PROMOÇÃO DA SAÚDE E TERAPIA OCUPACIONAL · sobre saúde e bem-estar como seu pri-meiro objetivo...
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-PROMOÇÃO DA SAÚDE E TERAPIA OCUPACIONAL
AUTORA: MICHELLE SELMA HAHN
Terapeuta Ocupacional, docente do curso de T.O.- UFSCar, mestre em saúde mental.END: Rua Marcolino Lopes Barreto, 3113 São Carlos, CEP: 13566-210 São Paulo - Bra. .
PALAVRAS CHAVE: promoção da saúde; terapia ocupacional; educação em saúde.
PROMOÇÃODA SAÚDE ETERAPIAOCUPACIONAL
De acordo com a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), 1984, pro-moção da saúde é o processo decapacitação do indivíduo para que elevenha a ter o controle geral e melhorasobre seu estado de saúde global.
Para este estado de bem-estar fí-
sico, mental e social ser alcançado oindivíduo ou grupos de indivíduos ne-cessitam ter a capacidade para identifi-car e perceber suas aspirações, satisfa-zer suas necessidades, mudar e/ou lidarcom o seu meio. Isto representa umaestratégia mediadora entre o ser huma-no e seu meio, que pode ser sintetiza-da em uma escolha pessoal e uma res-ponsabilidade social em relação à saú-de para se criar e viver um futuro co-letivamente mais saudável. As impli-cações desta estratégia envolvem cadapaís, região, macro ou micro comu-nidade, na promoção da saúde, com aparticipação de todas as pessoas queali vivem para o desenvolvimento dobem-estar coletivo.
Estes pressupostos vieram paraunificar a idéia e também reconhecer a
necessidade de mudanças nas formas ena condição de viver bem e saudavel-mente.
Em novembro de 1986, 38 paí-ses reunidos no Canadá sob os auspíciosda O.M.S., durante a Conferência Inter-
nacional sobre Promoção da Saúde, ela-
boraram a Carta de Ottawa, que esta-beleceu diretrizes a serem atingidas atéo ano 2000, em consonância com os
objetivos da Declaração de Alma Ata(1978).
Destacamos alguns aspectos des-ta Carta, que mais se aproximam da te-rapia ocupacional. As condições bási-cas e pré-requisitos para a saúde, comojá se sabe são: renda, moradia, alimen-tação, educação, justiça e eqüidade so-cial, estabilidade do ecossistema e paz.Por estas razões a saúde é vista comoum recurso do nosso viver cotidiano e
não como um objetivo de vida. Portan-to a promoção da saúde não é só res-ponsabilidade dos serviços de saúde,mas atinge todos os outros níveis deatenção que se oferecem a uma comu-nidade, até a mesma atingir um modode vida saudável e de bem-estar.
Nossas sociedades são comple-xas e inter-relacionadas e a saúde não
pode ser separada dessas ligaçõesintrincadas entre o homem e seu ambi-
ente, que constituem a base para umaabordagem sócio-ecológica da saúde,muito em voga atualmente.O princípioque rege esta visãoé o cuidarde si mes-mo, do outro, da comunidade e de nos-so meio ambiente.
As mudanças no padrão de vida,trabalho e lazer têm um impactosignificante na saúde do indivíduo oude seu grupo. A promoção da saúdedeve gerar condições de vida e traba-lho que sejam sadias, estimuladoras,prazerosas e agradáveis.
A promoção da saúde prevê um
-: Página 10 '-
desenvolvimento pessoal e social, ai:"vés da provisão de informação, educ.:..ção em saúde e o aumento qualitaudas habilidades para bem viver.
A responsabilidade para a p!':moção da saúde nos serviços de sdeve ser compartilhada pelo indivíd..seu grupo comunitário, por profissic"da área e instituições correlatas. Seg-....-do Elias & Murphy (1986), o espec-de cuidados com a saúde, abrange :.--aspectos: "restauração da saúde,nutenção da saúde e a promoçãc ~
saúde".
