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1 4 de abril de 2003 a 4 de abril de 2004 “Um ano de especial santificação para a Família Paulina” Proposta de animação espiritual para a celebração do ano alberioniano Padre Alberione, exatamente há 40 anos, em 1963, convidava a Família Paulina para viver um “ano especial de santificação”. Naquela ocasião ele escrevia: A santidade garante o fruto do apostolado. Do amor de Deus provém o amor ao próximo. Da oração freqüente, dos dons divinos, do amor de Deus decorre a vontade de erradicar a ofensa a Deus e levar o amor e a salvação para as almas: mister seria que o Pai Celeste fosse amado por todos os seus filhos, assim como Jesus amou; assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida redentora por muitos”. “A alma perfeita, de boa vontade, entregaria mil vezes a vida para agradar a Deus”. O verdadeiro amor a Deus desperta na alma um empenho legítimo, calmo, zeloso, constante, forte, a ponto de dar a vida. Quando a alma não está totalmente unida a Deus, quando não está inteiramente morta para si mesma, desprendida de tudo, o empenho será impetuoso, instável, turbulento, colérico, pois, buscará a si mesma, não a Deus e as almas. A vida perfeita se alcança como é explicado por São Paulo: “ Vivo ego, iam non ego, vivit vero in me Christus”; “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”. O primeiro passo para que Jesus Cristo viva em nós é conhecer e crer no Cristo total como Caminho e Verdade e Vida. Conhecer, meditar, crer, imitar, ouvir, amar com toda a mente, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” (SP, janeiro de 1963). A Família Paulina quer aplicar a si mesma, hoje, o convite de santificação que o pai comum dirigia a todos em 1963, ratificado inúmeras vezes em qualquer circunstância. O acontecimento da beatificação do Fundador constitui para cada filho e para cada filha uma oportunidade muito valiosa para um sério empenho no caminho de santidade, assumindo hoje com renovada fé e disponibilidade as exigências do seguimento de Jesus para a missão a nós confiada e cultivando uma mentalidade e um sentimento de Família. w Um objetivo comum: Dentro do espírito novo do coração e da vida, ser receptivo às riquezas abundantes da experiência espiritual do Padre Alberione, a fim de descobrir, a partir de seu caminho de conformidade a Cristo Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, as veredas da santidade apostólica a que fomos chamados como Família Paulina. w Padre Alberione indica o caminho: Quanto ao caminho de santificação, o Fundador permaneceu fiel à essência em relação ao que havia proposto desde a primeira Circular (publicada novamente mais tarde em o SP de fev/mar/abr de 1965): “O processo de santificação é um processo de cristificação: “donec formetur Christus in vobis” [“até que Cristo esteja formado em vocês”] (Gl 4,19). Por isso, seremos santos na medida em que vivermos a vida de Jesus Cristo; ou melhor, na medida em que Jesus Cristo viver em nós: “Christianus alter Christus” [O cristão é outro Cristo]; e é o que São Paulo diz de si mesmo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”. Isso se dá gradualmente, “até a idade adulta de Jesus Cristo”; assim como a criança se desenvolve até chegar à idade adulta. Jesus Cristo é Caminho, Verdade e Vida: no trabalho espiritual há o empenho:

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4 de abril de 2003 a 4 de abril de 2004

“Um ano de especial santificação para a Família Paulina”

Proposta de animação espiritual para a celebração do ano alberioniano

Padre Alberione, exatamente há 40 anos, em 1963, convidava a Família Paulina para viver um “ano especial de santificação”. Naquela ocasião ele escrevia:

“A santidade garante o fruto do apostolado. Do amor de Deus provém o amor ao próximo. Da oração freqüente, dos dons divinos, do amor de Deus decorre a vontade de erradicar a ofensa a Deus e levar o amor e a salvação para as almas: mister seria que o Pai Celeste fosse amado por todos os seus filhos, assim como Jesus amou; assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida redentora por muitos”.

“A alma perfeita, de boa vontade, entregaria mil vezes a vida para agradar a Deus”. O verdadeiro amor a Deus desperta na alma um empenho legítimo, calmo, zeloso, constante,

forte, a ponto de dar a vida. Quando a alma não está totalmente unida a Deus, quando não está inteiramente morta para si mesma, desprendida de tudo, o empenho será impetuoso, instável, turbulento, colérico, pois, buscará a si mesma, não a Deus e as almas.

A vida perfeita se alcança como é explicado por São Paulo: “ Vivo ego, iam non ego, vivit vero in me Christus”; “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”.

O primeiro passo para que Jesus Cristo viva em nós é conhecer e crer no Cristo total como Caminho e Verdade e Vida. Conhecer, meditar, crer, imitar, ouvir, amar com toda a mente, com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças” (SP, janeiro de 1963).

A Família Paulina quer aplicar a si mesma, hoje, o convite de santificação que o pai comum dirigia a todos em 1963, ratificado inúmeras vezes em qualquer circunstância.

O acontecimento da beatificação do Fundador constitui para cada filho e para cada filha uma oportunidade muito valiosa para um sério empenho no caminho de santidade, assumindo hoje com renovada fé e disponibilidade as exigências do seguimento de Jesus para a missão a nós confiada e cultivando uma mentalidade e um sentimento de Família.

w Um objetivo comum:

Dentro do espírito novo do coração e da vida, ser receptivo às riquezas abundantes da experiência espiritual do Padre Alberione, a fim de descobrir, a partir de seu caminho de conformidade a Cristo Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, as veredas da santidade apostólica a que fomos chamados como Família Paulina.

w Padre Alberione indica o caminho:

Quanto ao caminho de santificação, o Fundador permaneceu fiel à essência em relação ao que havia proposto desde a primeira Circular (publicada novamente mais tarde em o SP de fev/mar/abr de 1965):

“O processo de santificação é um processo de cristificação: “donec formetur Christus in vobis” [“até que Cristo esteja formado em vocês”] (Gl 4,19). Por isso, seremos santos na medida em que vivermos a vida de Jesus Cristo; ou melhor, na medida em que Jesus Cristo viver em nós: “Christianus alter Christus” [O cristão é outro Cristo]; e é o que São Paulo diz de si mesmo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”. Isso se dá gradualmente, “até a idade adulta de Jesus Cristo”; assim como a criança se desenvolve até chegar à idade adulta.

Jesus Cristo é Caminho, Verdade e Vida: no trabalho espiritual há o empenho:

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a) De imitar a santidade de Jesus Cristo que nos apontou o caminho com os seus exemplos e seus ensinamentos: “sejam perfeitos”.

b) No espírito de fé conforme Jesus Cristo Verdade: pensar em conformidade com o Evangelho, com o Novo Testamento, com a Igreja que o transmite.

c) Na graça é participação na Vida de Jesus Cristo, nos sacramentos e em todos os meios da graça. Desse modo se forma em nós o Cristo Caminho e Verdade e Vida: “conformes fieri” [transformando-nos em conformidade (com ele)].

Portanto, o caminho paulino que conduz à santidade apostólica é viver “a vida de Jesus Cristo”; e a medida da santidade corresponde à “medida em que Jesus Cristo vive em nós”. É grande o legado que o Fundador deixou para a Família Paulina desde o ano de 1932, com a obra Donec formetur Christus in vobis (DF)1, e que ele nunca se cansou de exigir em todos os seus escritos e em toda a sua pregação.

Deixar-se levar à santidade implica, portanto, que o Cristo Jesus cresça em toda a nossa pessoa “até a idade adulta”, isto é, até que seja plenamente formado em cada um de nós:

w Jesus Verdade interpela a mente e se esta se dispuser a ouvir, ela se enriquece com os pensamentos dele e com os critérios dele, fazendo com que a mente assuma a própria mentalidade de Jesus. Resultado final: a santificação da mente.

w Jesus Caminho exerce sua ação sobre a vontade impelindo-a a fazer sempre escolhas evangélicas, constituindo-a lugar em que ele mesmo prolonga hoje o estilo de vida de oblação que ele levava na terra. Resultado final: a santificação da vontade.

w Jesus Vida penetra na profundidade do ser e leva o coração a ter os mesmos “sentimentos” de Jesus, até a “união permanente” com ele. Será Jesus-vida-em-nós comunicando-se conosco e entregando-se ao homem de hoje para valorizar todas as nossas energias.

w A meta é “o Cristo que vive em mim”: o Cristo vivo em nós faz de nós apóstolos e torna apostólico o serviço que desempenhamos na Igreja na especificidade das diversas formas.

w As etapas deste ano:

4 de abril de 2003 Celebração de abertura do ano alberioniano “A mão do Senhor repousa sobre mim”

1a etapa: de 5 de abril a 11 de maio

Festa de Jesus Bom Pastor O pastor que é Caminho Verdade e Vida, o Pastor divino”

2a etapa: de 12 de maio a 7 de junho

Festa de Maria Rainha dos Apóstolos “Com Maria no cenáculo para receber a efusão do Espírito Santo”

3a etapa: de 8 (ou 9) de junho a 30 de junho

Solenidade de São Paulo apóstolo “São Paulo: o mais fiel intérprete do Mestre Divino”

4a etapa: de 1o de julho a 20 de agosto

Fundação da Família Paulina "Profunda reflexão sobre o “a que vieste?”

1 G. Alberione, Donec formetur Christus in vobis, Edição sob coordenação do Centro de Espiritualidade Paulina, Sociedade São Paulo, Casa Geral, Roma 2001. Esse volume contém o texto da “edição crítica”, acompanhada pelo Fundador e impressa em 1932: os números que se encontram à margem remetem às páginas daquela edição. Por isso as passagens do DF apresentadas nas diversas etapas do ano alberioniano referem-se às páginas da edição de 1932.

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5a etapa: de 21 de agosto a 12 de setembro

Padre Alberione encarregado da imprensa diocesana

O “ano em que me senti chamado para a missão

6a etapa: de 13 de setembro a 26 de outubro

Solenidade de Jesus Cristo Divino Mestre “O próprio Pai mandou o seu Filho, o Mestre...”

7a etapa: de 27 de outubro a 26 de novembro

Festa do Bem-aventurado Tiago Alberione “A formação deve modelar-se em Jesus Divino Mestre”

8a etapa: de 27 de novembro a 21 de dezembro

4o domingo do tempo do Advento “Devemos seguir esse Mestre Supremo”

9a etapa: de 22 de dezembro a 25 de janeiro

Festa da Conversão de São Paulo, apóstolo “Este período deve formar em nós Jesus Cristo Verdade, Caminho e Vida fazendo nascer a nova criatura”

10a etapa: de 26 de janeiro a 29 de fevereiro de 2004

1o domingo do tempo da Quaresma “A vontade divina em todas as coisas”

11a etapa: de 1o de março a 25 de março de 2004

Solenidade da Anunciação do Senhor “Jesus é a graça”

12a etapa: 4 de abril de 2004

Celebração de encerramento do ano alberioniano. “Faça disso um programa prático de luz e de vida”

As modalidades:

• As etapas pretendem indicar um percurso de fé e de reflexão valendo-se das riquezas espirituais e carismáticas da Família Paulina.

• O texto de referência mediante o qual vai se desvendando o itinerário é o Donec formetur Christus in vobis.

• Cada etapa se inicia com um dia celebrativo calcado na experiência espiritual do Fundador e em sintonia com o tempo litúrgico e com as festas da Família Paulina, de modo que todo o mês ou período sucessivo tenha essa conotação temática e espiritual.

• O dia celebrativo pode ser experienciado como retiro espiritual ou como momento especial de animação carismática. Essas dinâmicas podem ser realizadas também nos dias imediatamente anteriores à jornada.

• É importante que cada qual se familiarize com os textos propostos, faça deles objeto de meditação e aprofundamento, dê continuidade na oração pessoal a tudo aquilo que foi celebrado comunitariamente.

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• Cada momento seja vivido como Família Paulina e onde não for possível, que seja vivido na comunidade.

• O itinerário do ano vem acompanhado por um subsídio cuja finalidade é a de facilitar uma experiência comum, despertando a atenção para os mesmos temas, atingindo os mesmos conteúdos, prevendo a necessidade de adaptações, dependendo das circunstâncias.

• Os responsáveis de cada Circunscrição tenham o cuidado de facilitar o acesso ao conhecimento dessa proposta, de modo que ela seja integrada à programação anual da própria circunscrição.

O subsídio: estrutura, conteúdos, opções de uso

Tendo à disposição o subsídio, queremos dar pistas e conteúdos, com a esperança de que poderemos ajudar irmãos e irmãs a assumir sempre melhor o estilo paulino de santidade apostólica, que foi a primeira e principal preocupação do nosso Fundador. O subsídio conta com 11 fichas, uma para cada etapa e um apêndice. As fichas das celebrações de abertura (4 de abril de 2003) e de encerramento (4 de abril de 2004) do ano alberioniano apresentam propostas de oração a serem utilizadas na forma de liturgia da Palavra ou de adoração eucarística. No apêndice são transmitidos textos do Padre Alberione que servirão para aprofundar cada etapa e uma proposta para meditar e rezar o terço em louvor a São Paulo. Estrutura de cada ficha:

w Período da etapa com o dia celebrativo w Título temático w Textos bíblicos w Textos do Padre Alberione w Temas de atualização (a Palavra interpela) w Em oração com Alberione

Conteúdos: w Os textos de Alberione são extraídos do Donec formetur Christus in vobis. As orações, cujas fontes são sempre indicadas, são aquelas que o Padre Alberione rezou e que ele legou para a caminhada espiritual dos seus filhos.

Opções de uso:

w Seja no caso de retiro espiritual, de animação carismática ou de momentos de oração (contextos em que essas fichas podem ser aplicadas com as devidas adaptações) é importante:

w que se faça uma escolha do conteúdo proposto, tendo cuidado com o ponto central do tema; w que haja espaços para a interiorização a fim de facilitar o encontro pessoal com a Palavra de

Deus e do Fundador; w que o encontro como Família propicie momentos de partilha sobre o tema abordado; w que se estabeça continuidade entre as diversas etapas.

Siglas

AAP Alberione alle Suore di Gesù Buon Pastore AD Abundantes Divitiae gratiae suae CISP Carissimi in San Paolo CVV Considerate la vostra vocazione

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DF Donec formetur PD alle Pie Discipule del Divin Maestro SdC Spiegazione delle Costituzioni (Figlie di San Paolo) SdM Santificazione della mente SP San Paolo (botetim interno da Sociedade de São Paulo) UCBS Unione Cooperatori Buona Stampa VC Vita Consecrata

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Celebração de abertura do ano Alberioniano

“A mão de Deus está sobre mim”

Esta celebração da Palavra marca o início do ano espiritual alberioniano, que queremos viver para “aprofundar a poliédrica personalidade de nosso Fundador, compreender-lhe o carisma e testemunhá-lo com maior transparência em toda a Igreja”. Na memória do nascimento de Pe. Tiago Alberione, queremos contemplar, com novo olhar, cheio de reconhecida admiração, a vida de nosso Fundador como história de salvação e, junto com a dele, também a de nossa Família Religiosa.

Canto inicial

Enquanto a assembléia canta, o celebrante, levando o Evangeliário, dirige-se ao altar, acompanhado por

representantes da Família Paulina, dois dos quais levam:

è a fotografia de Alberione, colocando-a num lugar preparado, junto à Palavra è uma lâmpada, possivelmente aquela da Família Paulina, e coloca-a sobre o altar. Os demais levam um símbolo do próprio Instituto que colocarão perto da foto de Alberione (se for possível e oportuno). Oração

Celebrante: Deus nosso Pai, que na preparação à beatificação de nosso pai Tiago Alberione, nos convocaste para celebrar as riquezas que, por seu intermédio, deste à nossa Família, nós te agradecemos e pedimos que Cristo, teu Filho, viva em nós e nós, enxertados nele e confiados à sabedoria de sua vontade, saibamos comunicar ao mundo a palavra de salvação. Nós o pedimos por Cristo nosso Mestre e Pastor. Todo: Amém

Escuta da Palavra Paulo tem consciência de ser o último entre os apóstolos, mas que, por graça de Deus, tornou-se o portador da missão singular de iluminar os povos colocando-os em contato com Jesus, caminho para o Pai, luz que ilumina e dá vida. Sabe que deve permanecer como último a fim de que o dom de Deus resplandeça em todo o seu esplendor. Também Alberione vive em sua “carne” a consciência de ser o último, mas repleto de graça (AD 350).

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Da carta aos Efésios (3, 8-13)

“A mim, o menor de todos os santos, foi dada esta graça: anunciar aos pagãos a riqueza insondável de Cristo e mostrar claramente como se realiza o seu plano escondido, desde toda eternidade em Deus, que tudo criou. Assim, doravante, os principados e as potestades celestes conhecem, por meio da Igreja, a multiforme sabedoria de Deus, de acordo com o projeto eterno que ele executou no Cristo Jesus, nosso Senhor. Em Cristo, pela fé que temos nele, conseguimos plena liberdade de nos aproximar de Deus com confiança. Por isso, eu vos peço que não desanimeis por causa das tribulações que suporto por vós; é a vossa glória”. - Palavra do Senhor! - Graças a Deus! Salmo responsorial

(Salmo 78)

Refrão: Anunciaremos às gerações futuras as maravilhas de Deus Povo meu, escuta a minha instrução, dá ouvidos às palavras de minha boca. Vou abrir minha boca em parábolas, vou expor enigmas do passado. Refrão O que nós ouvimos e aprendemos, o que nos contaram nossos pais, não o esconderemos aos filhos dele, nós o contaremos à geração futura:

os louvores de Javé, seu poder e as maravilhas que realizou. Refrão Porque ele estabeleceu aliança com Jacó e deu uma lei para Israel: ordenou a nossos pais que a transmitissem a seus filhos, para que as gerações seguintes as conhecesse, e os filhos que iriam nascer. Refrão Que se levantem e as contem a seus filhos, para que ponham em Deus sua confiança, não se esqueçam dos feitos de Deus e observem os seus mandamentos. Refrão Glória a ti ó Cristo!

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida - diz Jesus - ninguém vem ao Pai, se não por mim”.

Glória a ti ó Cristo!

Só Jesus é o Caminho que é também Verdade, plenitude de Vida por quem toda a humanidade anseia, mesmo sem o saber. Este Jesus é a riqueza que Alberione, sentindo-se devedor do amor de Deus, quis dar a este mundo pobre e orgulhoso (AD 182).

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Evangelho segundo João (Jo 14, 6-12) “Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho? Jesus respondeu: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram. Filipe disse a Jesus: Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Jesus respondeu: Faz tanto tempo que estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que você diz: Mostra-nos o Pai? Você não acredita que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que digo a vocês, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, ele é que realiza suas obras. Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditem nisso, ao menos por causa destas obras. Eu garanto a vocês: quem acredita em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores ainda, porque eu vou para o Pai”. - Palavra da Salvação

- Glória a ti, Senhor!

Breve homilia ou silêncio

Dirigente: O Fundador partilha conosco sua experiência vocacional resumindo-a nestas palavras: “Senti a mão de Deus sobre mim”. Acompanhemos seu testemunho com a expressão de nosso louvor ao Deus grande e misericordioso, cantando, onde é possível, o refrão Grande e admirável, ou como queria o Fundador, “um lindo Glória a Deus” (AD 183).

Leitor: “A mão de Deus está sobre mim, de 1900 a 1960. A vontade de Deus se cumpriu, apesar da miséria de quem seria seu instrumento indigno e inadequado. Do Sacrário: a luz, a graça, os apelos, a força, as vocações: no início e durante a caminhada... De qualquer forma, Dom Alberione é o instrumento eleito por Deus para esta missão, por isso agiu para Deus e conforme a inspiração e o querer de Deus; e porque tudo foi aprovado pela maior autoridade que existe sobre a terra, muitas almas generosas o seguiram até hoje. Todos podem confirmar que tudo, só e sempre foi feito à luz do Sacrário e por obediência... (UPS I 374-375).

Resposta cantada com um refrão escolhido

Leitor: “Sou um homem cheio de dívidas para com Deus e para com os homens! E nesta ocasião a lista dessas dívidas tornou-se ainda mais longa. Mas, algumas eu paguei... E porque eu não tenho ouro nem prata, vos dou aquilo que tenho: Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida” (SP, abril de 1936).

Resposta cantada

Leitor: É bom lembrar algum pormenor referente à nossa querida Congregação. Estou quase concluindo a minha vida, e não me iludo; e falo diante de vós, Irmãos qualificados e de grandes méritos. A respeito de tudo o que se refere a cada instituto da Família Paulina, dei cada passo guiado pela obediência: o início, o desenvolvimento, o espírito, a expansão, o apostolado. Em coisas de tão grande responsabilidade foram necessários três elementos: a inspiração divina bem acertada, o conselho do Diretor Espiritual, a dependência dos legítimos superiores. Senti a mão de Deus; mão paterna e sapiente, apesar das inumeráveis limitações, por causa das quais recito com plena confiança na oferta da Hóstia: “por meus inumeráveis pecados, ofensas e negligências”... O Cônego Chiesa teve parte notável; depois de sua pas-sagem para o repouso eterno, coloquei-me sob a direção de um venerável padre de Turim” (UPS I, 16-17). Resposta cantada

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Leitor: “Neste momento encontro-me carregado de dívidas para com Deus e para com os homens; por isso: 1) A Deus: Rendemos-te graças, Deus onipotente, por todos os teus benefícios. Tu que vives e reinas por

todos os séculos. a. Senhor, te agradeço por me teres criado, feito cristão, sacerdote, conservado e suportado por 80

anos;

b. Por ter sido o primeiro a fazer a profissão religiosa paulina, conforme a santa sé;

c. Por ter, desde o ano de 1900 praticado e pregado a devoção a Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, à Rainha dos Apóstolos e a São Paulo Apóstolo.

d. São 50 anos do início da Família Paulina, dia 20 de agosto de 1914. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. (...) Deus fez o que ele queria que se fizesse; eu fui apenas servo inútil, em vez de ser construtor...

(SP, março-abril 1964).

Resposta cantada

Leitor: “...Pensamento guia: a ação é alimentada pela oração... Princípios orientadores são: o espírito pastoral, o apostolado litúrgico, os meios de comunicação social para dar a mensagem da salvação. Todos se sentem servidores da Igreja, segundo nosso voto de fidelidade ao Papa. Acerca de minha pobre pessoa, também aqui, Deus seguiu seu estilo, que é divino: “Deus escolheu as coisas que não têm valor e são menosprezadas, e aquelas que não são, para destruir aquelas que são, a fim de que nenhuma criatura se glorie diante de Deus” (cf 1Cor 1,28). O salmo diz “Depois dos 80 anos o tempo é fadiga, passa depressa e nós desaparecemos”; mas, acrescentamos: pela divina misericórdia se vai para onde se começa a viver eternamente” (SP, março-abril 1964).

Resposta cantada

Se esta proposta se vive como hora de adoração, permanece-se por um adequado espaço de silêncio para o exame de consciência. As seguintes perguntas do Fundador podem orientar: 1

è Glorio-me ou me orgulho de alguma coisa? Atribuo sempre, só e tudo à glória a Deus? è Procuro de verdade a glória de Deus? è Repouso no Pai celeste?

Dirigente: Um representante de cada Instituto dirige-se ao altar a fim de receber das mãos do celebrante uma lâmpada que acende naquela que está sobre a altar e a levará ao próprio Instituto, como sinal de nosso caminho no ano alberioniano.

Retomados os próprios lugares, rezemos esta oração do Fundador Alberione.2

Solista: Jesus Mestre, que eu pense com a tua inteligência e com a tua sabedoria. Que eu ame com o teu Coração... Que eu veja sempre com os teus olhos. Que eu fale com a tua língua.

Todos: Jesus Mestre, que eu pense com a tua inteligência

Solista: Que eu ouça somente com teus ouvidos.

1 G. Alberione, Taccuini, 1964. 2 Cfr Che io ami con il tuo cuore, a cura di S. De Blasio, Roma 1985, p. 26.

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Que eu saboreie aquilo que tu gostas. Que as minhas mãos sejam as tuas. Que os meus pés sigam os teus passos.

Todos: Jesus Mestre, que meus pés sigam os teus passos

Solista: Que eu reze com as tuas orações. Que meu tratamento seja o teu. Que eu celebre como tu te imolaste. Que eu esteja em ti e tu em mim, de modo que eu desapareça.

Todos: Jesus Mestre, que eu esteja em ti e tu em mim.

Dirigente: “... Esta é a sua vontade, que da então ameaçada Família Paulina partisse uma grande luz...”.

Outras orações de intercessão às quais se responde: - Faze, Senhor, que de nossa Família possa partir uma grande luz.

Depois de um relativo espaço de silêncio, um leitor proclama o testamento espiritual do Fundador.

• Queridos membros da Família Paulina, ao separar-nos temporariamente, temos confiança que nos reuniremos todos eternamente. Agradeço todos e todas pela paciência usada comigo; peço perdão daquilo que não fiz ou fiz mal.

Tenho, porém, certeza de que toda orientação dada foi substancialmente de acordo com Deus e com a Igreja.

• De infinito valor, como vida e devoção, Jesus Cristo, Divino Mestre, Caminho, Verdade e Vida; que isso ilumine todo o aperfeiçoamento religioso e apostólico.

• Seguir sempre São Paulo Apóstolo, mestre e pai; sempre seguir, amar e pregar Maria nossa mãe, mestra e Rainha dos Apóstolos.

Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo.

• Minha conclusão é esta: Com a graça divina, segui o departamento de apostolado de 1914 a 1968. Agora, cheguei aos 84 anos de minha vida, que se fecha no tempo e passa para a eternidade; a cada momento renovo a fé, a esperança e a caridade para com Deus e com as almas.

Estaremos todos reunidos no gozo eterno.

(6 de agosto de 1967 – confirmado em 19 de março de 1968).

Oração final

Celebrante: Deus nosso Pai, concede-nos, segundo a riqueza de tua glória, sermos abundantemente confirmados pelo teu Espírito na profundidade de nossa vida. Que o Cristo habite pela fé em nossos corações e assim, enraizados e fundados na caridade, sejamos capazes de compreender com todos os santos a amplidão, a largura, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que ultrapassa todo conhecimento, para que possamos estar repletos da plenitude de Deus (cfr. Ef 3, 14-19).

Todos: Amém.

Celebrante: “Desça amplamente a bênção de Deus e o dom do Espírito sobre todos os membros da Família Paulina”.

Todos: Amém.

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Canto final Uma segunda possível conclusão.

Retomados os próprios lugares, proclama-se o texto de Paulo aos Efésios.

Todos: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo.

Solista: Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo, para que sejamos santos e sem defeito diante dele no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a benevolência de sua vontade, para louvor de sua glória e da graça que ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de seu Filho querido. Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas, conforme e riqueza de sua graça.

Todos: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo.

Solista: Deus derramou sobre nós essa graça, abrindo-nos para toda sabedoria e inteligência. Ele nos fez conhecer o mistério de sua vontade, a livre decisão que havia tomado outrora, de realizá-lo na plenitude dos tempos, isto é, recapitular em Cristo todas as coisas, as celestes como as terrestres.

Todos: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo.

Solista: Em Cristo recebemos nossa parte na herança, conforme o projeto daquele que tudo conduz segundo a sua vontade. Fomos predestinados a ser o louvor de sua glória, nós, que já antes esperávamos em Cristo. Em Cristo, também vocês ouviram a Palavra da verdade, o Evangelho que os salva. Em Cristo, vocês acreditaram e foram marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito Santo, que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação do povo que Deus adquiriu para o louvor da sua glória.

Todos: Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo.

Recitemos o Segredo de êxito, com os sentimentos do Fundador, que contava sempre com Deus.

Jesus Mestre, aceita o pacto que vos apresentamos pelas mãos de Maria, Rainha dos Apóstolos e de nosso Pai São Paulo. Nós devemos corresponder à tua altíssima vontade, chegar ao grau de perfeição e de glória celeste a que nos destinaste, e santamente exercer o apostolado dos meios de comunicação social. Mas, sabemos que somos muito frágeis, ignorantes, incapazes e limitados em tudo: no espírito, na ciência, no apostolado, na pobreza. Tu, pelo contrário, és o Caminho, a Verdade e a Vida, a Ressurreição, o nosso

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único e supremo Bem. Confiamos somente em ti que disseste: “Tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos dará”.

De nossa parte, prometemos e nos obrigamos: a procurar em tudo e com pleno coração, na vida e no apostolado, só e sempre, a tua glória e a paz das pessoas. Contamos que de tua parte, nos darás espírito bom, graça, ciência, meios de fazer o bem. Multiplica, conforme tua imensa bondade e as exigências de nossa vocação especial, os frutos de nosso trabalho espiritual, de nosso estudo, de nosso apostolado, de nossa pobreza. Não duvidamos de ti, mas tememos a nossa inconstância e fraqueza. Por isso, bom Mestre, pela intercessão de nossa mãe Maria, trata-nos com a misericórdia usada com o apóstolo Paulo, de modo que imitando fielmente este nosso pai na terra, sejamos companheiros dele no céu.

Pode-se ler o testamento de Dom Alberione, como na primeira proposta

Oração final

Celebrante: Deus nosso Pai, do qual procede toda paternidade nos céus e sobre a terra, vos conceda, segundo a riqueza de tua glória, sermos abundantemente confirmados pelo teu Espírito na profundidade de nossa vida. Que o Cristo habite pela fé em nossos corações e assim, enraizados e fundados na caridade, sejamos capazes de compreender com todos os santos a amplidão, a largura, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que ultrapassa todo conhecimento, para que possamos estar repletos da plenitude de Deus (cfr. Ef 3, 14-19). Todos: «Àquele que em tudo tem o poder de fazer muito mais de quanto podemos pedir ou pensar, segundo o poder que já se realiza em nós, a ele a gloria na Igreja e em Cristo Jesus por todas as gerações, pelos séculos!» Amém.

Celebrante: “Desça amplamente a bênção de Deus e o dom do Espírito sobre todos os membros da Família Paulina”. Todos: Amém. Canto final

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Primeira etapa

De 5 de abril a 11 de maio Quarto domingo da Páscoa – Festa de Jesus Bom Pastor

“O Pastor que é Caminho Verdade e Vida, o Pastor divino: oh, este é o espírito da Família Paulina”.4

Introdução

Depois de termos iniciado o ano alberioniano com a celebração da abertura que nos pôs em sintonia com o nosso Pai Fundador por meio da liturgia penitencial que nos mostrou o quanto a história das ´divinas misericórdias´ ainda está para completar-se em nós, entramos vivamente em nossa herança espiritual carismática, vivendo intensamente as festas que nos são comuns.

O ano alberioniano, em conformidade com a liturgia, faz-nos encontrar antes de tudo com Jesus que se revela como o Bom Pastor. A proximidade dessa festa com a data da beatificação do nosso Fundador nos faz recordar como a vocação para o sacerdócio do Padre Alberione e a caminhada com a sua diocese de Alba lançaram nele a raiz da pastoralidade, entendida como expressão da relação real de Cristo com o seu povo, raiz na qual quis inserir toda a Família Paulina, contando com a diversidade dos apostolados. Esta festa, portanto, se apresenta como oportunidade única para iniciar esse nosso itinerário carismático de família religiosa na ótica pastoral que deve ser uma característica nossa. Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, centro da nossa espiritualidade apostólica é Mestre com coração de Pastor. Os textos bíblicos dessa etapa convidam a dar acolhida a Jesus no seu ato de revelar-se o único Pastor verdadeiro. “Eu sou” é forma de auto-revelação! Ele é o Bom Pastor que toma conta de suas ovelhas, conhece-as uma a uma, estabelece com elas uma relação pessoal e que propõe uma aliança. Jesus está disposto a dar a vida, gratuitamente, pelas ovelhas que já o conhecem e por aquelas que ainda estão famintas e que se encontram desorientadas. À imagem do Bom Pastor, toda pessoa que na Igreja tem um papel de guia está convidada a ser um ícone vivo de Jesus, o Pastor, que abre os caminhos e oferece a vida, tornando-se exemplo ou modelo de gratuidade, de atenção, de doação total. Por essa razão edifica a comunidade ao redor de si.

Escutemos e meditemos a Palavra

Evangelho de João 10,7-18

Jesus continuou dizendo: “Eu garanto a vocês: eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Quem entra por mim, será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Em vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho o poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai”.

Primeira Carta Pedro 5, 1-4

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“Faço uma admoestação aos presbíteros que estão entre vocês, eu que sou presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa do lucro vil, mas por generosidade; não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho. Desse modo, quando aparecer o supremo Pastor, vocês receberão a coroa da glória que não murcha”.

A proposta do nosso pai Alberione

Uma das disposições fundamentais que o Padre Alberione exige dos Paulinos e das Paulinas é a convicção de que a orientação da vida “rumo ao céu” é necessária. Necessária para todos, mas “por razão maior quando se deve ser modelo para os outros”. Por determinação dessa necessidade requer-se a admoestação que o apóstolo Pedro dirige aos outros “presbíteros”, pastores do “rebanho de Deus” como ele: será pastor todo aquele que souber adotar o estilo de Jesus, Pastor bom, afável, conforme o coração do Pai!

DF pp.13-14.

Necessidade [da orientação da vida] A orientação da vida rumo ao céu é necessária para quem se desviou da estrada, para quem ainda

não a percorre com segurança, também para quem já caminha veloz e para quem ainda precisa escolher um estado de vida. Os desvios são fáceis por causa da grande agitação do mundo, das paixões, do demônio. É preciso formação para se chegar a viver de Jesus Cristo: “donec formetur Christus in vobis”, e com maior razão quando se deve ser de exemplo para os outros “forma facti gregis ex animo” [como modelo para o rebanho] (1Pd 5,3).

Para o Padre Alberione a orientação da vida para Deus, para o céu, é algo necessário. E isto para todos: - para quem se desviou do caminho: a fim de que possa encontrar logo o caminho da volta; - para quem ainda não percorre o caminho com segurança: a fim de que consiga acelerar ou, se

necessário, para corrigir a rota; - também para quem já anda veloz: a fim de que não aconteça de deter o passo ou até perder-se pelo

caminho; - e para quem deve escolher um estado de vida: enquanto lhe é indispensável ter um ponto muito

preciso de referência. Daí deriva uma necessidade absoluta: “A formação é necessária para vivermos de Jesus Cristo: donec formetur Christus in vobis, e com maior razão quando se deve ser de exemplo para os outros” “forma factus gregis ex animo” (1Pd 5,3).

Formar-se para formar

Formar bem as pessoas é o primeiro “dever”. Pode-se formar os outros somente quando se vive antes o processo de autoformação. Autoformar-se, deve tornar-se o estilo predominante da Família Paulina: tem ela na Igreja um papel docente e, portanto, uma responsabilidade maior, devendo ser “exemplo para os outros”!

