana T. Cruz (4), Kátia R. Ruivo (5), Ana Garcia (6), Miguel A. Sattler (7), (1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (2) Engenheiro civil, Mestrando pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (3) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (4) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (5) Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (6) Bióloga, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Agronomia na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected] (7) PhD, Professor pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e- mail: [email protected] RESUMO Proposta: A comunidade Morada da Paz, estabelecida na zona rural da cidade de Triunfo, RS, em 2002, é uma organização civil de direito privado sem fins lucrativos. É composta por famílias que buscam uma vida diferenciada da tradicional vida urbana. Suas linhas de ação são a investigação sobre dinâmica social, a produção agroecológica de hortifrutigrangeiros, a valorização ambiental, a promoção da saúde holística e a qualificação educacional. Com o objetivo da construção da sua sede comunitária definitiva, a instituição entrou em contato com o NORIE 1 no intuito de que fosse projetada uma edificação mais sustentável do que as tradicionais. Desta forma, uma equipe de alunos passou a desenvolver uma proposta de projeto para esta edificação. Método de pesquisa/Abordagens: Foram usadas como ferramentas do processo a especificação de eco materiais e de soluções tecnológicas racionais que propiciem, entre outros aspectos, o bom uso de recursos finitos como a água e a energia, a redução da poluição e a melhoria da qualidade de vida. Resultados: O estudo propõe o adequado aproveitamento das condições climáticas locais, o aproveitamento de água da chuva, o tratamento de efluentes, o uso de materiais locais, renováveis e de menor impacto ambiental – inclusive árvores do próprio terreno – e o paisagismo privilegiando o uso de espécies nativas. Contribuições/Originalidade: Uso de estratégias mais sustentáveis na concepção de projetos arquitetônicos. Palavras-chave: edificações sustentáveis; projeto sustentável; comunidade sustentável. ABSTRACT Propose: The Morada da Paz community is a private non-profit organization placed in Triunfo (RS) city. It is composed by families that aim at a distinct life style, different from the traditional urban 1 NORIE é o Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação, laboratório do Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. - 248 -

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PROPOSTA DE UMA SEDE SUSTENTÁVEL PARA A COMUNIDADE MORADA DA PAZ

Caroline Kehl (1), Luís Fernando C. Felix (2), Cecília G. da Rocha (3), Juliana T. Cruz (4), Kátia R. Ruivo (5), Ana Garcia (6), Miguel A. Sattler (7),

(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(2) Engenheiro civil, Mestrando pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(3) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(4) Arquiteta e Urbanista, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(5) Engenheira Agrônoma, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(6) Bióloga, Mestranda pelo Programa de Pós Graduação em Agronomia na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

(7) PhD, Professor pelo Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na UFRGS, Brasil, e-mail: [email protected]

RESUMO

Proposta: A comunidade Morada da Paz, estabelecida na zona rural da cidade de Triunfo, RS, em 2002, é uma organização civil de direito privado sem fins lucrativos. É composta por famílias que buscam uma vida diferenciada da tradicional vida urbana. Suas linhas de ação são a investigação sobre dinâmica social, a produção agroecológica de hortifrutigrangeiros, a valorização ambiental, a promoção da saúde holística e a qualificação educacional. Com o objetivo da construção da sua sede comunitária definitiva, a instituição entrou em contato com o NORIE1 no intuito de que fosse projetada uma edificação mais sustentável do que as tradicionais. Desta forma, uma equipe de alunos passou a desenvolver uma proposta de projeto para esta edificação. Método de pesquisa/Abordagens: Foram usadas como ferramentas do processo a especificação de eco materiais e de soluções tecnológicas racionais que propiciem, entre outros aspectos, o bom uso de recursos finitos como a água e a energia, a redução da poluição e a melhoria da qualidade de vida. Resultados: O estudo propõe o adequado aproveitamento das condições climáticas locais, o aproveitamento de água da chuva, o tratamento de efluentes, o uso de materiais locais, renováveis e de menor impacto ambiental – inclusive árvores do próprio terreno – e o paisagismo privilegiando o uso de espécies nativas. Contribuições/Originalidade: Uso de estratégias mais sustentáveis na concepção de projetos arquitetônicos.

Palavras-chave: edificações sustentáveis; projeto sustentável; comunidade sustentável.

