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PROPOSTA DE UM FRAMEWORK
PARA O PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO
ECOINOVADOR
Germano Mendes Rosa (IFMG )
Efeitos colaterais advindos do consumo em massa, sem a devida
consideração ambiental, vêm sendo claramente percebidos. A
relevância da preocupação ambiental em todas as ações, processos e
procedimentos organizacionais se mostra evolutiva, uuma vez que de
vários ângulos esta questão é percebida como diferencial ou quase
obrigatória, principalmente pela visão de consumidores e de outros
stakeholders. A literatura dispõe de alguns poucos ensaios tangendo de
forma significativa as questões ambientais no processo de
desenvolvimento de produto (PDP), porém os mesmos carecem de
estruturação que indiquem métodos e ferramentas que possam ser
utilizados nas diferentes etapas do PDP. Pretende-se, portanto,
contribuir para suprir essa lacuna por meio da proposição de um
framework com indicações de métodos e ferramentas para auxiliar o
processo de desenvolvimento de produtos ecoinovadores (PDPEI).
Para tanto, buscou-se na literatura conceitos essenciais ligados à
ecoinovação e um elenco de métodos e ferramentas de apoio para
serem destacados como boas práticas. Como resultado, tais métodos e
ferramentas foram sistematizados analiticamente em consonância com
as etapas do PDPEI na forma de um framework, visando auxiliar
projetistas e gestores nas tomadas de decisão.
Palavras-chave: Ecoinovação, processo de desenvolvimento de
produto ecoinovador, ferramentas, métodos
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
Efeitos colaterais advindos do consumo em massa, sem a devida consideração ambiental, vêm
sendo claramente percebidos. Entre os mais importantes, observa-se a exaustão de recursos
naturais, aumento do descarte (lixo), deterioração da qualidade de vida das populações,
desastres ambientais não naturais em função do aumento da poluição e consequente
degradação do ar, da água, do solo e dos ecossistemas.
Por sua vez, sabe-se que a capacidade de suporte dos ecossistemas naturais não é infinita, o
que faz despertar grande incerteza sobre o futuro quando observado o presente panorama de
degradação ambiental.
A relevância da preocupação ambiental em todas as ações, processos e procedimentos
organizacionais se mostra evolutiva, uma vez que de vários ângulos esta questão é percebida
como diferencial ou quase obrigatória, principalmente pela visão de consumidores e de outros
stakeholders (MORILHAS; NASCIMENTO, 2007).
Em função da emergente exigência de postura proativa das organizações às questões
ambientais, a área responsável pelo processo de desenvolvimento de produtos (PDP) tornou-
se alvo de estudo, objetivando viabilizar, além de novas tecnologias e soluções técnicas,
também novas conformações organizacionais e novos procedimentos operacionais
(KAWAMOTO; SANTOS; JABBOUR, 2007).
Na literatura encontram-se alguns ensaios com esse objetivo, porém os mesmos carecem de
estruturação indicativa de métodos e ferramentas que possam ser utilizadas nas diferentes
etapas do PDP. Pretende-se, portanto, contribuir para suprir essa lacuna.
O propósito deste trabalho é propor um framework com indicações de métodos e ferramentas
para auxiliar o processo de desenvolvimento de produtos ecoinovadores (PDPEI).
Para tanto, buscou-se na literatura conceitos essenciais ligados à ecoinovação e um elenco de
métodos e ferramentas de apoio para serem destacados como boas práticas. Como resultado,
tais métodos e ferramentas foram sistematizados analiticamente em consonância com as
etapas do PDPEI na forma de um framework.
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Este trabalho está estruturado da forma indicada na Tabela 1.
