PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi

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www.neip.info 1 Universidade de Brasília Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Florestal PROPAGAÇÃO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi Aluno: Thiago Martins e Silva Matrícula: 99/15991 Orientadora: Rosana de Carvalho Cristo Martins Co-orientador: Ildeu Soares Martins Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Florestal Brasília, 2006

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Dissertação de mestrado que discute o cultivo da espécie Banisteriopsis caapi, utilizada para a preparação de ayahuasca, bebida ritualística consumida por grupos espiritualistas de várias partes do Brasil.

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    Universidade de Braslia Faculdade de Tecnologia

    Departamento de Engenharia Florestal PROPAGAO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO

    EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi Aluno: Thiago Martins e Silva Matrcula: 99/15991 Orientadora: Rosana de Carvalho Cristo Martins Co-orientador: Ildeu Soares Martins

    Trabalho Final de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Florestal como requisito parcial para obteno do grau de Engenheiro Florestal

    Braslia, 2006

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    Universidade de Braslia Faculdade de Tecnologia Departamento de Engenharia Florestal

    PROPAGAO VEGETATIVA E ESTABELECIMENTO EM CERRADO DE Banisteriopsis caapi

    Aluno: Thiago Martins e Silva Matrcula: 99/15991 Meno: _______ Banca Examinadora

    _________________________________________ Rosana de Carvalho Cristo Martins

    Orientadora

    _________________________________________ Ildeu Soares Martins

    Co-Orientador

    _________________________________________ Fernando de La Rocque Couto

    Membro da Banca

    Braslia, 13/03/2006

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    Agradecimentos Antes de tudo, agradeo a Deus pelo dom dessa vida e por todas as oportunidades. Agradeo aos meus pais, Eliane e Walter, pela grande riqueza que me proporcionaram: a educao. Agradeo a meus irmos, Junior e Cinthia, por, de uma forma ou de outra, sempre fazerem parte de minha existncia. Agradeo querida professora Rosana por acreditar, apoiar e orientar a realizao desse trabalho desde Junho de 2004. Agradeo pela grande ajuda e orientao do professor Ildeu na anlise dos dados obtidos e por todo carinho de pai durante todo o curso de graduao. Agradeo a Ftima, Ellen, Marcinho (tambm pela ajuda na coleta dos dados), Rafael Santos, Emmanuel Lima, Marcello Alceo, Ana Rita e todos aqueles que disponibilizaram referncias bibliogrficas para embasar e enriquecer a realizao desse trabalho. Agradeo ao Fabrcio da Vinha (CCC) e ao padrinho Fernando La Rocque pela grande ajuda com material bibliogrfico, permisso de divulgao das fotos, conversas, orientaes e incentivos. Agradeo ao Chico, ao Manoel, ao padrinho Fernando, ao padrinho Alfredo Gregrio e ao paj Ban (Kaxinaw) pelas entrevistas. Agradeo ao Leonardo Vasconcelos pela tima acolhida em Belm, pela ajuda na preparao das estacas, conversas, orientaes, companheirismo e pelos muitos aas com tapioca. E tambm pela grande fora na apresentao. Agradeo ao Francisco, responsvel pelo viveiro da FAL na poca do plantio e ao Departamento de Engenharia Florestal pelo apoio na produo das mudas. Agradeo ao Fbio Venturoli (NOVACAP) e Igor de Oliveira pela ajuda. Agradeo ao Carlos Eduardo, ao Celso Papito (tambm pelos ensinamentos), ao Francisco Guilhermano, ao Joo Neto (tambm pela retirada do viveiro), Rafael (Macei), Jlio, Sat e todos aqueles que puderam ajudar a produzir os beros e a plantar. Agradeo ao Jorge, ao Guilherme Simes e ao Josimar pela grande ajuda na manuteno das mudas em campo. Agradeo ao Bergmann (Laboratrio de Microscopia Eletrnica do Departamento de Biologia Celular da UNB) pela ajuda nas fotos do teste de viabilidade. Agradeo ao Lucas pela ajuda na anlise de solo. Agradeo bebida Ayahuasca por proporcionar tantas curas e mostrar-me os verdadeiros valores importantes nessa vida. Em especial, agradeo Juliana Hoff, por ter sido muito mais do que ajudante e peoa na execuo desse trabalho, por ter sido o maior incentivo e apoio para a sua concluso.

    Dedicatria

    Dedico esse trabalho Juliana, noiva, companheira, ajudante, inspirao e amor de minha vida.

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    As sementes da macieira esto dentro da ma,

    As sementes da parreira esto dentro da uva,

    As sementes do pequi esto dentro do pequi,

    As sementes de Deus esto dentro de DEUS!

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    RESUMO

    O presente trabalho analisou a propagao vegetativa em viveiro e o estabelecimento em campo da espcie amaznica Banisteriopsis caapi no bioma Cerrado. Uma reviso de literatura foi feita para indicar outros usos, alm do uso religioso, para a espcie em estudo. A forma de propagao vegetativa utilizada foi a estaquia caulinar. Foram testados quatro tipos de tratamentos: 70% e 90% de sombreamento; e casa de vegetao climatizada com estacas verticais e horizontais. O indivduo utilizado para obteno das estacas foi coletado em Belm/PA. A medio do comprimento (cm) do maior broto foi o critrio de avaliao em viveiro. Foram utilizadas duas reas principais para estabelecimento em campo. As medies do comprimento (cm) e do dimetro (mm) do maior broto e a observao durante um ano foram os critrios de avaliao do desempenho em campo. Os resultados mostraram que a estaquia caulinar o mtodo mais recomendado para viveiro; a espcie tem um timo estabelecimento no Cerrado; a gua requisitada em abundncia para desenvolvimento acelerado, mas a espcie resiste bem aos perodos secos sendo caduciflia.

    SUMMARY

    The present work analyzed the vegetative propagation in nursery and the establishment in field of the Amazonian species Banisteriopsis caapi in Cerrado. A literature revision was made to indicate other uses, beyond the religious use, for the species in study. The vegetative propagation form used was by stem cuttings. Four types of treatments had been tested: 70% and 90% of shading; greenhouse acclimatized with vertical and horizontal cuttings. The individual used for attainment of the cuttings was collected in Belm/PA/Brazil. The measurement of the length (cm) of the biggest sprout was the criterion of evaluation in nursery. Two main areas for establishment in field had been used. The measurements of the length (cm) and the diameter (mm) of the biggest sprout and the observation during one year had been the criteria of evaluation of the performance in field. The results had shown that the stem cuttings is the most recommended method for nursery; the species has an excellent establishment in the Cerrado; the water is requested in abundance for sped up development, but the species resists the dry periods well being deciduous.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Banisteriopsis caapi 02

    Figura 2 - Psychotria viridis 03

    Figura 3 - Garrafa contendo Ayahuasca 04

    Figura 4 - O xam Ka-paye com o aray (chocalho de paj) e o charuto 06

    Figura 5 - Susticas associadas a smbolos religiosos 08

    Figura 6 - Filotaxia, flor e semente de B. caapi 40

    Figura 7 - Exsicata de B. caapi do herbrio da UNB 41

    Figura 8 - B. caapi no uso de cobertura de portal 48

    Figura 9 - Uso de liana para cobertura em alambrado 48

    Figura 10 - B. caapi no uso de revestimento de muros 49

    Figura 11 - Uso de liana para coroamento de muros 49

    Figura 12 - Bateo do B. caapi na preparao de Ayahuasca 63

    Figura 13 - Coco de B. caapi na preparao de Ayahuasca 63

    Figura 14 - Harmina 67

    Figura 15 - Harmalina 67

    Figura 16 - N, N-Dimetiltriptamina 67

    Figura 17 - Planta-me de B. caapi de onde foram confeccionadas as

    estacas utilizadas 76

    Figura 18 - Regenerao da rea 2 79

    Figura 19 - Queda das folhas 87

    Figura 20 - Investimento em brotaes novas 87

    Figura 21 - Exemplo de semente vivel 90

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Classificao botnica de Banisteriopsis caapi 39

    Tabela 2 Nmero de brotaes produzidas e percentagem das

    estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi nas diversas

    condies testadas de viveiro florestal da Fazenda gua

    Limpa, DF, aps 23 dias 81

    Tabela 3 - Nmero de brotaes produzidas, comprimento da maior

    brotao e nmero estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi

    nas diversas condies testadas de viveiro florestal da

    Fazenda gua Limpa, DF, aps 30 dias 81

    Tabela 4 - Nmero de brotaes produzidas, comprimento da maior

    brotao e nmero estacas enraizadas de Banisteriopsis caapi

    nas diversas condies testadas de viveiro florestal da

    Fazenda gua Limpa, DF, aps 53 dias 82

    Tabela 5 - Resumo da Anlise de Varincia para o comprimento das

    brotaes no viveiro aps 30 dias (16/09/2004) 83

    Tabela 6 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa

    de vegetao (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de

    sombreamento (2) aps 30 dias (16/09/2004) 83

    Tabela 7 - Resumo da Anlise de Varincia para o comprimento das

    brotaes no viveiro aps 53 dias (09/10/2004) 84

    Tabela 8 - Resultados do Teste de Tuckey para os tratamentos: casa

    de vegetao (0); 70% de sombreamento (1); e 90% de

    sombreamento (2) aps 53 dias (09/10/2004) 84

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    Tabela 9 Resultados da anlise de solo da rea 1 86

    Tabela 10 - Resumo das Anlises de Varincia para o comprimento

    das brotaes (COMP) e dimetro das brotaes (DIAM),

    em nvel de campo 88

    Tabela 11 - Comparaes do Teste de Tuckey para o comprimento

    e o dimetro das brotaes em nvel de campo 89

    Tabela 12 Resultados do Teste de Tetrazlio 89

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    TABELA DE CONTEDO

    I INTRODUO 01

    II REVISO DE LITERATURA 13

    2.1 CARACTERSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS 14

    2.2 ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS 16

    2.3 PROPAGAO VEGETATIVA 17

    MERGULHIA 19

    ENXERTIA 20

    ESTAQUIA 21

    CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAO) 22

    2.3.1 RECIPIENTES/EMBALAGENS 23

    2.3.2 SUBSTRATOS 25

    2.3.3 SOMBREAMENTO 28

    2.4 TESTE DE TETRAZLIO 30

    2.4.1 LIMITAES DO TESTE DE TETRAZLIO 32

    2.5 FAMLIA MALPIGHIACEAE 33

    2.5.1 GNERO Banisteriopsis 37

    2.6 AMAZNIA X CERRADO 42

    2.7 Banisteriopsis caapi: USOS 44

    2.7.1 PAISAGISMO 46

    2.7.2 RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS 50

    2.7.3 USO TERAPUTICO 51

    2.8 AYAHUASCA 54

    2.8.1 ORIGEM DA AYAHUASCA 57

    2.8.2 RITUAL DE PREPARO OU FEITIO DA AYAHUASCA59

    2.8.3 EFEITOS FSICOS, PSQUICOS E QUMICOS DA

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    AYAHUASCA 64

    2.8.4 ASPECTOS LEGAIS REFERENTES AYAHUASCA71

    III MATERIAL E MTODOS

    3.1 FASE 1 76

    3.2 FASE 2 78

    3.3 FASE 3 80

    IV RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 FASE 1 81

    4.2 FASE 2 85

    4.3 FASE 3 89

    V CONCLUSES

    5.1 FASE 1 91

    5.2 FASE 2 91

    5.3 FASE 3 92

    VI RECOMENDAES 92

    VII SUGESTES 93

    VIII REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 95

    ANEXOS

    ANEXO 1 NOMES ENCONTRADOS NA BIBLIOGRAFIA PARA A BEBIDA AYAHUASCA

    ANEXO 2 PARECER CONFEN SUBMETIDO PLENRIA EM 31 DE JANEIRO DE 1986

    ANEXO 3 CARTA DE PRINCPIOS PARA O USO DA AYAHUASCA

    ANEXO 4 RESOLUO DO CONFEN SOBRE A AYAHUASCA DE 24 DE AGOSTO DE 1992

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    ANEXO 5 RESOLUO N.4 CONAD, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2004

    ANEXO 6 HINOS CITADOS

    ANEXO 7 CHAMADAS CITADAS

    ANEXO 8 MEDIES NA FASE DE VIVEIRO

    ANEXO 9 DADOS DE CAMPO

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    I - INTRODUO

    A importncia das florestas incontestvel. E seu uso sustentvel , a

    cada dia que passa, mais necessrio para que as geraes futuras tenham,

    pelo menos, os mesmos recursos da atualidade. A madeira ainda o produto

    mais procurado e, consequentemente, mais valorizado das florestas.

