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Projeto TRILHAS e Rede de Apoio à Educação Resenha de livros | Educação Infantil
Pelas propostas do TRILHAS, são indicados 22 livros da literatura infantil (com histórias escritas para o público infantil, contos tradicionais, poemas, textos da tradição oral brasileira etc.) e 2 CDs para compor um acervo de referência para as atividades propostas nos Cadernos de Orientações. Esse acervo deverá estar acessível aos professores para que possam colocar em prática a proposta do TRILHAS. Os títulos indicados foram escolhidos por possuírem uma estrutura narrativa que favorece o encaminhamento de atividades com foco no ensino da leitura e da escrita. Contudo, se a escola não dispuser exatamente dos títulos indicados, os Cadernos de Orientações contém propostas de como os professores podem fazer adequações dos livros recomendados, utilizando títulos alternativos. A seguir, encontre explicações sobre os tipos de histórias e os títulos selecionados para o trabalho conjunto. Para visualizar textos ainda mais completos sobre eles, consulte os arquivos disponíveis no Portal TRILHAS: http://www.portaltrilhas.org.br/biblioteca.html?id_biblioteca_categoria=6&id_biblioteca_categoria2=13#biblioteca. Você pode fazer download e imprimi-los para ter o material sempre a mão. Bom trabalho!
HISTÓRIAS CLÁSSICAS
As histórias clássicas permitem a construção de um repertório literário compartilhado, que ao
longo da vida funciona como referência cultural. Oferecem vantagens interessantes, como a
possibilidade de conhecer histórias que lidam com a totalidade de uma situação, em que há
uma organização temporal e hierárquica entre os acontecimentos. Além do mais, essas histórias tradicionais exploram conteúdos de extremo
interesse para as crianças, como medos, anseios, abandono, crescimento, engano, o bem
e o mal etc.
Em geral, as histórias clássicas já fazem parte do repertório de leitura para as crianças pequenas.
Muito provavelmente elas até já conhecem algumas das histórias mais tradicionais.
Excelente: quanto mais conhecida, melhor. A partir do que já sabem, torna-se possível
promover atividades que permitam abordar diferentes aspectos presentes no texto, que ficam invisíveis para as crianças, se não são
abordados intencionalmente.
Assim como a maioria dos contos de fadas, Chapeuzinho Vermelho tem algumas versões:
uma primeira história oral, uma segunda história que foi transcrita por Charles Perrault,
uma terceira dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, e uma quarta de Christian Andersen.
Outras versões foram escritas, mas já são adaptações das histórias desses autores.
Esse livro traz a primeira versão literária dessa narrativa, realizada por Charles Perrault, em
1697. Uma história tão antiga, por que será que sobrevive depois de três séculos? Porque, sem
dúvida, retrata um fiel conto infantil: trata-se de um conto que faz uma advertência – “tomar
cuidado com o lobo” (que pode ser encontrado em outros contos, como tomar cuidado com a bruxa etc.) – e também narra sobre “o perigo de se atravessar o bosque”. Sabemos que hoje em dia as crianças não estão mais ameaçadas
por esse tipo de situação, mas continuam sujeitas a outras ameaças, reais ou imaginárias.
De: Charles Perrault, ilustrado por Georg Hallensleben. Traduzido: por Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2007.
Chapeuzinho Vermelho
Esse conto trata da jovem princesa que, em um momento de “desespero”, faz a promessa de
beijar uma rã, porque tinha perdido sua bola de ouro. A princesa tem de cumprir sua palavra,
mas não consegue, porque sente muito nojo do animal. Acontece que a moça é obrigada a
suportar sua repulsa, pelo simples fato de ter prometido; afinal, “promessa é promessa”, repetiam seus pais, juntamente com a rã. O
desfecho da história é feliz: príncipe e princesa se casam num reino maravilhoso.
De: Jacob e Wilhelm Grimm, ilustrado por A. Archiapowa. In: Contos de Grimm, vol. 2. Traduzido por Maria Heloisa Penteado. São Paulo, Editora Ática, 2008.
O Príncipe Rã
Um livro sem texto nem imagens, com páginas de madeira que representam o “fundo” dos
cenários em que as histórias ocorrem. Juntamente com o livro, vem um conjunto de personagens. A estrutura do livro permite que
ele se transforme em um teatrinho e isso o torna um livro-brinquedo.