Tabela 1 – Organização estrutural do artigo
Seção Descrição
1 Introduz o assunto e o propósito do trabalho
2 Apresenta-se uma visão geral do processo de desenvolvimento de produto (PDP)
3 Apresentam-se o conceito de ecoinovação e a descrição de ferramentas e métodos ecoinovadores
4 Apresenta-se o framework para o processo de desenvolvimento de produto ecoinovador (PDPI)
5 Apresentam-se as considerações finais
Fonte: Elaboração própria
2. Processo de desenvolvimento de produto
Tradicionalmente o processo de desenvolvimento de produto (PDP) era visto como uma
simples elaboração de um conjunto de informações referentes a especificações de um produto,
a forma de produzi-lo e sua disponibilização para a manufatura. Todavia novas abordagens
vêm o PDP como um processo que integra as áreas de desenvolvimento e manufatura e ainda
as cadeias de suprimento e distribuição (ROSENFELD et al., 2006).
Para Rosenfeld et al. (2006), a estruturação do PDP a auxilia o gerenciamento, o
entendimento e a comunicação entre diversos envolvidos no desenvolvimento do projeto,
viabilizando a implantação e a integração de métodos, técnicas e sistema de apoio ao PDP.
Tal modelo deve descrever não somente as atividades, mas também os resultados esperados,
os responsáveis, os recursos disponíveis, as ferramentas de suporte e as informações
necessárias ou geradas pelo processo. O modelo gerencial geral determina o desempenho do
desenvolvimento do produto e a competência de a empresa controlar o processo de
desenvolvimento e de manter interface com o mercado e com fontes de inovação tecnológica.
O PDP também envolve, além das informações acerca das necessidades de mercado, aspectos
relacionados a métodos, fases do ciclo de vida do produto, padronizações e outras exigências,
tecnologias, administração e regras de projeto (MIÑO; RADOS, 2001).
Morilhas e Nascimento (2007) resumiram cronologicamente as principais concepções
descritivas das etapas do PDP, como mostra a Tabela 2.
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Tabela 2 - Resumo cronológico das principais concepções das etapas que encerram o processo
de desenvolvimento de produto
Fonte: Morilhas e Nascimento (2007, p. 3)
3. Ecoinovação
Para considerar a abordagem de ecoinovação, é necessário o conceito engenharia sustentável.
O termo engenharia sustentável pode ser interpretado como a aplicação dos conhecimentos
técnico e científico em favor do atendimento das necessidades humanas, em diferentes
estruturas sociais, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem as suas
próprias necessidades (SELIGER; KERNBAUM; ZETTL, 2006).
Percebe-se, pois, que o conceito de engenharia sustentável depende diretamente da
observação das necessidades humanas globais em equilíbrio com a capacidade de
fornecimento de recursos naturais.
Tal equilíbrio somente se torna possível se as estratégias de inovação tecnológica empregadas
nos produtos e processos de manufatura contemplarem procedimentos, métodos e tecnologias
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voltadas para o aumento da produtividade dos recursos naturais e energéticos, tanto quanto
possível.
Além disso, a consolidação e sistematização de uma cadeia de logística reversa eficiente pode
contribuir significativamente para a diminuição do descarte desnecessário através da
ampliação do reuso, atividades de coleta, remanufatura e reciclagem de produtos,
componentes e materiais, fechando assim o ciclo econômico.
Melhorias significativas no tocante ao aspecto ambiental podem ser alcançadas por meio da
investigação dos aspectos ambientais enquanto considerados parâmetros de otimização no
desenvolvimento de produto. O projeto do produto com orientação ambiental tem sido bem
discutido na literatura sobre a forma de ecoconcepção, DfE (design for environment) e projeto
sustentável (SHARMA; MANEPATIL; SHARMA, 2011).
A ecoinovação tem recebido ao longo dos anos uma diversidade de nomenclaturas, tais como:
projeto verde, ecoconcepção, desenvolvimento de produto ecológico, projeto para
sustentabilidade, projeto de produto sustentável, projeto ambiental, projeto ambientalmente
consciente, projeto do ciclo de vida e projeto para “X”, onde o “X” pode ser substituído por
diferentes objetivos, tais como: meio ambiente, remanufatura, desmontagem, reciclabilidade,
dentre outros (WONG, 2001 apud ÁGUAS, 2006).