Esse estilo de autoformação é muito bem sublinhada na Instrução Partir de Cristo (n. 15): “Se, de fato, a vida consagrada é em si mesma uma `progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo´ [VC 65], parece evidente que esse caminho deva durar a vida inteira, envolvendo toda a pessoa, o coração, a mente e as forças (cf. Mt 22,37) e torná-la semelhante ao Filho que se entrega ao Pai pela humanidade. Entendida dessa maneira, a formação não é apenas um tempo pedagógico de preparação para os votos, mas representa um tempo teológico de considerar a vida consagrada, que é em si mesma formação nunca concluída, ´participação na ação do Pai que, mediante o Espírito, vai plasmando no coração (...) os sentimentos do Filho´” [VC 66].

4 Cf. AAP 1965, 617.

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O espírito pastoral da nossa Família religiosa

A figura de Jesus, Bom Pastor, ao mesmo tempo em que apela para a necessidade de formar-se para ser modelo para os outros, requer de nossa Família Religiosa a urgente e sempre nova incumbência pastoral de promover nos outros o encontro e o crescimento em Jesus Cristo. A esse respeito, a admoestação de Pedro encontra uma brilhante correspondência de matizes e de conteúdo, no testamento espiritual de Paulo (At 20, 18-35), entregue aos pastores da Igreja de Éfeso. O ensinamento pastoral de Pedro e de Paulo, que decorre da conformidade de ambos com Cristo Pastor, converge para um único amor pastoral que tem estas características:

• Servir o rebanho de Deus não por obrigação, mas voluntariamente, por amor; • Livres da sede do lucro e capazes de grande generosidade, a ponto de fazer a oblação de si

mesmo; • Tornando-se modelo do rebanho, sem fazer pesar a própria autoridade; • Movidos por um amor pastoral os torna guardiães que vigiam com atenção, prevêem os

perigos, expondo-se por primeiro ao risco, porque sabem que são responsáveis pela vida dos outros.

O Fundador lembra: “... a ação pastoral visa a fazer viver nos homens o cristianismo: a tornar o homem cristão na mente, no coração, nas atitudes. O cristianismo não é um complexo de cerimônias, de atos externos, de cortesias etc., é uma vida nova. O cristianismo envolve o homem, integra-o, e de certo modo, consagra-o” (Alberione, Appunti di teologia pastorale, p. 81). Tornando-se pessoalmente “modelo” para os outros, a nossa Família Paulina vive um só espírito pastoral: “Antes de iniciá-la (Sociedade São Paulo) publicou-se o volume Appunti di teologia pastorale: é pastoral. Espírito pastoral é comunicar Jesus Cristo às almas. Jesus Cristo, como ele se chamou numa definição que tudo sintetiza: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”: sublimar e santificar o homem todo: a mente, o sentimento, a vontade, com o Dogma, a Moral, o Culto... Quais os paroquianos? Toda a plebs Christi [rebanho de Cristo] et ´aliae oves quae non sunt ex ovili et illas oportet ad Christum adducere, et fiet unum ovile et unus Pastor” [e outras ovelhas que não são deste rebanho e importa conduzi-las ao Cristo, para que haja um só rebanho e um só Pastor]: uma só paróquia, em torno:

• de uma única cátedra de pregação, o papa; • de uma única mesa, a Eucaristia; • de um único regime;

todos ´conformes à imagem do Filho de Deus; herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo´... Sempre a oração do Divino Mestre: "que sejam um" aplicada não apenas a um instituto, mas vivida em toda a imensa paróquia paulina, que tem por limites os confins do mundo, e por rebanho tanto quem já está no aprisco, como quem deve ser conduzido ao aprisco” (UPS I, 376. 382). Considerando que grande parte da humanidade ainda não conhece Jesus e não faz parte da Igreja, o Fundador conclui: “A verdadeira causa é a falta de ministros; falta de apóstolos que, fazendo-se voz de Deus, chamem as ovelhas para o rebanho de Jesus Cristo e apressem o cumprimento da profecia do Redentor: “Que haja um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16) (UPS, IV, 88).

Temas de atualização

“Você me ama?” (Jo 21,15).

Só mesmo Jesus pode mostrar-nos o caminho para amá-lo. Só ele, o Amigo, conhece a fundo o nosso coração. Só ele pode transformá-lo. Depois da prova de fé para Pedro há aquela do amor, ápice e transfiguração da amizade. É a prova mais difícil porque tem por exigência crer no incrível, crer na sua capacidade de amor e de amizade, depois de ter reconhecido o seu grande pecado. Jesus, Amigo, quer converter Pedro à sua amizade misericordiosa e ao seu amor. Essa é a última “certeza”, o último recife que ainda faz encalhar a barca de Pedro e não o deixa em liberdade no oceano da amizade fiel a Cristo. Tudo acabou, o entusiasmo parece ter ficado para trás, a cruz parece ter apagado qualquer sonho, e Pedro voltou

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às “certezas” de um tempo: a barca, o mar, os peixes, mas também dessa vez a rede está vazia, não há nenhum fruto da fadiga de todo dia e, doutra parte, nem é possível para quem experimentou o Tudo, vir a contentar-se com o pouco...!!!

Mas Jesus, o Amigo ressuscitado, volta a fazer o seu convite: “Joguem a rede do lado direito da barca, e vocês acharão peixe!” (Jo 21,6). É preciso coragem para recomeçar tudo depois do fracasso. O medo de errar de novo, de precisar fazer outra vez a experiência amarga do próprio nada, o medo de ter de passar pelo abismo tenebroso em que se caiu porque se apostou em algo muito alto... Não, melhor é o pouco: pelo menos é seguro, no fundo, quem sou eu? Tenha confiança, Pedro. Tenha confiança no seu Senhor! Não tema pelo seu pecado, recobre o entusiasmo e volte a pescar! Lance a sua rede, Pedro, e abra bem os seus olhos: porque Jesus, seu Amigo, está ao seu lado! E Pedro confia no Amigo e sai vitorioso. O cansaço sumiu, a alegria está de novo presente, o entusiasmo se reacendeu no espírito do pescador de Cafarnaum. Cristo está de volta! Ele está aqui. Todo o medo desapareceu e desta vez para sempre, porque toda falsa certeza já não existe e todo sonho ilusório desvaneceu. Até que enfim Pedro entendeu: Cristo é a única certeza!

Agora que Pedro fez a experiência amarga de seu nada, Jesus pode ser realmente, e não apenas em desejo, o seu tudo. E, então, Jesus passa para Pedro o segredo da sua amizade, para que não volte atrás, para que possa avançar sempre no caminho do seu amor cordial: “Você me ama? Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo!” (cf. Jo 21, 15-17) “E Jesus acrescentou: Siga-me!” (v. 19). Mais um apelo de amizade e dessa vez Pedro não hesita porque agora seu amor e sua amizade estão alicerçados na rocha: a tríplice certeza da sua pobreza e do perdão de Cristo. Para Pedro esse chamado é definitivo, representa uma clara ruptura com o passado: ele deve mudar seu modo de vida e realmente deixar de lado a si mesmo de maneira definitiva. Assim, Pedro, no amor e na amizade com o seu Senhor, torna-se pai e pastor, porque de agora em diante não deverá apenas recolher - como um pescador - os homens no Reino de Deus, mas alimentá-los como pai e pastor nas pastagens do amor/amizade de Cristo. Deverá proporcionar a eles o melhor que puder, a ponto de dar a própria vida, como o amigo e Senhor Jesus lhe ensinou e fez por ele, para que ele o faça para os outros.

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• Cristo transtorna os planos de Pedro propondo-lhe uma coisa aparentemente impossível. Então, eu me pergunto: estou disposta a deixar-me questionar pelo Senhor ou pretendo que ele se enquadre nos meus projetos?

• Jesus pede a barca de Pedro, a sua vida. Eu me pergunto: quais são os medos que me impedem de dar totalmente a “barca” da minha vocação pessoal e do meu ser para acolher por completo a Jesus, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, na minha vida?

• O Mestre Pastor me encontra no cotidiano da “liturgia da minha vida”, do meu trabalho apostólico, do meu tempo. Sei ver, ouvir e discernir cada circunstância de sua passagem no meu “aqui e agora”?

• É fácil dizer que se ama, mas não se atinge a maturidade do amor por declarações e por palavras. Só mesmo quando se der a prova maior, ou seja, aquela de morrer para si mesmo, pode-se dizer que se ama de verdade. Concreta e realisticamente, como estou provando ao Senhor que eu o amo de verdade?

Oremos5

5 Propomos a terceira e a quinta partes da coroazinha a Jesus Bom Pastor (Livro de Orações, pp. 100-106), convidando a rezá-la na semana que prepara a solenidade de Jesus Bom Pastor; escolhendo algum ponto por dia e meditando cada expressão. Pode-se rezar também a Oração sacerdotal, Jo 17. Outros textos bíblicos como referência: Sl 23; Ez 34; Jr 23,1-6; Mc 6,34; Mt 9,35-36; Jo 19, 25-27; Jo 21, 15-19; 1Pd 5,1-5; Ap 7, 13-17.

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Sê bendito, ó Jesus, morto por nós na cruz! Morreu o inocente para dar de novo a vida às ovelhas culpadas: Vim para que tenham vida e vida mais abundante. Dá-nos a tua vida no batismo, na crisma, na penitência, na eucaristia. Estás vivo em todas as pessoas com o teu Espírito! Chama de novo para o teu rebanho a todos os que estão separados de ti como ramos separados da videira. Pedimos-te pela Igreja, adquirida com o teu sangue: Que ela se estenda por todo o mundo e seja para todos sinal de unidade e salvação. Queremos amar-te com toda a mente, com todas as forças, com todo o coração e pelo teu amor queremos consumir-nos totalmente em favor de teu povo.

Ó Jesus, Bom Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós!

Dá-nos o teu coração, ó Jesus Bom Pastor, que trouxeste do céu o fogo de tua caridade. Arda em nós o desejo da glória de Deus e um grande amor pelos irmãos. Torna-nos partícipes do teu apostolado. Fica em nós para que te possamos irradiar pela Palavra, pelo sofrimento, pelo trabalho pastoral, dando bom exemplo com a nossa vida. Nós nos oferecemos a ti como ovelhas dóceis e fiéis para tornar-nos dignas de colaborar na missão pastoral da Igreja. Dispõe todas as mentes e os corações para que acolham a tua graça. Vem, ó Pastor divino, guia-nos, e que, em breve, haja um só rebanho e um só o pastor. Ó Jesus, Bom Pastor, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.

Segunda etapa

De 12 de maio a 7 de junho

Festa de Maria Rainha dos Apóstolos - Vigília da Solenidade de Pentecostes

“Com Maria no cenáculo para obter a efusão do Espírito Santo”

Introdução

A liturgia da Igreja nos acompanha na celebração do ano alberioniano fazendo-nos encontrar com Maria, Rainha dos Apóstolos, que tem um papel fundamental em nossa espiritualidade.

O nosso Fundador, alcançada a idade de 80 anos, agradece à Trindade: “Por ter, desde o ano de 1900, praticado e pregado a devoção a Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, à Rainha dos Apóstolos, a São Paulo Apóstolo” (SP, março/abril de 1964) e em AD ele nos faz lembrar que: “o mundo necessita de Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Maria o dá por meio dos apóstolos e dos apostolados. Ela os desperta, os forma, dá-lhes assistência, recompensa-os com frutos e a glória no céu” (AD 182).

Os textos bíblicos propostos colocam-nos diante da primeira comunidade cristã que, ferida pela traição de Judas, vacilante pela negação de Pedro e medrosa pela ausência do seu Senhor, reune-se no cenáculo com

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Maria que ´conforta os apóstolos´, promove a concórdia e a oração, e, à espera do Espírito Santo que os cura das infidelidades, os conduz à maturidade vocacional apostólica. Os trechos bíblicos nos recordam, além de tudo, que o Espírito aguardado é o dom pascal do Ressuscitado, vencedor do pecado e da morte; é aquele que nos faz viver as exigências do batismo, transformando-nos em Jesus e tornando-nos sua comunicação viva.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Atos dos Apóstolos 1,13s

Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam hospedar-se. Aí estavam Pedro e João, Tiago e André... Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos à oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus”.

Evangelho segundo João 15,26s O Advogado que eu mandarei para vocês de junto do Pai, é o Espírito da Verdade que procede do Pai. Quando ele vier, dará testemunho de mim. Vocês também darão testemunho de mim, porque vocês estão comigo desde o começo”.

Evangelho segundo João 16,12s “Ainda tenho muitas coisas para dizer, mas agora vocês não seriam capazes de suportar. Quando vier o espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer”.

A proposta do nosso pai Alberione

Na proposta do Padre Alberione (DF p. 9), o compromisso batismal que emana do tempo pascal e nos dá acesso a uma vida nova, é expresso com esta afirmação:

“fazer morrer o homem velho e fazer viver em nós Jesus Cristo”.

A modalidade sugerida é a dos exercícios espirituais: verdadeiras práticas de vida cristã-religiosa-paulina a realizar-se na semana dos exercícios espirituais e dando continuidade durante o ano espiritual apostólico: pois, em verdade, na experiência dos exercícios espirituais, segundo o Padre Alberione, cada Paulino/a tem a intenção de “começar a praticar e a viver os propósitos que se faz para a vida”.

As práticas (“exercícios”) propostas pelo Padre Alberione são de três tipos:

• práticas de “virtudes”, isto é, de uma série de hábitos bons que são indispensáveis à vida cristã;

• práticas de “oração”: formas de oração especialmente elaboradas. Em primeiro lugar a oração meditativa sobre os textos bíblicos sugeridos; e a seguir, outras formas como a Via humanitatis [o caminho da humanidade], a Via Crucis e o rosário; ou outros exercícios sugeridos pelo desejo de encontrar o Senhor;

• práticas de “pensamentos divinos”... Trata-se do fruto da reflexão, da meditação, da atitude de manter pensamentos, reflexões que têm a Deus como objeto único.

Como viver esse período litúrgico

Temos o propósito de viver esse período litúrgico com o coração e as disposições de Maria no cenáculo. Pode-nos orientar o seguinte trecho do Fundador, em que importa salientar a visão muito ampla que o Padre Alberione tinha sobre Maria Rainha dos Apóstolos.

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DF pp. 96-97.

Maria Rainha dos Apóstolos

1. “Rainha dos Apóstolos”. Com relação a ela é preciso crer que foi a mãe do Apóstolo do Pai, o Verbo Divino: que ela se tornou mãe, mestra e rainha de todo o apostolado no nascimento de Jesus, a Cabeça, e que foi proclamada como tal na cruz; e a tal se portou com os Apóstolos especialmente no Pentecostes: que foi sempre a inspiradora, a protetora de todo o apostolado da palavra e da imprensa, e ainda a formadora dos Apóstolos de todo lugar e de qualquer tempo.

2. Para com ela devemos: clara e ilimitada confiança e amor; a devoção mais cordial, expansiva, terna; as práticas mais comuns e constantes do Rosário, do Angelus, três Ave-marias, a coroazinha, o sábado etc.

3. Que se deve fazê-la venerar: escrevendo e pregando sobre ela e dando exemplo de devoção para com ela.

A visão mariana do Padre Alberione

Sobre Maria, Mãe, Mestra e Rainha dos Apóstolos, Padre Alberione tem uma visão muito especial. O papel desempenhado por Maria no cenáculo tem sua fase de preparação já em momentos antes nos quais a Mãe de Jesus foi tomando consciência da sua missão de Rainha dos Apóstolos. Segundo a visão do Fundador, Maria: - foi a mãe do Apóstolo do Pai, o Verbo Divino; - tornou-se mãe e mestra de todo apostol(ad)o com o nascimento de Jesus, sua Cabeça; - como tal ela foi proclamada na cruz; - foi assim que ela se mostrou para os apóstolos especialmente no Pentecostes. Maria, a Rainha dos Apóstolos, predispõe o nosso coração para receber o Espírito Santo. Tudo se “completa no Espírito”. De nossa parte é pedida humilde “cooperação com propósitos especiais” e confiante “oração, com abundância de práticas”.

DF p. 100

“Tudo se completa no Espírito Santo, visto que assim como a vida de Jesus Cristo, também a vida da Igreja, a vida sobrenatural das almas é transmitida, desenvolvida, aperfeiçoada, plenificada no Espírito Santo. Por isso, o nosso estudo é duplo, para que se forme em nós Jesus Cristo: Cooperação com propósitos especiais e oração com abundantes práticas”.

Temas de atualização

Maria, Rainha dos Apóstolos, é a nova mulher, - “virgem mãe, filha de seu filho” -, que percorre a sua peregrinação de fé6, na luz e no calor do Espírito, que a conduz do “Faça-se” de Nazaré ao “Magnificat” de Ain Karin, ao “Estar” no Calvário, à alegria de Pentecostes e da Assunção ao Céu.

Vamos fazer, a exemplo dela, uma lectio existencial em nós sobre o Verbo - Mestre, Caminho, Verdade e Vida - que quer viver em nosso “aqui e agora” a totalidade e a simplicidade da vocação mariana, em nós, como libertação e transfiguração do nosso Sim, que se faz gradual cristificação de todo o nosso ser. Jesus, meu Senhor, vive na minha vida, a partir de dentro de mim, na minha mente, na minha vontade, no meu coração.

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

A minha Nazaré, lugar onde a sombra do Espírito cobre todo o “aqui e agora” da minha existência.

6 Cf. Redemptoris Mater, n. 15.

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• “No sexto mês” (Lc 1,26): Como estou aproveitando o tempo que o Senhor me concede, como tempo vazio, como tempo ritmado por minutos, horas, dias, acontecimentos ou como tempo pleno, em que Deus vai escrevendo uma história? Eu distingo bem as características desse tempo/história como um chamado para ser protagonista do meu hoje, da minha liberdade, da “dignidade da minha vocação”? (cf. Ef 4,4).

• “O anjo Gabriel ” (Lc 1,26): Também para mim o Senhor manda “anjos”, mediadores da sua vontade pessoal a respeito de minha vida. Até agora, quais foram esses enviados, como é que eu os recebi, o que é que me anunciaram?

• Percebo que Deus pronuncia o meu nome de um modo diferente. Eu o ouço e procuro entender o que ele diz? Estou disponível na minha história pessoal de salvação, iluminado pelo Espírito, a fim de gozar e sentir o amor pessoal de Deus para comigo... : “A mão de Deus sobre mim...”?

• “Não tenha medo, Maria” (Lc 1,30): Quando foi que eu ouvi repetir-se em minha vida: “Não tenha medo”? O que é que de maneira concreta aconteceu comigo e em volta de mim, em meio à luz da experiência do Primeiro Mestre?

• Reconsidero com profundidade a minha vida de fé, no meu encontro com Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, no seu mistério de encarnação em mim? O que significa para mim que o Filho do Homem se fez homem para mim? Isso me ajuda a ter consciência também da vida amada em profundidade, redemida por Jesus Cristo? Quais as conseqüências disso?

• “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37): Reconsidero minha história diante de Deus e reconsidero que ele foi fiel às promessas, principalmente, naquilo que me parecia impossível...!!!

• “Maria, então, disse: Eis-me aqui...” (Lc 1,38): Diante dos meus “eis-me aqui”, procuro refletir na minha história de disponibilidade e de fidelidade que lança as bases para a minha decisão de mudança e de eleição de vida; eu me confronto também com a minha história menos transparente de meu fechamento e infidelidade...

• A força do Espírito consegue gerar em mim Cristo-Palavra, Caminho, Verdade e Vida, como fez em Maria, de modo que eu o possa dar ao mundo? Procuro olhar e reconhecer os sinais da presença de Cristo que vive em mim e de apresentá-los ao Pai com uma nova disponibilidade?

Sou a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra!

Oremos7

Ó Espírito Santo, por intercessão da Rainha de Pentecoste, cura a minha mente da falta de reflexão, da ignorância, do esquecimento, da falta de flexibilidade, do preconceito, do erro, dos desvios e concebe a Sabedoria, Jesus Cristo - Verdade, em tudo.

Cura o meu sentir da indiferença, desconfiança, más inclinações, paixões, sentimentos, afeições, 7 O Fundador, em novembro de 1930, escreve: “Encarnar em mim e nos outros, Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo”. Esse seu desejo pessoal e esse empenho tornou-se uma oração ao Espírito que podemos torná-la nossa. É proveitoso valorizar também a Oração ao Espírito Santo e o terceiro ponto da coroazinha à Rainha dos Apóstolos.

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e concebe os gostos, sentimentos, inclinações, de Jesus Cristo - Vida, em tudo.

Cura a minha vontade diante da abulia, da leviandade, da inconstância, da preguiça, da obstinação, dos maus hábitos, e concebe em mim, Jesus Cristo - o Caminho, novo amor àquilo que Jesus Cristo ama,e o próprio Jesus Cristo. Eleva de modo divino: a inteligência com o dom do Intelecto, a sabedoria com o dom da Sabedoria, a ciência com a Ciência, a prudência com o Conselho, a justiça com a Piedade, a fortaleza com o dom da Força espiritual, a temperança com o Temor de Deus.

Terceira etapa

De 8 de junho a 30 de junho - Solenidade de São Paulo Apóstolo

São Paulo: “O mais completo e fiel intérprete do Mestre Divino”

Introdução

Ao legar-nos a sua herança espiritual, Padre Alberione preocupa-se sempre em passar para nós Jesus Cristo, a Rainha dos Apóstolos, São Paulo apóstolo. Para todos nós é certo de que a nossa origem se dá na Eucaristia. Causa profunda impressão ouvir de novo estas palavras: “ A vida da Família Paulina emana da Eucaristia, mas é transmitida por São Paulo. O reconhecimento mais vivo é para com Jesus, Mestre Divino, em seu sacramento de luz e de amor, também para a Rainha dos Apóstolos, nossa Mãe e Mãe de todo apostolado; e para São Paulo, que é o verdadeiro Fundador da Instituição. Na verdade, ele é o Pai, o Mestre, o modelo, o protetor. Ele constituiu essa família para si com uma sua intervenção, tanto física como espiritual, o que nem sequer agora, mesmo refletindo, se chega a entender bem e menos ainda a explicar. Tudo é dele. Dele, o mais completo intérprete do Divino Mestre, que disseminou o Evangelho entre os povos e convocou as nações para Cristo” (SP, julho-agosto de 1954). São Paulo, efetivamente, uniu santidade e apostolado. Aproximar-se mais de Paulo com o coração renovado é provar em profundidade a riqueza do carisma que o nosso Fundador nos legou.

Os textos bíblicos paulinos propostos ajudam-nos a fazer parte da experiência cristocêntrica de Paulo e essa se pode sintetizar na sua experiência de estar com (chamado), em seu viver em (encontro pessoal profundo), em consumir-se por Cristo (envolvimento sem nenhuma reserva para si mesmo) na missão vivida como dívida de amor. Essa intensa experiência cristocêntrico-apostólica, vivida por uma pessoa humana como nós, fascina tanto o nosso Fundador, que ele a propõe como indispensável. O texto paulino mais citado pelo Fundador é Gl 2,20. A importância dessa expressão consiste no fato de que Paulo, imerso no mistério pascal como norma do dia-a-dia, não fala da imitação de um modelo externo, mas de “substituição”: Paulo permitiu que Cristo morasse nele, pensasse com sua mente, tomasse decisões em sua vontade, amasse com o seu coração. Jesus, para Paulo, é a “nácar” (DF 37), isto é, a pérola, dom e conquista, ao mesmo tempo, pela qual vale a pena deixar todo o restante. Por isso, a sua vida foi acompanhada por uma plenitude de motivações relativas a Jesus, plenitude essa que o torna apóstolo e o envia a todos.

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Ouçamos e meditemos a Palavra

Carta de São Paulo aos Gálatas 2, 19-20 “Quanto a mim, foi através da lei que eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Fui pregado na cruz com Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Carta de São Paulo aos Filipenses 3, 7-11 “... porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. E mais ainda: considero tudo uma perda, diante do bem superior que é o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo. Por causa dele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, e estar com ele. E isso, não mais mediante uma justiça minha, vinda da lei, mas com a justiça que vem através da fé em Cristo, aquela justiça que vem de Deus e se apóia sobre a fé. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder de sua ressurreição e a comunhão em seus sofrimentos, para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos”.

A proposta do nosso pai Alberione

O prodígio operado pelo Espírito Santo em Maria foi, sem dúvida, extraordinário. Mas quem pode atingir aquele vértice? Daí se vê a necessidade de haver um modelo... mais conforme à medida humana. Por isso, Padre Alberione apresenta a figura de São Paulo. Ele era sim, uma pessoa como nós, um homem verdadeiro, com qualidades incomuns e também com defeitos: um homem que se deixou tocar pela graça de Deus, que se entregou completamente, e que se transformou em outro Cristo “ao vivo” (cf. Gl 3,1).

São Paulo será sempre para nós um modelo que nos inspire, já que a Família Paulina deve ser “Paulo vivendo hoje”. Ele viveu de modo excelso a experiência de ser “nova criatura”, plenificada pela obra do Espírito de Jesus Cristo, o que consiste em deixar que os valores de Cristo se realizem em nós. O Paulino ou a Paulina vai se tornar digno/a desse nome em virtude da familiaridade com o Apóstolo dos povos pagãos, que “foi o mais completo e fiel intérprete do Divino Mestre”.

DF pp. 168-170

A doutrina de São Paulo Pelas características presentes na revelação do Antigo e do Novo Testamento, Paulo, instruído por

Jesus Cristo e iluminado em todos os seus passos pelo Espírito Santo, formou o corpo de doutrina a que ele chamou de “seu Evangelho” e que, dogmática, como moral e liturgicamente, é a doutrina que nós vivemos; ou melhor dizendo, que a Igreja vive. Visto que ele foi o mais completo e fiel intérprete do Divino Mestre, compreendeu e entregou, de maneira elaborada, mediante uma significativa síntese e rigorosa lógica, o Evangelho inteiro e concreto, de modo que a humanidade pagã pudesse encontrar o que inconscientemente procurava.

Assim: O seu olhar penetrou na profundidade da queda original; nela vê o homem feito carne; o pecado que

impõe a lei aos seus membros e que produz frutos de morte; a vontade quase sempre incapaz de libertar-se da escravidão e completamente impotente de alcançar a justiça, é depois elevada às alturas do divino. A virtude, na verdade, não se restringe à lei natural ou à virtude natural, mas é a própria santidade divina de Jesus Cristo comunicada às nossas almas pelo Espírito Santo, edificando a conformidade da nossa vontade com a vontade divina.

E de onde provém essa comunhão com a jsutiça eterna? Da fé, descrita por São Paulo na Carta aos Romanos, como que tendo um poder sobrenatural. A fé, agindo por meio da caridade, nos une a Jesus Cristo em quem se encarnou a santidade, a vida divina. A fé faz mais ainda: cria em nós um ser novo, animado pelo espírito de Jesus Cristo. Unidos, abandonados a ele, nesta vida, nós podemos fazer e

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fazemos o que ele fez; nós morremos nele à carne e ao pecado, para nascermos de novo à vida espiritual. Falando com mais precisão: O Cristo, e só ele, vive, pensa, age, ama, quer, ora, sofre, morre e ressuscita em nós. Cabeça da humanidade regenerada, com todos os que crêem, ele forma o corpo místico cujos membros estão estreitamente unidos pela caridade que anima a uma só vida, na qual pulsa um só coração, o Coração de Jesus Cristo.

Paulo, modelo para a nossa transformação em Deus

Exatamente porque São Paulo viveu de maneira incomum a experiência de um homem “novo”, realizado pela obra do Espírito de Jesus Cristo, cada membro da Família Paulina poderá plasmar-se segundo esse modelo. Para Padre Alberione, o nosso esforço de santificação acaba “por transformar-nos em Deus”. Essa é a meta que Paulo, em seu incessante empenho de dar uma resposta a Cristo, conseguiu alcançar, propondo-nos o seu próprio caminho: “Sejam imitadores meus, como eu o sou de Cristo”. Uma imitação como relação transformadora: nessa vida e nessa missão encontram-se os dois lados da mesma moeda. Essa transformação é vivida como dom de Deus que requer a nossa fiel colaboração.

DF pp. 11-12

A ação santificadora da alma, consiste na transformação nossa em Deus “para que o homem se torne Deus” por meio do alimento Jesus Cristo: alimentando-nos todos os dias de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida. Esse é o alimento dado por Deus ao homem. É necessária a ingestão e a assimilação. Deus preparou a mesa: “faça as pessoas virem até aqui” (Lc 14,23).

De uma parte, portanto, a graça: Eucaristia, Evangelho, (Missa, Comunhão, Visita); doutra: cooperação, meditação, exame de consciência, confissão, orientação espiritual. “Aquilo que sou, eu o devo à graça de Deus” (1Cor 15,10); “Nós, porém, somos colaboradores de Deus” (2Cor 3,9).

A meta da nossa transformação

Está prevista uma verdadeira divinização para cada membro da Família Paulina. Para essa

finalidade, está à disposição, desde o princípio, o alimento que, na verdade, se identifica com a Pessoa de Jesus. Com esse alimento - Jesus Cristo, Caminho e Verdade, Vida - somos convidados a alimentar-nos, porque é o alimento “dado por Deus ao homem”. Será Jesus mesmo o nosso alimento diário a transformar-nos nele; e vamos descobrir com surpresa que se verifica o que escreve São Paulo: “somos transformados naquela mesma imagem”, isto é, em Jesus Cristo, imagem do Deus invisível!

Temas para a atualização

Paulo se apresenta à nossa vida e ao nosso caminho de seguimento e de cristificação como homem novo, porque alcançado e conquistado por Jesus Cristo (cf. Fl 3,12).

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• Na vida de Paulo há um antes e um depois, marcado pelo encontro com Cristo. Nas suas cartas Paulo lembra o “antes” da sua vida frisando a grande mudança como conseqüência do seu encontro com Cristo. Compare-se 1Cor 9,1; 1Cor 15,8-9; Fl 3,4-9; 1Tm 1,12-16. A novidade absoluta, a mudança de perspectiva, a compreensão da sua vida, Paulo descobriu no encontro com Cristo.

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Reflete: Quais são os momentos de tua vida em que podes dizer que o Senhor se encontrou contigo e a ti se revelou?

• Como tu te deixaste agarrar e conquistar pelo amor de Cristo? Quando te entregas a ele? Momentos de crise, de dúvida, de tomada de posição na tua vida, de opção, inclusive frente à proposta do Evangelho: em que direção essas coisas estão te levando?

• Uma pergunta fundamental quer ecoar com força na tua vida como naquela de Paulo: “O que devo fazer, Senhor?” (At 22,10). É a pergunta que abre à disponibilidade ao projeto e à proposta dele. Procura marcar o ponto do teu caminho de seguimento e de cristificação: quais respostas amadureceste até aqui; quais os momentos de crise e quais os de avanço que viveste... “enquanto Cristo não esteja formado em ti...” (cf. Gl 4,19)?

• O encontro com Jesus no caminho de Damasco faz Paulo ver que Deus o chama para lhe confiar uma missão. O que já conseguiste entender a respeito de tua missão, confiada por Deus a favor dele? O que achas que deves fazer para realizar essa missão e torná-la cada vez mais concreta?

• “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1,21). “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Com muita simplicidade, mas com profunda verdade e transparência transformadora, dize ao teu coração e tua mente a que realidade vital, no teu “aqui e agora”, na tua realidade comunitária e de Família Paulina, essas expressões paulinas provocam em ti, qual manifestação e provocação de uma experiência de vida.

• A ti, como a Timóteo, Paulo se dirige como a um filho, dando alguns critérios para arraigar-se solidamente na opção feita por Jesus Cristo: 2Tm 1,6-11; 1Tm 1,18-20; 1Tm 4,8-11; 1Tm 6, 11-16.20-21. Procura compreender quais são os “conselhos” que Paulo dá também para a tua vida e faze uma oração vivencial para que, assim como te são dados, assim tu possas acolhê-los e torná-los experiência verdadeira no dia-a-dia sempre mais cristificado...!!

Oremos Ó Santo Apóstolo, que com a tua doutrina e a tua caridade ensinaste o mundo inteiro, volta com benignidade o teu olhar para nós, teus filhos e seguidores. Esperamos tudo de tua súplica junto ao Mestre divino e junto de Maria, Rainha dos Apóstolos. Faze, ó doutor dos gentios, que vivamos da fé, que nos salvemos pela esperança, que só a caridade reine em nós. Alcança para nós, ó vaso de eleição, dócil correspondência à graça divina, a fim de ela frutifique em nós. Faze que possamos sempre melhor conhecer-te, amar-te e imitar-te; que sejamos membros vivos da Igreja, corpo místico de Jesus Cristo. Suscita muitos e santos apóstolos. Passe pelo mundo o ardente sopro da verdadeira caridade. Faze que todos conheçam e glorifiquem a Deus e ao Mestre divino, Caminho, Verdade e Vida. E tu, ó Senhor Jesus, que sabes que não depositamos confiança em nossas forças, por tua misericórdia, concede-nos sermos protegidos contra toda adversidade pela poderosa intercessão de São Paulo, nosso mestre e pai.

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Quarta etapa

De 1o de julho a 20 de agosto,

Memória de São Bernardo - Fundação da Família Paulina

Profundo exame sobre o “a que vieste”?

Introdução

“Padre Alberione que, ao que parece, estava impaciente para ver realizados os planos que lhe fervilhavam na mente há muito tempo, no dia 24 de julho alugou um edifício... situado na Praça Cherasca. Naquele modestíssimo local nasceu a Sociedade São Paulo com o nome de Escola Tipográfica Pequeno Operário, nome muito longo, que logo foi abreviado habitualmente para´Escola Tipográfica´. A data do início é, por tradição, o dia 20 de agosto, festa litúrgica de São Bernardo... Na noite do sábado, 22 de agosto, ele acolheu em sua “casa” o primeiro rapaz, Desiderio Costa”. (Luigi Rolfo, Padre Alberione, Paulus, p.79).

“São Bernardo abriu a casa e faz as vezes de guardião. Exatamente sob o olhar do santo abade de Claraval, a mente e o coração do século XII, Deus fazia surgir os religiosos da boa imprensa. E Deus nos quer bem. São Bernardo é o doutor da vida religiosa e os operários da boa imprensa primeiramente devem ser ricos de espírito religioso... São Bernardo emergiu no espírito de Jesus Cristo toda a vida do século e essa é a missão da Boa Imprensa: dar a forma do Evangelho a cada pessoa” (UBS, A.6, n. 8-15 de agosto de 1924, cf. Primavera Paulina, p. 222).