    Entretanto, vm se descobrindo, cada vez mais, mais usos dos produtos no-

    madeireiros, o que favorece a conservao das florestas. Dentre as finalidades

    dos produtos florestais no-madeireiros esto os usos alimentcio, cosmtico,

    farmacolgico, turstico, txtil e religioso.

    Buda define a floresta como um organismo especial de bondade e

    benevolncia infinitas que no faz nenhuma exigncia para o seu sustento e

    espalha generosamente os frutos de sua atividade vital. Ela fornece proteo a

    todos os seres e oferece sombra at mesmo ao lenhador que a destri (Vinha,

    2005).

    Deus disse: Eis que eu vos dou toda a erva que d semente sobre a

    terra, e todas as rvores frutferas que contm em si mesmas as suas

    sementes, para que sirvam de alimento (Gnesis 1, 29). Desde ento, das

    plantas se obtm os princpios ativos empregados nos medicamentos, uma

    completa farmcia natural. Umas alimentam, outras perfumam, outras

    purificam, acalmam, do prazer, etc. Porm, algumas plantas transportam a

    mente humana a regies de maravilhas espirituais, alterando a conscincia,

    levando o ser humano ao mundo profundo do inconsciente, reconectando o

    homem com os seus ancestrais.

    O cip Banisteriopsis caapi (Spr. Ex Griseb.) Morton (Malpighiaceae)

    (Figura 1) nativo da regio amaznica tem sua maior importncia no uso

    religioso. Juntamente com o arbusto Psychotria viridis Ruiz & Pavon

    (Rubiaceae) (Figura 2), a espcie B. caapi matria-prima na produo da

    bebida indgena conhecida por, pelo menos, oitenta nomes diferentes (Anexo

    1), como, por exemplo, Yag, Kamarampi, Caapi, Natema, Pind, Kahi, Mihi,

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    Dpa, Nixi pae, Cip dos mortos, Santo Daime, Vegetal, Oaska ou mais

    comumente Ayahuasca. Aya, no dialeto quchua1, significa alma, esprito,

    ancestral; e Huasca, no mesmo dialeto, significa ch ou vinho. Portanto,

    Ayahuasca pode ser traduzida para o portugus como Vinho da Alma ou Ch

    do Esprito.

    1 Lngua amerndia de etnia peruana falada pelos povos dos altiplanos andinos (Luna, 1986), tambm conhecida como quchua.

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    Figura 4 - Banisteriopsis caapi

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    Figura 5 - Psychotria viridis

    Esse ch, tratado aqui como Ayahuasca (Figura 3), um produto da

    medicina da floresta, pode ser preparado com outras espcies, tanto de cip

    como de folha. Pode-se acrescentar mais de trinta outras espcies ao cip,

    como a folha de outro cip, Diplopterys cabrerana, conhecida na Colmbia

    como chagro panga (Labate, 2003), sendo as espcies mais utilizadas o B.

    caapi e a P. viridis.

    Muitas vezes confundido com a bebida Ayahuasca, o cip B. caapi

    mais conhecido no Brasil pelos nomes vulgares Jagube ou Mariri. Seu uso

    anestsico local, estimulante de memria e contra a paralisia (Cointe, 1947

    citado por Vieira, 1992), entre outros.

    Na regio Norte do Brasil, seu uso tambm bastante divulgado para

    proteo contra maus espritos. Com essa finalidade, rezadeiras2 e pessoas

    mais antigas sempre tinham um p plantado de Cabi (como mais conhecido

    no Par) na frente ou nos fundos de casa. Tambm utilizado para banho com

    2 Mulheres com experincia na rea de cura com as plantas da floresta.

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    suas folhas a fim de proteo contra mal olhado. Seu uso ainda estende-se

    aos campos teraputico, ornamental e, em menor escala, de recuperao em

    reas degradadas.

    Figura 6 - Garrafa contendo Ayahuasca

    Substncias alucingenas so aquelas que, quando em contato com

    nosso sistema nervoso, propiciam estados de alterao da conscincia

    esdexxxm maior ou menor grau. Embora elas tenham chegado mdia

    associadas a rebeldes e artistas psicodlicos dos anos 60 e 70, seu uso

    muito anterior e muito mais complexo do que se pode pensar, primeira vista.

    Muitas vezes so tratadas erroneamente como drogas ou txicas.

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    Na natureza, existem cerca de 100 plantas classificadas desta forma.

    Como exemplos, alm da Ayahuasca, tm:

    A raiz iboga (Tabernanthe iboga), utilizada por curandeiros tradicionais dos

    pases da bacia do Congo e na religio do Buiti na Guin Equatorial, Camares

    e, sobretudo, no Gabo, onde membros importantes das hierarquias polticas

    do pas so adeptos do culto. Supostamente capaz de induzir o coma, usada

    em rituais e tratamentos de dependncia qumica;

    O cacto peiote (vrias espcies do gnero Echinopsis), amplamente

    consumido no Mxico, cuja substncia ativa a mescalina. Popularizado pelas

    narrativas do antroplogo Carlos Castaeda, o cacto sagrado para ndios

    norte-americanos. Nos Estados Unidos, a Igreja Nativa Americana comunga o

    peiote em cerimnias, legalmente;

    Os cogumelos (vrias espcies), utilizados por culturas de todo o planeta

    desde a antiguidade. Entre os astecas mexicanos, os fungos eram

    considerados mensageiros sagrados de Deus;

    A Cannabis sativa, embora esteja associada ao universo do narcotrfico,

    h registros milenares do seu emprego religioso. Um exemplo so os adeptos

    do movimento Rastafari, na Jamaica, que a consideram uma planta divina;

    A Jurema (Mimosa hostilis), planta natural da caatinga, usada em rituais

    por sertanejos e comunidades indgenas no Nordeste do Brasil;

    O p feito de sementes de paric (Piptadenia peregrina), usado por ndios

    no Brasil, na Colmbia, no Peru e na Venezuela, possui o alcalide DMT, o

    mesmo presente na Ayahuasca;

    A Salvia divinorum, utilizada em cerimnias pelos xams3 (Figura 4)

    mexicanos; h registros de que era associada a uma entidade4 feminina

    guardi da sabedoria.

    3 Aqueles que conseguem entrar e sair dos estados alterados de conscincia, trazendo ensinamentos e curas para si e para os outros, com tcnicas que lhe so exclusivas, tendo sua disposio espritos, seres ou entidades, que quando chamados o atendam prontamente. No se nasce Xam, torna-se, mas quem tem antepassados com este dom ter maior

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    Nos exemplos citados, trata-se de plantas utilizadas no mbito de rituais

    sagrados, pautados por cosmologias que lhes conferem sentido. Como, no

    caso da Ayahuasca, acredita-se que a folha da P. viridis, chamada de rainha ou

    chacrona (ch temeroso), fornece a luz e o cip B. caapi, chamado (quando

    encorpado) de marechal, fornece a fora bebida sagrada.

    Figura 7 - O xam Ka-paye com o aray (chocalho de paj) e o charuto

    Isso aceito cientificamente, pois pesquisas j comprovaram que o

    princpio ativo da P. viridis, a substncia n, n-dimetiltriptamina (DMT), no

    causa efeitos sozinha. necessria a ao do B. caapi para que a enzima

    Monoamina oxidase (MAO), naturalmente presente no nosso organismo, seja

    inibida temporariamente pelas beta-carbolinas (harmalina, harmina e

    tetrahidroharmina, THH) e no destrua o alcalide DMT, responsvel pelos

    efeitos do ch (Ott, 1994).

    probabilidade. Conhecidos tambm por: pajs, curandeiros, magos, videntes. Embora nem todo vidente, curandeiro, mago ou paj, seja um Xam. No xamanismo existem duas vias: do Xamanismo Clssico e do Xamanismo de Planta de Poder. Tambm conhecidos como pajs entre as tribos indgenas brasileiras. 4 Ser espiritual no materializado.

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    A harmalina e a harmina so inibidores da MAO-A e o THH inibe a

    receptao da serotonina, desencadeando um aumento da sua atividade

    central e perifrica, facilitando a psicoatividade da DMT (McKenna et al., 1984;

    Holmstedt & Lindgren, 1967; Callaway, 1994 a, b; Callaway et al., 1996;

    Callaway et al., 1999). Portanto, o B. caapi fornece a fora para permitir que a

    luz da P. viridis haja no organismo da pessoa que tenha ingerido Ayahuasca.

    por isso que os pesquisadores deste campo evitam utilizar o termo

    droga com carter pejorativo -, preferindo utilizar as expresses plantas de

    poder ou entegenos. Tambm so conhecidas como Plantas Mestres,

    Plantas Professoras, Plantas de Conhecimento ou Plantas Sagradas.

    Entegeno engloba a palavra Deus em grego (Teo) e significa o que vm de

    Deus, o que revela o papel que muitas sociedades e religies atribuem a tais

    preparados vegetais: facilitar a comunicao entre a esfera humana e a divina.

    Quanto s ditas Plantas de Poder naturais, no sujeitas aos

    processos qumicos e que despertam determinados poderes latentes do ser

    humano em si, no trazem nem o bem nem o mal. Depende da inteno de

    cada um. S no entende sobre o livre arbtrio de cada um com relao ao uso

    dos vegetais quem tiver algum interesse em seu trfico, represso ou

    preconceito (Gregorim, 1991).

    Como exemplos comparativos, tm a sustica5 (Figura 4) e o vinho. A

    sustica um smbolo antigo e de ocorrncia freqente, encontrado em muitas

    culturas diferentes, em diferentes pocas. possvel encontrar a sustica

    associada aos ndios Hopi, astecas, celtas, budistas, gregos e hindus como

    smbolo religioso e decorativo. Hoje associada a Hitler, maleficamente usada

    para espalhar a morte em nome do que o nazismo defendia (o anti-semitismo,

    o holocausto, o dio aos homossexuais, o desejo de eliminar os deficientes e

    os enfermos, etc.). O mesmo acontece com o vinho da Eucaristia catlica, a

    pessoa pode beb-lo sem moderao e embriagar-se (Gregorim, 1991).