A ecoinovação visa agregar valor a produtos e processos na perspectiva dos consumidores e
dos negócios, contudo com sensível diminuição de impacto ambiental, considerando aspectos
ambientais já nas etapas iniciais do processo de desenvolvimento de novos produtos
(JOHANSSON; MAGNUSSON, 1998; JONES; HARRISON; MCLAREN, 2001).
3.1. Ferramentas para ecoinovação
Existem diversas ferramentas de projeto que podem contribuir significativamente para o
processo de ecoinovação. Em particular, existem aquelas voltadas para a geração de ideias,
podendo citar o tradicional brainstorming. Complementarmente, outras ferramentas tais como
o eco-compass podem ser usadas para gerar pontos-chave de partida para estruturar a sessão
de brainstorming, paralelamente se prestando também a avaliar e comparar a relevância de
novos conceitos de produtos. De forma especial, as ferramentas Standard Product Design
Form (SPDF) e Product Idea Tree (PIT), além de contribuírem com o processo de geração de
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ideias, elas auxiliam também a documentação das etapas do processo ecoinovador (JONES;
HARRISON; MCLAREN, 2001).
3.1.1 Análise do ciclo de vida
Os procedimentos de análise do ciclo de vida (ACV) fazem parte da norma internacional ISO
14000, sendo apresentados dentro das ISO 14040:2006 e ISO 14044:2006 (SHARMA;
MANEPATIL; SHARMA, 2011).
A ACV funciona como ferramenta da gestão ambiental (GIANNETTI et al., 2008), servindo
como técnica para avaliação sistemática dos aspectos ambientais e dos potenciais impactos
relacionados a um produto, processo ou sistema, compreendendo etapas que vão desde a
retirada das matérias-primas elementares na natureza que entram no sistema produtivo, até a
disposição final de resíduos, conhecida como análise do “berço ao túmulo” (BAUER;
MACIEL FILHO, 2004).
A técnica de ACV pode ser empregada em qualquer fase do desenvolvimento do produto,
contudo, seu maior potencial ocorre nas fases de análise e desenvolvimento do conceito do
produto (SHARMA; MANEPATIL; SHARMA, 2011), onde há um maior universo de opções
para tomadas de decisão.
Pode-se citar como ponto fraco da ACV o custo. Um levantamento completo demanda
considerável quantidade de dados, implicando em consumo de tempo e de recursos
financeiros (JENSEN et al., 1997).
3.1.2 Standard product design form
O Standard Product Design Form (SPDF) desmembra o desenvolvimento de um produto
cronologicamente em estágios, permitindo rever, de forma estruturada e consistente, estudos
de caso ecoinovadores. Essa ferramenta pode ser útil para determinar onde as ferramentas e
metodologias de ecoinovação se encaixam no processo de desenvolvimento do produto. Isso é
feito tomando-se como base o relacionamento entre o estágio do processo e a resposta
esperada e vice-versa (JONES; HARRISON; MCLAREN, 2001).
Segundo Jones, Harrison e McLaren (2001), a utilização do SPDF deve seguir as seguintes
orientações:
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a) O produto da ideia proveniente do estudo de caso é relacionado ao tipo de saída a que
mais se assemelha, determinado dessa forma o estágio teórico do processo de projeto e
atividade requerida;
b) O tipo de atividade de projeto pode ser classificado através da observação do produto
da ideia proveniente do estudo de caso e a atividade de projeto em cada estágio pode
ser realizada a partir da combinação de três diferentes tipos de atividades: coleção de
informações, síntese (pensamento divergente) e análise (seleção de ideias).
Figura 1 – Esquema do Standard Product Design Form com os estágios de desenvolvimento
do produto
Fonte: Adaptado de Jones, Harrison e McLaren (2001, p. 30)
3.1.3 Product idea tree
O Product Idea Tree (PIT) é um diagrama que constitui um tipo de mapa híbrido,
esquematizado a partir de elementos do SPDF e mapa mental de Buzan, se assemelhando
visualmente ao eco-compass. É muito útil para revisar ideias resultantes de oficinas de
inovação criativa (JONES; HARRISON; MCLAREN, 2001). A Figura 2 apresenta um
esquema genérico de diagrama PIT.
