Projeto Redação #8

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Como vão? Essa edição é especial caros leitores. Para começar entrevistamos Jones V. Gonçalves, o autor de D.E.I.S. Falamos sobre o livro, sua adaptação num jogo e como um escritor pode se publicar. Também iremos trazer dois capítulos de Chantel, e Dies Irae. Falando em Dies, a próxima edição será um especial de encerramento da série então estamos preparando algo muito especial. O quê? Ainda lendo isso? Vão logo ver o que há na revista!

(Gustavo Martins)

equipe:

Redação: Gustavo Martins, Bryan Dias, Karine, Mooner, Victor Biancardine,Matheus de SouzaColaboradores: TAXD, Bruno Vieira "Hanzo", LukPla60, Emanuel R. MarquesDiagramação: AeroArtifinalismo: AeroEdição: Gabriel "the Gabs"

Contato:

[email protected]

Boa-Leitura.

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SumárioApresentação .................................................................. 3

Sumário .......................................................................... 4

Entrevista ....................................................................... 5 Jones V. Golçalves ....................................................... 5

Especial ........................................................................... 10 O Senhor dos Mortos .................................................... 10

Sagas .......................................................................... 20 Chantel ........................................................................ 20 World of Humans ........................................................ 30 Guerreiros Predestinados ............................................ 24 Dis Irae ........................................................................ 29 Manual para Iniciantes no Inferno .............................. 34 Madise Ruf Golum ..................................................... 38 Contos e Crônicas ....................................................... 45 Pingente de Ouro ......................................................... 46

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Jones Viana Gonçalvespor Gustavo Martins

ENTREVISTA

Hoje vamos entrevistar Jones V. Gonçalves, autor do livro "D.E.I.S: Departamento Especial de Investigação Sobrenatural", que em breve será o primeiro a primeira obra literária Brasileira a ser adaptada num jogo.

Projeto Redação: Primeiramente obrigado por conceder essa entrevista.

Jones: Ah, o que é isso, eu é agradeço o convite, será uma honra pra mim.

Projeto Redação: Lendo o D.E.I.S. eu pude notar uma certa influência da série Supernatural, coisas como o sal para repelir espíritos e toda a idéia de caçada moderna. Além dessa, há outras grandes influências na obra?

Jones: Sim, sim, uma de minhas grandes influencias foi realmente Supernatural, foi o que m deu a idéia

inicial para o DEIS lá em 2008, mas você pode notar também elementos de C.S.I. como os modelos investigativos, exames laboratoriais, que são series que realmente me prendem, algumas pessoas falam de Arquivos X e Fringe, mas

sinceramente não vi nenhum episódio de Fringe até hoje e nunca fui fã de arquivos X.

Projeto Redação: Perto do final do livro há uma classificação dos tipos de zumbis, algo que pessoalmente achei uma grande idéia. De onde ela

veio?

Jones: Eu sempre fui fissurado por zumbis, vendo os filmes de Romero os tinha de uma forma, os zumbis lentos e que podiam ser facilmente evitados, depois vendo os filmes de Zack Snyder levei um choque como muitas pessoas acostumadas com as criaturas lentas quando aquelas coisas começaram a

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correr. Minha paixão só fez aumentar e queria contribuir com o mito, então certo dia ouvi o Nerdcast sobre Zumbis e o pessoal falando em zumbis corredores e zumbis lentos, me caiu a ficha, sim vou classificar, dar limitações a cada tipo, ai idéias de classificação de furacões me vieram, temos do F1 ao F5, do mais fraco ao mais poderoso, então zumbis temos do T1 ao T3, sendo T1 lentos que só pensam em comer, T2 criaturas com instinto de bando, caçam em grupos, tem uma mente estratégica primitiva e se a musculatura de suas pernas, e ossos estiverem inteiros podem correr, e por fim vindo direto de minhas seções de RPG o T3 que pode comandar as outras criaturas, é mais forte, mais resistente que um zumbi T2 e possui inteligência podendo até mesmo falar. É claro que dentro destas classificações sugiram idéias e mais idéias que pretendo usar em um game que ainda quero produzir chamado Zumbi Hunt.

Projeto Redação: Pode descrever um pouco como foi a experiência de ter escrito o livro?

Jones: Cara, DEIS era um projeto que vinha se arrastando desde 2008, primeiro no fórum da editora Jambo, onde iniciei o projeto como uma experiência, seria uma revista como a de vocês, mas com um tema especifico, eu sugeri que diversos escritores criassem um departamento em seus estados, suas cidades e que me enviassem, iríamos fazer algo mensal sobre o DEIS com algumas histórias, ninguém atendeu ao chamado, eu desisti da idéia, na época havia escrito os Cães da Sra Adelaide, A mais fria das noites, Criaturas da Noite e Religiosos, nesta ordem mesmo, até Religiosos eu não tinha a trama central do livro, só sabia que queria escrever a respeito do grupo RS, depois fui adaptando os outros contos. Então em 2009 conheci o site O Nerd Escritor e publiquei lá estes mesmos contos, o pessoal gostou, ai fiz a mesma sugestão, mas no caso sem a coisa de revista digital, só que escritores entrassem na barca e fossem escrevendo sobre o DEIS a sua maneira. Pra minha surpresa e orgulho surgiu o DEIS São Paulo do Felipe Ferraz, DEIS Brasília do Vitor Vitali e o DEIS Portugal, sim o departamento correu pelo

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mundo, do E. U. Atmard, cada departamento a sua maneira, nenhum parecido em ponto nenhum, cada um com suas influencias. Daí em diante voltei a escrever sobre o DEIS, voltaram as idéias, e cara, foi fascinante, por que o pessoal acolheu o projeto e falava muito sobre, dava pitacos nos textos que em alguns casos atendi e em outros não, foi muito bom. Ai vieram as publicações em coletâneas e a Monica, minha editora viu os contos, reunimos eles e tive de escrever mais alguns que ficaram inéditos para o livro, e da forma que eu estava alucinado de idéias para contos fluiu de uma maneira natural. Só posso dizer que foi muito bom escrever o DEIS.

Projeto Redação: D.E.I.S. está sendo transformado num jogo, correto? Como se sentiu a saber que seu livro seria o primeiro do Brasil a ser adaptado para um jogo?

Jones: Sim, estamos trabalhando no projeto, primeiro o Prof João R. Bittencourt, meu professor na Faculdade de Jogos Digitais veio e falou comigo, ele havia lido o conto dos Cães e gostado, tinha idéias de transformar um conto

em jogo, mas ainda não havia escolhido autor nem história, nós vínhamos conversando no Ônibus e ele fez a proposta, primeiro fiquei pasmo, sabe aquele sorriso desenho animado de orelha a orelha, bem assim, poxa, ter um trabalho seu se transformando em algo que você gosta muito, é sem duvida extraordinário, depois de uma semana mais ou menos soubemos que este seria o primeiro game brasileiro adaptado de um livro brasileiro, já havia é claro uma história do Paulo Coelho, mas fora adaptado por uma empresa européia, não por uma empresa tupiniquim. Então o orgulho foi lá em cima.

Projeto Redação: Como deve saber nós da Projeto Redação lançamos na internet os contos e sagas de autores independentes. Porém todo escritor amador sonha em ter sua história publicada por alguma editora. Tem alguma dica sobre isso? E como foi para você se publicar?

Jones: Bom, nas minhas colunas de oficina literária no Sobre Livros tenho falado sobre isso, sobre ser publicado, quer ser publicado apareça, dê a cara a tapa,

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use as coletâneas, é a melhor forma, mande seus contos para as coletâneas abertas, vá trabalhando isso, assim vice consegue espaço e os editores vão saber como você escreve. Ah, mas eu não escrevo contos, estou escrevendo um romance. Bom, uma vez o J.M. Trevisan (Vulgo Doutor Careca) disse uma coisa, que acho que é a mais certa. “Você esta escrevendo um romance, mas o que adianta você ficar um ano ou mais enfurnado escrevendo seu romance e quando ele estiver pronto ninguém conhecer você? Será mais difícil de alguém querer publicar um completo desconhecido!” Não foram bem estas palavras, mas a essência esta ai, quer escrever o romance, escreva, mas vá escrevendo contos e publicando em sites, revistas como o Projeto Redação, apareça, e participe de coletâneas. http://www.sobrelivros.com.br/category/coluna-oficina-literaria/

Projeto Redação: De volta ao assunto D.E.I.S, no final há um enorme gancho para uma continuação. Ela acontecerá? Jones: Sim, estou trabalhando em uma

continuação, só não será meu próximo livro e talvez ainda não seja o outro, estou terminando um livro de fantasia medieval e tenho um projeto com zumbis correndo pela tangente, mas o DEIS Second Season como gosto de chamar já está em produção também, e este será muito maior, o mesmo formato com dezesseis contos, mas com histórias maiores. Uma prova disso é o conto Olhos Negros que entreguei ao pessoal do Sobre Livros, ele é uma continuação direta do livro e trás muito do que aprendi com o que os leitores me falaram sobre o livro. http://www.sobrelivros.com.br/semana-especial-do-halloween-olhos-negros-por-jones-v-goncalves/ & http://www.sobrelivros.com.br/semana-especial-do-halloween-olhos-negros-por-jones-v-goncalves-2/

Projeto Redação: Enquanto eu lia o livro eu ficava me perguntando uma coisa: Se o governo aprova um grupo especialmente para lidar com assuntos sobrenaturais como as pessoas ainda se recusam a acreditar que tais assuntos existam, principalmente pelo fato do D.E.I.S. não trabalhar como uma organização secreta. Eu

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perdi alguma coisa ou o quê?

Jones: Bom, como é dito ali em um dos contos o DEIS tinha um ou dois casos a cada semestre, nunca uma seqüência grande de casos, e isso não atraia muito a atenção do publico, apenas com as pessoas envolvidas mesmo. E outra se você olhar bem, os agentes agem sozinhos, para os policiais, pessoas não envolvidas eles tratam de casos de malucos e alucinados assassinos, não saem na imprensa falando que um vampiro matou pessoas no centro da cidade, não, os casos são vistos apenas como misteriosos, mas quando os acontecimentos em Religiosos se iniciam uma onda de novos casos vai aparecendo, e se encerra assim que o ciclo se completa, então tudo volta a normalidade com um ou dois casos por semestre. Ou seja quando a informação chega ao grande publico, chega na forma de catástrofe natural, um incêndio criminoso matou muitas pessoas, os sobreviventes falam coisas, mas são interpretados como loucos, ou simplesmente publicados por jornais sensacionalistas que não tem grande abrangência ou mesmo credibilidade. E em

outra passagem de Criaturas da Noite, você pode ver que o telefone do departamento só é conhecido pelos agentes e pelos oficiais da Civil, podem não ser secretos, mas não são conhecidos pelo grande publico, o que pode mudar com o passar das histórias.

