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UNIVERSIDADE FEDEERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO (UFERSA) DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS VEGETAIS PROFESSOR: VANDER MENDONÇA [email protected] Vander Mendonça Wallace Edelky de Souza Freitas Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas João Paulo Nobre de Almeida Eduardo Castro Pereira Vander Mendonça Wallace Edelky de Souza Freitas Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas João Paulo Nobre de Almeida Eduardo Castro Pereira

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  • UNIVERSIDADE FEDEERAL RURAL DO SEMI-RIDO (UFERSA) DEPARTAMENTO DE CINCIAS VEGETAIS

    PROFESSOR: VANDER MENDONA [email protected]

    Vander Mendona Wallace Edelky de Souza Freitas

    Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas Joo Paulo Nobre de Almeida

    Eduardo Castro Pereira

    Vander Mendona Wallace Edelky de Souza Freitas

    Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas Joo Paulo Nobre de Almeida

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  • Propagao de plantas frutferas

    Vander Mendona Wallace Edelky de Souza Freitas

    Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas Joo Paulo Nobre de Almeida

    Eduardo Castro Pereira

    Autores:

    Vander Mendona Possui Graduao em Engenharia Agronmica pela Universidade Federal de Lavras (1997), Mestrado em Agronomia/Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-rido (2000), Doutorado em Agronomia (Fitotecnia/Fruticultura) pela Universidade Federal de Lavras (2005) e Ps-Doutorado em Agronomia (Fitotecnia/Fruticultura) pela Universidade Federal de Lavras (2011). Atualmente professor adjunto III na Universidade Federal Rural do Semi-rido (UFERSA), responsvel pelas disciplinas: Fruticultura (Graduao), Propagao de Frutferas, Fruticultura Tropical II e Citricultura (Ps-graduao) e tambm Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq Nvel 2. E-mail: [email protected]

    Wallace Edelky de Souza Freitas Graduado em Engenharia Agronmica pela Universidade Federal do Semi-rido. Bolsista de Apoio Tcnico a Pesquisa do CNPq - Nvel 1

    Lydio Luciano de Gois Ribeiro Dantas Graduao em andamento em Engenharia Agronmica. Universidade Federal do Semi-rido. Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    Joo Paulo Nobre de Almeida Graduao em andamento em Engenharia Agronmica. Universidade Federal do Semi-rido. Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    Eduardo Castro Pereira Graduao em andamento em Engenharia Agronmica. Universidade Federal do Semi-rido. Bolsista: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    1. PROPAGAO DE FRUTFERAS As rvores frutferas, em geral, propagam-se

    tanto por via sexual, ou gmica, ou seminpara, como por via vegetativa, ou assexuada, ou agmica. Para diferenciar esses dois modos de propagao, d-se o nome de reproduo propagao sexuada e o de multiplicao aos processos de propagao vegetativa.

    A transmisso das caractersticas da planta depende dos gens presentes nos cromossomos.

    A soma total dos gens determina o gentipo da planta. Em combinaco com o ambiente, o gentipo produz uma planta com uma determinada aparncia, o fentipo.

    Cultivar sinnimo de variedade. So plantas idnticas, com as mesmas caractersticas. A palavra cultivar resultado da contrao das palavras inglesas cultivated variety. Os melhoristas de plantas, seguindo essa linha de raciocnio, conceituam cultivar como um material gentico melhorado (planta ou populao de plantas) e sob cruzamento controlado, enquanto que o termo variedade, usa-se para definir um material gentico de cruzamento livre, e portanto com alta variabilidade gentica.

    1.1 - Propagao por semente

    As plantas obtidas por sementes apresentam grandes variaes. Assemelham-se aos seus progenitores, porm no so idnticas a eles, nem entre si. Apresentam uma variabilidade em conseqncia da constituio gentica, devido segregao e recombinao de gens que tm lugar no processo de reproduo sexual.

    Quando as plantas propagadas so homozigotas e predomina a autofecundao, tm-se linhagens praticamente puras, que apresentam caractersticas idnticas s das plantas das quais provieram. Essas caractersticas so difceis de ser mantidas, dado que, na natureza, a polinizao cruzada mais comum.

    As plantas que produzem sementes poliembrinicas possibilitam a sua propagao por meio de sementes e a manuteno da constituio gentica idntica, pois so procedentes de embries nucelares e de origem somtica.

    As plantas triplides, que normalmente apresentam forma vegetativa maior que as diplides, apresentam quase sempre uma grande esterilidade, devido irregularidade da meiose, e seus frutos tm pouca ou quase nenhuma semente. , portanto, difcil sua propagao sexuada.

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    1.1.1 Vantagens e desvantagens

    As vantagens e as desvantagens do uso da propagao sexuada em fruticultura encontram-se na Tabela 1.1. Vantagens e desvantagens da propagao sexual em plantas frutferas.

    VANTAGENS DESVANTAGENS * Maior longevidade * Dissociao dos caracteres

    (segregao gentica) * Desenvolvimento vigoroso * Frutificao mais tardia * Obteno de variedades * Porte elevado * Obteno de plantas livres de doenas

    * Presena de espinhos (em algumas variedades)

    * Perpetuao da espcie por bancos de germoplasma

    * Heterogeneidade entre plantas (porte, arquitetura, fenologia)

    * Sistema radicular mais vigoroso e profundo

    * Irregularidade de produo (cor, caractersticas organolpticas, tamanho)

    * Menor custo Fonte: Adaptado de Fachinello et al., 1995.

    Plantas propagadas por sementes apresentam o fenmeno da juvenilidade, que uma fase normalmente de longa durao, na qual a planta no responde aos estmulos indutores do florescimento. Plantas em estado juvenil tendem a apresentar caractersticas, tais como a presena de espinhos, folhas lobuladas, ramos trepadores, fcil enraizamento e menor teor de RNA (cido ribonucleico). Durante a juvenilidade no h produo de frutos, o que acarreta um prolongamento do perodo improdutivo do pomar.

    O porte mais elevado pode representar uma desvantagem nas prticas de manejo do pomar, como na poda, raleio, colheita e tratamentos fitossanitrios. Alm disso, a propagao sexuada pode induzir a desuniformidade das plantas e da produo, normalmente indesejadas em pomares comerciais.

    1.1.2. Emprego de sementes

    A semente o processo natural de disseminao das espcies. Em fruticultura, porm, o uso de sementes restrito e delimitado a determinados casos, tais como:

    plantas que no podem ser propagadas por outro meio;

    obteno de porta-enxertos; obteno de variedades novas; obteno de clones nucelares; sementes poliembrinicas; plantas homozigotas.

    Plantas que no podem ser propagadas por outro meio

    Certas espcies, como o coco-da-baa e o mamo, dificilmente poderiam ser propagadas comercialmente se no fosse por meio de sementes. Nesse caso, procura-se obter plantas to uniformes quanto possvel, para evitar o aparecimento de tipos distintos dos desejados.

    Obteno de porta-enxertos

    A fruticultura moderna assenta-se na propagao vegetativa, isto , na enxertia das variedades comerciais sobre porta-enxertos, obtidos em muitos casos a partir de sementes, como em citros, abacate, caju, manga, caqui etc.

    Obteno de variedades novas

    Toda variedade que se pretenda conseguir deve reunir qualidades superiores s existentes, porm, em fruticultura, isso nem sempre fcil de obter, dado o alto grau de heterozigose e, portanto, a grande variabilidade dos descendentes. A mangueira, que vem sendo cultivada h mais de 5.000 anos, poucos resultados apresentou com os cruzamentos e, em citros, as tentativas, durante os ltimos cinqenta anos, de obteno de variedades novas, altamente econmicas, falharam. Se, de um lado, dificilmente se obtm novas variedades com cruzamentos dirigidos, de outro, tal processo tem sido favorvel, como no caso do pssego, da ma, da tmara, do caqui etc. H tambm a possibilidade de obter plantas triplides ou tetraplides que, em algumas espcies, apresentam valor comercial.

    Hoje, com a biotecnologia, podem-se obter plantas transgnicas, hbridas e novas variedades.

    Obteno de clones nucelares

    O clone nucelar ou variedade revigorada obtida a partir de sementes poliembrinicas, que reproduzem as mesmas caractersticas das plantas matrizes.

    A poliembrionia um fenmeno pelo qual se forma mais de um embrio em uma semente. Isso freqente em manga, citros e algumas outras plantas.

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    Os embries so de origem nucelar e possuem caractersticas genticas semelhantes, no passando, portanto, de uma multiplicao vegetativa que se d na semente, pois nada mais do que uma propagao somtica.

    A polinizao parece ser, em quase todos os casos, necessria para ativar a formao de sementes e embries nucelares.

    Os embries nucelares, ao se desenvolverem, estabelecem uma concorrncia entre si e, muitas vezes, o embrio gamtico reduzido, de forma a ser eliminado.

    A concorrncia entre os embries se d tanto em relao ao espao a ocupar como em relao nutrio.

    A eliminao do embrio gamtico, em alguns casos, ao que parece, est ligada sua posio, pois ele se situa no pice do saco embrionrio e, portanto, em posio desvantajosa em relao aos embries nucelares quanto nutrio, atravs dos feixes vasculares. O embrio sexual pode germinar, porm, por ser de constituio gentica mais fraca, ou por atrasar o inicio da germinao, ou por ser de crescimento inicial mais lento, sendo dominado pelos embries nucelares.

    O nmero de embries por semente varia de acordo com a espcie, a variedade e as condies climticas. Em citros, encontram-se de dois a quarenta e, em manga, tm-se registrado at dezesseis embries nucelares.

    - Apomixia

    Resulta da produo de um embrio que ultrapassa o processo de meiose e fertilizao.

    O gentipo do embrio e o da planta resultante seriam o mesmo da semente.

    A produo dessa semente assexuada e dita apomctica.

    A apomixia pode ser obrigatria sementes que s produzem embries apomcticos ou facultativa quando produzem embries apomcticos e sexuais.

    - Poliembrionia

    Clulas especficas do nucelo ou do tegumento tm potencial embriogentico. Geralmente, esses embries tm o mesmo gentipo e so tambm apomcticos nessas espcies. Ambos, embrio e zigoto apomctico, necessitam do estmulo da polinizao para serem produzidos.

