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MARCELO BERNART SCHMIDT PROPOSTA DE SOLUÇÃO INTEGRADA PARA A LEITURA EM BRAILLE Itajaí (SC), Março de 2013

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  • MARCELO BERNART SCHMIDT

    PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA

    EM BRAILLE

    Itaja (SC), Maro de 2013

  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJA

    CURSO DE MESTRADO ACADMICO EM

    COMPUTAO APLICADA

    PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA

    EM BRAILLE

    por

    Marcelo Bernart Schmidt

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    obteno do grau de Mestre em Computao

    Aplicada.

    Orientador: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.

    Itaja (SC), Maro de 2013

  • FOLHA DE APROVAO

    Esta pgina reservada para incluso da folha de assinaturas, a ser disponibilizada

    pela Secretaria do Curso para coleta da assinatura no ato da defesa.

  • PROPOSTA DE SOLUO INTEGRADA PARA A LEITURA

    EM BRAILLE

    Marcelo Bernart Schmidt

    Maro / 2013

    Orientador: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.

    rea de Concentrao: Computao Aplicada

    Linha de Pesquisa: Sistemas embarcados e Distribudos

    Palavras-chave: Braille, Display Braille, Deficiente Visual, Hardware, Software,

    Acessibilidade

    Nmero de pginas: 115

    RESUMO

    Pessoas portadoras de deficincia visual enfrentam diversos problemas relacionados

    ao acesso informao. Uma das solues que amenizam este problema o Braille,

    linguagem de smbolos formados por um conjunto de pontos, que, quando detectados pelas

    terminaes nervosas do dedo, formam um caractere. Com a era tecnolgica em crescimento,

    surgiu a necessidade de aproximar o Braille informtica. Para isso, dispositivos

    eletromecnicos foram criados, tal como os displays Braille, permitindo que usurios faam

    uso do Braille em seus computadores. Porm, o acesso a este tipo de dispositivos limitado,

    devido tecnologia embutida e ao custo das componentes envolvidas. Cabe destacar que os

    displays Braille atuais possuem entre 8 e 80 celas e que a tendncia do mercado aumentar o

    nmero de celas. Uma cela, o conjunto dos pontos que formam um caractere Braille. Outro

    fator a carncia de softwares especficos adaptados necessidade dos usurios cegos,

    utilizando padres de acessibilidade. Neste contexto, este trabalho objetiva contribuir para o

    acesso digital ao Braille, atravs do desenvolvimento de uma soluo que integra hardware e

    software. O sistema proposto baseado em um hardware formado por apenas uma cela, visto

    que a leitura do Braille se faz caractere a caractere. Neste cenrio, tambm foi desenvolvido

    um software especfico para possibilitar a comunicao do hardware desenvolvido com os

    computadores pessoais dos usurios. O software faz uso das normas de acessibilidade

    definidas pelo consrcio americano das pessoas com deficincia visual, formado por grandes

    empresas, tal como a IBM e a Microsoft. O sistema desenvolvido foi avaliado por meio de

    estudos de caso realizados com cegos com diferentes tipos de conhecimento do Braille e

    diferentes habilidades no uso do computador. Os resultados alcanados avaliaram o sistema

    como eficiente, do ponto de vista de usabilidade, mas gerou discrepncia nas observaes

    feitas por usurios experientes na leitura Braille, exceto um ponto: acredita-se que, com

    algumas alteraes, este sistema pode tornar-se uma excelente ferramenta na insero do

    Braille a leitores iniciantes.

  • PROPOSAL OF INTEGRATED SOLUTION FOR READING IN

    BRAILLE

    Marcelo Bernart Schmidt

    October / 2012

    Advisor: Alejandro Rafael Garcia Ramirez, Dr.

    Area of Concentration: Applied Computer Science

    Research Line: Embedded System

    Keywords: Braille, Braille Display, Visually Impaired, Hardware, Software, Acessibility

    Number of pages: 115

    ABSTRACT

    Blind people face several problems related to access to information. One technique to

    solve this problem is the Braille language symbols, formed by a set of points which, which

    nerve terminations felt by the finger, forming a character. With the exponential growth in

    technological era, the need arose to bring a Braille computer. For this purpose,

    electromechanical devices were created, named Braille displays, allowing users to make use

    of Braille on their computers. However, access to comercial devices is expensive, because the

    cust of the embedded technology. The current Braille displays have 8-80 cells and the market

    trend is to rising. A Braille cell is nothing more than the set of points that make up a Braille

    character. Another alarming factor is the absence of specific software and adapted to users'

    needs by using accessibility standards. In this context, this work aims to contribute to the

    digital access to Braille, by developing an integrated system solutions based on hardware and

    software. The proposed system is based on hardware developed from scratch with national

    technology and only one cell, since the reading of Braille is done character by character. In

    this scenario, was also developed specific software communication to the hardware with the

    personal computers of the users. The software makes use of the accessibility standards

    imposed by the U.S. consortium for the visually impaired, formed by important companies,

    such as IBM and Microsoft. The developed system was evaluated by case studies with blind

    people, with different knowledge of Braille and expertise on computer use. The results show

    the efficiency of the proposed integrated system to reading Braille on conventional computers.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1. Display Braille Focus 80...................................................................44

    Figura 2. Desenho esquemtico de uma cela piezoeltrica............................52

    Figura 3. Celas piezoeltricas comerciais........................................................52

    Figura 4. Cela Braille........................................................................................54

    Figura 5: Trs pontos da cela Braille...............................................................56

    Figura 6: Acionamento das agulhas.................................................................57

    Figura 7. Vista lateral da cela Braille..............................................................57

    Figura 8 Vista superior da cela.........................................................................57

    Figura 9 Vista do prottipo conectado a um computador..............................58

    Figura 10: Exemplo de sinal PWM..................................................................59

    Figura 11. Interface simples para a validao preliminar do hardware......60

    Figura 12. Casos de Uso do Sistema.................................................................62

    Figura 13 Modo de leitura de caracteres......................................................64

    Figura 14 Modo de leitura de textos.............................................................65

    Figura 15 Comandos de leitura.....................................................................66

    Figura 16 Arquitetura MVVM......................................................................68

    Figura 17 - Diagrama de classes I....................................................................70

    Figura 18 - Diagrama de classes II...................................................................73

    Figura 19 - Diagrama de classes III.................................................................74

    Figura 20 - Controle de classe..........................................................................76

    Figura 21 - Anlise dos resultados dos Usurios A e B...................................90

    Figura 22 - Usurio A: Taxa de acerto na identificao do alfabeto.............91

    Figura 23 - Usurio B: Taxa de acerto na identificao do alfabeto.............91

    Figura 24 - Representao dos caracteres u e v em Braille...................92

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Cela Braille numerada e ampliada...............................................38

    Quadro 2 - Comparativo dos trabalhos relacionados....................................48

    Quadro 3 - Resumo das atividades do primeiro dia de testes.......................87

    Quadro 4 - Configuraes 1 de software do Usurio A..................................89

    Quadro 5 Configuraes 1 de software do Usurio B.................................89

    Quadro 6 Configuraes 2 de software do Usurio A.................................93

    Quadro 7 Configuraes 2 de software do Usurio B.................................94

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    MVVM Model View View Model

    URI Uniform Resource Locator

    IS Isolated Storage

    API Application Programming Interface

    TA Tecnologia Assistiva

    GDI Graphics Design Interface

    SRGS Speech Recognition Grammar Specification

  • SUMARIO

    1 INTRODUO ..............................................................................................11

    1.1 LEITURA EM BRAILLE ..........................................................................12

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................15

    1.2.1 Soluo Proposta .....................................................................................16

    1.2.2 Delimitao de Escopo ............................................................................16

    1.2.3 Justificativa ..............................................................................................17

    1.3 OBJETIVOS ...............................................................................................18

    1.3.1 Objetivo Geral .........................................................................................18

    1.3.2 Objetivos Especficos ..............................................................................18

    1.4 METODOLOGIA ......................................................................................19

    1.4.1 Metodologia da Pesquisa ........................................................................19

    1.4.2 Procedimentos Metodolgicos ................................................................19

    1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO .........................................................20

    2 BRAILLE FUNDAMENTAO TERICA .............................................21

    2.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA ......................................................................21