Projeto Redação:Bem, estamos acabando nossa entrevista. Gostaria de deixar alguma mensagem para os leitores?

Jones: Gostaria de parabenizar a equipe pela grande iniciativa que tiveram com a revista, uma grande força para os iniciantes, gostaria de convidar os leitores a irem no sobre livros conhecer minha coluna semanal de oficina literária onde trato de alguns aspectos de criação. Deixar aqui meu twitter @jones_alef para quem quiser trocar uma idéia, estou sempre conversando com o pessoal por este canal. E aos escritores iniciantes não deixem o sonho morrer! Corram atrás do que vocês querem, não deixem para depois, a hora é agora, o publico brasileiro nunca esteve tão receptivo aos autores nacionais como agora, então aproveitem!

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Especial - O Senhor dos Mortos

O Senhor dos MortosJones Viana Gonçalves

Prólogo

A escuridão do complexo de cavernas da montanha de Rion era quebrada apenas pela luz esverdeada dos musgos esmeralda, como eram chamadas estas plantas fosforescentes que impregnaram as paredes do local. Na câmara do trono, dois soldados vestidos em armaduras de couro estavam firmes, faziam a segurança de seu rei e no centro da grande sala, sentado em seu trono rústico esculpido na pedra crua estava Ross Chifre Farpado. Detinha o rosto apoiado nas palmas das mãos, o olhar nervoso corria de um lado ao outro buscando em cada entrada de sua sala, esperava por noticias do mundo exterior. Seu povo estava impaciente, havia prometido aos Garkos, seres de sua raça meio-demoníaca, de que teriam gloria, com seus algozes a arrastarem-se sob seus pés pedindo perdão pelos anos de humilhação e maus tratos que estes haviam lhes infringido, mas para que seus planos de conquista fossem completos esperava por uma resposta, uma única resposta, e esta teria que vir, ou perderia o auxilio de seus pares impacientes os quais esperavam pela guerra.

Enfim a amargura do aguardo havia acabado. Seu informante acabava de chegar, Malock, um Garko pouco diferente dos humanos, não havia nele como em Chifre Farpado nenhum traço que denunciasse sua natureza, mas assim mesmo o sangue de seu antepassado demônio corria forte em suas veias. O rei de pele acinzentada levantou seu rosto e o desprendeu do pedestal formado pelas mãos, seu olhar angustiado em busca de resposta fez Malock não perder muito tempo, pois sabia que aquele olhar logo poderia mudar para um aspecto de fúria tão prodigiosa como poucos bárbaros seriam capazes de reproduzir.

- Ele está lá meu senhor, na cidade de Boolai. - Respondeu o informante a questão estampada nos olhos de seu rei, sem fazer mesuras,

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ou rodeios.

Um ar de alivio percorreu o rosto do monarca e como que por reflexo seu corpo tenso recostou-se mais confortável ao trono. O primeiro passo para a conquista havia sido dado, restava agora iniciar os planos de ataque, para que tudo desse certo e para que sua aliança com o velho mago e o Lorde do Abismo se consolidasse precisaria capturar seu alvo vivo.

- Reúna os homens e chame o general Asas Negras para que montemos a estratégia. Quero que você também esteja pronto com o seu grupo disfarçado dentro da cidade, não quero falhas nesta etapa dos nossos planos entendeu? – O rei agora confiante em sua vitória sequer voltava a olhar para seu comandado, ergueu-se de seu trono, dando visão ao porte avantajado, esculpido por muitas e muitas batalhas, para se tornar o primeiro rei de seu povo teve de usar força e astúcia, sem estes dois requisitos nunca teria reunido todos aqueles Garkos que por natureza eram extremamente desunidos.

Malock girou nos calcanhares e seguiu pelo corredor oeste deixando seu rei na sala do trono sonhando com o dia no qual viria à vitória definitiva, e no qual finalmente honraria seu povo, porém sabia que ainda iria demorar para que sua própria glória chegasse.

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O Guerreiro de Boolai

Capitulo 1 O Circo Chegou.

Mais um dia se iniciava na cidade de Boolai, quase um vilarejo, a pequena cidade de muitas ruas e poucos prédios, não trazia muros a sua volta, apenas as ruas, muitas delas pequenas vielas sujas e escuras mesmo a luz do dia. Os prédios maiores se concentravam na maior das ruas, a chamada rua principal da cidade que levava de um extremo a outro da cidade e tinha a largura de três carroças.

No centro da cidade existia uma praça circular, uma espécie de área para as caravanas pararem, neste dia, porém não haviam caravanas paradas ali, isso acontecia muitas vezes durante o ano, a avenida principal circulava a praça e a maioria dos prédios ao redor eram estalagens e tavernas. Naquela manhã muitas pessoas estavam nas ruas, estivadores da praça central ficavam sentados a espera de uma nova caravana, enquanto comerciantes chamavam seus fregueses para dentro de suas lojas na avenida principal.

Nas sombras das vielas o crime ocorria enquanto a pequena milícia formada por pessoas sem treino militar não se dava conta do que acontecia a sua volta, e a rotina da cidade continuava, até que cinco carroções do que parecia ser um circo entrava na cidade.

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O dia estava ensolarado e os raios de sol entravam pela janela do quarto de hospedaria, um quarto pequeno, uma cama de palha e uma bacia d'água, tudo o que suas míseras moedas de cobre podiam pagar. Alef sentia o sol tocar seu rosto naquela manhã. Para ele aquela luz era um aviso de que deveria virar-se na cama e dormir por mais algumas horas. A noite anterior havia sido difícil, não arranjara trabalho pela guilda e os poucos bêbados que perambulavam pelas ruelas já haviam

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gasto boa parte de seu dinheiro nas tavernas por onde passaram. Uma noite sem lucros fora aquela, para um ex-Lorde da noite, cuja habilidade e fama corriam por muitas paragens tudo aquilo se resumia num grande insulto, ter de viver como um simples ladrão. Mesmo assim já teria tido muita sorte, mas não naquela cidade. Este tinha sido o pior local desde o inicio de seu exílio, porém nesta manhã não só a luz do sol o acordava, mas também um som, um som vindo do outro lado da cidade, o som de tambores, flautas, risos e aplausos, o som da oportunidade.

Ele pôs-se de pé em um salto, buscou pelo cinto que estava atirado ao lado da cama, um ótimo cinto pensou, com vários “bolsos” por assim dizer, aquele utensílio carregava as ferramentas do experiente ladrão. Vestiu sua capa, as luvas negras, arrumou suas adagas nos bolsos escondidos da túnica. Quando parecia estar pronto foi até a janela e olhou para o local de onde vinham os sons, um grande tumulto de pessoas havia se formado na entrada norte da cidade. Sim ele via a oportunidade bater a sua porta novamente, poderia talvez conseguir dinheiro para então voltar a viajar, encontrar uma cidade maior, onde pudesse ter mais oportunidades. Imerso nestes pensamentos desceu as escadas da estalagem, a hora chegara.

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Do outro lado da cidade três cavaleiros adentravam pela rua central. O sol ainda brando da manhã a tocar-lhes a face, os pesados mantos sobre os ombros, cobrindo-lhes as armaduras douradas já surradas pelas batalhas do longo percurso de sua provação. Homens de valor, pode-se assim falar dos cavaleiros de Narsel, o reino mais ao leste, guiados por Sir Farric os jovens Degos e Nost estavam ainda em treinamento, mas um dia iriam brandir suas espadas como verdadeiros cavaleiros e quem sabe defender seu reino em alguma guerra que estivesse por vir. Sir Farric os havia trazido até ali, pois esta era a última cidade da rota comercial entre Tebas e Narsel antes de chegar ao reino dos cavaleiros, e há algum tempo eles rondavam por estas rotas defendendo-as das criaturas que insistiam em atacar as caravanas. Outros cavaleiros haviam fixado um posto há alguns quilômetros dali e Farric vinha buscar provisões na cidade.

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Ao longe podia-se ver a multidão aglomerar-se, parecia haver algum festival naquele lado, algo talvez útil para ensinar aos jovens, assim pensou o cavaleiro mais velho e fazendo sinal com a cabeça chamou os aspirantes para ver o que acontecia.

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No templo de Taito, o deus sol, Miriane estava ajoelhada, rezava para seu deus esperando ser de alguma serventia a ele. Há poucos dias retornara a Boolai, depois de cumprir sua missão em Calinas a cidade portuária da Baia de Nenai. A sacerdotisa ajudara um grupo de aventureiros a destruir uma praga de mortos vivos nos esgotos da cidade, lá ela viu amigos morrerem naqueles dias de terror. Uma sensação de perda a qual nunca mais gostaria de experimentar, uma sensação de derrota, mesmo durante a vitória, por ter perdido pessoas importantes naquele dia. Foi assim que o som da multidão correndo a encontrou, imersa na culpa de não ter podido ajudar, mas o som despertara um novo sentimento, este de emergência o que a fez ficar desperta uma vez mais. Tateando ao seu lado no chão encontrou sua maça, uma arma que poucas vezes fora usada, colocou-a presa ao cinto e seguiu para a porta do templo. Uma vez mais seu deus a chamava e ela atenda a este chamado entrou na rua sendo recebida pelos sons de flautas e do povo.

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Há muitos anos Evinwerr o elfo senta-se no galho daquela arvore para observar os humanos e sua vida agitada. Hoje no entanto observava outra coisa, o elfo olhava para o norte da pequena cidade com curiosidade redobrada. Tinha sua atenção tragada pelos cinco carroções que chegavam por aquele lado. Homens corriam a frente fazendo malabarismos, outros dançavam ou tocavam seus instrumentos em carroções destampados, mas o último trazia uma gaiola imensa, uma espécie de prisão a qual mesmo os seus olhos elficos não conseguiam ver o conteúdo. Atraído pela curiosidade ele desceu de sua arvore, com o arco preso as costas passou a aproximar-se da cidade que nunca antes vira um membro de seu povo, ninguém em Boolai nunca havia visto um

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elfo dos olhos vermelhos.