Livro de Madeira Editora Peça Rara
Livro de Madeira
As histórias com acumulação apresentam um evento desencadeador da narrativa, que a partir daí é contada de maneira repetitiva, ou seja, a
mesma ação é realizada por diversos personagens e a repetição de um mesmo
acontecimento se dá por acumulação: surge um personagem, que não consegue resolver a
questão levantada pela história, aparece outro, que também não consegue, e assim
sucessivamente. Esse tipo de estrutura facilita a antecipação do que virá por parte das crianças, tornando mais fáceis a leitura e a retenção da
história.
Por meio de textos como esses, é possível estruturar atividades que permitam a construção
de diferentes conhecimentos. As situações de leitura participativa, por exemplo, convidam a
criança a assumir o papel de leitora, desafiando-a para novos aprendizados. Elas experimentam as diferentes maneiras de se ler um texto, com
apoio da memorização, antes mesmo de dominar a leitura.
Essa história trata de um casal de velhinhos que planta na horta um nabo que cresce até ficar
gigante. Vários bichos da fazenda se unem aos velhinhos na tentativa frustrada de arrancá-lo da terra. A velhinha lembra-se de chamar o ratinho, que, apesar de pequeno, se une ao grupo e ajuda
na tentativa de tirar o nabo do solo.
No decorrer da narrativa, os personagens são apresentados de forma quantitativa, ora em ordem decrescente (seis canários, cinco gansos), ora em
ordem crescente (dois porcos, três gatos).
A narrativa dessa história pode ser dividida em três momentos: no início, os bichos são apresentados
em uma sequência que segue da maior para a menor quantidade de animais; no meio da
narrativa, os animais aparecem novamente, mas dessa vez da menor para a maior quantidade; no fim, a narrativa se inverte novamente, e os bichos
aparecem tal como no início da história. Os recursos utilizados pelo autor e pelo ilustrador ampliam o
sentido do texto, como no caso das palavras “torta”, que aparece realmente torta.
De: Aleksei Tolstói, ilustrado por Niamh Sharkey São Paulo: Editora Girafinha, 2006.
O Nabo Gigante
Essa história começa num dia chuvoso em uma casa onde todos dormem na mesma cama. A avó dorme, vem um menino e se deita em cima dela e todos os personagens que aparecem dormem um em cima do outro, até surgir uma pulga, que inverte a ação repetitiva dos personagens. Na ordem contrária em
que apareceram na história, os personagens são acordados pela pulga. No fim, não chove mais, e, como nos contos de fada, há um lindo arco-íris
iluminando a casa sonolenta, onde todos acordaram.
A ilustração reforça a história, porque o espaço da
narrativa não muda: todos dormem no mesmo quarto, na mesma cama; os personagens vão se amontoando na cama para dormir. A diagramação do texto enfatiza essa ideia, pois as frases que se
repetem e se acumulam também são representadas graficamente desta forma. Quando a narrativa é
invertida, o quarto azul chuvoso e sonolento começa a ser invadido pelo sol, as cores aparecem, os personagens vão saindo da cama e os versos não
se acumulam mais no texto, pois já não mantêm uma estrutura repetitiva.
De: Audrey Wood, ilustrado por Don Wood São Paulo: Editora Ática, 2005.
A Casa Sonolenta
Essa história trata de alguns bichos que querem saber qual o gosto da Lua, mas não conseguem
alcançá-la. A tartaruga sobe numa montanha, mas não consegue tocar a Lua. Então, chama o elefante,
pedindo a ele para subir nas costas dela, mas continuam sem alcançá-la. Outros animais são
chamados e se acumulam em cima da tartaruguinha, até que, no alto do monte de
animais, o pequeno ratinho consegue, enfim, pegar um pedaço da Lua e o divide com todos os outros
bichos.
Mas, para cada um, a Lua tem um sabor diferente, aquele de que cada um mais gosta. Nessa narrativa, os animais e a Lua falam, pensam e agem como se fossem gente (isso se chama personificação). No
texto, são utilizados recursos que facilitam a memorização da sequência da história: a repetição interligando personagens e a frase utilizada para
um animal convidar o outro, que é sempre a mesma. A ilustração ajuda as crianças a
anteciparem a história, pois, além de mostrar as ações dos personagens que se repetem, há sempre uma página em branco que anuncia o próximo bicho
a fazer parte do grupo.
Texto e ilustrações de Michael Grejniec São Paulo: Brinque-Book Editora, 2008.
Qual o sabor da Lua?
Toda leitura ou produção de texto está ancorada em uma prática social e responde a
determinadas características e expectativas. A leitura e a escrita de cartas tornam clara para as
crianças a função desse tipo de texto.
Mesmo em ambientes pouco letrados, as cartas se fazem presentes, pois carregam a
possibilidade de aproximar pessoas, de comunicar, mandar notícias para quem está
longe e até ajudar a matar a saudade. Isso atrai as crianças, o que pode permitir a exploração
das convenções próprias desse gênero.
