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GRUPO I A. 1.1. O presente excerto integra a acção relativa à família Maia, mais propriamente a intriga secun- dária, respeitante às duas primeiras gerações, onde tem especial destaque a relação entre Pedro e Maria Monforte. O texto aqui apresentado reporta-se ao momento em que Pedro é traído pela esposa, abandonando-o e deixando ao seu cuidado o filho mais novo, tendo levado consigo a menina, factores que impulsionam o único filho de Afonso a procurá-lo e a, posteriormente, re- correr ao suicídio na noite em que regressa à casa paterna, procurando aí alívio para a sua dor. 1.2. Pedro da Maia sente-se cansado da vida, desesperado, desorientado, sem saber que rumo dar à sua existência. Por isso, depois de trocar breves palavras com o pai, sobe ao seu antigo quarto e procura na solidão e na noite o alívio para a sua dor. 1.3. A acção narrada passa-se em Benfica, em casa de Afonso da Maia, e centra-se, sobretudo, no piso superior. Neste ambiente de luxo, mas também de dor, o tempo parece ter-se revestido de características negativas, traduzindo a mágoa das personagens aqui destacadas. Por isso, até os criados andavam “em pontas de pés”, as camélias perdiam vivacidade e morriam, o papagaio agitava-se devido à chuva e ao vento que se faziam sentir. Estava um fim de dia melancólico, “hú- mido e frio como se a chuva caísse dentro”; a noite brava e agitada estava em consonância com o estado de espírito da personagem Pedro, evidenciando-se, deste modo, o tempo psicológico. 1.4. Este excerto revela-se de extrema importância para o desenrolar dos acontecimentos, uma vez que durante a noite Pedro vai suicidar-se e, em consequência, Afonso ver-se-á com um neto nos braços, para criar e educar. A morte de Pedro origina uma nova situação, na qual Afonso terá um papel preponderante e que proporcionará ao neto a educação que se viu impossibilitado de dar ao filho, Pedro. Além disso, o afastamento de Maria Monforte e a mentira desta acerca da morte da filha facilitarão a apro- ximação dos dois irmãos, sem que estes soubessem do laço de parentesco que os unia. 1.5. Eça de Queirós imprimiu à língua portuguesa um estilo dúctil e rico, recorrendo a um conjunto de artifícios estilísticos e literários que marcaram a prosa portuguesa. Foi um mestre na utili- zação dos adjectivos e dos advérbios, das metáforas, das comparações e das hipálages, para além dos estrangeirismos e neologismos a que facilmente recorreu. No excerto, tal como ao longo do romance, sobressaem a adjectivação (dupla, simples, ante- posta e posposta), como em “…teve um suspiro cansado e lento …”, onde se encontra também a hipálage, uma vez que a caracterização que é feita ao “suspiro” serve, fundamentalmente, àquele que o emitiu; o advérbio de modo (“…a tocar lentamente …”, “…mexia-se furiosamente …) confere maior precisão às formas verbais que acompanha; os diminutivos, ora traduzindo ironia ora ca- rinho, como em “…revendo a bochechinha …”; a comparação (“…tão húmido e frio como se a chuva caísse dentro…”), a precisar o efeito nocivo do tempo, entre muitos outros. 2. Os contrastes são evidenciados por Eça de Queirós em muitos dos episódios a que o autor re- corre para traçar o retrato de uma sociedade que teima em fazer prevalecer o parecer sobre o ser. Contudo, os dois modelos educacionais, que surgem ilustrados pelas personagens Pedro/ Euse- biozinho e Carlos, revelam duas formas de construir personalidades. Assim, ao privilegiar-se a educação à portuguesa, baseada na protecção, na aprendizagem de línguas mortas, na religião e na ausência de contacto com a natureza, como aconteceu com Pedro e Eusebiozinho, originará a formação de dois indivíduos que se vão revelar fracos, doentios e incapazes de lidar com as ad- versidades da vida; mas, por outro lado, a educação à inglesa, ministrada a Carlos e baseada no contacto directo com a natureza, no exercício físico, para primeiro desenvolver o corpo e só de- pois o espírito, na aprendizagem de línguas vivas proporcionará ao individuo respostas mais efi- cazes, muito embora tal não se venha a verificar com Carlos, mas por razões que não prendem com a educação OU 2. As coordenadas apresentadas só actuam em uníssono em duas das personagens elencadas. Com efeito, quer Pedro quer Eusebiozinho apresentam características dos seus progenitores ou ante- passados, particularmente Pedro da Maia que tem traços de um avô da mãe, Maria Eduarda Runa, e dela também. Nesta personagem a educação vai ter um papel fundamental, pois contribuirá para Proposta de correcção da Ficha Formativa (Os Maias) | MÓDULO | 8 |