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O primeiro carroção era puxado por dois poderosos cavalos de guerra e a frente dos animais vinham três homens mascarados, os quais saltavam de um lado ao outro, indo e vindo, girando mortais e outras acrobacias. Suas mascaras de cerâmica branca ostentavam pequenos chifres, o povo ao ver tal demonstração de habilidade aplaudia e sorria enquanto uma a uma as carroças passavam pelo portão da cidade. Sobre a segunda e a terceira carroça músicos tocavam seus instrumentos de sopro e de cordas enquanto outros dançavam com grande equilíbrio sobre o veículo em movimento. Todos vestiam o mesmo tipo de mascara, mas um que estava sobre o quinto carroção não ocultava seu rosto. Ele fez com que a musica parasse com um sinal, o mesmo gesto fez o publico voltar toda a sua atenção a ele e ao que estava atrás dele, um pano cobria algo existente ali, o homem olhou para a platéia e quando soube que tinha toda a atenção que desejava falou:

- Senhoras e senhores, considerem-se com sorte, pois trago a vocês um grande espetáculo. Musica, dança, magia e grandes atores malabaristas, tudo para a sua diversão, mas também, bem aqui, atrás de mim, trago o terror para seus olhos, trago uma cria dos planos demoníacos, para seu deslumbre e alvoroço presenciem Dark Estrela Caída. - Neste momento de um puxão forte o pano caí e um grito espantado do povo em uníssono ecoa pela cidade. Lá estava ele, um meio-demônio, sua pele cinzenta, corpo forte vestido em farrapos, chifres recurvos e grandes asas coreaceas, seu olhar tenebroso havia pairado sobre o público espantado, o desdém de seu olhos gelava a alma dos espectadores, mas nada mais ele fez se não ficar ali parado.

- Não se assustem – continuou o porta voz com confiança em suas palavras – Ele nada pode fazer se não apenas olhar para vocês. Estas barras estão enfeitiçadas com as mais poderosas magias de proteção que possam existir em todos os reinos.

No meio do publico Alef ia de um lado ao outro, procurando

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pelos cintos, observando a espreita por bolsas de ouro ou outros objetos de valor, mas o ladrão sabia que dificilmente o povo daquela vila teria algo que valesse a pena, porém do outro lado da rua um cavaleiro havia lhe chamado à atenção. Trazia preso ao cinto um saco de couro, provavelmente bem recheado pelo volume que parecia portar. Dois passos ele deu para o outro lado da rua antes que outra coisa lhe chamasse a atenção, o brilho do aço, não o aço da espada do cavaleiro, mas o brilho de lâminas polidas, punhais aguçados, o brilho da morte, um brilho que há muito não via. Um brilho que lhe trazia muitas recordações e foram estas recordações que o fizeram retroceder. Olhou novamente ao redor, agora com mais atenção aos detalhes e percebeu coisas ainda mais aterradoras, as mascaras dos acrobatas, não de todos, mas de alguns, os chifres não faziam parte delas, eles se projetavam de pequenos furos feitos na cerâmica. Seus instintos o levavam de volta ao quarto, mas por outro lado a curiosidade lhe instigava a ficar.

O mentor dos jovens cavaleiros terrificado com a presença de tal criatura olhava diretamente para ela. Sua presença e a de seus pupilos já havia sido notada, mas Estrela Caída não parecia se importar muito com eles, mas a presença do cavaleiro o deixava receoso, sabia que qualquer coisa a qual fizesse poderia ser um motivo para o ataque do homem e de seus aliados jovens demais para serem graduados, e pretensos a perder a calma com mais facilidade que seu experiente líder. Degos e Nost por outro lado nem estavam interessados no meio demônio, seus olhos pairavam sobre as bailarinas que agora voltavam a dançar. Degos de longe o mais inquieto havia percebido algo que aparentemente seus colegas ainda não tinham percebido, a pele de alguns dos performers tinha um tom acinzentado, talvez fosse algum tipo de pintura quem sabe, mas era algo diferente.

O meio demônio não olhou mais para os cavaleiros e voltou seu olhar para a multidão, não demorou muito para que ficasse novamente surpreso. Uma jovem havia chamado a sua atenção, seu rosto angelical, cabelos longos e negros que lhe caiam por trás dos ombros, uma beleza anormal, mas em volta de seu pescoço estava o que teria despertado sua curiosidade, o símbolo de Taito. Uma sacerdotisa, ele a encarou com um olhar sarcástico e um sorriso escarnecido se esboçou em seu rosto,

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Miriane nada fez alem de olhar o carroção se afastar dirigindo-se ao centro da cidade onde havia a praça circular. Com o carroção prisão no centro e os outros quatro ao redor deste, eles pararam e a música se intensificou, então o povo se reuniu na volta deles.

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Doze era o número de malabaristas que se apresentavam ali dançando e saltitando por entre as carroças no ritmo ditado pela musica quando enfim um urro ressoou pela praça. O grito de guerra, o sinal da morte, quase que instantaneamente pequenas lâminas surgiram nas mãos dos malabaristas que em uma dança de carnificina abriam caminho pela multidão enquanto esferas flamejantes vindas dos dedos de magos, os quais antes tocavam seus instrumentos, explodiam no meio do povo criando mais danos e confusão. Dos carroções cobertos outros assassinos saltavam e corriam para atacar aqueles desafortunados que estavam a sua frente, um deles não tão desafortunado era Sir Farric que ainda montado fez seu fiel garanhão investir contra os atacantes. A lança havia trespassado o peito de um dos garkos o qual logo foi ao chão enquanto o cavaleiro desembainhava sua espada, em meio aos gritos de guerra ele observava seu alvo, o agora livre da prisão Estrela Caída levantava uma moça pelo pescoço. Ela se debatia tentando atingir seu adversário com a maça, mas nada encontrava.

O jovem cavaleiro Nost havia perdido o controle sobre seu cavalo e caiu ao chão, trazia a lança em sua mão e a usava para auxiliá-lo a se levantar, porém antes que conseguisse um dos garkos estava sobre ele. Nada mais enxergou, apenas sentiu a lâmina fria cortar-lhe a garganta e o sangue quente escorrer pelo peito, neste momento Degos chegava para tentar ajudá-lo, porém era tarde, seu primo estava morto, mas ainda assim teve a chance de vingá-lo. O garko ali distraído pelo agonizar de sua vitima não percebeu a chegada do rapaz, a lança atravessou-lhe a paleta e o trespassou. Com a fúria da investida por pouco o cavaleiro não deixou seu oponente pendurado em uma parede, rapidamente desmontou e sacou a espada indo para perto do corpo de Nost. Iria protegê-lo, porém mais rápida como os ventos das colinas gélidas uma maça o atingiu na cabeça derrubando-o, enquanto em outra

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local Sir Farric desferia seu primeiro golpe contra Estrela Caída, o meio demônio sentiu a espada do cavaleiro, o sangue negro sujou a lâmina, mas a criatura apenas largou a garota que caiu no chão inconsciente e Estrela Caída virou-se para seu oponente.

Seu olhar malicioso, puro veneno e maldade eram destilados naqueles olhos, movimentos rápidos com as mãos para atrair a atenção do cavaleiro, mas Sir Farric era experiente em combates e sabia que o movimento era uma espécie de ilusão o que não havia notado fora o que acontecia atrás dele, um dos assassinos veio andando rápida e silenciosamente para eliminar o cavaleiro o qual apenas escutou o zunido de uma flecha passando perto de sua cabeça e depois o ganido surpreso do assassino. Espantado Farric olhou para cima a sua frente e lá estava uma figura desconhecida, disparando uma chuva de flechas na direção das carroças e dos garkos, uma chuva mortal, porém este olhar lhe custou à vida, pois Estrela Caída aproveitando o momento investiu contra o homem.

De braços abertos ele o agarrou e apertou, sua força era titânica, os músculos tensos pelo esforço de esmagar o oponente, uma mão agarrada à outra tendo a espada de sua vitima entre os dois e as mãos dele pressionadas contra seu peito impulsionou suas pernas e moveu as asas. Farric sentiu seus pés deixarem o chão, olhou os prédios da cidade ficarem cada vez menores enquanto cada vez mais perdia o ar de seus pulmões, os dois voavam cada vez mais alto, mas em um ponto sentiu-se desprender. O ar entrou em seu peito violentamente, a sensação terrível de cair o petrificou e um grito prendeu-se em sua garganta, no fim escuridão, no alto do prédio Evinwerr viu um cavaleiro cair, da posição em que estava nada pode fazer, o sangue se empoçara ao redor do corpo do homem, provavelmente estava morto.

As lâminas das adagas dançavam em golpes velozes na frente de Alef, sua sorte era ser mais rápido ainda para se esquivar de seu agressor, mas mesmo rápido sentiu a lâmina afiada riscar-lhe o rosto e o sangue molhando a bochecha, mas mesmo assim estava calmo, um ladrão tinha de saber a hora de estar concentrado, muito mais ele, que há muito passara do nível de um simples ladrão, que já fora um lorde. Lorde das

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sombras, senhor da escuridão, nenhum destes assassinos se assemelhava em habilidade nem com o menos qualificado de sua antiga guilda, antiga família, em um movimento circular esquivou-se do ultimo ataque de seu agressor enquanto deixava sua própria arma no pescoço dele. Uma visão sinistra, ver o cabo do punhal encostar no pescoço enquanto a lâmina sumia na carne para enfim aparecer novamente apenas sua ponta do outro lado. Alef olhou para os lados a procura de outros, mas parecia não haver mais nenhum garko e nem mesmo o meio demônio, um ataque que terminou tão rápido quanto começou, mas é claro que não ficaria ali para se certificar de que tudo havia realmente terminado.