    Sementes poliembrinicas Quando certas variedades apresentam

    sementes poliembrinicas, possvel, porm nem sempre desejvel, a propagao delas diretamente de sementes (Figura 5.1). Figura 5.1. Detalhes de sementes monoembrinica e

    poliembrinicas de Poncirus trifoliata. Elas devero transmitir as mesmas

    caractersticas, mas esto sujeitas a variaes, por germinao do embrio sexuado. Alm do mais, o inicio da produo sempre retardado e as plantas tendem a atingir dimenses maiores do que as enxertadas.

    1.1.3. Escolha das matrizes

    Uma das principais utilizao das sementes para a obteno de porta-enxertos.

    Deve-se selecionar a rvore para a colheita de sementes.

    As rvores escolhidas so denominadas matrizes e devem apresentar os seguintes requisitos:

    vigor; sanidade; regularidade de produo; qualidade dos frutos; idade. O vigor de uma planta caracterstica

    importante, por se encontrar relacionada sanidade e produtividade. A regularidade de produo constitui importante caracterstica de valor econmico. H rvores que apresentam produo alternada e outras, produo constante. Sendo possvel, prefervel escolher a segunda para a propagao, por possibilitar maior estabilidade ao fruticultor.

    As rvores devem tambm ser selecionadas pelas qualidades dos frutos. H variedades que, quando multiplicadas por sementes, apresentam frutos com diferentes sabores, uns mais doces, outros mais cidos. O teor vitamnico, a forma dos frutos, bem como a colorao, variam de rvore para rvore.

    A idade da planta para retirada de frutos apresenta valor at certo ponto relativo. Sabe-se que plantas novas, bem como as velhas ou em decrepitude, apresentam sementes com menor poder germinativo. Nas primeiras, as reservas so destinadas constituio da copa, e nas velhas, em virtude de estarem em decadncia, apresentam-se subnutridas.

    Devem-se preferir sempre rvores de idade mdia, isto , as j formadas e antes de mostrarem sinais de decrepitude.

    um embrio um embrio

    dois embries trs embrio

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    1.1.4. Escolha dos frutos

    A escolha dos frutos para a retirada de sementes deve ser feita levando-se em considerao os seguintes aspectos:

    conformao; tipo-padro; sanidade; maturao. Escolhidas as plantas matrizes, passa-se

    escolha dos frutos que apresentam as caractersticas desejadas. De preferncia, eles devem ser colhidos na periferia da copa, evitando os pouco expostos luz. Quanto maturao, deve-se atentar para que o fruto tenha atingido a sua maturao flsiolgica. Muitas vezes, ele encontra-se morfologicamente maduro, porm essa maturao no coincide com a flsiolgica; outras vezes, a maturao flsiolgica antecede a morfolgica, como ocorre com mangueiras, citros e mirtceas.

    A observao do estgio de maturao de importncia na conservao do poder germinativo das sementes.

    1.1.5. Escolha das sementes

    Sendo as sementes o material bsico na propagao, devem-se selecion-las com critrio, levando-se em considerao: tamanho, sanidade, poder germinativo e tamanho normal (volume e peso), de acordo com a variedade ou espcie a que pertencem. As sementes maiores possuem sempre maiores quantidades de reservas e, portanto, do origem a rvores mais vigorosas.

    Com relao sanidade, sabe-se que todas as sementes que apresentam aspecto distinto do normal devem ser eliminadas.

    O poder germinativo das sementes e sua longevidade devem ser conhecidos para maior garantia. H espcies cujo poder germinativo dura somente algumas semanas e outras, vrios anos.

    As sementes provenientes de plantas que mostram grandes variaes no seu desenvolvimento comunicam aos enxertos alteraes semelhantes, razo pela qual se deve ter coleo de plantas matrizes para a retirada de sementes.

    1.1.6. Fatores que afetam a germinao das sementes

    A germinao abrange todo o processo que vai desde a ativao dos processos metablicos da semente at a emergncia da radcula e da plmula. O percentual de germinao depende de fatores internos e externos. Como fatores internos, podem ser citados o estado de dormncia, a qualidade da semente e o potencial de germinao da espcie. Os fatores externos mais importantes so gua, temperatura, gases e luz.

    - Fatores internos

    Dormncia

    A dormncia representa uma condio em que o contedo de gua nos tecidos pequeno e o metabolismo das clulas praticamente nulo, permitindo que a semente seja mantida sem germinar durante um perodo relativamente longo.

    Segundo HARTMANN & KESTER (1990), a dormncia pode ser classificada em:

    Dormncia devida aos envoltrios da semente:

    Dormncia fsica - a testa ou partes endurecidas dos envoltrios da semente so impermeveis gua, mantendo-a dormente (quiescente) devido ao seu baixo contedo de umidade.

    Dormncia mecnica - os envoltrios impem urna resistncia mecnica expanso do embrio. Em geral, a dormncia mecnica est associada com outras causas de dormncia, como a fsica.

    Dormncia qumica - substncias inibidoras da germinao, tais como fenis, cumarinas e cido abscsico, esto associadas ao fruto ou aos envoltrios da semente.

    Dormncia Morfolgica:

    Embrio rudimentar - quando o embrio pouco mais do que um pr-embrio envolvido por um endosperma.

    Embrio no-desenvolvido - quando, na maturao do fruto, o embrio encontra-se parcialmente desenvolvido. Um crescimento posterior do embrio se dar aps a maturao e senescncia do fruto.

    Dormncia Interna:

    Dormncia fisiolgica - comum na maioria das plantas herbceas. Ocorre devido a mecanismos internos de inibio e tende a desaparecer com o armazenamento a seco. Existem dois casos especiais de dormncia fisiolgica:

    a) - dormncia trmica - a germinao inibida em temperaturas superiores a um limite, varivel conforme a espcie;

    b) fotodormncia - ocorre em espcies cujas sementes necessitam de escuro para germinarem. Na presena de luz, no h germinao.

    Dormncia interna intermediria - caracterstica de conferas e induzida pela presena dos envoltrios ou tecidos de armazenamento da semente.

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    Dormncia do embrio - ocorre quando o embrio incapaz de germinar normalmente, mesmo que separado da semente.

    Dormncia do epictilo - ocorre quando a exigncia do epictilo, para germinao, diferenciada da do embrio.

    Qualidade da semente

    A qualidade da semente pode ser expressa por dois parmetros: viabilidade e vigor. A viabilidade expressa pelo percentual de germinao, o qual indica o nmero de plantas produzidas por um dado nmero de sementes. O vigor definido como sendo a soma de todos os atributos da semente que favorecem o estabelecimento rpido e uniforme de uma populao no campo.

    Uma semente em senescncia se caracteriza por apresentar urna diminuio gradual do vigor e subseqente perda da viabilidade.

    Potencial de germinao da espcie As sementes da maioria das plantas perenes

    apresentam dificuldade de germinao, requerendo a utilizao de mtodos de superao da dormncia. Na maioria das vezes, a diferena de potencial de germinao entre espcies e cultivares devida interao entre os diversos fatores que podem afetar a viabilidade da semente. No somente a germinao influenciada pelo fator gentico, como tambm o vigor e a longevidade.

    - Fatores externos

    gua A gua necessria para ativao do

    metabolismo da semente no momento da germinao. O teor de gua mnimo para germinao depende da espcie, variando entre 40 e 60% de gua, com base no peso da semente.

    Temperatura o fator mais importante para a germinao,

    pois exerce influncia nas reaes metablicas, afetando tambm o crescimento das plntulas. Conforme a espcie, as temperaturas mnimas, timas e mximas so bastante variveis, sendo que a temperatura tima, para a maioria das sementes que no se encontram em repouso, varia de 25 a 30C. Temperaturas alternadas so geralmente mais favorveis do que temperaturas constantes.

    Gases O oxignio, em geral, favorece a germinao,

    por ativar o processo da respirao. J o CO2, em concentraes elevadas, pode impedir ou dificultar o desencadeamento deste processo. Luz

    O efeito da luz sobre a germinao das

    sementes varivel de espcie para espcie, ainda que a luz sempre favorea o crescimento das plntulas. A germinao das sementes da grande maioria das plantas cultivadas no afetada pela luz, porm sementes de muitas plantas daninhas apresentam exigncias de luz variveis, sendo algumas favorecidas e outras inibidas pela luz. A presena ou ausncia de luz s efetiva aps a embebio da semente e atua na remoo de um bloqueio no metabolismo do embrio.

    1.1.7. Escolha dos frutos

    Da mesma forma que para a escolha das plantas matrizes, a escolha dos frutos deve obedecer a alguns critrios, como sanidade e maturao. Como regra geral, os frutos atacados por doenas, pragas, ou cados no cho, devem ser descartados, como forma de evitar uma possvel contaminao das sementes. Os frutos tambm devem ter atingido a maturao fisiolgica, de maneira que as sementes encontrem-se completamente desenvolvidas.

    1.1.8. Extrao das sementes

    As sementes, no momento da colheita, esto envolvidas pelos frutos, os quais, de acordo com suas caractersticas, so divididos em dois grandes grupos: secos e carnosos. Os frutos secos liberam as sementes por deiscncia ou por decomposio das paredes. Este tipo de fruto no tem grande expresso na fruticultura, pois a maioria dos frutos de importncia econmica so carnosos. Quando um fruto carnoso formado por um ou mais carpelos, contendo uma ou mais sementes, como o caso da uva, ma, pra, citros, caqui, entre outros, genericamente chamado de baga. Quando o fruto formado por um nico carpelo que contm no seu interior uma s semente, como pssego e ameixa, chamado de drupa.

    Para extrao das sementes de frutos carnosos, estes devem estar maduros, a fim de facilitar a separao da polpa e da semente. Deve-se tomar o cuidado para no deixar restos de polpa aderidos semente, os quais, pela sua decomposio e fermentao, podem provocar srios danos ao poder germinativo. Caroos com polpa aderida e mantidos amontoados podem ter sua temperatura aumentada, em virtude da fermentao, a ponto de prejudicar a viabilidade do embrio, reduzindo o poder germinativo e vigor da plntula.

    1.1.9. Conservao das sementes

    A finalidade da conservao das sementes

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    manter a sua viabilidade pelo maior tempo possvel, de modo a permitir a semeadura na poca mais adequada, bem como garantir a manuteno do germoplasma na forma de semente.