    2.2 CATEGORIAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA ...................................25

    2.3 A TECNOLOGIA ASSISTIVA E A DEFICINCIA VISUAL................27

    2.4 ACESSIBILIDADE E A TECNOLOGIA ASSISTIVA...........................29

    2.5 RECONHECIMENTO DE VOZ...............................................................33

    2.5.1 Speech Recognition Grammar Specification.....................................35

    2.6 TECNOLOGIAS DISPONVEIS..........................................................36

    2.7 O BRAILLE ................................................................................................37

    2.8 LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE ...................................................38

    2.9 O BRAILLE E A EDUCAO.................................,...............................41

    2.10 BRAILLE IMPRESSO.............................................................................42

    2.11 BRAILLE DIGITAL ................................................................................43

    2.12 DISPLAY BRAILLE ...............................................................................43

    3 TRABALHOS RELACIONADOS..............................................................45

    3.1 CELA BRAILLE UTILIZANDO MOTORES LINEARES

    PIEZOELTRICOS ........................................................................................45

    3.2 SISTEMA DE COMUNICAO BRAILLE ..........................................45

    3.3 BRAILLE NA TELA DE UM DISPOSITIVO CELULAR ....................46

    3.4 DISPOSITIVO FORMADO POR SEIS CELAS BRAILLE..................46

    3.5 ANLISE COMPARATIVA ......................................................................47

    3.6 PATENTES E SOLUES COMERCIAIS.............................................49

    3.7 CONSIDERAES ...................................................................................50

    4.0 DESENVOLVIMENTO..............................................................................52

  • 4.1 PROJETO....................................................................................................55

    4.2 TESTES PRELIMINARES .......................................................................59

    4. DESENVOLVIMENTO DO SOFTWARE .................................................60

    4.1 LEVANTAMENTO DE REQUISITOS ....................................................61

    4.2 DESCRIO DOS CASOS DE USO........................................................63

    4.3 LEITURA E INTERPRETAO DO TEXTO........................................66

    4.4 ANLISE E PROJETO..............................................................................66

    4.4.1 Tecnologia..................................................................................................67

    4.4.2 Arquitetura................................................................................................67

    4.4.2.1 View.........................................................................................................69

    4.4.2.2 Model .....................................................................................................69

    4.4.2.3 ViewModel .............................................................................................69

    4.4.3 Acessibility API ........................................................................................69

    4.4.3.1 Diagrama de Classes .............................................................................70

    4.4.3.2 DictionaryWord ....................................................................................70

    4.4.3.3 BrailleGrammarConstructor ..............................................................71

    4.4.3.4 BrailleSpeechRecognitionEngine ........................................................71

    4.4.3.5 BrailleSpeechGrammar .......................................................................72

    4.4.3.6 BrailleSpeechTranslator........................................................................72

    4.4.3.7 Speaker e MediaPlayerInterop.............................................................72

    4.4.4 Classes de Interface..................................................................................72

    4.4.4 Classes de Comunicao..........................................................................73

    4.4.3.1 SerialPortWrapper e SerialPortSettings.............................................74

    4.4.3.1 PortInfo..................................................................................................75

    4.4.3.4 CommandContainner............................................................................75

    4.4.3.5 FileSerializer...........................................................................................76

    4.5 CARACTERSTICAS................................................................................76

    4.5.1 Acessibilidade e Integrao com Sistemas Auxiliares...........................79

    4.5.2 Planejamento da Validao do Dispositivo.............................................80

    4.7 LIMITAES E SUGESTES PARA FERRAMENTA........................81

    4.7.1 Adio de Arquivos...................................................................................81

    4.7.2 Portabilidade.............................................................................................81

    4.7.3 Reconhecimento de Voz............................................................................81

    4.7.4 KeyBindings..............................................................................................82

    4.7.5 Temporizador............................................................................................82

    4.7.6 Internacionalizao..................................................................................82

    4.7.7 Uso de Headset..........................................................................................82

    4.8 CONSIDERAES....................................................................................82

    5 ESTUDOS DE CASO.....................................................................................84

    5.1 IDENTIFICAO DOS PARTICIPANTES............................................84

    5.1.1 USURIO A..............................................................................................84

  • 5.1.2 USURIO B.............................................................................................84

    5.1.3 USURIO C.............................................................................................85

    5.2 EXPERIMENTO.......................................................................................85

    5.3 RESULTADOS........................................................................................86

    5.4 RESULTADOS PRIMEIRO DIA..........................................................86

    7.1.1 OBSERVAES.......................................................................................88

    7.1.2 INTERVENO......................................................................................88

    7.1.3 CONFIGURAES DO SOFTWARE MODO TREINAMENTO..89

    5.2.6 MODO DEMANDA................................................................................90

    5.2.7 DESCRIO DOS GRFICOS............................................................91

    5.2.8 MODO LEITURA...................................................................................92

    5.2.9 RESULTADOS SEGUNDO DIA..........................................................93

    5.3 VISITA A FCEE..........................................................................................94

    5.4 QUESTIONRIOS....................................................................................96

    5.5 USABILIDADE...........................................................................................98

    5.6 CUMPRIMENTO DOS OBJETIVOS PROPOSTOS...........................100

    5.7 CONTRIBUIES DA DISSERTAO...............................................101

    5.8 TRABALHOS FUTUROS........................................................................102

    5.8.1 Integrao Completa com Leitores de Tela..........................................102

    5.8.2 Jogo Braille..............................................................................................103

    6 CONCLUSES.............................................................................................104

    REFERNCIAS..............................................................................................107

    APNDICE A - PROTOCOLO DE REVISO SISTEMTICA...............112

  • 11

    1 INTRODUO

    Com o avano tecnolgico, em pleno sculo XXI, vislumbra-se cada vez mais a

    incluso, seja social, educacional, digital, das pessoas portadoras de deficincia, visando a

    construo de uma sociedade com plena participao e igualdade. Para tanto, faz-se

    necessrio o acesso a informao, pois ela que faz com que qualquer atividade humana se

    torne livre e eficiente. Com os instrumentos tecnolgicos existentes, houve um avano de

    diversas atividades informacionais, favorecendo o uso e disseminao das tecnologias

    visando a incluso de portadores de necessidades especiais.

    Nesse contexto, a constante busca pelo respeito e pela valorizao da cidadania das

    pessoas com deficincia, promovendo os seus direitos, equalizando as oportunidades e

    contribuindo para a superao dos obstculos sociais predominantes ao processo de incluso

    de extrema importncia. fundamental a integrao destes ao meio social, de forma

    participativa, fortalecendo suas adaptaes, potencializando aptides, ampliando o campo de

    oportunidades e colocando-os em igualdade de condies. Se por um lado existem limitaes

    em suas condies fsicas, por outro lado a capacidade, talento e personalidade se encontram

    preservados e cada vez mais fortalecidos.

    A deficincia visual compreende desde pequenas alteraes na acuidade visual at a

    ausncia de percepo de luz, mas as alteraes que tm implicaes mais srias para a vida

    das pessoas com necessidades especiais so a baixa viso e a cegueira.

    A cegueira uma alterao grave ou total de uma ou mais das funes elementares da

    viso que afeta de modo irremedivel a capacidade de perceber cor, tamanho, distncia,

    forma, posio ou movimento em um campo mais ou menos abrangente. Isto , quando ocorre

    ausncia de percepo de luminosidade (S; CAMPOS E SILVA, 2007).

    Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica verifica-se que,

    no Brasil, a populao de pessoas com alguma dificuldade visual aproxima-se de 15.000.000,

    e as pessoas incapazes de enxergar ou que tenham grande dificuldade permanente de enxergar

    superem a cifra de 2.500.000 (IBGE, 2000). J no caso particular do estado de Santa Catarina,

    os nmeros apontam a 85.000 pessoas cegas ou com grande dificuldade para enxergar. Esses

    nmeros evidenciam a necessidade de dar uma maior ateno aos portadores de deficincia

  • 12

    visual, gerando solues nacionais que permitam a crescente integrao sociedade.

    Cabe destacar que o deficiente visual enfrenta inmeros obstculos em seu processo de

    incluso na sociedade, sendo para eles ainda mais difcil o acesso informao, educao,

    cultura e ao mercado de trabalho. Porm, a construo de uma sociedade com plena

    participao e igualdade tem como um de seus princpios a interao efetiva de todos os

    cidados. A informtica tem sido uma grande aliada nesse processo, permitindo atravessar

    barreiras e quebrar obstculos (KLEIN, 2006).

    Entretanto, perdura-se entre tantas desigualdades ainda existentes, a da falta de

    oportunidade de acesso informao, tornando-se necessria a criao de meios e a

    disposio destes para que se d acesso a todas as ferramentas, mtodos e tcnicas

    importantes existentes que levem as pessoas com deficincia visual ao acesso informao, a

    fim de que se desenvolvam em condies igualitrias de seus semelhantes.

    O Ministerio da Educao atravs da Portaria n 3.284, de 7 de Novembro de 2003,

    define os requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficincia visual, dentre os

    quais encontram-se as impressoras Braille, o Braille Falado, scanners Braille, dentre outros

    recursos tecnolgicos que valorizam o uso do Braille.

    Valente (2001) ressalta que a importncia dos ambientes digitais inquestionvel no

    contexto de deficientes visuais e refora ainda que desde a inveno do cdigo Braille, nada

    teve tanto impacto nos programas de educao, reabilitao e emprego quanto o recente

    desenvolvimento da informtica para os cegos.

    O mtodo Braille, tambem conhecido como a escrita a branco, h mais de 150 anos se

    constituiu no alafabeto de leitura e escrita mais utilizado pelas pessoas com deficincia visual

    em todo o mundo.

    1.1 LEITURA EM BRAILLE

    Nos dias atuais, com o avano constante da tecnologia o Braille est ficando

    esquecido. As pessoas esto se afastando do uso do Braille, devido ao alto custo e as

  • 13

    dimenses dos livros em Braille, bem como a gama existente de tecnologias alternativas para

    ler e se comunicar alm da palavra escrita.

    Escrever histrias pode no parecer parte fundamental da vida, mas na maioria das

    vezes as pessoas cegas conseguem empregos fazendo o trabalho intelectual, ao invs de

    trabalhos que envolvem trabalho manual. Portanto, ser capaz de comunicar corretamente com

    sua escrita importante em um local de trabalho intelectual. Acredita- se que por isso que

    pessoas que aprenderam o Braille tem duas vezes mais probabilidade de estar empregados do

    que aqueles que no tiveram tal aprendizado.

    O crtex visual ocupa mais de 20% do crebro humano e acreditava-se que era

    acessvel somente por pessoas sem deficincias visuais. Porm, recentes estudos de imagem

    do crebro mostraram que a leitura Braille realmente estimula o crtex visual de uma pessoa

    cega. Tambm foi constatado que, se o crtex visual no possui imagens associadas ao

    processo, pode reorganizar-se para novas funes, como a memria. Com isso, embora hajam

    ferramentas para ler um livro ou textos em voz alta, ainda muito importante conhecer o

    Braille. Este ajuda os deficientes visuais a compreender os fundamentos da linguagem e

    transmiti-los em suas comunicaes por escrito, e tambm ajuda a estimular o crebro (NEW

    YORK TIMES, 2010).

    Vivemos imersos em uma cultura letrada, em um mundo grafocntrico, no qual, ler e

    escrever fundamental para todos. O Braille permite que pessoas cegas faam parte desta

    cultura. Em questes prticas e pessoais, a escrita em Braille representa a possibilidade de

    estas pessoas serem mais autnomas em casa ou no trabalho. Com este aprendizado, podem

    utilizar os benefcios da lngua escrita na comunicao, na busca de informao, como auxlio

    a memria, na diverso e organizao (etiquetagem ou arquivamentos de seu material).