[O conteúdo aqui presente foi gentilmente cedido pelo autor]

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O que está acontecendo aqui? Primeiro uma fenda espacial gigantesca aparece do nada e depois toda a mansão se desmancha! As coisas simplesmente não param de piorar! Subitamente o guarda para de se mexer. O que quer que tenha acontecido teve significado para ele. —Não achava que ela apelaria para tanto. — Ele diz, olhando para o lugar onde ficava a mansão. —Ela? — Pergunto sem pensar. —Minha querida chefa! — Ele ri — Você é bom, rapaz! Seria triste você morrer hoje. —Obrigado! — jogo a espada de lado — Mas não sou eu quem vai morrer hoje! Não me resta muito Mana no meu corpo, mas talvez tenha suficiente para usar por alguns minutos. Espero que seja o bastante. Concentro a energia nos meus punhos e um calor começa a envolver minhas mãos. —Que meu corpo seja instrumento da vitória… Ele guarda a espada e dá as costas para mim. Olho-o atentamente, me preparando para uma ofensiva surpresa de sua parte. —Não precisa disso! –ele exclama – Não tenho mais o que fazer aqui então vou embora, rapaz. —Acha mesmo que eu vou te deixar ir assim? – grito. O calor nos meus punhos se esvai. Só bastou me distrair por um segundo para que tudo se perdesse. Tento reiniciar a magia, mas, antes que sequer ter uma chance para tal, o guarda puxa um papel do braço da armadura e joga no ar fazendo uma fenda espacial se abrir em sua frente. —Acho que você não pode fazer nada para me impedir, rapaz! ele me olha sorridente— Marco Jenkins. —O quê? – pergunto. Não foi exatamente uma pergunta genial. É claro que isso é o nome dele e se ele o está dizendo quer dizer que isso acabou. Não há nada que possa fazer então pego minha espada e guardo-a de volta na

Capítulo 8

Chantel

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bainha. Eu realmente odeio essa sensação de falha. —Paul Swanville. – digo, tentando parecer ameaçador.Dou meu melhor sorriso de “uma hora dessas eu te pego”. Ele retribui com um aceno fingido. —Nos vemos por aí, Paul! — Ele diz, sumindo dentro da distorção. A fenda se fecha rapidamente deixando o papel usado para abri-la ser levado pelo vento. Talvez devesse pegá-lo, mas não estou exatamente no meu melhor estado de espírito e ficar procurando um papel numa clareira à noite não é exatamente a coisa mais interessante do mundo. Olho para mim mesmo. Roupas sujas e amassadas, hematomas e inchaços aqui e ali, uma situação realmente deplorável. O pior de tudo é que também não me resta muito Mana. Se não me recarregar logo minha situação ficará bem ruim. —Deveria ter pensado mais, seu idiota impulsivo. – murmuro. Bem, agora já não faz diferença. Só espero que minha tenha se saído melhor que eu. E falando no demônio, Helena desponta no topo da escada, andando meio torta, com a roupa rasgada e suja. Ver a Senhorita “não suje minha roupa” esfarrapada e suja é uma cena rara demais para não ser engraçada, mesmo considerando o contexto. —Você está completamente destruída, Helena! — Grito. Ela ignora meu grito e leva quase um minuto para descer as escadarias. Considerando que isso geralmente não consumiria nem metade desse tempo o estado dela deve ser um pouco pior do que eu imaginei. O que quer que tenha acontecido foi realmente sério, pois nunca vi minha irmã frustrada desse jeito. Consigo sentir a raiva saindo dela mesmo daqui. —O que houve lá dentro? —pergunto— O guarda disse que “não achava que ela apelaria para tanto”. O que ele quis dizer? —Te explico no caminho! – ela retruca brava. A expressão séria parece esculpida no seu rosto de boneca é muito diferente da quase irresponsabilidade usual. Tudo isso me deixa apreensivo. O que teria causado tanta raiva nela? —Caminho para onde? — pergunto seguindo-a. —O Rosenscherwt estava por trás da Halo! — Ela responde,

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irritada. O choque me congela. Isso significa que todo o dinheiro que dávamos à eles estava indo parar nas mãos do Rosenscherwt? Por todo esse tempo procuramos pelo financiador deles só para descobrir que éramos nós que tornávamos possíveis suas operações! —E agora, o que vamos fazer? — Hoje estou me superando em fazer perguntas idiotas. —Avisar o conselho e a Coroa! Depois disso temos que descobrir o que eles fizeram com o dinheiro. — Helena para de andar e se vira para mim – Eles também sabiam da localização do Woruldfrea. — Ela diz séria. Sinto como se alguém tivesse me atingido na cabeça com uma barra de ferro! Não teria como eles saberem a posição de um dos Quatro Grandes! Só quem sabe disso são os membros do alto escalão do Conselho! Minha mão vai automaticamente em direção à minha face. Claro! Como não entendi o que isso significa? —Acha mesmo que… — Não consigo completar a frase. —Eu tenho certeza disso, Paul! — Helena faz uma pausa. Deve ser difícil para ela, como diretora, digerir a idéia — Eles estão dentro do Conselho e muito provavelmente dentro do IPDM! – ela desvia o olhar para a floresta – O Rosenscherwt estava agindo bem embaixo dos nossos narizes o tempo todo! Seu semblante é tomado por algo que nunca vi nela antes, um misto de raiva e decepção. Ela olha para o céu por alguns instantes e então cerra os olhos. —Vai chover… — Ela diz num tom melancólico.Ergo meu rosto ao céu e, lá em cima, vejo nuvens negras encobrirem a luz da lua.

“Welcome to the IPDM” ARC - END

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“Abandone a organização o mais breve possível”. Respirei fundo, deitado no chão do meu quarto, após uma noite regada a pesadelos com serpentes bípedes e grilos cavernícolas colossais. Isso sem contar os palhaços. Mas tenho de admitir: o tal Hipnos realmente sabia como desequilibrar uma pessoa. Palhaços alienígenas que prendem pessoas em casulos de algodão doce… Não sei se isso é genial ou estúpido, mas é realmente assustador. De um jeito ou de outro isso tudo é mais do que meu pobre cérebro consegue suportar. Já faziam dois dias que aquilo estava acontecendo e se as coisas continuassem do jeito que estavam eu ia ter que sair do Instituto. Respirei fundo, tentando colocar minha cabeça no lugar. Fugir não era uma opção. Não ia me render ao Rosenscherwt, pois Sabia que nunca me perdoaria se o fizesse. Sorri. Achava que já tivesse esquecido aquilo, mas estava completamente enganado. Certas coisas não podem ser esquecidas, suponho. Troquei de roupas, comi rapidamente no refeitório e então segui para o “Quartel” da Divisão de Tecnologia de Mana Aplicada. Mesmo não gostando da idéia de estar numa divisão de combate começava achar que talvez tivesse sido melhor assim. Se não fosse por isso dificilmente ficaria sabendo sobre o Rosenscherwt e pessoas capazes de usar os outros da maneira como eles usavam eram o tipo de coisa cuja existência eu não conseguia perdoar. Subitamente senti um choque forte atingir minha cabeça. Tudo ao meu redor começou a escurecer e uma dor intensa se espalhou por todo o meu cérebro. Minhas pernas cambalearam quando tentei dar um passo e acabei caindo de joelhos. Conhecia muito bem aquela dor, pois fora ela que assinalara o início dos pesadelos. —Não vai me pegar outra vez! – Disse para mim mesmo. Mesmo dizendo aquilo não tinha forças para resistir à dor. A pressão se intensificava cada vez mais fazendo as veias do meu corpo saltarem e meu pulso acelerar insanamente. “Vamos, Johan, não se

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entregue!”, repetia mentalmente para mim mesmo. —Johan! — Uma voz conhecida gritou. O som parecia vir de uma enorme distância, porém sentia as mãos da pessoa que o fez me tocarem. —Qual o problema? — A voz parecia cada vez mais distante. Tentei falar, mas meus dentes se recusavam a parar de ranger. As mãos então forçaram minha boca a se abrir e jogaram algo lá dentro. —Engula isso! — o som chegou a mim como um sussurro. Obedeci ao comando e engoli o que quer que fosse aquilo. Em alguns instantes a dor começou a se dissipar e minha visão a se normalizar. Alguns minutos depois estava totalmente recuperado e reconheci minha salvadora: A mulher de cabelos castanhos claros que tratou de mim na minha primeira estadia na enfermaria. —Lisa…? – perguntei ainda tonto – O que era aquilo? —Analgésicos. — ela disse e então ela estendeu a mão para mim— Venha, eu te ajudo! Levantei-me com sua ajuda e encostei-me à parede. —O que aconteceu? – ele perguntou olhando-me preocupada – Estava voltando de um atendimento na Divisão de Biologia quando te encontrei caído no chão. —Não faço idéia de como te explicar. Por agora, pode me ajudar a chegar até a Chantel? – perguntei começando a caminhar. Ela concorda com a cabeça e passa meu braço em volta de seu pescoço. —Sinto muito pelo incômodo. – desculpei-me. —Não se preocupe com isso. Eu sou uma enfermeira, lembra-se? Sorri para ela. Foi um golpe de sorte ter encontrado-a lá, pois, se não fosse por isso, ele provavelmente teria me feito desmaiar e naquele momento estaria preso num pesadelo outra vez. Olhei para seu rosto fino emoldurado pelos longos cabelos. Talvez fosse pela situação, mas ela realmente me pareceu mais bonita do que nunca. Quando chegamos à sala me sentei numa cadeira enquanto os quatro, Chantel, Mary, Dave e Liza, fitavam-me confusos. Chantel foi a primeira a romper o silêncio. —Então, agora pode explicar o que aconteceu? – ela perguntou séria.

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Respirei fundo para me recompor. Tudo que ocorrera no corredor ainda estava fresco na minha memória e fazia minha cabeça latejar. Quando finalmente me recuperei por completo comecei minha explicação. —Começou quando encontramos aquele corpo. — meu estômago já começava a reclamar — Quando desmaiei fui parar dentro de um pesadelo, mas tudo era extremamente real. Depois que acordei desse primeiro pesadelo estava num quarto e comigo estava um homem. —Cerrei os olhos para e a cena se repetiu na minha mente com grande clareza — Ele disse que eu deveria sair do IPDM o mais rápido possível e desde então tenho tido esses pesadelos e as dores de cabeça. Todos me olhavam pensativos. —Mas isso foi só um pesadelo, não foi? — perguntou Lisa. Chantel parecia especialmente introspectiva. Fechou os olhos e ficou parada por alguns instantes com os braços cruzados. —Por acaso ele te mostrou uma tatuagem? — ela falou após alguns segundos e então abriu os olhos. Confirmei com a cabeça. Ela não parecia surpresa, na verdade tenho certeza de que ela já sabia do que se tratava tudo aquilo. —Quando foi que ele te perguntou sobre o Rosenscherwt? – ela perguntou olhando para Mary. —Dois dias atrás. — ela fez uma curta pausa — no dia em que o corpo foi encontrado… – disse num quase sussurro. —Ele também me perguntou no mesmo dia! — Dave exclamou. Ela voltou a fechar os olhos. Aquela altura eu já tinha certeza de que ela sabia o que estava acontecendo. —Hipnos… — Chantel murmurou. Anuí. Talvez devesse ter falado isso de início, mas minha cabeça latejante impediu que o fizesse. Por vários minutos todos pareciam absortos em pensamentos e um silêncio pesado tomou toda a sala. Olhei nos olhos de Lisa e ela retribuiu com um sorriso cálido. Aquilo foi um grande alívio para toda a tensão da situação. Subitamente Chantel abriu os olhos e descruzou os braços. —Vamos atacá-lo! – ela exclamou inflamada. Todos a olharam, estupefatos.