Esta história começa quando Viviana decide fazer uma festa em sua casa para saber como é que os
bichos costumam se vestir ao dormir. Para descobrir isso, convida os vários animais estampados em seu
pijama e avisa-os que, na festa, haverá uma votação para eleger “o pijama mais animal”.
Os preparativos começam com a confecção dos
convites. Viviana escreve uma carta para cada um deles contando como será a festa e perguntando
sobre os seus pijamas. Os bichos respondem, aceitando o convite e descrevendo cada qual a sua
roupa de dormir. Ao terminar a troca de correspondências entre a menina e os bichos, todos se encontram na tão esperada festa para escolher a
roupa mais “sensacional”.
Escrito e ilustrado por Steve Webb São Paulo: Editora Salamandra, 2006.
Viviana a Rainha do Pijama
Por meio das histórias com engano, podemos estimular o entendimento de que, assim como na
vida real, os personagens realizam ações com determinada intenção. Narrativas com
personagens bem caracterizados favorecem o desenvolvimento da capacidade de se colocar no lugar do outro para entender suas ideias, seus propósitos, desejos e pensamentos. Ao ler esse
tipo de história, as crianças interpretam que alguém está enganando quando diz uma coisa, mas pensa outra. À medida que lerem esse tipo
de texto, elas serão capazes de entender a diferença entre ação e intenção. Ao colocar em
evidência essas questões na trama das histórias, estamos não só desenvolvendo habilidades
mentais, de conhecimento das intenções, mas também habilidades sociais e linguísticas.
Essa história é contada por um narrador (em terceira pessoa) e trata de um ratinho solitário que é convidado por outros animais para um programa aparentemente inofensivo, mas que, na verdade, é uma armadilha para comerem o pequeno bichinho.
Para se defender, o ratinho engana os animais criando a imagem de um bicho assustador que seria
seu amigo.
Daí em diante, a narrativa se constrói com diálogos em discurso direto (“Quanta gentileza, raposa, mas não posso aceitar”), ou seja, a história é contada por meio das conversas do ratinho com os outros animais. Nos diálogos, a linguagem da narrativa
tem um recurso rico e útil para facilitar a memorização das crianças: a repetição rimada.
No meio da história, o ratinho se encontra com um
Grúfalo – o bicho que ele próprio criou para enganar os animais da floresta –, e a partir desse episódio a narrativa se inverte. Surpreendentemente, o ratinho também consegue enganar o Grúfalo. Mas por que um bicho como o Grúfalo ficaria com medo de um ratinho tão pequeno e frágil? Porque o ratinho é
esperto o bastante para enganá-lo.
De: Julia Donaldson, ilustrado por Axel Scheffler São Paulo: Brinque-Book Editora, 2002.
O Grúfalo
Essa história trata de conflitos comumente observados na infância. É escrito pelo mesmo autor
de O Grúfalo e dá sequência à primeira história. Dessa vez, o personagem principal (protagonista) é
o filho do Grúfalo.
Nessa narrativa, há uma inversão de papéis em relação à primeira história: trata-se de um ratinho
indefeso que será o antagonista do filho do Grúfalo, que, por sua vez, é apresentado como um bichinho
com cara de menino levado, às vezes medroso, outras vezes corajoso e curioso. Tanto é que, no fim
da narrativa, o filho do Grúfalo corre de medo do ratinho para dormir com o pai. Ao mesmo tempo, esse enredo fantástico mostra o “ato de enganar”, porque o filho do Grúfalo engana o pai, e o ratinho, por sua vez, engana o filho do Grúfalo. Narrativas como essa permitem que as crianças observem
textos em que a construção das características dos personagens mostra a existência das diferenças
entre a ação e a intenção.
De: Julia Donaldson, ilustrado por Axel Scheffler São Paulo: Brinque-Book Editora, 2006.
O Filho do Grúfalo
Essa história trata de um mistério que os leitores terão de desvendar e, por isso, desperta o interesse das crianças. A capa do livro se apresenta como se
fosse a primeira página de um jornal em que a manchete principal é “Macaco roubado na mata”. A narrativa traz o problema logo no início, quando o
próprio macaco anuncia que roubaram seu cacho de bananas. A notícia agita a mata e a investigadora Dona Coruja aceita resolver o caso. A Dona Coruja começa a investigação pelo macaco, e vários outros animais são interrogados. Cada vez que um bicho
dá a resposta ao que lhe foi dito, é feita uma adivinha cuja réplica indica o próximo animal a ser
interrogado. Por fim, o bem–te-vi soluciona o mistério: o macaco era sonâmbulo e havia comido
seu cacho de bananas durante a noite. A história é composta de poemas de
aproximadamente dois versos. Ora tem uma espécie de narrador em terceira pessoa que nos apresenta fatos e personagens (“A mata ficou
agitada”), ora são diálogos entre Dona Coruja e os animais da mata.