    5 A palavra sustica ou swastika vem do snscrito e significa estar bem.

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    Figura 8 - Susticas associadas a smbolos religiosos

    O uso de Plantas Sagradas vem fazendo parte da experincia humana

    h milnios. Quase todas as culturas primitivas do planeta empregam ou

    empregaram esta classe de plantas em um contexto xamnico (Zuluaga, 2002).

    No podem nunca serem confundidas com drogas que causam a dependncia

    e colocam em risco a sade de quem as usa. A Planta criao de Deus, a

    droga uma criao humana. As Plantas de Poder so ingeridas em rituais.

    Obedecem a preceitos mgico-religiosos, proporcionam cura,

    autoconhecimento e expanso da conscincia.

    As Plantas de Poder aumentam a percepo, a acuidade visual e

    auditiva, e transportam o praticante para outras camadas vibracionais ou

    dimenses. A experincia individual, algumas pessoas tm vises, outras

    canalizam mensagens, fazem regresses, recebem insights 6, recebem

    solues para seus problemas com maior claridade, percebem as causas de

    suas doenas, recebem cura, se conectam a arqutipos, aos mitos, aos medos,

    traumas, smbolos que esto no inconsciente coletivo, visualizam entidades,

    viajam astralmente, entre outras sensaes. O uso ritualstico de Plantas de

    Poder proporciona, sem dvida, uma experincia mstico-religiosa de beleza

    incomparvel, proporcionando o samadhi, o xtase, o nirvana, o encontro com

    o Eu Superior, o transe.

    A busca pelas Plantas de Poder pode ser perigosa. No so todos os

    que dizem conhec-las, que as conhecem realmente. As Plantas de Poder s

    6 Do ingls, corresponde a discernimento, apreenso sbita.

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    trazem resultados benficos, se utilizadas dentro de um fundamento espiritual.

    Consagradas em rituais e preparadas de forma correta.

    Vale ressaltar que no apenas as Plantas de Poder podem proporcionar

    esse xtase desejado h milnios pela natureza humana. Prticas iogues,

    meditaes, rezas fervorosas, jejum e tcnicas de respirao so apenas

    alguns dos tantos outros meios para atingir esse transe. Entretanto, as Plantas

    de Poder aparecem como um caminho mais curto e profundo para essa

    finalidade.

    A evoluo cultural em todos os povos produziu um paulatino

    distanciamento das tcnicas xamnicas e, sobretudo, do uso das plantas

    alucingenas. Esta tendncia foi levada ao extremo de considerar estas plantas

    como txicas ou diablicas e seu uso proscrito em quase todo o mundo

    moderno. Todavia, desde fins do sculo passado, muitos ocidentais tm

    incursionado novamente no consumo destas substncias, buscando uma

    resposta aos grandes problemas da civilizao industrial (Zuluaga, 2002).

    Txicos so as inmeras drogas qumico-farmacuticas sintticas que

    combatem provisoriamente o efeito das doenas e no suas causas. E, muitas

    vezes, ocasionam efeitos colaterais e dependncia fsico-mental,

    principalmente quando mal administradas (Gregorim, 1991). Deixando o

    organismo com menos resistncia para um possvel retorno da mesma doena,

    cada vez doente, o organismo necessita de uma maior quantidade de

    medicamento.

    A medicina tradicional ocidental tem o seu valor. Entretanto, a eficcia

    de prticas consideradas culturalmente como alternativas vem sendo

    descoberta pela sociedade urbana moderna. Isso porque a medicina tradicional

    analisa a doena isoladamente, enquanto as prticas alternativas se

    preocupam com o ser humano no todo.

    Com o desenvolvimento da cincia e tecnologia, a diviso dos

    componentes do corpo humano na medicina tornou-se muito mais comum. Os

    mdicos tradicionais modernos sabem muito mais sobre muito menos. Esse

    desenvolvimento tambm causou uma diviso do ser humano em esprito e

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    matria, onde o campo material foi privilegiado, ocasionando certo

    esquecimento da importncia do esprito para uma boa sade.

    A doena no causada por germes, toxinas, radioatividade excessiva,

    micrbios, bactrias ou por qualquer outro agente fsico. Esses elementos

    sempre esto presentes; milhares deles passam diariamente por todo o corpo

    humano saudvel. Esses agentes s so destrutivos quando no passam

    pelo corpo humano, mas, em vez disso, so nele retidos (Carey, 1990). Para o

    ndio, a doena tem origem sobrenatural (Sangirardi, 1983).

    H apenas uma razo pela qual os germes ou toxinas so retidos num

    sistema humano: porque est presente, nesse sistema humano, um esprito

    malvolo. Na medida em que o esprito do mal aceito e acolhido na vida de

    uma pessoa, seu corpo adoece. Trata-se de um mecanismo regulador,

    destinado a despojar os espritos destrutivos de corpos fsicos. Os espritos

    malvolos so atitudes negativas, emoes destrutivas, enraizadas no medo,

    como: ressentimento, ira, vergonha, culpa, ansiedade, dio, ganncia, vingana

    e cime (Carey, 1990).

    Assim, a Ayahuasca mostra-se como remdio em potencial, pois,

    induzindo a uma evoluo espiritual, as mudanas de hbitos e sentimentos

    favorecem a uma vida mais saudvel em todos os aspectos. So inmeros

    casos de dependentes qumicos que conseguiram livrar-se do vcio aps o

    contato com a bebida. Alm disso, na maioria das vezes ocorre uma mudana

    de atitude em relao ao prximo e natureza, devido a um despertar do amor

    crstico, que seria o redescobrimento dos ensinamentos de Jesus Cristo de

    amor a Deus e ao prximo na prtica. Podendo, nesse sentido, ser usado no

    sentido teraputico, alm do religioso, o que vem ocorrendo cada vez mais.

    Aps a Resoluo N. 4 do CONAD (Conselho Nacional Anti-Droga), de

    Quatro de Novembro de 2004 (Anexo 5), regulamentando o uso

    contextualizado da bebida Ayahuasca, a fiscalizao da extrao e do

    transporte das espcies nativas da floresta tornou-se mais rgida. Entretanto,

    com a divulgao da bebida e sua total legalidade, o preconceito e medo do

    consumo do ch tornaram-se menores. Devido ao grande aumento do nmero

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    23

    de ayahuasqueiros7, a preocupao com a preservao das espcies que

    compem a Ayahuasca tambm aumentou.

    Muito se tem escrito sobre o uso da Ayahuasca, mas poucos trabalhos

    so especficos sobre cada espcie separadamente. Com a prtica de vrias

    dcadas de plantio, colheita e uso, o conhecimento no cientfico

    razoavelmente capaz de indicar a melhor forma de faz-los. Entretanto, o

    conhecimento acadmico aplicado junto com os conhecimentos prticos a

    melhor forma de aumentar a eficincia, diminuindo o custo e aumentando a

    produo.

    A propagao de plantas realizada de duas diferentes formas: sexual e

    assexuada ou vegetativa. A propagao vegetativa ou assexuada de grande

    importncia quando se deseja multiplicar um gentipo que altamente

    heterozigoto e que apresenta caractersticas consideradas superiores, que se

    perdem quando propagadas por sementes. Cada planta, individualmente

    produzida por meio vegetativo, , na maioria das vezes, geneticamente idntica

    planta-me constituindo, assim, o motivo de sua aplicao (Paiva & Gomes,

    2001). A propagao vegetativa tambm vantajosa por permitir o plantio em

    qualquer poca do ano.

    A propagao vegetativa por estacas consiste em destacar da planta

    original um ramo, uma folha ou raiz e coloc-los em um meio adequado para

    que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte area.

    Para preparar a bebida Ayahuasca, necessrio que o cip B. caapi

    tenha florido, pelo menos duas vezes. Isso para que ele possa fornecer uma

    boa burracheira8. Depende muito das condies do local (solo, clima, etc.),

    mas, em mdia, so necessrios, no mnimo, trs anos para utilizar um

    indivduo de B. caapi no feitio9. E, sem matria-prima qualificada para utilizao

    em feitio na regio do Cerrado, os ayahuasqueiros viajam at a Amaznia em

    busca de indivduos nativos.

    7 Adeptos do uso freqente de Ayahuasca em contexto religioso. 8 Nome escrito com u devido origem cabocla e usado pelos ayahuasqueiros para definir o estado de conscincia alterado ocasionado pela ingesto de Ayahuasca. 9 Ritual de preparao do ch Ayahuasca.

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    Devido a esses fatos, o presente trabalho tem como objetivos principais:

    Analisar a propagao vegetativa por estaquia em viveiro de Banisteriopsis

    caapi;

    Verificar as condies mnimas para o estabelecimento da espcie no

    bioma Cerrado; a fim de facilitar o plantio em larga escala pelas igrejas/centros

    usurios desse sacramento presentes nesse bioma.

    O trabalho tambm tem como objetivos secundrios:

    Apresentar outros usos, alm do uso em contexto religioso, para a espcie

    Banisteriopsis caapi;

    Apresentar meios para que a sua preservao em ambiente nativo seja

    favorecida.

    Para atingir os objetivos propostos, o presente trabalho foi estruturado

    em sete captulos, sendo o primeiro esta introduo. O segundo captulo

    apresenta as referncias tericas usadas que fundamentam o desenvolvimento

    do corpo deste trabalho, discorrendo sobre as trepadeiras em geral, suas

    caractersticas e sua ecologia; sobre propagao vegetativa; sobre o teste de

    tetrazlio (teste de viabilidade); sobre a famlia Malpighiaceae e o gnero

    Banisteriopsis; uma anlise comparativa entre os biomas Amaznia e Cerrado;

    sobre a espcie B. caapi e seus possveis usos; sobre o ch Ayahuasca, sua

    origem, seu ritual de preparo, seus efeitos fsicos, psquicos e qumicos, e seu

    histrico de legalizao.

    O terceiro captulo apresenta o material e a metodologia utilizados no

    desenvolvimento deste trabalho. O quarto captulo apresenta os resultados e

    uma breve discusso sobre os mesmos. O quinto captulo apresenta as

    concluses que foram retiradas a partir do presente trabalho. Esses trs

    captulos foram divididos em trs fases, sendo a primeira fase, a fase em

    viveiro; a segunda fase, o estabelecimento em campo; e a terceira fase, o teste

    de viabilidade para comparao da propagao sexuada com a propagao

    vegetativa.

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    No sexto captulo, esto as recomendaes pertinentes ao uso da liana

    Banisteriopsis caapi. E, no stimo captulo, so apresentadas sugestes para o

    desenvolvimento de um trabalho futuro na mesma linha do trabalho presente.