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—Você está falando sério? — Pergunta Mary, atônita. Chantel confirma com a cabeça. —Na situação atual ele pode matar o Johan quando quiser, certo? — ela disse, olhando para Lisa. —Ele estava muito mal quando eu cheguei… — murmurou minha salvadora. A verdade é que se Lisa não tivesse chegado eu provavelmente não teria conseguido suportar a pressão. —Não só isso, mas também não podemos perder a oportunidade de enfraquecer o Rosenscherwt! – Chantel exclamou – Sabe tão bem quanto eu como isso é importante, Mary! —Eu sei disso melhor que qualquer um! — Mary disse irritada. Seu semblante ainda possuía o ódio que vi da primeira vez — Mas como vamos fazer isso? Ele não possui um corpo físico ao nosso alcance! Chantel sorriu como se já esperasse aquela pergunta. —Realidade Estendida! — ela disse sorrindo. Todos arregalaram os olhos, surpresos e assustados e aquilo me preocupou muito. O que quer que fosse “Realidade Estendida” eu sabia que era algo insano. —O que é Realidade Estendida? — Perguntei. Minha pergunta foi ignorada e uma discussão se iniciou no local. —Isso é loucura! — Exclamou Mary. —Mas pode funcionar! — Disse Dave levando a mão ao queixo. —Vai funcionar! — Disse Chantel, confiante. As faces de Mary estavam cada vez mais vermelhas, sinal de sua crescente irritação. —Não fazemos idéia do que vai ter lá dentro! – ela explodiu – E se tiver algum tipo de bloqueio ou proteção? O que pretende fazer, Chantel? —Vamos nos preocupar com isso caso aconteça. – Chantel disse sorrindo. — O que é Realidade Estendida? – Insisti. Todos se viraram para mim, surpresos —Você não sabe de nada? – Mary esbravejou. Aquilo realmente me irritou. Não é por ser um mago e ter me

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formado na Universidade Real que tenho de saber de tudo! —Digam logo o que é! – exclamei irritado. Lisa olhou para mim, compreensiva. —Realidade Estendida é o nome dado ao processo no qual, através de Magia, abre-se uma porta para o mundo interior de uma pessoa. É uma magia difícil de ser executada então não é muito comum entre os magos. É natural que você não conheça. – ela disse gentilmente. —Espera aí! – olhei para Chantel que estava parada em sua pose de sabe-tudo – Você não pretende… Ela sorriu —Exatamente, Johan! Vamos entrar na sua mente!

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Larissa sempre ficou perto de João. Os dois se conheciam desde pequenos, suas mães eram vizinhas e amigas, com isso, os jovens estudaram juntos, fizeram o colégio juntos, tudo isso num bairro chique de São Paulo, o Brooklyn. Eles eram amigos, até quando entraram no colegial. Eles descobriram o beijo. Descobriram o amor entre eles. Com isso começaram a namorar e conheceram tudo o que um casal tinha que saber. Eles formaram uma relação forte e saudável. No dia em que tudo isso aconteceu no mundo, os dois estavam brigando por causa da rotina que a relação chegou, até que os dois viraram-se e deram as costas um para o outro, quase terminando. Após verem todo o estrago feito ao redor no mundo, se acharam em meio à vastidão, e conseguiram retomar a relação, bem mais forte do que terminaram. Toda essa tragédia serviu para o casal como uma chama, que pode reacender a paixão cristalizada no peito dos dois. Após isso os jovens encontraram Fernando, sozinho na Santa Ifigênia. Mas agora tudo mudara. Fernando não estava mais entre eles, e dos três, só o casal era o sobrevivente. “FERNADO!” gritava freneticamente Larissa, do outro lado da porta de ferro que se fechara após uma cena de quase morte dos três jovens, caso João não tomasse uma atitude rápida de pegar a menina e com ela, jogarem-se para dentro dessa porta e fecha-la. “Calma meu amor, está tudo bem. Foi o desejo dele.” Disse João tentando acalmar a menina. “Pelo menos ele está livre de tudo que estamos vivendo agora. Pense assim”. “É... Você está certo.” Disse a menina enxugando as lagrimas na parte limpa que sobrara de sua blusa. “Sim, agora vamos em frente, não temos tempo a perder.” Disse João pegando a mala que sobrara com os jovens e colocando-a nas costas. Os garotos estavam em um quarto de fraca iluminação, que revelava um piso de mármore branco com alguns pilares sustentando as beiradas do andar. Ao fundo fazia-se presente uma escadaria que levava

Capítulo 9

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para um lugar em outro patamar. Os jovens foram escadaria acima, e encontraram uma sala totalmente iluminada, na qual se fazia presente também um piso de mármore branco e as tais pilastras da sala anterior. Porém o que diferenciava os ambientes, além da iluminação, era um quadro pendurado exatamente no meio da parede a esquerda dos garotos. “Vamos ver o que tem nesse quadro João.” Disse Larissa segurando a mão de João e apressando o passo em direção ao objeto. Os dois olharam fixamente para o quadro, que tinha molduras douradas com detalhes em alto relevo e como pintura, tem um desenho de um homem com curtos cabelos grisalhos, orelhas encurvadas para baixo e uma barba grisalha que encobria quase todo seu rosto; até que a menina levantou o braço e tocou a moldura com uma força exagerada, fazendo o quadro cair no chão e revelar uma alavanca. “Acho que achamos o caminho amor.” Disse Larissa, que puxou a alavanca com a mesma força na qual tocara o quadro, fazendo a parede se mover para trás, revelando uma passagem que escadas verticalmente para baixo eram presentes. “Vamos descer.” Disse a garota ao João. “Ok, mas segure-se em mim, e fique atrás.” Falou o rapaz colocando a mala no chão, abrindo-a e retirando de lá um sinalizador e uma pistola alemã. “Agora sim, vamos descer!” Disse João que ao descerem as escadarias, a porta que tinha se aberto, fechou-se rapidamente, deixando os jovens presos na parte de baixo, restando a eles somente a descida pela escada. Ao moverem o primeiro passo para baixo, um grito alto ecoou por toda a escuridão presente no local, fazendo os garotos se assustarem e caírem por toda a escadaria, degraus a baixo.

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Pela manhã do dia seguinte, Hércules e Tarim seguem para Samir, para continuar o treino: - Mestre – diz Tarim – meus braços ainda doem. - Os meus também Tarim. Samir vem até eles: - Sigam-me. Samir os leva a uma enorme árvore, chuta a árvore, caem várias folhas da árvore, com um Machado de Pedra ele atinge todas as folhas que caíram antes que elas tocassem o chão. Então ele pega duas espadas de pedra e entrega uma a Tarim e outra a Hércules: - Aqueles que anseiam ser Cavaleiros e Escudeiros têm mais facilidade para lutar com Es-pada e Lança do que com qualquer outra arma, já os do Povo do Fogo, tem mais facilidade para lutar com Maça ou Machado. Resumindo, se eu tentasse acertar todas as folhas com uma espada, eu conseguiria, mas não com uma espada de pedra, porque minha raça me permite ter facilidade em manejar a Maça ou o Machado. Quando conseguirem tocar ou cortar todas as folhas desta árvore que caem com um chute, com as espadas pesadas, manejar uma espada leve será brincadeira de criança para vocês. Samir roda em alta velocidade o Machado de pedra que está em sua mão: - Vocês treinarão por uma hora todos os dias nas árvores do meu forte, daqui à uma hora virei passar a próxima tarefa. Por uma hora Hércules e Tarim ficam acertando as folhas, mas não conseguem acertar to-das, nos primeiros minutos eles mal conseguiam tirar as pontas das espadas do chão, no fim de uma hora já estavam pouco melhores. Passado uma hora, Samir volta até eles e os leva até um vulcão fora da Vila I, o Vulcão Amir:

capítulo 7No interior do Vulcão Amir

guerreiros predestinados“O Mestre Hércules finalmente retornou a mim, eu pedi a ele para me tornar seu Escudeiro e ele permitiu, voltamos a Vila I, começamos o duro treino com o Mestre Samir, um poderoso Bárbaro do Povo do Fogo, fomos bem, mas eu não sei se estou preparado para ser escudeiro”.