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Figura 2 - Esquema genérico de um diagrama PIT aplicado à avaliação de ideias
ecoinovadoras
Fonte: Adaptado de Jones, Harrison e McLaren (2001, p. 34)
O PIT pode ser utilizado em todas as fases do PDPI, com a vantagem de documentar de forma
visualmente organizada as ideias e seus desdobramentos gerados ao longo do processo de
desenvolvimento.
3.1.4 Diagrama emergético triangular
Diagramas emergéticos triangulares (DET) são ferramentas gráficas baseadas em diagrama de
fases e são utilizados para análise emergética, ou seja, para avaliação da energia total
absorvida por determinado produto, processo ou serviço, cuja unidade de medida é o seJ
(joules de energia solar). A utilização de diagrama ternário na análise emergética possibilita
representar bidimensionalmente a demanda de recursos divididas em três categorias:
renováveis (R), não renováveis (N) e os oriundos da economia (F), necessários para a
obtenção de uma unidade do produto (GIANNETTI et al., 2007).
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A transformidade é uma propriedade da unidade seJ que mensura a concentração de emergia,
permitindo transformar a quantidade de energia solar consumida, seja diretamente e/ou
indiretamente, na obtenção de um joule de determinado produto. Os valores de emergia para
determinado produto e sua respectiva transformidade irão depender da matéria-prima
selecionada, da natureza da energia e da eficiência do sistema de produção (BARRELA;
ALMEIDA; GIANNETTI, 2005), servindo, portanto, como critério de comparação entre
alternativas.
3.1.5 Eco-compass
O eco-compass é uma espécie de diagrama comparativo do tipo teia de aranha e visa auxiliar
a avaliação de novas opções ou projetos comparados a um modelo original ou estudo de caso.
Possui seis eixos que representam importantes critérios ambientais: intensidade mássica, risco
potencial humano e ambiental, intensidade energética, reuso e revalorização de resíduos,
conservação de recursos e extensão de serviço e função (JONES; HARRISON, 2000), como
representado na Figura 3.
Figura 3 – Representação esquemática do diagrama eco-compass
Fonte: Adaptado de Yan et al. (2002, p. 8)
Na utilização do eco-compass determinado produto é escolhido como base de comparação,
que por convenção recebe dois pontos em todas as seis dimensões do diagrama. Na sequência,
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o produto alternativo é avaliado comparativamente ao produto base numa escala que varia de
0 a 5 em cada dimensão. A correta pontuação vai depender do acréscimo ou decréscimo
percentual no desempenho do produto em relação ao produto base (YAN et al., 2002).
O eco-compass possui grande aplicabilidade nas fases iniciais do processo de
desenvolvimento de produto ecoinovador, contribuindo para avaliar novas ideias e
alternativas.
3.1.6 Teoria para resolução de problemas criativos
A teoria para resolução de problemas criativos (TRIZ) foi desenvolvida inicialmente pelo
pesquisador G. S. Altshuller e seus colaboradores durante os anos 50, na ex-URSS, para
resolver problemas técnicos. A metodologia utilizada pela TRIZ originalmente baseou-se no
estudo de registros de patentes técnicas visando identificar padrões universais de invenção
que pudessem ser utilizados para definir princípios, leis e teoria para solução de problemas
(CARVALHO; BACK, 2001; LÓPEZ; ALMEIDA; ARAÚJO-MOREIRA, 2005).
De acordo com López, Almeida e Araújo-Moreira (2005), o método TRIZ potencializa o
poder inventivo do usuário através da estruturação do processo criativo baseado em um
conjunto de experiências de sucesso.