    Em relao leitura, o Braille o nico caminho que permite a interao leitor/texto,

    pois atravs do tato a mensagem passa direto do texto para o leitor. Pessoas com deficincia

    visual, que no aprenderam o Braille tm mais difculdade em escrever e comunicar seus

    pensamentos. J os estudantes alfabetizados em Braille, redigem melhor seus textos,

    enquanto aqueles que apenas usam um teclado e sistemas auditivos, escrevem textos e

    histrias de forma muito desorganizada e desarticulada.

  • 14

    Novas tecnologias que vm a valorizar a importncia do Braille no ensino, na

    produo de livros e na leitura: impressoras de vrios portes, terminais Braille, sintetizadores

    de voz, como o SonoBraille, leitores pticos de Braille e de caracteres em tinta, scanners,

    softwares de acesso e diversos modelos portteis de notebooks com linha Braille, so

    exemplos dessa evoluo tecnolgica (COOK e POLGAR, 2007).

    Inmeros dispositivos encontrados no mercado permitem a escrita e leitura em Braille.

    Dentre eles pode-se citar o reglete, que era usado por Louis Braille e que consiste em duas

    pranchas lisas entre as quais se prende uma folha de papel. A prancha de cima possui uma ou

    mais linhas de celas Braille vazadas nela, cada uma com seis entalhes pequenos, que ajudam o

    cego a posicionar uma puno para destacar os pontos, conforme a letra do alfabeto a ser

    representada.

    Outro dispositivo bastante utilizado a mquina de Perkins, a qual consiste em uma

    mquina de escrever que s possui nove teclas, sendo que seis representam os pontos que

    formam cada caractere, outra o espaamento, e as teclas de avano e retrocesso (BLASCH, et

    al, 1979).

    J os displays Braille tambm conhecidos como Linha Braille, so dispositivos

    interconectados ao computador com o objetivo de exibir dinamicamente em Braille a

    informao que aparece na tela. Assim, operam em sincronia com um software leitor de tela,

    que seleciona os textos e os traduz para o Braille. (PRESLEY, 2008). Seu sistema

    eletromecnico movimenta pinos dispostos verticalmente para representar mltiplas celas

    Braille, geralmente entre doze e oitenta celas, permitindo ao utilizador a leitura ttil das

    informaes exibidas. Uma cela nada mais do que um retngulo composto por 6 a 8 pontos,

    que formam um caractere Braille.

    Como foi constatado, o conhecimento do sistema Braille fundamental para a vida das

    pessoas com deficiencia visual e tem inmeras aplicaes, desde a alfabetizao at a

    identificao de produtos e lugares. Dentro deste contexto, este trabalho prope uma soluo

    integrada de hardware e software que contribuia acessibilidade e estimule o uso do Braille.

    http://www.amazon.com/s/ref=ntt_athr_dp_sr_1?_encoding=UTF8&sort=relevancerank&search-alias=books&field-author=Bruce%20B.%20Blasch
  • 15

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

    As solues tecnolgicas atuais integradas de hardware e software que possibilitam a

    leitura em Braille, so baseadas em dispositivos eletromecnicos, construdos de forma

    modular, constitudos por algo entre oito e oitenta celas piezoeltricas. Essa tecnologia cara

    e para reforar essa ideia observa-se a tendncia de aumentar o nmero de celas de forma a

    representar toda a informao contida na tela do computador, de modo que se aproxime

    daquela feita em papel. Idealmente, um display deveria ter no apenas a extenso de uma

    linha, mas de uma pgina inteira. O problema que o custo de um display simples de

    quarenta celas elevado, em torno de R$ 12.000,00 (doze mil reais) no Brasil, e US$ 3.800

    (trs mil e oitocentos dlares) no Exterior. Dessa forma pode-se imaginar qual seria o custo de

    uma folha inteira de celas. Outro ponto importante, intimamente relacionado ao preo, a

    questo relacionada a fiabilidade do mecanismo, ou seja, se apenas um ponto deixar de

    funcionar por causa de uma falha eltrica ou mecnica, ento essencialmente a

    linha Braille seria inservvel, por que no vai ser possvel saber qual o smbolo exibido na

    cela com o ponto defeituoso. Assim, embutido no preo do display encontra-se tambm a

    tecnologia necessria para garantir a robustez do produto.

    Em outra linha de raciocnio, alguns pesquisadores comearam a desenvolver um

    display de uma nica cela, baseados na forma como o Braille lido. Isto , um caractere por

    vez. A diferena da leitura com os olhos que captam palavras inteiras, alm de muitas outras

    informaes quase que instantaneamente, podendo percorrer o texto com agilidade, seguindo

    uma linha sem esforo, voltando ou avanando a vontade dentro do texto, o cego l,

    essencialmente, um caractere por vez. De forma geral, um dedo principal, geralmente o

    ndice, quem faz a leitura. Esse mesmo dedo tem que se movimentar por cima das celas

    lendo-as uma aps outra de forma linear, e no em paralelo, a diferena da viso. Assim, em

    um display Braille de quarenta celas, por exemplo, enquanto o cego est lendo um caractere,

    os outros trinta e nove esto ociosos, pois no esto sendo lidos com os outros dedos. Assim

    surgiu a ideia de projetar um display de apenas uma cela.

    Do ponto de vista de software, as solues disponveis no fornecem interfaces

    totalmente accessveis para a seleo de textos a serem exibidos na cela, isto , o cego no

    interage com os textos com liberdade, sendo que os mesmos so reproduzidos em Braille (ou

    atravs de sons) de forma sequencial. Tambm no registram a ltima linha lida, assim cada

  • 16

    vez que um arquivo for fechado e aberto novamente, a leitura comearia sempre no primeiro

    caractere do texto. Pode-se imaginar a dificuldade para efetuar a leitura de um livro.

    Este problema de pesquisa gera as seguintes perguntas de pesquisa: a soluo

    integrada de hardware e software proposta ser acessvel ao cego de modo que possa

    contribuir no processo de leitura em Braille? Desta hiptese deriva-se outra: ser possvel

    criar uma soluo vivel que possibilite a leitura em Braille usando apenas uma nica cela?

    1.2.1 Soluo Proposta

    Visando contribuir na melhoria do processo de leitura em Braille e analisando as

    limitaes das solues existentes, prope-se o desenvolvimento de um sistema formado por

    uma nica cela Braille e uma interface de software adaptada que permitir ao usurio interagir

    com caracteres e textos de forma diferenciada em relao s solues existentes no mercado.

    O sistema proposto ser composto de duas solues integradas:

    a) Hardware: Um Display Braille, utilizando o conceito de uma nica cela,

    responsvel por traduzir para o Braille o texto proveniente do computador.

    b) Sofware: Soluo necessria para exercer a comunicao do computador com o

    Display Braille. Foram utilizados recursos de acessibilidade dentro das normas estudadas para

    facilitar o uso pelo deficiente visual, com nfase no reconhecimento de voz. O software foi

    dividido em dois mdulos: um para o treinamento da ferramenta e outro para a leitura de

    arquivos de texto, ambos configurveis considerando s necessidades dos usurios.

    1.2.2 Delimitao de Escopo

    Neste trabalho sero abordados mecanismos alternativos para realizar a leitura em

    Braille, atravs do projeto de um sistema com caractersticas diferenciadas em relao ao que

    existe no mercado. Tais tcnicas no visam a garantia de independncia exclusiva da pessoa

    com deficincia visual, nem uma acesibilidade plena, por no ter interao com softwares

    leitores de tela, nem a substituio de outros mtodos de leitura em Braille.

  • 17

    1.2.3 Justificativa

    Obter informao indispensvel ao ser humano para realizao de qualquer

    atividade. Como estabelecido na Constituio Federal Brasileira de 1988 art. 5, XIV "

    assegurado a todos acesso a informao e resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao

    exerccio profissional" (BRASIL, 2007, p. 8). O acesso informao, segundo Varella e

    Guerrini (2010), " uma premissa bsica para a realizao da cidadania, um direito

    fundamental de qualquer pessoa".

    No atual contexto, para poder atender s necessidades das pessoas portadoras de

    algum tipo de deficincia, parte-se, em boa medida, para a compra de equipamentos

    importados, pois ainda no suficiente a quantidade (e variedade) de produtos desenvolvidos

    no pas, sendo necessrio um grande esforo de pesquisa nesta rea.

    No caso particular do display Braille e seu software comunicador, focos deste trabalho,

    observa-se a tendncia ao aumento da complexidade e do valor embarcado, dificultando a

    aquisio. Nesse contexto pretende-se desenvolver uma soluo nacional e com recursos de

    acessibilidade, que permita uma difuso massiva pelas associaes de ensino especial.

    Dessa forma, procura-se gerar um sistema funcional e testar sua eficcia, de forma que

    caso o cego consiga ler de forma ttil com, ao menos, a mesma rapidez que

    o Braille tradicional permite, ter-se-ia alcanado um produto comercial de baixo custo em

    relao ao que existe no mercado, abrindo a oportunidade de acesso a leitura como pregado

    por educadores no mundo inteiro, tendo como suporte, um software comunicador composto

    por uma gama de padres de acessibilidade, auxiliando no uso do sistema.

    O Braille hoje em dia est caindo em desuso, com consequncias negativas para a

    alfabetizao das pessoas com deficincia visual e para seu sucesso profissional. Tambm

    para pessoas com surdocegueira, o display Braille uma ferramenta singular para acessar a

    informtica. Infelizmente, segundo relatado por pessoas de organizaes de surdocegueira no

    Brasil, no tem nenhuma pessoa surdocega que possua seu prprio display. Pretende-se

    deixar como herana deste projeto uma contribuio que permita mudar esse panorama.

    Cabe destacar que esta dissertao conta com a parceria de especialistas do

    LARAMARA - Associao de Assistncia ao Deficiente Visual e da FCEE - Fundao

  • 18

    Catarinense de Educao Especial, e com o suporte do projeto de iniciao cientfica

    ProINOVA, aprovado na Univali.