De: Milton Célio de Oliveira Filho, ilustrado por Mariana Massarani São Paulo: Brinque-Book Editora, 2003. .
O Caso das Bananas
Crianças pequenas aprendem sobre a vida por meio da repetição e gostam de rever e refazer
caminhos, gestos, descobertas. Com a linguagem, não é diferente. As histórias com
repetição oferecem às crianças a possibilidade de imaginar acontecimentos, que ocorrem de forma muito parecida, diversas vezes em uma mesma narrativa. Por meio desse movimento repetitivo
da estrutura do texto, as crianças têm a oportunidade de compreender melhor a narrativa e de se apropriar de seu texto, chegando, muitas
vezes, a realizar leituras autônomas dessas histórias. Portanto, deve haver lugar no dia-a-dia das crianças para que elas ouçam histórias com
repetição. É um bom momento para fazê-las aprender mais sobre a nossa língua. O segredo
está nos textos escolhidos e na maneira de conduzir o trabalho. Aqui você encontrará
sugestões para incluir as crianças de seu grupo no mundo da linguagem escrita.
Essa história trata de uma festa. A Bruxa é a primeira convidada, mas ela só irá se puder levar o
Gato. Outros convidados só irão se também puderem chamar alguém. No fim, o Lobo só irá se convidarem a Chapeuzinho Vermelho, que só irá se
as crianças forem. Mas as crianças só aceitam o convite se a Bruxa for. Isso acontece, e as crianças
vão à festa, retomando o ciclo que constrói a história.
De: Arden Druce, ilustrado por Pat Ludlow São Paulo: Brinque-Book Editora, 1995.
Bruxa, Bruxa, venha à minha festa
Essa história começa com a pergunta: “Com o que os bichos sonham quando dormem?” O primeiro animal apresentado é o tamanduá, que, por ter
orelhas pequenas, sonha com um bicho de orelhas grandes. Dessa forma, vários animais, um a um,
sonham em ter particularidades dos outros. Depois de vários bichos responderem à pergunta em questão, o tatu sonha com um bicho de língua
grande, e a história volta ao tamanduá, formando um ciclo. Durante a leitura, as crianças podem
associar os sentimentos dos bichos aos dos seres humanos, porque os animais da história sonham com o que não têm, assim como nós. A ilustração
reforça a narrativa.
Desse modo, a página que anuncia o bicho seguinte vem apenas com parte dele (por exemplo, se o
coelho sonha em ter tromba, nesta página do texto aparece somente uma tromba). Texto e ilustração
se repetem, se justapõem, o que, nesse caso, facilita a observação e a participação das crianças
na leitura.
De: Andréa Daher e Zavem Paré São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997.
Os bichos também sonham
Essa história trata de um urso que, ao acordar faminto, sai à procura das Montanhas de Mel. Em
seu caminho, pergunta a vários animais onde encontrá-las. Os bichos respondem que ele tem de achar suas comidas prediletas em abundância, o que, ao longo da narrativa, revela que os bichos também não sabem ao certo como encontrar as
montanhas que o urso Hugo procura. No fim, o urso encontra suas montanhas, e elas eram bem maiores do que ele havia imaginado. A história começa com a exclamação do urso (“Tô com fome! Muita fome! Fome de urso!”), frase que se repete ao longo do
livro, assim como a pergunta de Hugo (“Você conhece as Montanhas de Mel?”), personagem que tem uma fome insaciável. Afinal, os ursos hibernam por vários meses. Na história, ele é caracterizado
como quem quer ir além dos limites. No fim, a ilustração é importante, porque resolve a história. A
ilustração mostra que Hugo consegue enxergar além dos limites.
De: Heinz Janisch e Helga Bansch São Paulo: Brinque-Book Editora, 2007.
Fome de urso
Histórias de animais são narrativas cujos personagens são animais com características humanas, e é uma das mais antigas maneiras de se contar uma história. Em sua maioria, são fábulas, cujo desfecho reflete uma lição de moral, característica essencial desse tipo de texto. Costumam ter a intenção de mostrar o que é
certo e o que é errado. Poderíamos dizer que as fábulas estão a meio caminho entre o real e o simbólico, pois tratam de temas da realidade humana por meio da
ação de personagens alegóricos que se deparam com situações muito concretas. A moral é o aspecto mais visível das fábulas. Porém, o trabalho não pode ser limitado à exploração da mensagem do texto, ainda
mais se considerarmos que uma das funções da escola é formar bons leitores e favorecer o aprendizado da
leitura e da escrita.