ABSTRACT

Propose: The Morada da Paz community is a private non-profit organization placed in Triunfo (RS) city. It is composed by families that aim at a distinct life style, different from the traditional urban

1 NORIE é o Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação, laboratório do Programa de Pós Graduação da Engenharia Civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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life style. The community’s goals are social dynamics investigation, agro-ecological production, holistic health promotion and educational qualification. The community has contacted NORIE asking for collaboration in the development of a community house project, that would be more sustainable than those traditionally built. Associated to a discipline requirement, a team of postgraduate students of the civil engineering program developed the building project. Methods: The tools used for the project development were: the specification of ecological materials, rational technological solutions (which promote the responsible use of finite resources such as water and energy), pollution reduction and enhancement of life quality. Findings: The paper proposes the use of bioclimatic architecture; use of rainwater; wastewater treatment; use of local, renewable and low impact materials (including local tree species from the site) and the landscape design. Originality/value: Use of more sustainable strategies in the conception of an architectural project.

Keywords: sustainable buildings; sustainable projects; sustainable communities.

1 INTRODUÇÃO

1.1 A Comunidade Morada da Paz

A Comunidade Morada da Paz é uma organização civil de direito privado sem fins lucrativos que tem como linhas de ação: (1) a investigação da dinâmica social, (2) a produção agroecológica de hortifrutigranjeiros, (3) o desenvolvimento e a valorização ambientais, (4) a produção de saúde holística e (5) a promoção e qualificação educacionais.

A comunidade é composta por profissionais de diversas áreas – Saúde, Educação, Engenharia, Economia, Comunicação e Agroecologia – e pelas famílias desses profissionais, todos ex-moradores de Porto Alegre, que optaram por unir suas rendas e adquirir um terreno na zona rural da região metropolitana, no município de Triunfo. O local possibilita praticar a vida em comunidade, além de outros preceitos que eles consideram relevantes para sua qualidade de vida, como o contato efetivo com a natureza.

Na época do projeto, a comunidade contava com quatorze componentes, entre adultos e crianças, que dividiam duas casas, com aproximadamente 50m² cada uma. Porém, esse espaço estava muito aquém de suas necessidades. Na busca por um projeto de uma nova edificação comunal, o grupo entrou em contato com o NORIE (Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e a partir de então, uma equipe de profissionais mestrandos, coordenada pelo professor responsável pela Linha de Pesquisa em Edificações e Comunidades Sustentáveis, elaborou uma proposta para sua sede, que foi baseada nos princípios da sustentabilidade.

1.2 Os Recursos

A principal restrição imposta ao projeto referia-se aos recursos financeiros, que no caso eram bastante escassos, devendo este fato ser encarado como premissa. No entanto, havia a disponibilidade de um bosque de eucaliptos no local escolhido pela comunidade para a implantação da edificação. Tendo em vista que o eucalipto é uma espécie exótica, a idéia norteadora para o projeto deveria prever a utilização dos troncos desta árvore.

2 OBJETIVO

O objetivo deste artigo é demonstrar o uso de estratégias de minimização de impactos ambientais e econômicos aplicadas à implantação e ao projeto arquitetônico da nova sede da Comunidade Morada da Paz.

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3 MÉTODO

3.1 Captação de requisitos

Para que fosse iniciado o processo de projeto, foi feita visita à área pertencente à Comunidade, onde os profissionais mestrandos que participariam da elaboração puderam conhecer alguns dos seus componentes, bem como suas necessidades. Os projetistas fizeram um passeio de reconhecimento pela propriedade com os integrantes da comunidade, momento em que os requisitos do projeto foram captados. Apontado o lugar da implantação da casa, escolhido pela comunidade e acordada pelos mestrandos, foi realizada uma medição expedita dos níveis do terreno.

Em um segundo momento, os profissionais projetistas entrevistaram uma das integrantes da casa, de modo a entender plenamente o funcionamento da Comunidade. A entrevistada respondeu sobre os dados demográficos da comunidade: números de casais, de solteiros adultos e de crianças. Ela foi questionada também sobre as principais vantagens e desvantagens da vida em comunidade, com relação aos espaços que eles possuem.

3.2 Estratégias sustentáveis

Além de captar os requisitos dos usuários da nova sede, a contribuição dos mestrandos se deu no sentido de incorporar seu conhecimento sobre edificações sustentáveis no projeto. A concepção do objeto foi pensada de forma holística, de modo a incorporar estratégias referentes ao uso racional de água e energia, gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos, conforto ambiental, materiais de construção de baixo impacto, paisagismo produtivo e manejo florestal.

Para atender a essas estratégias, soluções de ventilação e iluminação naturais, controle de temperatura interno, reuso de componentes de edificações, captação de águas pluviais, tratamento local de efluentes, produção local de alimentos, tratamento local de resíduos orgânicos, entre outras, estão presentes no projeto.