Segundo Carvalho e Back (2001), há três conceitos fundamentais na TRIZ, os quais são:
a) Idealidade – corresponde ao balanço entre funções desejadas e indesejadas de um
sistema técnico, sendo que quanto mais evoluído for o sistema mais funções desejáveis
o produto possuirá em detrimento de funções indesejáveis;
b) Contradição – definem o que se chama de problema técnico, se estabelecendo nos
requisitos conflitantes de um mesmo sistema técnico para o qual se busca solução. O
método TRIZ dispõe de uma matriz de contradições para auxiliar a identificação da
contradição geral e sua solução geral pode ser buscada nos 40 princípios criativos,
ferramenta também disponível no método TRIZ;
c) Recursos – são elementos do sistema ou das suas adjacências que ainda não foram
utilizados para executar funções no sistema, podendo pertencer a diferentes categorias:
internas, externas, naturais, sistêmicas, funcionais, espaciais, de campo, de substância
e de informação.
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Há grande vantagem na utilização do método TRIZ para obtenção de inovações pela
possibilidade de resolver problemas a nível conceitual, onde problemas específicos podem ser
enquadrados em problemas gerais da TRIZ. Desse modo, soluções específicas também podem
ser encontradas em soluções gerais TRIZ, resultando em uma considerável diminuição do
espaço de buscas de soluções (LÓPEZ; ALMEIDA; ARAÚJO-MOREIRA, 2005), como
mostrado na Figura 4.
Figura 4 - Metodologia TRIZ utilizada para rastrear soluções de problemas usando solução
conceitual de problema
Fonte: López, Almeida e Araújo-Moreira (2005, p. 208)
3.1.7 Contabilidade ambiental
Considerando que a maior parte dos custos de um produto é determinada nas fases iniciais do
processo de seu desenvolvimento (FREIXO; TOLEDO, 2003), a gestão de custos representa
uma atividade importante no PDP. Analisando os gastos ambientais é possível medir a
eficiência de programas ambientais implantados, favorecendo a divulgação de gastos
específicos, além de permitir capitalizar gastos preventivos, de investimento, de ações
obrigatórias e de treinamentos. Uma vantagem explícita é a boa imagem da empresa frente
aos stakeholders (ROBLES JR.; BONELLI, 2006; KAWAMOTO; SANTOS; JABBOUR,
2007).
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Assim, a contabilidade deve extrapolar os limites da escrituração e mensuração quantitativa
de patrimônio, criar modelos contábeis eficazes e orientar o empresário a aplicá-lo
efetivamente, levando em conta a compatibilização da produção de riqueza com um padrão de
desenvolvimento sustentável, apoiando-se na evolução tecnológica e em paradigmas
contemporâneos (PINTO, 2005).
Freixo e Toledo (2003) ressaltam que a denotação de “custo” de produto não abarca apenas
custo de fabricação, mas também todas as demais fases do ciclo de vida do produto,
significando que, ao se tomar uma decisão no desenvolvimento do produto, os impactos
negativos e/ou positivos desta decisão deverão ser avaliados, não apenas no custo de
fabricação, mas também nos custos de operação, de manutenção e, inclusive, nos custos de
descarte.
Uma das ferramentas com ampla discussão na literatura no âmbito da contabilidade ambiental
é a análise do custo de ciclo de vida (ACCV). Essa ferramenta permite avaliar os custos e os
benefícios econômicos do ciclo de vida de um produto desde a extração de matéria-prima até
a disposição final do produto, incluindo as contribuições que se referem à gestão de resíduos
de todas as etapas da cadeia de suprimento. Uma preocupação da ACCV é a “internalização”
das “externalidades”, ou seja, a contabilização de efeitos ambientais decorrentes do ciclo de
vida do produto (QUEIROZ et al., 2006).
3.1.8 Logística reversa
A logística reversa (LR) pode ser vista como processo complementar à logística tradicional,
destinada a coletar produtos usados e trazê-los de volta à origem, fechando o ciclo de vida do
produto (SARAIVA, 2007).
Segundo Adlmaier e Sellitto (2007), cabe a logística reversa planejar, operar e controlar o
fluxo de informações logísticas relativas ao retorno dos bens ao ciclo produtivo de origem ou
a sua destinação como matéria-prima em outro ciclo produtivo, podendo retornar na forma
próxima à original (retorno pós-venda) ou na forma de resíduos, rejeitos ou refugos (retorno
pós-consumo).