A referência a São Bernardo como ´patrono` da nossa Família Religiosa é constante no ensinamento do nosso Fundador. Esse Pai e Doutor da Igreja é para nós um apelo a motivar novamente a nossa vocação e a permanecermos arraigados no caminho no qual o Senhor nos colocou, a fim de vivermos a nossa consagração apostólica ´enxertados em Cristo´. Existe a corrente elétrica de alta e de baixa tensão. A vida religiosa é a corrente de alta tensão, é a poesia da personalidade em Cristo, a geradora e alimentadora dos heroísmos” (SP julho de 1957, 1-3).

Os textos bíblicos indicados para esta etapa ajudam-nos a interiorizar a experiência espiritual de São Bernardo. Ele, mantendo fixo o seu olhar em Jesus Cristo, na radicalidade da fé, na harmonia da oração e da ação, espalhou no contexto da história o fermento do Evangelho, que renova, a partir de dentro, tanto pessoas como culturas.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Da Carta de São Paulo aos Romanos 12,1-2 “Pela misericórdia de Deus, irmãos, peço que vocês ofereçam os próprios corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse é o culto autêntico de vocês. Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito”.

Da Carta de São Paulo aos Efésios 4,20-24 “Não foi assim que vocês aprenderam a conhecer Cristo, se é que de fato vocês lhe deram ouvidos e se foram mesmo instruídos segundo a verdade que há em Jesus. Vocês devem deixar de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que vocês se renovem pela transformação espiritual da inteligência, e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade”.

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Da Carta de São Paulo aos Colossenses 3,1-3.5.9b “Se vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. Façam morrer aquilo que em vós pertence à terra... De fato, vocês foram despojados do homem velho e de suas paixões e se revestiram do homem novo que, através do conhecimento, vai se renovando à imagem de seu Criador”.

A proposta do nosso pai Alberione

“A Pia Sociedade São Paulo [A Família Paulina] considerará frequentemente a que vieste?´” (AD 197)

“Agora entendemos a necessidade de sempre mais ordenar, corrigir, elevar e santificar a totalidade da vida diante da eternidade: ´A que vieste? O que isso vale para a eternidade?´” (SP, 15 de junho de 1935).

Abrindo o ano de especial santificação: “Este tempo, início do novo ano, o Senhor nos convida para um mais profundo exame sobre o a que vieste”? (SP, janeiro de 1963). “Sempre mais ordenar, corrigir, elevar e santificar a totalidade da vida perante a eternidade”: este é o convite do Padre Alberione. O caminho que o Fundador nos propõe é o de fixar o olhar na Pessoa de Deus Pai: Pai Criador, Providente, Guia, Fim de tudo. Pai que nos amou e que nos enriqueceu de tantos dons. São importantes as disposições com as quais devemos relacionar-nos com Deus Pai:

DF p.17: a) Admiração: consideração – primeira parte da visita. b) Louvor perene, total, “que se eleva de toda criatura”. c) Amor perfeito “como bem infinito, sobre todas as coisas”.

Padre Alberione nos convida a repetirmos a pergunta: “a que vieste?”.

Jesus nos aponta a estrada: fixar o olhar em Deus, considerando-o fim único, o fim altíssimo. Dar glória ao Pai torna-se, assim, a tarefa primordial de toda pessoa, desejo e necessidade do coração de cada filho de Deus!

“O que é preciso fazer para exercer o vosso apostolado? Em primeiro lugar é necessário que exista a reta intenção: glória de Deus, a nossa santidade, a ponto de deixar-se revestir por essas intenções a tal ponto que nenhum passo, nenhuma palavra, nenhum respiro seja dirigido à outra coisa que não seja a glória de Deus e a nossa santidade. Que nada se perca de tempo, de pensamentos, de sentimentos, de saúde; que tudo seja destinado à glória de Deus e à paz dos homens, à santidade e à glória de Deus e à paz dos homens, à santidade e à salvação8.

De sua parte, o Fundador, já idoso, pergunta-se: “Glorio-me ou me comprazo com alguma coisa? Dou sempre e somente, e por tudo, glória a Deus? Temo a penúria ou a falta das coisas materiais? Deixo-me abater nos momentos difíceis? Procuro de verdade o reino de Deus? Abandono-me ao Pai celeste?” (Taccuini, 1964).

DF pp. 25-26

8 Meditação do Primeiro Mestre, fasc. 1960, p. 20.

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1. Fim último: glória a Deus (...) Deve conseguir-se por meio do homem e pelo homem, na terra, com o louvor e a docilidade da mente e do coração a Deus; na eternidade, com o perfeito conhecimento, louvor, amor de Deus, isto é, mediante a felicidade do homem. Assim é o fim supremo e o fim intermediário.

2. Na terra, quanto mais perfeita for a ciência e o amor de Deus, mais se consegue. O conhecimento de Deus vai desde a ignorância, o erro, até o pensar como Deus em Jesus Cristo (...). A instrução religiosa, a boa leitura e, mais ainda, a infusão da fé, da sabedoria e da ciência de Deus levam a esse grau. Aperfeiçoar o conhecimento de Deus; além disso evitar o pecado, e também o temor servil como os escravos, transformá-lo em amor filial. Escalar os diversos graus do amor de Deus: tristeza pelo pecado, benevolência e desejo da glória de Deus; complacência pela glória e perfeição divinas; viver do amor de Deus.

3. Sobe-se da ignorância, da ciência humana, do ódio ao que é mortal, ao que é venial, e ao amor próprio, para a ciência de Deus, para o amor puro de Deus, cada dia um pouquinho mais. Cresce-se com o amor a Jesus: quem separará vocês do amor de Cristo? Nada! A escada é Maria que de Deus recebe a graça para entregá-la a nós e de nós elimina o amor próprio e o substitui pelo amor de Deus.

Os degraus para 'subir' a Deus

Se o fim último é a glória de Deus na bem-aventurança e no louvor eterno do Pai, a pessoa humana tem o grave dever de conhecer, de adquirir a ciência de Deus, de alimentar a mente com pensamentos e contemplações eternas.

O Fundador volta aqui a um dos aspectos por ele mais ressaltados: a urgência do conhecer. E com o conhecer vem a necessidade de amar. De fato, é a própria categoria da Pessoa de Jesus como Mestre integral que exige essa dimensão.

O processo de conhecimento é extremamente amplo: parte da ignorância ou do erro e, mediante um difícil tirocínio de “instrução religiosa”, mira decididamente à aquisição da “mente” do Mestre, até chegar, nele, a “pensar como Deus” (cf. Lc 2,49 e Mt 16, 21-23). O imperativo é “subir”, com o empenho de elevar diariamente os pensamentos e os anseios do coração: “até à ciência de Deus, até ao amor puro de Deus, cada dia um pouquinho”.

Assim fortalecido pela obra benevolente do Pai, cada fiel é chamado a fazer ou a confirmar a sua opção fundamental: dar uma resposta a Deus que o une a si, aderir ao seu projeto de amor, entregar-se, a fim de ser o lugar onde a graça de Deus possa agir em plenitude.

Não só isso: mas a benevolência do Pai pensou também em fornecer uma mediação eficacíssima para elevar-nos às alturas espirituais: Maria, a Mãe de seu Filho e nossa Mãe. Maria é a “escada”; com ela fica menos difícil “escalar” os degraus da perfeição. Maria, na verdade, “de Deus recebe a graça para dá-la a nós, e de nós tira o amor próprio e o substitui pelo amor de Deus” (DF p. 26).

Temas de atualização

Paulo e Alberione dão testemunho, com a sua experiência e o seu ensinamento, de que chegar a conhecer, escutar e experimentar o sentido profundo do próprio ser, como participação da vida do Criador, é a meta e o ponto de chegada, consciente ou inconsciente, de cada criatura humana. Esse mistério, nos ensina a revelação bíblica, é depositado e selado no arco semântico e existencial do nome (cf. Is 43,1; Lc 10,20b).

Chegar a descobrir a própria vocação pessoal e de uma vida vivida por causa dela, é, com certeza, o convite que Paulo e Alberione nos fazem como ajuda e incremento em nosso caminho de cristificação, até atingir a plena maturidade do Cristo que vive em nós (cf. Ef 4,12 e Gl 2,20).

Discernir, descobrir e escolher a própria vocação pessoal na perene tendência de transformar em profundidade a própria vida, significa permitir a si mesmos de penetrar, cada vez mais, na consoladora certeza de ser, na própria originalidade, preciosas e fundamentais para toda a economia da salvação e

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necessários para a edificação da construção espiritual quais “pedras vivas”, colocadas sobre a pedra angular e viva, que é o próprio Cristo (cf. Ef 2, 19-23; 1Pd 2,4-5).

A vocação pessoal, quando é conhecida, descoberta e vivida num constante crescimento, pode tornar-se o critério de discernimento para todas as decisões da vida. O verdadeiro e genuíno critério para alcançar a “verdade que nos torna lívres” (Jo 8,32) é a esperança da nossa vocação (Ef 4,4), da qual devemos sempre e em todo lugar dar a razão (cf 1Pd 3,15) para “brilhar como astros no mundo, apegando-se firmemente à Palavra de vida” (Fl 2,15b-16).

À luz dessas reflexões entramos na dimensão contemplativa da nossa vida, que nos faz sentir-nos partícipes e co-protagonistas da sinfonia da salvação. Estaremos em condição de oferecer com força e com verdade ao nosso coração as três perguntas seguintes, a fim de orientar sempre mais e melhor a nossa vida para com ele, que é o Princípio e Fundamento do nosso ser, da nossa vida, do nosso chamado, da nossa missão:

• Quem és, Senhor, para mim, aqui e agora? • O que queres, Senhor, de mim, aqui e agora? • Como queres viver isso em mim, Senhor, aqui e agora? Aquele que começou em nós esse bom trabalho, vai continuá-lo! (cf Fl 1,6).

Oremos9

“Senhor, cumulastes a minha vida de prodígios de misericórdia. A vossa glória consiste mais em perdoar quem se humilha e confia na vossa bondade. Pela nova multiplicação de graças estabeleça-se o equilíbrio entre as graças e os dons recebidos com a glória a vós e a minha santidade, e o bem das almas.

Vós sabeis e podeis na nova misericórdia cumprir isso para vossa glória total, pelo amor eterno e a paz por mim e pelas almas, a quem fui enviado. Mudai o maior pecador em um dos maiores santos e um dos maiores apóstolos: para que transborde a graça e o apostolado e o fruto: para a vossa glória e a paz dos homens, onde superabundou o pecado.

Uma imensa glória nova a vós; uma imensa misericórdia para mim; um imenso número de almas santificadas, ajudadas, salvas; uma imensa glória a Jesus, Mestre, Caminho, Verdade, Vida; e uma larguíssima devoção a Maria Rainha dos Apóstolos e a São Paulo Apóstolo”10.

* * *

Procurar sempre e somente a glória de Deus. Esse compromisso não era só o que o Padre Alberione recomendava a todos, mas aquilo que ele se obrigou a viver em qualquer circunstância. Há um

9 Padre Alberione, em 1962, exprimia o seu profundo desejo de viver com o coração voltado para Deus, procurando somente e sempre divina glória. 10 Alberione, Taccuini, 1962.

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testemunho que prova o acordo estipulado pelo Padre Alberione e pelo Padre Timóteo Giaccardo com as três Pessoas divinas, por volta de 1920, acordo intitulado “cambiale” [promissória], que aqui reproduzimos.

(incluir foto)

Essa “promissória” comprova bem, de uma parte o seu propósito de não ter outro interesse senão a

glória de Deus, e doutra parte a fé inquebrantável na promessa de Jesus (Mt 6,33). No alto aparece o compromisso: “Procuro antes de tudo o reino de Deus e a sua justiça”.: Ass.

Sac. Alberione Giacomo; Sac. Giaccardo Timóteo. Em baixo, o compromisso da parte da SS. Trindade: “Todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo”. Ass.: Jesus Cristo; Pai; Espírito Santo.

Quinta etapa

De 21 de agosto a 12 de setembro

Padre Alberione recebe a incumbência de cuidar da imprensa diocesana

O “ano em que fui chamado à missão”

Introdução

O dia 12 de setembro de 1913 para o Padre Alberione é um kairós: recebe o sinal pelo qual Deus lhe dá a certeza de estar na sua vontade. É uma das novas luzes que, pouco a pouco, iluminam o seu caminho, para chegar à “terra” que Deus lhe havia prometido, na noite que dividiu o século, quando “se sentiu obrigado a fazer alguma coisa pelos homens do seu tempo”. Alberione, finalmente, descobre com mais clareza a direção na qual a vontade de Deus o vai orientando. Nem tudo fica imediatamente claro nos pormenores, mas “com o ir adiante de tanto em tanto é iluminado” (AD 202).

Ele sabe que “o Senhor acende as luzes, indo à frente, à medida que se caminha e que se precisa; não as acende todas, logo de início, quando ainda não precisam; não esbanja a luz, mas sempre a dá em tempo oportuno´ (CVV 247; SP abril-maio, 1959, 1-2). Ele mesmo lembra: “a autoridade da hierarquia um dia nos colocou numa estrada e apostolado, bem diferentes daquele até então normalmente seguido. Isso aconteceu numa noite em que o bispo de Alba assistira uma pregação sobre o Nome de Maria (12 de setembro), quando eu convidava os fiéis a consolidar o reino materno de Maria que leva Jesus ao mundo, como seu apostolado.

Logo depois me chamou para dizer-me: “Agora, ao teu ministério sacerdotal comum eu lhe atribuo e acrescento um outro, de muito trabalho”. E me indicou o caminho: a imprensa da diocese. Nesse caminho ele me guiou e me apoiou, embaixo e no alto, com sabedoria e fortaleza por quase vinte anos. Dali veio todo o desenvolvimento. Agora os respeitáveis documentos11 confirmam como tudo se desenvolveu na luz, guia e aprovação da Igreja e mais precisamente do “Pastor da Igreja que nos conduz”. Eis a via-mestra: em Cristo e na Igreja. Sempre como nascemos e vivemos hoje" (SP, julho de 1957). 11 Os dois “respeitáveis documentos”, ambos de elogios recebidos pelo Padre Alberione são: um autógrafo de Sua Santidade Pio XII e uma carta do Prefeito da Congregação dos Religiosos, Cardeal Valério Valeri.

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A memória de São Bernardo nos ajudou a focalizar as raízes de nossa vocação; esta memória histórica de Alberione, nos ajuda a ler em seu caminho o nosso, para considerá-lo como história sagrada, na qual até os mais insignificantes fatos fazem parte do plano previdente de Deus. Esta constatação favorecerá, com certeza, o desejo de sintonizarmos sempre mais com a vontade de Deus, que é vontade de um Pai que ama, que surpreende e faz tudo convergir para o nosso bem.

Os textos bíblicos apontados nos permitirão interpretar este momento histórico como uma importante etapa de êxodo, na fé, rumo à terra prometida; para Alberione rumo a um carisma particular ao qual o Senhor o vem chamando. Nesse caminho há uma coisa que ele não esquece: o horizonte da promessa e do seu empenho de obediência na fé. A resposta de Abraão chamado por Deus a deixar o próprio país para um futuro que Deus mesmo lhe teria indicado e a sua partida na precariedade será uma chave de leitura para entender o caminho de Alberione: chamado para algo profundamente novo, faltam-lhe os meios necessários, mas não falta a certeza da orientação de Deus e do desejo de percorrer os seus caminhos. O texto do Deuteronômio dirigido aos filhos de Abraão, a Israel, é um convite que chega até nós, filhos do pai Alberione, para que não desapareça a ´memória´ do que Deus fez por nós e a fé por aquilo que ainda fará, herança de vida para sermos na Igreja ´novos apóstolos para os novos tempos`.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Do Livro do Gênesis 12,1-3 “Javé disse a Abrão: “Saia de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e o abençoarei; tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma bênção”.

Do Livro do Deuteronômio 5,6-10 “Eu sou Javé seu Deus, que o tirou da terra do Egito, da casa da escravidão. Não tenha outros deuses diante de mim. Não faça ídolos para você, nenhuma representação do que existe no céu, na terra ou nas águas que estão debaixo da terra. Não se prostre diante desses deuses, nem os sirva, porque eu, Javé seu Deus, sou um Deus ciumento: quando me odeiam, eu castigo a culpa dos pais em seus filhos, netos e bisnetos; e trato com amor, por mil gerações, quando me amam e guardam os meus mandamentos”.

A proposta do nosso pai Alberione

Padre Alberione assim narra o momento em que o Senhor “abriu o seu caminho de apostolado”.

“O bispo, quando se tratou de começar, fez soar a hora de Deus (esperava pelo toque do sino) encarregando-o da imprensa diocesana, a qual abriu o seu caminho de apostolado; e assim, também quando se tratou do desenvolvimento, pois vendo o andar das coisas, consentiu ao seu pedido de deixar os ofícios a serviço da diocese: “Deixamos-te livre, providenciaremos de outro modo; dedica-te totalmente à obra começada”. Ele chorou amargamente, sendo bastante apegado à diocese; mas assim havia pedido, e o diretor espiritual havia afirmado ser essa a vontade de Deus” (AD 30).

Já haviam passado treze anos desde a noite em que teve maior compreensão do convite de Jesus ´Venham a mim todos , maior luz sobre a necessidade de uma nova falange de apóstolos, de servir a Igreja e os homens do novo século. Alberione vive pessoalmente os longos tempos de Deus. Sabe que “descobrir a vontade de Deus, é coisa simples e complicada, dolorosa e suave; natural e maravilhosa, conforme os casos” (UPS, I. 115). “A sua vontade (de Jesus), tão forte, tão constante, tão generosa, vem corrigir as nossas fraquezas, a nossa inconstância, o nosso egoísmo, comunicando-nos as suas divinas energias, a ponto de poder dizer com S. Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (SP, dezembro de 1956).

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Discernir e seguir a vontade de Deus é a disposição fundamental que é pedida a cada membro da Família Paulina. Significativa a entusiasta visão propositiva com que o Fundador apresenta a vontade de Deus: “suprema lei e ato máximo de amor” (DF p. 19).

DF pp. 19-20.

[Deus Pai nos guia] com a sua lei

a) eterna: que necessariamente tem um objetivo; ordem, direção de cada ação e movimento..., sapientíssima é cada ordem sua. A ela devo conformar-me: tomando como lei suprema e ato máximo de amor, a vontade de Deus.

Deus Pai que ama e quer o bem O fiel vê na lei, antes mesmo de uma série de disposições e normas a serem observadas, um

valiosíssimo dom de Deus. Ele tenciona assumir a vontade de Deus como lei suprema (superior a qualquer outra norma e único ponto de referência) do seu viver e agir, e como ato máximo de amor (tenciona acolhê-la como ato de amor do Pai amoroso e torná-la real com a atitude de maior amor). Segue-se uma atitude de um atento “exame” e de “instrução” contínua: atenção total e dócil à voz de Deus para perceber e cumprir em primeiro lugar a sua vontade.

DF p. 20. Exame – Instrução A vontade de Deus é o grande sol. É para ele que a alma, como girassol, deve voltar-se. Vontade de Deus: nos superiores; nos fatos; no que é interno. “Ensina-me a cumprir a tua vontade, pois tu és o meu Deus” (Sl 143,10).

Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus

O “grande sol” para o qual a criatura humana, “como girassol”, deve estar sempre voltada é a vontade de Deus: é desse “grande sol” que se recebe a luz, o calor, a vida. O itinerário de identificação se constrói, pois, sobre o plano traçado pelo próprio Mestre divino: “O meu alimento é fazer a vontade de Deus” (Jo 4,34) e sobre a orientação vivida em primeira pessoa e estendida qual Mestre: aos seus discípulos “Felizes os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados”. A justiça da qual se tem fome e sede é exatamente a vontade de Deus, manifestada em suas orientações.

Alberione, também ele, com fome e sede da vontade de Deus, percebe ser seu dever assegurar a seus filhos: “O Senhor [...] me incumbiu, o mais pobre entre todos, de comunicar a vocês a sua sapientíssima e amabilíssima vontade, as nossas devoções, a graça do Espírito Santo e a nossa vida particular. Estou certo de ter aceito esta incumbência pela expressa vontade de Deus, que se manifestou das maneiras as mais evidentes: não houve nenhuma vontade humana que aí se imiscuísse. Estou certo de que na essência ensinei aquilo que Deus quis: desde as coisas do espírito até as coisas da administração financeira. Tereis bênçãos e consolações, bem como filhos espirituais à medida que seguirdes, vivendo a vida paulina, conforme mandam as Constituições, os costumes e exortações públicas ou particulares. Sereis ouvidos à medida que ouvirdes” (SP, junho-julho de 1951).

Temas de atualização

Discernir, encarnar e escolher a vontade de Deus em todo o meu “aqui e agora” existencial é o verdadeiro caminho para realizar em plenitude o mistério de meu envio a cumprir a obra que tenho para realizar. Discernir, encarnar e escolher a vontade pessoal de Deus significa “revestir-se” dos sentimentos do

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homem espiritual, que discerne tudo e não é julgado por nada porque tem o pensamento de Cristo (cf. 1Cor 2,15-16). Compreender o “detalhe mais preciso” da vontade de Deus ao longo da peregrinação existencial do meu estar identificado e sentir-me configurado a Cristo, que vive em mim, é o sentido mais verdadeiro daquilo que Paulo me convida a viver em Rm 12,2 para ser de fato: “um sacrifício vivo, santo, agradável a Deus”. A liturgia da minha vida deve tornar-se memória contemplativa e memorial que ritualize os meus sim, que compõem a história da salvação, que é o lugar do discernimento da minha missão pessoal e originária dentro do organismo comum e relacional do carisma paulino.

A Palavra questiona a nossa vida para tornar-se a nossa vida

• Ser “sacrifício vivo, santo, agradável a Deus” é o horizonte de todo o meu trabalho de missão e de apostolado?

• O meu apostolado e a minha missão constituem elemento importante da minha formação continuada para conformar-me a Cristo que vive em mim, a minha cristificação?

• Sou capaz de ser um contemplativo na ação, sabendo ver no desenrolar-se e completar-se das circunstâncias, acontecimentos e encontros com as pessoas da minha vida, o lugar em que o Espírito fala ao meu coração e me mostra meu horizonte específico de apostolado e de missão em sinfonia harmoniosa de comunhão com os outros integrantes da minha comunidade de toda a Família Paulina, cônscios de que “se fordes o que deveis ser, incendiareis o mundo todo”? (João Paulo II).

• “O agir segue o ser” ... Ajo porque sou o reflexo e a encarnação da verdade de Cristo que está em mim, ou me agito com freqüência e me preocupo com muitas coisas (cf. Lc 10,41) numa indiferença que gera a trizteza, segundo o mundo e não a paz de Deus (cf. 2Cor 7,10)?

O Senhor faça da nossa missão e do nosso apostolado “um sacrifício de perfume agradável” (cf. Ef 5,2)...!

Oremos12

Que eu veja com os vossos olhos. Que eu fale com a vossa língua. Que eu ouça com os vossos ouvidos. Que eu saboreie aquilo que é de vosso gosto. Que as minhas mãos sejam as vossas. Que eu ore com as vossas orações. Que o meu modo de tratar seja o vosso modo. Que eu celebre como vós vos imolastes. Que eu seja vós e que vós sejais eu; até que eu me aniquile. Dignai-vos servir-vos desta língua para entoar hinos a Deus por todos os séculos; deste coração para amá-lo; deste pecador, o mais indigno, para proclamar: “Eu sou o Bom Pastor, eu quero a misericórdia”.

Sexta etapa

De 13 de setembro a 26 de outubro - Solenidade de Jesus Cristo, Divino Mestre

“O próprio Pai mandou o seu Filho, o Mestre”

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Introdução

Jesus, o Mestre, Pastor, Caminho, Verdade e Vida é o coração da nossa espiritualidade

apostólica. O nosso Fundador se apressa em esclarecer que Jesus, Mestre, para nós não é um daqueles tantos mestres, mas o único Mestre, Caminho, Verdade e Vida. “O termo Mestre, desde o início, assumiu para ele o valor de referência a seu Cristo: Cristo para ele é simplesmente o “Mestre”, o “Mestre Divino”. Para fazer referência ao Cristo todo, basta dizer: “o Mestre”, o “Divino Mestre” e também o grande trinômio de seu interesse Caminho – Verdade – Vida está incluído, pois já está compreendido - para ele - no termo Mestre”13. Não é Mestre só porque ensina e propõe uma excelente doutrina, mas porque é o Filho enviado pelo Pai, para levar-nos ao Pai, apresentando-se como caminho, como mediação.

A formulação completa deste título cristológico é uma síntese sinótica e joanina, assumida pelo Padre Alberione entre o fim de 1923 e o início de 1924. Padre Alberione está certo de estar entregando a nós seus filhos, a única riqueza que ele tem: Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida. Os valores que dão sustento à nossa vida provêm dessa luz. A conclusão se impõe com evidência: Jesus, Mestre, Caminho, Verdade e Vida é meta, caminho e princípio do processo espiritual - formativo - apostólico. A celebração da solenidade do Divino Mestre, neste nosso ano alberioniano, terá, pois, uma solenidade toda especial.

Os textos bíblicos propostos querem ajudar-nos a viver essa centralidade carismática à luz da experiência e do ensinamento de Paulo, para quem o encontro com Cristo Jesus consiste em viver NELE e agir NELE, até vir a ser uma real e nova apresentação dele. É um processo dinâmico, de conversão ou transformação contínua, que termina com a nossa morte. Naquele momento o Pai comprazer-se-á em ver realizado em cada um de nós o desígnio com o qual pensou em nós e nos predestinou a termos as características da imagem dele que é o seu Filho. Paulo tem tal convicção de que Deus leva a termo o seu projeto de identificação com ele que, em virtude do seu amor, se sente já justificado, glorificado.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Da Carta de São Paulo aos Gálatas 4,18-19

“Seria bom que vocês se interessassem sempre pelo bem, e não só quando estou presente entre vocês. Meus filhos, sofro novamente como dores de parto, até que Cristo esteja formado em vocês”.

Da Carta de São Paulo aos Romanos 8, 29-30 “Aqueles que Deus antecipadamente conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos. E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos. E aos que tornou justos, também os glorificou”.

A proposta do nosso pai Alberione O Fundador expressou com clareza o ponto de partida e o ponto de chegada do caminho

espiritual: fazer morrer o egoísmo e fazer viver em nós Jesus até que se realize a transformação nele. Mostrou também a figura do Pai celeste que desde sempre espera pela nossa conversão, como volta “definitiva” (cf. DF p.99) para ele.

Há um caminho paulino para se alcançar tal objetivo. E consiste em permitir ao Espírito Santo formar Jesus em nós (Gl 4,19), fazê-lo crescer até a estatura de adulto (cf. Ef 4,13).

12 Tiago Alberione, Che io ami con il tuo cuore, Ed. Archivio Storico Generale, 1985, p. 26. 13 João Roatta, citado por Antônio da Silva, “Sintesi delle relazioni del Seminario de 1984”, in: Gesù il Maestro, pp. 21-22.

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DF pp. 35-36.

Assim, pois, o homem

Saído das mãos de Deus para glorificá-lo na eternidade, o homem é convocado para fazer uma viagem de prova que se chama vida. O próprio Pai mandou o seu Filho, o Mestre, para mostrar, para percorrer, para ser veículo para o homem, sendo que o homem, no final, será julgado se está conforme o Filho e se isso se deu na mente, na vontade, na vida; incluindo o amor; para que aquele que amou continue no amor, recompensa para a eternidade; e quem não amou, que fique longe de Deus na eternidade.

O mundo é o reino de Deus mas, imperfeito por causa dos estragos cometidos pelos seres humanos e pela cizânia; a eternidade é o reino de Deus perfeito, e da parte do homem: eterna glorificação de Deus. “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”; a imagem do homem deformada, é recomposta pelo Filho de Deus, e superará a primeira por obra do Espírito Santo, pela superabundância da graça.

O próprio Pai enviou o seu Filho, o Mestre... – Deus, depois de ter criado o homem e tê-lo colocado no mundo, não o abandona a seu destino. Muito pelo contrário! Ele, na verdade, Pai de bondade, deu-lhe como companheiro de viagem nada menos que o seu Filho unigênito: por isso, mandou-o para estar entre nós e para nós.

O Filho, Jesus Cristo, é enviado como Mestre. Mestre não apenas nem principalmente porque toma assento na cátedra e ensina, mas sobretudo porque quer inserir-se na trama da vida humana e atingir todas as expressões, quer do pensamento, quer do agir humano.

Para indicar, percorrer, fazer-se veículo do homem... - Estão aqui delineadas as “tarefas” que o

Pai atribuiu ao Filho como sua missão na terra: • indicar: neste verbo está contida a idéia de ensinar, conduzir, orientar. No Mestre-que-indica,

podemos facilmente entrever Jesus Verdade; • percorrer: também aqui o objeto não está explicitado, mas, mesmo assim se deve entender o

caminho, o itinerário. O Fundador pensa no Mestre Caminho, modelo para o fiel; • fazer-se veículo do homem: entendemos aqui o Mestre que, amoroso, se inclina sobre a fragilidade

humana, o Pastor que põe a ovelha sobre os ombros. Para nós é o Mestre Vida, fonte de graça, energia, força espiritual, e ao mesmo tempo insubstituível companheiro de viagem... e o homem será, no final, julgado se se identifica com o Filho, na mente, na vontade, na vida,conformando-se a ele no amor. - O dom que o Pai deu ao homem, mandando-lhe Jesus como o Mestre, tem um objetivo claro: conduzir o homem à configuração com o seu Filho, uma vez que essa configuração é a matéria do juízo final14.

Temos aqui o itinerário visto a partir do homem: o Cristo que vai tomando forma na pessoa trans-forma essa pessoa, que assim se encontra conforme. Trata-se de um processo que interpela a pessoa humana na totalidade das suas faculdades e iniciativas.

A “forma” de Cristo em nós sob a ótica paulina – alberioniana

Dada a importância que para o Padre Alberione tem o caminho paulino para alcançar a “forma”

de Cristo, é importante saber o que Paulo entende por essa palavra. O termo “forma” no NT é quase exclusivo de Paulo: ocorre 13 vezes e 10 ocorrências encontram-se nas cartas paulinas. O número de vezes

14 Em um importante escrito de 1949, Padre Alberione apresentará a configuração como realidade adquirida pelo Paulino no momento do juízo final: “Quando a alma se apresentar a Jesus, o Juiz, ele descobrirá nela como que um outro Eu: “tornando-a conforme à imagem de seu Filho”; irá apresentá-la a Deus que verá a semelhança com a excelsa Trindade, semelhança restabelecida pelo próprio Jesus Cristo. Ele há de comprazer-se e a alma cantará eternamente: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo” (Introduzione, in: S. LAMERA, Gesù Maestro Via, Verità e Vita, Appunti, E.P., Alba 1949).

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é significativo e apresenta muitas nuances: modo de existir (Fl 2,7); modo de viver que manifesta a vontade oblativa de Jesus (Fl 3,10); as características de Jesus que passam para nós (Fl 3,21); comunhão vital com Cristo a ponto de nós cristãos nos tornarmos conformes ao seu modo de viver e reproduzimos suas características. Tornamo-nos semelhantes a ponto de sermos uma imagem dele (Rm 8,29). A frase “até que Cristo se forme em vocês” pode-se parafrasear: “até que Cristo que vive em vocês possa ser visto e reconhecido por todos”. Se “forma” indica o modo interior de existir que se irradia para fora, “forma” em Paulo evoca “as vestes que devemos vestir”, o Cristo Jesus (Rm 13,14; Gl 3,26-27). A nossa veste, isto é, aquilo que se vê em nós, deve ser Jesus, os seus valores, as suas atitudes, todas as suas características. Paulo lembra que o Pai no seu incessante chamado - “viagem que se chama vida - também nos protegeu “revestindo-nos” de fé, esperança, caridade. A esperança é como o elmo sobre a cabeça, a fé e a caridade, como couraça, protegem a nossa pessoa e o coração (1Ts 1,3; 5,8). Ter a forma de Cristo Jesus, considerá-lo nossa “veste”, equivale a deixar que a fé, a esperança e a caridade sejam os valores que determinem a nossa vida. As virtudes teologais segundo o pensamento de Alberione correspondem ao Mestre, Caminho, Verdade e Vida que vai assumindo forma em nossa mente, vontade e coração.

Temas de atualização

Queremos pôr-nos em atitude de escuta - impregnada de silêncio adorante, fecundo, criativo - na escola do Divino Mestre. No coração queremos alimentar o desejo de imprimir e encarnar o ícone por excelência do discipulado: “Então o discípulo se inclinou sobre o peito de Jesus...” (Jo 13,25). Jesus no coração de João, João no coração de Jesus para compreender, viver e encarnar profundamente a experiência a nós demonstrada por Paulo em Gl 2,20. Devemos penetrar no coração do Mestre pondo-nos a escutar, revestindo-nos e encarnando a bem-aventurança da escuta para tornar-nos aquele que escutamos, meditamos e a contemplamos.

A Palavra questiona a nossa vida para tornar-se nossa vida

• Estar na escola do Mestre Divino significa ser capaz de tornar-se silêncio, espera, disponibilidade, acolhimento. A minha experiência em que ponto se encontra?

• A minha vida intelectual, psicológica, espiritual, que tipo de silêncio criativo vive?... Vive-o de fato?

• É um silêncio apenas como ausência de sons, de fantasias, de projetos ou é lugar fecundo de encontro de amor e de afetividade inteligente com a Pessoa do Mestre para viver sua vida dele, seus pensamentos, suas atitudes, suas disposições, suas virtudes, a partir de dentro e ser construído, consolidado e transformado pela sua doutrina sapiente e transfiguradora?

Oremos15

Mestre: a tua vida me indica o caminho; A tua doutrina confirma e aclara os meus passos; A tua graça me sustenta e me ampara no caminho para o céu. Tu és perfeito, Mestre, que dás o exemplo, ensinas e confortas o discípulo que te segue. “De tal modo Deus amou o mundo que lhe entregou o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. “O Mestre resplandeça para Deus” (Jo 3,22-36).

1. Ó Mestre, tu tens palavras de vida eterna substitua a minha mente, os meus pensamentos por ti mesmo; ó tu que iluminas todo homem e que és a própria verdade:

15 A oração Al Maestro Divino que figura no início da “Via Illuminativa” do DF (pp. 39-40), é o mais edificante testemunho da profundidade espiritual do nosso Fundador. Ele busca a “mais alta perfeição” e para atingi-la assume o estilo de Paulo, a entrega total de si mesmo ao Mestre.