As histórias de animais facilitam a conversa com as crianças sobre dimensões aparentemente complexas
dos textos (como, por exemplo, sua estrutura), porque, em sua maioria, são textos curtos que perseguem uma
ideia central. Além disso, o enredo costuma ser convidativo às crianças, já que lança mão do recurso da
personificação de animais que tanto as atrai. Essas fábulas podem ser exploradas pelas crianças para
que elas pensem sobre “como” essas histórias são narradas. Enfim, à medida que aprendem diversas fábulas, elas exploram e pensam sobre sua forma.
Essa história trata de uma baratinha que, ao varrer a casa, encontra uma moeda e sai toda arrumada com fita no cabelo em busca de um noivo: “Quem quer se casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?” Muitos animais
se candidatam, e ela resolve se casar com o ratinho. Mas o noivo não aparece no casamento,
pois havia se afogado na feijoada que seria servida na festa. Depois que “caiu no choro”, a protagonista conclui que teve sorte, porque o rato gostava mais
do feijão do que dela.
Essa narrativa da Dona Baratinha valoriza nosso folclore e nossa cultura tradicional e anônima,
porque nela se faz a descrição detalhada de uma receita tipicamente brasileira, a feijoada. Além disso, toda essa situação fantasiosa estimula a
imaginação das crianças, pois animais personificados assumem os papéis sociais dos
homens. A personificação é reforçada ainda mais pelas ilustrações, que são de fácil visualização por
não ter profundidade, apresentando variados bichos coloridos e vestidos como nós.
Recontado por Ana Maria Machado, com ilustrações de Maria Eugênia São Paulo: Editora FTD, 2004.
Dona Baratinha
Essa história trata de uma formiguinha que prende o pé num floco de neve, então ela pede ao sol: “Ó
sol, tu que és tão forte, derrete a neve e desprende meu pezinho”. O sol responde: “Mais forte que eu é o muro que me tapa!” O muro aparece, não ajuda e responde: “Mais forte que eu é o rato que me rói”. O rato vem, não soluciona o conflito e sugere outro animal; outros personagens surgem, o problema se acumula e só é resolvido no desfecho. Nele, Deus,
“que ouve todas as preces”, manda vir a primavera, que “carinhosamente” salva a formiga.
A presença da rima e da repetição favorece o
trabalho com o texto, porque as crianças memorizam os diálogos. Além disso, os
personagens nessa narrativa não são apenas animais personificados. Há também seres
inanimados (o muro), entidades personificadas (a morte) e até o próprio homem, personagens que
entram nesse contexto fantástico e não resolvem o problema da formiga. Os desenhos ilustrados não
são estilizados nem há caricaturas, eles são realistas, pois procuram representar as imagens
como são na realidade.
Recontado por João de Barro (Braguinha), com ilustrações de Rogério Borges São Paulo: Editora Moderna, 2006.
A formiguinha e a neve
Essa história trata de uma galinha que, ao trabalhar, repete o refrão: “Quem me ajuda, quem me ajuda?” Mas seus amiguinhos patinho e porquinho repetem
outro refrão: “Eu? Eu não! Eu? Eu não! Nós só queremos brincar, senhora Dona Galinha”, que
responde de forma rimada: “Está certo! Muito bem! Deixem que eu faço sozinha...”. O fim da história é
esperado: a cooperação de todos é a lição.
Nesse livro, há uma boa situação para a antecipação da história a partir das ilustrações.
Nelas, a ação dos personagens se acumula visualmente, pois Dona Galinha sempre trabalha e os outros dois animais aparecem brincando durante
toda a história. Além disso, vale observar os desenhos feitos a lápis retratando pequenos detalhes, desde o porquinho que brinca de aviãozinho até a roupa do patinho no jogo
imaginário de espada.
Recontado por Elza Fiúza, com ilustrações de Leninha Lacerda São Paulo: Editora Moderna, 2006.
A galinha ruiva
A matéria-prima do poema é a sonoridade. A linguagem poética oferece ainda a vantagem da exigência de que
a reprodução seja literal, uma vez que qualquer alteração faz com que o poema perca sua autoria. Pode-se propor o trabalho com poemas em formas
distintas: - Escutar com ênfase na relação entre a oralidade, a
voz falada e a musicalidade. - Ler com ênfase na visualização da linha, do verso, do
parágrafo e da estrofe. - Produzir poemas tanto por meio da reescrita como
também da criação.