    1.3 OBJETIVOS

    1.3.1 Objetivo Geral

    Desenvolver uma tecnologia para a leitura de textos em Braille, atravs do

    computador, a partir de uma soluo integrada de hardware e software, com o intuito de

    disponibilizar um dispositivo eficiente, do ponto de vista da necessidade de esforo requirido

    para utilizar o sistema e evoluir; e acessvel, no sentido duplo do adjetivo, tanto econmico,

    quanto do ponto de vista da existncia de recursos de acessibilidade, suprindo assim, as

    necessidades desse tipo de equipamento, principalmente, em escolas e associaes de ensino

    especial.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    Para alcanar o objetivo geral deste trabalho sero necessrios alcanar os seguintes

    objetivos especficos:

    a) Anlise de solues correlatas;

    b) Desenvolvimento da interface com o usurio (software), baseada nas normas

    de acessibilidade;

    c) Integrao software-hardware;

    d) Testar a funcionalidade do sistema desenvolvido.

    e) Comparao da utilizao da soluo proposta com a leitura em Braille

    tradicional.

  • 19

    1.4 METODOLOGIA

    A pesquisa aplicada neste trabalho de natureza aplicada, pois tem como objetivo

    investigar, comprovar ou rejeitar as hipteses apresentadas na soluo proposta (GIL, 2002).

    Este trabalho tambm se enquadra como pesquisa qualitativa como forma de

    abordagem do problema (MARCONI; LACATOS, 2000).Os resultados foram avaliados

    mediante observao e pela aplicao de um questionrio.

    Conforme demonstrado na seo 0que trata dos objetivos especficos, a pesquisa busca

    simplicidade sem perder a rapidez de leitura em Braille, o que acredita-se ser verificvel

    atravs de mtricas de tempo e booleanas (atingiu ou no o objetivo da leitura),

    respectivamente. A pesquisa tambm busca manter a qualidade da leitura, de modo que

    aspectos tal como fadiga e insatisfao sejam reduzidos ou mitigados.

    1.4.1 Metodologia da Pesquisa

    A pesquisa aqui apresentada busca contribuir no processo de leitura em Braille, atravs

    do desenvolvimento de uma soluo integrada, formada por uma nica cela Braille e uma

    interface accessvel que permitir ao usurio interagir com caracteres e textos de forma

    diferenciada em relao as solues existentes no mercado.

    Neste contexto, trata-se de uma pesquisa aplicada, pois, de acordo com Menezes e

    Silva (2001, p. 20), objetiva gerar conhecimentos para aplicao prtica, e dirigidos

    soluo de problemas especficos. Envolve verdades e interesses locais.

    1.4.2 Procedimentos Metodolgicos

    Segundo Gil (1999, p. 65), a soluo dos problemas de pesquisa ocorre mediante o

    teste das hipteses. Na tica do autor, a investigao das hipteses permite ao cientista

    chegar aos resultados.

    A pesquisa ora descrita foi desenvolvida, at a fase atual, orientada pelos

    procedimentos metodolgicos apresentados nos pargrafos seguintes desta seo.

  • 20

    Inicialmente foi realizada a pesquisa bibliogrfica, que permitiu um estudo

    aprofundado da literatura especializada baseado no protocolo de reviso sistemtica,

    objetivando suprir o autor dos conhecimentos necessrios para o desenvolvimento do

    trabalho.

    Atravs da reviso sistemtica da literatura foi possvel identificar as necessidades do

    processo de leitura em Braille e as limitaes das solues existentes, o qual permitiu definir

    o problema de pesquisa descrito na seo 1.2, a partir do qual foi possvel formular as

    hipteses descritas.

    Os passos seguintes consistiram no desenvolvimento da ferramenta integrada de

    hardware e software e sua posterior avaliao, atravs de estudos de caso.

    1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAO

    O trabalho est organizado em 8 captulos correlacionados. O Captulo 1, Introduo,

    apresentou por meio de sua contextualizao o tema proposto. Da mesma forma foram

    estabelecidos os resultados esperados por meio da definio de seus objetivos e apresentadas

    as limitaes do trabalho permitindo uma viso clara do escopo proposto.

    O Captulo 2 apresenta a fundamentao terica e o estado da arte sobre a tecnologia

    assistiva, com nfase na importncia do Braille como ferramenta de alfabetizao e incluso

    social.

    O Captulo 3 apresenta o levantamento bibliogrfico e os trabalhos correlatos, a fim de

    contextualizar o tema apresentado. Tambm so apresentados quadros comparativos com as

    solues pesquisadas e so analisadas as patentes existentes, mostrando as vantagens e

    desvantagens de cada soluo proposta.

    Os Captulos 4 e 5 apresentam os atributos do desenvolvimento do hardware e do

    software controlador do display Braille.Temas como arquitetura, limitaes, tecnologia

    funcionalidades e caractersticas tcnicas so aprofundados.

  • 21

    No Captulo 6 apresenta-se a validao da ferramenta e e, no Captulo 7, analisa-se o

    resultado dos estudos de caso realizados.

    Para finalizar, no Captulo 8, apresentam-se as consideraes finais do trabalho e as

    sugestes para trabalhos futuros.

    2 TECNOLOGIA ASSISTIVA E O BRAILLE

    Este captulo aborda os aspectos essenciais do trabalho, tratados atravs da reviso da

    literatura. Inicialmente sero abordados termos importantes, relacionados Tecnologia

    Assistiva e seguidamente ser tratado o Braille e a contextualizao dos dispositivos e

    tendncias na representao (impresso) desse alfabeto.

    2.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA

    O termo Tecnologia Assistiva (TA), no Brasil, tem sua origem na traduo de Assitive

    Technology, elemento jurdico existente dentro da legislao norte americana, conhecida

    como Public Law 100-407, atualizada em 1998 como Assistive Tecnology Act (PL 105-394,

    S. 2432) e que, em conjunto com outras leis formam o ADA- American with Disabilities Act,

    que dispe sobre os direitos dos cidados com deficincia nos EUA, e regulamenta a base

    legal dos investimentos pblicos que viabilizam os recursos que os deficientes necessitam.

    Nos dicionrios de lngua portuguesa, a palavra assistiva no existe. Ocorre que a

    palavra assistive tambm no existe nos dicionrios da lngua inglesa. Tanto em portugus

    como em ingls, trata-se de uma palavra que vai surgindo aos poucos no universo vocabular

    tcnico e popular.

    Assistiva, significa alguma coisa que assiste, ajuda, auxilia, e segue a mesma formao

    das palavras com o sufixo "tiva", j incorporadas ao lxico portugus

    (http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html).

    Tecnologia Assistiva um termo novo, utilizado para identificar todo o conjunto

    de recursos e servios que contribuem para oferecer ou aumentar as habilidades funcionais de

    pessoas com deficincia e, consequentemente, promover vida independente e incluso.

    http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html
  • 22

    Tambm definida como "uma ampla gama de equipamentos, servios, estratgias e

    prticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas encontrados pelos indivduos com

    deficincias" (COOK e HUSSEY, 1995).

    O Comit de Ajudas Tcnicas (CAT), no Brasil, criado pela Portaria n 142, de 16 de

    Novembro de 2006, conceitua Tecnologia Assistiva, da seguinte forma: uma rea do

    conhecimento, de caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos,

    metodologias, estratgias, prticas e servios que objetivam promover a funcionalidade,

    relacionada a atividade e participao de pessoas com deficincia, incapacidades ou

    mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independncia, qualidade de vida e incluso

    social.

    Outra definio que podemos atribuir a TA: tecnologia destinada a dar suporte

    (eletrnico, eltrico, mecnico, computadorizado) para pessoas portadoras de deficincia, seja

    fsica, visual, auditiva, mental ou mltipla.

    J Bersch (2008) afirma que o uso constante de tecnologia em nosso dia a dia, torna

    nossa vida mais fcil e simples. Usamos controle remoto, computadores, celulares, canetas,

    tesouras. Todos esses itens j esto assimilados e inseridos no nosso cotidiano e participam de

    nossa formao cognitiva, afetiva e social. Em relao a tecnologia, a autora relata ainda que

    estes recursos oriundos de avanos tecnolgicos, tornam as coisas mais simples para as

    pessoas sem deficincia, e ressalta que para pessoas portadoras de deficincia a tecnologia

    torna as coisas possveis.

    Assim, a TA pode ser entendida como o conjunto de equipamentos, servios,

    estratgias e prticas que so planejadas e aplicadas na promoo e ampliao de uma

    habilidade funcional deficitria. Deve ser vista a partir das necessidades peculiares de cada

    sujeito e grupo.

    Criado pelas tecnologias de informao e comunicao so diversas as possibilidades

    que o espao digital traz para o atendimento as distintas formas de interao das pessoas com

    a informao, respeitando as suas preferncias e limitaes, tanto aquelas relacionadas aos

    equipamentos utilizados, quanto s limitaes orgnicas (BARANAUSKAS, 2001).

    A TA possibilita a realizao de uma funo esperada como, por exemplo, a

    http://portal.mj.gov.br/corde/http://portal.mj.gov.br/corde/arquivos/doc/PORTARIA%20institui%20comit%20de%20ajudas%20tcnicas%20-%20revisada31.dochttp://portal.mj.gov.br/corde/arquivos/doc/PORTARIA%20institui%20comit%20de%20ajudas%20tcnicas%20-%20revisada31.doc
  • 23

    capacidade de expresso oral e escrita, assim como a alternativa e ampliao da condio de

    comunicao, que se encontra impedida por inmeros fatores, tais como: circunstncia de

    deficincia (situaes permanentes ou transitrias); envelhecimento; circunstncias

    transitrias acarretadas por quadros clnicos num dado perodo de vida (causada por acidentes,

    cirurgias); e em situaes graves acarretadas por sndromes e doenas (leses por acidente

    vascular cerebral, dentre outras) (BERSCH, 2008; PELOSI, 2000).