A restauração da saúde se rete1àquelas atividades dirigi das a tode:;indivíduos doentes com a intençãGrestaurá-Ios à sua máxima capacid....-funcional.
A manutenção da saúde ir.~atividades dirigidas a pessoas apare-temente saudáveis com o intentodep-:venir doenças.
A promoção da saúde se ref.:a todas essas atividades citadas ~riormente incluindo ações comur~rias, políticas e sociais. São tam!x-direcionadas a indi víduos apare~.-:mente saudáveis com a intenção -ajudá-Ios a alcançar o bem-estar :T'-ximo. Em termos gráficos os autc.representam a visão desses conce~.-_da seguinte forma:
Esquema proposto por Eli::...Murphy (1986), tradução livre da au:_
Os autores também sugere~ _
a terapia ocupacional e a promoç:l_ -
saúde têm muito em comum, e que cer-tamente existem definições dentro daCarta de Ottawa que poderiam ser usa-das para descrever a própria terapiaocupacional. Usam como exemplo oenfoque de o trabalho dos terapeutasocupacionaisser o desenvolvimentodaspotencialidades de vida através do au-mento das habilidades pessoais, auto-estima e satisfação no viver, que sãovistos exatamente como os pré-requisi-tos para uma vida saudável e de bem-estar.
Segundo Wi1cock(1990), a As-sociação Australiana de TerapiaOcupacional, desde 1987, incorpora nasua definição e objetivos o que é tera-pia ocupacional para a promoção dasaúde:
"A terapia ocupacional está en-volvidacom a ocupaçãohumana e a suaimportância na saúde das pessoas detodas as faixas etárias.
Os terapeutas ocupacionais ava-liam os fatores físicos, psicossociais eambientais que reduzem a capacidadedos indivíduos em participar nas ativi-dades e ocupações do cotidiano.
Os objetivos terapêuticos são al-
cançados através de técnicas ou ativi-dades designadas para:
a) diminuir ou controlar patolo-glas;
b) restaurar e/ou reforçar capa-cidades funcionais;
c) facilitar a aprendizagem dehabilidades e formas de funcionamen-
to que sejam essenciais para a adapta-ção ou produtividade;
d) promoção e manutenção dasaúde" (grifo nosso).
Em um trabalho mais atual Dyck
(1993), reforça esta vinculação ao afir-mar: "a promoção da saúde está clara-mente inscrita no mapa dos domíniosda prática terapêutica ocupacional, em-bora ainda na latência de sua aplicação.A abordagem holística da terapiaocupacional, o princípio da práticacentrada no cliente e o enfoque no am-biente como sendo uma parte integral
do processo de terapia ocupacional, faza profissão ser uma parceira natural dapromoção da saúde e prevenção da do-ença" .
Wi1cock(1993) retoma a ques-tão da interação ocupação, saúdee pro-moção da saúde ao argumentar que aocupação é um fenômeno humano na-tural, que vai muito além do que sua
<: promoção da saúde ->
< doença-saúde saúde ->
Doença - > Assintomático- > Bem-Estar
Eqüidade socialDesenvolvimento
comunitário
Bem-estar
Medicina tradicional> Educaçãoem saúde >Medicinapreventiva
> > > ->
Restauraçãoda Saúde Manutençãoda Saúde Promoçãoda Saúde
" Página 11 "
compreensão no senso comum. que é ade uma atividade/emprego remuneradoou não. Segundo a autora, terapeutasocupacionais definem a ocupação comoo uso propositado do tempo, energia,interesse e atenção no trabalho, lazer eem atividades de auto-cuidados, soci-ais, culturais e familiares e por causadestes atributos preenche as necessida-des humanas básicas para a promoçãoda saúde.
A promoção da saúde pode serqualquer ação combinada de educaçãojunto com a mídia, desenvolvimentocomunitário, mudanças legislativas, fis-cais e administrativas, intervenção pro-fissional e readaptação funcional, mu-danças tecnológicas e ambientais desig-nadas a reduzir os índices de mortali-
dade em relação aos aspectos específi-cos do binômio doença - saúde, ou paraaumentar a saúde física, mental e soci-al da comunidade.