4 ANÁLISE DE RESULTADOS

4.1 Premissas: ampliação e flexibilidade

A Comunidade Morada da Paz conta, hoje, com a seguinte composição: 3 casais, 2 adultas solteiras e 6 crianças. Entretanto, ela pretende receber mais membros com o passar do tempo, o que deve ser traduzido na possibilidade de expansão da casa.

Além disso, tendo em vista o passar dos anos e a transformação social e financeira que possa sofrer a comunidade, a flexibilidade dos ambientes deve ser prevista, a fim de que a sede possa continuar sendo adequada às mudanças de funções, tamanhos e disposição dos ambientes.

Tento em vista o cumprimento dessas duas premissas, o partido de projeto foi concebido em módulos iguais externamente, que se repetem e podem ser adicionados à medida que haja necessidade de ampliação. Além de regrar os aumentos futuros, a modulação traz o benefício da repetição da construção, que conta com o efeito aprendizagem da sua mão-de-obra. (BECK; COOPER, 2003)

Inicialmente serão implantados três módulos, que contarão com o espaço necessário às condições atuais. Porém, mesmo esses três módulos podem ser construídos em etapas de acordo com os recursos disponíveis. (Figuras 1 e 2)

Internamente, a planta admite algumas possibilidades de divisão, tornando o layout suficientemente flexível para a escala de uma habitação, como poderá ser observado nas representações do projeto arquitetônico.

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4.2 Projeto arquitetônico

A implantação da edificação no terreno foi feita de acordo com quatro fatores: o alinhamento com a divisa e o perfil natural do terreno, a forma de ampliação proposta, a posição solar e a vista para um lago próximo. As curvas de nível da topografia do terreno são aproximadamente paralelas à cerca que o delimita, sugerindo que a edificação seja disposta também paralela à divisa. No entanto, para que a radiação solar seja possível em todos os cômodos, foi proposta uma leve inflexão da posição sugerida inicialmente. O limite da inflexão se deve às futuras ampliações, que acompanham a linha da divisa, mantendo dela um afastamento uniforme.

Figura 1 – Implantação esquemática do projeto.

Figura 2 – Representação de vista geral da implantação

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A vista para o lago sugeriu a implantação da varanda e área comum da edificação, e guiou o partido das divisões internas do projeto. No módulo mais a leste, portanto, estão localizadas as funções comuns a todos os moradores: salas de estar e jantar, cozinha e lavanderia (Figura 3).

Figura 3 – Projeto arquitetônico: planta baixa 3 módulos.

Figura 4 – Projeto arquitetônico: fachada principal 3 módulos.

Esses cômodos dão acesso a uma varanda que circunda o módulo e serve, ora como área de lazer e estar, ora como área de serviço para estender roupas em área aberto-coberta. Este foi um dos requisitos dos moradores, por haver grande quantidade de integrantes e, consequentemente, roupas, o que tornava a atividade inviável em longos períodos chuvosos. A varanda conta com um anexo (com vista para o lago) para reunião do grupo ao ar livre, em volta do fogo, atividade que já é praticada pelo grupo.

A horta, a estufa e o pomar, para cultivo de alimentos, foram dispostos de forma a ser fácil seu acesso a partir da cozinha, como propõe o zoneamento permacultural. (MOLLISON, 1998)

Os demais módulos abrigam a biblioteca, que poderá ser acessada por público externo à comunidade, e área de estudos, que foi requerida pelos integrantes, além dos dormitórios – o dormitório coletivo das crianças no módulo central e os demais no módulo subseqüente, mais reservado do público visitante. Entre os módulos, foram localizados os sanitários, separados em 2 partes: o sanitário seco e o banho.

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Todos os cômodos contam com ventilação e iluminação naturais. Para que haja ventilação cruzada, foi proposto um lanternim e janelas altas nas paredes do corredor. Essas janelas podem ser abertas ou fechadas, através de um sistema de mola, batente e corda para a operação. Dessa forma, é possível operar o sistema, adequando-o à situação (Figura 5). Além disso, visando ainda o conforto térmico no interior da edificação, está prevista a instalação de um forno/lareira/fogão2 para minimizar o frio na área de convívio, e de telhado verde, para promover maior inércia térmica da edificação (MORAIS, 2004).

Figura 5 – Projeto arquitetônico: corte transversal pelos quartos, mostrando ventilação cruzada.