O poema requer a voz e não só a leitura silenciosa. Requer também a atenção de quem escuta. Por isso é
conveniente que as crianças possam participar de situações de recitação e leitura. A estrutura
composicional dos poemas, em especial os que possuem rimas, convida à recitação.
É preciso não perder de vista a capacidade de sugerir e provocar admiração, que é própria da poesia, evitando ceder lugar para a técnica desprovida de sentido. Mais vale uma recitação polifônica, na qual várias vozes dão
o tom em busca de um sentido pleno, do que uma recitação uníssona, na qual predomina uma só
tonalidade que reduz a significação em um único ressoar. A poesia deve ecoar.
A primeira edição de A arca de Noé foi publicada em
1970 e muito bem recebida pela crítica. Como o título sugere, a maioria dos poemas que compõem
essa obra tem como tema os animais. São 32 poemas ao todo, sendo 23 dedicados aos bichos. Os
demais versam sobre desde aspectos religiosos a objetos caseiros e elementos da natureza. Nos
poemas sobre os animais, encontramos formatos diversos para os textos: há aqueles nos quais o
próprio animal se apresenta (A pulga e O porquinho), outros em que um suposto narrador
conta em versos as peripécias ou características do bichinho (O pato, O peru, O gato), e também os
que aparecem em forma de conversa (O pinguim e
O elefantinho). Em todos eles, o humor se apresenta no modo irreverente como os animais
desfilam em cada poema. As ilustrações em preto e branco de Laurabeatriz apresentam um estilo leve,
que opta pelo tracejado e pelo pontilhado em alguns casos. Os desenhos ocupam um pequeno espaço nas páginas e primam pela delicadeza. Folheando o livro de perto é que o leitor pode apreciar as imagens e associá-las aos textos.
De: Vinicius de Moraes Ilustrações de Laurabeatriz São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1991.
A arca de Noé
Dos 25 poemas que compõem Boi da cara preta nenhum recebe o título que dá nome ao livro. No
entanto, o universo das cantigas de ninar, trovinhas, parlendas e trava-línguas permeia toda a obra. Com doçura, os poemas embalam as crianças na candura própria das cantigas: “Dorme, dorme, meu menino/ o sono é um macaquinho./ Ele cata
grãos de areia/ pra jogar nos teus olhinhos”. (Macaquinho sem-vergonha) – e com humor
convidam a brincadeiras divertidas: “Vaca amarela/ fez xixi na gamela,/ cabrito mexeu, mexeu,/ quem
rir primeiro/ bebeu o xixi dela”. (Vaca amarela).
A grande presença de estrofes em forma de quadrinhas reforça o caráter popular dos poemas.
Essa forma de organizar o texto – grupos de 4 versos com rimas principalmente no segundo e no último – é própria dos repentes que fazem parte da
tradição oral de nossa cultura e convida à memorização e à recitação: “A mulher barbada/ tem barba de chocolate/ e um cachorro bobo/ de bigode
e cavanhaque”.
Sérgio Caparelli Ilustrações de Caulos Porto Alegre: L&PM, 2006.
Boi da cara preta
As canções infantis de tradição oral são, em sua maioria, composições curtas apoiadas na linguagem
oral, quase sempre com rimas, refrão, letra e melodia simples, de fácil memorização, o que permite ser
lembradas e cantadas com muita facilidade. As canções são repetidas e experimentadas diversas vezes pelas
crianças, sua sonoridade ajuda a lembrar o que já passou e, ao mesmo tempo, a antecipar o que virá. As canções e as brincadeiras de tradição oral podem
ser apresentadas sob diferentes denominações – brinquedo cantado, brinquedo ritmado, brincadeira de escolha (também conhecida como fórmula de escolha),
roda de verso, cantiga de roda etc. Em qualquer um desses tipos, os textos que acompanham as canções possuem características semelhantes à poesia, são escritos em versos e, em muitos casos, apresentam
rima.
A aparente simplicidade na conjunção entre letra e melodia configura, do ponto de vista poético, uma sofisticação, por mais contraditório que isso possa
parecer. Isso ocorre porque uma das principais características dos textos poéticos é justamente a
condensação de significados, ou seja, dizer muito com pouco.
Considerado um trabalho ao mesmo tempo documental e de recriação, esse CD traz 42 canções
classificadas da seguinte maneira: brinquedo cantado, brinquedo ritmado, músicas dos contos
populares, canções de ninar, brincadeira de escolha e roda de verso. No encarte, além das letras das
canções, encontramos também um texto instrucional indicando “como se brinca”.