Finlayson & Edwards (1992)afirmam que a promoção da saúde re-quer escuta e compreensão do que éimportante tanto para os indivíduoscomo para as comunidades, para depoisfacilitar as ações que satisfaçam essasnecessidades auto identificadas. Os au-tores consideram os terapeutasocupacionaishabilitadospara agiremnaposição de catalizadores com a finali-dade de unir o indivíduo com o seu
meio em um processo de capacitaçãoatravés do compartilhamento ou da de-fesa das habilidades e de informações.
O processo de promoção de saú-de requer uma perfeita compreensãc ~c<:"limites" do contexto que o rodei.i.
O conceito de bem-estar p~:>-minante na literatura americ~a a.:--':.J-
mente e por conseqüência l!'.!:..~:e -~nossa profissão, enfoca pri!:'~~.i. ~'ê-:-,..te a responsabilidade indi\ :d..<L~: ê-:-cesso de incorporação de h.d.t':.. <._-dáveis em um estilo de . ou.. ':'";:.~.~
através de processos ed :.:. . : . ~-1986; Johnson. 19Sb. ., ":::Johnson e Jaffe. 19SQ
A promoção da saúde tem a vercom o dia-a-dia saudável, de tal modoque o indivíduo possa usufruir o me-lhor que a vida tem a oferecer, seja daforma como ele se alimenta ou comoele lida com o stress. É exatamente aí
que a terapia ocupacional tem a respon-sabilidade da intervenção em promovera saúde do indivíduo, podendo-se usaras atividades de vida diária (AVOs), eas atividades de vida prática (AVPs)com qualidade, como sinônimo de esti-lo de vida saudável.
As implicações práticas e aplica-ções à situação de intervenção em tera-pia ocupacional têm grande chance deserem bem sucedidas em termos de pro-moção e educação em saúde, porque háum enfoque tanto por parte do clientecomo por parte do terapeuta no seu "es-tado de saúde" como um todo.
Nesse sentido a forma de se ava-liar um cliente através da sua história
além dos dados "clínicos", que normal-mente são pesquisados, deve incorpo-rar alguns aspectos específicos com re-lação à identificaçãode fatores de riscorelacionados à saúde mais geral e aobem-estar, tais como: padrões de ali-mentação e sono, uso de drogas nãoprescritasmedicamente (incluindo-seaíníveis de consumo de álcool e hábitode fumar), atividades de lazer e bem-estar e a natureza geral do indivíduo.
Isto, em termos de atenção à saú-de mental mais especificamente, pode-ria constar de um programa de atuaçãojunto ao indivíduo ou a grupos da se-guinte forma:
-encorajamento na mudança deestilo de vida para melhoria de sua qua-lidade, através de técnicas de relaxa-mento e controle do stress, ajuda no pla-nejamento e manejo econômico, infor-mação e controle sobre peso, preparo eboa forma física;
- atenção mais específica aoautodesenvolvimento com técnicas de
assertividade, autoconfiança e habilida-de de comunicação;
- garantia e disponibilidade de
informação sobre uso e efeitoscolaterais de medicamentos.
Estes programas podem ser de-senvolvidos por profissionais da área desaúde e educação, bem como contarcom o auxílio de agências comunitári-as de prestação de serviços de promo-ção social e coletiva, através de cursose/ou grupos de ajuda mútua disponíveisna própria comunidade.
Todas as atividades desenvolvi-
das normalmente pelos terapeutasocupacionais nas A.VOs e AVPs,como cuidados com o vestir-se, gruposde culinária e educação alimentar, en-tre outras, devem incluir informaçãosobre saúde e bem-estar como seu pri-meiro objetivo de intervenção e devemser compartilhados através de uma re-laçãomais "educativa"do que "terapêu-tica" entre o paciente, terapeuta e.ogru-po.
Do ponto de vista do ensino emterapia ocupacional todas as formas etécnicas de promoção e educação emsaúde devem fazer parte dos programasde graduação. Os estudantes de terapiaocupacional devem aprender a estaratentos à sua própria saúde e bem-es-tar. Os terapeutas ocupacionais devemaprender não somente o cuidar does)outro(s), mas também de si mesmos.