4.3 Estratégias de minimização de impactos ambiental e econômico

4.3.1 Telhado verde

Considerando a incidência solar e tendo em vista a tendência de coberturas vegetais estabilizarem as temperaturas evitando os extremos, seu emprego na edificação, além de privilegiar aspectos estéticos e de integração ao meio ambiente, contribuirá com seu isolamento térmico (MORAIS, 2004).

4.3.2 Aproveitamento da água da chuva

De forma a racionalizar o consumo de água na casa, estão previstos a captação da água da chuva e seu posterior aproveitamento. Desta forma, a água passará previamente por um filtro e será armazenada em uma cisterna, onde abastecerá pontos de consumo para fins não potáveis (MANO; SCHMITT, 2004).

4.3.3 Tratamento dos efluentes

Considerando a utilização de sanitários secos, os resíduos líquidos gerados serão somente do tipo “águas cinzas”. Elas são provenientes de pias, lavatórios e chuveiros, e serão conduzidas para uma caixa de gordura e filtro de areia (figura 6). Após, para polimento, em um lago com plantas aquáticas no jardim (ERCOLE, 2003).

4.3.4 Banheiro seco

O sanitário seco, cujo sistema já é dominado e utilizado pela comunidade, é composto de três partes: a cabine de uso; câmaras de compostagem e o sistema mecânico de adição de material orgânico seco, rico em carbono, como serragem, aparas de grama e cascas de arroz (figura 6). As câmaras de compostagem ficam abaixo do vaso sanitário, de modo a promover o aquecimento solar e a ventilação do material para favorecer o processo de compostagem. A ventilação é garantida por 2 Projeto dos alunos KUHN, ZANIN; PROFES na disciplina Projetos Regenerativos em Prática, no ano de 2004, no Norie/Ufrgs.

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um duto/chaminé, que através de um processo chamado termossifão (ventilação solar), torna o sanitário inodoro. A câmara conta, ainda, com duas portas no nível do solo que facilitam a retirada do material tratado – com uma enxada, por exemplo (SARTI et al., 2006).

Figura 6 – Projeto arquitetônico: corte transversal pelos banheiros, mostrando banheiro seco e tratamento dos efluentes.

4.3.5 Sistemas de construção em madeira

Tendo em vista a utilização de troncos de eucalipto como principal material a ser empregado na construção, foram apresentadas duas técnicas construtivas, a ser escolhida pelos moradores da comunidade, de acordo com as peculiaridades de cada uma. As técnicas correspondem às duas principais alternativas de construção com troncos: (1) sistema Parede, composto por sobreposição de troncos formando paredes estruturais. O seu travamento é realizado através de cruzamento de toras entalhadas. (2) sistema Pilar e Viga, composto por esqueleto estrutural com fechamento posterior independente da estrutura (INO et al.,1992). Embora se tenha levantado duas possibilidades construtivas, a proposta deu ênfase ao sistema Parede (também conhecido como sistema Log Homes) visto que ele possibilita um melhor aproveitamento das toras, sendo este então o apresentado nas representações gráficas (Figura 7).

Figura 7 – Representação da aparência de um sistema de construção tipo Log Homes.

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Desta forma alguns aspectos foram considerados relevantes para a qualidade do projeto e da execução. O projeto se ateve a alguns detalhes construtivos como beiral largo, piso elevado, varanda em deck, calhas de águas pluviais para coletar e direcionar as águas da chuva e a colocação de pedriscos numa pequena faixa ao redor da edificação. A equipe de projeto também se preocupou com relação à seleção dos troncos, devendo-se observar os seguintes aspectos: a retidão de fuste, rachadura de topo, conicidade e os defeitos da superfície rolante (INO et al., 1992).

4.3.6 Reuso de componentes de edificações

O reuso e a reciclagem de recursos reduzem a geração de resíduos e de extração de matéria-prima virgem, contribuindo para a sustentabilidade das construções (HILL; BOWEN, 1997). Assim, é proposto para o projeto, a reutilização de componentes de edificações, tais como esquadrias, instalações hidrosanitárias (cubas, pia de cozinha, tanque, etc) e elétricas (luminárias, tomadas, interruptores, etc). Esses componentes encontram-se disponíveis em diversas revendedoras de materiais de demolição de Porto Alegre, com preços cerca de 40% inferiores do que os produtos novos. Também se sugere a separação das funções da esquadria, ventilação e iluminação, em duas partes distintas: uma com vidro fixo e outra aberta e vedada apenas por um batente de madeira. Essa separação permite que a esquadria seja confeccionada a partir de vidros e madeiras usados, materiais de baixo custo e disponíveis em revendas de materiais de demolição.

