Propósito das missões cristãs

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PROPÓSITO DAS MISSÕES Introdução Se você é convertido há algum tempo provavelmente já ouviu falar na obra de missões. Seja por meio de uma conferência, ou por meio de sermões, ou por meio de palestras... É praticamente impossível alguém ser membro em uma igreja evangélica sem ter ouvido falar de missões. Todavia, ouvir falar em missões, porém não entender o seu propósito, é o mesmo que „deixar a obra na metade de seu andamento‟. Precisamos desenvolver um entendimento maior do que significa missões e nos inteirar do seu propósito. A fim de compreender este assunto é benéfico perguntar: Porque existe missões? Desde quando existe missões? Quem deve executar esta tarefa? É realmente necessário realizar esta obra? As doutrinas das Escrituras devem ser explicadas ao crente de acordo com o que foi revelado por Deus. Os crentes devem entender as doutrinas, e não somente conhecê-las. Sendo assim, iniciemos com o nosso estudo de missões compreendendo o Propósito das Missões, para poder em seguida aprender outros aspectos envolvidos na doutrina de missões. Criação Deus em sua Sabedoria e Poder criou todas as coisas que existem. E evidentemente, cada uma delas possuía um propósito definido. Entre todas as coisas criadas estava o ser humano a coroa da criação de Deus que devido ser o co-regente da criação, recebeu do Criador todas as orientações sobre o que fazer neste mundo. Deus lhe entregou ordens que dizia respeito à sua vida, as quais deveria seguir perfeitamente. Estas ordens, denominadas na teologia de Mandatos”. Estes mandatos abarcavam três áreas de sua vida (espiritual, social, cultural), e de acordo com estas áreas os mandatos são denominados. São eles: O Mandato Espiritual, o Mandato Social, e o Mandato Cultural. Cada mandato destes tinha uma função diferente na vida do ser humano, apesar de estarem todos interligados uns com os outros. 1. Mandato Espiritual: É o “relacionamento pessoal que existe da parte de Deus para com cada pessoa individualmente.” 1 Este mandato diz respeito ao relacionamento do homem com Deus. Nele o homem é chamado a permanecer em comunhão com o Criador (Gn 2:16, 17). É a responsabilidade do homem de obedecer a Deus. 2. Mandato Social: Tem haver com a vida em sociedade do ser humano. O homem tem o dever de multiplicar-se e encher o planeta terra onde é regente (Gn 1:28). “O homem deveria deixar pai e mãe e unir-se à sua esposa e, juntos, em uma só carne, eles deveriam ser frutíferos, multiplicar-se e encher a terra.” 2 3. Mandato Cultural: Este mandato vai direcionar o homem naquilo que deveria fazer na terra como regente da Criação. O homem deveria “dominar, sujeitar” o planeta para glória do Criador (Gn 1:26, 28; 2:15). “O Mandato Cultural chama toda a humanidade a participar na ordenança e na administração da criação, isto é, na obra da civilização e da cultura.” 3 Queda Ainda que possuindo um relacionamento de união e paz com o Criador, o homem teria que enfrentar um teste de fidelidade e submissão quanto a este relacionamento. Como um ser moral, o homem recebeu a possibilidade de escolher se permanecia ou não num relacionamento de comunhão com Deus. Ele poderia obedecer ou não às ordens do Criador... Este era seu teste moral. O ser humano possuía imagem e semelhança do Criador. Esta era sua condição natural. Contudo, se escolhesse a desobediência, perderia sua comunhão com Ele, e distorceria esta honrosa imagem. Como está registrado em (Gn 3:6), o homem pecou, e nele toda a raça humana. Devido a entrada do pecado na raça humana Deus não poderia permanecer em comunhão com esta; pelo contrário, deveria executar o castigo anteriormente pronunciado para o caso da desobediência humana (Gn 2:16, 17). O caráter Santo do 1 GRONINGEN, Harriet e Gerard Van. A Família da Aliança. São Paulo, Cultura Cristã, 2002, p 151. 2 Ibid, p 151. 3 CARRIKER, Timóteo. Missão Integral Uma Teologia Bíblica. São Paulo, 1992, p 24.

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PROPÓSITO DAS MISSÕES

Introdução

Se você é convertido há algum tempo provavelmente já ouviu falar na obra de missões. Seja por meio de

uma conferência, ou por meio de sermões, ou por meio de palestras... É praticamente impossível alguém ser

membro em uma igreja evangélica sem ter ouvido falar de missões. Todavia, ouvir falar em missões, porém não entender o seu propósito, é o mesmo que „deixar a obra na metade de seu andamento‟. Precisamos desenvolver

um entendimento maior do que significa missões e nos inteirar do seu propósito. A fim de compreender este

assunto é benéfico perguntar: Porque existe missões? Desde quando existe missões? Quem deve executar esta

tarefa? É realmente necessário realizar esta obra? As doutrinas das Escrituras devem ser explicadas ao crente de acordo com o que foi revelado por Deus. Os crentes devem entender as doutrinas, e não somente conhecê-las.