    Bersch (2008) afirma que o objetivo principal da TA proporcionar a pessoa com

    deficincia, uma melhor qualidade de vida, com independncia e incluso social, ampliando

    sua comunicao, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e

    trabalho. No Brasil, a Coordenadoria Nacional para Integrao da Pessoa Portadora de

    Deficincia (CORDE), o rgo de assessoria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos

    da Presidncia da Repblica (SEDH/BR). Em 16 de Novembro de 2006, a SEDH, por meio

    da Portaria n 142, instituiu o Comit de Ajudas Tcnicas que rene um grupo de especialistas

    brasileiros e representantes de rgos governamentais.

    Inicialmente, o CAT dedicou-se a reviso sobre o referencial terico internacional,

    pesquisando os termos Tecnologia Assistiva, Tecnologia de Apoio, Ajudas Tcnicas, Ayudas

    Tecnicas, Assistive Technology e Adaptive Technology. Aps esses estudos, a comisso da

    CAT chegou a um conceito: Tecnologia Assistiva uma rea do conhecimento, de

    caracterstica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratgias,

    prticas e servios que objetivam promover a funcionalidade, relacionada a atividade e

    participao, de pessoas com deficincia, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua

    autonomia, independncia, qualidade de vida e incluso social.

    A TA tambm conhecida como Tecnologia Adaptativa, Ajuda Tcnica ou Autoajuda,

    e uma forma de acessibilidade. O Manual de Convivncia Pessoas com Deficincia e

    Mobilidade Reduzida - define TA como toda a tecnologia desenvolvida ou produtos,

    instrumentos, estratgias, servios ou prticas para garantir a integrao da pessoa com

    deficincia na sociedade. Por exemplo, o sistema braile e os software que fazem a leitura de

    tela dos computadores para deficientes visuais (GABRILLI, 2007).

    Conceituando mais claramente o que so Ajudas Tcnicas, refere-se ao conjunto de

    recursos que, de alguma forma, colaboram para proporcionar a pessoa com deficincia, maior

  • 24

    independncia, qualidade de vida e incluso social, atravs da ampliao de sua comunicao,

    mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e integrao

    com a famlia, amigos e sociedade (BERSCH, 2008; TONOLLI, 2006).

    Verifica-se que tanto Grabrilli (2007), quanto Bersch (2008) e Tonolli (2006),

    caracterizam a Tecnologia Adaptativa como uma somatria de produtos e servios que

    objetivam a autonomia e insero social.

    O termo TA refere-se a uma ampla gama de equipamentos, servios, estratgias e

    prticas que so concebidas e aplicadas para melhorar os problemas encontrados pelos

    indivduos com deficincias (COOK e HUSSEY, 1995).

    A tecnologia, especialmente a Tecnologia Assistiva, no uma descoberta recente do

    homem. As pessoas nas mais diferentes culturas atravs da histria, criaram adaptaes e

    utilizaram ferramentas especiais e equipamentos para ajudar as pessoas com necessidades

    especiais em suas sociedades (KING, 1999).

    Analisando a origem e os conceitos elencados, verifica-se que a TA composta por

    recursos e servios. Os recursos compreendem todo e qualquer item, equipamento ou parte

    dele, produto ou sistema fabricado em srie ou sob-medida, utilizado para melhorar, aumentar

    ou manter as capacidades funcionais das pessoas com deficincia, como por exemplo, uma

    impressora em Braille, a bengala, utilizados no dia a dia dos deficientes visuais.

    J quanto aos servios, so aqueles prestados profissionalmente que auxiliam

    diretamente uma pessoa com deficincia a utilizar, selecionar e comprar os recursos. Como

    exemplo de servios, temos treinamentos, avaliaes, e experimentos. Os servios de TA so

    normalmente transdisciplinares, e envolvem profissionais de diversas reas, tais como:

    fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, medicina, educao e muitas outras especialidades.

    Pode-se ento dizer que o objetivo maior da TA proporcionar a pessoa com

    deficincia, maior independncia, qualidade de vida e incluso social, atravs da ampliao de

    sua comunicao, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado e

    trabalho (FREIRE, 2000).

    Por tratar-se de uma expresso nova, e devido a ampla gama das demandas atendidas,

  • 25

    a TA ainda pode ser abordada por sinnimos como Ajuda Tcnica, Tecnologia de Apoio,

    Tecnologia Adaptativa e Adaptaes. Especificadamente no caso de recursos utilizados por

    deficientes visuais, ainda utilizado o termo Recursos Tiflotcnicos, amplamente difundido

    na Espanha e em Portugal.

    2.2 CATEGORIAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA

    As diretrizes gerais da American with Desabilities Act (ADA, 1990), dividem a TA em

    onze categorias. Porem no definitiva e pode variar, de acordo com o autor.

    Com essa classificao diferencia-se claramente a Tecnologia Assistiva de Tecnologia

    Reabilitadora. Tais categorias abrangem todas as demandas de diversas reas de deficincia,

    portanto so apresentadas resumidamente, bem como as correlaes com as demandas

    apresentadas pelas pessoas cegas e de baixa viso, bem como uma contextualizao das

    possibilidades de atendimento de outras reas de deficincia. (BERSCH, 2008; TONOLLI,

    2006).

    1) Auxlios para a vida diria: materiais e produtos para auxlio em tarefas rotineiras

    tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades

    pessoais, manuteno da casa, etc.

    2) CAA - Comunicao Aumentativa e Alternativa; CSA - Comunicao Suplementar

    e Alternativa: recursos, eletrnicos ou no, que permitem a comunicao

    expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitaes da mesma. So

    muito utilizadas as pranchas de comunicao com os smbolos PCS ou Bliss, alm

    de vocalizadores e softwares dedicados para este fim.

    3) Recursos de acessibilidade ao computador: equipamentos de entrada e sada

    (sntese de voz, Braille), auxlios alternativos de acesso (ponteiras de cabea, de

    luz), teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares especiais (de

    reconhecimento de voz, etc.), que permitem as pessoas com deficincia a usarem o

    computador.

    4) Sistemas de controle de ambiente: sistemas eletrnicos que permitem as pessoas

  • 26

    com limitaes locomotoras, controlar remotamente aparelhos eletroeletrnicos,

    sistemas de segurana, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritrio,

    casa e arredores.

    5) Projetos arquitetnicos para acessibilidade: adaptaes estruturais e reformas na

    casa e/ou ambiente de trabalho, atravs de rampas, elevadores, adaptaes em

    banheiros entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras fsicas, facilitando a

    locomoo da pessoa com deficincia.

    6) rteses e prteses: troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de

    funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos

    ortopdicos (talas, apoios etc.). Incluem-se os protticos para auxiliar nos dficits

    ou limitaes cognitivas, como os gravadores de fita magntica ou digital, que

    funcionam como lembretes instantneos.

    7) Adequao Postural: adaptaes para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar,

    visando o conforto e distribuio adequada da presso na superfcie da pele

    (almofadas especiais, assentos e encostos anatmicos), bem como posicionadores e

    contentores que propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo atravs

    do suporte e posicionamento de tronco/cabea/membros.

    8) Auxlios de mobilidade: cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases mveis,

    andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veculo utilizado na melhoria da

    mobilidade pessoal.

    9) Auxlios para cegos ou com viso sub-normal: auxlios para grupos especficos

    que incluem lupas e lentes, Braille para equipamentos com sntese de voz, grandes

    telas de impresso, sistema de TV com aumento para leitura de documentos,

    publicaes, etc.

    10) Auxlios para surdos ou com dficit auditivo: auxlios que incluem vrios

    equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado -

    teletipo (TTY), sistemas com alerta tctil-visual, entre outros.

    11) Adaptaes em veculos: acessrios e adaptaes que possibilitam a conduo do

  • 27

    veculo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros

    veculos automotores usados no transporte pessoal.

    2.3 A TECNOLOGIA ASSISTIVA E A DEFICINCIA VISUAL

    Segundo Delpizzo (2005), a principal dificuldade, em se tratando da educao de

    pessoas cegas e com baixa viso, o acesso a materiais pedaggicos, cientficos e a literatura,

    impressos em Braile, materiais ampliados ou digitalizados que colaborem no processo de

    aquisio do conhecimento oferecido pela academia. Com o uso da tecnologia computacional

    essa dificuldade pode ser superada pelos alunos cegos ou com baixa viso, quando

    possibilitado o uso do computador e o acesso as informaes na internet. Mesmo alguns

    materiais estando disponveis na internet, a forma como os sites os apresentam,

    predominantemente visuais, bem como a organizao inadequada e a falta de aplicao de

    regras de acessibilidade a esses sites, dificulta o seu uso por esses alunos.

    Conforme dados do Senso Escolar MEC/INEP (2000), no perodo de 1996 a 2000, a

    matrcula de alunos com deficincia visual na educao bsica apresentou um aumento na

    ordem de 134,2% (SANTOS, 2001, p. 20). Atravs destes dados podemos concluir que

    existe a preocupao com as polticas pblicas de incluso social, mas ainda h muito o que

    fazer para chegar numa sociedade alicerada nos ideais da incluso.

    A construo de uma sociedade de plena participao e igualdade tem como um de

    seus princpios a interao efetiva de todos os cidados. Nesta perspectiva fundamental a

    construo de polticas de incluso para o reconhecimento da diferena e para desencadear

    uma revoluo conceitual que conceba uma sociedade em que todos devem participar, com

    direito de igualdade e de acordo com suas especificidades. O respeito a individualidade de

    cada sujeito constitui-se em um ponto chave para o que atualmente denominamos de incluso.

    A informtica tem sido uma grande aliada desses "diferentes", superando barreiras e

    obstculos. Podemos comprovar esta afirmao atravs de vrias pesquisas j realizadas

    (CONFORTO e SANTAROSA, 2002). Ainda afirmam que os resultados das pesquisas

    demonstram que as Tecnologias da Informao abrem novos horizontes, amenizando assim a

    discriminao social, comprovando que tambm so capazes e que apesar de apresentarem

    uma necessidade, possuem um grande potencial.