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GRUPO IA.1.1. O presente excerto integra a acção relativa à família Maia, mais propriamente a intriga secun-

dária, respeitante às duas primeiras gerações, onde tem especial destaque a relação entre Pedroe Maria Monforte. O texto aqui apresentado reporta-se ao momento em que Pedro é traído pelaesposa, abandonando-o e deixando ao seu cuidado o filho mais novo, tendo levado consigo amenina, factores que impulsionam o único filho de Afonso a procurá-lo e a, posteriormente, re-correr ao suicídio na noite em que regressa à casa paterna, procurando aí alívio para a sua dor.

1.2. Pedro da Maia sente-se cansado da vida, desesperado, desorientado, sem saber que rumo darà sua existência. Por isso, depois de trocar breves palavras com o pai, sobe ao seu antigo quartoe procura na solidão e na noite o alívio para a sua dor.

1.3. A acção narrada passa-se em Benfica, em casa de Afonso da Maia, e centra-se, sobretudo, nopiso superior. Neste ambiente de luxo, mas também de dor, o tempo parece ter-se revestido decaracterísticas negativas, traduzindo a mágoa das personagens aqui destacadas. Por isso, atéos criados andavam “em pontas de pés”, as camélias perdiam vivacidade e morriam, o papagaioagitava-se devido à chuva e ao vento que se faziam sentir. Estava um fim de dia melancólico, “hú-mido e frio como se a chuva caísse dentro”; a noite brava e agitada estava em consonância como estado de espírito da personagem Pedro, evidenciando-se, deste modo, o tempo psicológico.

1.4. Este excerto revela-se de extrema importância para o desenrolar dos acontecimentos, uma vezque durante a noite Pedro vai suicidar-se e, em consequência, Afonso ver-se-á com um neto nosbraços, para criar e educar.A morte de Pedro origina uma nova situação, na qual Afonso terá um papel preponderante e queproporcionará ao neto a educação que se viu impossibilitado de dar ao filho, Pedro. Além disso,o afastamento de Maria Monforte e a mentira desta acerca da morte da filha facilitarão a apro-ximação dos dois irmãos, sem que estes soubessem do laço de parentesco que os unia.

1.5. Eça de Queirós imprimiu à língua portuguesa um estilo dúctil e rico, recorrendo a um conjuntode artifícios estilísticos e literários que marcaram a prosa portuguesa. Foi um mestre na utili-zação dos adjectivos e dos advérbios, das metáforas, das comparações e das hipálages, paraalém dos estrangeirismos e neologismos a que facilmente recorreu.No excerto, tal como ao longo do romance, sobressaem a adjectivação (dupla, simples, ante-posta e posposta), como em “…teve um suspiro cansado e lento…”, onde se encontra também ahipálage, uma vez que a caracterização que é feita ao “suspiro” serve, fundamentalmente, àqueleque o emitiu; o advérbio de modo (“…a tocar lentamente…”, “…mexia-se furiosamente…) conferemaior precisão às formas verbais que acompanha; os diminutivos, ora traduzindo ironia ora ca-rinho, como em “…revendo a bochechinha…”; a comparação (“…tão húmido e frio como se achuva caísse dentro…”), a precisar o efeito nocivo do tempo, entre muitos outros.

2. Os contrastes são evidenciados por Eça de Queirós em muitos dos episódios a que o autor re-corre para traçar o retrato de uma sociedade que teima em fazer prevalecer o parecer sobre o ser.Contudo, os dois modelos educacionais, que surgem ilustrados pelas personagens Pedro/ Euse-biozinho e Carlos, revelam duas formas de construir personalidades. Assim, ao privilegiar-se aeducação à portuguesa, baseada na protecção, na aprendizagem de línguas mortas, na religião ena ausência de contacto com a natureza, como aconteceu com Pedro e Eusebiozinho, originará aformação de dois indivíduos que se vão revelar fracos, doentios e incapazes de lidar com as ad-versidades da vida; mas, por outro lado, a educação à inglesa, ministrada a Carlos e baseada nocontacto directo com a natureza, no exercício físico, para primeiro desenvolver o corpo e só de-pois o espírito, na aprendizagem de línguas vivas proporcionará ao individuo respostas mais efi-cazes, muito embora tal não se venha a verificar com Carlos, mas por razões que não prendemcom a educação