    II - REVISO DE LITERATURA

    As trepadeiras so plantas cujo crescimento em altura depende da

    sustentao mecnica fornecida por outras plantas e, para isto, necessitam de

    uma srie de adaptaes estruturais e funcionais (Putz & Windsor, 1987 citado

    por Rezende, 1997). Ocorrem praticamente em qualquer tipo de clima e

    comunidade vegetal onde haja rvores capazes de sustent-las, no entanto

    so mais abundantes, diversas e com maior variedade de formas e tamanho

    nos trpicos, onde ocorre mais de 90% de todas as espcies de trepadeiras

    conhecidas no mundo (Walter, 1971 citado por Engel et al., 1998).

    Aproximadamente metade das famlias de plantas vasculares contm espcies

    de trepadeiras (pelo menos 133 famlias) (Putz, 1984; Gentry, 1991 citado por

    Venturi, 2000).

    Podem ser classificadas em herbceas, que geralmente crescem em

    ambientes perturbados ou nas bordas de florestas; e lenhosas, geralmente com

    caules mais grossos, que crescem no interior das florestas (Gentry, 1991; Putz

    & Mooney, 1991 citado por Venturi, 2000), mas na prtica extremamente

    difcil fazer uma distino rigorosa, pois pouco se conhece a respeito do ciclo

    de vida completo das espcies de trepadeiras (Rezende, 1997). A terminologia

    para este tipo de hbito ainda confusa, principalmente no Brasil, onde termos

    cip, volvel e liana so tratados como sinnimos (Kim, 1996). mais comum

    encontrar os termos cip e liana associados s trepadeiras lenhosas.

    So tambm uma importante forma de crescimento dentro das

    comunidades tropicais em termos de nmero de espcies, constituindo cerca

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    26

    de 12% das espcies, comparado a 2% nas comunidades temperadas

    (Richards, 1952; Aristeguieta, 1966; Croat 1978; Gentry, 1985 citado por

    Castellanos et al., 1989). Entretanto, a ateno dirigida ao estudo das espcies

    de trepadeiras tem sido pequena, sendo provavelmente o grupo menos

    coletado (Gentry, 1991 citado por Rezende, 1997). No Brasil, s recentemente

    as trepadeiras tm sido enfocadas e discutidas com maior ateno em estudos

    e levantamentos florsticos (Rezende, 1997).

    Observa-se nas florestas paulistas, certo anacronismo entre a florao

    das rvores e arbustos em relao s trepadeiras. Esse processo parece ter

    grande importncia na manuteno da fauna de polinizadores, que, assim, teria

    sua sobrevivncia garantida, explorando diversas fontes alimentares durante

    diferentes pocas do ano (Morellato, 1996 citado por Rodrigues & Gandolfi,

    1996). Na ARIE Cerrado P-de-Gigante em Santa Rita do Passa Quatro SP,

    Weiser (2001) observou que, de um modo geral, os suportes apresentam

    fenofases de florao e frutificao em pocas distintas das trepadeiras neles

    instaladas, e que, quando frutificavam na mesma poca, suporte e trepadeira

    apresentavam diferentes sndromes de disperso. Do mesmo modo, diferentes

    espcies de trepadeiras no mesmo suporte, tambm florescem e frutificam em

    meses diferentes.

    Muitas espcies de cip produzem flores grandes e vistosas que

    proporcionam nctar e plen para insetos, aves e morcegos. Os cips tambm

    podem proporcionar vias de locomoo entre as copas para animais arbreos,

    tais como macacos e preguias. Alm da sua importncia ecolgica, os cips

    tambm possuem importncia econmica. Algumas espcies de cip (como,

    por exemplo, as palmeiras trepadeiras rattans) so coletadas e vendidas para a

    indstria de mveis, enquanto outras so coletadas para uso medicinal.

    Entretanto, nas florestas manejadas para extrao de madeira, os cips

    geralmente so considerados pragas, porque podem dificultar tanto a extrao

    madeireira quanto a silvicultura. Embora muitos profissionais na rea de

    manejo de florestas tropicais reconheam que o manejo de cips deva ser

    considerado em qualquer plano silvicultural, poucas informaes sobre o tema

    foram publicadas (Vidal & Gerwing, 2003).

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    2.1 CARACTERSTICAS EVOLUTIVAS DAS TREPADEIRAS

    O hbito trepador parece ter evoludo independentemente dentro de

    diferentes grupos taxonmicos (Engel et al., 1998). As trepadeiras tendem a

    ser intolerantes sombra. Muitas espcies germinam na sombra, entretanto o

    caule entra em uma fase de alongamento muito rpido como em plantas

    estioladas, o que estimulado pela sombra. Para que isso ocorra e as

    trepadeiras possam atingir o dossel e, consequentemente, os nveis de

    iluminao adequados para o seu crescimento, adotam uma estratgia de

    baixa canalizao de recursos para tecidos de sustentao, e, justamente por

    isso, so to dependentes de suportes onde possam se apoiar. Esta

    necessidade de apoio levou as trepadeiras a evolurem adaptaes especficas

    (Engel et al., 1998).

    Alm das diversas estratgias de escalada, o sucesso evolutivo das

    trepadeiras deve-se tambm s adaptaes anatmicas, especialmente nos

    caules, obtendo uma maior eficincia dos tecidos de conduo, de modo a

    alcanar as longas distncias que percorrem com curvas e dobras do estreito

    caule levando gua e nutrientes a uma copa que pode ser to extensa ou maior

    do que a de uma grande rvore (Venturi, 2000).

    French (1977, citado por Kim, 1996) observou que trepadeiras que no

    apresentam gavinhas possuem entrens mais longos e desenvolvimento tardio

    da rea foliar, como adaptao para aumentar o sucesso na busca de

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    28

    recursos, diminuindo o peso da carga de produo que as folhas investem no

    ramo. Caball (1993, citado por Kim, 1996) concluiu que as trepadeiras

    apresentam uma diversidade de organizao maior do que outras formas de

    vida enfatizando que a estrutura anatmica do caule bastante eficiente na

    identificao dos taxa a que pertencem. As trepadeiras competem com as

    rvores por luz, gua e nutrientes, sendo a competio por luz a principal fora

    seletiva para este hbito (Gentry, 1991 citado por Ferrucci et al., 2002).

    Quanto disperso, as trepadeiras tendem a apresentar formas

    semelhantes s das outras formas de vida do mesmo estrato (Hegarty, 1989

    citado por Venturi, 2000). Desta forma, as trepadeiras herbceas, que vivem

    nos estratos inferiores tendem disperso por zoocoria; enquanto que as

    lenhosas, que se espalham pelo dossel, tendem a ser dispersas por

    anemocoria (Foster, 1996; Morellato & Leito-Filho, 1996 citado por Venturi,

    2000). Outro padro observado a abundncia de espcies anemocricas em

    etapas iniciais de regenerao de florestas temperadas (McDonell & Stiles,

    1983 citado por Ibarra-Manrquez et al., 1991) e tropicais (Gentry, 1983;

    Augspurger & Franson, 1988 citado por Ibarra-Manrquez et al., 1991).

    2.2 ECOLOGIA DAS TREPADEIRAS

    No Brasil, so poucos os trabalhos que utilizam as trepadeiras como

    materiais de estudo e sua ecologia ainda pouco conhecida (Hora & Soares,

    2002). As trepadeiras tm uma tendncia a tornarem-se mais abundantes em

    fragmentos florestais perturbados. Alguns fatores que passam a atuar nesses

    fragmentos relacionam-se aos efeitos de borda, maior incidncia de luz,

    formao de clareiras e maior disponibilidade de suportes (Hergarty & Caball,

    1991 citado por Hora & Soares, 2002).

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    Hegarty (1991, citado por Weiser, 2001) afirma que a interao entre

    trepadeiras e suportes depende do mecanismo de ascenso, muito embora,

    algumas no utilizem um suporte, mesmo quando este est disponvel,

    enquanto outras, no s o utilizam para ascender verticalmente, como tambm

    expandir horizontalmente no dossel. Em geral, os tipos de mecanismos variam

    pouco de regio para regio, sendo caule volvel o mais abundante e razes

    adventcias o menos abundante, exceto em algumas florestas tropicais muito

    midas.

    Ecologicamente as trepadeiras tm sido caracterizadas como parasitas

    estruturais das rvores (Putz, 1980; Stevens, 1987 citados por Ramalho, 2003).

    Givnish & Vermeij (1976, citados por Kim, 1996) sugerem um modelo

    para explicar padres ecolgicos no tamanho e forma das folhas de trepadeiras

    que afetariam o seu sucesso na competio no qual folhas grandes, de base

    cordada e pecolo longo so favorecidas em situaes de pleno Sol, enquanto

    as pequenas, de base estreita e pecolo curto em ambientes de sombra.

    As trepadeiras desempenham um papel importante na dinmica das

    comunidades florestais, uma vez que, em mdia 21% das plantas utilizadas

    como alimento por uma ampla variedade de primatas tropicais so trepadeiras

    (Emmons & Gentry, 1983; Morellato & Leito Filho, 1996 citado por Rezende

    1997). Para os animais, o emaranhado de ramos das trepadeiras que se forma

    sobre o dossel e as margens das florestas so especialmente teis ao seu

    deslocamento de rvore a rvore, servindo tambm como abrigo e local para

    ninhos (Engel et al., 1998).

    O desenvolvimento de ritmos de florao e frutificao diferentes

    daqueles apresentados pelas rvores, alm da produo de frutos

    anemocricos que amadurecem justamente nos perodos em que um grande

    nmero de rvores encontra-se sem folhas (Morellato, 1991; Foster, 1996;

    Morellato & Leito-Filho, 1996 citados por Venturi, 2000) garantem a

    polinizao e disperso das trepadeiras sem competio com o estrato arbreo

    (Venturi, 2000).

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    As trepadeiras podem ser polinizadas por abelhas, mariposa, moscas,

    beija-flores e vespas. Em geral, caracterizam-se por ter uma ou poucas

    estratgias de polinizao, sendo a maioria polinizada por abelhas de mdio a

    grande porte, ou por pequenos insetos (Ferrucci et al., 2002).

    Os cips no so distribudos uniformemente por toda a paisagem. Pelo

    contrrio, muitas vezes a abundncia de cips encontra-se agrupada e

    inversamente relacionada estatura da floresta (Vidal & Gerwing, 2003).

    2.3 PROPAGAO VEGETATIVA

    A propagao de plantas realizada de duas diferentes formas: sexual e

    assexual ou vegetativa. A propagao por sementes um processo sexual,

    pois envolve a unio do gameta masculino, gro de plen, com o gameta

    feminino, vulo, para formar a semente (Paiva & Gomes, 2001).

    No caso de sementes, h uma exceo, que a apomixia, na qual

    ocorre a produo de sementes por um processo assexual, sem ocorrer a

    fecundao; sendo, no entanto, considerada incomum em espcies florestais.

    Atualmente, com o avano da fitossociologia, tem se verificado que, em

    florestas tropicais, h grande nmero de espcies consideradas raras, ou seja,

    existe um nico indivduo em uma rea relativamente grande, onde a apomixia

    pode estar ocorrendo em propores superiores ao que se imagina (Paiva &

    Gomes, 2001).