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eu quero raciocinar como tu ensinas, julgar segundo os teus critérios, pensar como tu, Verdade substancial, dada a mim pelo Pai: “Vives na minha mente, ó Jesus Verdade”.

2. A tua vida é preceito, caminho seguro, único, verdadeiro, infalível. Do presépio, de Nazaré, do Calvário, é tudo um modo de traçar o caminho divino: de amor ao Pai, de pureza infinita, de amor às almas, ao sacrifício... Faze que eu conheça o caminho, que a cada dia eu coloque os pés nas tuas pegadas de pobreza, castidade, obediência: qualquer outro caminho é largo... não é teu.

Jesus, eu desconheço e desconsidero qualquer caminho não apontado por ti. O que tu queres, eu quero também: estabeleça a tua vontade no lugar da minha vontade.

3. Que o meu coração seja substituído pelo teu: o meu amor a Deus, ao outro, a mim mesmo, seja substituído pelo teu. Minha vida humana, pecadora, seja substituída pela tua, divina, puríssima, acima de toda natureza. “Eu sou vida”. Eis, pois, para colocar a ti em meu lugar, darei toda importância à Comunhão, a Santa Missa, à Visita ao Santíssimo, à devoção à Paixão. E essa vida venha a manifestar-se nas obras: “de modo que a vida de Cristo se manifeste em vós”, assim como sucede com Paulo: “Cristo vive em mim”. Vive em mim, ó Jesus Vida eterna, vida subastancial.

Sétima etapa

De 27 de outubro a 26 de novembro - Festa do Beato Giacomo Alberione

“A formação deve inspirar-se no Divino Mestre”

Introdução

Neste mês em que nos dirigimos para o encerramento do ano litúrgico, celebramos “o nascimento para o céu” do nosso bem-aventurado “Tiago Alberione”. Ao celebrar esse acontecimento último de sua vida, queremos focar algumas das certezas que o levaram à “maturidade humana e sacerdotal”. Entre essas é significativa a sua visão sobre o discipulado de Jesus em Nazaré, que fará dele verdadeiro Mestre. Discipulado que é já pregação. Os anos de Nazaré poderiam parecer uma longa expectativa, um tempo morto, são, ao invés, um momento de crescimento, de alegre amadurecimento do seu mistério de Filho, que aliás, já compreendera quando se encontrava no meio dos doutores. Jesus, adulto, vive em profundidade aquilo que aprendera em Nazaré, permanecendo sempre discípulo do Pai. A Carta aos Hebreus lembra que Jesus “aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos” (5,8) e Paulo explicita que foi “obediente” até a morte de cruz (Fl 2,7).

O texto bíblico para esta etapa diz respeito à vida oculta de Jesus em Nazaré, durante a qual ele aceitou a mediação educativa de Maria e de José, respondendo assim ao projeto do Pai sobre ele. Com os olhos de Alberione contemplamos a vida oculta de Jesus em Nazaré e o clima familiar que ali se respirava.

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Deixamo-nos fascinar pelo longo período de vida oculta, como preparação à missão e à opção fundamental que caracterizará a vida de Cristo. É um tempo litúrgico oportuno para reapropriar-nos do discipulado de Jesus, que na obediência viveu uma vida repleta de frutos: sabedoria e graça.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Do Evangelho de Lucas 2, 39-40.51-52 “Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galiléia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. “Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens”.

A proposta do nosso pai Alberione

O nosso itinerário de crescimento em Jesus é apresentado pelo Fundador como um modelar-nos no Mestre Divino. A cátedra da qual se há de aprender é, segundo o Fundador, principalmente o ambiente recolhido da família de Nazaré, em particular, a humilde oficina de carpinteiro. Significativo é o fato de Jesus começar a ensinar a partir de Nazaré porque em Nazaré ele, por primeiro, deixou-se formar por Maria e José.

DF pp.14-15.

A Escola de Nazaré “Donec formetur Christus in vobis” (cf Gl 4, 19)

A formação deve modelar-se no Divino Mestre: trinta anos de vida oculta. Requer-se, portanto:

1. Fuga: retirada do mundo que é uma escola contrária àquela do Divino Mestre: período de provação, noviciado, profissão temporária; procuram-se a solidão e a companhia dos santos.

2. Mortificação interna da memória, fantasia, soberba, coração etc.; externa: tato, ouvidos, olhos, gosto, odor, cumprimento de um horário, programa.

3. Oração: “Sine me nihil potestis facere” [sem mim nada podeis fazer], portanto assiduidade aos sacramentos, devoção a Maria, a São Paulo, a visita (ao Santíssimo), o exame de consciência. A palavra de São Paulo tem uma clareza peculiar: “a escolha não depende da vontade ou do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus” (Rm 9,16). É necessário entrar no reino da Misericórdia e submeter-se a tal governo ou domínio.

4. Estudo da perfeição: isto é, querer sair-se bem na ciência divina, na perfeição da vontade, na santidade de vida.

A “escola” de Nazaré

As “lições” que o Mestre nos passa a partir da escola de Nazaré estão agrupadas em quatro áreas:

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• a rejeição da mentalidade do mundo. O Fundador chama isso de “fuga, de retirada do mundo”. Condição indispensável para esse itinerário: clima de recolhimento, de solidão, para se plenificar na companhia dos santos;

• radicalidade na adesão a Cristo Jesus. O vocábulo usado pelo Padre Alberione é “mortificação”: um esforço de rigorosa ascese, externa e interna, proposto como meio indispensável...;

• “oração” humilde e assídua, com a convicção de que sem a obra do Senhor, não podemos ”fazer nada”;

• “o estudo da perfeição”: isto é, o querer conseguir, o que implica esforço, aplicação decisiva e coerente rumo à perfeição, sem hesitações. É conhecida a insistência do Padre Alberione para que se medite longamente sobre os exemplos de Jesus de Nazaré. Pode-se dizer que a referência a tal “escola” é contínua na pregação e nos escritos do Fundador: somos chamados a modelar-nos em Jesus da vida oculta, meditando sobre a “corrente misteriosa” dos seus exemplos para nós:

DF p. 42.

Vida oculta: soma 30 sobre 33 anos: portanto, a importância de 10 contra um. Cresceu em idade, sabedoria e graça. É corrente misteriosa de obediência, de oração, de sacrifício, de virtudes domésticas.

A lição de Nazaré

A vida oculta em Nazaré aparentemente limita-se à atividade laboriosa e à oração silenciosa; mas, na verdade, é escola e pregação por meio do exemplo que Jesus dá à humanidade. “Jesus quis trabalhar. Qual trabalho? Trabalho de carpinteiro, trabalho humilde. O Pai celeste que manda seu Filho a desempenhar por tantos anos, o papel de carpinteiro sobre a terra. Que mistério! Pensar que Jesus viveu cerca de 33 anos e passou 30 anos em sua vida oculta! Não foi ele enviado para comunicar a mensagem da salvação? Primeiramente fazer e depois ensinar. E, portanto, ensinou-nos a praticar a humildade, a exercer os apostolados humildes, porque o nosso apostolado não é apenas santificador, não é apenas obra de zelo; mas o apostolado é também redentor das almas” (PD 63, n. 491). “A casa de Nazaré é a casa do recolhimento e do silêncio... lá aquelas três pessoas santas, tinham o propósito de honrar, amar e servir fielmente a Deus... [Jesus] gostava muito de ouvir Maria e José e estava sempre pronto a ouvir suas ordens... Era a casa do silêncio amoroso e operoso. A casa de Nazaré é casa de trabalho: intelectual, espiritual, manual. A casa de Nazaré é casa de oração... As casas que se espelham naquela de Nazaré transformam-se em casas de paz” (Alle Figlie di San Paolo 1940-1945, pp. 204-209).

Temas de atualização

Queremos dobrar os joelhos do nosso coração e penetrar a largura e o comprimento, a altura e a profundidade (cf. Ef. 3,14) do mistério da nossa formação e transformação em Cristo, que vive em cada um de nós, segundo a originalidade e singularidade do nosso ser. A escola de Nazaré se propõe para a nossa vida e a provoca, solicitando-nos a viver e a encarnar o nosso dia-a-dia de maneira extraordinária - como nos lembrava João Paulo II na proclamação do Ano Santo extraordinário da Redenção de 1983 -. Queremos aprender a construir o nosso modelo segundo o Mestre Divino buscando e encontrando Deus em todas as coisas: no silêncio, na oração, no trabalho assíduo, eficaz e equilibrado e jamais feito com negligência. A escola de Nazaré nos mostra e nos questiona em relação à importância do progresso formativo, com sabedoria e prudente equilíbrio, o que faz com que jamais percamos de vista a meta e o objetivo último da nossa vida: o estudo da perfeição, isto é, o querer conseguir transformar-se e realizar o mistério de eleição que é cada um de nós.

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A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• Considero a minha vida como uma peregrinação de formação continuada na escola do “máximo amor”, característico da Casa, do recolhimento, e do silêncio de Nazaré?

• Estou realmente em situação de paz e de consolação que são próprias de quem conhece o caminho de sua formação, porque sabe que é orientado, ou seja, julgado por Deus, com o seu modo pedagógico de silêncio eficaz e que conduz ao amadurecimento?

• Tenho a liberdade de mente e de coração, necessárias para estar em um contínuo caminho de crescimento e de formação humana e espiritual, ou sou escravo do meu trabalho e da organização dos meus projetos?

• Almejo sempre alguma coisa maior (cf 1Cor 12,31) ou me contento com o que já tenho, como o terceiro empregado da parábola dos talentos (cf. Mt 25, 24-25)?

Oremos16

Cristo pratica as virtudes individuais, domésticas, religiosas, sociais. Resgata a pessoa, a família, a sociedade civil. Renova o povo de Deus. Glorifica o Pai de modo digno. Leva uma vida de humildade, de obediência, de oração e de trabalho (cf. Lc 2,39-52).

Sê bendito, ó Mestre divino, porque te fizeste semelhante a nós, para tornar-nos semelhantes a Deus. Reergueste as ruínas causadas pelo demônio e pelas paixões. Mostraste para nós que podemos herdar a felicidade divina se na terra vivermos uma vida semelhante à tua. Faz com que possamos te conhecer, imitar e amar. Glória a Deus no mais alto dos céus e paz aos homens de boa vontade. Ó Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós. Ó Maria, Rainha dos Apóstolos, roga por nós.

Oitava etapa

De 27 de novembro a 21 de dezembro - IV domingo de Advento

“Devemos seguir o Mestre supremo”

Introdução

Neste tempo de Advento, a liturgia está despertando em nós a expectativa do Messias, esperança dos povos, que vem oferecer dignidade para cada pessoa ferida e prisioneira do mal, que vem libertar de toda sorte de opressão. Sabemos que o Senhor já veio, que o Reino já está no meio de nós. Ele é o “Deus conosco” cujo amor nos tira das trevas da ignorância, que só nos fazem tatear desorientados no escuro. O Advento que estamos celebrando nos convida a abrirmos os olhos do nosso coração para Jesus, o Mestre, que a cada dia bate à nossa porta para inundar-nos com a sua luz que faz viver.

Os textos bíblicos colocados à disposição para a nossa interiorização ajudam-nos a criarmos raízes cada vez mais profundas em Jesus, nosso único Mestre. Ele estabelece os critérios da verdadeira 16 Segue o nono quadro da Via Humanitatis.

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paternidade e fraternidade. Esse Mestre único oferece aos seus discípulos um programa revolucionário de vida, que muda o modo deles pensarem, e avaliarem a si mesmos e aos outros. Não é um código de normas ameaçadoras: deves fazer! Pelo contrário, é um anúncio alegre: eu te chamo bem-aventurado. És bem-aventurado porque Deus, por meio de seu Filho que te revela o seu rosto, te cativou com o seu amor. Podes viver como Deus deseja porque ele mesmo te torna capaz de o ser.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Do Evangelho de Mateus 23,8ss “Quanto a vocês, nunca se deixem chamar de mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos são irmãos. Na terra, não chamem a ninguém de "pai", pois um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu. Não deixem que os outros chamem vocês de mestres porque um só é o Mestre de vocês, Cristo”.

A proposta do nosso pai Alberione

Jesus, enviado pelo Pai como Mestre Pastor, é acima de tudo, Verdade para a nossa inteligência. Ele se revelou como a Verdade, porquanto re-vela, isto é, tira o véu e torna conhecido o projeto salvífico da Trindade divina. Verdade como sabedoria do Pai, epifania do Pai, definitiva re-velação do Pai. Verdade não somente pelo que ele diz do Pai, da Trindade e da pessoa humana, mas pelo que ele é em si mesmo. Nele nós podemos conhecer, “ver” o Pai, podemos ser absorvidos pela Trindade.

Jesus, Mestre-Verdade interpela a nossa inteligência. Essa se torna habilitada a conhecer as verdades reveladas, a compreendê-las graças à luz do Espírito, a assimilá-las. Porém, não pode faltar a cooperação humana; eis, portanto, o empenho para “estudar a doutrina cristã, de modo especial o Evangelho”.

DF pp. 49-50.

Jesus Verdade

1. Eu sou a verdade. Isto é, a verdade sobre a natureza do homem e do seu destino. Sobre a natureza de Deus e sobre suas atribuições, sobre a natureza da religião e sobre os nossos deveres...

2. Devemos seguir este Mestre supremo, porque é único: “um só é o Mestre de vocês”; os outros são mestres enquanto se tornam conformes a ele. Ele tem o mais belo método educativo, porque é Deus; e assim teremos a graça de fazer o que ele ensina e agradaremos ao Pai pela vida da mente. “Pelos frutos deles vocês os conhecerão”.

A Verdade que é Jesus solicita que o sigamos. Jesus mesmo se revelou como sendo a Verdade: não uma verdade, mas a verdade. A única, a eterna e imutável. Ele veio para fazer-nos conhecer “a verdade sobre a natureza da pessoa humana e do seu destino”: só ele, revelação do pensamento do Pai, pode manifestar-nos o destino maravilhoso que nos espera.

Quais as implicações disso para quem crê? Somos chamados a "seguir" esse Mestre; não basta, portanto, conhecer o seu ensinamento. Ele, na verdade, é Mestre “supremo” e único em meio a tantos pseudo-mestres que pululam por aí...

Mas o dom de Deus não pára aí. A partir do momento em que “seguir” o Mestre é empenho superior às nossas forças, eis que, com o conhecimento, o Mestre dará ao mesmo tempo “a graça de fazer o que ele ensina”! Portanto, a seqüência é clara: é indispensável conhecer aquilo que Jesus ensina; depois, “fazer” o que ele propõe; mas a esse propósito o Senhor não deixa de dar o auxílio da graça. Não é difícil de ver aqui Cristo Jesus total: a Verdade que ensina; o Caminho que leva a “fazer”; a Vida que garante a graça. Dessa maneira se obterá um fruto admirável: “agradaremos ao Pai pela vida da mente”.

Para assimilar a mentalidade de Jesus, cada um de nós é convidado a tomar como ponto de partida uma longa e profunda meditação sobre as bem-aventuranças (Mt 5,1-12).

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DF pp. 50-51.

Jesus Verdade [As oito bem-aventuranças] Verdades inauditas, novas para o mundo, verdades eternas. Significado de cada uma. Corrigir todo o pensamento, o sentimento, a vida.

Como compreender essa mensagem “inaudita”

Padre Alberione logo sugere, como primeiro meio para a meditação, algumas pistas de reflexão: trata-se de verdades jamais ouvidas antes (“inauditas”), inteiramente novas, e que jamais passarão (“eternas”). É muito importante ter presente a finalidade dessa meditação: “corrigir todo o pensamento, o sentimento, a vida”, isto é, fazer com que a pessoa toda - mente, coração, vontade - convirja para os ensinamentos do Mestre; ou melhor, do Mestre Verdade! “Não é a santificação da mente e do coração a parte principal do discurso da montanha?” (SP 1955).

Depois das bem-aventuranças, vem o convite para a meditação sobre o “discurso da montanha”.

DF p.51.

Discurso da montanha: As perfeições da caridade e das virtudes demonstradas por Jesus sobre a lei antiga. Santificação do espírito e do coração. A essência do sacerdócio. Dois aspectos: necessidade de salvar-se e necessidade de ser humilde.

Também quanto a este tema (Mt 5-7; Lc 6), Padre Alberione apresenta algumas características para a reflexão, meditação, estudo. Importantes são os dois aspectos: a urgência em permitir que Deus nos conduza à salvação e a freqüente insistência sobre “a necessidade da humildade”.

Temas de atualização

Queremos seguir a ordem da oração ao Divino Mestre (ver sexta etapa) e entender como conseguir libertar a nossa mente e a nossa inteligência das seguranças situadas nos recônditos da própria inteligência.

É necessário enveredarmos por um caminho de busca de nossa orientação pessoal para compreendermos qual é o movimento de nossa mente e de nossa inteligência.

Quem coloca a si mesmo como centro, como verdade autárquica, não é de Cristo. O movimento do Cristo Mestre Verdade é o de sair de si mesmo. Se queres ser perfeito e entendido “na palavra da cruz”, que é a “sabedoria da cruz”, deves renunciar a ti mesmo e entregar-te ao Pai!

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

A página do Evangelho sobre as tentações de Jesus é o lugar privilegiado para questionar a nossa vida a respeito dessa orientação existencial de Jesus Verdade, que encontra seu centro de gravidade no estar na vontade do Pai (Lc 4, 1-13). A orientação de Jesus é para o Pai: é o ponto de referência de sua vida! Não discute, não faz rodeios com alquimias dialéticas ou outras especulações racionais: ele se dirige decididamente ao Pai: “Faço sempre o que agrada ao Pai” (Jo 8,29).

• Qual é a verdadeira orientação da minha mente e da verdade do meu ser?

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• É a do espírito do mal, que se faz passar por anjo de luz (cf 2Cor 11,14), e que busca as riquezas, a vanglória, a soberba?

• É a orientação de Cristo que me impele à suprema pobreza espiritual, à humilhação, à humildade, que me levam a poder ser revestido de Cristo, de seus sentimentos, de seu pensamento, de sua Verdade?

Oremos17

Jesus, Mestre Divino, te adoramos como Verbo encarnado, mandado pelo Pai para instruir os homens nas verdades que dão a vida. Tu és a Verdade incriada, o Mestre único, só tu tens palavras de vida eterna. Agradecemos-te porque acendeste em nós a luz da razão e a luz da fé, e nos chamaste à luz da glória. Nós cremos submetendo toda a nossa mente a ti e à Igreja; mostra-nos os tesouros da tua sabedoria. Faze-nos conhecer o Pai, torna-nos verdadeiros discípulos teus. Aumenta a nossa fé, a fim de que possamos chegar à visão eterna no céu. Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tem piedade de nós.

Nona etapa

De 22 de dezembro a 25 de janeiro de 2004 - Festa da conversão de São Paulo

“Este período deve formar em nós Jesus Cristo Verdade, Caminho e Vida de modo que resulte o homem novo”

Introdução

Esta etapa está compreendida entre a celebração litúrgica do Natal do Senhor e o “natal cristão” de Paulo. Vamos vivê-la, pois, com a alegria e o entusiasmo do encontro profundo e total com Jesus de modo a tornar-nos “pessoas novas”, criaturas novas nele, Mestre, Pastor, Caminho, Verdade e Vida. “A Família Paulina tem uma só espiritualidade: viver integralmente o evangelho; viver do Divino Mestre que é o Caminho, a Verdade e a Vida; vivê-lo como o compreendeu o seu discípulo São Paulo... “Eu vivo, mas não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim”: a mente de Jesus, o coração de Jesus, a vontade de Jesus. Ser membros vivos e operantes no corpo místico de Cristo Verdade-luz que ilumina: “Nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade” (Jo 1,14). A contemplação dessa glória (= realidade de Deus) faz surgir em nós o desejo de bem acolhê-la e vivê-la totalmente, como Paulo. Os textos bíblicos apresentam as parábolas do tesouro e da pérola preciosa, isto é, Jesus mesmo no meio de nós. Descobrir Jesus é dom, mas também busca. O dom de Deus tem de ser totalmente acatado. A riqueza, que é Jesus, não admite ser dividida com outras pseudo-riquezas. Essa é a experiência de Paulo, sobre a qual meditamos na segunda etapa (Fl 3,7-11). Paulo conquistado pela pérola preciosa que é Cristo, dá a este uma resposta, permitindo-lhe encarnar-se nele.

17 Acompanha-nos a primeira parte da coroazinha ao Divino Mestre. Podemos também escolher a primeira parte da Oração ao Divino Mestre (ver sexta etapa).

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Ouçamos e meditemos a Palavra

Do Evangelho segundo Mateus 13,44-45 “O reino do céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. O Reino do céu é como um mercador que vai em busca de pedras preciosas; quando encontra uma pedra de grande valor, vai, vende todos os seus bens e compra essa pedra". Da Carta de São Paulo aos Gálatas 1,15s “Deus, porém, me escolheu antes de eu nascer e me chamou por sua graça, quando quis revelar em mim o seu Filho, para que eu o anunciasse entre os pagãos...” Da Carta de São Paulo aos Filipenses 3,12-14 “Irmãos, não acho que eu já tenha alcançado o prêmio, mas uma coisa eu faço: esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, em vista do prêmio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo”.

A proposta do nosso Padre Alberione

Depois de ter percorrido o indispensável caminho de conversão para dar cumprimento ao projeto do Pai, o discípulo de Jesus é convidado a entrar decididamente no caminho principal: o de realizar a “encarnação” e o crescimento de Cristo Jesus em sua pessoa. Padre Alberione, com muita sabedoria, coloca como premissa para esse passo a meditação das parábolas do tesouro e da pérola preciosa. Convidando-nos à meditação dessas parábolas, o Fundador parece querer dizer para nós: “O que te apresento é verdadeiramente um tesouro, a realidade mais importante, a pedra preciosa pela qual deves deixar tudo a fim de torná-la tua e valorizá-la ao máximo!”.

Eis o claro objetivo que cada membro da Família Paulina se propõe: a total conformidade com o Mestre Pastor, que se realiza mediante o desenvolvimento da “encarnação” dele em toda a pessoa.

DF pp. 37-38.

Encarnação 1. Este período deve formar em nós Jesus Cristo: Verdade, Caminho, Vida; de onde resulte o

homem novo. A vida sobrenatural dará a vida eterna: “co-herdeiros de Cristo”. 2. Jesus Cristo é verdade para a inteligência: daí surge a necessidade de estudar a doutrina

cristã, de modo especial o Evangelho. Jesus Cristo é caminho para a vontade: daí surge a necessidade de imitar Jesus Cristo, especialmente tratar com cuidado da santa Comunhão. Jesus Cristo é vida para o coração, daí surge a necessidade de revestir-nos da graça santificante e atual, especialmente com a santa Missa.

3. Daqui se deduz (o método): dividir a hora de adoração em três partes: a) leitura do Evangelho e da doutrina cristã para honrar Jesus Cristo Mestre; b) comparar a nossa vida com a de Jesus Cristo, modelo, e fazer o exame de consciência; c) oração, especialmente a que prepara para a santa Missa (Via crucis, Mistérios dolorosos).

Objetivo deste período

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• Este período deve formar em nós... Trata-se de um dom, de um presente que nos é dado, é algo belo, talvez superior às expectativas. Esse dom está em nós: um dom que entra na vida, que desce no profundo, que é destinado a identificar-se com a nossa pessoa, tornando-se uma só coisa com ela.

• Jesus Cristo Verdade, Caminho, Vida. Não apenas uma dimensão (embora importante) da Pessoa de Cristo, mas o Cristo todo, na plenitude dos seus aspectos, como ele mesmo se definiu (Jo 14,6): o Cristo total.

• De modo que resulte o homem novo. O dom-Jesus, aceito e vivido, torna concreta uma nova realidade, a pessoa renovada.

O processo de encarnação de Cristo em nós

O que implica o processo de encarnação? A própria palavra já diz: que o Cristo Jesus assuma carne em uma pessoa. Segundo a leitura bíblica da encarnação do Verbo de Deus, a referência a Maria, a Virgem Mãe, é aqui obrigatória. Analogamente, o quanto aconteceu nela, acontece com Cristo Jesus, o Mestre, quando se encarna, quando assume a carne na pessoa que crê, no Paulino (na Paulina), dócil ao Espírito Santo.

É uma transformação lenta, exigente, mas regeneradora. Mas sendo assim, tudo, mas tudo mesmo, adquire cor e sabor novo. As formas e os tempos de espiritualidade, de “práticas” se convertem em vida perdendo qualquer aspecto de formalidade; os “deveres” se transformam em desejos do coração; expressões muitas vezes secundárias e sem influência tornam-se centro propulsor de cada pensamento, afeto, escolha e decisão.

Temas de atualização

Na escola de Paulo, queremos encarnar a originalidade do aqui e agora de nossa vida na Pessoa do Cristo, que nos conquistou e nos “seduziu” e que quer viver cada vez melhor em nós. Queremos entrar junto com Paulo em seu personalíssimo memorial de Fl 3,12 e entrar com ele nesse discernimento contemplativo e realizador de sua experiência profundíssima de encontro com Cristo. A sua vida, a sua experiência humana e cristã têm, afinal, um único sentir: “o sentir de Cristo” (cf. 1Cor 2,16).

Paulo se apressa na formação continuada até tornar-se homem e testemunha do discernimento cristão porque foi conquistado por Jesus Cristo. Ele se sente, como Jeremias, real e quase “ontologicamente violentado”, aniquilado e sublimado pelo amor amigo e sedutor de Jesus. “Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Paulo não seria aquele que é, se não fosse objeto-sujeito desse amor recíproco. Amor não somente emotivo e, portanto, fugaz e sujeito a desvanecer-se, mas amor que vê como co-protagonistas dois amores, dois “eu profundo”, que em estando oblativamente um no outro, encontram a única razão de vida e de subsistência. É a lógica do amor, celebrado no Cântico dos Cânticos, é a lógica do amor (de sempre) do Deus fiel, que em toda a história da salvação assume os sinais característicos e o poder de um amor de esposo/a, sedutor e terno, para com cada ser humano, homem e mulher, chamado a ser desde a eternidade o único e irrepetível parceiro do Deus Amor trinitário.

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• Encarnar o próprio mistério de cristificação e de lento e gradual crescimento até a plena maturidade do Cristo que vive em mim é a corrida de Paulo. É esse o horizonte do meu seguimento na encarnação da lógica esponsal do amor, cantada pelo Cântico dos Cânticos, para que como amante eu me transforme no Amado?

• Ser o “bom perfume de Cristo” é a conseqüência de uma vida que transpira a experiência de um encontro cada vez mais sedutor e transfigurador com Cristo, Senhor e novidade da minha vida... ou então vivo da rotina: monotonia na oração, nas celebrações, na vida apostólica, na vida comunitária...?

• Para Paulo o encontro com Cristo é fonte de vida nova. Leia-se Ef 4,17-32; 2Cor 5,14-17. Descobre qual é a novidade que Cristo está trazendo para a tua vida.

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Oremos

Invocações a Jesus, Mestre.

Jesus Mestre, santificai minha mente e aumentai minha fé. Jesus, Mestre vivo na Igreja, atraí todos à vossa escola. Jesus Mestre, libertai-me do erro, dos pensamentos inúteis e das trevas eternas. Jesus Mestre, caminho entre o Pai e nós, tudo vos ofereço e de vós tudo espero. Jesus, caminho da santidade, tornai-me vosso fiel seguidor. Jesus caminho, tornai-me perfeito como o Pai que está nos céus. Jesus vida, vivei em mim, para que eu viva em vós. Jesus vida, não permitais que eu me separe de vós. Jesus vida, fazei-me viver eternamente na alegria do vosso amor. Jesus verdade, que eu seja luz para o mundo. Jesus caminho, que eu seja vossa testemunha autêntica diante dos homens. Jesus vida, fazei que minha presença contagie a todos com vosso amor e a vossa alegria.

Décima etapa

De 26 de janeiro a 29 de fevereiro de 2004 - Primeiro domingo do Tempo da Quaresma

“A vontade divina em todas as coisas”

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Introdução

Estamos nos encaminhando para o tempo litúrgico da Quaresma, tempo propício para viver o seguimento de Jesus, nosso Caminho, tornando nosso o seu estilo de vida. No Evangelho de Lucas os cristãos são chamados “aqueles que têm o Caminho”, porque têm Jesus. O Caminho se constrói na cruz, que desemboca na suprema glória. Sem Jesus, nosso Caminho, ficamos perdidos e desorientados: “A humanidade havia perdido a estrada do céu; Jesus Cristo se fez o Caminho e disse: “Venham a mim”; “Aprendam de mim”; “Eu lhes dei o exemplo”... Se o homem for orgulhoso, que aprenda a adquirir desse Mestre o amor à verdadeira glória eterna, à mais alta nobreza que é a santificação: “quem se humilha será exaltado”...(CVV 215). “Jesus conclui o episódio do lavapés dos seus discípulos dizendo: “Eu lhes dei o exemplo, para que assim como eu fiz vocês façam também”. Aqui está a síntese, a essência da vida religiosa: a imitação de Jesus Cristo (Alle FSP, 1946-1949, p. 463). Os textos bíblicos poderão ajudar a assimilar a opção fundamental de Jesus, que por amor e com alegria, se oferece ao Pai, cumprindo constantemente, de livre vontade e até “à entrega derradeira” a vontade dele. Paulo, indo ao encalço do seu Mestre Jesus, serenamente aceita dirigir-se a Jerusalém porque essa é a vontade de Deus. Cada um de nós se confrontará com o luminoso Caminho que é Jesus, verá os modelos que poderão inspirar a própria vida para voltar ao único modelo que diz: “Eu procuro fazer somente o que agrada ao meu Pai... Eu lhes dei o exemplo”.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Da Carta aos Hebreus 10,5-7 “Por esse motivo, ao entrar no mundo, Cristo disse: “Tu não quiseste sacrifício e oferta. Em vez disso, tu me deste um corpo. Holocaustos e sacrifícios não são do teu agrado. Por isso eu disse: Eis-me aqui, ó Deus - no rolo do livro está escrito a meu respeito - para fazer a tua vontade”.

Do Evangelho de Lucas 9,51 “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém, e enviou mensageiros à sua frente”.

Dos Atos dos Apóstolos 21,13-14 “Mas Paulo respondeu: “O que estão fazendo vocês, chorando e afligindo o meu coração? Eu estou pronto, não somente para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”. Não conseguimos convencê-lo. Então desistimos, dizendo: “Seja feita a vontade do Senhor”.

A proposta do nosso pai Alberione

Jesus enviado pelo Pai como Mestre Pastor, se definiu como o Caminho. O significado que o Padre Alberione considera mais familiar sobre Jesus Caminho é Jesus como modelo, como exemplo, como aquele que viveu em grau máximo o projeto do Pai... Uma das expressões certamente mais fortes é a de Jesus modelo no cumprimento da vontade do Pai. Procurar e cumprir sempre aquilo que é do agrado do Pai (Jo 8, 29): eis o segredo de Jesus.

DF pp. 114-16

Jesus caminho do mérito

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1. Jesus modelo no fazer a vontade do Senhor. (...) O fazer a vontade de Deus é perfeição; o fazer a vontade de Deus é amor verdadeiro para com o Senhor; o fazer a vontade de Deus é o caminho mais seguro...

2. Assim fez Nosso Senhor Jesus Cristo: toda a sua vida é uma tese, cujo título a sintetiza: “No alto do livro está escrito a meu respeito, que eu faça a vontade daquele que me enviou”. Ou seja, pode-se sintetizar a vida de Jesus Cristo neste título: “Vida de quem fez com perfeição a vontade de Deus”. (...)

3. (...) Por isso, não se apegar à nossa vontade, mas à vontade divina em todas as coisas. A nossa vontade nos é dada para escolher a vontade divina, sempre, em tudo, com total adesão e humildade.

As condições para fazer o que agrada a Deus

Para o crente, cumprir a vontade de Deus é “perfeição”, é “o caminho mais seguro”; é expressão “de amor verdadeiro para com o Senhor”. A nossa vontade só tem essa finalidade: “escolher a vontade divina: sempre, em tudo, com total adesão e humildade”.

Sob essa ótica o Padre Alberione não deixa de elencar as condições para que uma obra seja agradável a Deus. Tais condições são quatro: que as obras sejam “boas em si”. Sejam feitas com reta intenção, executadas em “estado de graça” e “cumpridas com perfeição”. O que há de comum em cada passo: Jesus modelo perfeito de cada virtude, a quem podemos referir-nos sempre.

Deixando de lado a primeira condição que parece bastante óbvia, Padre Alberione passa a ilustrar a segunda condição: a obra é agradável a Deus se for cumprida com reta intenção. A reta intenção inclui buscar decididamente o Pai e querer somente a sua glória. Isso só será possível se admitirmos Jesus-Caminho em nós. Ele que “só buscou o Pai”. Com ele e como ele conseguiremos também nós buscar sempre e somente a glória de Deus. Essa certeza é a base do Pacto ou Segredo de Exito.

Jesus modelo na pureza de intenção

DF pp. 45-46.

Na pureza de intenção

1. A reta intenção: é a que se dirige a Deus sem desvios: à sua glória, para que se cumpra a sua vontade!...

2. Nosso Senhor Jesus Cristo buscou somente o Pai: não a sua glória. Na verdade, nas suas obras ele foi ao encontro de muitas humilhações, até chegar à humilhação da cruz...

3. Busca-se reta intenção: a) pondo de lado, por princípio, toda vaidade; b) dirigindo tudo explicitamente ao Senhor; c) reparando toda intenção fútil.

Jesus modelo de intimidade com Deus

O Fundador nos admoesta a aprofundar a outra sublime dimensão da Pessoa do Mestre lembrando-nos que “a terceira condição para que uma obra seja meritória” é o estado de graça, o que significa “amizade, intimidade com Deus”.

DF pp. 46-47.

1. Terceira condição para que uma obra seja meritória é o estado de graça. Graça significa amizade, intimidade com Deus...

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2. Nosso Senhor Jesus Cristo viveu a mais íntima união com Deus. A pessoa de Jesus Cristo é a segunda pessoa da SS. Trindade e quem pode manifestar a intimidade sobrenatural entre o Filho e o Pai? Aqui estamos diante de uma contemplação, mais do que diante de uma meditação...

Jesus modelo no método: que a obra seja bem-feita

Afinal, para que uma obra seja “bem-feita” importa que seja “começada, continuada, e concluída como se deve”. Também nisso é preciso espelhar-nos em Jesus; ou melhor, permitir que ele aja bem, e sempre, no íntimo de nossa pessoa, no trabalho de cada dia.

DF pp. 47-48.