OU2. As coordenadas apresentadas só actuam em uníssono em duas das personagens elencadas. Com

efeito, quer Pedro quer Eusebiozinho apresentam características dos seus progenitores ou ante-passados, particularmente Pedro da Maia que tem traços de um avô da mãe, Maria Eduarda Runa,e dela também. Nesta personagem a educação vai ter um papel fundamental, pois contribuirá para

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acentuar a sua fraqueza e debilidade. Para agravar ainda mais a situação, Pedro opta por viverimerso num ambiente soturno e romântico que em nada contribuirá para a construção de uma per-sonalidade forte e sadia.Carlos, por sua vez, afasta-se da estética naturalista, uma vez que estruturalmente nos é apre-sentado ao longo do romance e através das suas intervenções em diferentes situações, o que nãoinvalida que este apresente algumas características dos seus pais e que venha a falhar devido àinfluência que o meio sobre ele exerce.

B.1. B; 2. V; 3. V; 4. V; 5. F; 6. V; 8. F; 9. V.

GRUPO II1. a); 2. f); 3. c); 4. b).2. a) a sineta do jantar;

b) começou a tocar lentamente ao fundo do corredor;c) lentamente.

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GRUPO IA.2.1. Neste poema, tal como em muitos outros em que a cidade surge focalizada, aparecem reflecti-

das algumas questões sociais e o quotidiano, logo na primeira quadra. Aqui, há referência àqueda de um dos muitos trabalhadores vítimas das precárias condições de trabalho que lheseram oferecidas. Por contraste, o sujeito poético destaca, também, uns “fidalgotes” cujo com-portamento revela desinteresse face ao acidente ocorrido, simbolizando a banalidade e a fre-quência de que se reveste.A queda, a ida para o hospital, as reacções da turba citadina são elementos que apontam parao dia-a-dia da cidade, onde as coisas ganham, aos olhos do eu-poético, contornos específicose lhe permitem retratar a sociedade, pondo em relevo as injustiças que sobre ela pairam.

2.2.A questão sobre a qual recaiu a atenção do sujeito poético foi a da queda de um operário daconstrução civil que, ao carregar baldes de cal e areia, caiu desamparadamente do andaimepara cima de uns taipais. Este homem estava a ser socorrido e a manifestar a sua dor, soltandoais, quando um companheiro “que sustinha o peso dum varal” lhe pede para aguentar. Contudo,a vítima acabou por sucumbir, suscitando diferentes reacções à sua passagem: a compaixão dosprovincianos (“E a gente da província, atónita, exclamava: / «Que providências! Deus! Lá vaipara o hospital!»”) e a indiferença dos ricos cosmopolitas (“Um fidalgote brada a duas prostitu-tas: / «Que espanto! Um rapaz, servente de pedreiros!»”), destacando, deste modo, a clivagementre ricos e pobres e, extensivamente, entre o campo e a cidade, gentes rurais e urbanas.

3.1. A dicotomia objectividade/subjectividade marca sempre presença na poesia de Cesário Verde,uma vez que este parte da realidade exterior, que observa e descreve pormenorizadamente,dando-nos conta do que se passa em seu redor, focalizando, com frequência, as coisas mais ba-nais e características do quotidiano, aproximando-se, assim, da prosa narrativa. Por isso, diz-seque em Cesário temos a poesia do real, com a utilização de um vocabulário despido de conteúdopoético, dado o rigor com que capta a realidade e dela nos dá conta. Mas, apesar desta projec-ção do mundo exterior, é frequente assistirmos à reacção do sujeito poético, assumindo-secomo um ser humano que se comove com o que vê ou que recorre à imaginação para fugir doambiente macabro que o rodeia. E é precisamente nestes momentos de fuga, através da fanta-sia, que a sua emotividade vem à superfície e a sua subjectividade se afirma.Assim, pode dizer-se que a objectividade se articula com o retrato que faz do mundo exterior,através de uma linguagem rigorosa e um vocabulário corrente, enquanto a subjectividade serelaciona com o mundo íntimo, das emoções, e que, por ser mais difícil de traduzir por palavras,se reveste duma linguagem conotativa, rica e expressiva, mais típica da poesia.