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guerreiros predestinados - Para serem bons guerreiros, devem vencer suas fraquezas, cada povo tem uma fraqueza distinta, a do meu povo é a água em baixa temperatura ou o gelo, a de vocês é o fogo ou a alta temperatura, por isso, a cada dia, virão até aqui e chegarão perto da lava, até o dia em que suportarem ficar uma hora bem do lado da lava, seus corpos ficarão resistentes às magias de fogo, que outros guerreiros poderão usar contra vocês. Todos os dias depois do treino da espada virão para cá e ficarão uma hora, cada dia mais perto da lava. Samir se retira. Hércules e Tarim chegam a uns 50 metros da lava, e sentam, o calor já é bem insuportável para eles. Tarim diz: - Mestre, estou quase desmaiando aqui. - Eu também Tarim, temos que conversar, assim a hora passará mais rapidamente. - Sobre o que quer falar Mestre? - Qualquer coisa. - Fale-me sobre seu mundo, como ele é? - Pra você acho que seria estranho, não há espadas ou armaduras, houveram no passado de meu mundo, mas agora... - E como as pessoas se defendem das criaturas de lá? - Não há criaturas lá, os animais ficam longe das cidades. - Das o que? - Grandes Vilas do meu povo. - E sua família? - Eu tinha uma esposa e um filho, eles morreram em um acidente de carro. - O que é um carro? - É um dos meios de transporte do meu mundo. Eles caíram em um abismo. Eu devia estar lá para protegê-los, mas não estava, eu falhei. - Não foi culpa sua, Mestre. Como eram os nomes de seu filho e de sua esposa? - Isso é que é estranho, eu não me lembro dos nomes deles aqui neste mundo. - Você fala com tanta emoção Mestre... - É que os amo muito, eram minha maior alegria de viver. - Sabe Mestre, um poderoso Cavaleiro do Espaço Tempo, está ameaçando as pessoas, eu acho que o propósito dos Cavaleiros

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guerreiros predestinadosPredestinados será detê-lo, ele mata muita gente, a-cho que foi ele quem matou meus pais, acho que minha mãe só teve tempo de me deixar na Floresta Amir e fugir, não me lembro dos meus pais, mas sinto falta deles. - É ruim perder uma família não é Tarim. - É sim mestre... - Por isso a partir de agora seremos uma família, tudo bem? - Não sei mestre, acho que quando salvar as crianças e o Mago Heymore, você voltará para seu planeta, não poderemos ser uma família longe um do outro. - Tem razão, então seremos amigos, pois a verdadeira amizade, é viva mesmo longe. O que é este Espaço Tempo? - É um planeta visinho ao nosso, mas nave nenhuma chega lá, devido a uma magia que cir-cunda o planeta e é muito forte. - Existem naves aqui? - Sim, mas é necessária permissão do rei para navegá-las. - Há um rei no planeta? - Sim ele governa tudo, inclusive os Guerreiros dos cinco povos. O Espaço tempo é um planeta ruim, dominado por Hércule, a vida lá é quase impossível, muitos são escravos, os poucos que conseguem vir de lá para cá, ficam pouco tempo aqui, pois aqui o corpo deles dói, eles ficam mais fracos e tem de voltar logo ao Espaço Tempo. - Não há uma saída. - Diz há lenda que há um portal escondido, mas não se sabe onde. Samir chega até eles, andando pelo meio da lava, seus pés estão intactos: - Agora é hora de escalar a cachoeira. Samir os leva até uma cachoeira nos limites do forte de Samir: - Vocês devem subir até o topo da cachoeira no rio, devem subir pela água da queda e não pelas laterais, se não conseguirem até o por do sol... - Já sei – diz Hércules – estamos fora. Samir vira-se e vai embora. Hércules e Tarim seguram nas pedras lisas e começam a subir, a corrente da água é muito forte e após subirem uns 4 metros eles caem no rio:

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- Mestre não conseguiremos – diz Tarim – a corrente é forte e não há onde se apoiar. - Eu tenho uma idéia, reúna o máximo de cipós fortes que puder. Eles pegam o máximo de cipós que encontraram e fazem uma corda bem forte e trançada: - Eu fiz isso na segunda vez que escalei a Montanha Amir – Diz Hércules – só não sei como prenderemos ela lá no topo. - Eu sei – diz Tarim – me empresta a ponta. Tarim amarra a ponta em um de seus Bumerangues de Madeira e lança, ele finca e faz uma volta em uma pedra, Tarim puxa com força e vê que está bem presa: - Muito bom Tarim – diz Hércules – o que seria de mim sem você? Tarim sorri, eles começam a subir, depois de um tempo, eles chegam no topo bem cansados da força que fizeram para enfrentar a corrente, eles andam pelo meio do rio até a margem, mas quando Tarim está saindo, algo o puxa de volta para dentro do rio, levando-o para uma parte mais funda, ele grita: - Mestre socorro. Hércules se agarra aos braços de Tarim, ambos são puxados para o fundo do rio. É um tipo de peixe gigante, possui cinco barbatanas, uns cinco metros de comprimento, e uns três tentáculos que saem de dentro de sua boca, e um deles está preso ao pé de Tarim para puxá-lo até a boca do peixe e devorar Tarim!

“Este peixe vai me devorar? Meu mestre terá força para me puxar agora que já treinamos e estamos cansados? O treino vai demorar muito para ser concluído?”.

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Os quatro decidiram ficar por ali para descansar e partir apenas no dia seguinte. Firleu estava dormindo, e Melian havia pedido a guarda. Ele acordou com ela chamando por ele: - Firleu! Venha ver isso! Eles surgiram do nada! Ele saiu da barraca, e viu que toda a clareira estava repleta de seres belíssimos. Todos pareciam humanos, mas detentores de uma beleza e luz que deixava claro serem eles superiores a qualquer mortal. Por um instante, ele sentiu que o céu havia descido, e ele estava entre anjos sem asas. Mas ele podia ver homens e mulheres. Não seriam os anjos assexuados?Ele se sentiu tão embriagado em tanta sublimidade, que sua mente vagava e ele não conseguia manter a clareza em seus pensamentos. Lágrimas rolavam em seu rosto, mas ele não sabia o motivo. Alguns desses seres se aproximaram de sua agora esposa, e se afastaram pesarosos. Pareciam estar chorando serenamente, ainda que não se pudessem ver lágrimas. Nesse momento um desses seres falou a ele: - Então és Firleu, filho de Halinard? - Sim, sou eu. - Tens idéia do crime que seu pai cometeu? Da gravidade que foi mandar assassinar aquela mulher? - Do que está falando? - Da mãe de tua esposa... - Como assim? – Sua cabeça girava, ele se sentia cada vez mais tonto. A ira divina era mais do que seu corpo podia conter. - Pare, Chavakiah. – Disse uma doce voz feminina. A dona tinha uma aparência de mulher bela e nobre. – Ele está confuso. Conte tudo a ele, para que ele ao menos saiba o porquê de estar sendo julgado. - Então, Iheratel, expliques tu a ele. - Sem sombra de dúvida – Firleu estava tão hipnotizado que não conseguia se mover. – Deus, nosso criador, tem muito amor pela

Capítulo 7

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raça humana. Então, mandou vários de nós anjos para os guardarem e proteger. Muitos dentre nós recebemos a missão de viver entre os homens, e como eles. Por isso a nossa forma mortal. E os descendentes desses anjos com a missão de viverem como mortais são considerados anjos também. Muitos detêm a capacidade, de curar, como a mãe de sua esposa. Outros, como ela, são impedidos d pecar. Acredite, cada sangue derramado por sua esposa foi em nome de Deus, e nenhuma gota de sangue inocente manchou as mãos dela. - Ou seja: – continuou Chavakiah – Teu pai mandou matar a uma criatura divina! A pena a isso é pior do que a morte! Tua família está amaldiçoada até a milésima geração! Todos vós estais proibidos de cruzar os portões do paraíso! E a eternidade te separará de sua amada, que já tem o seu lugar ao lado de Deus. A não ser... Que voltes atrás agora. Deixa tudo para trás e apenas seu pai será amaldiçoado, e não levará a maldição consigo. Basta apenas que vás embora, e... - Não. – Ele finalmente conseguiu forças para abrir a boca. – Não abandonarei a ninguém. Nem à minha família, nem à minha amada, nem aos meus companheiros nem aos meus súditos. Anjos não tentam! Saiam de perto de mim, tentações!Iheratel sorriu, aliviada. - Ele passou no teste, Chavakiah. Sua alma é nobre e pura. Deixe-o ir. Tem nossas bênçãos, jovem. Cumpra sua missão, e liberte a alma de sua família. Dê-me sua espada.Ele entregou a espada. Ela a tocou, e ela assumiu um brilho levemente azulado. O metal ficou mais leve e delicado. Ela o entregou. - Agora sua espada é abençoada por anjos, e as criaturas malignas não resistirão a ela. – Ela se virou para Melian, que era quem estava paralizada dessa vez – Eu entendo o quanto isso deve ser assustador para você. Apenas viva sua vida normalmente, pois já está servindo a Deus. Sua mãe se juntou a Ele porque sua hora havia chegada, como chegará a de todos nós. E saiba que Ele reconheceu sua união com seu amado. Agora vocês são um. São marido e mulher aos olhos de Deus até que a morte os separe. Cuidado em sua missão. O seu inimigo é apenas um fantoche, do próprio Anticristo. Tomem muito cuidado. E saibam: Quando mais precisarem de nós, apareceremos. Aliás, creio que precisarão disto. E, assim como apareceram, todos eles sumiram, flutuando e

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simplesmente esmaecendo no ar. À frente, as montarias apareceram pastando tranquilamente na clareira. Firleu e Melian se abraçaram. - Minha esposa. - Meu marido. E se beijaram.

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Geometricamente, o Reino de G****** é uma elipse cujo semieixo menor possui uma invaginação de diâmetro dois quilômetros bem como uma inclinação de vinte e cinco graus negativos. As bordas extremas do segundo quadrante são serrilhadas, num zigue-zague procedido de uma pequena linha reta de cerca de vinte metros, quase que como um padrão. O resto do reino segue seus paragões curvilíneos, em especial seu poente intacto de motos membranosos. Alguns estudiosos veem no extremo sul uma forma apuada ligeira e meio perjurável no inverno, mas nada disso meu cristalino reteve. Geograficamente, o Reino de G****** é feito de pradarias altas em seu Sul, abruptamente encerradas e procedidas por uma fusão de pradaria mista e baixa, com predominância porcentual da baixa, principalmente quando em relação ao Norte do Reino (não pensas você num degradê). Possui uma extensão de trinta quilômetros quadrados, mas sua fragmentação adscreveu cinco quilômetros em sua região Sul (e daí uma prova concreta da ponticidade geométrica), e acredita-se que processos separatistas, pouco tempo depois da época do Cavaleiro, transformaram o reino num queijo suíço. Um mapa de autoria desconhecida, feito há trinta anos atrás e retratando a cartografia real cento e vinte anos após o Cavaleiro, demonstra uma incrível redução de vinte e cinco quilômetros quadrados do reino, sobrando-se apenas um cinco indefeso. Este mesmo mapa, acompanhado de um pequeno e encardido manual, diz que a flagelação circular do reino sofreu uma progressão aritmética vez outra interrompida por um número a mais ou outro a menos, mas segundo o livreto, estas pequenas áreas independentes, presas e cercadas, tendo sofrido uma fagocitose certeira, acabaram por unir-se em linhas tênues e num rápido lapso duodenário abrangeram terras e mais terras do reino, reduzindo-o num pequeno castelo nebuloso (uma afronta às teses bélicas apresentadas anteriormente). O vilarejo localizado no segundo quadrante, o manual informa, foi a primeira área a se tornar independente de forma oficial, e