Perfeição

1. Quarta condição: que a obra seja bem-feita. Significa: começada, continuada, teminada como deve ser...

2. E foi assim que agiu o Mestre Divino. O Santo Evangelho não deixa dúvida quanto a isso: “fez bem todas as coisas”...

3. Como iniciar: entregando tudo a Deus, aceitando tudo da mão de Deus, começando bem, sem demora e de boa vontade; continuar, sob o olhar de Deus, com muita dedicação, com enérgica constância; terminar humildemente, completamente.

A vontade de Deus no detalhe do dia-a-dia

Trata-se, como é evidente, de orientações extremamente concretas, como a inspirar a cada dia as escolhas práticas de cada membro da Família Paulina. É de se observar com que cuidado o Fundador escolhe o vocabulário: os verbos (iniciar, continuar, terminar); os advérbios (bem, sem demora, de boa vontade, humildemente, completamente); a aproximação dos substantivos-adjetivos determinando uma qualificação muito equilibrada (aplicação suave, enérgica constância).

Lembra-nos ainda Alberione: “A Casa surgiu por vontade de Deus; de outro modo não teria sentido, seria uma loucura. Ela não existiria. Fala-se de admiração: mais admirável ainda é o que não se vê: as vocações e o sacrifício oculto dos colaboradores. Mas isto não foram os homens que o fizeram. Foi Deus, em seu amor; e a vontade de Deus guia e governa; e tudo se faz só mesmo por Deus. Uma vez posta de lado a vontade de Deus, ainda que humanamente, desaparece toda fecundidade vital; e sobrevem a aridez total” (UCBS, A.6, N. 8-15 de agosto de 1924, cf. Primavera Paolina, p. 223).

Temas de atualização

Para Alberione a vida de Jesus se pode sintetizar com esta frase: “Vida daquele que cumpriu com toda perfeição a vontade do Pai”. É nessa imagem de Jesus que se enquadra a realização existencial da indispensável atitude descrita na primeira parte do DF: A “vontade de Deus é o grande sol para o qual a alma, como girassol, sempre deve estar voltada” (DF p. 20). Fazer a vontade de Deus, que é a perfeição, significa para nós, na escola do Primeiro Mestre, preferir a vontade de Deus sempre (cf. Dt 30,19), em tudo (Cf. Cl 2,17), com total adesão (cf. Is 9,7) e humildade (cf. Rm 12,3).

Significa libertar o nosso sim, para ser sim em tudo, cristificados no Amém de Cristo diante do Pai (cf. 2Cor 1,19). Significa fazer nossa a pergunta de Paulo: “Senhor, o que queres que eu faça?” (At 22, 10) e ouvir o Senhor dizer: Tu és para mim um instrumento de predileção e te mostrarei o quanto deverás sofrer pelo meu nome (cf. At 9,15).

A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• O meu procedimento para encontrar “a vontade divina em todas as coisas” é uma luta santa ao escolher ontologica e existencialmente a vontade pessoal do Pai, revestindo-me da Pessoa de Jesus que vive em mim?

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• Aceito a proposta do Pai de entrar na lógica do Getsêmani onde Jesus, Divino Mestre, me impele e me quer orientar na escolha do “maior amor”, isto é: perder intencionalmente a minha vida numa crescente liberdade interior e entregá-la a Deus e à sua vontade para viver e encarnar essa mesma vontade de maneira generosa?

Oremos18

Peço ao Senhor que tire de mim toda a minha vontade, gosto, preferências, e que Deus faça de mim o que quiser e como quiser, e faça o que quiser de tudo o que me diz respeito, no tempo e na eternidade. Desejo que o Senhor possa livremente fazer e usar de mim como quiser; me reduza a nada se quiser; quanto à saúde, à estima, ao lugar, às ocupações, às coisas internas e externas: tudo e somente para a glória de Deus, para a exaltação eterna de sua misericórdia, para pagar os meus pecados. Peço aumento de fé no Pai Providente, no Filho Redentor, no Espírito Santificador. Quero chegar a uma piedade inspirada, fundamentada, com o único objetivo de glorificar a divina Misericórdia. Deus é tudo! Eu sou dele, sou cristão, religioso, sacerdote. Possa ele, a qualquer instante, encontrar-me dócil em suas mãos, como foi Jesus Cristo. Espero salvar-me pela divina Misericórdia, Pela santíssima Mãe Maria, minha esperança.

Décima primeira etapa

De 10 de março ao 25 de março de 2004 - Solenidade da Anunciação do Senhor

“Jesus é a graça”

Introdução

Aproximando-nos do encerramento do nosso itinerário espiritual alberioniano, seguindo as pistas do DF, somos convidados a encontrar-nos com Jesus-Vida. Viver Jesus-Vida é viver a “graça”. A solenidade da Anunciação, que constitui o ponto mais alto do nosso caminho, possibilita-nos viver esta etapa com os sentimentos de Maria, cheia de graça. Nela a vida tomou a carne, constituindo-a tabernáculo da vida. O Fundador nos lembra que a presença de Jesus-Vida em nós “deve absorver-nos de tal modo que quase não sentimos mais a natureza. Mas esse é o ideal. É, contudo, o centro da espiritualidade. E é a meta que os Paulinos devem alcançar” (De uma gravação). Os textos bíblicos nos fazem experimentar, quase por contato imediato, a experiência que Paulo fez de Jesus-Vida e como ele permaneceu e cresceu nessa experiência. As palavras de Jesus no Evangelho de João nos mostram a importância do “permanecer nele” para viver e dar fruto, fruto apostólico. Tais são as manifestações naturais, derivadas do estar arraigado, inserido NELE.

Ouçamos e meditemos a Palavra

Da Carta de São Paulo aos Gálatas 6,14s “Quanto a mim, que eu não me glorie a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. O que importa não é a circuncisão ou a não

18 Alberione, Taccuini 1940.

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circuncisão, e sim o ser nova criatura. ... De agora em diante ninguém mais me moleste, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus”. Da Carta de São Paulo aos Colossenses 1,24 “Agora eu me alegro de sofrer por vocês, pois vou completando em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo, a favor do seu corpo que é a Igreja”. Do Evangelho de João 15, 4-5 “Fiquem unidos a mim, e eu ficarei unido a vocês. O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. Vocês também poderão dar fruto, se não ficarem unidos a mim. Eu sou a videira e vocês são os ramos. Quem fica unido a mim, e eu a ele, dará muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada”.

A proposta do nosso pai Alberione

Terceiro aspecto do crescimento de Cristo Jesus “encarnado” em nós, em vista do seu ser formado em toda a nossa pessoa, é a dimensão de Jesus-Vida.

Jesus-Vida interpela e alcança o fiel naquilo que ele tem de mais precioso: o coração. Como é que a vida chegou até nós? Pelo sacrifício de Jesus na cruz. De que vida falamos? Da vida sobrenatural, deixa claro o Fundador, que ainda acrescenta: a vida é a graça, ou para chegar ao ponto central: Jesus é a graça!

É justamente esse aspeto “personalístico” que interessa ao Padre Alberione. Jesus é a graça. Ele “é cheio de graça”. Ele é a videira que faz passar a seiva para os ramos. Assim, a vida da graça no cristão é exatamente “a vida de Jesus”, isto é, Jesus-que-vive-na pessoa.

DF p.55.

1. Eu sou a vida: a vida sobrenatural (diferente da vida natural, vegetativa, sensitiva, racional, angelical). A vida sobrenatural em nós é a graça. A morte é o pecado. “tens um nome para que vivas e estás morto”.

2. Jesus é a graça, “cheio de graça”, e ele no-la dá no batismo, confirma-a em nós na crisma, alimenta-a na Eucaristia, recupera-a na confissão e a purifica na unção dos enfermos: “vim para que tenham vida”. Eu sou a videira e vocês são os ramos; quem estiver em mim e eu nele dará muitos frutos. “Sem mim vocês não podem fazer nada”.

3. A vida de Jesus se esvai com o pecado. Ela, porém, tem o seu respiro na oração; o seu alimento, na meditação; tem as suas enfermidades, isto é, suas imperfeições e seus defeitos; os seus recursos, ou seja, o seu fervor; as suas alegrias, ou seja, suas consolações; as suas fraquezas, isto é, suas desolações; o desenvolvimento [pleno] nos santos, perfeito em Maria Santíssima.

O segredo da vida espiritual

O segredo da vitalidade espiritual-apostólica vem aqui claramente apontado: estar e permanecer em Jesus, que é a boa videira; quem permanece em Jesus, como o ramo que permanece preso à videira, produz muito fruto. Recebe a “vida de Jesus” e se transforma nele. Essa vida divina se apresenta com características muito claras. Como a vida natural, assim também a “vida de Jesus” em nós tem:

• o seu respiro que é a oração; • o seu alimento, que é a meditação; • as suas doenças, isto é, as imperfeições e os defeitos; • os seus recursos, isto é, o fervor; • as suas alegrias, isto é, as consolações; • as sua fraquezas, isto é, as desolações;

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• o desenvolvimento, que é pleno nos santos e perfeito em Maria Santíssima.

Não há dúvida de que nos encontramos diante de um dos alicerces do itinerário de crescimento do Mestre Pastor em nós. Com maravilhosas perspectivas que se abrem. Pensemos só no que aconteceria com a nossa oração se realmente a transformássemos em respiro da vida de Jesus, isto é, o respiro de Jesus vivo em nós. O mesmo se deve dizer da meditação, vista como alimento de Jesus vivo em nós; dos nossos defeitos, vistos como as enfermidades da vida de Jesus em nós; e assim também sobre as outras características, até se chegar ao desenvolvimento da vida de Jesus em nós, que é a constatação concreta do crescimento!

Efeitos da vida de Cristo em nós

“Dia após dia, a participação na vida de Deus e de Jesus Cristo se torna cada vez mais abundante: Deus vive em nós e nós nele. Efetivamente, em nós, na unidade de sua natureza e na Trindade de suas Pessoas. E esse Deus age ao máximo, produzindo em nós um organismo sobrenatural, que aperfeiçoa o organismo natural; faz viver uma vida, não igual, mas semelhante à sua, uma vida deiforme. Age em todo o nosso ser e em todas as faculdades; faz de nós seus colaboradores, com o impulso divino, de tal sorte que os dias se enchem de méritos: “nós nele, ele em nós”.

Vive em nós Jesus Cristo; não só como Deus, mas também como Deus-Homem. Ele é a cabeça do Corpo Místico. Nós somos os membros. Dele recebemos movimento e vida. Com as suas orações e com os seus méritos ele faz com que o Espírito Santo aja em nós como agiu nele. E nós vivemos nele, porque inseridos nele: ele dá e faz frutificar em nós a vida nova, aquela que realiza o enxerto de uma oliveira boa numa oliveira selvagem.

E Maria participa dessa geração de Cristo em nós, porque é nossa Mãe; e nós, pela união no corpo místico, participamos de todos os bens dos santos do céu e da terra. Esse é o dogma da comunhão dos santos. E essa é a vida eterna. “... Concede-me, ó Deus, ter parte na divindade daquele que se dignou ser partícipe da nossa humanidade, Jesus Cristo, teu Filho e Senhor Nosso” (SP, dezembro de 1956).

“Existem almas que sentem apelos para subir! Isso eu o digo de todo coração: Há almas entre vós que sentem apelos mais fortes para subir, para uma união mais perfeita com Deus. Numa fusão de corações, quase diria, de vontades e de mentalidades com Jesus. Fusão de afetos. Os afetos de Jesus sejam os meus afetos; as vontades de Jesus as minhas vontades; os pensamentos de Jesus, os meus pensamentos. Na verdade, é Jesus que vive na minha mente. Eu lhe empresto o cérebro para pensar, mas é ele que pensa em mim. Eu lhe empresto o coração a fim de que ele ame comigo o Pai Celeste e as almas. Eu lhe empresto a vontade, porque quero o que ele quer em mim. E não apenas lhe empresto, mas – se eu for dócil – é ele que vive em mim. Ele vive em mim. ele ama em mim, ele quer em mim, ele age em mim, ele faz apostolado em mim. Sois chamados a essa íntima comunicação com Jesus. Tabernáculos vivos; Irmãs que vão de casa em casa levando em seu coração, que é um tabernáculo, Jesus. É um realizar-se daquela oração do Divino Mestre: “que a minha presença seja sempre santificadora” (Pregações do Primeiro Mestre em um retiro mensal, fasc. 1960).

Temas de atualização

O aspecto que mais impressiona a nossa reflexão nesta parte final do DF é a definição da “vida sobrenatural em nós como graça” e “graça superabundante”.

Essa ótica nos faz compreender que estar em Jesus Cristo é fundamentalmente uma experiência de relacionamento, de “permanecer nele”. A expressão “permanecer nele” é de João, mas exprime muito bem a experiência paulina de Gl 2,20, que ressoa tantas vezes na vida de Alberione.

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A Palavra interpela a nossa vida para tornar-se nossa vida

• “Permanecer nele”, “encontrar-se nele”, é o sentido último de toda a nossa peregrinação de seguidores de Jesus. É toda a nossa vida uma liturgia da vida, na qual cada coisa é desempenhada em vista dele, para ele e nele: “Portanto, quer vocês comam, ou bebam, ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus. Não se tornem ocasião de escândalo, nem para judeus, nem para gregos, nem para a Igreja de Deus. Como eu me esforço para agradar a todos em todas as coisas, não procurando os meus interesses pessoais, mas o interesse do maior número de pessoas, a fim de que sejam salvas” (1Cor 10,31-33)?

• “Encontrar-se nele” é, de verdade, ter chegado àquela liberdade interior que transforma a minha vida em oração, contemplação, sacrifício, oferenda, louvor, comunhão, discernimento, serviço, porque julgo tudo uma perda por causa de Cristo a fim de que o próprio Cristo seja formado em mim, em nós?

Oremos19

Jesus, divino Mestre, nós vos adoramos, Filho unigênito de Deus, vindo ao mundo para dar aos homens a vida em plenitude. Nós voslouvamos e agradecemos, porque morrestes na cruz para obter-nos a vida divina que nos comunicais no Batismo, e alimentais com a Eucaristia e os outros sacramentos. Vivei em nós, Jesus, pelo vosso Espírito, para que vos amemos com todo o nosso ser e amemos o próximo como a nós mesmos, no vosso amor. Fazei crescer em nós esse amor, para que um dia, ressuscitados, partilhemos convosco a alegria do reino dos céus. Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, tende piedade de nós.

4 de abril de 2003 – 4 de abril de 2004

Celebração de encerramento do Ano alberioniano

NÃO TEMAIS: EU ESTOU CONVOSCO. DAQUI QUERO ILUMINAR. ARREPENDEI-VOS DOS PECADOS.

“Faze disso um programa prático de luz e de vida”

19 Terceira parte da coroazinha ao Divino Mestre (ver acima). Pode-se escolher a terceira parte da Oração oa Divino Mestre (ver sexta etapa).

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Comentarista Iniciamos o ano alberioniano com a celebração: A mão de Deus repousa sobre mim, durante a qual o nosso bem-aventurado Tiago Alberione fez-nos ler a apresentação de sua vida como história sagrada. Concluímos este itinerário espiritual da Família Paulina, recebendo o mandato missionário, assim como o Fundador o recebeu do Mestre Eucarístico, em uma significativa noite de Páscoa. Recordamos brevemente: no início de 1923, a saúde do Padre Alberione se abala visivelmente. Os médicos declaram que, na melhor das hipóteses, lhe restam dezoito meses de vida. Alberione mesmo conta: “Em momentos de extraordinárias dificuldades, reavaliando toda a sua conduta para verificar se haviam empecilhos para a atuação da graça por parte dele, parecia que o Divino Mestre quisesse confirmar o instituto iniciado há poucos anos (Ad 151). Eis o sonho acompanhado pelas três frases que constituem um programa: “Não temais. Eu estou convosco. Daqui quero iluminar. Arrependei-vos dos pecados”. (cf. AD 152). A indicação do seu diretor espiritual, o cônego Chiesa, é clara: “Sonho ou outra coisa, o que é dito é santo: faze disso um programa prático de vida e de luz para ti e para todos os membros”. (cf. AD 154) É esse programa que queremos assumir como nosso por ocasião do encerramento do ano alberioniano. 1. Cântico de entrada

2. Saudação e breve motivação do presidente

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Todos: Amém.

Deus, nosso Pai, abra o vosso coração com a graça do Espírito de seu Filho. Conceda-vos a sua paz, a sua alegria e vos envie para todo o mundo a fim de transmitir o conhecimento do Pai que resplandece no rosto de Cristo, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida. Todos: Amém.

3. Escuta da Palavra de Deus

Do Livro do Gênesis 28,10-15 E todas as nações da terra serão abençoadas por você e por sua descendência.

“Jacó deixou Bersabéia e partiu para Harã. Chegou a certo lugar e resolveu passar a noite aí, porque o sol já se havia posto. Jacó pegou uma pedra do lugar, colocou-a sob a cabeça, e dormiu. Teve então um sonho: Uma escada se erguia da terra e chegava até o céu, e anjos de Deus subiam e desciam por ela. Javé estava de pé, no alto da escada, e disse a Jacó: “Eu sou Javé, o Deus de seu pai Abraão e o Deus de Isaac. A terra sobre a qual você dormiu, eu a entrego a você e à sua descendência. Sua descendência se tornará numerosa como a poeira do chão, e você ocupará o oriente e o ocidente, o norte e o sul. E todas as nações da terra serão abençoadas por você e por sua descendência. Eu estou com você e o protegerei em qualquer lugar aonde você for. Depois eu o farei voltar a esta terra, pois nunca o abandonarei, até cumprir o que prometi”. Palavra do Senhor.

Graças a Deus.

Salmo responsorial (Sl 144 (145) 1-9)

Refrão: Grande é o Senhor e digno de todo louvor.

Eu te exalto, meu Deus, meu Rei, e bendigo o teu nome para sempre e eternamente. Vou te bendizer todos os dias

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e louvar o teu nome para sempre e eternamente. Grande é Javé! Ele merece todo o louvor. É incalculável a sua grandeza. Refrão

Uma geração apregoa tuas obras para a outra, proclamando as tuas façanhas. Tua fama é esplendor de glória: eu cantarei o relato das tuas maravilhas. Falarão do poder dos teus terrores, e eu cantarei a tua grandeza. Difundirão a lembrança da tua bondade imensa, e aclamarão a tua justiça. Refrão

Javé é piedade e compaixão, lento para a cólera e cheio de amor. Javé é bom para todos, compassivo com todas as suas obras. Que tuas obras todas te agradeçam, Javé, e teus fiéis te bendigam. Refrão

Da segunda Carta aos Coríntios 2, 15-17.4,5-6 Espalha por meio de nós o perfume do seu conhecimento no mundo inteiro. “De fato, diante de Deus nós somos o bom perfume de Cristo entre aqueles que se salvam e entre aqueles que se perdem: para uns, perfume de morte para a morte; para outros, perfume de vida para a vida. E quem estaria à altura de tal missão? Nós não somos como tantos daqueles que falsificam a Palavra de Deus; pelo contrário, é com sinceridade e como enviados de Deus que falamos a respeito de Cristo na presença de vocês.... Não pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, Senhor. Quanto a nós mesmos é como servos de vocês que nos apresentamos, por causa de Jesus. Pois o Deus que disse: “Do meio das trevas brilhe a luz”, foi ele mesmo que reluziu em nossos corações para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo”. Palavra do Senhor

Graças a Deus

Cântico ao Evangelho

Glória e louvor a ti, ó Cristo! Ide e ensinai todos os povos. Eu estarei convosco todos os dias até o fim

do mundo.

Glória e louvor a ti, ó Cristo!

Do Evangelho segundo Mateus 28,16-20 Eu estarei com vocês todos os dias. “Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. Então Jesus se aproximou e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.

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Palavra da salvação

Glória a ti, Senhor.

Breve homilia ou reflexão silenciosa

Para evocar o símbolo da luz da celebração inicial, se for possível, cada um dos presentes, a convite do celebrante, pode dirigir-se ao altar para acender a sua vela na lâmpada da Família Paulina, ou no Círio Pascal, previamente preparado. Nesse ínterim pode-se cantar um hino que seja adequado. De volta ao próprio lugar segurando a vela acesa, passa-se a escutar a palavra do Fundador e se responde rezando.

Comentarista

Escutemos a palavra do Fundador que nos convida a reaproximar-nos da missão que ele recebeu e nos envia “para sermos luz”, segundo o carisma específico de cada Instituto da nossa Família. Leitor 1: “Daqui quero iluminar”. Quer dizer que eu sou a luz para vocês e que me servirei de vocês para iluminar; eu lhes dou essa missão e quero que a cumpram. Todos: Jesus, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, agradecemos-te porque renovas tua confiança em nós e pedimos o dom do teu Espírito para que possamos irradiar fielmente a tua luz.

Leitor 2: A luz em que estava envolvido o Divino Mestre, a força de sua voz sobre o "quero" e "daqui" e a indicação prolongada com a mão estendida para o tabernáculo foram compreendidas assim: um convite a tudo buscar nele, Mestre Divino, que habita no Tabernáculo; que esta é a sua vontade, que da então ameaçada Família devia partir muita luz. Cada qual pense que é transmissor de luz, alto-falante de Jesus, secretário dos evangelistas, de São Paulo, de São Pedro...20

Todos: Jesus Mestre Pastor, Caminho, Verdade e Vida, aumenta em nós, cada dia mais, o desejo de viver a lógica pascal que celebramos na Eucaristia para sermos comunicadores da tua vida para os nossos irmãos. Pausa para reflexão e canto

Leitor 3: Sentir a sede divina pelas almas como a sentia Jesus Cristo; fazer conhecer a doutrina dogmática, moral, litúrgica de Jesus Cristo, valendo-se dos meios mais rápidos e fecundos; ser progressividade e sentir a progressividade em Cristo e na Igreja. Almas que ficam alertas! A ninguém falte, pelo que depende de nós, a luz divina. É a vida de São Paulo; é sentir o “vive em mim o Cristo Apóstolo!”. Acompanhar a Igreja hoje em seu difícil caminho. Sempre lançando-se para a frente: como Cristo propagandista, como Paulo caminheiro de Deus21.

Todos: Jesus, Mestre Pastor, Caminho, Verdade e Vida, faze que a sede de almas que te levou à cruz e que distinguiu tanto o nosso Fundador seja sempre mais viva em cada membro da Família Paulina para que possa interpretar a sede da verdade de nosso tempo.

Leitor 4: A missão cumprida por Jesus foi esta: tornar os homens filhos de Deus. Que os homens se tornem filhos de Deus! Esta humanidade que em boa parte vive sem a graça de Deus... não é filha de Deus. A humanidade de hoje, de quase, três bilhões, cresce em média quarenta milhões cada ano; pois bem! Esses homens que demonstram tanta atividade para um contínuo progresso em todos os sentidos, parecem todos vivos, sendo que na realidade estão mortos, porque lhes falta a vida espiritual. O que deve fazer então... a Família Paulina em seu todo? Procurar o que fez o Mestre Divino: “Deu-lhes o poder de

20 AD 157. 21 CISP 979.

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se tornarem filhos de Deus”; fazê-los filhos de Deus. Eis tudo! O Filho de Deus se fez homem para que nos tornássemos filhos de Deus como ele, seus irmãos e seus co-herdeiros; para que olhando para o Pai criador disséssemos 'Abba, Pai', 'Pai nosso, que estás no céu'”.22

Todos: Jesus, Mestre Pastor, Caminho, Verdade e Vida infunde na Família Paulina o teu próprio desejo e o teu empenho de trabalhar a fim de que todos se tornem filhos de Deus.

Pausa para reflexão e canto.

Leitor 5: “Caminhou-se bastante no curso de 45 anos (1914-1959)... enquanto houver ainda alguma coisa a fazer, nada teremos feito; “esquecendo o bem praticado, eu me projeto para frente” no espírito, no saber, no apostolado, na pobreza... O Senhor acende as luzes, na frente, enquanto se caminha e enquanto elas são necessárias, não as acende todas, logo no início, quando ainda não são necessárias; não esbanja a luz, mas a dá sempre em “tempo oportuno”23

Todos: Jesus, Mestre Pastor, Caminho, Verdade e Vida, por intercessão do nosso Bem-aventurado Tiago Alberione, do Mestre Giaccardo, da Mestra Tecla e da Madre Escolástica, te pedimos aumento de fé como um itinerário interior, para que cada dia possamos dar um passo à frente, conforme tu nos indicas.

Leitor 6: O santo não é um homem exausto, uma meia consciência, que não sabe assumir a própria vida... Para São Paulo a santidade é a maturidade plena do homem, o homem perfeito. O santo não se envolve, mas se desenvolve; não pára, mas tem como estímulo o progredia. A santidade é vida, movimento, nobreza, fervor, tudo o que ajuda a subir, não a cair. Mas o será só e sempre em proporção do espírito de fé e da boa vontade: O Senhor está conosco, nos somos cooperadores de Deus24.

Todos: Jesus, Mestre e Pastor, Caminho, Verdade e Vida, nós nos entregamos confiantemente a ti. Sabemos que estás conosco e queres iluminar por meio de nós. Transforma-nos em ti e torna-nos teus fiéis colaboradores.

Pausa para reflexão e canto

Pede-se aos presentes que apaguem as velas.

Comentarista

Escutemos, como uma nova ordem, as palavras que o Fundador pronunciou por ocasião da celebração do cinquentenário de Fundação da nossa Família25.

“Para a Família Paulina não há outros objetivos; são os mesmos objetivos pelos quais se cumpriu a Redenção. Viver e agir como Jesus Cristo: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”. Como São Paulo: “Para mim viver é Cristo: a minha vida é Cristo”. Quinquagésimo aniversário! É até o caso de se comparar com o exórdio de um discurso; é o plano anunciado; agora vem o desenvolvimento com segurança. Lançaram-se os trilhos nas Constituições; e foram experimentadas e consolidadas nas experiências.

A viagem no tempo será boa se o Instituto, em seu todo, e os religiosos individualmente, se movimentarem sempre sobre os trilhos: humildade e fé.

Hoje, com esta missa e com o Te Deum encerro o quinquagésimo aniversário, e abro o tempo futuro com o Veni Creator.

Viver em plena e habitual alegria a vida religiosa, que precede os gozos eternos. A nossa vida, para cada um individualmente, como também para o Instituto, é uma história incessante de graças: graça sobre graça. Vida religiosa para santificação e espiritualidade em Cristo; apostolado de acordo com as

22 SdC, n. 261, p. 295, 2003. 23 CVV 247; SP, abril-maio 1959 1-2 24 SdM 26-27 25 SP, julho-agosto 1964, 1-3.

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necessidades dos tempos; será sempre mais resplandecente o horizonte do céu, se estivermos sempre em busca da perfeição. Seja pleno o louvor, seja sonoro; Seja alegre, seja digno o júbilo da alma.

Lembro a todos: as obras de Deus se realizam com pessoas de Deus.

Canto do Te Deum

Oração final

Deus, nosso Pai, que no teu desígnio de amor eterno enriqueceste a nossa Família Religiosa com as “abundantes riquezas” do teu amor, reaviva o dom que infundiste nos nossos Institutos, para que, com força, amor e sabedoria, possamos comunicar as maravilhas do teu amor. Nós o pedimos por Cristo nosso Mestre e Pastor.

Todos: Amém.

O presidente abençoa a assembléia dizendo:

O Senhor guie os vossos corações no amor do Pai e na alegria do Espírito Santo.

Todos: Amém.

Possais sempre caminhar na certeza de que Deus está convosco e de vós se serve para iluminar.

Todos: Amém.

A bênção de Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre.

Todos: Amém. Música

Apêndice

Primeira etapa

COMENTÁRIO DO PADRE ALBERIONE AO EVANGELHO DO BOM PASTOR SEGUNDO JOÃO

(10-1-18) E SEGUNDO LUCAS (15,4-7)26

Boas Pastorinhas, há algum tempo constatei como a graça divina está agindo em vós, na vossa família religiosa: mais luz, mais caridade, mais trabalho interior, mais espírito pastoral, vida espiritual mais intensa e mais ativa. Que belo desejo piedoso e meritório ter um grupo de Pastorinhas em tantas paróquias! Não um grupo de Irmãs comuns que vão para cuidar de um jardim de infância, mas um grupo de Pastorinhas que compreendam e façam a missão que vos descrevo.

São Paulo nos apresenta Jesus sacerdote. E o Divino Mestre, ele mesmo se apresenta como pastor: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10,11). Essa imagem completa a idéia grandiosa do sacerdote Jesus e

26 O texto, de 1947, está contido no Arquivo da Casa Geral como doc. 271 e se encontra também em AA.VV., Um carisma pastoral. A proposta de Giacomo Alberione às Irmãs de Jesus Bom Pastor. Roma, 1985, pp. 146-158.

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nos faz conhecer sua ação benéfica nas almas. Por isso, interessa-nos estudar o trecho evangélico, no qual Jesus apóia o seu ensinamento sobre as funções do pastor. Vamos fazê-lo, passando a considerar todas e cada uma das palavras do texto evangélico.

Jesus contou-lhes esta parábola (Jo 10,6). Era próprio de Jesus falar por parábolas; e já o profeta (Sl 77,2) havia apontado nisse modo de falar, um sinal para reconhecer o futuro Messias. Para fazer-nos entender o seu ministério apostólico em meio ao mundo, ele se valeu dessa graciosa parábola.

Imaginemos um pastor: (o pastor de ovelhas), mas entendamos, não mercenário... que não é pastor (v.12), ou seja, um pastor pago para cuidar do rebanho, que não é seu. Se o rebanho for do patrão, o mercenário está pouco interessado no bem das ovelhas: não se importa com as ovelhas (v.13). Suponhamos que ele seja o dono do rebanho e, portanto, todo empenhado na sua manutenção e no seu bem-estar. Tal é verdadeiramente Jesus.

As almas são suas e por várias razões: Ele é o Criador e o providente defensor. Ele as resgatou da escravidão do demônio, derramando para isso o seu precioso sangue. “Vocês já não pertencem a si mesmos”, diz o Apóstolo; “Alguém pagou alto preço pelo resgate de vocês” (1Cor 6,19).

Portanto, há uma íntima relação entre o Pastor Jesus e as almas. Estas lhe são muito caras. Aqui os sacerdotes tem um ponto de semelhança com esse pastor divino porque pode-se muito bem dizer que não são só mercenários, destinados a apascentar almas, com a esperança da recompensa celeste; mas são verdadeiros pastores e, em certo sentido, proprietários daquelas almas que geram para a graça e alimentam com os sacramentos. Devem, pois, interessar-se por elas como filhos caríssimos.

As Pastorinhas desenvolvem com o sacerdote pastor uma única missão; têm os mesmos cuidados, o mesmo objetivo, os mesmos meios. Cada qual em sua função.

O pastor evangélico não é apenas proprietário do rebanho, mas proprietário do curral; por isso ele entra e sai a seu gosto: “Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas” (Jo 10,2). Não há por certo a necessidade de passar pela janela como um ladrão: “aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outro lado, é ladrão e assaltante” (v.1). À sua chegada, a porta imediatamente se abre: “o porteiro imediatamente abre a porta para ele” (v.3).

Jesus não se atribui por si o título de pastor. Este lhe foi dado pelo Pai Celeste: “Esse mandamento que recebi do Pai” (v.18). O profeta Ezequiel nos transmite as palavras do mandamento: “Provindenciarei um só pastor para cuidar das minhas ovelhas” (Ez 34,23). Assim deve acontecer conosco. Deus, só Deus, chama ao sacerdócio. E chama à vida religiosa como Pastorinhas.

Jesus – à primeira vista poderia parecer estranho – não se chama apenas pastor, mas também porta para o curral: “Eu sou a porta das ovelhas” (v.7). No entanto, as coisas são assim, não só porque ele é a única porta pela qual as almas devem passar para salvar-se: "Quem entra por mim será salvo” (v.9), mas porque, e com mais razão ainda, os Sacerdotes e as Pastorinhas devem receber dele a vocação. “Não fostes vós que me escolhestes, fui eu quem vos escolhi” (Jo 15,16).

O primeiro merecimento do bom pastor e das pastorinhas é conhecer as ovelhas e tornar-se conhecido por elas. Isso será a prova de seu interesse, essa será a condição para que as ovelhas não se assustem e não tenham medo da presença do pastor. Essa qualidade encontramo-la de modo perfeito em Jesus: “Conheço minhas ovelhas” (10,14), isso antes de mais nada. E deve-se observar que ele conhece uma a uma; a todas deu um nome e é pelo nome que as chama. “Ele chama cada uma de suas ovelhas pelo nome” (v.3). Nicodemos fica estupefato pela maravilha, quando o Jesus desconhecido lhe disse: “Eu o vi quando você estava debaixo da figueira” (Jo 1,48); e ele pode repetir coisa semelhante para cada um27.

O Bom Pastor, toda manhã deve conduzir as ovelhas para fora “e as conduz para fora” (v.3). Vai conduzi-las aos pastos verdejantes e às águas límpidas: Meditação e Sacramentos. E o modo melhor de conduzi-las é o de ir à frente delas e elas vão seguindo: “ele caminha na frente delas e as ovelhas o seguem” (v.4). Elas não fazem isso com um estranho. “Elas nunca vão seguir um estranho; ao contrário, vão fugir dele” (v.5).

Outro ensinamento valioso: devemos andar à frente das nossas ovelhas com o bom exemplo. Ai de nós se fizermos como os sacerdotes da antiga lei; referindo-se a eles Jesus dizia para o povo: “Vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não

27 Na realidade, trata-se, aqui, de Natanael e não de Nicodemos.

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praticam” (Mt 23,3). E de Jesus, por acaso, não foi dito: “começou a fazer e a ensinar”? (At 1,1). Ele apascentou, sim, o seu rebanho com a palavra, mas antes formou-o com o seu exemplo.

Assim é o verdadeiro Pastor! Assim é a verdadeira pastorinha! Feliz o rebanho assim conduzido: “encontrará pastagem” (Jo 10,9). Mas as ovelhas são ameaçadas, de um lado, por ladrões, de outro, pelos lobos. Os ladrões querem tirá-las do estábulo, e levá-las consigo, ao estábulo deles: “o ladrão só vem para roubar e matar” (v.10). Os lobos vêm para dilacerá-las e levá-las à morte: “o lobo ataca e dispersa as ovelhas” (v.12).

Para protegê-las e defendê-las é preciso coragem e sacrifício: e é nisso que se provará o verdadeiro pastor e a verdadeira pastorinha. “O mercenário, que não é pastor e de quem não dependem as ovelhas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo” (v.12). O bom pastor e a verdadeira pastorinha põe a vida em risco e a sacrificam em favor das ovelhas: “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (v.11). A referência a Jesus é evidente. As almas são ameaçadas na mente e no coração.