Para isto é necessário toda uma
compreensão da elaboração no conteú-do curricular de tal forma que sejamincorporados nas disciplinas específicastodos os aspectos de informação e for-mação na promoção e educação em saú-de. A grade curricular também deve in-corporar, na prática, espaços destinadosa uma vida acadêmica mais saudável demodo a minimizar o stress do acadêmi-
co, para que ele tenha tempo livre sufi-ciente para cuidar de sua saúde e bem-estar.
O potencial da terapiaocupacional para promover a saúde ébastante grande. A profissão está atre-lada a uma crença nas qualidades ine-
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rentes das atividades. A atividade e ~cessária para o bem-estar físico e ;:~cional, portanto ela é "promotu"_ ~
saúde". !
IEsta outra forma de perce~:1
fazer terapia ocupacional pode ,.considerada inovadora se recorre-ljao processo histórico do próprio de-.;:tvolvimento da profissão e traç~..uma analogiacom a propostade.~ ipor Elias & Murphy (1986), citad~ :1teriormente.
Em recente trabalho apreseI'"-si
no 11Q Congresso Mundial de Ter..:!Ocupacional sobre o desenvolvi~.:.~dos serviços de saúde mental no B~~e a inserção da terapia ocupacioc;... ~mesmos, fizemos uma retrospecti _ ~
décadas desde 1950 até os dias de - ~apontando como evoluímos enq~_j
categoria profissional e definimos -]so papel nas equipes multidiscip~--1(Hahn, 1994).
Do modelo exclusivar'" "1
reabilitador de atenção terciári~ -11permeou nossa prática de 1950-. - 1inicialmente isolada e depois lem~ ;:tte trabalhando com outros profissiu- .:lipassamos os vinte anos seguinte ~um processo de profundas mod - .Jções. Saindo do espaço restrito dG -.11biente hospitalar de atenção aos:;,->o':1entes crônicos, passamos a integr Iequipes multiprofissionais de man.. ~ção e prevenção nos locais de ate: -
secundária de cuidados à saúde.como os ambulatórios de saúde ::
tal, centrosde saúde,hospitais-dia. ~
tros de atenção psicossocial, centrc.convivência, ao longo desses últl--15-20 anos.
Juntamente com os outros prcsionais (médicos, psicólogos, assistes sociais, enfermeiros, erenomeamos a terminologia daql&.Cque recebem nossos cuidados. Osentes de ontem são hoje clientes e ..
ários, em consonância com o cam:"e os avanços da área de psiquiat.~saúde mental.
A participação efetiva neste tra-jeto nos permitiu, junto com outros pro-fissionais da área de saúde e educação
viabilizar um programa de atenção cha-mado "Serviço de Orientação e Educa-ção em Saúde" (SOES), dentro da Uni-versidade Federal de São Carlos desde
1990. Este programa tenta integrar naprática os pressupostos teóricos descri-tos anteriormente, configurando-secomo um programa de promoção desaúde, com ações e intervenções de na-tureza educati va e de aconselhamentodentro da comunidade universitária,
atendendo aos três segmentos que com-põe a mesma: alunos, docentes e funci-onários técnico administrativos. (Hahn,Oliveira & Matsukura, 1990)
A década de 90 tem se mostrado
profícua no avanço teórico, com a in-corporação desses pressupostos na prá-tica. Cada vez mais terapeutas
ocupacionais se qualificam em ativida-des acadêmicas formais do tipo cursos
de pós-graduação, aperfeiçoamento,entre outros, bem como têm assumido
na prática cargos de direção e planeja-mento de serviços e programas de aten-ção à saúde mental.
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O presente artigo é uma versãoampliada do CAP-3 da Dissertação deMestrado "pstudo da Clientela de umPrograma de Atenção em Saúde ~Ien-tal junto ao Estudante Universitáric deSão Carlos", defendida em 199-+, ~~
UNICAMp, sob orientação do PrGt ::;~Marcos P.T. Ferraz.
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