  • 28

    Conforme Santarosa (2000), as ferramentas computacionais abrem um leque de

    oportunidades, principalmente para as pessoas cujos padres de aprendizagem no seguem os

    quadros tpicos de desenvolvimento. Os estudos mostram que pessoas limitadas por

    deficincias no so menos desenvolvidas, mas se desenvolvem de forma diferente.

    Ao longo da histria, o ser humano tem instintivamente buscado alternativas para

    melhoria de suas condies de vida em sociedade. A constante busca pelo acesso a informao

    e a educao tambm marcou a evoluo dos recursos de TA utilizados por pessoas cegas.

    Conforme Campbell (2001, p. 107), desde a inveno do Cdigo Braille, em 1829,

    nada teve tanto impacto nos programas de educao, reabilitao e emprego quanto o recente

    desenvolvimento da informtica para os cegos. Com isso, a informtica, passou a ser um dos

    elementos primordiais para a incluso das pessoas cegas e com baixa viso.

    De acordo com Resende (2005, p. 38), estes suportes tecnolgicos so responsveis

    por minimizar as limitaes dos no videntes, tornando cada vez menos problemtica sua

    incluso na sociedade.

    A importncia dos ambientes digitais, no caso da deficincia visual inquestionvel.

    Segundo Borges (1996), uma pessoa cega pode ter algumas limitaes, as quais podero

    trazer obstculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade. Afirma ainda que grande

    parte destas limitaes, podem ser eliminadas atravs de duas aes: uma educao adaptada

    a realidade destes sujeitos e o uso da tecnologia para diminuir as barreiras.

    O desenvolvimento tecnolgico, a possibilidade da gravao de mensagens de voz em

    pequenos chips entre outros, deram origem a inmeros recursos de Tecnologia Assistiva,

    como relgios, termmetros de medio do clima e da temperatura corporal, balanas,

    calculadoras, medidores de presso, etc., otimizando desta forma um melhor desempenho das

    pessoas cegas em suas atividades cotidianas, proporcionando ao indivduo a autosuficincia

    ao alimentar-se, vestir-se, executar as tarefas rotineiras do lar e conviver adequadamente em

    sua comunidade.

    A popularizao do uso e consumo de recursos de informtica por deficientes visuais

    simboliza a revoluo na vida desse segmento pelos recursos e servios de TA. Impressoras

    Braille, scanners, conversores de textos em formatos de udio, so algumas das ferramentas

  • 29

    que tm garantido a este segmento acesso a informao, alm de ampliar as oportunidades de

    trabalho.

    Os softwares de acessibilidade aos ambientes digitais para deficientes visuais utilizam

    basicamente ampliadores de tela para aqueles que possuem perda parcial da viso e recursos

    de udio, teclado e impressora em Braille para os cegos. Dentre os sistemas para pessoas com

    deficincia visual , os mais utilizados atualmente em nosso pas so o Dosvox, o Virtual Vision

    e o Jaws. Segundo Borges (1996), criador do sistema Dosvox, o microcomputador amplia at

    um limite inimaginvel as oportunidades do cego.

    A articulao entre a tecnologia e educao implica em reconhecer que a tecnologia

    em si, no educativa, porm as aes dos sujeitos em conjunto com a utilizao de meios

    tecnolgicos permitem que esses indivduos possam fazer parte de determinada prtica

    educativa.

    2.4 ACESSIBILIDADE E A TECNOLOGIA ASSISTIVA

    Conforme Torres (2002, p.83), a acessibilidade um processo dinmico, associado

    no s ao desenvolvimento tecnolgico, mas principalmente ao desenvolvimento da

    sociedade, que apresenta-se em estgios diferentes, mudando de uma sociedade para

    a outra, de acordo com a poca e com a ateno dispensada a diversidade humana

    por essa sociedade.

    J a Lei n 10.098, de 2000, captulo 1, artigo 2 define Acessibilidade como

    possibilidade e condio de alcance para utilizao, com segurana e autonomia, dos espaos,

    mobilirios e equipamentos urbanos, das edificaes, dos transportes e dos sistemas e meios

    de comunicao, por pessoa portadora de deficincia ou com mobilidade reduzida.

    Assim, conforme a conceituao de Torres (2002) e da Lei n 10.098, o termo

    Acessibilidade inclui tanto aspectos do espao fsico, o meio fsico que nos envolve, quanto

    do espao digital, objetivando transformaes ambientais e posturais da sociedade,

    possibilitando desta forma uma possvel igualdade de oportunidades para todos.

    H vrios tipos de acessibilidade, como: a arquitetnica, que so os componentes

    fsicos existentes; a comunicacional, que significa a comunicao interpessoal, escrita ou

    virtual; a metodolgica, que so os mtodos de estudo e trabalho; e, a instrumental, que so as

  • 30

    ferramentas de estudo, trabalho e lazer (SASSAKI, 2009).

    Segundo as Recomendaes de Acessibilidade para a Construo e Adaptao de

    Contedos do Governo Brasileiro na internet, desenvolvido pelo Departamento de Governo

    Eletrnico (E-MAG, 2005), h quatro reas de Acessibilidade compreendidas na viso do

    cidado que a viso das necessidades de acessibilidade com foco no cidado e no no

    desenvolvedor as quais so:

    a) rea da Percepo: trata de benefcios relacionados a apresentao do contedo,

    da informao. Ela preocupa-se com a percepo de elementos como grficos,

    sons, imagens, multimdia e equivalentes.

    b) rea da Operao: de acordo com o Departamento de Governo Eletrnico, esta,

    preocupa-se em garantir formas alternativas ao acesso as informaes atravs de

    maneiras diferenciadas de navegao ou tcnica similar.

    c) rea do Entendimento: trata de questes relacionadas a compreenso do

    contedo publicado. Ela deve garantir que todo o contedo apresentado seja de

    fcil compreenso para qualquer tipo de usurio.

    d) rea da Compatibilidade: aborda questes relacionadas a necessidade de

    usarmos tecnologias compatveis e acessveis.

    Verifica-se que estas reas possuem o objetivo exclusivamente voltado ao cidado,

    observando sua valorizao e percepo. A tecnologia contribui, sobremaneira, para as

    pessoas com deficincia, seja para a realizao de aes ou tarefas e aprendizagem.

    Algumas tecnologias existentes beneficiam os portadores de deficincias visual que

    necessitam de auxlio para usufruir de alguns recursos que a sociedade oferece. Faz

    parte do apoio as pessoas cegas, por exemplo, o sistema Braille para leitura e escrita;

    o Sorob, para ajuda na execuo de clculos matemticos; a bengala ou o co-guia

    para sua locomoo e mobilidade. Temos tambm software especficos para que

    pessoas com deficincia visual tenham acesso a computadores, por exemplo.

    Tambm foram desenvolvidas vrias outras tecnologias para dar autonomia aos

    cegos, como elevadores, telefones, relgios e outros, com comandos de voz.

    (GABRILLI, 2007, p. 27).

    Segundo AFB, American Foundation for the Blind, cegos e pessoas com deficincia

    visual trabalham em praticamente todos os setores da nossa economia, mas encaixam-se no

    trabalho intelectual, geralmente atrs de computadores, o que aumenta a importncia destes a

  • 31

    serem acessveis aos seus usurios e, como descrito acima, se julgado sob mbito jurdico, um

    direito civil (AFB, 2012). Todas as pessoas que acessam um computador devem ser capazes

    de executar a leitura das informaes apresentadas na tela, ou em qualquer outro dispositivo

    de sada, e ainda serem capazes de enviar comandos ao computador, geralmente atravs de um

    teclado ou dispositivo de apontamento, como o mouse. Porm, os deficientes visuais no so

    capazes de ver a localizao dos dispositivos de apontamento, por isso os computadores e

    seus aplicativos devem dispor de artefatos cmodos que saciem este problema. importante

    frisar que o problema no est na entrada dos dados, e sim fazer com que o deficiente

    identifique as sadas.

    Os indivduos que so visualmente debilitados e que no podem ser acomodados com

    fontes e cores disponveis, muitas vezes usam programas de ampliao de tela para ampliar

    textos e imagens. Js as pessoas completamente cegas acessam o computador usando um

    leitor de tela com sintetizador de voz e/ou um display Braille. As verses atuais dos softwares

    leitores de tela guardam as informaes em uma regio de memria conhecida como modelo

    off-screen (OSM). Um modelo de off-screen essencialmente um banco de dados que

    armazena o contedo da tela, incluindo texto, grficos e controles. A leitura de tela ou

    programa Braille em seguida, acessa as informaes da OSM e torna-o em discurso

    (sintetizador de voz) ou Braille (display Braille). Microsoft Active Accessibility (MSAA),

    um conjunto de normas que os desenvolvedores devem seguir para criao de design

    acessveis, expondo os componentes grficos de forma que todos os seus objetos possam ser

    visualizados por tcnicas alternativas de acesso, como sintetizamento de voz. Alguns dos

    aplicativos que j empregam estas normas so Microsoft Word, Excel e Internet Explorer.