    A viabilidade aps o armazenamento resultante dos seguintes fatores:

    a) viabilidade inicial na colheita, determinada por fatores de produo e mtodos de manejo. No caso de sementes que no requerem quebra de dormncia, o armazenamento pode, no mximo, manter a qualidade das mesmas;

    b) taxa de deteriorao das sementes, tambm denominada de taxa de trocas flsiolgicas ou envelhecimento. Esta determinada pelo potencial gentico de conservao da espcie e pelas condies de armazenamento, principalmente temperatura e umidade.

    A durabilidade da semente bastante varivel com a espcie. Podem ser encontradas desde espcies cujas sementes perdem rapidamente o seu poder germinativo em condies naturais, como outras que mantm o poder germinativo por longos perodos. As sementes de citros armazenadas em condies normais perdem rapidamente o seu poder germinativo devido dessecao dos tecidos. Sementes com embries dormentes, como macieira, pereira e videira, possuem maior capacidade de conservao, mesmo em ambiente normal. conveniente lembrar que, quanto maior for o perodo de armazenamento da semente, maior ser o consumo das substncias de reserva, resultando assim numa reduo do vigor do embrio.

    As caractersticas das sementes podem determinar seu potencial de conservao. Sementes amilceas apresentam, em geral, maior longevidade do que sementes oleaginosas. Alm disso, sementes com embries dormentes e envoltrio impermevel apresentam maior tempo de conservao.

    No que se refere a condies ambientais, a relao umidade/temperatura muito importante na reduo da taxa de respirao. Para a maioria das espcies, ambientes com baixo teor de umidade, acompanhados de baixas temperaturas, oferecem condies adequadas para prolongar a conservao das sementes. Alm disso, a modificao da atmosfera de armazenamento, especialmente na reduo do teor de oxignio, mostra-se favorvel manuteno do poder germinativo da semente.

    No que se refere umidade da semente, acima de 8 a 9% de umidade, insetos podem entrar em atividade; acima de 12 a 14%, fungos podem tornar-se ativos; acima de 18 a 20%, pode ocorrer aquecimento devido fermentao; e acima de 40 a 60%, ocorre germinao. Caso a semente seja tolerante dessecao, importante que ela seja mantida com baixo teor de umidade.

    As baixas temperaturas prolongam a vida das sementes, sendo que, em temperaturas de 0 a 450C,

    cada diminuio de 50C duplica a vida de armazenamento destas.

    - Meios de conservao H inmeros processos para manter a

    viabilidade do poder germinativo. Dentre eles, destacam-se os seguintes:

    conservao em sacos de polietileno; estratificao; cmaras frigorficas; cloreto de clcio; vcuo.

    1.1.10. Superao da dormncia

    O tratamento para superao da dormncia varia com o tipo de dormncia que a semente apresenta.

    Aumento da permeabilidade dos envoltrios

    utilizado quando a causa da dormncia a impermeabilidade do tegumento da semente. A escarificao o mtodo que objetiva tornar os envoltrios da semente mais permeveis entrada de gua e a trocas gasosas, bem como facilitar a emergncia da radcula e/ou da plmula, podendo ser realizada por mtodos fsicos, qumicos ou mecnicos.

    Mtodo fsico - consiste na imerso da semente em gua quente, entre 65 e 850C, durante 5 a 10 minutos. A temperatura elevada diminui a resistncia dos envoltrios e facilita a germinao.

    Mtodo qumico - consiste no tratamento das sementes com hidrxido de sdio ou de potssio, formol e cido clordrico ou sulfrico, em geral por um tempo entre 10 minutos at 6 horas, conforme a espcie. Dessa forma, os tegumentos so desgastados e a germinao facilitada. E importante que sejam eliminados todos os resduos de cido que, aderidos semente, podem prejudicar a germinao, o que pode ser feito atravs de lavagem em gua corrente.

    Mtodo mecnico - pode ser realizado com uso de uma superfcie abrasiva, agitao em areia ou pedra ou por quebra dos envoltrios. Deve-se ter cuidado para que o embrio no seja danificado. As sementes escarificadas tornam-se mais sensveis ao ataque de patgenos.

    Maturao do embrio

    Destina-se superar a dormncia da semente atravs do amadurecimento do embrio ou do estabelecimento de um balano hormonal favorvel germinao. Isso obtido pelo armazenamento das sementes em ambiente mido e frio por um determinado perodo (estratificao).

    De um modo geral, o meio adequado para a estratificao aquele que retm um adequado teor de umidade e no contm substncias txicas. Como

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    exemplos, podem-se citar o solo, areia lavada, musgo, vermiculita e serragem ou a mistura destes. Camadas de sementes so intercaladas com camadas de substrato temperatura ambiente ou em cmaras refrigeradas, com temperaturas entre O e 100C.

    O perodo de armazenamento varia conforme a espcie, sendo que, para a maioria, est compreendido entre 1 e 4 meses. Durante a estratificao, deve-se ter cuidado com o teor de umidade do substrato e com a eventual germinao das sementes antes que o perodo previsto para a estratificao das sementes esteja terminado.

    Em variedades precoces, nas quais em geral o embrio no esta completamente desenvolvido quando da maturao do fruto, muitas vezes necessrio cultivar o embrio em meio de cultura adequado, permitindo que seja completado o seu desenvolvimento. Este processo utilizado em cultivares precoces de pessegueiro que se destinam ao melhoramento gentico.

    1.1.11. Manejo das sementeiras

    Antes da semeadura em viveiro, importante que se adote um tratamento das sementes com fungicida ou hipoclorito de sdio. Dessa forma, possvel minimizar a ocorrncia de doenas que possam vir a prejudicar as plntulas.

    A sementeira deve estar localizada fora da rea de produo e, de preferncia, em terreno bem drenado, com pequena declividade, plena exposio luz e boa disponibilidade de gua para irrigao. A m drenagem favorece a ocorrncia de uma doena denominada damping-off. E recomendvel o uso de reas submetidas a uma prvia rotao de culturas, como forma de reduzir o potencial de inculo de doenas. No aconselhvel o uso de uma mesma rea como sementeira por mais de 2 anos.

    O tratamento do solo til para reduzir a incidncia de patgenos nas futuras plantas, especialmente considerando a sensibilidade das mesmas no estgio de plntula. Este pode ser realizado com uso de fumigantes, fungicidas, solarizao ou calor (1050C por 30 minutos). Apesar de suas vantagens, a esterilizao completa interfere na biologia do solo e na disponibilidade de nutrientes.

    A semeadura pode ser realizada a lano ou em linha. A semeadura a lano exige menor mo-de-obra inicial, mas cria dificuldades para realizao dos tratos culturais, tais como controle de plantas invasoras. Por essa razo, a semeadura em linha a mais utilizada. A quantidade de sementes a ser utilizada deve ser de 3 a 4 vezes o nmero desejado de plantas, de modo a permitir uma seleo rigorosa; porm, deve-se evitar uma densidade muito elevada de plntulas, para que no ocorra reduo do tamanho e do vigor, conduzindo obteno de plantas com sistema radicular pouco desenvolvido.

    A cobertura das sementes pode ser realizada

    com solo ou areia e a cobertura do canteiro pode ser realizada com uma fina camada de palha. O objetivo da cobertura com palha impedir o crescimento de plantas invasoras, bem como conservar a umidade do solo. A palha dever ser removida pouco tempo antes da emergncia das plntulas.

    Cuidados especiais devem ser dispensados no que se refere irrigao, considerando a exigncia de gua para o processo da germinao e a sensibilidade das plntulas falta de umidade do solo. A irrigao deve ser feita por asperso, com uso de regadores ou de um sistema de irrigao, no caso de sementeiras de maior porte. O controle da umidade pode ser feito por avaliao visual ou com uso de tensimetros.

    O controle de plantas invasoras pode ser realizado atravs de mtodos qumicos ou mecnicos. A distncia entre as linhas deve possibilitar a utilizao de implementos agrcolas e o uso de herbicidas pode ser realizado em pr ou ps-emergncia. A definio da forma de controle das plantas invasoras deve considerar a viabilidade econmica de cada mtodo, bem como a sensibilidade das plantas aos herbicidas.

    De acordo com a espcie e o tempo de permanncia na sementeira, pode ser aconselhvel a realizao de adubao, tanto de correo, quanto de cobertura. importante que o pH seja corrigido, conforme a exigncia da espcie, com uso de calcrio. A adubao nitrogenada, se necessria, deve ser realizada com cautela, pois aplicaes em excesso podem criar um desequilbrio nutricional, que resulta em excesso de crescimento e elevada suscetibilidade a pragas e doenas. Por outro lado, elevadas concentraes de sais produzidos por um excesso de fertilizantes inibem a germinao.

    Dada a sensibilidade das plntulas e a elevada densidade na sementeira, necessrio que se adotem medidas eficientes de monitoramento e controle de pragas e doenas. Os principais fungos causadores de doenas de sementeiras so pertencentes aos gneros Pythium, Rhizoctonia e Phytophthora, agentes causadores do dampingoff, que afeta a germinao e a sobrevivncia das plantas jovens.

    A partir da sementeira, assim que as mudas atinjam um crescimento satisfatrio, estas so submetidas a uma seleo por tamanho, visando obter-se um padro adequado das plantas destinadas ao viveiro, quando estaro colocadas em maiores espaamentos. As plantas no viveiro podero ser utilizadas como porta-enxertos ou como mudas destinadas formao de pomares. No caso de mudas, necessrio realizar uma seleo de plantas prximas a um padro caracterstico da planta-me. ~

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    1.2. Propagao assexuada

    1.2.1 Conceito

    A propagao assexuada, vegetativa ou agmica o processo de multiplicao que ocorre atravs de mecanismos de diviso e diferenciao celular, por meio da regenerao de partes da planta-me.

    Baseia-se nos seguintes princpios: Totipotncia: a informao gentica que

    cada clula possui para reconstruo de uma planta e de suas funes, assim, as clulas da planta contm toda a informao gentica necessria para a perpetuao da espcie.

    Diferenciao: a capacidade de clulas maduras retornarem a condies meristemticas e desenvolverem um novo ponto de crescimento, portanto, so clulas somticas e, por conseqncia, os tecidos, apresentam a capacidade de regenerao de rgos adventcios,

    A propagao vegetativa consiste no uso de rgos da planta, sejam eles estacas da parte area ou da raiz, gemas ou outras estruturas especializadas, ou ainda meristemas, pices caulinares, calos e embries. Desse modo, um vegetal regenerado a partir de clulas somticas sem alterar o gentipo, devido multiplicao mittica.