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    A propagao vegetativa ou assexual de grande importncia quando

    se deseja multiplicar um gentipo que altamente heterozigoto e que

    apresenta caractersticas consideradas superiores, que se perdem quando

    propagadas por sementes. Cada planta, individualmente produzida por meio

    vegetativo, na maioria das vezes, geneticamente idntica planta-me

    constituindo, assim, o motivo de sua aplicao (Paiva & Gomes, 2001).

    A propagao assexuada ou vegetativa apresenta como vantagens

    (Yamazoe & Vilas Boas, 2003):

    - A rapidez de produo da muda;

    - A reproduo fiel da planta-me;

    - Permite multiplicar indivduos que no florescem por falta de adaptao,

    etc.;

    - Permite multiplicar indivduos estreis;

    - Indivduos obtidos so mais precoces.

    Como desvantagens, podem-se relacionar (Yamazoe & Vilas Boas,

    2003):

    - Transmisso de doenas bacterianas, virticas e vasculares;

    - Necessidade de plantas matrizes adequadas;

    - Instalaes adequadas;

    - Volume de material a ser transportado, armazenado, etc.

    Em qualquer processo de propagao vegetativa, o grupo de plantas-

    filhas fornecido denominado clone. A propagao vegetativa pode ser

    efetuada utilizando-se de processos naturais ou artificiais. Os processos

    naturais so aqueles que se utiliza de estruturas naturalmente produzidas pelas

    plantas, com a finalidade de propagao. Estas estruturas so todas

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    vegetativas, isto , no foram formadas pela fuso de gametas e,

    consequentemente, originam plantas idnticas planta-me (Yamazoe & Vilas

    Boas, 2003).

    Os processos naturais de propagao vegetativa acontecem atravs dos

    bulbos (escamosos, tunicados, slidos ou compostos); rizomas; tubrculos;

    razes tuberosas; estoles ou estolhos; bulbilhos areos; rebentos e filhotes;

    folhas; e, esporos10.

    Nos processos artificiais so englobados aqueles que no ocorrem

    frequentemente na natureza. O homem, utilizando-se da capacidade

    regeneradora dos tecidos vegetais, desenvolveu vrias tcnicas para facilitar a

    plena realizao deste fenmeno, permitindo, assim, que pedaos de caules,

    de folhas e de razes venham a regenerar plantas completas (Yamazoe & Vilas

    Boas, 2003).

    Na natureza, eventualmente encontram-se ramos de plantas que se

    quebram e, sob condies favorveis, enrazam-se e regeneram outras

    plantas, tendo sido esta, talvez, a idia inicial que o homem explorou. Do

    mesmo modo, pores de plantas naturalmente soterradas, enraizando,

    formaram novas plantas, como na mergulhia, e, ainda, galhos que se atritavam

    por longo perodo de tempo, ao se soldarem, podem ter dado a primeira idia

    sobre a tcnica da enxertia (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).

    Dentre os inmeros meios de propagao vegetativa, os que mais

    interessam cincia florestal so: mergulhia, enxertia, estaquia e cultura de

    tecidos ou micropropagao. Dentre os mtodos de propagao vegetativa, a

    estaquia , ainda, a tcnica de maior viabilidade econmica para o

    estabelecimento de plantios clonais, pois permite, a um custo menor, a

    multiplicao de gentipos selecionados em um curto perodo de tempo (Paiva

    & Gomes, 2001).

    10 Para mais informaes sobre os processos naturais de propagao vegetativa, ver Yamazoe & Vilas Boas (2003).

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    MERGULHIA:

    A mergulhia um mtodo de propagao vegetativa pelo qual um ramo

    da planta posto a enraizar quando ainda faz parte dela, no sendo apartado

    antes de se completar o seu enraizamento (Mattos, 1976 citado por Paiva &

    Gomes, 2001). um processo geralmente usado na obteno de plantas que

    dificilmente se enrazam por meio de ramos destacados (estaquia), mas sua

    aplicao comercial pouco restrita, pois o rendimento muito baixo e

    necessita de muita mo-de-obra (Pdua, 1983 citado por Paiva & Gomes,

    2001). de ampla aplicao em arboricultura, mas no to usado em

    silvicultura (Gomes, 1987 citado por Paiva & Gomes, 2001).

    Os principais tipos de mergulhia so: area (alporquia) e subterrnea.

    Na mergulhia subterrnea h as modalidades: simples normal, simples

    invertida, contnua chinesa, contnua serpenteada e mergulhia de cepa (Paiva

    & Gomes, 2001).

    ENXERTIA:

    a operao que consiste em inserir partes de uma planta (gema ou

    garfo) em outra que lhe sirva de suporte, de modo que, soldados os seus

    tecidos, possam elas viver em comum. O princpio fundamental da enxertia

    baseia-se na faculdade que possuem as plantas de unir suas partes, graas

    atividade do cmbio (Borges, 1978 citado por Paiva & Gomes, 2001).

    Na enxertia, planta receptora d-se o nome de hipobioto,

    popularmente conhecido como porta-enxerto ou cavalo, que, em virtude de

    estar enraizado num substrato, desempenha as funes de absoro e fixao.

    O enxerto (rgo doado), denominado epibioto ou tambm cavaleiro, por sua

    vez, desempenhar as funes do caule, que so: conduo, fotossntese,

    florescimento, etc. (Mattos, 1976 citado por Paiva & Gomes, 2001).

    O cavaleiro sempre representado por um fragmento ou por uma parte

    da planta que se pretende multiplicar por enxertia, ao passo que o cavalo ,

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    geralmente, representado por uma planta jovem, proveniente de semente ou de

    estaca, bem rstica e resistente s pragas e doenas (Csar, 1968 citado por

    Paiva & Gomes, 2001).

    As enxertias ou plastias podem envolver plantas (cavalo e cavaleiro) da

    mesma espcie e recebem o nome de homoplastias, ou serem constitudas por

    espcies diferentes, conhecidas por heteroplastias (Gomes, 1987 citado por

    Paiva & Gomes, 2001).

    Inmeros so os processos de enxertia, os quais so agrupados em trs

    categorias distintas: garfagem, borbulhia e encostia (Paiva & Gomes, 2001).

    ESTAQUIA:

    Dentre os mtodos de propagao vegetativa, a estaquia , ainda, a

    tcnica de maior viabilidade econmica para o estabelecimento de plantios

    clonais, pois permite, a um custo menor, a multiplicao de gentipos

    selecionados, em curto perodo de tempo. Alm disso, a estaquia tem a

    vantagem de no apresentar o problema de incompatibilidade que ocorre na

    enxertia (Paiva & Gomes, 2001).

    A propagao vegetativa por estacas consiste em destacar da planta

    original um ramo, uma folha ou raiz e coloc-los em um meio adequado para

    que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte area. As estacas

    podem ser retiradas tanto da parte area quanto da parte subterrnea da

    planta original. Quando retirada da parte area, ela pode ser herbcea ou

    lenhosa, ao passo que as estacas radiculares so lenhosas (Paiva & Gomes,

    2001).

    A estaquia caulinar o mtodo mais difundido e de uso mais comum na

    propagao vegetativa por enraizamento (Gomes, 1987 citado por Paiva &

    Gomes, 2001). Na propagao por estacas caulinares, obtm-se segmentos de

    ramos que contm gemas terminais ou laterais, pois o objetivo que, ao

    coloc-los em condies adequadas, produzam razes adventcias e, em

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    35

    conseqncia, plantas independentes (Hartmann e Kester, 1976, citado por

    Paiva & Gomes, 2001).

    De acordo com Mattos (1976, citado por Paiva & Gomes, 2001), as

    estacas lenhosas tm, em geral, a idade de um ano, sendo parcialmente

    lignificadas e diferem entre si no formato e nas dimenses, conforme a

    categoria. A estaca simples apresenta 20 a 30 cm de comprimento e 0,5 a 1,5

    cm de dimetro, com algumas excees, como o caso da figueira, cujas

    estacas de um ano tm dimetro bem maior.

    A formao de mudas por estaquia recomendada em casos de

    dificuldade de obteno de sementes ou com espcies de fcil enraizamento.

    As estacas devem ser retiradas de indivduos sadios, de maturao varivel, de

    acordo com a espcie, geralmente de dimenses de um lpis. Devem ser

    enraizadas em substrato poroso (vermiculita, areia grossa, etc.), mantidas sob

    sombreamento de 50%, sempre mido, irrigando com gotculas finas (Yamazoe

    & Vilas Boas, 2003).

    Dentre os vrios fatores de que depende o enraizamento de estacas,

    destacam-se os ambientais, o estado fisiolgico, a maturao, o tipo de

    propgulo, a sua origem na copa e a poca de coleta, que influenciam,

    sobretudo, na capacidade e na rapidez do enraizamento (Gomes, 1987 citado

    por Paiva & Gomes, 2001). O sucesso, no entanto, depende de fatores internos

    (condio fisiolgica da planta-me, idade da planta-me, poca do ano, tipo

    de estaca) e externos (umidade, temperatura, luz, substrato) (Paiva & Gomes,

    2001).

    Uma estaca que proporciona bons resultados constituda de duas a

    quatro gemas, na qual so deixadas as folhas, reduzindo-as a cerca de 50% de

    sua rea foliar (Paiva & Gomes, 2001).

    CULTURA DE TECIDOS (MICROPROPAGAO):

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    36

    Esta tcnica oferece excelentes possibilidades, tanto para a propagao

    comercial como para a tcnica auxiliar em programas de melhoramento,

    possibilitando, neste ltimo caso, grande economia, alm de antecipao, em

    dcadas, dos resultados finais. Como possibilita a obteno de grande nmero

    de plantas a partir de poucas matrizes, em curto espao de tempo e em

    reduzida rea de laboratrio, alm de permitir que se projete, com preciso, a

    entrega futura de mudas prontas para o plantio, em quantidade e pocas

    desejadas. Os aspectos negativos quanto reduo da base gentica dos

    povoamentos tem sido a preocupao dos silvicultores (Paiva & Gomes, 2001).

    Os inconvenientes ou as desvantagens so apenas temporrios e se

    resumem na inexistncia de metodologia para utilizao de material adulto,

    principalmente de eucalipto, e no custo elevado de construo e manuteno

    do laboratrio. Todavia, alguns desses inconvenientes j esto sendo

    pesquisados (Paiva & Gomes, 2001).

    A cultura de tecidos consiste, na realidade, no cultivo de rgos, tecidos

    ou clulas vegetais em meio nutritivo apropriado, em ambiente assptico

    (Ottoni, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001). Baseia-se no fato, amplamente

    aceito, de que qualquer clula do organismo vegetal totipotente, isto ,

    encerra em seu ncleo toda a informao gentica necessria regenerao

    de uma planta completa; estando, portanto, apta a dar origem, por si s, a uma

    nova planta, quando submetida a condies apropriadas (Teixeira, s.d. citado

    por Paiva & Gomes, 2001).

    Nesta tcnica tem-se a grande vantagem de trabalhar apenas com

    clulas de plantas desejveis. Estas clulas, ao serem colocadas em tubos de

    ensaio, multiplicam-se com rapidez, formando milhes de outras ou mesmo

    milhes de plantas, todas iguais planta-me, ou com modificaes em uma

    ou mais de suas caractersticas, como maior produtividade, maior tolerncia

    seca, maior resistncia a pragas e doenas e a deficincia minerais do solo,

    etc. (Teixeira, 1984 citado por Paiva & Gomes, 2001).