Sendo assim, iniciemos com o nosso estudo de missões compreendendo o Propósito das Missões, para poder em

seguida aprender outros aspectos envolvidos na doutrina de missões.

Criação

Deus em sua Sabedoria e Poder criou todas as coisas que existem. E evidentemente, cada uma delas

possuía um propósito definido. Entre todas as coisas criadas estava o ser humano – a coroa da criação de Deus –

que devido ser o co-regente da criação, recebeu do Criador todas as orientações sobre o que fazer neste mundo.

Deus lhe entregou ordens que dizia respeito à sua vida, as quais deveria seguir perfeitamente. Estas ordens, denominadas na teologia de “Mandatos”. Estes mandatos abarcavam três áreas de sua vida (espiritual,

social, cultural), e de acordo com estas áreas os mandatos são denominados. São eles: O Mandato Espiritual, o

Mandato Social, e o Mandato Cultural. Cada mandato destes tinha uma função diferente na vida do ser humano, apesar de estarem todos interligados uns com os outros.

1. Mandato Espiritual: É o “relacionamento pessoal que existe da parte de Deus para com cada pessoa individualmente.”

1 Este mandato diz respeito ao relacionamento do homem com Deus. Nele o homem é

chamado a permanecer em comunhão com o Criador (Gn 2:16, 17). É a responsabilidade do homem de

obedecer a Deus.

2. Mandato Social: Tem haver com a vida em sociedade do ser humano. O homem tem o dever de

multiplicar-se e encher o planeta terra onde é regente (Gn 1:28). “O homem deveria deixar pai e mãe e

unir-se à sua esposa e, juntos, em uma só carne, eles deveriam ser frutíferos, multiplicar-se e encher a terra.”

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3. Mandato Cultural: Este mandato vai direcionar o homem naquilo que deveria fazer na terra como

regente da Criação. O homem deveria “dominar, sujeitar” o planeta para glória do Criador (Gn 1:26, 28; 2:15). “O Mandato Cultural chama toda a humanidade a participar na ordenança e na administração da

criação, isto é, na obra da civilização e da cultura.”3

Queda

Ainda que possuindo um relacionamento de união e paz com o Criador, o homem teria que enfrentar um teste de fidelidade e submissão quanto a este relacionamento. Como um ser moral, o homem recebeu a

possibilidade de escolher se permanecia ou não num relacionamento de comunhão com Deus. Ele poderia

obedecer ou não às ordens do Criador... Este era seu teste moral. O ser humano possuía imagem e semelhança do

Criador. Esta era sua condição natural. Contudo, se escolhesse a desobediência, perderia sua comunhão com Ele, e distorceria esta honrosa imagem.

Como está registrado em (Gn 3:6), o homem pecou, e nele toda a raça humana. Devido a entrada do

pecado na raça humana Deus não poderia permanecer em comunhão com esta; pelo contrário, deveria executar o castigo anteriormente pronunciado para o caso da desobediência humana (Gn 2:16, 17). O caráter Santo do

1 GRONINGEN, Harriet e Gerard Van. A Família da Aliança. São Paulo, Cultura Cristã, 2002, p 151. 2 Ibid, p 151. 3 CARRIKER, Timóteo. Missão Integral – Uma Teologia Bíblica. São Paulo, 1992, p 24.

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Criador não permitia um „passar por cima‟ diante da necessidade de fazer juízo ao pecado do homem

condenando-o. Apesar de ser este o destino justo do homem, Deus sendo infinitamente misericordioso, resolve salvar

uma multidão de pessoas a fim de formar um povo exclusivamente Seu. Para isto, faz um plano para a salvação

do homem, no qual o Seu Filho seria o Mediador e Salvador. O Filho por Sua vez, tendo Se encarnado e

cumprido todas as exigências do plano de salvação, torna concreta a salvação destas pessoas escolhidas por Deus.

Missões e o Plano de Salvação

Bem, agora que entendemos que Deus decidiu salvar pessoas tirando-as da condenação que o pecado

impõe, podemos esclarecer qual o propósito das missões. Onde as missões querem chegar? Que alvo tenta

atingir? O teólogo R. B. Kuiper, em seu livro Evangelização Teocêntrica, nos dá três razões para fazer missões:

A Salvação das Almas, o Crescimento da Igreja e a Glória de Deus. Seguiremos esta linha de raciocínio a fim de explicar o propósito de missões.

A Salvação das Almas

Ora, como vimos, a humanidade estava perdida por causa de seus pecados. Nada merecia do Criador a

não ser a condenação. Planejando e concretizando a salvação de um incontável número de seres humanos, Deus quis que estas pessoas, eleitas para a salvação, fossem resgatadas da condenação ao ouvirem e aceitarem a

pregação da mensagem do Evangelho (Rm 10:13-17). Esta pregação do Evangelho às pessoas perdidas é que

constituem em missões.