    O uso deste modo de propagao permite a formao de um clone, grupo de plantas provenientes de uma matriz em comum, ou seja, com carga gentica uniforme e com idnticas necessidades climticas, edficas, nutricionais e de manejo.

    1.2.2. Importncia e utilizao Enquanto em fruticultura a propagao

    sexuada tem importncia restrita, a propagao assexuada largamente utilizada na produo de mudas. Isso se deve necessidade de se garantir a manuteno das caractersticas varietais, as quais determinam o valor agronmico do material a ser propagado, em espcies de elevada heterozigose, como as frutferas.

    A utilizao da propagao assexuada diz respeito multiplicao tanto de porta-enxertos quanto da cultivar-copa. A importncia e a viabilidade da utilizao da propagao assexuada so uma funo da espcie ou da cultivar, da capacidade de regenerao de tecidos (razes ou parte area), do nmero de plantas produzidas, do custo de cada processo e da qualidade da muda formada.

    De modo geral, o uso da propagao assexuada justifica-se nos seguintes casos:

    a) propagao de espcies e cultivares que no produzem sementes viveis, como, por exemplo, limo Tahiti, laranja de umbigo e figueira;

    b) perpetuao de clones, pois as frutferas so altamente heterozigotas e perderiam suas caractersticas com a propagao sexuada.

    A escolha do mtodo a ser utilizado depende da espcie e do objetivo do propagador. Basicamente, um bom mtodo de propagao deve ser de baixo custo, fcil execuo e deve proporcionar um elevado percentual de mudas obtidas.

    1.2.3. Vantagens e desvantagens Dada a sua larga utilizao na multiplicao

    de plantas frutferas, a propagao assexuada apresenta diversas vantagens, que a toma, muitas vezes, mais vivel que a propagao sexuada.

    So vantagens da propagao assexuada: a) permite a manuteno do valor agronmico

    de uma cultivar ou clone, pela perpetuao de seus caracteres;

    b) possibilita que se reduza a fase juvenil, uma vez que a propagao vegetativa mantm a capacidade de florao pr-existente na planta-me. Desse modo, h reduo do perodo improdutivo;

    e) permite a obteno de reas de produo uniformes devido ausncia de segregao gentica. Assim, plantas obtidas por propagao assexuada apresentam uma maior uniformidade fenolgica, bem como uma resposta idntica aos fatores ambientais, o que permite uma definio mais fcil das prticas de manejo a serem executadas no futuro pomar;

    d) permite a combinao de clones, especialmente quando utilizada a enxertia.

    Como desvantagens da propagao assexuada, podem ser apontadas:

    a) possibilita a transmisso de doenas, especialmente as cansadas por vrus e bactrias. O material utilizado na propagao vegetativa (estacas, ramos, gemas), constitui-se de tecido somtico, o qual pode ser infectado por estes patgenos atravs de vetores ou pelo uso de ferramentas. O uso prolongado das mesmas plantas matrizes aumenta o risco de propagao de doenas. Os patgenos associados propagao vegetativa incluem fungos (Phytophthora spp., Pythium spp., Rhizoctonia spp.), bactrias (Erwinia spp., Pseudomonas spp. e Agrobacterium tumefasciens), vrus, rnicoplasmas e organismos tipo Ricketsia;

    b) ainda que a manuteno dos caracteres seja citada como uma vantagem, pode ocorrer, ao longo do tempo, uma mutao das gemas, podendo ser gerado um clone diferenciado e de menor qualidade que a planta matriz. Entre plantas de um clone podem ocorrer mudanas que resultam em degenerescncia e variabilidade dos mesmos. A exposio a um ambiente continuamente desfavorvel pode conduzir deteriorao progressiva do clone, manifestada em perda gradual do vigor e da produtividade, ainda que

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    o gentipo bsico no se altere. A degenerescncia do clone causada principalmente por doenas de natureza virtica. O uso inadvertido das mesmas matrizes, sem que uma prvia indexagem tenha sido realizada, aumenta o risco de propagao de doenas e de degenerescncia do clone. Alm disso, a replicao do DNA (cido desoxirribonucleico) durante a diviso celular no meristema pode resultar em alteraes no gentipo e originar mutaes. O efeito da mutao na variabilidade de um clone depende da taxa de mutao e da extenso que as clulas oriundas da clula mutante original ocupam dentro do meristema. Entretanto, como as clulas do meristema so relativamente estveis e menos sujeitas a mutaes, a significncia das mutaes em boas condies fitossanitrias reduzida;

    e) a ausncia de variabilidade gerada no clone pode levar a problemas na futura rea de produo, aumentando o risco de danos em todas as plantas por problemas climticos ou fitossanitrios, uma vez que foram fixadas todas as caractersticas varietais e todas as plantas tm a mesma combinao gentica.

    As principais vantagens e desvantagens da propagao assexuada so resumidas na Tabela 1.2.

    Tabela 1.2. Principais vantagens e desvantagens da propagao assexuada em plantas frutferas.

    VANTAGENS DESVANTAGENS * perpetuao de caracteres agronmicos

    * transmisso de doenas

    * reduo da fase juvenil * risco de mutao das gemas

    * obteno de plantas uniformes

    * risco de danos generalizados na rea de produo

    * combinao de clones na enxertia

    Fonte: Adaptado de Fachinello et al., 1995.

    1.3. Mtodos de propagao vegetativa

    Dentre os processos de propagao agmica, os principais so: estaquia, mergulhia e enxertia.

    1.3.1. Estaquia

    Estaquia o termo utilizado para o processo de propagao no qual ocorre a induo do enraizamento adventcio em segmentos destacados da

    planta-me, que, uma vez submetidos a condies favorveis, origina uma muda. A estaquia baseia-se no princpio de que possvel regenerar uma planta a partir de uma poro de razes (regenerao de ramos). Desse modo, a partir de um segmento, possvel formar-se uma nova planta.

    Entende-se por estaca qualquer segmento da planta-me, com pelo menos uma gema vegetativa, capaz de originar uma nova planta podendo haver estacas de ramos, de razes e de folhas.

    Utilizao A estaquia , sem dvida, um dos principais

    mtodos utilizados na multiplicao de plantas frutferas. Inmeras espcies de interesse comercial podem ser propagadas por este mtodo, destacando-se a produo direta de mudas de figueira e a propagao de porta-enxertos de videira.

    Em espcies que so comumente propagadas por outros mtodos (sementes, mergulhia, enxertia), a estaquia pode ser uma alternativa vivel para a produo de mudas. A viabilidade do uso da estaquia na propagao comercial funo da facilidade de enraizamento de cada espcie e/ou cultivar, da qualidade do sistema radicular formado e do desenvolvimento posterior da planta na rea de produo. Muitas espcies de folhas caducas, como o caso do pessegueiro e da ameixeira, no so propagadas comercialmente atravs de estacas. Porm, se utilizadas tcnicas como a nebulizao intermitente, a aplicao de reguladores de crescimento, o anelamento, o estiolamento, a dobra dos ramos, entre outras, os resultados podero ser satisfatrios e viveis na maioria das espcies frutferas.

    De modo geral, as aplicaes da estaquia so: a) multiplicao de variedades ou espcies que

    possuem aptido para emitir razes adventcias; b) produo de porta-enxertos clonais; c) perpetuao de novas variedades oriundas

    de processos de melhoramento gentico.

    Vantagens e desvantagens

    Como vantagens da estaquia podem ser apontadas: a) permite que se obtenha muitas plantas a partir de uma nica planta matriz em curto espao de tempo; b) uma tcnica de baixo custo e de fcil execuo; c) no apresenta problemas de incompatibilidade entre enxerto e o porta-enxerto; d) plantas produzidas com porta-enxertos originados de estacas apresentam maior uniformidade do que plantas enxertadas sobre mudas oriundas de sementes.

    Pode-se afirmar que a propagao por estacas praticamente no apresenta inconvenientes. Entretanto, nem sempre vivel se reproduzirem plantas por estacas, especialmente quando a espcie

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    ou cultivar apresenta um baixo potencial gentico de enraizamento, resultando em pequena percentagem de mudas obtidas. Por outro lado, mesmo que haja formao de razes, o seu desenvolvimento pode ser insuficiente e o percentual de mudas que sobrevivem aps o plantio no viveiro pode ser muito baixo. Nestes casos, ainda que seja possvel se produzirem estacas enraizadas, deve-se dar preferncia a outros mtodos de propagao assexuada.

    Tipos de estacas

    A estaca pode ser obtida de rgos areos ou subterrneos. folha

    herbceas ramos ponteiros

    simples talo

    Areas

    cruzeta Estacas

    tancho gema

    lenhosas

    enxerto

    Subterrneas raiz

    Herbceas As estacas herbceas so obtidas de ramos

    apicais. Sua retirada deve ser feita pela manh, quando ainda esto trgidas e com nveis mais elevados de cido abscsico e de etileno, que so elementos favorveis ao enraizamento (Fig. 5.2). Figura 5.2. Estaca herbcea. Parte terminal de um ramo em desenvolvimento.

    Lenhosas So obtidas de ramos lenhosos ou lignificados,

    com idade entre 8 e 15 meses. As estacas lenhosas encontram maior campo de aplicao do que as herbceas e, quase sem exceo, constituem-se no

    material bsico de propagao de rvores frutferas.

    Estaca simples A estaca simples obtida subdividindo-se o

    ramo em pedaos de 20 a 30 cm de comprimento. O dimetro dessa estaca normalmente varia de 0,5 a 1,5 cm e cada uma deve possuir de quatro a seis gemas (Fig. 1.3A).

    Figura 1.3. Diferentes tipos de estacas: A) simples; B) talo; C) cruzeta; D) gema; E) raiz.

    Esse tipo de material constitui-se num dos mais efetivos, tanto pelo rendimento que oferece como na prtica da estaquia.

    Estaca-talo Difere da anterior por trazer consigo parte do

    lenho velho, que se denomina talo. obtida destacando-se um ramo no ponto de insero com outro de dois anos. E utilizada quando a espcie ou variedade apresenta dificuldade de enraizamento.

    O nmero de estacas, nesse tipo, inferior ao das simples, pois s podem ser obtidas quando os ramos apresentam bifurcao (Fig. 5.3B).