Trata-se de um trabalho documental porque é
elaborado a partir de pesquisa realizada em várias regiões do País, levantando-se material de épocas
diferentes. O processo de recriação ocorre principalmente na parte melódica, uma vez que os
músicos criam novos arranjos, respeitando os elementos estruturais próprios dessas canções. Os dois contos populares apresentados também são recriados a partir de versões orais ou encontradas
em livros.
Pesquisa e direção: Lydia Hortélio Ilustrações: Crianças da Casa Redonda e Adelsin São Paulo: Brincante Produções Artísticas Ltda.
Abra a roda tin dô lê lê
Essa obra é resultado de três anos de pesquisa tanto das canções quanto do jeito de brincar e
apresenta 24 brinquedos cantados. Além do CD e do encarte com as letras das canções, há também
um DVD que ensina a brincar. Muitos dos brinquedos cantados apresentados são conhecidos do público em geral, como é o caso de
Corre Cutia, Lá em cima do piano e Tumbalacatumba, ainda que possa ocorrer uma ou
outra variação nas letras, já que há versões diferenciadas para cada um deles, a depender da
região.
Embora todas as faixas do CD sejam classificadas como brinquedos cantados, encontramos uma
variedade poética, sonora e no tipo de brincadeira. Há textos curtos, semelhantes às brincadeiras de escolha, e textos mais longos, com estrutura fixa dialogada e repetitiva, próximos às parlendas, que
convidam ao movimento e têm coreografia específica. Há melodias lentas e agitadas, e um
amplo conjunto de instrumentos musicais utilizados, especialmente de percussão, dentre eles objetos
como potes de plástico, latas e pentes.
Produção e Coordenação Geral: Eugenio Tadeu Projeto Gráfico: Gisela Moreau e Rodrigo Andrade São Paulo: Palavra Cantada
Pandalelê – Brinquedos cantados
As histórias rimadas são aquele tipo de texto que normalmente deixa o professor confuso na hora de
defini-lo: é um poema ou um conto? Afinal, tem rima e parece organizado em pequenas estrofes, mas também
tem personagens, conflito e final feliz.
Essas histórias conservam características próprias a mais de um gênero textual. Algumas se parecem com parlendas, outras se assemelham mais a um poema
narrativo, e há as que se pareçam com contos breves. Sabemos que, para contar uma história, é necessário, resumidamente, narrar um acontecimento, por mínimo
que seja, num tempo e num espaço, envolvendo personagens que se relacionam entre si. Para “poetar”,
é preciso brincar com a sonoridade das palavras, apresentando-as num ritmo próprio, de modo a obter
uma condensação de significados a serem comunicados. Condensar aqui não significa
necessariamente abreviar, mas unir e concentrar, ou seja, usar palavras ricas em significado, ou colocar lado a lado termos que se completam e que ajudam o leitor a construir imagens durante a leitura. Juntando todos
esses ingredientes, obtemos, normalmente, uma história rimada.
Trata-se de um livro em que a ilustração tem o importante papel de ajudar a descobrir o que se está buscando. Isso dá lugar a uma atividade de
denominação dos objetos ilustrados e de busca por sua localização que ajuda na aprendizagem do
vocabulário. O convite a um olhar mais demorado não aparece à
toa. Em cada página as ilustrações escondem personagens clássicos dos contos de fadas, como O Pequeno Polegar, Cinderela e João e Maria, entre outros. Os personagens são citados no final e no
início dos versos que se sucedem ao longo do texto. Um leitor atento pode se perguntar: se há
personagens tradicionais dos contos de fadas apresentados em versos rimados, é uma história ou
um poema? A resposta não exclui nem um nem outro: trata-se de um conto versificado, uma
história rimada ou uma prosa poética. Num espaço visivelmente campestre (o pomar do
título), os personagens dos contos de fadas se encontram em locais inusitados, sem lógica
aparente, exceto no caso dos três ursos e do neném. Há um pequeno enredo envolvendo
principalmente esses quatro personagens e, para compreendê-lo, não basta ler o texto, é preciso
também observar atentamente as imagens.
Texto e ilustrações de Janet e Allan Ahlberg. Tradução de Ana Maria Machado São Paulo: Editora Moderna, 2007.