    Leitores de tela (screen readers) modernos no simplesmente "lem" a tela. Ao

    contrrio, eles dependem de uma anlise da tela para ler certas partes quando a tela

    apresentada pela primeira vez. O usurio recebe um rgido controle sobre a leitura das

    unidades descritas na tela, como uma barra de ttulo da janela, menu ou linha de status. O

    utilizador tambm pode silenciar discursos quando a informao desejada foi obtida. J

    programas de ampliao de tela tambm podem dar aos usurios uma quantidade considervel

    de controle sobre como eles vem informaes apresentadas na tela. Por exemplo, usando

    uma combinao de comandos manuais e automatizados, o ampliador de tela pode ser

    configurado para acompanhar a atividade da tela, zoom em locais de tela especficos, e

  • 32

    percorrer o texto. Tal como acontece com outras aplicaes de tecnologia assistiva, o

    desempenho de um ampliador de tela pode ser melhorada se os aplicativos de software que

    eles so esperados para trabalhar, so projetados com acessibilidade em mente.

    importante considerar as necessidades das pessoas com deficincia durante a fase

    inicial de desenvolvimento de produto. Adicionando recursos de acessibilidade mais tarde no

    processo de desenvolvimento demorado e caro. Dessa forma, descobre-se posteriormente

    que recursos includos para melhorar a acessibilidade de um produto so geralmente

    consistentes com boas prticas de projeto que iro beneficiar todos os usurios. Seguem

    exemplos de estratgias de design acessveis de particular importncia para os usurios com

    deficincia visual, mas que muitas vezes beneficiam tambm outros usurios (BRUDER e

    JAWOREK, 2008). importante que essas diretrizes de desenvolvimento sejam consultadas

    no incio do processo de desenvolvimento de software.

    a) Usar consistentes padres de interface. Criar uma interface que seja

    consistente em todo o programa e consistente com outros aplicativos para os

    indivduos poderem aprender a navegar no programa rapidamente com as habilidades

    que eles desenvolveram com outros aplicativos. Usas controles fornecidos pelos

    sistemas operacionais, incluindo menus, barras de ferramentas, cursores e caixas de

    dilogo sempre que possvel. Muitos leitores de tela e software de tecnologia assistiva,

    foram projetados para reconhecer estes componentes por padro. Por exemplo, se

    componentes personalizados, diferentes do padro, so usados, um leitor de tela pode

    no ser capaz de tornar esse objeto no discurso, tornando esse elemento, e,

    possivelmente, toda a aplicao, inutilizvel.

    b) Criar uma interface de usurio flexvel. Permitir aos usurios personalizar a

    interface para atender suas necessidades. Passe para o sistema operacional

    configuraes que tero impacto de acessibilidade, como cor, contraste e

    configuraes de tamanho de fonte; estilos de cursor e os sons do sistema. Todos os

    usurios de computador se beneficiaro de ter a capacidade de personalizar as

    configuraes de exibio.

    c) Permitir a navegao completa pelo teclado. Permitir o acesso a todas as

    caractersticas do programa atravs do teclado. Todos os aspectos do programa,

  • 33

    incluindo a instalao, devem ser operados sem um dispositivo apontador. Grande

    parte dos softwares assistivos operam desta maneira.

    d) Rotular todos os grficos e cones. Fornecer etiquetas de texto para todos os

    elementos icnicos para que possam ser prestados por leitores de tela e monitores

    Braille. Os utilizadores que so deficientes visuais podem ser capazes de decifrar um

    texto da etiqueta mais fcil do que se pode reconhecer um cone.

    e) No confiar somente na cor para transmitir informaes. Fornecer meios

    redundantes de transmitir informaes. Este tipo de distino pode ser invisvel para as

    pessoas que so daltnicos, que so deficientes visuais, ou que utilizem a tecnologia

    de acesso de fala ou Braille.

    f) No coloque limites de tempo para atividades de entrada ou mensagens.

    Usurios de tecnologia assistiva, novos usurios de computador, pessoas com

    dificuldades de aprendizagem, podem levar alguns segundos ou minutos para localizar

    e interpretar as coisas como um controle dentro de uma caixa de dilogo, uma

    mensagem de alerta, ou uma dica de ferramenta.

    g) Apoio acessibilidade na instalao e configurao. A aplicao deve aderir

    aos princpios acima referidos na sua instalao, configurao, e todas as rotinas ao

    nvel de comando de modo que pode ser instalado e configurado por um usurio

    usando a tecnologia assistiva.

    2.5 RECONHECIMENTO DE VOZ

    Uma das tcnicas usadas na atual proposta o reconhecimento de voz.

    Reconhecedores de voz permitem a substituio do teclado de um computador, para a

    introduo de dados, por comandos de voz, processo de grande utilidade para os deficientes

    visuais. Estes podem ser ajustados para reconhecerem uma grande variedade de comandos de

    um usurio em particular, mas so menos eficientes em receber comandos de mais de um

    usurio. Quando so ajustados para reconhecer mltiplos usurios, o nmero de comandos

    que passam a "entender" com segurana menor do que aqueles disponveis quando estavam

    ajustados para o reconhecimento de comandos de um usurio especfico. Para que haja o

  • 34

    reconhecimento do som da voz junto a fontica da palavra pronunciada e ocorra a aplicao

    desejada, o computador precisa seguir uma sequncia de passos. Inicialmente deve digitalizar

    a fala a ser reconhecida e aps fazer uso de um conversor analgico-digital que capta as ondas

    criadas pela voz e as converte em dados digitais. Em seqncia utilizado uma medida para

    cada uma das vibraes obtidas e o som digitalizado filtrado para separar rudos e

    interferncias, para ento computar as caractersticas que representam o domnio espectral

    (frequncias) contido na voz.

    Pode haver nessa fase do processo, a necessidade de sincronizar o som, uma vez que

    as pessoas no falam sempre na mesma velocidade nem no mesmo tom, o que consiste em

    um ajuste com modelos de som j arquivados na memria do classificador. Assim essa

    digitalizao fracionada em sons fonticos no maiores que uma silaba, para apos o

    programa efetuar a comparao dos sons obtidos com fonemas conhecidos e existentes no seu

    banco de dados e que correspondam ao idioma que tenha sido utilizado. ou seja, aplicado

    uma forma de busca que associa as sadas com padres de palavras e voz.

    Por fim, o resultado analisado e comparado com palavras e frases conhecidas para

    identificar o que foi dito pelo usurio e converter para a funcionalidade desejada (texto em

    uma planilha, um comando, o reconhecimento do usurio, etc.). Para esse tipo de sistema, h

    dois tipos de classificadores, os que tem um vocabulrio com grande volume de palavras e

    frases e os que tem um vocabulrio bem limitado em um banco de dados.

    Os sistemas com um vocabulrio mais amplo so indicados para um nmero menor de

    usurios, pois o calculador programado para ser mais especfico, sendo assim indicado

    para quando uma s pessoa ou um pequeno grupo utilizar. Esse programa necessita ser

    trabalhado para adaptar-se voz de cada usurio e a preciso de seu reconhecimento maior

    do que o programa que possue vocabulrio restrito. Como exemplo de aplicao temos os

    sistemas que convertem a fala em texto. J os programas que tem em seu banco de dados um

    nmero de palavras restrito, so aqueles aplicados para utilizao por um nmero amplo de

    usurios. Esse calculador programado para ser mais generalizado e mesmo havendo

    diversidade nos tons de voz e sotaques diferentes, h uma grande capacidade de

    reconhecimento. Atendimentos eletrnicos podem ser citados como exemplo.

    Os sistemas de reconhecimento de voz possuem algumas complicaes, normalmente

  • 35

    ligadas a fala continua, pois ao contrario do crebro humano , que tem facilidade em juntar as

    palavras ao ouvir uma frase, o computador necessita que a frase seja dita com cada palavra

    pronunciada pausada e separadamente. Outra dificuldade a questo da pronuncia. Por

    exemplo, se em vez de dizer corretamente "estou indo para casa" for dito, como se fala

    usualmente " to indo pra casa", isso pode causar erro, pois para um classificador representa

    uma enorme diferena, podendo gerar um entendimento de uma frase diferente daquela

    pronunciada. A interpretao da fala pelo sistema tambm pode ser afetada em decorrncia do

    sotaque e da utilizao de dialetos e expresses regionalistas.

    Esse sistema tambm pode apresentar problemas em separar falas simultneas de

    diversos usurios. Se utilizado em uma assemblia, por exemplo, pode haver dificuldade na

    identificao de palavras que acabaram sobrepostas porque duas pessoas falaram ao mesmo

    tempo. Esse fato pode ocorrer em virtude do sistema necessitar que as palavras sejam

    pronunciadas de maneira correta para que possa distingui-las. Excesso de rudos e muitas

    falas simultneas dificultam o reconhecimento e atrapalham seu funcionamento. Palavras

    homnimas tambm representam uma dificuldade para o sistema, pois no possvel

    diferencia-las somente pelo som, como por exemplo -cozer=cozinha/ coser= costurar, ou

    acender= por fogo/ascender= subir, o que pode ser resolvido programando o sistema para que

    considere o contexto da palavra.

    O classificador precisa fazer o tratamento das frases dividindo-as em palavras e para

    que isso ocorra tem que haver o reconhecimento do momento que cada palavra inicia e

    termina. S a partir disso criada a cadeia de sons com o enfileiramento dos fonemas,

    formao das palavras e construo das frases.

    2.5.1 Speech Recognition Grammar Specification

    O Speech Recognition Grammar Specification (SRGS) um padro W3C de como

    gramticas de reconhecimento de voz so especificados. Uma gramtica de reconhecimento

    de fala um conjunto de padres de texto, composto de um sistema de reconhecimento de fala

    especificamente projetado para interpretar udio vindo de seres humanos.

    SRGS especifica duas sintaxes alternativas, mas equivalente, um baseado em XML, e

    um formato utilizando Augmented BNF. Na prtica, a sintaxe XML usado com mais

  • 36

    freqncia. Tanto a forma ABNF e forma XML tem o poder de expresso de uma gramtica

    livre de contexto. Um processador de gramtica que no suporta gramticas recursivas tem o

    poder de expresso de uma Mquina de Estados Finitos ou linguagem de expresso regular.

    Se o reconhecedor de voz retornou apenas uma string contendo as prprias palavras

    faladas pelo usurio, o aplicativo de voz teria que fazer o trabalho tedioso de extrair o

    significado semntico a partir dessas palavras. Por esta razo, gramticas SRGS podem ser

    decoradas com elementos de tag, que quando executados, construem o resultado semntico.

    SRGS no especifica o contedo dos elementos xml: isso feito em uma interpretao W3C

    parecida, a Semntica Padro para Reconhecimento de Fala (SISR). SISR baseada em

    ECMAScript, e declaraes ECMAScript dentro das tags SRGS constroem um objeto de

    resultado ECMAScript.