Seliger, Kernbaum e Zettl (2006) esclarecem que o maior desafio para estabelecer a LR se
refere à complexa gestão da cadeia econômica fechada, que concentra um grande número de
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atividades, dentre elas movimentações, desmontagem, seleção e teste de componentes e
materiais e a destinação dos mesmos dentro da cadeia produtiva, comercial, consumo, reuso,
tratamento e disposição final.
Para atingir êxito na estruturação da cadeia de LR há que se expandir seu conceito para o
gerenciamento da cadeia de suprimento, cuja amplitude de competências abrange também a
integração das atividades das organizações, se preocupando em consolidar relacionamentos
confiáveis e duradouros com clientes e fornecedores (GUARNIERI et al., 2006).
Faz-se mister a preocupação com o financiamento da LR já nas etapas iniciais do PDP,
abrigando características propícias nos aspectos de arquitetura de produto, fabricação,
montagem etc. (FREIXO; TOLEDO, 2003).
4. Framework para o processo de desenvolvimento de produtos ecoinovadores
Para efeito de estruturação do PDPEI foram consideradas cinco etapas do PDP tradicional,
segundo a visão de Slack, Chambers e Johnston (2002), adicionando a etapa de pós-
desenvolvimento de Rosenfeld et al. (2006), como mostra a Figura 5.
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Figura 5 - Etapas sequenciais do processo de desenvolvimento de produto ecoinovador
Fonte: Baseado em Slack, Chambers e Johnston (2002) e Rosenfeld et al. (2006)
Um guia contendo a relação de métodos e ferramentas ecoinovadores de forma estruturada em
cada etapa de desenvolvimento se torna útil para uma equipe de projetistas e gestores na
medida em que se esclarece quando e como aplica-los, tornando mais seguras e
fundamentadas as tomadas de decisões relacionadas ao desenvolvimento, lançamento e pós-
desenvolvimento do produto. A Tabela 3 apresenta as seis fases do PDPEI, indicando as
ferramentas e métodos passíveis de serem utilizados em cada uma de suas etapas para
desenvolver produtos ecoinovadores. Cada ferramenta e método são numerados para facilitar
a relação desses com as descrições de como, finalidade e benefícios esperados. Portanto,
apesar de poder determinar certo ordenamento dos métodos e ferramentas, o propósito da
numeração não é necessariamente imprimir ordem de utilização das ferramentas e métodos,
ficando a cargo dos gestores e projetistas tal tarefa em função das características particulares
de cada projeto.
Tabela 3 – Framework para o processo de desenvolvimento de produtos ecoinovadores
(Continua)
Fonte: Elaboração própria
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Tabela 3 - Framework para o processo de desenvolvimento de produtos ecoinovadores
(Conclusão)
Fonte: Elaboração própria
5. Considerações finais
Não há dúvida de que as decisões tomadas a respeito das estratégias de inovação tecnológica
no PDP se relacionam diretamente ao desempenho ambiental dos produtos e processos, que,
por sua vez, definem a amplitude do impacto no meio ambiente.
Com efeito, observa-se que todos os métodos e ferramentas considerados neste trabalho
tendem a propiciar pontos positivos na estratégia de inovação aplicada ao PDPEI visando a
sustentabilidade.
Portanto, o framework proposto deve servir de base para o posicionamento de projetistas e
gestores frente à necessidade de tomadas de decisões nas diversas fases do PDPEI,
aumentando de forma significativa as chances de sucesso no desempenho de produtos e
processos de manufatura, tanto nas dimensões técnica e comercial quanto na ambiental.
O autor entende que a maior limitação deste trabalho corresponde ao fato da contribuição se
estabelecer no campo teórico, necessitando assim de validação prática ou avaliação de
especialistas na área de PDP, que, por sua vez, representa oportunidades de trabalhos futuros.
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AGRADECIMENTO
O autor agradece ao apoio financeiro concedido pela Fapemig para divulgação deste artigo.