4.3.7 Compostagem

Foi ensinado aos integrantes da comunidade sobre como aproveitar os resíduos de forma correta para a compostagem, que já é atividade desenvolvida por eles. A compostagem de baixo custo envolve processos simplificados e é feita em pátios onde o material a ser compostado é disposto em pilhas ou leiras de compostagem (PEREIRA NETO, 1996).

4.3.8 Coletor solar de baixo custo para aquecimento de água

É indicado para esse projeto o uso do aquecedor solar de baixo custo (MUSSKOPF; SATTLER, 2006), tendo em vista que o sistema utiliza materiais reciclados, de descarte e de baixo impacto ambiental, o que vem ao encontro da falta de recursos financeiros da comunidade. Nesse caso, a água armazenada ganha em torno de 3°C nos períodos de inverno. O sistema pode, então, ser complementado pelo aquecimento por serpentinas que ganham calor dentro do forno-lareira-fogão ou por um chuveiro elétrico na posição verão. Isso representa bastante economia energética e financeira no caso do número de pessoas usuárias dos chuveiros. É possível observar, na referência, que mesmo dispondo de baixa eficiência, o sistema apresenta uma boa economia e permite sua amortização em um ano.

4.3.9 Manejo Florestal

Elaborou-se um plano de ação com uma lista de espécies nativas para substituição e regeneração dos bosques de mata secundária no local. Para que tal feito seja realizado, devem ser observadas as características da dinâmica sucessional das espécies, bem como a dispersão por animais. A vegetação proposta tem como funções a conservação e a recuperação do solo, a alimentação da fauna, o tratamento medicinal, além de servir como eficiente barreira de ventos.

5 REFERÊNCIAS

BECK, H.; COOPER, J. Glenn Murcutt, a singular architecture practice. Images Publishing Group, Australia. 255p, 2003.

ERCOLE, L. A. S. Sistema modular de gestão de águas residuárias domiciliares: uma opção mais sustentável para a gestão de resíduos líquidos. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto Alegre, 2003. 192pp.

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HILL, R.; BOWEN, P. Sustainable construction: principles and a framework for attainment. Construction Management and Economics. n.15, 1997. p.223-239.

INO, A.; JUNIOR, O. B.; GALINDO, R. Uma alternativa de construção em toras de eucalipto, experiência do Centro de Vivência do Horto Florestal de Ecoporanga – ES. In: ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA, 4., 1992, São Carlos. Anais... São Carlos: IV EBRAMEM, 1992.

INO, A. et al. Construção em toras de eucalipto, experiência de construção de unidades de alojamentos na Reserva Florestal da Companhia Vale do Rio Doce, Linhares – ES. In: ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EM ESTRUTURAS DE MADEIRA, 4., 1992, São Carlos. Anais... São Carlos: IV EBRAMEM, 1992.

MANO, R. S.; SCHMITT C. M. Captação residencial de água pluvial, para fins não potáveis, em Porto Alegre: Aspectos básicos da viabilidade técnica e dos benefícios do sistema. In: CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 10, 2004, São Paulo. Anais... São Paulo: ANTAC, 2004.

MOLLISON, B.; SLAY, R. M. Introdução à Permacultura. PNFC, 1998.

MORAIS, C. S. Desempenho térmico de coberturas vegetais em edificações na cidade de São Carlos, SP. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) Programa de Pós Graduação em Construção Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004. 108pp.

MUSSKOPF, D. B.; SATLLER, M. A. Aquecedor de água por energia solar de baixo custo mais sustentável In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 11, 2006, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ANTAC, 2006.

OLIVEIRA, D. P. et al. Considerações sobre a introdução de requisitos ambientais para projeto de edificações no contexto brasileiro. In: WORKSHOP BRASILEIRO DO PROCESSO DE PROJETO NA CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS, 4, 2004. Anais... Rio de Janeiro, 2004.

PEREIRA NETO, J.T. Manual de compostagem: processo de baixo custo. Belo Horizonte: UNICEF, 1996. 56p.

SARTI, A. et al. Tratamento de esgoto sanitário utilizando reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais In: Engenharia sanitária ambiental. n11:73-82, mar. 2006. ilus, tab, graf. Projeto: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo; PRONEX. 99/06152-8.

SATTLER, M. A. et al. Estratégias Sustentáveis para o Refúgio Biológico Bela Vista. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS, 3, 2003, São Carlos. Anais... São Carlos: ANTAC, 2003.

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