    Estaca-cruzeta Assemelha-se ao tipo anterior, porm, em vez

    de ser retirada com um pedao de lenho velho na forma de pata de cavalo, obtida secionando-se o ramo de dois anos, de modo a permitir maior poro de lenho. Apresenta o formato de uma cruz (Fig. 1.3C).

    Estaca-tancho um tipo de estaca pouco comum, que

    apresenta comprimento que varia entre 60 e 80 cm ou mais e dimetro de 4 a 20 cm. utilizada na multiplicao de jabuticabeira, no Brasil, e de oliveira, nos pases europeus. A presena de lenho velho na lingeta favorece o enraizamento, por possuir razes pr-formadas. O mesmo ocorre com as estacas de talo.

    Estaca-gema O material de propagao representado por

    uma nica gema e utilizado em casos muito especiais. Seu uso se restringe multiplicao de material muito valioso ou quando no se dispe de material em quantidade suficiente (Fig.1.3D).

    Estaca-enxerto As estacas de difcil propagao podem ter o

    A B C D E

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    seu enraizamento facilitado utilizando-as como garfo e a estaca de mais fcil enraizamento, como cavalo.

    Subterrneas

    Estaca-raiz um tipo de estaca pouco utilizado. Tem

    algumas aplicaes em pessegueiro, goiabeira e caquizeiro (Fig. 5.3E). A melhor estaca retirada de plantas com dois a trs anos de idade. A poca mais favorvel o fim do inverno e o incio da primavera, quando as razes esto bem providas de reservas. Ao plant-la, deve-se manter a polaridade correta.

    A estaca-raiz produz primeiro uma haste adventcia, sobre a qual ocorre o enraizamento.

    A polaridade inerente aos ramos e razes. A estaca forma o broto na posio distal e as razes, na proximal.

    A estaca-garfo deve ter comprimento maior que o da estaca-cavalo e a enxertia feita em laboratrio (enxerto de mesa).

    Na estaquia, enterra-se tambm parte do garfo. O seu enraizamento pode ser facilitado pelo uso de um estimulante de raiz na regio de unio de ambas as estacas. O AIB recomendado.

    Aps o enraizamento das duas estacas, reduzem-se as razes do cavalo para estimular as do garfo.

    Em citros, C. medica enraza facilmente, ao passo que o C. aurantium apresenta dificuldade, e esse processo facilita a sua propagao vegetativa.

    Princpios anatmicos do enraizamento

    No momento em que uma estaca preparada, esta consiste de uma ou mais gemas (sistema areo em potencial) e de uma poro de tecido diferenciado, areo ou subterrneo, sem sistema radicular formado. As razes formadas na estaca sero, portanto, uma resposta ao traumatismo produzido pelo corte. Dessa forma, dois aspectos so fundamentais no enraizamento de estacas:

    a) a desdiferenciao, ou seja, o processo pelo qual clulas de um tecido j diferenciado retornam atividade meristemtica e originam um novo ponto de crescimento;

    b) a totipotncia, ou seja, a capacidade de uma s clula originar um novo indivduo, uma vez que ela contm toda a bagagem gentica necessria para reconstituir todas as partes da planta e suas funes.

    Com o preparo da estaca, h uma leso dos tecidos, tanto de clulas do xilema quanto do floema. Este traumatismo seguido de cicatrizao, que consiste da formao de uma capa de suberina, que reduz a desidratao na rea danificada. Nesta regio, em geral, h a formao de uma massa de clulas parenquimatosas que constituem um tecido pouco diferenciado, desorganizado e em diferentes etapas de lignificao, denominado calo. O calo um tecido

    cicatricial que pode surgir a partir do cmbio vascular, do crtex ou da medula, cuja formao representa o incio do processo de regenerao. As clulas que se tornam meristemticas dividem-se e originam primrdios radiculares. Aps, clulas adjacentes ao cmbio e ao floema iniciam a formao de razes adventcias. Pode-se dividir a formao de razes adventcias em duas fases. Uma primeira fase, de iniciao, caracterizada pela diviso celular e aps, uma fase de diferenciao das clulas em um primrdio radicular, que resulta no crescimento da raiz adventcia. Estes processos, em geral, ocorrem em seqncia.

    Figura 1.4. Estruturas morfolgicas do caule e formao de primrdios radiculares (adaptado de JANICK, 1966).

    Durante a iniciao das razes, quatro etapas de modificaes morfolgicas podem ser citadas:

    a) desdiferenciao de algumas clulas adultas; b) formao de iniciais de razes prximas aos

    feixes vasculares; c) formao de primrdios radiculares; d) desenvolvimento dos primrdios e

    emergncia, atravs do crtex e epiderme da estaca, das razes adventcias, acompanhado da sua conexo com o sistema vascular da estaca.

    O local de emisso dos primrdios radiculares bastante varivel conforme a espcie e o tipo de estaca. Em estacas herbceas, que no possuem um cambio desenvolvido, os primrdios podem surgir entre os feixes vasculares e para fora destes e as razes podem emergir em filas, acompanhando os feixes vasculares. As razes adventcias tambm podem ser formadas a partir da epiderme e do periciclo. J em estacas lenhosas, os primrdios se formam a partir do xilema secundrio jovem, em geral, em um ponto correspondente entrada do raio vascular. Tambm podem ser formados primrdios a partir do cmbio, do floema, das lenticelas ou da medula. medida que o ramo se toma mais lignificado, o local de formao das razes parece se deslocar em direo centrpeta, ou seja, em estacas semilenhosas, originadas do floema, e em estacas lenhosas, do cmbio. De modo geral, as razes adventcias se originam prximas ao cilindro vascular.

    Em algumas espcies, como Citrus medica, Populus sp. e Ribes sp., h primrdios radiculares pr-formados latentes no momento da coleta das estacas, de modo que, uma vez colocadas em condies favorveis, formam razes.

    Muitas vezes observada, na base da estaca,

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    como resultado de um traumatismo, a formao de calo. Ainda que sejam fenmenos independentes, a formao do calo e o aparecimento das razes adventcias so influenciados, na maioria dos casos, pelos mesmos fatores e podem ocorrer simultaneamente. Tem sido observado que, ao menos para algumas espcies de difcil enraizamento, a formao de razes se d sobre o calo, ainda que a formao de calo no seja um prenncio seguro da formao de razes adventcias. No h uma relao direta entre formao de calo e enraizamento. O calo pode ser ainda uma barreira protetora ao ataque de microrganismos. possvel que estacas com calo respondam mais facilmente ao uso de promotores exgenos de enraizamento do que estacas sem formao de calo.

    A localizao das razes adventcias varivel e algumas espcies somente formam razes na base da estaca, outras em ns ao longo do caule, e outras nos ns e entrens.

    A casca pode constituir-se em uma barreira emergncia das razes. Um anel de esclernquima contnuo altamente lignificado entre o berna e o crtex pode ser uma das causas da dificuldade de enraizamento em determinadas espcies. Caso este esclernquima no seja rompido mecanicamente, as razes podem emergir na base da estaca.

    Princpios fisiolgicos do enraizamento

    A capacidade de uma estaca emitir razes funo de fatores endgenos e das condies ambientais proporcionadas ao enraizamento. O manejo da estaquia, para proporcionar o desejado sucesso na produo de mudas, requer o conhecimento e a aplicao destes princpios. Alm disso, o estudo destes aspectos pode auxiliar a caracterizao de uma espcie como sendo de fcil ou difcil enraizamento. Tem sido observado que a formao de razes adventcias deve-se interao de fatores existentes nos tecidos e translocao de substncias localizadas nas folhas e gemas. Entre estes fatores, os reguladores de crescimento so de importncia fundamental. Outros compostos, alguns deles parcialmente conhecidos, tambm tm influncia indireta sobre o enraizamento.

    Auxinas

    As auxinas compem o grupo de reguladores de crescimento que apresenta o maior efeito na formao de razes em estacas. Possuem ao na formao de razes adventcias, na ativao das clulas do cmbio e na promoo do crescimento das

    plantas, alm de influenciarem a inibio das gemas laterais e a absciso de folhas e frutos.

    O AIA (cido indol-3-actico) foi identificado em 1934 e se constitui na auxina de ocorrncia mais comum nas plantas. Uma das primeiras utilizaes prticas da auxina foi a de promover o enraizamento em segmentos de plantas. Posteriormente, outras substncias de origem exgena, como o AIB (cido indolbutrico) e o ANA (cido naftalenactico) mostraram-se at mesmo mais eficientes do que o AIA na promoo do enraizamento de estacas, mesmo que fossem de origem exgena.

    A auxina sintetizada nas gemas apicais e folhas novas, de onde translocada para a base da planta por um mecanismo de transporte polar. Os pices radiculares tambm produzem auxinas, porm no h acumulao nas razes devido ao elevado teor de substncias inativadoras de auxinas nesta parte da planta.

    O aumento da concentrao de auxina exgena aplicada em estacas provoca efeito estimulador de razes at um valor mximo, a partir do qual qualquer acrscimo de auxinas tem efeito inibitrio. O teor adequado de auxina exgena para estmulo do enraizamento depende da espcie e da concentrao de auxina existente no tecido.

    No momento em que a auxina aplicada, h um aumento da concentrao na base da estaca e, caso os demais requerimentos fisiolgicos sejam satisfeitos, h formao do calo, resultante da ativao das clulas do cmbio e das razes adventcias.

    Giberelinas

    Dentre as giberelinas encontradas na natureza, o AG3 (cido giberlico) o mais importante. Uma vez que a principal ao das giberelinas o estmulo ao crescimento do caule, em concentraes a partir de 10-3 molar as giberelinas inibem o enraizamento, possivelmente devido interferncia na regulao da sntese de cidos nuclicos. Por outro lado, inibidores da sntese de giberelinas, como SADH (cido succnico 2,2-dimetilhidrazida) cido abscsico e paclobutrazol, mostram efeito benfico no enraizamento.

    Citocininas

    As citocininas tem efeito estimulador da diviso celular na presena de auxinas. Dessa forma, h um estmulo formao de calos e iniciao de gemas. Entretanto, espcies com elevados teores de citocininas em geral so mais difceis de enraizar do que aquelas com contedos menores, sugerindo que a aplicao de citocininas inibe a formao de razes em estacas. Por outro lado, em estacas de raiz, as citocininas podem estimular a iniciao de gemas.