Capítulo 2

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após o mesmo vários outros nobres decidiram empreender tal empresa territorial: L**** III, da família de A****, iniciou a feitura sendo procedido por F**** XIII de F****, que combateu na Guerra dos J****, G**** de H**** LXIV, morto enquanto contrabandeava prostitutas, L**** XX de H*** J****, dono de uma esquadra marítima bojuda e pouco eficiente, N**** IV de N****, péssimo príncipe e alvo de setecentas e oitenta e nove chacotas exatas, R**** T**** IV de T*****, carniceiro conhecido por suas viagens à T***********, P**** R*** H******* de Q****, cientistas desgarrado amante de formas prismáticas e iridescentes, B***** X de K*****, semeador de literatos de cavalaria, e, por fim, o cosmopolita M***** R** G****, de família duvidosa, mas tida como destronco genealógico A******. Estas informações podem ser perfeitamente falsas, na medida que o texto remete ao mesmo rei bondoso e varão em seu reino de coníferas verdejantes e madeireiras felizes. Um mercador, especialista em cebolas falsas, em seu diário, cinquenta anos após o Cavaleiro, diz que o reino estava sendo comprado por um nobre fidalgo advindo de terras do extremo norte (possivelmente V********** de C****, acusado(a) de bruxaria pelo Bispo L******), onde as pessoas “sentem frio no verão e simplesmente não vivem no inverno”. A precipitação anual atinge o exato quatrocentos e cinquenta, e já li um estudo fantasioso que dizia haver uma ligação extraterrena e mística entre os buracos e tocas de animais ao longo do terreno do Reino, numa espécie de Serpentário sem Barnard. Todos esses aspectos juntos e combinados com uma astronomia monótona de constelações apagadas por chumaços de nuvens encardidas bem como uma meteorologia cronometrada dão numa caracterização tendida ao fantástico do reino. No entanto, o aspecto botânico merece uma atenção especial, iniciada há cerca de noventa anos antes do Cavaleiro por um nobre colecionador de plantas medicinais, em especial zingiberáceas que causam enjoo... Duma cova térrea a amontoa, periodicamente reposta, dá como resultado uma posposição aquática de forma também periódica, sempre evitando um excesso alagadiço, e tendo como resultado a hipotética morte da bactéria péptica. A carência de fontes empobrece esta atuação, mas o mesmo paralelepípedo continha em seu interior iridescentes crassuláceas que atendem até mesmo os faltos memorialistas. Quantas

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decúrias fossem, nenhuma excederia a grandeza violeta destas iridáceas em amontoados milhares, de estigmas descartáveis e prontos para a avidez colecionarística. Afinal, tratava-se de um belo conteúdo que catalogava desde umbelíferas aromáticas comestíveis até a esperança da grei do pobre enforcado. Pena que está última, quando num fatídico atrito dantes da mudança, teve seu interior gasoso e fétido exalado e perpetuado, atingindo até mesmo as entranhas terebradas de coifas vilosas, poderosas brocas a proteger o caliptogênio, infiltrando-se em vazantes perigosos! Fossem não estes incidentes, tudo poderia muito bem passar desapercebido; mas é de se imaginar que houve, não obstante, um resultado místico da penetração odorífera de tão potente mal nasal: as coifas, segundo foi-se dito por comentadores amiúdes, agigantaram-se formidáveis, passando até mesmo a traspassar as barreiras cinzentas que transpunham a realidade subterrânea. Essas veias e artérias esverdeadas, deturpadas no que a natura fez de bom, vão descendo tais rios fosforescentes e um tanto quanto transparentes pelos limites físicos do espaço referencial analisado, mas já se me foi ouvido analogias ao que o teto lacrimeja durante suas noites cálidas e friorentas, despejando seus sulcos esmeraldinos no piso repartido. Romântica e porque não condecorar fantástica, a verdade exposta por pastores de vinhedos quebradiços canoniza-se na diferença entre o pH daqui e dacolá, formando um pequeno caldeirão gótico e ferroso, tais os da bruxa sarapintada de verrugas a unhar e refestelar seu objeto de trabalho, que esquenta trôpego as moléculas unidas e bravas num movimento iroso que perfura augusto os espaços subatômicos, donde jamais em condições comuns imaginou-se sê-lo, resultando naquela selva isomórfica e planificada, bidimensional e tétrica que apenas qui marca decisiva o cenário. Atenta-se, vero e óbvio, o advérbio de local anteriormente empregado, pois que este é peça chave para saber-se da posição espacial e sua factível trasladação: nesta oração nanja o falso adentra-se. Do que se deduz? Setenta porcento, com predominância sudeste, dos cômodos foram afetados de forma majoritariamente intrínseca. Não apenas tal: o pH amostral caiu na casa do três exato, e uma considerável amostra

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de ferro e enxofre foram encontrados na ponta da coifa, que se estendeu formando um desenho duma medusa simétrica e repetitiva. O mesmo padrão foi seguido até um aumento óptico de mil e seiscentas vezes, mas acreditou-se os matemáticos da época tratar-se dum fractal novo e desconexo, uma espécie mística desgarrada. Alguns chegaram até mesmo a classificá-lo como aleatório, mas sequer conseguiram determinar seu estocástico. Outro estudo, um tanto quanto interessante, tentou prová-lo como sendo um sistema de funções iteradas, donde a figura repetida era uma pirâmide. Nada disso teve vida longa, pois o que realmente demonstrou-se pesquisante foram as aparições de espécies desgarradas e improváveis no Jardim Botânico do Reino, divididas em duas levas: a primeira dois anos após a chegada do célebre botânico e a segunda concomitante com o nascimento do Cavaleiro. Introito duma espécime desgarrada, com tendência fotossintéticas (porcentagens perdidas temporalmente) aterradoras e um tanto quanto venosas, destilando seu sulco nos meados do inverno subsequente à floração setentrional. Uma análise microscópica falhou-se a partir de parâmetros exteriores do objeto em questão, tais como sua superfície rígida e encouraçada, nem um pouco dada a instrumentos serrotais. A predileção contemporânea para com a observação aquém do experimentalismo fisiológico e dissecante, predileção dada como completa por razões resultantes, contribuiu para o paradigma que temos. Esta, bibliografada por trinta e sete profissionais subsequentes e dados às capas duras verde mucosas, ganhou Afroditus anquesitus como denominação desde, mas esta é debatida acaloradamente por fatores mil que espigariam indevidamente o que não deve sê-lo: as explicações do nomeador abscondem-se quando pressionadas, em sua efêmera estada terrestre. O verdadeiro compêndio disto está nas alterações ulteriores do aparecimento deste espécime na extrema margem esquerda do Jardim Botânico Real: uma polinização combinada com ventos favoráveis do tempo chuvoso, nublado e úmido daqueles anos (precipitação de setecentos), acarretou um procedimento deveras interessante que desafia até hoje os adeptos dum e doutro lado: o surgimento de espécies zoológicas e vegetais no pequeno vilarejo, mais especificamente a estátua dum cavaleiro obscuro e sem lá muitas honrarias, dado como padroeiro

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e protetor desde a invasão L******ódica num ano mais obscuro ainda. Dentre todas surgidas, apenas uma merece escalpelo: aquela que se deu entre duas edificações de cerca de cinquenta metros quadrados, com tons arquitetônicos medievais derruídos em suas laterais e peças plásticas datadas de setenta anos antes, pois que esta gerou ao seu redor uma bibliografia deveras extensa, caindo na casa dos cinquenta livros e mais de cento e vinte artigos científicos escassos, do qual nenhum disponho pela dificuldade catalográfica. Sob um quadrado visto do aéreo referencial, um amontoado de terra preta dá como canteiro a factível escolha de sete plantas verdes, gordinhas e sedosas: mas nada disso efetivamente dá-se como vero, na medida em que estas plantas apodrecem amarronzadas e caem com uma palmada do vento num espaço-tempo tão efêmero que ninguém poderia sequer imaginar ou conjecturar. Afinal, os pilares mesopotâmicos transcendentais entortam-se e cruzam-se num ponto tendido ao retilíneo e torto com o passar das sobreposições; disto e para isto, apenas observações variadas e irrelevantes trazem certeza, pois que no compêndio da situação, a leve e fina estrutura paisagística formada pelas camada castanhas do caule afinam-se e misturam-se quanto mais superior e elevado é seu trajeto, sofrendo um processo virente necessário e estranho na medida em que afeta o que não deveria sê-lo. Dedos incandescentes de viçosas flamas, chamuscando e tocando as redes invisíveis do nada e do haver, como uma desgarrada espécie mística que acorda de noite e atazana mulheres prenhes em seus vestidos de renda branco: e seu toque fosforescente engloba os pequeninos homúnculos e estes entornam o existir místico dum ser tão excêntrico tal este o é. As superfícies esmeraldinas destas pontifícias estruturas demostram-se tais cascos de tartarugas preguiçosas, tentando alcançar uma praia distante ou um abismo profundo, mas mal sabem elas que à esquerda ou à direita pequeninos rios ramificados e estreitos, crescendo e destilando cá ou acolá num emaranhado de coisas mil, dariam a seus caçadores o néctar raro das entranhas extremamente funcionais, carregando, em engrenagens potentes, o sulco trabalhoso para cima e para baixo, numa refinaria industrial sem sucatas tenebrosas ou luzentes metais crepusculares, mas sim composta de tênues fileiras existenciais que sustem o ser com o apoio daquele que deixou a carroça com o filho desengonçado, a estrepitar céus e

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terras e lançando por conseguinte raios refletidos ao tipo seco e áspero, quebradiço e calvo, numa espécie de lança militar enferrujada e jogada às traças do armistício ocorrido há alguns minutos atrás quando os tanques de guerra circunvolucionários zuniam no ar revolucionários em seus estoques essenciais, sugando ou raptando o líquido dourado daqueles chapéus de moças e raparigas em flor dançantes num jardim de inúmeros outros milhares, rodeados do pipar calmo e plácido dos passaritos esfomeados e seus caramelados lanches, subindo e descendo nos canais recônditos da musa pétrea que oferece a toda sorte de bichos um atrativo mágico, e não podendo ser diferente dos tétricos monstros devoradores de superfícies fotossintéticas, deglutindo aos borbotões e desfalcando a unidade paisagística, com sua fome de drago horripilante e causando pavor inclusive donde quando seca-se tudo e lá vão-se a cair no chão como barcos naufragados dum leviatã perverso, e esperar a clemência dos mercadores e citadinos apalermados com a acústica resultante do simples pisar, pois que a mesma realmente diferenciava-se na medida que produzia um estrépito vago, seco, como se soltasse da boca dum trombone intrínseco uma pequena nota grave e gorducha a agudar-se com o passar presto do tempo, e não bastando isso, exalando um leve odor de mata molhada, fazendo do orvalho factível uma certeza, pois que com o magistral espetáculo do desabrochamento tudo tingia-se multicolor e o interlocutor sentia-se trasladado a um estranho campo de batalha com o claudicar das patas de cavalos trotantes cá lá fazendo lei ao gládio horrendo, ruborizando as pétalas e decepando pedúnculos, exceto aquele último que salvou a profusão de odores para as gerações futuras, crescendo e multiplicando em cores até o desfrute entrecruzante de ramos intrincados parando seu digladiamento num último e desgarrado que simplesmente cresce, serpenteado debilmente, tendido à entrada espelhante dum recinto abastecido de três louros decapitados, ciscados por uma ave de rapina depenada...