Existem ladrões que querem arrancar as almas do rebanho de Cristo e fazer delas sequazes do erro; e há lobos que querem desviá-las para o pecado, que é morte. O divino Pastor veio à terra, a fim de preservar as almas do erro e do pecado, garantindo a todos a verdade e a graça. Essa obra de amor custou-lhe a vida. Os amigos do erro e do vício pregaram-no na cruz, e procuraram destruí-lo. Mas o manso Pastor ressuscitou e confiou o seu rebanho aos sacerdotes, para que no lugar dele o guardassem. Devem fazê-lo com a mesma generosidade com que ele o fez: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (v.10).

E as Pastorinhas participam voluntariamente e se associam a essa grande missão do padre. No entanto, Jesus insiste na grande prova de amor que ele deu em prol de suas ovelhas. Ninguém jamais se encontrou em condições de ser o Senhor da vida, e ter de sacrificá-la, querendo sacrificá-la: “Eu dou a minha vida minhas ovelhas” (v.15). Ele poderia, muito bem, ter poupado a sua vida! “Eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la” (v.15 e 18). A sua morte tem um significado bem diferente da nossa. Para cumprir o nosso dever, precisamos saber andar até o extremo, aceitando a morte, se os inimigos das ovelhas e do divino Pastor a impuserem.

Há ainda outro perigo para as ovelhas: o perigo de que alguma delas se perca. “E se perder uma delas” (Lc 15,4). Isso é bem possível! Enquanto estava na pastagem, seguindo os instintos, andando em busca da erva mais abundante e fresca, ela se afastou do rebanho; e de penhasco em penhasco, de despenhadeiro em despenhadeiro ela foi acabar no vale mais profundo. O bom pastor, mal se dá conta da falta da ovelha, deixa as outras no lugar em que estão e desce, de penhasco em penhasco, de despenhadeiro em despenhadeiro e vai até o abismo para encontrá-la: “ e vai atrás dela, até encontrá-la” (Lc 15,4).

E, finalmente, quando a encontra, não lhe manifesta desprezo, não a toca ladeira acima com golpes de cajado, mas toma-a amorosamente sobre os ombros e a transporta alegremente ao rebanho: “Com muita alegria a coloca nos ombros” (v.5). Imagem belíssima e comovente do Redentor, que mil vezes declarou: “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). E reconduziu o homem pecador ao rebanho do Céu, de onde se excluíra por causa do pecado.

Aos sacerdotes cabe cultivar o amor e esforçar-se para reconduzir essas ovelhas à Igreja, à graça, ao Paraíso. Dispondo-se, voluntariamente, de igual maneira ao sacrificio, assim agirão também as Pastorinhas, de acordo com a sua sublime vocação.

Infelizmente, as ovelhas desgarradas e dispersas são milhares e milhares. Não se trata de uma só. Ladrões e lobos, em vinte séculos de cristianismo, não por culpa do Pastor supremo, mas por conivência das ovelhas, e também por indiferença e pusilanimidade de pastores, não de primeira linha, têm contribuído para o massacre.

Refletindo, Jesus, com tristeza, dizia: “Tenho também outras ovelhas que não são deste estábulo” (Jo 10,16). Contudo, ele, imediatamente, acrescentava: ”Também essas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (v.16). Eis a tarefa confiada ao pastor e às pastorinhas.

Quanto maior for o zelo, tanto mais amplamente e bem mais depressa se concretizará esse magnífico ideal do único rebanho. Para isso Jesus orou na terra e continua orando no céu, “para que todos sejam um”; e coloca à disposição de todos os seus tesouros de verdade, de graça, de misericórdia.

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Levar esses tesouros às almas para o bem delas e para o triunfo do Pastor divino é missão do pastor e das pastorinhas. Eis a terna invocação do Angélico (Tomás de Aquino): “Ó Bom Pastor, verdadeiramente pão, ó Jesus, tem misericórdia de nós: tu nos apascentas, protege-nos, faze-nos ver as boas coisas na terra dos vivos” (Sequência Lauda, Sion, Salvatorem).

As Pastorinhas são almas que aprofundaram a doutrina de Jesus, que adquiriram a caridade de Jesus, que vivem unidas a Jesus e pertencem inteiramente e só a Jesus; que se dividem em pequenos grupos, que se estabelecem em uma paróquia, na qual consideram as almas como suas, por adoção; a elas se sentem unidas na vida, na morte, na eternidade, com uma única aspiração, a de salvar a todas; e colaboram no apostolado com o pároco, instruindo e preservando; desfazendo o mal e edificando o bem; convertendo e santificando; encaminhando à vida cristã e à boa morte, com o programa do pároco e do amor; morrer cada dia para salvar cada dia; sem contentar-se com a boa morte, mas sufragando os que já partiram para a outra vida.

Assim serão as Irmãs: mães, mestras, catequistas, as que consolam na dor, um raio de luz e de sol benfazejo e contínuo na paróquia.

Segunda etapa

A MISSÃO DE MARIA RAINHA DOS APÓSTOLOS28

Neste primeiro sábado do mês, contemplemos, por um momento, a estátua da Rainha dos Apóstolos, que está diante de nós. Maria oferece o seu Jesus ao mundo, o que demonstra a missão dela de Rainha dos Apóstolos e de todo apostolado. O arcanjo Gabriel anunciou a ela que deveria ser a Mãe do Filho de Deus e que o filho extraordinário que se encarnaria em seu ventre seria rei e dominaria o mundo: “e o seu reino não terá fim”. Jesus não dominaria somente sobre o mundo físico, mas sobre as mentes, os corações e as vontades dos homens. À resposta de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, o Filho de Deus desceu em seu seio e assumiu carne humana. Desse modo, Maria tornou-se Mãe de Jesus. Depois, em Belém, Maria dá Jesus ao mundo. Antes disso, levou-o no ventre como hóstia na píxide, mas em Belém, no presépio, ela o expõe à adoração dos anjos e dos homens. Os anjos descem inumeráveis ao redor da manjedoura para adorar e cantar o “glória a Deus no mais alto dos céus”. Mas os primeiros adoradores são Maria e José. Depois chegam os pastores e encontram o Menino com sua Mãe. E Maria mostra-o para eles e recebe os presentes. Em seguida, o mostra também aos Magos e depois o apresenta ao Sacerdote no templo e o coloca nos braços do velho Simeão. Depois, às escondidas, o leva para o Egito, o reconduz à Palestina, a Nazaré e quando chega para Jesus o tempo de sua manifestação pública, é revelado por meio de Maria, que intercede para que ele realize seu primeiro milagre da transformação da água em vinho. Jesus aqui se manifesta Deus e os seus discípulos acreditaram nele. Maria, assim, o introduz na vida pública e o apresenta ao povo hebreu, cumprindo em tudo a sua missão. Se os cristãos, hoje, possuem a Igreja, os sacramentos, a vida religiosa, o sacerdócio, a graça, a salvação... a quem o devem? Diretamente a Jesus, mas indiretamente a Maria, pois ela é a Mãe que nos deu Jesus. E Jesus para nós é tudo: o Caminho, a Verdade, a Vida. É a Verdade, e ele pregou a Verdade; é o Caminho, e com os seus exemplos nos ensinou a fazer o bem; é a Vida e infundiu em nossa alma a grande riqueza, a grande honra da filiação divina. Façamos aqui três reflexões: 1) Maria dá Jesus ao mundo; 2) Maria dá Jesus a cada um de nós; 3) também nós, como Maria, devemos dar Jesus.

28 Pregação do P. Mestre, Roma, 23 de outubro de 1956. Cf. Spiritualità Paolina, Volume 1, Devozioni della prima settimana del mese, Pia Società di San Paolo, Roma, dezembro de 1962, pp. 402-408.

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1) O Senhor, vendo que os homens se haviam afastado dele pelo pecado, dignou-se criar uma mulher Imaculada, isenta do pecado e das conseqüências do pecado de Adão. Ela se torna Mediadora entre Deus e os homens: não que por si mesma pudesse ela reparar os pecados dos homens, mas porque deu o Salvador ao mundo, Jesus, o qual reparou todos os pecados e tornou-se o verdadeiro Mediador entre Deus e os homens. Maria, pelos méritos de Jesus Cristo, recebeu do Pai a isenção da culpa, “prevendo-se já seus méritos” e tornou-se a bendita entre as mulheres... Qual mulher recebeu uma missão tão bela, tão santa, fazendo algo útil para a humanidade como Maria? Ninguém entre os homens, nem entre aqueles que ensinam alta ciência, nem entre os que têm o domínio entre os povos, nem entre os que se vangloriam como benfeitores da humanidade, nem entre os inventores... nenhum deles trouxe para a humanidade tanto proveito quanto Maria. Por meio de Maria chega todo bem para a humanidade porque Maria deu ao mundo Jesus.

2) Mas não vamos nos limitar a considerar Maria só sob esse aspecto. É necessário considerá-la também enquanto oferece Jesus a cada um de nós. Cada manhã - se o quisermos - é - nos dada uma Hóstia que é Jesus. É Maria que oferece Jesus a todos e a cada um; e cada um pode possuir Jesus por inteiro, ainda que o mesmo Jesus, ao mesmo tempo, seja dado a centenas e a milhares de pessoas. Cada qual pode aproveitar o máximo sem exaurir jamais os bens que Jesus pode dar e, recebendo esse máximo, nada diminui para os outros. É Maria quem nos dá Jesus. Ela o oferece a todos desde o Batismo, desde o início da idade da razão, na Primeira Comunhão e nas demais que se seguem. E continuamente no-lo dá. Jesus que é luz para a mente, que é doçura para o coração, que é santidade para a alma. Maria oferece Jesus a nós, cada dia, em cada comunhão, em cada adoração, em cada santa missa. Todos os dias ela nos oferece Jesus, quase como a suplicar-nos: “Toma o meu Filho, toma o meu Jesus, ele será o tudo para ti, será o Caminho, a Verdade, a Vida”. Nós, portanto, podemos aproximar-nos dela e dizer: “Sim, ó Mãe, cumpre em mim a tua missão. Dá-me Jesus Caminho, Verdade e Vida. Aumenta a luz em minha alma, os afetos sagrados no meu coração, aumenta a força da minha vontade. Que eu o siga, que eu o ame, agora, e depois possa rejubilar-me com ele no Paraíso. Dá-me Jesus, e que ele fique sempre comigo, e que eu caminhe com ele e para ele, enquanto eu não estiver eternamente feliz no paraíso”. Entendemos a missão de Maria para conosco? Ela está bem representada na estátua da Rainha dos Apóstolos. Maria está ali e nos oferece Jesus, como a dizer-nos: “Toma-o, é para ti!”. Jesus nos braços de Maria está em atitude de pregar ou de abençoar. Antigamente dois dedos erguidos representavam a autoridade do Mestre, não tanto a bênção. Nós consideramos Jesus nos braços de Maria, como que abençoando, ou então como o Mestre que ensina. Na mão esquerda Jesus segura o Evangelho. O Evangelho deve ser o nosso guia, a nossa luz, e nele encontramos as verdadeiras riquezas sobrenaturais. Quando entramos na igreja, devemos dirigir-nos a Maria e dizer-lhe: “Dá-me o teu Jesus!”. Ter grande confiança. Se tivéssemos ido com os pastores à gruta de Belém, certamente teríamos pedido a Maria para deixar-nos beijar Jesus ou deixá-lo por alguns momentos em nossos braços. Se isso pudesse se realizar agora, ficaríamos felizes! Que felicidade teve Santo Estanislau ao receber nos seus braços Jesus Menino! Mas nós todo dia o recebemos não nos braços, mas no coração. Nós precisamos tratar Jesus como Maria Santíssima o tratava. Pensai um pouco na delicadeza de Maria ao pegar Jesus nos braços, ao vesti-lo, enfaixá-lo, alimentá-lo. Com que amor se ajoelhava diante dele para adorá-lo e com que fervor no coração! Naqueles momentos, o seu coração se expandia em um amor novo e grande, que se estendia a todos os homens. Pensemos com que amor Maria defendeu o Menino Jesus na fuga para o Egito, como o educou quando pequeno, como o reconduziu para a Palestina, como se estabeleceram em Nazaré e como o acompanhou desde criança, jovenzinho e adulto na casa de Nazaré. Que também nós acolhamos e tratemos Jesus como Maria! Maria era a mãe e lhe prestava os serviços próprios de mãe, mas, enquanto o adorava, agradecia, amava e invocava... Ao mesmo tempo que nele mandava, ela o suplicava. E como aprendia de Jesus, como conservava todas as palavras e as meditava em seu coração! Como escutava suas pregações e os discursos durante a vida pública, meditando sobre isso e

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esforçando-se para pôr tudo em prática! E como crescia sempre em amor à medida que via o Filho redimir o mundo com a sua verdade, com a sua santidade e seu sofrimento! Vamos prometer a Maria conservar sempre Jesus em nosso coração, oferecer-lhe a mente, a vontade, o coração e todo o nosso ser.

3) Nós devemos dar Jesus ao mundo como o fez Maria. Chamados a dar Jesus ao mundo, o sacerdote e a religiosa consagram-se totalmente a ele por amor, e não só para amá-lo com todo o seu ser – o que já é uma grande coisa – mas também para fazer com que os outros o amem. A religiosa renunciou à maternidade humana, para tornar-se mãe no sentido mais amplo e extensivo: mãe de tantas crianças, de tantos jovens, de tantas pessoas, com a oração, com o sofrimento, com o apostolado do exemplo, da palavra, das publicações e com todas as possibilidades que a religiosa tem de acordo com a sua condição. Levar Jesus ao mundo! A religiosa é uma outra Maria e deve cumprir o que Maria cumpriu. Primeiramente ter Jesus consigo, como Maria o teve em seu seio durante nove meses, depois dá-lo às pessoas, como Maria o deu em Belém e durante toda a vida de Jesus. A religiosa que é santa santifica. A religiosa que é toda de Jesus, dá Jesus ao mundo. Não se deve permanecer sozinha por ser virgem. Muito pelo contrário! Torna-se mãe espiritual de tantas almas e não de apenas uma. Como é bonita a oração: “Ó Jesus, tomai todos os meus méritos, todas as minhas orações, os meus sofrimentos, disponde como quereis em favor das almas que mais necessitam”. Eis o “Coração divino” que rezamos tantas vezes. Desse modo, a virgem torna-se mãe de tantas almas: virgem e mãe. E será muito mais mãe sendo virgem de mente, de coração, de vontade, de corpo. Nisto, sua missão se une àquela de Maria, participa dela e a repete. É necessário que o coração da virgem se amplie a ponto de compreender todas as pessoas. Há pessoas que sentem as necessidades só de alguma categoria da humanidade: ex. dos sacerdotes, dos enfermos, dos pecadores... o que está bem. Mas o coração deve abrir-se e abraçar a Igreja toda: militante e padecente; deve compreender todos os homens, os fiéis e os infiéis e aqueles que receberam a Jesus e aqueles que ainda não o conhecem: as crianças, a juventude, os profissionais, os mestres, os militares, os operários, os camponeses, todos! E no que diz respeito a nós, esforçar-nos para dar Jesus a todos. Isso é apostolado. Ser virgem e mãe. E quanto mais se for puro e purificado, tanto mais se cumprirá o apostolado de Maria e o tornará concreto e eficaz. Quer se viva ou se morra, quer se tenha saúde quer doentes, quer se deva servir os outros, quer se deva ser servido, sempre podemos dar Jesus ao mundo e cumprir o apostolado. Alguns o cumprirão de uma maneira, outros de outra maneira, mas que se perceba em todas o “dever” da maternidade espiritual, o dever de dar Jesus ao mundo. Portanto, olhar para Maria que dá Jesus ao mundo, olhar para Maria que dá Jesus a cada um de nós e olhar para Maria a fim de aprender bem a nossa missão, o “dever” de dar Jesus ao mundo com o apostolado.

Terceira etapa

O MÊS DE JUNHO DEDICADO A SÃO PAULO29

É costume da Pia Sociedade São Paulo dedicar o mês de junho a São Paulo. Celebrar um mês em louvor a São Paulo significa cumprir três homenagens: 1. Meditar São Paulo, a sua doutrina e seus exemplos; 2. Imitar São Paulo especialmente naquelas virtudes que são indispensáveis; 3. De modo especial rezar a São Paulo, quer para a nossa santificação, quer pelo apostolado e confiar na sua poderosa intercessão. É bom voltar a ler o livreto que tem por título “Um mês a São Paulo”. Ele sintetiza as meditações feitas, pela primeira vez, em 1928 quando se celebrou de forma mais ou menos solene, e por todos, um mês

29 “Regina Apostolorum”, junho de 1954 e janeiro de 1957. Cf. Spiritualità Paolina, volume 1, Devozioni della prima settimana del mese, Pia Società Figlie di San Paolo, Roma, dezembro de 1962, pp. 208-212.

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dedicado a São Paulo. Há para todo dia uma breve meditação, com um fruto a se obter e o pedido para apresentar a São Paulo. Devemos considerar São Paulo sob três aspectos: como mestre, modelo e provedor. 1. Como nosso “Mestre”. Ele se denomina “Mestre dos povos” e foi, na verdade, o mais fiel e profundo intérprete do Evangelho de Jesus Cristo. Jesus disse sobre ele a Ananias: “Ele é vaso de eleição, para que leve o meu nome perante os povos, aos reis e aos filhos de Israel”. E agora que Paulo goza do prêmio eterno não cessa, mas intensifica a sua missão de ser, de modo especial, o “Mestre dos povos”. Ele está bem na “glória” como foi esculpido sobre o altar do templo de São Paulo em Alba. Tem ao redor de si os seus discípulos e admiradores: São Timóteo, São Tito, Santa Tecla, São João Crisóstomo etc. e a todos ele indica o Mestre divino. Esta foi a sua missão: aplicar os ensinamentos do Evangelho às necessidades do seu tempo, consoante a missão que a ele fora confiada e que ele cumpriu até o fim , até o fim em que coroou sua vida com o martírio, sofrido em Roma, centro do cristianismo, no mesmo dia em que também São Pedro foi crucificado na colina do Vaticano. Paulo é o “Mestre dos povos”: a sua vida é um ensinamento vivo e palpitante, especialmente para quem escreve ou tem de enfrentar estudos profundos; ensinamento vivo e palpitante são as suas Cartas. Também por isso ele foi escolhido como protetor da Congregação. 2. Em segundo lugar, considerar São Paulo como nosso “Modelo”. Ele nos diz: “sejam imitadores meus, assim como eu o sou de Cristo” (1Cor 4,16). Ele mesmo se apresenta como exemplo, mas não como um exemplo absoluto, e sim na forma, no modo de imitar Jesus Cristo, sendo que só Cristo é o exemplo absoluto de toda perfeição. São Paulo nos diz: “tornei-me modelo para vocês”. O que ele quer dizer com essa frase? Quando se compõe um livro e quando ele já está até paginado, põe-se essa “forma” na máquina, e com base nessa forma e nessa composição vão ser impressos todos os exemplares. Assim, também, quem vai fazer uma estátua em gesso ou em cimento, primeiramente prepara a forma, depois põe o gesso e o cimento e de um molde vai construir todas as estátuas que vêm depois. São Paulo é para nós a “forma” (molde). Em cima dessa forma devem ser impressos os Paulinos, as Paulinas, todos os membros da nossa Família Paulina. Ele é graça para nós. O Senhor nos apresenta e nos coloca na frente esse pai a fim de que nos espelhemos nele, a fim de que imitemos as suas virtudes no apostolado e em nossa vida pessoal. Vamos sempre considerar São Paulo como nossa "forma”, nosso molde, nosso modelo de virtudes. 3. Em terceiro lugar, São Paulo é o “Provedor”. Chama-se também “ecônomo” espiritual, ecônomo celeste. Ele pede as graças que nos são necessárias à Virgem bendita, à Rainha dos Apóstolos, e também a Jesus. Vê as necessidades de cada um e as de todos. Ele penetra em nossas mentes, em nossos corações e vê as necessidades de cada um. Cada qual procure refletir sobre o olhar penetrante de São Paulo: mas agora do céu é muito mais penetrante e perscruta as nossas almas cujo estado ele conhece, as nossas mentes das quais ele conhece os pensamentos, os nossos corações dos quais ele vê as necessidades. Devemos tornar-nos filhos de São Paulo como se fizeram filhos dele São Timóteo, São Lucas, São Tito, filhos que se tornaram santos e apóstolos e eram felizes por acompanhá-lo nas diversas viagens e por dedicar-se ao seu próprio ministério. Para transcorrer bem este mês dedicado a São Paulo, vamos propor-nos três coisas: instruir-nos sobre São Paulo e aprender dele a vida e as cartas; imitá-lo na prática da virtude que mais queremos adquirir; prestar-lhe todo dia a homenagem de nossa oração. Tudo isso se pode fazer em escala ainda maior por parte de quem quisesse dedicar um ano inteiro a São Paulo. A ele já foi dedicado o ano de 1957-58 por todas as Congregações paulinas, mas não está excluído que uma pessoa ou uma comunidade impelida por necessidades específicas ou para incrementar mais a devoção possa repeti-lo. Para quem quisesse repeti-lo, lembremos o que já foi publicado em “Regina Apostolorum” a respeito dos objetivos propostos em tal ano:

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1. Demonstrar reconhecimento ao nosso Pai que nos guardou, guiou, iluminou no difícil caminho de tantos anos, especialmente nos inícios.

2. Conhecer melhor São Paulo. Sobre a sua grande personalidade humana e espiritual, escreveu-se muito,

mas muito ainda está para ser dito. “Conhece o teu Pai”: a sua vida santa, o seu apostolado, a sua doutrina, o seu poder junto de Deus. Conhecer o “Apóstolo de Jesus Cristo”, o “Mestre dos povos”, o “Ministro da Igreja”, o “Vaso de eleição”, o “Pregador do Evangelho”, o “Mártir de Cristo”. Conhecer sua contribuição na dogmática, na moral, na liturgia, na organização da Igreja.

3. Imitar melhor as suas virtudes. Ele foi verdadeiramente o homo Dei; um homem repleto de graça de

maneira extraordinária; um homem a quem foram confiadas de modo particular as coisas de Deus, um homem de modo especial compromissado com Deus, um homem que pôde dizer: “A graça de Deus em mim não foi em vão”. Ele é o cantor de Deus, o pregoeiro da glória de Deus, o promotor do seu culto, o propugnador da leis de Deus, o escolhido de Deus, o prisioneiro de Cristo, o homem que vive em Cristo.

4. Rezar a São Paulo por três razões: a) porque grande é o seu poder junto de Deus, em proporção com o

trabalho feito por Deus sobre a terra; b) porque ele é o Pai de nossa família, e um pai sempre pensa nos filhos; c) para alcançar a sua virtude por meio de nossas orações.

5. Amar o Apóstolo e conseguir que aqueles que estão espalhados nas diversas nações, Paulinos e

Paulinas, saibam, a exemplo de São Paulo, sábia e santamente distinguir aquilo com o qual devem uniformizar-se, aquilo que eles devem comunicar e aquilo que devem evitar. Invocar o “Mestre dos povos”, nosso pai e modelo.

E agora concluímos com a bela oração a São Paulo: "Ó Deus, que voltas o olhar para nós que do nosso nada em ti confiamos, concede benévolo, que contra todas as adversidades, sejamos fortalecidos pela proteção do Doutor dos gentios". Pelos argumentos apresentados (ou a apresentar por quem não tenha ainda dedicado um ano a São Paulo, ou por quem quisesse repetir essa piedosa prática), rever as circulares “Regina Apostolorum” da primeira metade de 1957, e os dois números de janeiro de 1958, para um digno encerramento do referido ano.

Quarta etapa

PREGAÇÃO DO PRIMEIRO MESTRE

POR OCASIÃO DO QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DO INSTITUTO30

Estamos aqui reunidos para cumprir um tríplice dever. No dia 20 de agosto de 1914, com a celebração da Missa, uma hora de adoração e a bênção de uma minúscula tipografia, iniciamos a Família Paulina. Os jovens eram poucos, a casa pequena. Na capela mal havia espaço para aqueles poucos. Agora são passados quarenta anos e nós recebemos inumeráveis graças, portanto, temos o dever de fazer um agradecimento. Além do mais, cometemos muitas infidelidades e faltas de responsabilidade e, portanto, temos o dever de fazer uma reparação. Além disso tudo, olhando para frente, temos o dever de dar continuidade à missão que o Senhor nos confiou. Quarenta anos: hoje é como um dia de retiro em que não apenas examinamos um breve período da vida, mas os quarenta anos que se passaram. E depois, com a mente voltada para o futuro fazemos propósitos e

30 G. Alberione, [Alba, 20 de agosto de 1954], por ocasião do quadragésimo aniversário da Fundação do Instituto. Opúsculo de 12 páginas, impresso pelas Filhas de São Paulo. Meditação, ao que parece, feita para toda a Família Paulina. Sem data.

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orações bem humildes, mas confiantes no Senhor. Ir para frente até que possamos dizer: “completei minha carreira”: completei o caminho que me foi indicado por Deus.

1o Agradecimentos a Deus

Leva-se em consideração o passado para cantar o Glória a Deus; e para aprender as lições que o passado nos dá; a história é mestra da vida. As graças têm sido inumeráveis e de toda ordem: de ordem espiritual, de ordem sobrenatural, de ordem material, de ordem intelectual. Entre as graças é preciso lembrar o dom das vocações. Esta é a vontade externa de Deus para uma pessoa; vontade que determina o caminho que ela deve seguir em sua vida; e se muitas são as vocações do Instituto, é claro que são muitos os sinais de que Deus queria a Família Paulina. Desde a eternidade, em sua sabedoria e em seu amor, destinou as pessoas para constituir essa Família.

As vocações! São tantas as pessoas nas Casas Paulinas. Agora são cerca de cinco mil. Há o dever de fazer um agradecimento por todas as outras graças, particularmente aquelas que dizem respeito à nossa formação. A formação na Família Paulina é complexa e jamais se chega ao ideal. Vemos todos os dias que nós ainda estamos aquém de nossa missão e ainda não conseguimos realizar nas almas o bem que está nas intenções do Senhor. A formação diz respeito ao intelecto, à vontade, ao coração. Precisamos desenvolver a nossa personalidade. O intelecto com a ciência; a vontade com a virtude; o coração com a oração, com a graça; o corpo, santificando cada um dos sentidos. Quem vive castamente quanto aos olhos, à língua e, em geral, quanto ao corpo, contará com grande glória no dia do julgamento. Agradeçamos ao Senhor inclusive pelas graças das quais sequer nos apercebemos, das quais não tomamos consciência, graças concedidas no início da congregação e que ainda são derramadas todos os dias. Tudo foi feito por Deus e só por Deus. Por que? Porque nós não tínhamos nada. Nem sequer pensávamos no que ocorria. Nada tínhamos quanto aos bens materiais e sequer podíamos pensar que o Senhor, por causa das necessidades deste século, quisesse confiar-nos este apostolado. A vida da Família Paulina proveio toda da Eucaristia, mas foi transmitida por São Paulo. Da Eucaristia, porque Jesus é a vida, mas a hóstia santa para entrar nos nossos corações precisa ser recebida. E foi São Paulo que realizou essa obra de comunicar-nos a vida de Jesus Cristo. Quando dizemos: “somos filhos” ou “filhas de São Paulo”, não queremos dizer que somos de São Paulo, no Brasil, por exemplo, mas queremos expressar aquilo que se entende quando se diz assim: “Aquela pessoa, aquele jovem é do Pedro”. O que significa? Que nasceu de Pedro. O nosso pai São Paulo diz: “em Cristo Jesus, por meio do Evangelho, eu gerei vocês”. Tudo é dele. O Instituto foi inspirado por ele. Ele é o pai, a luz, o protetor, o mestre, tudo; por isso agradecemos a Deus. Sim o Deo gratias (Graças a Deus) deste dia deve ser um graças a Deus cheio de sentido, que brote do íntimo da nossa alma. Agradeçamos, com Maria, rezando o Magnificat.

2o Nosso dever neste dia é o de reparar as ofensas cometidas.

O texto que se lê na missa de São Bernardo diz o que devemos ser: “O justo, de manhã cedinho dirige o coração ao Senhor que o criou e reza perante o Altíssimo, abrindo a boca em oração e pedindo perdão pelos seus pecados. Se for da vontade do Senhor, ele ficará repleto do espírito de inteligência e fará chover palavras de sabedoria e agradecerá ao Senhor na oração. O Senhor dirigirá seu conselho e sua ciência e ele meditará nos mistérios divinos. Ele fará brilhar a instrução do seu ensinamento e se orgulhará com a Lei da Aliança do Senhor. Muitos elogiarão a sua inteligência e ele nunca será esquecido. Não desaparecerá a sua recordação e a sua fama viverá de geração em geração. As nações falarão de sua sabedoria e a assembléia proclamará os seus louvores”(Eclo 39,6.14). Ora, cada qual perceberá que não foi tudo aquilo que deveria ser e fazer. Quando o sacerdote oferecer a Hóstia: "Recebe, Pai santo, esta hóstia imaculada..." nós acompanharemos o sacerdote que acrescenta: "pelos inúmeros pecados, ofensas e negligências". É bem difícil podermos enumerar as ingratidões e incoerências de 40 anos. Sabe lá quanto Deus esperava de nós! E que nós de fato não fizemos!

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Devemos uma reparação por aquilo que em nós não correspondeu ao principal fim da vida religiosa: buscar a qualquer custo a maior glória de Deus. Devemos uma reparação por não termos realizado de todo o segundo fim: a santificação. Devemos reparar também os pecados cometidos em relação à humanidade. Talvez no dia do julgamento deveremos reconhecer que não demos às pessoas tudo aquilo que podíamos ter dado, a verdade e a luz. Devemos reparação por não termos contribuído sempre para o progresso espiritual e apostólico da Família Paulina. Devemos reparação pelos pecados pessoais. Demos sempre o bom exemplo? Rezamos sempre como era do nosso dever? Certamente não poderemos responder em coro que sim. Cada qual tem suas responsabilidades. Cada um pode fazer seu exame de consciência. Mas, O que retribuirei ao Senhor por tudo o que me tem dado? Como posso eu dar ou reaver junto de Deus e da humanidade aquilo que por minha causa tem faltado? Oferecerei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor. Aceitar o cálice; quando não houver nada para oferecer, ofereçamos aquele que se ofereceu na cruz: Jesus Cristo. Os seus méritos, o seu sangue, são de valor infinito e são o bastante para apagar qualquer iniqüidade. O que precisa haver é de uma parte a nossa humildade e de outra a nossa confiança. Aqui deveria entrar a oração do Miserere.

3o Dever a cumprir nesta jornada é a renovação dos nossos propósitos acompanhados de oração.

É preciso ter cuidado diante da tentação de viver de lembranças e vangloriar-se pelo passado; São Paulo ensina (Fl 3, 12-14): “Não que eu já tenha conquistado o prêmio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo. Não acho que eu já tenha alcançado o prêmio, mas uma coisa eu faço: esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está na frente. Lanço-me em direção à meta, em vista do prêmio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo”. E nós o que temos sido? Não olhes os nossos pecados, mas a fé da tua Igreja. São Paulo diz: Sejam meus imitadores assim como eu o sou de Cristo. Esse convite ele o faz para todos os fiéis e seus admiradores, mas para nós seria pouco, porque somos filhos. Os filhos têm a vida do pai: portanto, devem viver como ele. Para nós são mais apropriadas as suas palavras aos filhos de Tessalônica, aos quais ele lembra que se tornou forma [modelo]: que nos tornássemos forma [modelo] para vocês. Jesus Cristo é o original perfeito: Paulo, para nós, se fez forma [modelo] para nós, sendo que nele somos plasmados para viver conforme Jesus Cristo. São Paulo forma [modelo] ele não o é por uma reprodução física, mas por possuir ao máximo a sua personalidade: mente, piedade, coração, virtude, zelo. A Família Paulina, formada por muitos membros, deve ser hoje Paulo vivo, em um corpo social. Alguns propósitos são gerais e outros particulares. Deveres gerais: sempre se disse que a congregação é como um carro que corre sobre quatro rodas: o espírito, o estudo, o apostolado, a pobreza. Esse é o carro sobre o qual se leva o Evangelho às almas e sobre o qual nós devemos estar também para oferecer esse Evangelho para as almas. Pensemos no que é a congregação, no que é a Família Paulina. A Família Paulina foi constituída por São Paulo para dar continuidade à sua obra; é São Paulo vivo, mas contando hoje com tantos membros. Não fomos nós que escolhemos São Paulo. Foi ele quem nos escolheu. Quer que façamos o que ele faria se estivesse vivo. E o que faria se estivesse vivo? Seguiria na íntegra os dois grandes preceitos, que ele bem cumpriu: Amar a Deus de todo o coração, com todas as forças, com toda a mente; e amar o próximo sem nada poupar porque ele viveu o Cristo: “Na verdade é Cristo que vive em mim”. Ele usaria os mais altos púlpitos erigidos pelo progresso de hoje: imprensa, cinema, rádio, televisão e as maiores descobertas da doutrina do amor e da salvação: o Evangelho de Jesus Cristo. São Paulo se tornou forma [modelo] para nós. Quando se introduz um original na máquina para imprimi-lo, as folhas todas ficam impressas de acordo com a forma. Ou se quisermos: quando se fazem pequenas imagens põe-se gesso ou estuque no molde e assim obtemos a estátua que desejávamos. O original é Jesus Cristo, a forma é São Paulo. E São Paulo diz: “para que se lhe dê forma”, quis fazer-se forma. São Paulo se fez “forma” e nós temos de formar-nos nele. Viver, ou seja, pensar, agir, zelar como ele pensou, agiu e como ele zelou pela salvação das almas e também como ele rezou. Importa ser verdadeiramente Paulinos! Daí o propósito de tornar-nos verdadeiros paulinos, verdadeiras Paulinas.

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Querendo subdividir o propósito, vemos em primeiro lugar o espírito, como primeira roda do carro. Trabalhar intensamente para corrigir os nossos defeitos, superar o que é imperfeito e construir o homem novo, à semelhança de Deus, em verdade e santidade; ser humildes, obedientes, castos, amantes da pobreza, pacientes. Trabalho espiritual, interior, o primeiro e indispensável entre todos. Se faltar esse, nenhuma pessoa pode ser admitida ao noviciado ou à profissão.