    Uma relao auxina/citocinina baixa estimula

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    a formao de gemas ou primrdios foliares, ao passo que uma relao elevada estimula a formao de razes. No cultivo in vitro, uma relao equilibrada promove a formao de calo e permite uma boa regenerao de plantas a partir de meristemas.

    cido abscsico

    A princpio, os dados sobre cido abscsico, um inibidor do crescimento na formao de razes adventcias, so contraditrios, dependendo da concentrao e do estado nutricional da planta-me.

    Etileno

    Em baixas concentraes (prximas a 10 ppm), o etileno estimula a formao e o desenvolvimento de razes. Possivelmente, o etileno sintetizado quando da aplicao de auxina explica o efeito desta no enraizamento de estacas. Entretanto, o efeito do etileno mais dependente de interaes complexas do que da simples concentrao deste regulador.

    O estudo isolado do efeito de um regulador, em geral, no permite explicar satisfatoriamente a sua influncia no enraizamento, de forma que o equilbrio entre estes diferentes compostos pode realmente explicar os mecanismos fisiolgicos envolvidos. O equilbrio hormonal numa planta varia com a poca do ano e com a fase fisiolgica.

    Alm dos reguladores do crescimento, outras substncias de ocorrncia natural, denominadas cofatores do enraizamento, que atuam sinergicamente com as auxinas, so necessrias para que se d o enraizamento. Estes cofatores so sintetizados em gemas e folhas jovens e, em maior quantidade, em estacas provenientes de plantas jovens. So transportados pelo floema a partir dos locais de sntese. Dessa forma, caracterizada a importncia, para muitas espcies, de serem mantidas as folhas e gemas em atividade vegetativa. Estes rgos atuam como um laboratrio de produo de reguladores de crescimento e nutrientes. As folhas contribuem para a formao das razes, devido sntese de cofatores ou carboidratos.

    O termo rizocalina foi adotado inicialmente por Bouillenne e Went (1933) e engloba o conjunto de substncias, alm dos reguladores de crescimento, que estimulam o enraizamento, muitas delas ainda no conhecidas totalmente. Em 1955, foi proposto que a rizocalina seria um complexo formado por 3 componentes:

    a) um orto-dihidroxifenol, fator especifico transportado a partir das folhas;

    b) a auxina, fator no-especifico; e) uma enzima especifica, do tipo

    polifenoloxidase, encontrada em alguns tecidos (periciclo, floema e cmbio). A reao entre estes trs

    componentes origina a rizocalina. As relaes hipotticas entre os vrios

    componentes que conduzem iniciao de razes adventcias, segundo HARTMANN & KESTER (1990), so mostradas no esquema a seguir:

    Os cofatores do enraizamento no esto todos quimicamente determinados. Sabe-se que o cofator 3 o cido isoclorognico e o cofator 4 consiste de terpenides oxigenados. Alm disso, o composto fenlico catecol, que atua protegendo a auxina da ao da AIA oxidase, o cido abscsico, de ao antagnica sntese de giberelinas e o floroglucinol, que atua sinergicamente com o AIB, so substncias com atividade no enraizamento, mas h necessidade de comprovao.

    Os inibidores do enraizamento, ainda que na sua maioria no estejam determinados quimicamente, so freqentemente associados com a facilidade de enraizamento em algumas espcies. Em determinadas situaes, a lavagem dos inibidores e sua lixiviao estimulam o enraizamento.

    Em nvel bioqumico, o enraizamento e o desenvolvimento de razes so acompanhados da sntese de protenas e de RNA (cido rbonucleico). Alm disso, h modificaes nos padres e concentraes de DNA (cido desoxirribonuclico) e aumento da atividade enzimtica medida que as razes se desenvolvem. Em estacas de ameixeira, observouse que o calo e as razes em formao atuam como um dreno dos carboidratos da estaca.

    Fatores que afetam a formao de razes

    O conhecimento dos fatores que afetam a formao de razes importante para que se possa explicar por que uma espcie tem facilidade ou dificuldade de enraizar. Alm disso, o adequado manejo destes fatores permitir que haja mais chance de sucesso na produo de mudas por estaquia.

    Podem-se classificar os fatores que afetam o enraizamento em:

    Fatores internos

    cido giberlico (AG) (bloqueia a diviso celular)

    cido abscsico (antagnico ao AG)

    Iniciao de razes

    COFATOR 1

    COFATOR 2

    COFATOR 3 (cido iso- clorognico)

    COFATOR 4 (terpenides oxigenados)

    Auxina (AIA)

    Complexo cofator/AIA RNA

    Polifenol oxidase Glicose

    Compostos nitrogenados Clcio Outros nutrientes

    +

    Oxidase de cido indolactico

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    Eduardo Castro Pereira

    - Condio fisiolgica da matriz - Idade da planta - Tipo de estaca - poca do ano - Potencial gentico de enraizamento - Sanidade - Balano hormonal - Oxidao de compostos fenlicos.

    Fatores externos

    - Temperatura - Luz - Umidade - Substrato - Condicionamento

    De modo geral, a interao entre fatores, e no o estudo isolado destes, que permite se explicarem melhor as causas do enraizamento. Quanto mais difcil for o enraizamento de uma espcie e/ou cultivar, tanto maior a importncia dos fatores que o afetam.

    Fatores internos

    Condio fisiolgica da planta matriz

    Por condio flsiolgica da planta matriz entende-se o conjunto das caractersticas internas da mesma, tais como o contedo de gua, teor de reservas e de nutrientes, por ocasio da coleta das estacas.

    Estacas retiradas de uma planta matriz em dficit hdrico tendero a enraizar menos do que aquelas obtidas sob adequado suprimento de gua.

    A condio nutricional da planta matriz afeta fortemente o enraizamento. No que se refere ao teor de carboidratos, tem-se observado que reservas mais abundantes correlacionam-se com maiores percentagens de enraizamento e sobrevivncia de estacas. A importncia dos carboidratos refere-se ao fato de que a auxina requer uma fonte de carbono para a biossntese dos cidos nuclicos e protenas, e leva necessidade de energia e carbono para a formao das razes. Alm do teor de carboidratos, a relao C/N (Carbono/Nitrognio) importante. Relaes C/N elevadas induzem a um maior enraizamento, mas com produo de uma pequena parte area, ao passo que estacas com baixa relao C/N, devido a um elevado teor de nitrognio, so pobres em compostos necessrios ao enraizamento e mostram pouca formao de razes. Relaes C/N adequadas permitem que se obtenha um bom equilbrio entre as razes e a parte area formada, alm de maior enraizamento. O teor de carboidratos varia conforme a poca do ano, sendo que em ramos de crescimento ativo (primavera/vero) o teor mais

    baixo. Ramos maduros e mais lignificados (outono/inverno) tendem a apresentar mais carboidratos. Em geral, estacas com um maior dimetro apresentam maior quantidade de substncias de reserva e tendem a enraizar mais, ainda que, por vezes, um maior dimetro esteja relacionado com mais brotaes e poucas razes. A condio fitossanitria da planta matriz tambm afeta o teor de carboidratos. Este teor pode ser avaliado indiretamente pelo teste do iodo, permitindo classificar as estacas conforme o teor de amido. Esta classificao mostrou correlao significativa com o enraizamento de estacas de videira, sendo que o percentual de estacas enraizadas foi de 63% nas mais ricas, 35% nas intermedirias e 17% nas pobres em amido.

    No que se refere composio nutricional, um contedo equilibrado de alguns nutrientes, como o P, K, Ca e Mg, favorece o enraizamento. Ainda que o N seja necessrio para a sntese de protenas e cidos nucleicos, essenciais ao enraizamento, seu teor em excesso pode ser prejudicial. O excesso de Mn tambm pode prejudicar o enraizamento. O zinco ativador do triptofano, precursor da auxina, e deve estar presente para que se d a formao de razes. Cuidados devem ser tomados especialmente com o contedo excessivo de N e Mn na planta-me, demonstrando a importncia de um adequado manejo de adubao das plantas matrizes para obteno das estacas.

    Idade da planta

    De modo geral, estacas provenientes de plantas jovens enraizam com mais facilidade e isso especialmente se manifesta em espcies de difcil enraizamento. Possivelmente este fato esteja relacionado com o aumento no contedo de inibidores e com a diminuio no contedo de cofatores (compostos fenlicos) medida que aumenta a idade da planta. recomendvel a obteno de brotaes jovens em plantas adultas, as quais, mesmo no caracterizando uma verdadeira condio de juvenilidade, tm mais facilidade de enraizamento.

    Tipo de estaca

    Em espcies de fcil enraizamento, a importncia do tipo de estaca na formao de razes pequena. Entretanto, quanto maior a dificuldade de formao de razes adventcias, tanto maior a necessidade da correta escolha do tipo de estaca. O tipo ideal de estaca varia com a espcie ou, at mesmo, com a cultivar.

    Como a composio qumica do tecido varia ao longo do ramo, estacas provenientes de diferentes pores do mesmo tendem a diferir quanto ao enraizamento. Assim, em estacas lenhosas, o uso da

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    poro basal geralmente proporciona os melhores resultados. Isso pode ser devido acumulao de substncias de reserva, a um menor teor de N (resultando uma relao C/N mais favorvel) e presena de iniciais de razes pr-formadas nesta regio. Fato inverso se observa com estacas semilenhosas, para as quais os maiores percentuais de enraizamento so obtidos com a poro mais apical. Neste caso, isto pode ser atribudo a uma maior concentrao de promotores do enraizamento, pela proximidade dos stios de sntese de auxinas, e menor diferenciao dos tecidos, resultando em maior facilidade de as clulas voltarem a ser meristemticas.

    Estacas com gemas florferas, ou coletadas durante a florao, tendem a enraizar menos que aquelas provenientes de ramos vegetativos em fase de crescimento ativo, o que mostra um antagonismo entre a florao e o enraizamento.

    A presena de um talo (segmento de ramo velho na base da estaca) pode, em certos casos, como no marmeleiro, favorecer a formao de razes, provavelmente em funo da existncia de iniciais de razes pr-formadas em tecidos de mais idade.