3.2.Tal como seria de prever, neste texto, o binómio objectividade/subjectividade também marca asua presença, mesmo que haja a predominância do primeiro. Com efeito, o relato do acidente é feito de uma forma concreta, autêntica, pontuada aqui e alipor adjectivos e advérbios que, por si só, já podem remeter para a subjectividade. Mesmo assim,predomina, na descrição, um tom prosaico que se desvanece na 2ª estrofe quando se refere à“brisa que baloiça as árvores das praças” ou vê no sangue “o ungido das desgraças” (versos 3e 4). Nas 4ª e 5ª estrofes também nos confrontamos com a avaliação que o sujeito poético faz,afirmando que “findara honradamente”, “criança escrava” e o aumentativo com sentido depre-ciativo em “fidalgotes”, marcadores da subjectividade. Também os dois primeiros versos da úl-tima estrofe se revelam subjectivos, dado que aí se salienta o trabalho de uma vida cujarecompensa fora “bagas de suor”, metáfora de enorme expressividade, a sugerir que nem ofinal será compensatório.Pelo exposto, pode afirmar-se que, mesmo nos poemas em que o relato de acontecimentos ba-nais assume preponderância, a subjectividade está presente e é visível na selecção vocabular,que adquire sentidos conotativos, isto é, a descoberta de uma segunda linguagem numa pri-meira que nos impede de vermos lirismo puro na poesia de Cesário.

4.1. A cidade é frequentemente assumida como um espaço de desgraça, de injustiça, de exploraçãoe esta visão negativa da cidade deve ser compreendida à luz da vivência do poeta bem como docontexto económico-social em que se inseriu.

Proposta de correcção da Ficha Formativa (Cesário Verde)

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Se o poeta conhecia a vida rural, também contactou com os efeitos perversos da industrializa-ção do século XIX. As indústrias instaladas nos centros urbanos arrastaram para lá milhares depessoas que procuravam uma vida melhor. Contudo, não havia infra-estruturas para suportaruma taxa demográfica tão elevada, o que provocou a proliferação dos bairros pobres periféri-cos, a poluição e as doenças infecto-contagiosas. O crescimento da cidade desencadeia a cons-trução de bairros ricos e modernos que os operários executam sem quaisquer condições desegurança. Os desastres eram, assim, inevitáveis, e o mesmo se passava em relação à prolife-ração de doenças e desgraças. A cidade estava preenchida de pedintes, de estropiados e os jor-nais davam conta de vários pedidos de ajuda. Tratava-se, pois, de uma cidade em tudosemelhante à de Londres aquando do fenómeno da revolução industrial, compreendendo-se quese visse a cidade como “espaço de desgraça”.

B.A poesia cesariana assenta em dicotomias, nomeadamente a da objectividade/subjectividade. É, porisso, compreensível a tentativa de desprendimento do mundo íntimo, do egocentrismo, até porqueimperava, no século XIX, o realismo e o parnasianismo literários que tentaram uma aproximação aocientismo da época.Mas se Cesário foi o primeiro a fazer poesia com a realidade comezinha, denunciando acutilante-mente a exploração dos trabalhadores, também revelou as suas emoções perante essa realidade.Assim, vai pintar quadros com objectividade e rigor, impressionando-se e avaliando-os, transpare-cendo, assim, a sua subjectividade.É precisamente deste vaivém entre a descrição objectiva da realidade e a notação da impressão queesta lhe deixa que surge o binómio objectividade/subjectividade que confere um carácter inovadorà poesia de Cesário.

GRUPO II2.a) F; b) V; c) F; d) – F; e) – F;3.1. a); 3.2. d); 3.3. b)4.1. O poeta refugiou-se sempre nesta identidade de negociante.4.1.1. O poeta nunca se refugiou nesta identidade de negociante.

GRUPO IIIA tuberculose imperou no século XIX e nos centros urbanos, mas atingiu níveis superiores em Por-tugal. Um em cada dez mortos era vítima mortal desta praga social.Para além do seu grau ou das suas causas, a doença seleccionava os mais novos para vítimas eaqueles que exerciam profissões de risco, como artesãos, operários e funcionários públicos. Alémdisso, esta doença matava mais no fim do Estio e princípio do Outono. Daí que muitos abandonas-sem a capital pela Primavera para irem convalescer nas zonas rurais a norte de Lisboa. Contudo,quando regressavam às suas casas doentias, faleciam em pouco tempo, vitimados pela tísica ou pelaanemia. (106 palavras)

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