    As plantas lenhosas, em geral, apresentam certas dificuldades para

    regenerao in vitro, em virtude de causas ainda obscuras. Todavia, as

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    conquistas neste sentido, nos ltimos anos, permitem antever o otimismo a

    plena utilizao da tcnica (Gomes, 1985 citado por Paiva & Gomes, 2001).

    2.3.1 RECIPIENTES / EMBALAGENS

    A confeco de recipientes apropriados para a propagao e o

    crescimento de plntulas intensa e ainda incompleta. Basicamente no existe

    material disponvel que proporcione, simultaneamente, bom desenvolvimento

    radicular, e que minimize os danos do transplante e reduza os custos de

    produo (Fonseca & Ribeiro, 1998).

    Sabe-se que o tipo de recipiente influencia o desenvolvimento das

    mudas de essncias florestais (Paiva & Gomes, 1995). Dentre os diversos

    recipientes utilizados para produo de mudas, os mais utilizados so sacos e

    tubetes, ambos de polietileno. Todos os recipientes podem variar no tamanho

    quanto altura e ao dimetro.

    Os sacos plsticos tm sido mais utilizados em face de sua maior

    disponibilidade e do menor preo. Alm disso, manuse-lo nos viveiros

    bastante simples e propicia elevado rendimento, no caso de produo de

    mudas em grande escala. De acordo com o tamanho do saco plstico a muda

    poder ficar no viveiro por mais tempo. So fabricados com vrias dimenses e

    apresentam furos na parte inferior para a drenagem da gua. Por ocasio do

    plantio, o saquinho deve ser completamente removido (Martins et al., 1998). As

    dimenses encontradas no mercado variam de 11 cm de largura / 20 cm de

    altura at 40 cm de largura / 60 cm de altura (Yamazoe & Vilas Boas, 2003).

    Segundo Paiva & Gomes (1995), os sacos plsticos tem superado os

    demais recipientes quanto ao rendimento na produo de mudas,

    apresentando, porm, desvantagens, como o enovelamento do sistema

    radicular, a utilizao de grandes reas do viveiro, o alto custo no transporte

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    das mudas para o campo (por causa do volume e do peso) e o baixo

    rendimento na operao de plantio (em razo da necessidade de retirar a

    embalagem).

    Yamazoe & Vilas Boas (2003) ainda afirma que os sacos plsticos

    apresentam as seguintes vantagens em relao aos tubetes: possibilitam a

    produo de mudas de maiores dimenses; permitem armazenamento das

    mudas fora do viveiro por mais tempo; os ndices de sobrevivncia so maiores

    quando as mudas so plantadas sob condies adversas, como em meio a

    gramneas de porte alto (braquiria, colonio, etc.) e em solos compactados ou

    degradados, apresentam maior reteno de gua, resistindo por um perodo

    maior de estiagem e menor investimento na instalao do viveiro.

    Os mesmos autores apresentam como desvantagens dos sacos

    plsticos em relao aos tubetes: exigncia de maior volume de terra e esterco

    para seu preenchimento; maior dificuldade para transporte e manuseio;

    necessidade de mais espao e mo-de-obra para enchimento da embalagem,

    semeadura, repicagem e manuteno; menor rendimento nas operaes de

    plantio, especialmente em terrenos de topografia acidentada.

    2.3.2 SUBSTRATOS

    A funo do substrato principalmente a de sustentar a planta e

    fornecer nutrientes mesma. Sua composio de uma parte slida formada

    por partculas minerais e orgnicas e poros ocupados por ar e gua (Martins et

    al., 1998). O desenvolvimento e a eficincia do sistema radicular so muito

    influenciados pela aerao do solo, que depende da quantidade e do tamanho

    das partculas que definem a sua textura (Sturion, 1981b citado por Paiva &

    Gomes, 1995).

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    Um substrato de boa qualidade deve ter baixa densidade, boa

    capacidade de absoro de gua e nutrientes, boa aerao, drenagem e ser

    livre de agentes patgenos e qualquer tipo de corpos estranhos. Dentre os

    substratos que podem ser utilizados na produo de mudas de espcies

    florestais, os mais comuns so: vermiculita, composto orgnico, moinha de

    carvo, terra de subsolo, serragem, acculas de Pinus e turfa (Martins et al.,

    1998).

    Os substratos devem ter estrutura fsica rica em argila e matria

    orgnica de modo que haja permeabilidade adequada para troca de nutrientes

    e gua do solo com a planta sem que ocorra uma lixiviao excessiva dos

    nutrientes. Este substrato pode ser produzido pelo prprio viveirista, sendo

    utilizado aps um peneiramento para semeadura; e bruto para enchimento dos

    sacos plsticos. Quando se utilizam tubetes, h grande vantagem no uso do

    substrato comercial que, devido sua textura, facilita o enchimento dos

    tubetes, possui uma permeabilidade ideal da gua, e isento de sementes de

    ervas daninhas, reduzindo a mo-de-obra.

    Para a produo de mudas em sacos plsticos essencial assegurar o

    suprimento regular de substrato, que se compe de terra e composto orgnico.

    Considera-se solo ideal, em termos volumtricos, aquele que apresenta 45%

    de fase slida, 25% de gua, 25% de ar e 5% de matria orgnica (Yamazoe &

    Vilas Boas, 2003).

    A deficincia de oxignio no substrato causa, muitas vezes, a

    paralisao do crescimento radicular, com injrias ou morte deste. Essa

    deficincia pode ser induzida por inundao, baixa drenagem ou compactao

    do substrato (Kramer & Kozlowski, 1960 citados por Fonseca, 1988).

    Na zona rural relativamente fcil a obteno de terra de boas

    qualidades fsicas e qumicas, podendo-se recorrer terra de barranco ou

    buscar material mais adequado dentro da propriedade. Entretanto, quando se

    pretende instalar viveiro prximo ou dentro do permetro urbano, na falta de

    outra fonte preciso aproveitar terra de bota fora, retirada do local de obras.

    Nesse caso preciso vistoriar a rea previamente, rejeitando aquela que

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    40

    contenha ervas daninhas, entulho, ou de camadas mais profundas, em geral

    pobres e cidas. O aproveitamento desse material representa dois ganhos do

    ponto de vista ambiental: evita-se a extrao de solo frtil e d-se uso nobre

    terra que normalmente iria para o aterro sanitrio ou para lixes (Yamazoe &

    Vilas Boas, 2003).

    Independentemente da origem, deve-se evitar terra muito argilosa que

    pode empedrar dentro da embalagem, pois, alm de dificultar a drenagem,

    causa problemas de aerao e de encharcamento na poca das chuvas. A

    terra muito arenosa, por outro lado, apresenta boa aerao e drenagem,

    porm, no facilita a reteno de gua e nutrientes e no d consistncia ao

    torro quando o recipiente for retirado para plantio no campo. No se

    recomenda o uso de terra vegetal retirada debaixo da vegetao arbrea, pois

    representa alteraes no sub-bosque e agresso ao meio ambiente (Yamazoe

    & Vilas Boas, 2003).

    A terra de subsolo bastante utilizada como substrato na produo de

    mudas em sacos plsticos. Pode-se utiliz-la tambm misturada com esterco

    de gado, areia, lixo orgnico, etc. Essa terra deve ter uma textura areno-

    argilosa e deve ser peneirada (Martins et al., 1998).

    A terra de subsolo tem o teor de argila entre 20 a 35%, boa

    permeabilidade, consistncia, boa aerao e resistncia ao manuseio (Paiva &

    Gomes, 1995).

    O solo deve apresentar propriedades fsicas e qumicas favorveis ao

    desenvolvimento das plantas, pois, alm de suporte, tambm fonte de

    minerais, gua e ar, que so fatores indispensveis aos seres vivos. As

    condies fsicas do solo afetam fenmenos de suma importncia, quais sejam

    a aerao do solo e a movimentao da gua. As propriedades fsicas do solo

    dependem de vrios fatores, como o tamanho e a disposio das partculas e o

    teor de matria orgnica (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).

    A quantidade e o tamanho das partculas dentro do solo definem a

    textura, que uma caracterstica praticamente estvel. As fraes de areia no

    possuem pegajosidade e plasticidade, tendo pouca capacidade de reteno de

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    41

    gua e nutrientes e, por causa dos poros grandes que separam as suas

    partculas, a percolao de gua rpida. Os solos formados de partculas de

    areia tm baixa capacidade de reteno de gua e nutrientes, mas apresentam

    boa aerao (Sturion, 1981b citado por Paiva & Gomes, 1995).

    O limo funciona praticamente como micropartcula de areia e, por

    possuir maior superfcie do que a areia, pode reter mais gua (Sturion, 1981 b

    citado por Paiva & Gomes, 1995).

    A frao de argila d ao solo a caracterstica de plasticidade e

    pegajosidade com a matria orgnica e com a frao dinmica do solo,

    apresentando alta capacidade de absoro de gua e sais solveis, cedendo

    s plantas parte da gua e dos nutrientes absorvidos (Carneiro, 1983 citado por

    Fonseca, 1988).

    Os substratos base de terra so os mais comuns. O substrato deve ser

    bem drenado, conter quantidade suficiente de matria orgnica e, ou, argila

    para reter umidade e nutrientes e ter coeso necessria para a agregao ao

    sistema radicular. A condio nutritiva do substrato no to importante como

    a sua textura, porque fcil modific-la por meio de fertilizao. Por outro lado,

    a acidez importante (Napier, 1983 citado por Paiva & Gomes, 1995).

    O esterco de gado tem: 62,1 de matria orgnica (M.O.); 18/1 de relao

    Carbono/Nitrognio (C/N); 1,9% de Nitrognio (N); 1,0 de Anidrido Fosfrico

    (P2O5); e 1,6 de xido de Potssio (K2O) (Loures, 1983 citado por Paiva &

    Gomes, 1995).

    O principal valor do esterco no est no fato de ele ser um fornecedor de

    nutrientes s plantas, mas, sim, de contribuir para melhorar as condies

    fsicas, qumicas e biolgicas do solo (Jorge, 1983 citado por Fonseca, 1988).

    O aumento da capacidade de troca catinica, de reteno de gua e de

    circulao de ar, a presena de substncias de crescimento e o aumento da

    agregao so mais importantes que os minerais adicionados pelo esterco

    bovino (Primavesi, 1982 citado por Fonseca, 1988).

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    42

    O valor do esterco como fertilizante depende, sem dvida, do grau de

    decomposio em que se encontra e dos teores que ele apresenta de diversos

    elementos essenciais vida da planta. Essa riqueza em elementos nobres

    depender, essencialmente, da composio primitiva dos restos orgnicos que

    deram origem ao respectivo esterco, dos cuidados com o manejo, durante o

    seu curtimento, e da sua aplicao s culturas beneficiadas (Dorofeeff, 1953

    citado por Fonseca, 1988).

    Na produo de mudas de essncias florestais, o esterco bem curtido

    til em mistura com outros substratos, proporcionando resultados semelhantes

    ao do composto orgnico, porm inferiores (Paiva & Gomes, 1995).