    Estacas mais lignificadas geralmente apresentam maior dificuldade de enraizamento do que estacas de consistncia mais herbcea.

    poca do ano

    A poca do ano est estreitamente relacionada com a consistncia da estaca, sendo que estacas coletadas em um perodo de crescimento vegetativo intenso (primavera/vero) apresentam-se mais herbceas e, de modo geral, em espcies de difcil enraizamento, mostram maior capacidade de enraizamento. J estacas coletadas no inverno possuem um maior grau de lignificao e tendem a enraizar menos. Entretanto, estacas menos lignificadas (herbceas e semilenhosas) so mais propcias desidratao e morte, requerendo um manejo adequado de irrigao, ao passo que estacas lenhosas podem at mesmo serem enraizadas no campo. Em muitos casos, especialmente em espcies caduciflias, as estacas lenhosas dormentes so preferidas em funo da sua facilidade de transporte e manuseio.

    No que se refere poca mais adequada para obteno das estacas, h diferena entre espcies, sendo que algumas enrazam melhor no incio da primavera e outras, de folhas grandes e persistentes, desde a primavera at fins do outono.

    A influncia da poca de coleta das estacas no enraizamento pode ser tambm atribuda a condies climticas, especialmente no que se refere temperatura e disponibilidade de gua.

    Potencial gentico de enraizamento

    A potencialidade de uma estaca formar razes varivel com a espcie e tambm com a cultivar. Nesse sentido, pode ser feita uma classificao como espcie ou cultivar de fcil, mediano ou difcil enraizamento, ainda que a facilidade de enraizamento seja resultante da interao de diversos fatores e no apenas do potencial gentico.

    Sanidade

    Em estacas de macieira e de Ribes spp., observou-se que clones livres de vrus tm uma maior facilidade de enraizamento do que o material envirosado, havendo tambm efeito das viroses sobre a qualidade das razes formadas e sobre a variabilidade de resultados entre diversas estaquias realizadas sob as mesmas condies. Da mesma forma que com as viroses, o ataque de fungos e bactrias pode ocasionar a morte das estacas, antes ou aps a formao de razes, podendo afetar a sobrevivncia das estacas ou a qualidade do sistema radicular da muda.

    A sanidade durante a estaquia influenciada pelo grau de contaminao do material propagativo, pelo substrato, pela qualidade da gua de irrigao e pelos tratamentos fitossanitrios que venham a ser realizados neste perodo.

    Balano hormonal

    O equilbrio entre os diversos reguladores do crescimento tem forte influncia no enraizamento de estacas. Assim, necessrio que haja um balano adequado, especialmente entre auxinas, giberelinas e citocininas. Uma das formas mais comuns de favorecer o balano hormonal para o enraizamento a aplicao exgena de reguladores de crescimento sintticos, tais como o AIB (cido indolbutrico), o ANA (cido naftalenactico) e o AIA (cido indolactico), os quais elevam o teor de auxinas no tecido. O paclobutrazol, por outro lado, um inibidor da sntese de giberelinas, que so inibidoras do enraizamento, e seu uso favorece o equilbrio hormonal para o enraizamento.

    Oxidao de compostos fenlicos Em algumas espcies, especialmente as

    pertencentes famlia Myrtaceae, o forte escurecimento na regio do corte da estaca, ocasionado pela oxidao de compostos fenlicos, pode dificultar a formao de razes. Os diferentes tipos de fenis nos tecidos, ao entrarem em contato com o oxignio, iniciam reaes de oxidao, cujos produtos resultantes so txicos ao tecido. A oxidao destes compostos pode ser minimizada com o uso de substncias antioxidantes, tais como o cido ascrbico, o PVP (polivinilpirrolidona), o cido ctrico e o DLECA (dietilditiocarbamato), alm de

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    outros. Tm sido obtidos resultados preliminares que demonstram a importncia do controle da oxidao no cultivo in vitro. Entretanto, a significncia e a eficincia do controle da oxidao na propagao por estacas ainda carecem de maiores informaes, visto que os resultados obtidos at o momento so incipientes.

    Fatores externos

    Temperatura

    O aumento da temperatura favorece a diviso celular para a formao de razes; porm, especialmente em estacas herbceas e semilenhosas, estimula uma elevada taxa de transpirao, induzindo o murchamento da estaca. Alm disso, pode favorecer o desenvolvimento de brotaes antes que o enraizamento tenha ocorrido, o que indesejvel. Com o objetivo de estimular o enraizamento de estacas lenhosas, recomenda-se manter o substrato aquecido de modo a reduzir a respirao e a transpirao na parte exposta ao ar, e a favorecer a diviso celular na regio de formao de razes. E citado que temperaturas diurnas de 21 a 260C e noturnas de 15 a 21 0C so consideradas adequadas ao enraizamento.

    Luz

    A importncia da luz no enraizamento diz respeito fotossntese e degradao de compostos fotolbeis como as auxinas. De modo geral, baixa intensidade luminosa sobre a planta-me previamente coleta das estacas, tende a favorecer a formao de razes, provavelmente devido preservao das auxinas e de outras substncias endgenas.

    O estiolamento dos ramos dos quais sero retiradas as estacas facilita o enraizamento e uma prtica recomendada, especialmente no caso de espcies de difcil enraizamento. Na regio basal da estaca, onde sero formadas as razes, necessrio que se mantenha um ambiente completamente escuro.

    Umidade

    Para que haja diviso celular, necessrio que as clulas se mantenham trgidas. O potencial de perda de gua em uma estaca muito grande, seja atravs das folhas ou das brotaes em desenvolvimento, especialmente considerando o perodo em que no h razes formadas. A perda de gua uma das principais causas da morte de estacas. Portanto, a preveno do murchamento especialmente importante em espcies que exigem um longo tempo para formar razes e nos casos em que so utilizadas estacas com folhas e/ou de consistncia mais herbcea. O uso da nebulizao

    intermitente permite a reduo da perda de umidade pela formao de uma pelcula de gua sobre as folhas, alm da diminuio da temperatura, com manuteno da atividade fotossinttica em estacas com folhas. Por outro lado, a alta umidade favorece o desenvolvimento de patgenos, para os quais devem ser dispensados cuidados especiais.

    Substrato

    O substrato destina-se a sustentar as estacas durante o perodo do enraizamento, mantendo sua base em um ambiente mido, escuro e suficientemente aerado. Os efeitos do substrato, tanto sobre o percentual de enraizamento como sobre a qualidade das razes formadas, relacionam-se especialmente com a porosidade, a qual afeta o teor de gua retida e o seu equilbrio com a aerao. Diferentes materiais so utilizados como meios para enraizamento, como, por exemplo, a areia, a vermiculita, a cinza de casca de arroz, a casca de arroz carbonizada, o solo e outros.

    O substrato mais adequado varia para cada espcie. De um modo geral, pode-se afirmar que um bom substrato aquele que:

    a) proporciona a reteno de um teor de gua suficiente para manter as clulas trgidas e prevenir o murchamento das estacas;

    b) permite uma aerao na base da estaca, de modo a permitir a iniciao e o desenvolvimento das razes;

    c) apresenta uma boa aderncia estaca; d) no favorece a contaminao e o

    desenvolvimento de organismos patgenos e saprfitos;

    e) permite que as estacas enraizadas sejam removidas com um mnimo de dano s razes;

    f) de baixo custo de aquisio e de fcil obteno;

    g) no contm ou libera qualquer tipo de substncia que exera efeito fitotxico estaca.

    O pH do substrato afeta o enraizamento, sendo que para algumas espcies a diminuio do pH favorece o enraizamento e dificulta o desenvolvimento de microorganismos. No necessrio que o substrato fornea nutrientes, uma vez que o enraizamento se d s expensas da prpria estaca.

    Condicionamento

    Em espcies de difcil enraizamento, alguns

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    tratamentos que venham a ser realizados previamente estaquia podem permitir a obteno de bons resultados. Em diversos casos, o condicionamento fundamental para que se possa obter um percentual de enraizamento satisfatrio. Como exemplos, podem ser citados o tratamento com reguladores de crescimento, o anelamento, o estiolamento, a dobra de ramos, entre outros.

    Tcnicas de estaquia

    Para que a prtica da estaquia seja realizada com sucesso, necessrio que se observem alguns aspectos:

    Obteno do material propagativo

    No momento da coleta das estacas, deve-se selecionar como planta matriz aquela que possui identidade conhecida, caractersticas peculiares da espcie ou cultivar, alm de apresentar um timo estado fitossanitrio, um vigor moderado e sem danos provocados por secas, geadas ou outras intempries. Alm disso, a planta matriz deve estar numa condio nutricional equilibrada. Estes requisitos so necessrios para a obteno de bons resultados. Na produo comercial de mudas, no conveniente que se utilizem estacas provenientes de uma rea de produo de frutas, devido possibilidade de contaminao por patgenos, especialmente viroses. Neste caso, recomendvel a obteno do material propagativo junto a blocos de matrizes ou colees de cultivares em instituies de pesquisa.

    A posio e o tipo de ramo de onde sero obtidas as estacas varivel conforme a espcie. Estacas retiradas da poro mais apical so mais herbceas e apresentam bons resultados, mas so mais suscetveis desidratao. De modo geral, recomenda-se o uso de ramos de crescimento vigoroso. No caso de estacas lenhosas, pode ser utilizado o material descartado pela poda, para obteno de material propagativo.

    poca de coleta das estacas

    Conforme citado anteriormente, a poca do ano afeta fortemente o potencial de formao de razes, especialmente em espcies de difcil enraizamento. Para cada espcie, so necessrios testes para se verificar, empiricamente, qual a poca mais adequada para a coleta das estacas. Esta poca est mais relacionada com as condies fisiolgicas da planta do que com um perodo fixo do ano. A princpio, desde que se disponha de estrutura com

    nebulizao, a coleta de estacas pode ser feita em qualquer poca.

    Podem ser estabelecidos trs perodos principais de coleta de material para estaquia, quais sejam:

    Perodo de repouso (inverno)

    Neste perodo so utilizadas estacas com alto grau de lignificao, denominadas estacas lenhosas. Em espcies caduciflias, o uso de estacas com gemas dormentes bastante difundido, dada a sua simplicidade, baixo custo e viabilidade de uso em diversas espcies, especialmente aquelas de fcil enraizamento. No necessrio o uso de estruturas especiais (estufas, nebulizao e outras) sendo possvel em alguns casos, como o da figueira, a estaquia diretamente no viveiro. Em geral, so utilizados ramos de 1 ano, ainda que em algumas espcies possam ser utilizadas estacas (ou pores destas) de 2 anos. mais recomendvel o uso de estacas medianas e basais, porque estas apresentam maior acumulao de reservas, provenientes da estao de crescimento anterior. As estacas podem ser obtidas no fim do outono, no inverno (dormncia plena) ou no incio da primavera. Em geral, a coleta feita nos meses de maio a agosto. A coleta de estacas no fim da dormncia pode proporcionar a brotao das gemas, especialmente devido ao aumento da temperatura nesta poca. Isto provoca a perda de umidade da estaca sem que haja formao de razes e conseqente absoro de gua, o que torna a brotao indesejvel para o sucesso da estaquia.