Segunda roda do carro, o estudo. Não chegamos nunca ao fim do estudo. Precisamos acompanhar o mundo atual que sempre evolui; precisamos dar uma resposta às objeções deste mundo e dar-lhe um alimento adequado, de acordo com a mentalidade de hoje. Estudar sempre, estudar o que diz respeito à ascética, ao catecismo, ao nosso apostolado e, de modo especial, estudar a propaganda. Isso mesmo: estudar, estudar para sermos capazes de uma boa redação, de uma técnica cada vez mais perfeita, de uma propaganda coletiva e de uma propaganda que tenha repercussão.

Terceira roda, o apostolado, a prática do apostolado. O Senhor, por intercessão de São Paulo, de São Bernardo e por intercessão de São Pio X (o qual partiu para o Pai no dia em que benzemos a primeira e minúscula tipografia, que colocamos sob sua proteção) nos dê a sabedoria. O Senhor, que conta e abençoa cada passo, escreveu tudo no livro da vida. Nada foi omitido! Conseguiu-se muito, sim. Prática na redação, manuseio técnico, e experiência na propaganda.

Em quarto lugar, pedimos ao Senhor a graça do espírito de pobreza, e por pobreza queremos entender também a saúde, a boa educação, o caráter. Queremos compreender tudo aquilo que diz respeito ao sustento, à habitação, ao vestuário e todo o restante que é necessário à vida. Na verdade, a nossa pobreza é um pouco diferente da de outros Institutos. A nossa pobreza, de modo especial, deve levar-nos a trabalhar como trabalhou o Filho de Deus na casinha de Nazaré. É uma pobreza que cansa, uma pobreza que procura as coisas, uma pobreza que faz caridade, uma pobreza que precisa obter os meios de apostolado e de subsistência; é uma pobreza reparadora e uma pobreza redentora, como era a pobreza reparadora e redentora do Filho de Deus, quando estava trabalhando na pobre casa de Nazaré. O suor do rosto de Jesus era tão precioso quanto o suor de sangue no horto do Getsêmani. Então, como propósito geral: trabalho interior e espiritual, trabalho intelectual e estudo, trabalho de apostolado e a prática da pobreza. Cada um de nós tem depois, os seus propósitos porque cada um de nós, embora vivendo na congregação, tem as suas necessidades particulares; cada qual tem as suas graças; a sua formação; sua saúde; suas possibilidades; cada qual teve suas inspirações no batismo, na crisma, na comunhão. E tem um propósito especial que leva no coração e que, ano após ano, se propõe a praticar. Tudo isso requer que recorramos à divina misericórdia. Se nós olharmos as pessoas que estão na congregação, na Família Paulina; se olharmos quantos tabernáculos foram erigidos; se olharmos quantas casas foram se somando ano a ano; se olharmos as diversas iniciativas de apostolado, devemos dizer: “O dedo de Deus está aí!” “Nem aquele que planta, nem aquele que rega é alguma coisa, mas Deus é que faz crescer”. Não importa quem plantou nem quem regou, mediante as instruções, a formação, mas importa aquele que dá a vida, que proporciona o crescimento. Não adiantaria nada alguém levar água para regar uma vara seca, mas importa o Deus que dá a vida à planta e infunde energia para sorver a seiva da terra. Vem então a oração. Quer devamos adorar, quer devamos agradecer, quer devamos pedir perdão, quer devamos suplicar, o façamos sempre “por Nosso Senhor Jesus Cristo vosso Filho”. Destaquemos sempre os méritos de Jesus Cristo. Senhor Deus, olha para teu Cristo, para teu Filho, que feito homem está pregado na cruz e que orou por todos nós. Olha para os seus méritos e tem piedade de nós. Nesse final dos quarenta anos nós continuamos a pedir que a Família Paulina cresça. Em primeiro lugar espiritualmente, depois em número de pessoas e nas obras.

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Precisamos também reconhecer humildemente que ainda hoje, depois de tanto tempo, não conhecemos a nós mesmos, nem conhecemos exatamente o que é a Família Paulina. “Levai em consideração a vossa vocação”. Surgiram, por vezes, objeções, questionamentos e propostas às quais dá vontade de responder: “Não sabeis de que espírito sois”. A luz vem do Senhor: tenhamos confiança. A virtude vem do Senhor: tenhamos confiança. O consolo vem do Senhor: tenhamos confiança. E vamos em frente, até que possamos dizer com Jesus Crucificado, em nosso leito de morte: “Tudo está consumado”. Cumpri o que Deus quis de mim, aquilo que fazia parte dos seus desígnios. Assim, “Em tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”. Reconsiderando o passado constatamos que se realizou a primeira parte da promessa divina: “Vós que deixastes tudo e me seguistes, recebereis o cêntuplo”. Estejamos certos de que, se formos fiéis, se realizará também a segunda parte: “e possuireis a vida eterna”.

Quinta etapa

A AÇÃO DA PROVIDÊNCIA31

A Providência, conforme o seu usual método divino de agir, interveio “forte e suavemente”: preparar e fazer convergir os caminhos de acordo com a sua finalidade, iluminar e cobrir com ajudas necessárias, fazer aguardar a sua hora em paz; começar sempre do presépio; agir tão naturalmente que não se possa distinguir facilmente a graça da natureza, mas, com certeza, integrando ambas... Doutra parte não se pode forçar a mão de Deus, basta vigiar, deixar-se guiar, e nos diversos deveres procurar aplicar a mente, a vontade, o coração e as forças físicas... O homem tem sempre tantas imperfeições, defeitos, erros, insuficiências e dúvidas no seu agir que deve colocar tudo nas mãos da Divina Misericórdia e deixar-se guiar. Nunca forçar a mão da Providência. Pelas Irmãs Pastorinhas ele começou a rezar desde 1908, mas essa congregação começou trinta anos mais tarde. Na verdade, ele não fez anotações, não sabe o que dizer sobre muitas coisas; sentindo ao mesmo tempo repugnância em fazê-lo e humilhação por todos os lados, deixaria tudo de bom grado nas mãos de Deus, sabendo que tudo ele manifestará no julgamento universal, para a sua glória. Sucedia muitas vezes um amadurecimento sereno, calmo: o Senhor dispunha que ficasse acamado por um breve período: depois de ficar fechado no quarto, saía revigorado, com as idéias claras, apresentava ao Diretor espiritual os projetos: corrigia, acrescentava algo, conforme o caso e se fosse necessário os apresentava à Autoridade Eclesiástica e punha mãos à obra: nem sempre o momento estava maduro; mas o Senhor fazia conhecer as coisas, deixando o trabalho ao seu servo, inclusive os erros... depois intervinha para redimir os erros e as falhas...

Sexta etapa

DEVOÇÃO PRÁTICA A JESUS, MESTRE,

CAMINHO, VERDADE E VIDA32

A devoção a Jesus Mestre, vai aumentando gradualmente, mas de maneira contínua. É uma devoção profunda, sublime, que precisa ser entendida para dar à nossa piedade toda a profundidade e a firmeza que deve ter. Rezemos a Jesus Mestre, que ilumine a nossa mente para compreendê-la e aprofundá-la. Precisa-se de muita graça para se chegar a esse termo. Contudo, também aqui procuramos progredir. Cada passo dado na compreensão de nossas devoções será um passo em nosso espírito paulino.

31 Abundantes divitiae gratiae suae - Storia carismatica della Famiglia Paolina. Edições Paulinas, 1985, nn. 43-45. 32 Pregação do P. Mestre, feita em Roma em 1948. Cf. Spiritualità Paolina, volume 1, Devozione della prima settimana del mese, Pia Sociedade de São Paulo, Roma, dezembro de 1962, pp. 309-314.

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Jesus Mestre se nos apresenta como Verdade, Caminho e Vida. Rezamos muitas vezes essa jaculatória, mas nem sempre pensamos no sentido profundo que ela contém! Estão se fazendo estudos profundos sobre Jesus Mestre; e os primeiros a tirarmos proveito seremos nós mesmos, Paulinos e Paulinas. Assim, podemos entender a nossa devoção.

1o Jesus Verdade – Jesus é a Sabedoria do Pai, Sabedoria pessoal, não criada e eterna. Pela vontade do Pai fez-se Sabedoria nossa, como diz São Paulo: “o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus” (1Cor 1,30). Anunciou aos homens as grandes verdades que são objeto da nossa fé: desde a verdade da essência de Deus Uno e Trino até àquela de nosso eterno destino e participação às alegrias próprias de Deus. Jesus nos comunica os dons da sua Sabedoria por obra do Espírito Santo do qual Jesus mesmo disse: “Quando vier o Espírito da verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer... Receberá do que é meu, e o anunciará para vocês” (Jo 16, 13-14). Ora, o Espírito Santo age em nós por meio da Igreja, da liturgia, dos sacramentos. Nós honramos Jesus Mestre, feito nossa sabedoria, pondo-nos humildemente a seus pés e ouvindo o que ele nos deixou no Evangelho que nos comunica através da Igreja. Honramos Jesus Mestre, aceitando e acreditando em todo o seu ensinamento, repetindo com São Pedro: “Só tu tens palavras de vida eterna. Agora nós sabemos que tu és o santo de Deus” (Jo 6,69).

Praticamos assim a primeira virtude teologal: a fé.

2o Jesus Caminho – “Eu saí de junto do Pai e vim ao mundo” (Jo 16,28), disse Jesus depois da última ceia. E veio ao mundo para assumir a humanidade decaída e colocá-la no lugar para o qual o Pai Celeste a havia destinado. Por isso, quis, por primeiro, viver a vida que nós deveríamos viver; por primeiro quis perfazer o caminho que nos reconduziria ao Pai; reatou os elos que uniam a Divindade à humanidade antes do pecado. Jesus reparou os nossos pecados, restabeleceu a nossa amizade com Deus; fez-se (mesmo como homem) objeto das benevolências do Pai; tornou-nos de modo admirável, filhos de Deus; tornou-se para nós caminho rumo ao Pai, fazendo-se nosso mediador, nosso irmão. Nós não podemos fazer nada de bom, de agradável a Deus,se não o for com Jesus, em Jesus, e por Jesus: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6); e o Pai, por sua vez, só aceita como filho aquele que se apresenta com o semblante e a imagem do seu Filho Unigênito. Daí a necessidade absoluta de imitarmos Jesus, nosso modelo; de servir-nos dele para ir ao Pai, de fazer nossas suas adorações, seus agradecimentos, seus louvores e súplicas e assim termos algo digno de oferecer ao Pai Celeste. Honramos, pois, a Jesus, nosso Caminho, de duas maneiras: a) Inspirando-nos nos seus exemplos e nas suas virtudes, procurando retratá-las em nós. Olhando para a vida dele, nós admiramos a harmonia perfeita entre o que ele disse e o que ele fez. Surge, então, espontâneo, por pouco que amemos Jesus, o desejo de nos assemelharmos, pelo menos um pouco, a ele, praticando em nossa vida diária alguns dos admiráveis exemplos que nos deixou. Essa imitação, que é um fruto do amor, torna ainda mais patente o nosso amor a Jesus, que não consiste em palavras ou sentimentos, mas em fazer o que Jesus quer. “Quem me ama pratica a minha palavra” (Jo 14,23). Praticamos assim a terceira virtude teologal: a caridade.

b) Honramos Jesus Caminho servindo-nos dele para ir ao Pai; pedindo emprestadas suas virtudes, seus méritos, valendo-nos de tudo que ele fez, sabendo, aliás, que tudo o que é de Jesus é nosso também, porque nós, pela vontade do Pai, estamos enxertados, incorporados, identificados “em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação, e redenção, a fim de que, como diz a Escritura: ´Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor´” (1Cor 1,30ss). E esse ato supremo de confiança e de amor nos leva a realizar o “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Essa nossa transformação em Cristo é obra do Espírito Santo em união com Maria Santíssima, porque é continuação da obra começada no dia da Anunciação.

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3o Jesus Vida – Jesus é também Vida. “Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). E esta vida de luz e de graça nos faz filhos de Deus: “a todos aqueles que o receberam, àqueles que acreditam no seu nome, deu o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). Ele recebe a vida do Pai e a comunica a nós: “de sua plenitude todos nós recebemos, graça sobre graça” (Jo 1,16). Ele é a videira que sustenta os ramos e passa para eles a vida; os ramos somos nós. Fora dele só há desolação, morte, pecado, condenação. Jesus quer ser a nossa vida: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). E a vontade do Pai é que nós recebamos a vida de Jesus: “A glória de meu Pai se manifesta quando vocês dão muitos frutos e se tornam meus discípulos” (Jo 15,8). Nós glorificamos a Jesus Vida pedindo a ele a abundância de sua vida, de sua graça, de sua santidade. Diante da magnificência de virtude e de santidade que descobrimos na vida do Mestre Divino, sentimos a necessidade de nos tornarmos semelhantes a ele, sentimos a necessidade da oração de súplica; sentimo-nos mais pobres, mais mesquinhos e completamente incapazes de fazer algo além de nossa natureza. Natural é pois recorrer à oração, com a qual obtemos aquilo de que temos necessidade, e glorificamos a Jesus com a nossa confiança em sua bondade e misericórdia, com a esperança de alcançar dele tudo aquilo de que precisamos. E Jesus, chamado a cumprir em nós aquilo que é de seu ardentíssimo desejo, vai nos conceder o seu Espírito que agirá em nós: “até que Cristo seja formado em nós” (Gl 4,19).

E agora alguns meios práticos para honrar o Divino Mestre:

1) Instruir-se nas coisas da fé, pedir o aumento da fé; amar e servir a Deus com toda a mente, sendo esse o fim maior para o qual Deus nos criou: conhecê-lo. O estudo sobre Deus começa com o catecismo, que é o tratado mais simples e mais bonito sobre Deus: Unidade, Trindade, Encarnação, Redenção, Graça, Igreja... A cada ano aprofundar e ampliar essas verdades fundamentais. O catecismo deve, portanto, ser levado em grande estima. A teologia é o catecismo ampliado. Conhecer a Escritura, especialmente o Evangelho, a moral, a ascética, a mística, a vida religiosa. 2) Fazer a meditação de acordo com o método Caminho, Verdade e Vida. Assim a visita ao Santíssimo Sacramento e o exame de consciência. Do mesmo modo formular os propósitos, participar da santa missa, fazer a preparação e o agradecimento à comunhão.

3) Conseguir como fruto dos retiros mensais e dos exercícios anuais a aniquilação do homem velho e a sua substituição pelo homem novo em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida. Imitar Jesus Cristo, unir-se a ele. 4) Meio excelente é, pois, seguir devotamente a liturgia durante o ano. A Igreja, por meio do livro da liturgia, que se pode chamar, também, livro do Espírito Santo, continua a missão dada por Jesus Cristo: “Vão e façam com que todos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês” (Mt 28, 19-20). 5) Quem é o religioso perfeito? Aquele que se destaca por uma completa imitação da vida de Jesus Cristo em si; aquele que tiver uma fé mais pura, mais vivenciada, mais prática; aquele que imitar Jesus Cristo não só naquilo que é obrigatório, mas também nos conselhos evangélicos e que chegar a realizar em si o “vive em mim Cristo” (Gl 2,20).

6) O nosso Instituto é docente. Tem como intuito levar Jesus Cristo ao mundo, ou seja, a sua doutrina, sua moral, o seu culto. Unamo-nos a Maria, Rainha dos Apóstolos que apresenta Jesus aos pastores, aos magos e ao mundo. O Cristo dividido não nos restaura. O Cristo completo é ressurreição, vida e salvação para todo o mundo. Façamos um apostolado completo e santificador.

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Sétima etapa

TESTEMUNHO DE PAULO VI33

Fizemo-vos esperar, o que foi do nosso desagrado, e confiamos na vossa paciência, mas podeis pensar que também nós precisamos dela para atender todos os compromissos e encontros. Agora estamos alegres de estarmos convosco e de todo o coração.

Veneráveis irmãos e filhos caríssimos!

Eis diante de nós a Pia Sociedade São Paulo, de Alba (Piemonte), e agora estabelecida com a sua Casa Geral aqui em Roma. Não é, bem o sabemos, uma instituição simples, mas uma Família, a “Família Paulina”, composta por vários Institutos religiosos que hoje temos o prazer de acolher aqui junto de nós, e quase passá-los em revista. Aqui estão: a Pia Sociedade São Paulo, que afinal tem cinqüenta anos de vida, desde que começou a sua fervorosa atividade e a sua larga e diversa expansão porque aqui estão também as Irmãs da Pia Sociedade Filhas de São Paulo e com elas as Pias Discípulas do Divino Mestre; as Irmãs Pastorinhas; as Irmãs Apostolinas e representantes dos outros Institutos agregados: o de Jesus, Sumo Sacerdote, o de São Gabriel para os jovens e o de Maria Santíssima da Anunciação para as jovens. Portanto, uma árvore florida com uma única raiz e com oito ramos. Como estamos alegres pelo fato de ter-vos aqui presentes, de poder refletir sobre as vossas atividades e de poder dar-vos a bênção! Conhecemos suas atividades, todas permeadas de espírito e de objetivo apostólico: vosso é o apostolado das edições, o principal; vosso é o apostolado paroquial, o apostolado litúrgico, o apostolado vocacional e aquele pela intensificação da vida cristã em várias categorias de pessoas. Lembramos como o vosso apostolado teve seu início mediante o uso moderno dos instrumentos prodigiosos que estão a serviço das comunicações sociais e formam um dos dados característicos da Família Paulina. Servem para vosso apostolado: a imprensa, principalmente, e além disso, o rádio, o cinema, e agora dizem que há também discos. Cada um desses meios amplia o seu serviço com objetivos diversos: os livros, os periódicos, as revistas, as edições da Sagrada Escritura, as publicações litúrgicas, os catecismos, os cursos de cultura religiosa por correspondência e assim por diante. A esse florescimento de formas diversas do pensamento e da palavra cristã soma-se a difusão geográfica das vossas atividades, a vossa obra, afinal, está presente em todos os continentes, em muitos países; assume caráter missionário e se abrem por toda parte novos caminhos de penetração apostólica. Se a nossa observação for exata, duas virtudes práticas destacam e conferem eficácia ao vosso método de expansão: isto é, a continuidade, a constância, a perseverança, nada de amadorismo e improvisação. Parece ser exatamente essa uma das características do vosso Fundador: a continuidade das diversas iniciativas. E a segunda virtude prática é a capilaridade da sua difusão... Aí estão essas corajosas Irmãs, que vão por toda parte. Dizíamos em uma audiência, que elas nos fazem pensar nas formigas que andam por toda parte... Ficando sempre nas comparações com a natureza, podemos pensar nas abelhas, que constroem a colméia e produzem o mel, e voam de um lado para outro, e depois voltam à sua central, criando efetivamente, também no campo animal, como esses prodigiosos insetos, o sentido da comunidade e da sociedade entre os vivos. A capilaridade, dizíamos, da sua difusão, o que deixa entrever que outras virtudes - morais e espirituais, pois não bastam as virtudes práticas - sustentam esse trabalho; e são as virtudes que, de bom grado, elogiamos, e que vos recomendamos cultivar sempre, ou seja, a sabedoria administrativa (façamos os cálculos! Diz o Evangelho: primeiramente calcular as despesas), o olhar vigilante (também isso parece uma coisa simples) com relação às necessidades do nosso tempo, o anseio de levar alimento e conforto aos homens de hoje, o espírito de fidelidade e de sacrifício para conferir eficácia ao meio técnico, a caridade na verdade. Quantas pessoas vivem no próprio tempo sem ver nada! Poder-se-ia dizer que são míopes, cegas. Não vêem que aqui há almas que têm suas necessidades? Mas não vêem que aqui há a possibilidade de fazer o bem? Não vêem que aqui há a urgente necessidade de intervir? Não vêem que aqui há um apelo da caridade? Não vêem que aqui há uma necessidade de alguém que se sacrifique e que se disponha a servir?

33 Audiência papal, em 28 de junho de 1969.

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Ora, é essa a vigilância que o Evangelho tanto recomenda. Essa tem sido uma virtude da vossa Instituição. Nós lembramos alguns pormenores do tempo que exercíamos o ministério pastoral em Milão. Tínhamos frequentemente ocasião de estar presente na inauguração de edifícios muito bonitos, escolas ou em outros lugares e vinha-nos sempre à mente esta reflexão: a civilização moderna cria meios maravilhosos, como se alguém criasse um piano belíssimo, mas que não criasse quem toca o piano; cria escolas, mas não cria os mestres, ou mestres capazes de transmitir o bem aos alunos, às almas, mestres como os que a vida e a salvação deles precisam. Somos mais capazes de criar instrumentos do que verdadeiros movimentos espirituais. O cristianismo, pelo contrário, muitas vezes está desprovido de meios, mas tem a virtude e a dignidade precípua da palavra e da graça. E vós soubestes unir estas duas coisas: o instrumento com o fim, o objetivo, o conteúdo que o instrumento deve ter. E olhamos com grande complacência e com admiração o rápido e o grande crescimento de vossa obra: pessoas e iniciativas se multiplicaram, resultados magníficos, consoladores e insólitos foram alcançados; técnicas e conteúdos foram se aperfeiçoando. A Pia Sociedade São Paulo, com a diversidade de ramificações e com o volume de sua produção e a habilidade de sua irradiação, tornou-se tão grande e vital que passou a constituir um fato notável na vida da Igreja neste século. A Sociedade São Paulo realmente se insere na história e na vida da Igreja. E nós nos alegramos de tomar conhecimento desse fato consolador e de dar-vos testemunho, louvando o Senhor. Parece-nos fácil a resposta, ainda que sempre repleta de mistérios, os mistérios das obras do reino de Deus. Dois fatores, assim nos parece, concorreram para obter esse magnífico resultado, que promete ainda mais: duas vontades, a de um homem e a de Deus, a de um humilde e fiel servidor e aquela paterna e pródiga do Senhor, que com certeza abençoou em medida singular o grande empreendimento da Pia Sociedade São Paulo. E então, vós nos compreendeis: devemos ao vosso Fundador, aqui presente, ao caro e venerável Padre Tiago Alberione, a construção do vosso monumental Instituto. Em nome de Cristo, nós o agradecemos e o abençoamos. Ei-lo humilde, silencioso, incansável, sempre atento, sempre recolhido em seus pensamentos que vão da oração para a obra (conforme o tradicional: “ora et labora”), sempre interessado em perscrutar os sinais dos tempos, quer dizer, as mais geniais formas de chegar às almas. O nosso Padre Alberione deu à Igreja novos meios para se comunicar, novos meios para dar vigor e amplidão ao seu apostolado, nova capacidade e nova consciência da validade e da posibilidade da sua missão no mundo moderno, dispondo de meios modernos. Permite, caro Padre Alberione, que o papa usufrua desse longo, fiel e incessante trabalho e dos frutos que daí provêm para a glória de Deus e o bem da Igreja; permite que os teus filhos se alegrem conosco e que hoje, como talvez jamais o fizeram, expressem a sua afeição e a promessa de perseverar na obra empreendida. Em sinal, portanto, da nossa benevolência e do nosso reconhecimento, para o bem de toda a Família Paulina e para o estímulo de todos os que se dedicam à causa do apostolado católico, por meio da generosa promoção e do adequado uso dos meios de comunicação social, queremos hoje conceder ao venerado e venerável Padre Alberione a nossa Cruz “Pro Ecclesia et Pontifice”! Permiti-nos, caríssimos filhos, de corroborar com os nossos votos, o vosso corajoso trabalho apostólico. Sabemos que os diversos institutos relacionados à Pia Sociedade São Paulo iniciaram ou estão para iniciar o seu Capítulo Geral Especial, a fim de adaptar as suas Constituições às normas do Concílio recém-terminado. É esta uma ótima oportunidade para todos tomar mais clara consciência de vossa pertença à santa Igreja, não como simples filhos devotos, mas passivos, e sim, como filhos ativos e consagrados à sua santificação interior, à sua consolidação espiritual e social, à sua sempre nova e dinâmica difusão, para o próprio bem e para o bem de todo o mundo contemporâneo. Ter sempre clara consciência da própria vocação é coisa muito importante. Deveis, pois, renovar os vossos propósitos e os vossos programas; deveis revigorar os vossos corações com aquela adesão a Cristo, o Senhor, da qual São Paulo, o vosso e nosso inspirador e protetor, foi e é mestre e exemplo. Abraçastes uma grande causa. E toda grande causa, enquanto é fonte de energias espirituais e exige amor, dedicação e sacrifício, inclui também grandes responsabilidades, grandes deveres e, portanto, também riscos e perigos. Isso mesmo. Pensai na vossa responsabilidade: quem se propõe o apostolado como objetivo da própria vida, o potente apostolado dos meios de comunicação social, dever ter sempre diante

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da própria consciência essa responsabilidade, a de exercer uma influência sobre o espírito dos outros, sobre a vida das pessoas, próximas ou distantes, isto é, o nosso próximo que devemos amar e servir como Cristo nos amou e salvou. Esse senso de responsabilidade e esse amor cristão guiarão sempre os critérios orientativos e seletivos daquilo que se quer comunicar aos outros. Vós certamente conheceis o que o Concílio ensinou a este respeito, quer sobre a informação, quer sobre a liberdade de imprensa e de comunicação. É preciso, sim, usar o legítimo direito de buscar e de dar informação; mas não se podem jamais esquecer os deveres a isso inerentes. “O correto uso deste direito – diz o Concílio – exige que a comunicação, quanto ao seu conteúdo, seja sempre verdadeira e, salva a justiça e a caridade, seja íntegra; ademais, quanto ao modo, seja honesta e equilibrada, isto é, observe rigorosamente as leis morais, os legítimos direitos da pessoa humana, tanto na busca das notícias, quanto na sua divulgação"; e, também, sempre respeitando “a primazia da ordem moral objetiva” (Decreto Inter mirifica, nn. 5 e 6), como sempre cuidando “da formação e divulgação da reta opinião pública” (ibid., n. 8). Vós, que tendes publicações que alcançam ampla e popular divulgação, sede sempre vigilantes sobre isso; deveis pensar não só no interesse que uma notícia pode despertar, mas deveis também considerar os efeitos bons ou nocivos que a sua divulgação pode causar, especialmente, em relação à vida católica, a cujo desenvolvimento vos dedicais; e a adesão às diretrizes da autoridade eclesiástica responsável conferirá não só maior credibilidade ao vosso trabalho, mas igualmente maior mérito. Nem opiniões particulares diferentes da realidade profissional e eclesial, nem interesses contrários à causa do apostolado, nem motivos de prestígio ou outra razão, venham a sobrepor-se à retidão do vosso serviço apostólico! Nessa certeza, filhos caríssimos, fazendo voto de que cada um possa repetir para si mesmo a palavra de São Paulo: “Tudo faço por causa do Evangelho!” (1Cor 9,23), de coração aberto, abençoamos a todos e a todas.

Oitava etapa

A SAGRADA LITURGIA: TEMPO DE ADVENTO34

Hoje é o primeiro domingo do Advento, o início do ano litúrgico e eclesiástico. O ano que podemos dividir em dois tempos: o primeiro nos faz abordar a vida de Jesus Cristo, a redenção por ele realizada, a libertação do erro, a libertação do vício, a libertação da idolatria, e especialmente a libertação da idolatria do egoísmo. Além disso, o segundo tempo, leva-nos a aplicar a nós mesmos os frutos da redenção, isto é, a considerar as verdades que Jesus Cristo nos ensinou, estudar e imitar os seus santos exemplos e unir-nos a ele por meio da graça, dos sacramentos, da missa, da oração, em geral. O primeiro tempo, portanto, nos apresenta o Advento, isto quer dizer, a expectativa pela vinda de Jesus Cristo. O Advento é constituído por quatro semanas e começa hoje. Em seguida vêm o nascimento do Divino Salvador e a sua vida oculta. A seguir, o início da vida pública e a pregação de Jesus Cristo. Vêm depois a vida dolorosa, a morte de Jesus Cristo, a sua ressurreição e o tempo pascal. Depois a Ascensão de Jesus Cristo ao céu e Pentecostes: Jesus tendo subido ao céu envia o Espírito Santo, como havia prometido, à sua Igreja. Neste tempo devemos recordar a máxima da Imitação de Cristo: “O nosso esforço maior seja o de meditar sobre a vida de Jesus Cristo”. Cada ano, pode-se dizer que a Igreja nos faz repensar sobre a vida de Jesus Cristo, e nos dá tempo para aplicar a nós os frutos da redenção. Mas não se trata de uma repetição apenas: é um progresso que nós devemos fazer, como a cada ano quando volta o período escolar, é preciso freqüentar as aulas; mas não é sempre a mesma matéria que se aprende. Cada ano se avança, se progride no conhecimento da verdade, da doutrina, da ciência, até que cheguemos à idade perfeita, ou até que alcancemos a plenitude da nossa união com Jesus Cristo, lá no céu. E a vida é a preparação da pessoa humana para aquela feliz eternidade que nos espera depois da vida presente.

34 Pregações do Revmo. Primeiro Mestre, dezembro de 1952 - dezembro de 1953, Edizioni Paoline, pp. 5-10.

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Eis que a Igreja nos recorda a vinda de Jesus Cristo. A sua vinda temporal, isto é, o nascimento do Filho de Deus encarnado e ao mesmo tempo nos recorda a sua última vinda, quando ele se fará presente para julgar todos os homens e dar a cada qual o prêmio ou o castigo de acordo com o mérito de cada um. E quem naquele dia poderá obter o prêmio e poderá ouvir de novo o convite: “Vinde, benditos do meu Pai”?. Quem aqui na terra entrou no reino de Jesus Cristo, reino de amor, de verdade, de justiça. A Igreja nos convida hoje a preparar-nos para esse reino e a preparar-nos para entrar nele. O Advento é preparação para o Natal. Jesus, no dia de Natal, vai abrir a sua escola para a humanidade: escola da verdade, da santidade e do amor. Mas precisamos sentir a necessidade dessa escola. Precisamos, neste tempo, reconhecer-nos ignorantes, cheios de defeitos, pessoas inclinadas ao mal, às paixões, ao pecado e, portanto, precisamos entrar no espírito de penitência. A Igreja nesses domingos faz o sacerdote usar paramentos roxos que indicam penitência. Quantos erros há na mente dos homens, quantas falsas doutrinas se pregam e quantos princípios errados ouvimos repetir, inclusive perto de nós! Princípios do mundo que se reduzem a isto: considerar apenas a vida presente, apenas os bens daqui, ao passo que sabemos que a vida presente é apenas um meio para conseguirmos a felicidade eterna. O espírito do mundo está aqui e nos leva a trocar o fim pelos meios e a procurar a felicidade e a satisfação aqui na terra. Como se fôssemos criados para viver alguns anos e conosco tudo se acabasse. O tudo começa no final da vida presente, quando começa o que merece o nome de “tudo”, a eternidade interminável. Então reconheceremos o que somos. Não era somente o mundo todo que precisava de redenção, que precisava implorar a vinda do Salvador: “Abram-se os céus lá do alto e as nuvens façam chover o justo, abra-se a terra e nasça o Salvador”; cada um de nós precisa da salvação; todos nós precisamos deste Mestre, que se faz nossa vida e nossa verdade. Nele está a salvação, nele a santidade, nele a vida religiosa, nele o sacerdócio; nele está tudo. Então, podemos tirar três conclusões: A primeira é esta: sigamos a sagrada liturgia. Esta durante o ano, coloca para nossa consideração a vida de Jesus Cristo, domingo após domingo, semana após semana. É como um grande filme que vai passando diante de nós. Então olhemos para essa vida de Jesus Cristo. Vamos considerá-la nos seus pormenores e ouçamos todas as palavras de vida eterna que brotam dos seus lábios. Cada qual use de bom grado o missal, quando for possível, ou seja , quando não estivermos ocupados com outras práticas de piedade, como por exemplo, nos dias comuns em que se devem recitar as orações durante a missa e quando se deve fazer a preparação para a comunhão. Mas quando se tem a graça de participar de uma outra missa, seguir então o missal. Além disso, alimentar grande amor pela liturgia. A liturgia é o complexo das leis que regulam o culto devido a Deus. A liturgia tem como objeto exatamente isto: as palavras que se devem dirigir a Deus, as cerimônias que se devem cumprir nas várias funções e mais do que tudo, a liturgia é um contínuo ensinamento. Quem se aprofunda na liturgia crescerá no espírito de fé, conhecerá cada vez melhor o caminho da santidade e se unirá sempre mais intimamente a Jesus Cristo. Cuidar do canto litúrgico, cuidar das cerimônias, desejar funções mais solenes que nós podemos realizar em nossa pequenez, almejando que as nossas funções, as nossas celebrações correspondam, ao menos um pouco, às solenes celebrações que se realizam no céu, onde Jesus Cristo é o pontífice eterno, acolitado pelos patriarcas e apóstolos, pelos mártires e pelos santos e por toda a corte dos anjos. Elevemo-nos um pouco daquilo que temos aqui na terra para aquilo que teremos no céu. Quem participa bem das funções e entra bem no espírito da sagrada liturgia tem a garantia de um dia participar da solene e eterna liturgia do céu. Afinal, estamos entrando no espírito do Advento. São João Batista é como o elo entre o Antigo e o Novo Testamento. Em sentido amplo, pode-se dizer que ele encerra a série dos profetas do Antigo Testamento e ao mesmo tempo ele aponta o Salvador que veio e vive no meio dos homens: “Eis o Cordeiro de Deus”. Mas como ele convidava o mundo para receber a Jesus Cristo? Com a penitência. Ele, retirado no deserto, entregue a uma vida de mortificação e oração. Acorriam a ele as mulidões e ele a todos convidava para que entrassem em si mesmos, pedissem perdão ao Senhor pelos pecados cometidos, preparassem os corações para receber bem o Messias, até que, quando chegou o dia, João Batista anunciou que Jesus havia chegado.

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O espírito do Advento requer humildade: precisamos reconhecer a grande necessidade que temos do Mestre Divino. Humildade e espírito de penitência, reconhecendo os nossos erros e os nossos pecados. Humildade e oração, reconhecendo-nos fracos, frágeis, com inclinações para o mal. Que este tempo nos sirva especialmente para pedir ao Senhor que se repita a vinda, isto é, a Encarnação do Filho de Deus, mas no mundo presente, do qual grande parte ainda ignora ou não quer reconhecer o Salvador. Sobretudo, é preciso pedir que o Filho de Deus nasça em nossos corações, em nossas mentes; que nos transforme, pois está aqui a redenção de cada um: tornar-se semelhante a Jesus Cristo: “Sejamos conformes à imagem de seu Filho”. Nessa redenção encontramos a santificação, a salvação. O canto que então se pode repetir freqüentemente neste tempo é este: “Abram-se os céus lá do alto e as nuvens façam chover o justo”. Façamos agora os nossos propósitos sobre a maneira de passar este Advento. De modo especial pedir humildade, horror ao pecado e o desejo de que Jesus nasça em nossos corações e nos transforme nele; o desejo de entrar na sua escola. Propósito e cântico.