    2.3.3 - SOMBREAMENTO

    A cobertura das mudas com esteiras ou similares foi amplamente

    utilizada com o objetivo de controlar a temperatura, umidade e luminosidade,

    principalmente quando as mudas eram produzidas em sementeiras, para

    posterior repicagem (Paiva & Gomes, 1995). Entretanto, trabalhos recentes tm

    demonstrado que o sombreamento em qualquer nvel prejudicial ao

    crescimento das mudas, bastando o emprego da cobertura morta sobre as

    sementes (Martins et al, 1998).

    O sombreamento empregado hoje apenas quando a produo de

    mudas efetuada por meio de enraizamento de estacas e quando se tratam de

    essncias nativas do interior da mata, clmaces e ombrfilas. O uso de

    sombrites serve a regies sujeitas a geada ou chuvas de granizo (Martins et al.,

    1998).

    A intensidade de luz pode ser controlada com muita eficincia em

    viveiros. Os viveiros a pleno Sol, que no tem nenhum tipo de sombreamento,

    so utilizados com sucesso na produo de mudas de espcies que ocorrem

    naturalmente em fisionomias de Cerrado Tpico e tambm podem ser usados

    para a produo de mudas de espcies pioneiras de Mata de Galeria (Fonseca

    & Ribeiro, 1998).

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    Os viveiros sombreados usualmente so cobertos com folhas de

    palmeiras ou tela sombrite. As construes com folhas de palmeiras so mais

    simples, econmicas e tm a grande vantagem de ajudar no endurecimento

    (aclimatizao) natural das mudas, devido secagem e queda gradativa dos

    fololos das folhas da palmeira. No entanto, a desvantagem que a folhagem

    tem de ser renovada anualmente (Fonseca & Ribeiro, 1998).

    As coberturas feitas com tela sombrite apresentam grande durabilidade

    (quatro a seis anos) e podem ser encontradas em diferentes gradaes de

    sombreamento (25%, 30%, 50%, 60%, 75%, 80% e 90%). Porm,

    obrigatoriamente, as mudas produzidas sob esse tipo de cobertura tm de ser

    aclimatizadas antes de serem levadas ao campo. Viveiros com sombreamento

    devem ser usados preferencialmente na produo de mudas de espcies

    tardias. Logo aps o plantio no campo, as mudas, especialmente de espcies

    tardias, devem ser cobertas com folhas de palmeiras at a completa

    aclimatizao e o estabelecimento no ambiente definitivo (Fonseca & Ribeiro,

    1998).

    Existem vrios trabalhos referentes influncia do sombreamento na

    produo de mudas de espcies florestais. Entretanto, no foi encontrada

    nenhuma referncia sobre a influncia do sombreamento na produo de

    mudas de qualquer tipo de lianas.

    2.4 TESTE DE TETRAZLIO

    A necessidade de mtodos rpidos para estimar ou predizer o

    comportamento das sementes tem sido de longa data reconhecida (Delouche

    et al., 1976). Um dos mtodos mais utilizados atualmente o Teste de

    Viabilidade, mais conhecido como Teste de Tetrazlio.

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    A semente um organismo vivo que, portanto, respira, liberando ons de

    hidrognio. O sal de 2, 3, 5 trifeniltetrazlio, ou simplesmente, tetrazlio (TZ)

    um p branco que quando posto em soluo aquosa em contato com os

    tecidos da semente reage com os ons de hidrognio resultantes da respirao

    formando uma substncia denominada de FORMAZAN que apresenta

    colorao vermelha (Rodrigues & Santos, 1988).

    Teoricamente, os tecidos sadios da semente colorem-se de vermelho

    com a ao do sal de tetrazlio. No entanto, muitos fatores atuam para

    influenciar na colorao obtida e na velocidade da reao. Esses fatores so:

    Integridade dos tecidos; Concentrao da soluo; Grau de deteriorao da

    semente (tecidos mortos, mas no deteriorados, no respiram e, portanto,

    mantm, no teste de tetrazlio, sua cor inalterada, no reagindo com o sal); O

    pH da soluo; Temperatura; e Presso atmosfrica (Grabe, 1959, Metzer,

    1960 e Shuel, 1948 citados por Delouche et al., 1976; Rodrigues & Santos,

    1988).

    A soluo preparada diluindo-se o sal em gua destilada com pH

    neutro (6,5 a 7,0), devendo ser mantida em recipiente escuro em local de

    temperatura amena e constante. A luz afeta a soluo tornado-a vermelha ou

    rsea (Rodrigues & Santos, 1988). O preparo de soluo feito da seguinte

    forma (Delouche et al., 1976):

    Soluo a 0,1%: um grama de tetrazlio em 1.000 ml de gua;

    Soluo a 0,5%: cinco gramas de tetrazlio em 1.000 ml de gua;

    Soluo a 1,0%: dez gramas de tetrazlio em 1.000 ml de gua.

    Segundo Zappia (1979), a quantidade ideal de sementes de quatro

    repeties de 100 sementes cada. No entanto, como comum em sementes

    florestais a obteno de poucas sementes, este nmero pode ser reduzido:

    2 X 100: permite uma boa estimativa da viabilidade;

    2 X 50 ou 1 X 100: ainda possvel obter informaes confiveis;

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    45

    1 X 50: permite apenas uma estimativa aproximada da viabilidade da

    semente.

    desejvel e freqentemente necessrio, pr-condicionar as sementes,

    antes de prepar-las para o teste de tetrazlio (Delouche et al., 1976). As

    sementes podem ser pr-condicionadas permanecendo embebidas em gua

    ou em substrato umedecido, temperatura de 30C por um determinado

    perodo de tempo, que varivel. Esta prtica visa no s permitir o corte ou

    retirada do tegumento, como tambm favorece o aumento da taxa de

    respirao da semente. A embebio deve ser efetuada em meio mido, de

    preferncia em papel mata-borro umedecido, para evitar uma rpida absoro

    da umidade que poderia provocar trincamentos em sementes deterioradas.

    (Rodrigues & Santos, 1988).

    A velocidade com que o sal de tetrazlio atinge os tecidos das

    sementes, colorindo-os, depende do nmero de barreiras que este encontra. O

    preparo da semente nada mais do que uma prtica que visa permitir a rpida,

    mas no brusca penetrao do tetrazlio (Rodrigues & Santos, 1988). Existem

    diversos mtodos gerais para preparar a as sementes para o teste de

    tetrazlio. A escolha de um mtodo especfico depende do tipo de sementes

    que vai ser usado (Delouche et al., 1976).

    Os mtodos de preparo mais usuais so a puno (furar o tegumento,

    recomendado para sementes pequenas); o corte ou seccionamento (utiliza-se a

    parte que contem o embrio); e a retirada do tegumento (indicada em

    sementes com tegumento impermevel gua) (Rodrigues & Santos, 1988).

    2.4.1 LIMITAES DO TESTE DE TETRAZLIO

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    O uso inteligente do teste de tetrazlio requer, pelo menos, o

    conhecimento de suas limitaes. Segundo Delouche et al. (1976), as

    limitaes do Teste de Tetrazlio so:

    a) Embora os resultados do teste de tetrazlio possam ser obtidos dentro de

    um perodo de tempo relativamente curto, geralmente o teste requer um maior

    nmero total de horas de trabalho por pessoa do que o teste de germinao;

    b) Algumas das tcnicas e mtodos do teste de tetrazlio so extremamente

    enfadonhos e requerem tanto pacincia, como experincia;

    c) Naquelas espcies que possuem sementes duras, o teste de tetrazlio no

    indica com preciso as propores germinveis da amostra; entretanto, os

    resultados do teste, corretamente interpretados, devem ser comparveis ao

    total de germinao mais a percentagem de sementes duras;

    d) O teste de tetrazlio no diferencia as sementes dormentes (isto , firmes) e

    as no-dormentes. Ento, naqueles tipos de sementes que apresentam

    dormncia profunda, os resultados desse teste so consideravelmente mais

    altos do que os de germinao. Nos casos em que praticada a classificao

    das sementes firmes, os resultados do teste de tetrazlio devem ser muito

    aproximados do total de germinao mais a percentagem de sementes firmes;

    e) Danos qumicos causados por produtos usados no tratamento das sementes

    (fungicidas, inseticidas, fumigantes), geralmente no so revelados no teste de

    tetrazlio. As sementes quimicamente danificadas se tornam to coloridas

    como as sementes germinveis;

    f) Com o teste de tetrazlio, nem sempre possvel identificar com preciso

    danos mecnicos recentes, ou causados por geadas ou calor;

    g) Uma vez que o teste de tetrazlio no envolve germinao, os

    microorganismos danosos s plntulas germinadas no so identificadas.

    Delouche et al. (1976) ainda afirma que, embora possa parecer que o

    teste de tetrazlio oferea muitas limitaes para uso generalizado,

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    47

    proporo de lotes de sementes em que alguma das limitaes possa se

    manifestar bem pequena.

    Segundo Salomo et al. (2003), o teste de TZ apresenta certos

    inconvenientes. No h um manual de referncias para leitura do padro de

    colorao de sementes de espcies nativas. Isto dificulta a interpretao de

    resultados, e, consequentemente, a quantificao de sementes aptas a

    germinar. Outro inconveniente deste teste que sementes imaturas e viveis

    tm, igualmente, seus tecidos coloridos de vermelho. Neste caso, os resultados

    obtidos em teste de germinao sero numericamente inferiores queles

    obtidos no teste de viabilidade.

    2.5 - FAMLIA MALPIGHIACEAE

    A maioria de representantes trepadeiras, raramente rvores. Folhas

    geralmente inteiras, opostas. Flores reunidas em panculas, em algumas

    espcies amarelas, em algumas cor-de-rosa ou arroxeadas. Largamente

    distribudas na Amrica do Sul (Gemtchjnicov, 1976).

    Essa uma das famlias mais comuns na maioria das formaes

    naturais. Nos cerrados so comuns espcies arbustivas e arbreas,

    principalmente de Byrsonima. Nas dunas litorneas e bordas de matas de

    restinga chamam a ateno espcies de Stigmaphyllon. Os gneros

    Banisteriopsis, Heteropterys e Tetrapterys apresentam um grande nmero de

    espcies e so comuns ao longo de todo o Brasil, especialmente nas bordas de

    florestas (Souza & Lorenzi, 2005).

    Malpighiaceae uma famlia botnica que compreende 71 gneros

    (Lombello & Forni-Martins, 2003) distribudos nos trpicos, especialmente na

    Amrica do Sul. No Brasil, h 38 gneros e aproximadamente 300 espcies

    (Souza & Lorenzi, 2005), com destaque na regio Centro-Oeste. O nome foi

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    idealizado por L. C. Rich, em homenagem ao botnico e professor italiano

    Marcello Malpighi (1628 1694).