    2.6 TECNOLOGIAS DISPONVEIS

    Dentre os sistemas para deficientes visuais, os mais utilizados atualmente em nosso

    pas so LentePro e Magic, para aqueles que possuem baixa viso e, Dosvox, Virtual Vision e

    Jaws, para os sujeitos com perda total de viso. (SONZA e SANTAROSA, 2005, p. 2).

    Tal como mencionamos no captulo anterior, uma tecnologia brasileira, criada pelo

    Ncleo de Computao Eletrnica da UFRJ, o Dosvox. O programa se comunica com o

    usurio atravs de sntese de voz e destinado a auxiliar os deficientes visuais a usar o

    computador, executando tarefas como edio de textos (com impresso comum ou Braille),

    leitura/audio de textos anteriormente transcritos, utilizao de ferramentas de produtividade

    faladas (calculadora, agenda, etc), alm de diversos jogos. O sistema fala atravs de um

    sintetizador de som de baixo custo. (BORGES, 2010).

    O sistema operacional Dosvox o nico software gratuito e, de acordo com os autores

    Oliveira (2010), Lira (2004) e Sonza (2004), composto pelo Agenvox (agenda de

    compromissos), Biblivox (cadastro e consulta bibliogrfica vocal), Braivox (conversor de

    texto para o braile), Calcuvox (calculadora vocal), Cartavox (correio eletrnico), Cartex

    (preparador de cartas padronizadas), Edivox (editor de textos), Midiavox (reprodutor de

  • 37

    CDs), Planivox (planilha eletrnica), Webvox (browser, para acesso a Internet), etc.

    Outro sintetizador de voz bastante difundido o Virtual Vision, o qual, alm de

    permitir a leitura, possibilita o trabalho e utilizao de todos os recursos do Windows e seus

    aplicativos, inclusive a internet. O software promove a leitura para o deficiente visual de todos

    os campos, menus e links que esto na tela do computador, atravs do sintetizador de voz

    (FIGUEIREDO, 2001).

    Mais um leitor de telas o Jaws, desenvolvido pela empresa norte-americana

    HenterJoyce, pertencente ao grupo Freedom Scientific. Segundo Rezende (2005), este

    software l todo o contedo que se encontra na tela do computador, e encaminha em forma de

    udio para o equipamento sonoro presente no computador.

    O uso dessas e outras tecnologias adaptativas possibilita a realizao de estudos,

    pesquisas e outras atividades ligadas educao e profissionalizao de pessoas portadoras de

    deficincia, e sua utilizao contribui para diminuir as desigualdades e excluses existentes.

    2.7 O BRAILLE

    Em diversos momentos citamos o Braille como mtodo de leitura. Nesta seo vamos

    aprofundar seu estudo.

    O sistema Braille foi criado oficialmente no ano de 1825, pelo jovem francs cego

    Louis Braille, nascido no dia 4 de Janeiro de 1809, na cidade de Coupvray, povoado

    situado ao leste de Paris. Louis Braille era filho de Louis Simon-Ren que era

    seleiro e fabricante de arqueiros do povoado. (BIRCH, 1990, p. 11).

    Somente em 1829, Louis Braille publicou o primeiro manual detalhando o seu prprio

    sistema de leitura, conhecido mundialmente como Mtodo Braille. Em 1852, Louis Braille

    morre deixando um importantssimo legado.

    Birch (1990, p.58) ressalta que enquanto houver cegos usando o Braille para

    participar da herana intelectual do mundo e viver ao lado das pessoas de viso

    normal, em condies de igualdade, cultas e independentes como Louis Braille

    sonhou, seu nome ser lembrado.

    O alfabeto Braille um sistema que combina seis pontos. De acordo com sua

    disposio no papel, eles representam determinado smbolo ou letra. Os pontos ficam em alto

    relevo, o que possibilita, atravs do tato, ler o que est escrito. Os pontos so dispostos num

  • 38

    retngulo, conhecido por cela Braille.

    Grifin e Gerber (1999, p. 5) descrevem o Braille como [...] um sistema de pontos

    perceptveis pelo tato, que representam os elementos da linguagem.

    Franco e Dias complementam tal definio ao explicar que o Braille [...] se constitui

    de uma combinao formada por seis pontos, dispostos em duas filas de trs pontos

    cada uma e que pode resultar, de acordo com o nmero de cada ponto e sua posio,

    um total de sessenta e trs smbolos incluindo o alfabeto, smbolos matemticos,

    qumicos, notas musicais (FRANCO; DIAS apud OMENA, 2008, p. 130).

    De acordo com Gil (2000, p. 43), o sistema Braille inscrito em relevo explorado por

    meio do tato. Consta da combinao de seis pontos em relevo disposto em duas colunas de

    trs pontos. O espao ocupado por esses seis pontos denominado de cela Braille.

    (LEMOS; et al, 1999).

    Os pontos de cela so numerados da seguinte forma: coluna da esquerda pontos 1, 2 e

    3 - de cima para baixo; e da direita para esquerda pontos 4, 5 e 6, tambm de cima para baixo,

    como ilustra o Quadro 1:

    Quadro 1. Cela Braille numerada e ampliada.

    1 4

    2 5

    3 6

    Os nmeros dos pontos dos sinais Braille escrevem-se consecutivamente,com o sinal

    de nmero apenas antes do primeiro ponto de cada cela. Dois ou mais sinais Braille

    consecutivos so identificados por numerais, precedidos, cada um, pelo respectivo sinal de

    nmero, sem espaos. Uma cela vazia identificada pelo numeral 0. A escrita Braille se faz

    ponto a ponto no reglete ou letra a letra na mquina Braille ou no computador.

    2.8 LEITURA E ESCRITA EM BRAILLE

    A leitura Braille se processa atravs da percepo ttil. Nesse sentido, Oliveira (2003,

    p. 70), afirma: No tenho pois a menor dvida de que a leitura continuada do Braille o

    melhor processo para o desenvolvimento do tacto, indispensvel especialmente a quem no

    goza do privilgio do sentido da viso. Lemos; et al (1999, p. 14) informam que os pontos

  • 39

    em relevo permitem a compreenso instantnea das letras como um todo, uma funo

    indispensvel ao processo da leitura, e explicam que com muita prtica possvel ler em

    mdia cento e quatro palavras por minuto.

    Ler primordial para o desenvolvimento, social, afetivo e educacional do indivduo.

    Segundo Gadotti apud Vargas (2000, p. 14) numa sociedade de privilegiados, a leitura e a

    escrita so um privilgio. No ler traz prejuzos que vo desde o desenvolvimento pessoal e

    profissional, at a ampliao das desigualdades sociais. (WERTHEIN, 2005, p. 1).

    Quando se fala em portadores de deficincia visual, ganha um sentido especial a

    incluso, pois a leitura lhe proporciona atravs do ouvir ou do contato ttil, informaes que

    chegam a sua mente sem passar pelos seus olhos. O indivduo que no tem acesso a leitura

    uma pessoa que realmente no consegue enxergar, independente da sua condio visual.

    A leitura oferece ao deficiente visual experincias que no poderiam ser vivenciadas

    sem ela. A leitura um dos meios que o indivduo tem para se comunicar com o mundo, para

    ter contato com novas idias, pontos de vista e experincias que talvez, na sua vida prtica

    jamais lhe proporcionasse. (WERTHEIN, 2005, p. 1).

    O Braille um importante recurso de leitura e meio de incluso do deficiente visual.

    O Braille a nica tcnica de leitura que atende todo publico de deficientes visuais, pois

    pode ser utilizado tambm por surdocegos, permitindo, principalmente a autonomia para a

    leitura, pois independe de qualquer outro indivduo, alm do leitor.

    Oliveira e Cerqueira (2005), afirmam que a produo de contedos em Braille no

    Brasil, teve incio no sculo XIX, no Instituto dos meninos cegos (atual Instituto Benjamin

    Constant) e que no sculo seguinte, a Fundao para o livro do cego no Brasil (atual Fundao

    Dorina Nowil para Cegos) iniciou a confeco de materiais em Braille. Relatam ainda a

    problemtica enfrentada para a produo de materiais transcritos nesse sistema, pois a

    escrita Braille ocupa um espao grande (cada pgina da escrita comum corresponde a

    aproximadamente trs pginas em Braille), alm do fato da sua impresso ser mais onerosa,

    pela necessidade de ser feita em papel de gramatura mais elevada, e de exigir profissionais

    especializados, o que inviabiliza que todas as obras produzidas pelo mercado editorial sejam

    produzidas em Braille.

  • 40

    Lemos; et al. (1999, p. 12) afirmam que o usurio do sistema Braille tem a

    possibilidade de se comunicar com outros leitores de Braille. Dessa forma, esse

    sistema abre-lhe os caminhos do conhecimento literrio, cientfico e musical,

    permitindo-lhe, ainda, a possibilidade de manter uma correspondncia pessoal e a

    ampliao de suas atividades profissionais.

    A leitura descrita por Martins (1984, p. 31) como um processo de compreenso

    abrangente, cuja dinmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais,

    fisiolgicos, neurolgicos, bem como culturais, econmicos e polticos.

    Ler, tornou-se, desde h muito, eminentemente individual (OLIVA, 2000, p. 1).

    Sabemos que a pessoa com deficincia visual, depende em muitos momentos dos olhos de

    outra pessoa, para a realizao de muitas atividades, e que buscam depender o menos

    possvel, buscando a autonomia, para realizao de suas atividades.

    Mesmo diante de um computador, as pessoas que enxergam continuam a ter um

    contato direto com a linguagem escrita, enquanto as pessoas cegas apenas ouvem

    (OLIVEIRA; CERQUEIRA, 2005, p. 2). J est reconhecido que a escrita , sem dvida, to

    importante para os cegos como para as pessoas que vem (CRANMER apud FERREIRA; et

    al, 2003).

    O Braille utilizado por extenso ou de forma abreviada, adotando-se cdigos especiais

    de abreviaturas para cada lngua ou grupo lingstico. aplicado a estenografia, a msica e as

    notaes cientficas em geral, atravs do uso das sessenta e trs combinaes. Tambm tem