Pêssego, pera, ameixa no pomar
Guiada pelo voo de um chapéu, a leitura deste livro flui e surpreende. Essa premiada narrativa poética recorre à linguagem das parlendas, explorando o recurso da repetição e do encadeamento. O teor poético não se limita às rimas no final de cada verso, pois está também na brincadeira com as
palavras e com o significado delas: o primeiro voo do chapéu acerta logo o coronel, que se assusta e despenca num riacho. A partir daí, uma palavra
puxa a outra: o riacho vai embora e nem repara na senhora que dá chilique e é salva pelo cacique.
O voo do chapéu é a linha que costura a narrativa e
desencadeia acontecimentos inesperados. O principal deles, que encaminha o leitor para a
finalização da viagem, é a abertura de uma gaiola. O pássaro que dali sai dá continuidade ao voo
poético: parte ao encontro de seus filhotes passarinhos e juntos cantam e fazem festa.
As ilustrações de Zeflávio Teixeira destacam o aspecto lúdico e o movimento do texto, convidando o olhar a seguir o voo do chapéu e descobrir, página a página, as paisagens e os personagens que fazem
parte desse percurso.
Ana Maria Machado Ilustrações de Zeflávio Teixeira Belo Horizonte: Formato Editorial, 1999.
Fiz voar o meu chapéu
Parlendas são gêneros que fazem parte da tradição oral, em sua maioria de domínio público, e se
caracterizam por uma forma breve, rimada, ritmada e repetitiva, nem sempre com significado lógico. Podem
apresentar, por exemplo, uma série de imagens associadas que obedecem ao senso lúdico ou um
diálogo inusitado no qual predomina a sonoridade e não a coerência. Como o ritmo é um componente forte nas parlendas, o texto normalmente possui movimento e
convida à brincadeira corporal: gestos costumam acompanhar a recitação desses textos e este é mais um
atrativo para as crianças pequenas.
Estudiosos dos gêneros de tradição oral classificaram as parlendas segundo critérios diversos, como a temática (parlendas que ensinam a contar ou que apresentam
sequência de eventos, por exemplo) ou o uso social que normalmente se faz delas (parlendas que iniciam e
finalizam uma história ou que acompanham brincadeiras em roda, por exemplo). Outros nomes
dados às parlendas são “brincos” ou “mnemonias”. Esse último termo tem origem no radical grego mnemo, que
significa memória. Não à toa, também é usado para nomear esse gênero.
Esse livro pertence a uma coleção intitulada Na
panela do mingau, cujos títulos priorizam os gêneros de tradição oral, como as parlendas, trava-
línguas e adivinhas, entre outros. Em Salada, saladinha, as organizadoras apresentam cerca de
cem parlendas, classificadas segundo a temática e a função que costumam desempenhar nas
brincadeiras infantis: parlendas de tirar, parlendas de arreliar, parlendas de pedir, parlendas de pular corda, parlendas de brincar com os pequeninos, parlendas de brincar e parlendas de acabar. Em
algumas páginas, há um texto instrucional em fonte reduzida, logo abaixo da parlenda, explicando como
brincar com as crianças.
A apresentação de cada grupo de parlendas é graficamente marcada pelas cores das páginas que se alteram ao longo da obra. Entre uma parlenda e
outra também há ícones separando o texto e facilitando a localização. Utiliza-se a letra
maiúscula, o que favorece a leitura realizada pelas crianças em fase inicial de alfabetização.
Maria José Nóbrega e Rosane Pamplona (organizadoras) Ilustrações de Marcelo Cipis São Paulo: Editora Moderna, 2005.
Salada, saladinha: parlendas
Neste livro há músicas, parlendas, adivinhas e trava-línguas, identificados ao longo da obra com esses mesmos títulos, exceto no caso das músicas que aparecem com seus títulos originais. Além do livro com as letras das músicas e demais textos, a obra inclui um CD, no qual as próprias crianças, acompanhadas de músicos diversos, cantam e
recitam os 85 textos. São também as crianças que ilustram as páginas do livro com técnicas e
materiais variados – desenho, pintura, colagem etc. –, conferindo um colorido especial à obra!
Não há uma organização linear na apresentação dos textos: as parlendas misturam-se às músicas, aos trava-línguas e adivinhas. O sumário permite ao
leitor localizar-se tanto na leitura do livro quanto na escuta do CD. Ao todo, são 36 parlendas dos mais variados tipos – das mais longas, com sequências
narrativas encadeadas, às mais curtinhas, com apenas uma estrofe – que podem ser cantadas e
recitadas em diferentes situações – nas brincadeiras com as partes do corpo, em roda ou mesmo nas
que acompanham o pular corda.
Coordenado por Theodora Maria Mendes de Almeida Ilustrado por várias crianças São Paulo: Editora Caramelo, 2000.
Quem canta seus males espanta 2
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