    A famlia Malpighiaceae tem cerca de 1.250 espcies de rvores,

    arbustos, trepadeiras ou ervas, de distribuio pantropical, embora

    particularmente abundante nos trpicos (Ramalho, 2003). Nos Neotrpicos, a

    famlia Malpighiaceae possui cerca de 950 espcies distribudas em 47

    gneros endmicos (Anderson, 1979). Nesta regio, as espcies de

    Malpighiaceae ocupam ambientes abertos, tais como cerrados, campos,

    margens de rios, florestas pluviais, florestas mesfilas e restingas. Os membros

    desta famlia apresentam grande heterogeneidade de hbito, frutos, plen e

    nmero cromossmico, porm suas flores possuem arquitetura geral muito

    uniforme, o que tem acarretado problemas taxonmicos (Arajo, 1994).

    As folhas so simples, pecioladas ou ssseis, opostas, estipuladas,

    inteiras, denteadas ou lobadas, com glndulas visveis a olho nu, presentes na

    base do pecolo e/ou base e borda da folha ou espalhadas pela lmina foliar

    (Attala, 1997). As folhas podem ser glabras ou pilosas, podendo os plos ser

    persistentes ou caducos, filamentosos ou em forma de T. Estes ltimos

    comumente denominados plos malpighiceos, por serem muito freqentes

    na famlia (Metcalfe & Chalk, 1950).

    Os plos malpighiceos caracterizam-se por apresentarem dois braos

    de tamanhos iguais ou desiguais, mais ou menos horizontais, ligados planta

    por uma haste curta ou longa (Metcalfe & Chalk, 1950). Os plos

    malpighiceos, alm da forma de T, podem ser em forma de Y ou com um

    dos lados muito maior que o outro (Gates, 1977).

    As flores das malpighiceas so de tamanho mediano, porm

    abundantes e reunidas em vistosas inflorescncias, e so visitadas por abelhas

    e mamangavas. Os frutos de algumas espcies tm finssimos plos que

    podem provocar coceira se manuseados (Ramalho, 2003).

    O mesofilo dorsiventral ou isolateral, com parnquima palidico

    constitudo por clulas altas. Podem ocorrer clulas armazenadoras de gua de

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    localizao varivel; esta variabilidade pode apresentar valor taxonmico em

    nvel especfico. Os feixes vasculares das nervuras podem ou no apresentar

    tecido mecnico. comum a ocorrncia de clulas com incluses de oxalato

    de clcio na forma de drusas (Metcalfe & Chalk, 1950; Beiguelman, 1962;

    Giulietti, 1971).

    O pecolo exibe um feixe vascular central em forma de arco, podendo

    ser acompanhado por feixes pequenos e acessrios em posio latero-superior

    (Metcalfe & Chalk, 1950).

    Nas Malpighiaceae, a inflorescncia , em geral, racemosa, podendo ser

    auxiliar em Hiptage, Tetrapteris e Bunchosia, ou terminal em Camarea,

    Galphimieae e Byrsoniminae, ocorrendo flores isoladas em algumas espcies

    de Malpighia (Niendenzu, 1928a citado por Mamede, 1981). Em Banisteriopsis,

    os ltimos ramos da inflorescncia so racemosos, mas h uma grande

    variao entre as espcies quanto ao nmero de flores dos ltimos ramos

    (Attala, 1997).

    As flores so pentmeras, hermafroditas, raramente unissexuais. O

    clice sinspalo; as spalas so castanhas ou verdes, excepcionalmente

    vermelhas em Diplopterys rsea (Miq.) Nied (Mamede, 1981). As flores so

    vistosas. O clice pentmero, geralmente dialisspalo. As ptalas geralmente

    so ungiculadas e com margem franjada, frequentemente uma destas (labelo)

    diferente no tamanho, formato ou colorao das demais (Souza & Lorenzi,

    2005).

    Os gneros americanos podem ser caracterizados pela presena de

    glndulas basais na face dorsal das spalas. O nmero de glndulas varia de

    seis a oito em Malpighia L., Banisteriopsis (oito), Stigmaphyllon, at dez em

    Byrsonima (Mamede, 1981). Os leos existentes nestas glndulas so

    componentes essenciais da dieta larvria das abelhas da famlia Anthophoridae

    (Sazima & Sazima, 1989 citado por Arajo, 1994).

    O androceu formado por dez estames. Nos gneros considerados

    mais primitivos, os estames so do mesmo tamanho, enquanto que nos mais

    evoludos, os estames do verticilo interno so mais longos e com filetes mais

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    grossos ou, como em Mascagniinae e Banisteriinae, pode ocorrer reduo no

    nmero de estames, com presena de estamindios (Arechavaleta, 1900;

    Mamede, 1981). Os estames so livres ou ocasionalmente unidos na base

    (Souza & Lorenzi, 2005).

    O gineceu tricarpelar, sendo raramente bicarpelar, por aborto de um

    dos lculos. Os estiletes so livres entre si, exceto em algumas espcies de

    Bunchosia, e podem ser longos e delgados ou curtos e espessados (Mamede,

    1981).

    Nas Gaudichaudioideae, o fruto seco, indeiscente e alado, com duas

    asas dorsais em Heteropterys, Banisteriopsis, Peixotoa e Stigmaphyllon, duas

    asas laterais em Mascagnia e Hiraea ou quatro asas em forma de X em

    Tetrapteris. Nas Malpighioideae, pode ser do tipo cpsula deiscente em

    Spachea e Galphimia, tricoca indeiscente em Tryallis, drupa em Malpighia,

    Byrsonima e Bunchosia, ou noz em Dicella, Glandonia e Burdachia (Mamede,

    1981).

    H destaque econmico s drupas da Acerola (Malpighia emarginata),

    com alto teor de vitamina C. H muitas plantas ornamentais, principalmente

    dos gneros Byrsonima, Galphimia, Malpighia e Stigmaphyllon (Watson &

    Dallwitz, 1992), Peixotoa e Banisteriopsis (Lorenzi & Souza, 1999, citados por

    Lombello & Forni-Martins, 2003).

    As Malpighiaceae so conhecidas pelas suas propriedades alimentcias,

    tnicas, medicinais e txicas (Attala, 1997). Banisteriopsis caapi possui o

    alcalide banisterina (semelhante harmina encontrado nas Rutaceae). As

    cascas da maioria das espcies de Byrsonima, ricas em tanino, so

    amplamente empregadas no curtume de peles de animais (Pereira, 1953). No

    Planalto Central Brasileiro utiliza-se a casca de Byrsonima crassa Nied. para

    esse mesmo fim (Hermans, 1978 citado por Mamede, 1981).

    Os frutos maduros de B. crassifolia e de outras espcies de murici so

    empregados no Mxico como condimentos para sopas e ensopados. Frutos de

    diversas outras espcies de Byrsonima so empregados na fabricao de

    bebidas, refrigerantes e de doces, especialmente nas regies Norte e Nordeste

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    do Brasil (Pereira, 1953). Tambm utilizado no Centro-Oeste na fabricao de

    licores regionais, frequentemente comercializados (Rizzo, 1998 citado por

    Attala, 1997).

    No Distrito Federal ocorrem 65 espcies de Malphighiaceae (Ramalho,

    2003).

    2.5.1 GNERO Banisteriopsis

    Todas as espcies de Banisteriopsis so lenhosas. As sees novas de

    tronco, ou das partes dos arbustos que so renovadas anualmente, tm a

    medula composta de parnquima cilndrico, cercado por um anel completo de

    xilema e de floema. Na borda interna do xilema, numerosos pontos do xilema

    primrio so frequentemente visveis, e em partes muito novas as posies dos

    pacotes vasculares, originalmente discretos, podem ser detectadas (Gates,

    1977).

    No gnero Banisteriopsis C. B. Robinson ex Small, as glndulas visveis

    presentes nas folhas esto localizadas no pice do pecolo, base, borda ou

    espalhadas pela lmina foliar (Ramalho, 2003). As glndulas foliares esto

    presentes em todas as espcies de Banisteriopsis; algumas vezes esto

    restritas ao pecolo (por exemplo, B. nitrosiodora, B. heterostyla), mas

    usualmente esto na lmina foliar. As glndulas na lmina so marginais, ou

    concentradas na parte abaxial da folha. As glndulas marginais quando

    presentes so, em geral, uniformemente distribudas ao longo da margem (s

    vezes com o par basal mais largo), ou concentradas no pice da folha (Gates,

    1977).

    Janzen (1966, citado por Gates, 1977) sugeriu que a secreo das

    glndulas foliares tem o propsito de atrair formigas para a planta,

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    desencorajando desse modo a predao. Gates (1977) observou em campo

    que h pouca herbvora de folhas ou de botes de flores.

    O clice sempre pentmero. Em B. caapi, B. muricata, B. parviflora e

    B. martiniana o clice apresenta formas com glndulas e sem glndulas na

    mesma espcie, o que sugere que as glndulas no tm funo como atrativo

    para os polinizadores dessas espcies (Gates, 1977).

    Em todas as espcies de Banisteriopsis, exceto B. laevifolia e B.

    leiocarpa, a ptala posterior diferente das outras quatro ptalas; usualmente

    a ptala posterior fica ereta e age como uma bandeira para atrair e orientar

    insetos polinizadores, enquanto que as outras ptalas so recurvadas entre as

    spalas e so orientadas em noventa graus ou mais da linha central da flor. As

    ptalas em Banisteriopsis podem ser brancas, rosas ou amarelas (Gates,

    1977).

    Sempre h dez estames frteis em Banisteriopsis, consistindo de dois

    conjuntos opostos s ptalas e spalas respectivamente (Gates, 1977).

    O gnero Banisteriopsis um dos mais abundantes e difundidos entre

    os gneros de Malpighiaceae. A mais recente monografia do gnero, feita por

    Gates (1982), reconhece 92 espcies. Este gnero sempre apresentou

    dificuldades para os taxonomistas em virtude da variabilidade morfolgica das

    plantas, sinonmia das espcies e problemas nomenclaturais do prprio gnero

    (Gates, 1982; Makino-Watanabe, 1993). Muitas variaes ocorrem dentro

    de uma espcie, ou at mesmo dentro de um indivduo (Gates, 1977).

    Sobre o gnero Banisteriopsis, Gates (1977) afirma que inteiramente

    distribudo no Novo Mundo. Poucas espcies ocorrem no Mxico e Argentina,

    mas a maioria restrita aos trpicos, com a grande maioria no Brasil. Gates

    (1977) ainda afirma que a maioria das espcies cresce exclusivamente na

    regio do Planalto Central do Brasil, no Cerrado, sendo poucas na Floresta

    Amaznica e na Mata Atlntica.

    A espcie Banisteriopsis caapi dicotilednea, Angiosperma, tendo sua

    classificao botnica completa apresentada pela Tabela 1.

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    Tabela 1 - Classificao botnica de Banisteriopsis

    caapi

    Reino: Plantae

    Sub-reino: Tracheobionta

    Superdiviso: Spermatophyta Diviso: Magnoliophyta

    Classe: Magnoliopsida Subclasse: Rosidae Super-ordem: Geranianae

    Ordem: Polygalales (Malpighiales)

    Famlia: Malpighiaceae Subfamlia: Gaudichaudioideae

    Gnero: Banisteriopsis C. B. Robins ex Small

    Espcie: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb) Morton

    Segundo Couto (1989), em relao ao descobrimento desta espcie, em

    1852, Spruce afirmou:

    Havia quase uma dezena de plantas adultas de

    caapi trepando pelas rvores ao longo da roa

    (parcela cultivada