Nona etapa

CONVERSÃO DE SÃO PAULO35

Hoje, conversão de São Paulo, vejamos qual conversão nós devemos pedir. É o primeiro ponto da coroazinha, no qual pedimos a conversão do defeito principal. É muito adequado para nós o último “Oremos” da missa: “Santificados por este mistério da salvação (o que quer dizer: santificados na missa e na comunhão, mistério de salvação), faze, Senhor, nós te pedimos, que jamais nos falte a intercessão daquele (isto é, de São Paulo) sob cuja proteção nos confiaste”. Se toda a Igreja hoje repete esse pedido, quanto mais devemos repeti-lo nós. A Igreja celebra a conversão de São Paulo. É a única conversão celebrada durante o ano. Por que? 1. Porque é o modelo de toda conversão; conversão total, conversão radical; 2. Pelo modo prodigioso como se deu, até externamente, embora toda conversão seja um milagre de graças interiores. 3. Pelo grande bem que dela proveio para a Igreja pelo fato de Jesus Mestre ter-se apoderado desse adversário e feito dele um amigo íntimo, ou melhor, o apóstolo que trabalhou mais do que todos. Quantas vezes ocorre que quem parece estar mais distante de Deus, uma vez conquistado pela graça, torna-se alguém de zelo extraordinário. Grandes adversários tornaram-se grandes defensores do bem, da verdade, do amor a Jesus. Deve sempre causar muita impressão esta antífona de entrada: “Sei em quem coloquei a minha fé, e estou certo de que ele tem poder para guardar o meu depósito até aquele dia” (2Tm 1,12). Isso significa: Vamos confiar em Deus, façamos o bem e o prêmio não nos faltará. O justo Juiz conhece todo bem que se faz e feliz daquele que preenche de maneira adequada as páginas do livro da vida. O que será aquele que deixa as páginas em branco ou escreve nelas com tinta escura? Vamos eliminar toda palavra escura, todo caráter que denigre. Vamos confiar em Deus: o prêmio não há de faltar. Epístola: “Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Ele apresentou-se ao sumo sacerdote, e lhe pediu cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de levar presos para Jerusalém todos os homens e mulheres que encontrasse seguindo o Caminho (At 9,1-2). Saulo já havia incitado e assistido ao martírio de Estêvão e era um dos maiores defensores da lei mosaica. Ele ainda não conhecia Jesus, mas Jesus dignou-se tornar-se seu mestre. “Por revelação de Jesus Cristo” (Gl 1,12), diz ele, recebi o Evangelho que preguei para vocês. Ele não ouvira Jesus pregar enquanto se manisfestava visivelmente em seu ministério público. Então, Saulo, defensor da lei de forma exagerada, depois de ter instigado a morte de Estêvão, pede autorização para ir às sinagogas de Damasco e aprisionar todos os que declarassem acreditar em Jesus Cristo. “Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, Saulo se viu repentinamente cercado por uma luz que vinha do céu. Caiu por terra, e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que você me

35 Pregações do Revmo. Primeiro Mestre, janeiro – dezembro de 1955, Edições Paulinas, pp. 3-37.

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persegue?” Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem você está perseguindo. Difícil é para você insurgir-se contra o aguilhão" (que significa resistir à graça). Tremendo e estupefato Saulo disse: “Senhor, que queres que eu faça?” E o Senhor: “Agora levante-se, entre na cidade, e aí dirão o que você deve fazer. Os homens que acompanhavam Saulo ficaram cheios de espanto, porque ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo se levantou do chão e abriu os olhos, mas não conseguia ver nada. Então o pegaram pela mão e o levaram para Damasco. E Saulo ficou três dias sem poder ver, e não comeu nem bebeu nada. Em Damasco havia um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!”. E Ananias respondeu: “Aqui estou, Senhor!” Prepare-se, e vá até a rua que se chama rua Direita e procure, na casa de Judas, um homem chamado Saulo, apelidado Saulo de Tarso. Ele está rezando e acaba de ter uma visão. De fato, ele vira um homem chamado Ananias impondo-lhe as mãos para que recuperasse a visão”. Ananias respondeu: “Senhor, já ouvi muita gente falar desse homem e do mal que ele fez aos teus fiéis em Jerusalém. E aqui em Damasco ele tem plenos poderes, que recebeu dos chefes dos sacerdotes para prender todos os que invocam o teu nome”. Mas o Senhor disse a Ananias: “Vá, porque esse homem é um instrumento que eu escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. Eu vou mostrar a Saulo quanto ele deve sofrer por causa do meu nome”. Então Ananias saiu, entrou na casa e impôs as mãos sobre Saulo, dizendo: “Saulo, meu irmão, o Senhor Jesus, que lhe apareceu quando você vinha pelo caminho, me mandou aqui para que você recupere a visão e fique cheio do Espírito Santo”. Imediatamente caiu dos olhos de Saulo alguma coisa parecida com escamas, e ele recuperou a visão. Em seguida Saulo se levantou e foi batizado. Logo depois comeu e ficou forte como antes. Saulo passou então alguns dias com os discípulos em Damasco. E logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus. Os ouvintes ficavam impressionados e comentavam: “Não é este o homem que descarregava em Jerusalém a sua fúria contra os que invocam o nome de Jesus? E não é ele que veio aqui justamente para os prender e levar aos chefes dos sacerdotes?” No entanto, Saulo se fortalecia cada vez mais e deixava confusos os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Messias” (At 9,10-23). Quando nos ajoelhamos diante do altar em Damasco onde está representado em imagem o batismo de São Paulo celebrado por Ananias, rezamos para que todos tenhamos esta graça: converter-nos um pouco a cada dia: “Converte-nos, Deus, salvação nossa” (Sl 84,4). Trabalhar todos os dias para converter-nos. Considerai que conversão profunda! São Paulo, antes Saulo, o inimigo de Jesus, torna-se íntimo dele a ponto de só viver dele”: “É Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20). “Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Rm 8,35). “Estou convencido” (8,38) de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro,nada me poderá separar do amor de Jesus Cristo. Nem as fadigas que deveis suportar, nem os cárceres que ele santificou, nem as correntes que carregou, nem os naufrágios que sofreu, nem os sofrimentos físicos, nem as flagelações: “Estou convencido”, diz, estou certo. Ele estava firme na graça de Deus, na força que lhe vinha de Jesus Cristo. Nem mesmo a morte o separou. Aqui estamos próximos do lugar em que Paulo demonstrou seu amor a Jesus Cristo até o extremo. Ninguém ama mais do que aquele que dá a vida por seu amado. Aqui ele derramou seu sangue, depois de exauridas suas forças na evangelização que produziu seus efeitos em tantas partes do mundo, sendo ele eleito apóstolo dos povos. De fato, ele trabalhou de acordo com a vocação que lhe foi dada. “Ele é um instrumento escolhido por mim”, a vocação “levar o meu nome aos gentios” e é o Apóstolo dos Gentios, “para os reis e para os filhos de Israel” na medida em que os israelitas aceitaram a sua pregação. A Carta aos Hebreus permanece como uma demonstração de afeto aos seus compatriotas. Conversão total! Ele que queria levar à morte todos os discípulos de Jesus e que instigou os adversários do nome de Jesus a apedrejar Estêvão que se demonstrava tão repleto do Espírito Santo e fazia tantos prodígios, torna-se o apóstolo incansável, o apóstolo de maior zelo. Vede como ele está representado no nosso quadro? Paulo tem a mão sobre o peito como se quisesse dizer: “Quem me separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35). E ao mesmo tempo parece dizer: “Quem fraqueja, sem que eu também me sinta fraco? Quem sofre sem que o console e não sofra com ele, em meu coração?” (2Cor 11,29). Sinto – queria ele dizer – as necessidades e os sofrimentos de todos. Oh! como

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seria se ele vivesse hoje, com quais meios se locomoveria de uma parte a outra do mundo para ganhar as almas para Jesus Cristo? A conversão, para ser total, precisa dar-se primeiro na mente. É preciso que o exame de consciência primeiramente se concretize na mente, depois no coração, depois na própria vida e no próprio corpo. Quem poderá ser humilde se por primeiro não tiver pensamentos humildes? Poderia fazer até inclinações e ajoelhar-se e estar ao mesmo tempo, cheio de si mesmo, procurar ser estimado e ser amado. Mas de que valem as genuflexões dos orgulhosos, quando dobram os joelhos mas não dobram a cabeça, isto é, quando não fazem o ato de fé e quando não se prostram diante de Jesus dizendo: Senhor, tem piedade de mim que sou pecador? Que genuflexões, às vezes! Exteriormente já demonstram que não há fé. É sinal feito às pressas, precipitadamente. Falta o sentimento do coração, falta o “eu reconheço”. Conversão interior. Mudar os pensamentos, os sentimentos. Jesus disse: "Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Alguém poderia sentar-se no trono de São Pedro como Pio X e ser sempre o humilde filho de Riese; poderia ser um carvoeiro ou um pastor e ser cheio de orgulho ou de inveja. Nós só lavamos a parte exterior do copo. Precisamos lavar a parte interna. A conversão interna precisa começar da mente e do coração; depois virá a parte externa. O humilde pede conselho, não confia em si mesmo, e sente a necessidade de rezar. O que mais falta, é bom frisar, é a iniciativa da oração. Achega-se a ela com dificuldade. Gostaria de insistir sobre isso porque é uma coisa sumamente importante. Importa que tomemos a iniciativa da oração, porque a iniciativa é o que demonstra se no interior se é humilde, se se sente necessidade de Deus, a necessidade de conselho, de inspiração, da misericórdia do Senhor pelos nossos pecados, se temos necessidade de que o Senhor estenda suas mãos sobre a nossa cabeça, porque, afinal, podemos cair em qualquer precipício. Quando é que se verifica a iniciativa da oração? Quando pela manhã se é solícito; quando se reza não só na igreja ou quando se devem fazer as práticas de piedade. Mas, se antecede. Já se reza no apostolado ao recitar jaculatórias e enquanto se sobem as escadas para entrar na igreja. É aí que já se faz oração. E também se reza enquanto se caminha. Recitam-se jaculatórias e não apenas quando se fazem viagens longas, quando, naturalmente, resta muito tempo para a oração. A iniciativa! Quando não se toma a iniciativa, é porque não se sente a necessidade da oração. Esta não passa de uma prática exterior que faz cansar facilmente e leva a encurtar os momentos, o tempo. Eis como o Senhor distingue aqueles que são seus. Jesus diz a Ananias: “Vá à rua Direita, procura na casa de Judas um homem de Tarso que se chama Saulo”: E como é que se há de conhecer? Como pode esperar que ele se disponha a receber a graça do batismo e a fazer-se meu discípulo? O Senhor lhe diz: “Ele está rezando”. Aí está dito como surgem as vocações, como chegam as bênçãos de Deus para a vida, como se chega à santidade. Pode ser que devamos levar conosco a humilhaçãp pelas nossas faltas, no entanto, qualquer seja nosso erro, se rezarmos, ressurgiremos e poderemos chegar aos mais altos cumes e ao apostolado. Precisamos pedir a graça da conversão, todos os dias, para nos libertar do orgulho, da inveja, da avareza, da sensualidade, da preguiça, da curiosidade. Esforçar-nos todo dia um pouquinho mais para nossa conversão. Em que nos precisamos converter hoje? Qual o propósito que fizemos hoje pela manhã para Jesus na comunhão? O que é que prometemos na última confissão? Pelo menos converter-nos em alguma coisa toda semana. Se a confissão não levar à conversão, talvez é porque faltam as disposições necessárias. Peçamos a São Paulo as disposições necessárias, todos os dias, para começar bem cada manhã e para corrigir-nos dos defeitos que ainda temos; para começar bem a semana prometendo firmemente na confissão, e procurar melhorar, mudar.

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Décima etapa

MORRER PARA O PECADO36

Pode acontecer que depois da meditação sobre a penitência venha a tentação: não comer mais, não dormir mais, flagelar-se e ficar na igreja mesmo em horário de recreação. A vida comum! A vida comum é a maior penitência. Participar da hora de recreação, comer como as outras, praticar a vida comum e a caridade, exercer quanto possível o vosso apostolado, em resposta à vocação, com uma boa preparação para o futuro ministério e com o exercício do ministério quando o assumirdes, então sim, ide adiante... A Quaresma, além do mais, sugere a mortificação. Esta tem sempre um duplo sentido: um negativo e outro positivo. Por exemplo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc 8,34). Isso mesmo, renunciar àquilo que nos daria satisfação humana. “E siga-me!” (Mc 8,34). E me ame, não ame outra coisa, ame a mim. É isso! Não ame a outro. Renunciar às outras coisas, é a parte negativa. “E siga-me!”, que venha atrás de mim, é a parte positiva. Assim a mortificação: não ser negligente, é a parte negativa; ser diligente nas coisas a fazer, é a parte positiva. Porque todo bem requer esforço e, por conseqüência, para rezar, estudar, praticar a vida em comum, cumprir o apostolado, sempre se exige esforço. Agora a mortificação positiva. Não se amarão coisas que não se devem amar e; pelo contário, se amará o Senhor, de todo o coração, acima de todas as coisas, sim! Portanto, mortificação há sempre, quando se procura fazer o próprio dever, o próprio trabalho. A mortificação é necessária. Necessária! Mortificação da mente: nada de pensamentos maus e, sim, bons pensamentos. Mortificação do coração: nada de maus desejos, mas bons desejos. Nada de orgulho, mas humildade, pensamentos de humildade. Nada de apego às coisas da terra, mas apego a Jesus, desejo de alcançar a santidade. Nada de inveja, mas bondade para com todas. E nada de mediocridade, mas fervor, diligência. Eis como se apresenta a mortificação: parte negativa e parte positiva. Será, pois, necessária a mortificação? Sim, é necessária a mortificação para observar os conselhos evangélicos. Observar o conselho evangélico da obediência é uma mortificação da vontade e também mortificação daquilo que pensamos. Observar a castidade é mortificação de todo o corpo e que nos leva ao amor para com Deus. Observância da pobreza é mortificação porque se deve aceitar o alimento comuns, quando se pode, o horário comum quando se pode, e cumprir os próprios deveres enquanto possível. Assim, é necessária a mortificação para viver bem a vida religiosa e observar os conselhos religiosos. A vida religiosa sempre requer mortificação. Se existe a regra, por exemplo, de não sair sozinhas quando se deve ir em algum lugar ou quando se vai tratar de alguma coisa com alguém ou com certas pessoas, isso já envolve uma mortificação. Quando se escreve uma carta e se deve entregá-la aberta, isso já é uma mortificação. Em síntese, para a observância dos conselhos evangélicos, é indispensável a mortificação. No mais, a mortificação traz consigo um grande fruto: crescer no amor de Deus. Quanto mais conseguimos tirar o egoísmo, que é uma falta de mortificação, tanto mais se desenvolve em nosso coração o amor a Deus. E se pode fazer um grande progresso nesse amor a Deus, o qual consiste no cumprimento de sua vontade. Cumprir a vontade de Deus! Nisto consiste o verdadeiro amor a ele. A mortificação é necessária para não cair em pecado. Que se controlem os olhos e que se expandam naquilo que é bom como, por exemplo, ler os livros de estudo, ler livros de oração, fazer a meditação e com os mesmos olhos não olhar para o que pode levar ao mal. Não se pode caminhar com os olhos fechados, mas é necessário subtrair o olhar se os olhos encontrarem algum objeto perigoso. É a mortificação dos olhos.

36 Alle Suore di Gesù Buon Pastore, Obras completas do Padre Alberione 9/II, Irmãs de Jesus Bom Pastor, 25 de janeiro de 1984, pp. 56-64.

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Assim, ao ouvir conversas ou canções que não são boas, vamos ficar longe. Vamos, sim, abrir nossos ouvidos para ouvir bem as explicações na aula, os avisos que nos são dados na comunidade ou no confessionário, e tudo aquilo que nos ajuda a progredir. Mortificação da língua, falando quando é necessário falar, dizendo a verdade e guardando silêncio quando não é tempo de falar ou então quando se trata de coisas que não convêm dizer. Assim também a mortificação do tato: ter compostura, manter uma posição conveniente e comportar-se exteriormente com a delicadeza e a modéstia que são convenientes para uma pessoa consagrada ao Senhor. O mesmo se pode dizer para o gosto. Às vezes se pode mortificar esse sentido comendo alguma coisa que não nos agrada tanto, um remédio, por exemplo, ou deixando de comer alguma coisa que nos agrada muito, mas melhor ainda é tomar com indiferença aquilo que nos é dado: “Comam e bebam do que tiverem” (Lc 10,7), diz São Paulo, com simplicidade, para servir o Senhor, para lhe dar glória: “Quer vocês comam ou bebam, ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus ” (1Cor 10,31). Assim também com o repouso. Mortificação do corpo: o cansar-se. As penitências que deixam extenuados, que tiram as forças, não devem ser feitas; em vez disso empreguem-se todas as forças para o Senhor. É bom ter as forças para oferecê-las ao Senhor! Usá-las para o serviço de Deus e para o apostolado. Nós não devemos jogar fora o dinheiro, mas não usá-lo para fins fúteis; de fato, quanto mais se tiver, tanto mais se hão de fazer obras boas. Por acaso, aquele que tem mais inteligência deveria tomar remédio para não tê-la? Para provocar alguma enfermidade psiquiátrica? Não! Bendiz-se o Senhor e se usa a inteligência para servir, a Deus, para entender melhor as coisas, para melhor explicá-las, para perscrutar as verdades e a doutrina e todo aquele conjunto de matérias escolares. E também para compreender as almas, quando se atua no apostolado, para entender os meios a fim de que o apostolado produza o máximo para Deus e para as pessoas. Mortificar-se quer dizer conduzir-se bem, cuidar de si, de modo adequado. E quanto mais se adquire esse autodomínio, de não deixar-se guiar pelos sentidos, mais se permitirá que o Senhor nos guie. Mortificação da fantasia. Pode ser que a fantasia leve a recordar, a reproduzir certos fatos e certas palavras ouvidas, mas fatos e palavras que se deveriam deixar de lado e assim não seguir a fantasia. A fantasia facilmente volta para coisas vistas ou lidas, mas se não forem fatos bons e coisas boas, deve-se dirigir a fantasia para outra coisa, por exemplo, para o estudo, para recordar coisas santas. Se a fantasia nos faz imaginar o paraíso, se a fantasia servir para recordar o Calvário no qual Jesus está morrendo, ou então a cena do presépio, se ela nos levar a recordar os fatos da Escritura ou fatos da vida dos santos, então a fantasia presta um ótimo serviço. Deixar de lado fantasias que não são boas e alimentar e promover as fantasias que são boas, é uma dupla mortificação. Assim também se devem encarar as coisas em relação ao futuro. Quanto ao futuro, é possível pensar coisas muito santas, boas, por exemplo, o que deseja realizar, como atingir um certo grau de santidade. E esses planos que se fazem para alcançar a santidade, quando são coisas levadas a sério, têm seu mérito. Mas se alguém imaginasse fazer uma coisa que não é boa, por exemplo, uma pequena vingança, não teria mérito algum. Mortificar a imaginação quanto a coisas futuras, não boas, será um mérito. Portanto, a mortificação precisa sempre acompanhar-nos. Em geral se deve dizer o mesmo a respeito da vida. Deixastes a família e estais aqui para permanecer com Jesus. Deixar a família é uma mortificação, um sacrifício. E quantas vezes vem à mente alguém da família. Deixar a família é uma mortificação e um sacrifício, mas vós o fazeis para unir-vos mais a Jesus e pôr-vos mais no caminho da santidade e do apostolado, o que é uma outra mortificação! Quando se deixa de lado o mal ou quando se deixa de lado aquilo que é menos bom, por aquilo que é melhor, é dúplice mortificação. A prática da mortificação. Para nos animar, vamos abordar três pensamentos. O primeiro: Jesus crucificado. Vemos os sofrimentos e as agruras que ele suportou durante a sua paixão: os flagelos, as cuspidas, o coroamento de espinhos, a condenação à morte, a ida para o Calvário, a crucifixão, a agonia, a morte. E eis que Jesus nos amou até morrer por nós: Ele “me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). E se Jesus se mortificou tanto, e se

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sofreu tanto... que dizer de nós que queremos amá-lo? Vamos deixá-lo sozinho no Calvário? Não, vamos seguir Jesus crucificado. Segundo pensamento: a Virgem. Ei-la ao pé da cruz. Estava a Mãe dolorosa, lacrimosa, junto à cruz, enquanto nela o seu Filho pendia. Pensar em uma mãe que vê seu filho agonizante! Grande dor para essa mãe que ama muito o seu filho. Mas a mãe que assiste o seu filho naquela agonia, condenado à morte, pregado na cruz, ele inocentíssimo, aí sim, a dor é inexprimível. “Uma espada há de atravessar-lhe a alma” (Lc 2,35). E queremos assemelhar-nos a Maria, Rainha dos mártires. Nesse caso, mortifiquemo-nos nas pequenas coisas pensando assim: nós não somos capazes de grandes mortificações, façamos as pequenas, aquelas que são necessárias, aquelas que são impostas e aquelas com as quais nos deparamos durante o dia. Por vezes, é a saúde que não anda muito boa, outras vezes, uma luta interna, desilusão, alguma humilhação, repreensão, ou advertência que recebemos. Aceitemos essas mortificações. São pequenas coisas em comparação com o que sofreu Maria. Somos capazes de pequenas coisas apenas, mas aceitemo-las com grande amor a Jesus, que tanto sofreu, isso acumula para nós muitos méritos. O terceiro pensamento é este: Os protetores São Pedro e São Paulo. Os dois foram martirizados. Pedro, crucificado, Paulo decapitado. Eis até que ponto amaram o Senhor! Mas isso depois de muitos anos de apostolado, de pregação, de oração, consumidos em busca das almas, esforçando-se para a conversão delas, muitos anos fundando comunidades. E quantas vezes ficaram no cárcere! Quantas vezes apanharam com varas, foram tratados com violência e cuspidos! E quantas vezes tiveram de suportar o frio, o calor, a fome! Oh! o apostolado muitas vezes exige sacríficio! Pense-se: nossos protetores como têm sido generosos! É sempre pouco o que fazemos em relação a esses nossos grandes protetores, esses grandes pastores de almas. É sempre pouco. Mas, ao menos, façamos isso com humildade e amor! Assim a nossa vida será sempre mais santa, a quaresma será bem vivida e se obterão mais abundantes graças na Páscoa. Se aproveitarmos bem o tempo quaresmal seremos abençoados no tempo pascal, especialmente no dia da Ressurreição e no dia de Pentecostes. O Senhor recompensará abundantemente cada mortificação e o Espírito Santo infundirá em nós os seus dons de ciência, inteligência, conselho, piedade, fortaleza e temor de Deus. Os dons do Espírito Santo! Procuremos, então, santificar a quaresma para aceitar e receber com maior abundância os dons pascais.

Décima primeira etapa

MARIA RAINHA DOS APÓSTOLOS37

A Virgem Santíssima é honrada, invocada e venerada sob o título de Rainha dos Apóstolos. E nós queremos imitá-la no seu grande e único apostolado, o qual forma um grau à parte. De fato, ninguém pôde jamais exercer um apostolado como o exerceu a Virgem Maria. Essa Apóstola é tão grande que Deus não poderia fazer outra maior, porque não poderia fazer uma Mãe maior do que a Mãe de Deus. Vamos voltar-nos, pois, para a nossa Mãe. Não podemos nos reunir sem, ao mesmo tempo, chamar a Mãe para o meio de nós. E meditemos: Por que Maria é chamada Rainha dos Apóstolos? Por três razões: 1) Maria exerceu o apostolado em grau supremo; 2) desperta e sustenta as vocações; 3) protege todos os apostolados. Maria exerceu o apostolado em grau supremo. O apostolado consiste nisto: fazer o bem às pessoas. Ora, todo bem é uma participação ao Bem Supremo: Deus, Jesus Cristo. Maria deu-nos o Cristo inteiramente, plenamente. Já desde o Antigo Testamento, falando de Maria, nos fez conhecê-la como a Apóstola, visto que anunciou no paraíso terrestre: “Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). Quer dizer: Tu, demônio, fizeste a mulher cair, mas eu suscitarei uma outra Mulher que te esmagará a cabeça por meio do seu Filho. Na verdade, a Virgem Ssma., dando ao mundo o Salvador, esmagou a cabeça da serpente: Jesus com a sua

37 “Esercizi spirituali”, Vol. 8o, 1947. Cf. Spiritualità Paolina, vol. 1, Devozioni della prima settimana de mese. Pia Sociedade de São Paulo, Roma, dezembro de 1962, pp. 232-236.

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morte na cruz destruiu satanás, mas ao pé da cruz estava Maria que oferecia junto com Jesus o sacrifício redentor. Maria é representada como uma haste que ergue uma flor, como um ramo com o fruto Jesus, como uma Virgem que gera um Filho. É representada como aquela que leva todo o bem à humanidade, porque nos deu Jesus, o qual nos deu a redenção, o sacerdócio, a vida religiosa, o paraíso. Nele está todo o tesouro: “Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2,3). Maria, portanto, trouxe o maior bem para a humanidade. Se temos alguma coisa, se somos salvos, devemos dar graças a Maria. Chegado ao momento da Encarnação, o anjo enviado por Deus, propõe o mistério à Virgem: Deus o propõe, mas não impõe nada a ela. Toda a salvação da humanidade estava nas mãos de Maria, tudo dependia do seu sim ou do seu não. São Bernardo pede a Maria que diga sim, porque, do contrário, nós não seríamos salvos. Com efeito, se Maria não tivesse dito sim, não teríamos tido Jesus e sem ele nenhum bem. Contudo, Maria disse sim. E naquele momento o Filho de Deus se encarnou: “e veio habitar no meio de nós”: fez-se Filho de Maria, companheiro de nossa vida, preço de nossa redenção, alimento para nossas almas e nosso prêmio no paraíso. Portanto, o que foi que Maria deu ao mundo? Deu-nos Jesus, e com ele deu-nos tudo. Pode existir apostolado maior que esse? Maria é a Mãe de Deus, é a Imaculada, a cheia de graça, exatamente para ser apóstola, por causa de nós, para a nossa salvação. Em seu seio ela formou a hóstia de nossa redenção, formou a vítima para o sacrifício. A prática da purificação tinha para os hebreus o sentido de resgate dos filhos; mas o Filho de Maria não foi resgatado, porque devia ser imolado: ele é a vítima e o sacerdote eterno. Maria cumpriu a cerimônia do resgate só externamente, por obediência à lei, mas as suas intenções eram bem mais altas. De fato, na sexta-feira santa ela acompanhou o Filho até o Calvário e com ele ofereceu um único sacrifício. A dor de Maria foi então grande como o mar; e, no entanto, ela fazia de bom grado o oferecimento porque essa era a vontade de Deus. O Filho de Deus assumiu a carne para poder morrer e Maria sofreu acerbamente por aquela morte voluntária e cruenta. A primeira missa a que Maria assistiu foi realmente de grande proveito e interesse para toda a humanidade. Maria cumpriu o seu papel de Mãe para com Jesus até a morte dele; depois assumiu o cuidado da Igreja, representada por João a quem Jesus na cruz disse: “Filho, eis tua Mãe”. De então em diante Maria tomou sob seus cuidados a Igreja e a Igreja cuidou de Maria. Ela reuniu os Apóstolos, orou com eles, obteve para eles o Espírito e os amparou nos primeiros passos; carregou a Igreja nos braços e a Igreja continuará a caminhar nos braços de Maria. (...) Maria ilumina os doutores, multiplica os sacerdotes e as vocações, dá assistência ao papa, protege a Igreja. Ela trouxe e traz para a Igreja o fruto máximo de salvação e sempre novas efusões do Espírito Santo. Mais do que Rainha dos Apóstolos, deveríamos chamá-la de Apóstola, como também a chamamos de Co-redentora. Jesus é o Apóstolo do Pai e Maria é a Apóstola do Filho. O termo e o papel de Apóstola foi para Maria o fim de todos os outros títulos e privilégios. Maria foi dada para nós, para ser a nossa Apóstola; por ela começou a Redenção, por ela receberemos a salvação final. Entre os filhos de Maria, uma categoria desperta o seu desvelo e os seus cuidados especiais: os apóstolos que procuram salvar as almas e que continuam sua missão na terra. Portanto, também para nós ela dispensa as maiores graças, os seus desvelos e os seus cuidados especiais. A Virgem é, pois, a Apóstola porque desperta, forma, protege os Apóstolos em seu ministério, assiste-os com a sua graça e obtém frutos copiosos para eles, plenificando o seu coração de alegria e preparando as almas a receber a palavra deles. Enfim, Maria consola e torna a morte alegre para os apóstolos: “Aqueles que me anunciam, alcançarão a vida eterna”. Maria protege todos os apóstolos e todos os apostolados. Nós não invejamos ninguém nem temos ciúme do bem que outros fazem, antes, queremos pedir a Maria por todas as congregações religiosas e pelas vocações de todos os Institutos.

Coroazinha a São Paulo39

Leitor: Jesus, eu te bendigo pela grande misericórdia que concedeste a São Paulo ao transformá-lo de violento perseguidor em ardoroso apóstolo da Igreja. 39 É uma das primeiras orações a São Paulo e remonta a 1917. Nela Paulo é considerado modelo de vida consagrada apostólica.

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Gl 1,11-17; Fl 3,4-8

ο “Vede que conversão profunda? São Paulo, antes Saulo, o inimigo de Jesus, torna-se seu íntimo amigo a ponto de viver dele: “é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). “Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?” (Rm 8,35). “Estou certo” (Rm 8,38) de que nada, nem a morte nem a vida, me separará do amor de Jesus Cristo. Nada o separou, nem a vida nem a morte: nem os sofrimentos que teve de suportar, nem os cárceres que santificou, nem as correntes que carregou, nem os naufrágios a que foi submetido, nem as violências físicas, nem as flagelações. “Certus sum”, diz ele: Estou certo! Seguro na graça de Deus, na força que lhe vinha de Jesus Cristo... Oh! se vivesse agora com que meios se movimentaria, de um lado para outro do mundo, a fim de ganhar as almas para Jesus Cristo! A conversão para ser completa deve dar-se por primeiro na mente”40. Todos: E tu, ó grande santo, alcança-me um coração que seja dócil à graça, a conversão do meu defeito principal e uma perfeita configuração com Jesus Cristo.

São Paulo apóstolo, roga por nós.

II

Leitor: Jesus, eu te bendigo, por ter escolhido o apóstolo Paulo para modelo e pregador da santa

virgindade.

1Cor 7,7.32-34

ο “A castidade é o maior amor”41. ο “O voto de castidade é um modo de entregar a Deus toda afeição, de inflamar-se de amor a Deus, de sentir o nosso coração sempre mais identificado com o de Jesus: “em Cristo Jesus”, e então entendereis como é que se progride”42. Todos: E tu, ó São Paulo, meu pai querido, guarda a minha mente, o meu coração, os meus sentidos, para que eu possa conhecer, amar e servir somente a Jesus e consagrar, para a sua glória, todas as minhas forças.

São Paulo apóstolo, roga por nós.

III

Leitor: Jesus, eu te bendigo, por teres dado por meio de São Paulo exemplos e ensinamentos de perfeita obediência.

2Cor 1,17-24 (cf. Gl 2,1-2)

ο “A obediência é a maior liberdade”43. ο “Entregar a Deus a liberdade por meio da obediência: aqueles que fazem o voto de obediência, entregam ao Senhor aquilo que eles têm de mais querido, de mais precioso”44. 40 Prediche 1955. 41 CVV p. 519. 42 Às FSP, 1946-49. P. 45. 43 CVV, p.519. 44 Às FSP, 1946-49, p. 45. 45 AD 29.

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ο “Para maior tranqüilidade e confiança ele deve dizer: - Que tanto o início como o prosseguimento da Família Paulina sempre se deram na dupla obediência: inspiração aos pés de Jesus Eucarístico, confirmada pelo Diretor Espiritual e, ao mesmo tempo, pela vontade explícita dos Superiores Eclesiásticos”45. Todos: E tu, ó grande santo, alcança-me humilde docilidade perante todos os meus superiores, certo de que na obediência encontrarei a vitória contra os meus inimigos.

São Paulo apóstolo, roga por nós.

IV

Leitor: Jesus, eu te bendigo, por me teres ensinado com as obras e com as palavras de São Paulo o verdadeiro espírito de pobreza.

2Cor 8,9; Fl 4,11-13

ο “A pobreza é a maior riqueza”46. ο “Pratica a pobreza quem volve o olhar para o céu, despoja-se de tudo para correr mais livremente. São Paulo diz que aqueles que correm no estádio não se sobrecarregam de pacotes e mochilas, mas vestem apenas o necessário para ser mais agéis na corrida”47. ο “Por vezes, as necessidades eram prementes e graves, e todos os recursos e esperanças humanas desapareciam; se rezava e se procurava evitar o pecado e toda falta contra a pobreza, e as soluções apareciam”48.

Todos: E tu, ó grande santo, alcança-me o espírito evangélico da pobreza, a fim de que, depois de te haver imitado em vida, possa estar ao teu lado na glória do céu.

São Paulo apóstolo, roga por nós.

V

Leitor: Jesus, eu te bendigo, por teres dado a São Paulo um coração cheio de amor a Deus e à Igreja, por teres salvado tantas almas, por meio de seu zelo. 1Cor 9,19-23; cf. 2Cor 5,14; Rm 1,5; Rm 15,17-20.

ο “Devemos viver o tempo atual. Não podemos dizer que 1960 é 1930, ou 1914, ou 1915! Devemos fazer o bem às pessoas que encontramos hoje. As pessoas que já viveram anteriormente já chegaram ao seu destino, ou estão salvas ou estão perdidas. Devemos fazer o bem para quem vive hoje. E precisamos formar o pessoal paulino que temos hoje. E a palavra “paulina” também deve ser tomada no seu justo sentido, quer dizer, o Evangelho como é visto por São Paulo. Esse espírito não tem pátria, é universal, portanto, não é exclusivo de ninguém”49

46 CVV, p. 519. 47 FSP, 1940-45, p. 390. 48 AD 166. 49 SdC, p. 244.

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Todos: E tu, meu amigo, alcança-me um vivo desejo de exercer o apostolado da comunicação social, da oração, do exemplo, das obras e da palavra, para que eu possa merecer o prêmio prometido aos bons apóstolos. São Paulo apóstolo, roga por nós.