    Em algumas espcies com folhas permanentes (pereniflias), o uso de estacas lenhosas tem proporcionado bons resultados. Neste caso, como as estacas possuem folhas, necessrio o uso de estruturas de propagao, mesmo no perodo de inverno. Isto especialmente importante devido variabilidade da temperatura no inverno.

    Perodo de intenso crescimento vegetativo (primavera)

    Nesta poca, as estacas apresentam-se com um baixo grau de lignificao e uma elevada atividade do cmbio. Resultam da fase mais ativa de crescimento dos ramos e apresentam uma consistncia bastante herbcea. Ainda que estacas com esta consistncia sejam tpicas da primavera, em alguns casos estacas semelhantes podem ser obtidas durante o vero e at mesmo no outono. Em diversas espcies de difcil enraizamento tm sido obtidos bons resultados com a estaquia nesta poca, como no caso do pessegueiro, ameixeira e araazeiro. Estacas desse tipo enrazam com facilidade e rapidez (2 a 5 semanas, na maioria dos casos). Dado o fato de serem estacas muito tenras, devem ser tomados muitos cuidados para evitar a desidratao e o ataque de microorganismos.

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    A perda de gua, mesmo num sistema de nebulizao, pode ser a causa d grande mortalidade de estacas. Alm disso, a coleta deve ser realizada preferencialmente no incio da manh, quando a umidade do ar maior elevada, visando minimizar o murchamento dos ramos e das estacas. Pan tanto, recomendvel acondicionar os ramos em baldes ou sacos plsticos at o momento do preparo.

    Perodo final do crescimento vegetativo (final do vero - inicio do outono)

    Estacas utilizadas nesta poca so denominadas semilenhosas e apresentam-se com folhas e mais lignificadas que na poca anterior. A sua utilizao requer nebulizao intermitente, pan evitar o murchamento e a perda das folhas. Podem ser utilizadas pores basais, medianas e apicais dos ramos. Da mesma forma que para a poca anterior, devem ser adotadas medidas que reduzam a perda de gua pelo material propagativo, ainda que a sua resistncia desidratao seja maior que a das estacas herbceas.

    As estacas de raiz so, em geral, coletadas no final do inverno e incio da primavera, antes que se inicie o crescimento e quando h teores mais elevados de reservas nas mesmas.

    Preparo e manejo das estacas

    Uma vez selecionados os ramos, necessrio que estes sejam levados a um galpo ou estrutura semelhante, onde as estacas sero preparadas. O preparo das estacas pode ser feito com tesoura de poda ou para estacas lenhosas em grandes quantidades, com uso de senas eltricas. Uma vez preparadas, as estacas devem ser mantidas em gua at o momento de serem colocadas no substrato.

    O comprimento e o dimetro das estacas varia conforme a espcie e o tipo de estaca. Estacas lenhosas podem ter um comprimento varivel de 20 a 30 cm e um dimetro que geralmente se situa entre 0,6 e 2,5 cm. Estacas semilenhosas apresentam um comprimento, em geral, de 7,5 a 15 cm, e estacas herbceas podem ser ainda menores.

    Aps o preparo, conveniente a separao das estacas em grupos conforme o seu tamanho. Isso permite a obteno de lotes homogneos de plantas, o que facilitar a realizao de operaes posteriores. ainda recomendvel a identificao dos lotes de estacas por cultivar, visando evitar a mistura posterior no viveiro.

    Em estacas semilenhosas e/ou de consistncia mais herbcea, a presena de folhas favorece o enraizamento, devido, provavelmente, produo de cofatores do enraizamento nas folhas. Da mesma forma, em estacas lenhosas, a presena de gemas nas estacas aumenta o percentual de enraizamento em diversas espcies. A presena de folhas nas estacas, por outro lado, representa uma superfcie

    transpiratria cuja taxa de perda de gua aumentada em condies de elevada temperatura, normalmente observada nas pocas de coleta de estacas menos lignificadas. Por esta razo, necessrio o uso de nebulizao nas estacas folhosas. Em geral, so mantidas apenas 2 ou 3 folhas na parte superior da estaca, podendo estas ser cortadas ao meio, como forma de facilitar o manejo e reduzir a perda de gua.

    O corte superior da estaca deve ser feito logo acima de uma gema e o inferior, logo abaixo. Esta recomendao mais vivel de ser seguida quando feito o preparo individual das estacas. Quando se trabalha com estacas lenhosas, com corte em feixes de 50 ou 100 estacas, o posicionamento do corte pode no ser o mais adequado.

    possvel o armazenamento das estacas lenhosas durante o inverno e este procedimento permite, em alguns casos, a formao de calo ou de iniciais de razes. Para tanto, podem ser utilizados leitos aquecidos ou o simples armazenamento em substrato umedecido. Deve-se evitar a desidratao das estacas armazenadas, bem como acompanhar a brotao das mesmas, pois, caso contrrio, ocorrer uma perda de gua, com prejuzos ao enraizamento. O tratamento com reguladores de crescimento pode ser realizado ainda no armazenamento.

    O uso de estacas de folha com gema citado na propagao de limoeiro, framboesa negra, camlia e azalia, alm de outras; porm, pouco usado em fruticultura. Utiliza-se um n com uma folha e uma gema por estaca, preferencialmente de material que tenha gemas bem desenvolvidas e folhas sadias em crescimento ativo.

    Para algumas espcies, cortes laterais na base da estaca favorecem o enraizamento, especialmente naquelas em que o esclernquima se constitui numa barreira fsica emisso de razes. A exposio do cmbio, propiciada por estes cortes, tambm pode facilitar a absoro de substncias promotoras do enraizamento.

    Estaqueamento

    O plantio das estacas pode ser realizado em recipientes (sacos plsticos, vasos, baldes, caixas, entre outros) em estruturas de propagao ou diretamente no viveiro. O primeiro caso aplicado para estacas folhosas (semilenhosas ou herbceas), as quais necessitam de umidade constante sobre a folha. J o plantio direto no viveiro pode ser adequado para estacas lenhosas, especialmente de espcies caduciflias, quando a manuteno da umidade propiciada pela chuva e/ou por irrigaes espordicas suficiente. Esta prtica, denominada enviveiramento, destina-se principalmente propagao de plantas em larga escala e multiplicao de espcies ou cultivares de fcil enraizamento. Neste caso, devem ser utilizadas reas de solos profundos, ~m drenados e com viabilidade

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    de uso da irrigao. A profundidade de plantio varivel conforme

    o tipo de estaca, sendo que, para estacas de ramos, aconselhvel que dois teros sejam enterrados no substrato. No que se refere a estacas de raiz, importante a manuteno destas em profundidade de 2,5 a 5,0 cm, na posio horizontal, de modo a manter sua correta polaridade.

    Como preveno ao aparecimento de doenas, recomendvel a imerso das estacas em soluo fungicida (Benomyl ou Captan). Para aumentar a sobrevivncia das estacas, pode-se misturar o fungicida com o AIB (cido indolbutrico), caso se trabalhe com o regulador na forma de p.

    No momento do plantio, importante garantir uma boa aderncia do substrato estaca, uma vez que grandes espaos porosos podem aumentar a desidratao da estaca.

    Substrato

    Em virtude de ser um dos fatores de maior influncia, especialmente nos casos de espcies de difcil enraizamento, deve ser dada ateno especial escolha do substrato. Na Tabela 7.1, constam as principais vantagens e desvantagens de alguns substratos utilizados para enraizamento de estacas.

    necessrio verificar, empiricamente, para cada espcie, qual o melhor substrato (ou combinao de substratos). Um bom substrato deve proporcionar reteno de gua suficiente para prevenir a dessecao da base da estaca e, quando saturado (especialmente no caso de nebulizao intermitente), deve manter uma quantidade adequada de espao poroso para facilitar o fornecimento de oxignio, indispensvel para a iniciao e desenvolvimento radiculares e para a preveno do desenvolvimento de patgenos na estaca. Deve-se ainda optar por substratos que no sejam fontes de inculo de organismos saprfitos.

    Alm destes, outros substratos, como o musgo turfoso, o musgo esfagnneo e a gua podero ser utilizados. No caso de utilizao da gua, necessrio um bom sistema de oxigenao para permitir que as razes se desenvolvam.

    Tcnicas de condicionamento

    Estratificao

    uma prtica que consiste na disposio de camadas alternadas de areia grossa ou solo, em condio mida, e que objetiva proporcionar a formao prvia do calo, alm de permitir a conservao da estaca. O aumento da temperatura e da umidade, at certos limites aumenta a intensidade de formao de calo. Devem ser tomados cuidados para evitar o desenvolvimento de fungos ou bactrias, a acumulao de gua e o dessecamento, que so

    prejudiciais formao de razes. E necessrio que as estacas sejam retiradas da estratificao, logo que tenham formado o calo e/ou tenha ocorrido a brotao das gemas.

    Leses na base da estaca

    Especialmente em estacas que apresentam madeira velha na sua base, os cortes nesta regio favorecem a formao de calo e de razes nas bordas da leso (Figura 5.5).

    Nesta regio, a diviso celular estimulada por um aumento na taxa respiratria e nos teores de auxina, carboidratos e etileno na rea lesionada. A leso faz com que haja mais absoro de gua e de reguladores de crescimento, aumentando a sua eficincia. Por outro lado, as leses permitem que haja rompimento da barreira fsica formada por anis de esclernquima, a qual pode at mesmo impedir a emergncia das razes. Para tanto, efetuam-se um ou dois cortes superficiais de 2,5 a 5,0 cm na base da estaca.

    Estiolamento

    Entende-se por estiolamento o desenvolvimento de uma planta ou parte dela na ausncia de luz, resultando em brotaes alongadas, com folhas peque