No início o homem cumpria os mandatos que Deus havia lhes ordenado (Mandato Espiritual, Mandato Social, e Mandato Cultural). Com a presença do pecado na vida humana, o homem se tornou incapaz de cumprir

tais obrigações. Ele se tornou pecaminoso em suas obras. Deixou de ser adorador de Deus para ser adorador de

ídolos (Rm 1:18-25). A obra de missões visa resgatar o homem do pecado e fazer dele novamente um adorador de Deus. As missões, portanto, é uma obra que tem como meta a conquista de adoradores para o Deus

verdadeiro:

As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a adoração sim. As missões existem

porque não há adoração, ela sim é fundamental, pois Deus é essencial e não o homem. Quando

esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não

haverá mais missões. Elas representam, no momento, uma necessidade temporária. Mas a

adoração permanece para sempre.

A adoração é, portanto, o combustível e a meta das missões. É a meta das missões

porque nelas simplesmente procuramos levar as nações ao júbilo inflamado da glória de Deus. O

alvo das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus. “Reina o Senhor. Regozije-se a

terra, alegrem-se as muitas ilhas” (Sl 97:1). “Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos

todos. Alegrem-se e exultem as gentes” (Sl 67:3-4).

Mas a adoração é também o combustível das missões. A paixão por Deus na adoração

precede a apresentação de Deus por meio da pregação. Você não pode recomendar o que não aprecia. Os missionários jamais exclamarão: “Alegrem-se os povos”, se não puderem dizer de

coração, “Eu me alegrarei no Senhor... Alegrar-me-ei e exultarei em ti; ao teu nome, ó Altíssimo,

eu cantarei louvores” (Sl 104:34; 9:2). As missões começam e terminam com a adoração.4

O Crescimento da Igreja

Uma segunda razão para se realizar a obra de Missões é o crescimento numérico da Igreja de Cristo.

Muitos pensam que Deus não se interessa pelo crescimento numérico de sua Igreja. Entretanto, o que vemos no

livro histórico de Atos é bem diferente. Lá encontramos por diversas vezes o autor relatando o crescimento numérico da Igreja (At 2:41, 47; 6:1; 16:5; 4:4). Ora, se o crescimento numérico da Igreja não fosse importante,

por que Deus faria ela crescer tanto? Por que faria o crescimento a Igreja ser uma realidade?

Talvez a afirmação de que Deus não se interessa por aumento numérico seja na verdade uma boa

desculpa para a „falta de crescimento‟, ou para a „falta de interesse na evangelização‟. Deus tem o plano de formar um povo exclusivamente Seu. E de modo algum este povo é pequeno em número (Ap 7:9;19:1, 6). Se

quisermos que as pessoas se tornem adoradoras do Deus vivo e verdadeiro, então devemos tirá-las das trevas e

4 PIPER, John. Alegrem-se os Povos. São Paulo, Cultura Cristã, 2000, p 13.

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trazê-las para a luz. E quando elas encontrarem a luz de Cristo, isto certamente implicará em crescimento da

Igreja.

A Glória de Deus

Embora salvar as almas e aumentar numericamente a Igreja do Senhor sejam boas razões para a realização de missões, nada é comparável à razão de fazer isto para a glória de Deus. Cada alma resgatada do

pecado é mais uma pessoa que glorificará a Deus em vida de santidade e adoração. Portanto, missões deve ser

realizado principalmente para glorificar ao Criador do Universo (Rm 11:36; 16:25-27). Na verdade, cada alma que se envolve em missões, deve fazer por obediência à ordem do Senhor, e, portanto, fazendo isto, glorifica a

Deus; E quando uma alma se converte ao Senhor, a partir dali sua vida deve ser para glória de Deus. Resumindo,

quem faz a obra de missões glorifica a Deus (obedecendo a Ele), quem se converte a Ele por causa da obra de

missões também O glorifica (pois viverá para obedecer a Ele), ou seja, do início ao fim as missões glorificam ao Senhor.

Propósitos errados em missões

É claro que em meio à nossa condição de pecadores, nós acabamos por encontrar as pessoas fazerem

missões com outros objetivos que não os objetivos corretos. É preciso tomar muito cuidado quanto a isto para que não venhamos a nos esforçar na obra de missões, sem, contudo, agradar a Deus. Deus não somente nos diz o

que fazer, mas Ele nos diz igualmente as razões corretas. Vejamos algumas razões erradas para realizar missões:

1. Aumentar o número de dizimistas; 2. Vangloriar-se pelo número grande de membros da igreja local;

3. Ter mais uma programação eclesiástica realizada pela igreja. Missões não é um evento;

4. Fazer propaganda de si mesmo aos outros, de como você trabalha muito no Senhor; 5. Mostrar que você sabe muito evangelizar;

6. Espalhar o nome da denominação (“disputa por territórios”);

7. Crescer ministerialmente (no caso de pastores e missionários); 8. Auto-justificação ou vanglória diante de Deus;

9. Utilizar as missões como se fosse uma “moeda de troca” por bênçãos das quais necessita;

10. Promover missões para adquirir mais ofertas (ofertas missionárias) para a igreja local.