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- Deseja alguma coisa ?! - perguntou a empregada de mesa pela quinta vez, já com a voz a ecoar por todas as perspectivas do bar e a paciência a antever o iminente abandono. - Sim, desculpe. Queria um café. - respondeu Matilde, subtilmente, ao furioso olhar com que aquela mulher a inquiria.Mas Matilde, como vinha sendo habitual nos últimos quatro dias, alheava-se a tudo quanto a rodeava, focando a sua concentração em penosas encenações mentais. Qualquer transeunte do planeta era suspeito aos seus olhos, o perigo espreitava em cada esquina, um polícia, símbolo da autoridade, podia ser também um disfarçado criminoso capaz dos mais macabros crimes. Um constante sonambulismo pressionava-a a tais demências. Estava, sem dúvida, possessa pelo corrosivo vírus do medo. Desde o dia em que se debruçou atenciosamente sobre as notícias de um jornal de criminologia, a sua percepção do mundo passou a assumir uma absurda dimensão de exagero. Na sua casa, onde sempre reinara um ambiente pacato, uma avassaladora preocupação começou a sombrear a serenidade do marido e das duas filhas. Não que temessem algo exterior, como um assalto ou outro crime da mesma ordem, mas sim a evolutiva paranóia doentia que estava a consumir aquela trabalhadora mãe de família. As suas exaustivas pregações matinais, os telefonemas que panificavam o marido ao longo do dia, através dos intercalados gemidos do telemóvel, as notícias que ela lia ou ouvia e bombardeava aos cansados ouvidos das filhas, quando estas chegavam a casa. Esta havia sido a rotina que punha em causa a sua sanidade perante os outros membros da família, e que começava também a alastrar-se pelos colegas de trabalho. Estas recentes situações fomentavam na cabeça de Matilde uma perturbadora agonia, pois desta forma sentia-se a única pessoa no Mundo capaz de sentir o caos em que estava a sociedade. Como era de esperar, todos a aconselhavam a consultar um médico, não no sentido de expressar uma

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frase feita, mas sim por verdadeiro motivo de preocupação.

Pagou o seu café, mas não sem antes esperar que o homem, que estava a pagar no momento em que ela teve a intenção, saísse para só depois efectuar o acto. No momento do pagamento, quando a empregada lhe estava a retribuir o troco, ela lançou agudamente a sua mão à da pobre rapariga, que estremeceu de susto perante tal atitude, e tirou-lhe as moedas da mão antes que esta terminasse o movimento de lhe fazer chegar o devido dinheiro. Ao guardar a carteira na mala, percorreu todos os ocupantes com um rápido olhar desconfiado, como se analisasse quais os presumíveis gatunos. Durante toda esta melindrosa transacção, algo lhe escorregou sorrateiramente da mala, mas, preocupada em abandonar aquele antro de stress, caminhou apressadamente para fora do estabelecimento sem prestar atenção aos apelos que a empregada que lançava. Julgou ser algum tipo de provocação e fingiu não ouvir. No momento em que transpunha a porta de saída chocou com uma mendiga que estava a entrar. Esse contacto irritou-a profundamente, e ao mesmo tempo que fugia do local confirmava discretamente os seus haveres, não fosse a mendiga ter-lhe habilmente roubado algo no momento do impacto. Esperava-a uma cidade que era a mesma dos outros dias, não fosse o facto da sua recente obsessão acumulada à tardia saída do emprego e ao esquecimento do telemóvel, que a tornavam num núcleo de temor. Pudesse talvez telefonar para casa pedindo ao marido que a viesse buscar. Mas não. Isso implicava servir-se de uma cabine pública e os ladrões gostam de assaltar as pessoas quando estas estão a tentar telefonar. Quem sabe um táxi não fosse talvez a opção mais acertada…? Mas quem garantia a seriedade do incógnito condutor? Restava somente uma solução, que era seguir a pé apesar dos riscos que isso implicava. Eram já dez da noite e as pessoas começavam a escassear nas ruas, facto que tornava a sua curta caminhada para casa num longo inferno de suposições e receios. As públicas luminárias, que ornamentam as cidades, estavam já todas renascidas àquela hora, aspecto que lhe causava maior pavor, pois se estas escassas luzes abundavam isso significava ser já noite cerrada, quando os bandidos sentem maior liberdade em consumar os seus actos. O próprio eco dos seus passos, quando ela atravessava alguma zona acusticamente favorável, lhe provocava descargas de eufórica

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adrenalina. O ruído era seu inimigo, pois significava movimentação, acção e presença. No entanto, também o silêncio era motivo de intriga, devido à presumível ocultação de alguém nessa ausência. Os sentidos eram poucos para tanta atenção. O coração, no entanto, não tinha ainda explodido em algum derrame de medo.Os arbustos à sua frente ondulavam sobre o sopro de um fraco vento que embalava a noite com o cantar das ramagens. Ela abrandou o passo, num intrigante devaneio de indecisão, ao observar tal fenómeno que lhe começava a bombear o órgão com maior intensidade. Optou por aumentar a velocidade dos seus passos ao mesmo tempo que esperava que alguém saltasse dos arbustos para a atacar. Um suspiro de alívio foi a solução que encontrou, quando descobriu que a sua suspeita era infundamentada. Surgiam-lhe, na delicada memória, imagens de situações que haviam sido retratadas na televisão. Obviamente que eram ocorrências de crimes relacionados com mulheres que caminhavam sozinhas à noite. Assim se passaram os seguintes cinquenta metros, em total calmaria, quando, de repente, ao longe, vindo na sua direcção, um vulto humano se encaminhava desenfreadamente, abanando espanpanosamente os braços em gestos coordenados pelo maquinado avançar dos pés. O pânico voltava a comandar a sua adrenalinada pulsação. Não havia mais ninguém na rua, além dela e do transeunte personagem. A distância encurtava-se rapidamente, o estranho caminhar do homem parecia cada vez mais o de um psicopata assassino; se é que estes se podem reconhecer pela forma de andar. Os olhos de Matilde redundavam entre o chão e breves amedrontadas observações ao suspeito. Os seus cascos altos marcavam decrescentemente o tempo rítmico a que a aproximação se dava, como o tique-taquear de um relógio a evidenciar meia-noite numa noite de lua cheia.Estavam a uns escassos cinco metros de distância, e a vítima antevia os esguios braços do robusto homem a atacarem-lhe o fino pescoço. Os joelhos tremiam-lhe desenfreadamente como se estivessem desorientados, independentes da faculdade que os faz coordenar. Mais uma vez as suas previsões haviam falhado, pois o homem nem sequer prestou atenção à pessoa com quem se cruzava. O alívio reinava novamente, mas aquela viagem estava a tornar-se num exaustivo

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pesadelo. Circulava agora através da rua menos iluminada de todas aquelas por onde havia passado e por onde iria passar. É claramente admissível que uma nocturna e apagada rua cause algum receio, mas, no caso de Matilde, esse receio era extraordinariamente elevado. Ao seu lado direito, um contentor de lixo fitava a sua passagem. Matilde recusou corresponder-lhe um recíproco olhar e, de rosto petrificado no vazio em frente, continuou fingindo não notar a presença do inanimado objecto. De súbito, na excitante incerteza que um segundo permite, um salto de aveludada negridão abandonou aquele putrefacto refúgio, causando com o inesperado ruído um estridente alarme na frágil susceptibilidade da mulher. Escusado será repetir as tortuosas reacções com que o organismo de Matilde respondeu ao incidente. Ao perceber a presença causadora do ruído, um pequeno gato, ela retomou a enérgica caminhada. Já com uma aliviada expressão ela chegou à última rua que a distanciava do seguro lar. Achava-se finalmente a salvo, deixando até transparecer um suave sorriso de satisfação, quando subitamente uma desconhecida voz começou a repetir o seu nome ofegantemente. Ainda pensou que fosse algum conhecido mas, à medida que o apelador se aproximava, em passo de corrida, ela certificou-se de que não conhecia tal indivíduo. Quanto mais ela corria para chegar a casa mais o perseguidor se aproximava e acenava os braços. Da sua mão direita salientava-se algo que poderia muito bem ser uma arma branca ou de fogo. Desta vez não restavam dúvidas, ela estava mesmo a ser perseguida. As suas tentativas de gritar eram infrutíferas, pois a junção de todos os sustos anteriores haviam-lhe impedido a sonora expiração. Como seria possível que a consumação do medo estivesse localizada exactamente junto à sua porta de casa? Matilde procurava já, trémula, a chave da porta principal, intermediando nesta demanda alguns olhares aterradores ao homem que continuava a chamá-la cada vez mais perto. A chave não respondia ao esquerdo rotativar que lhe daria a segurança. Flagelava-se-lhe todo o corpo em espasmos de desespero. A esperança morria, ninguém vinha em auxílio dos seus surdos apelos.Após várias tentativas para abrir a porta, e com o terrível predador quase junto dela, Matilde reparou que aquela não era a chave de casa e que

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a tão desejada chave não estava na sua mala. Revistou novamente, e freneticamente, a mala como um moribundo que procura água no deserto. As suas afiadas mãos não queriam confirmar a tragédia. Ironia do destino, a sua morte ia ocorrer devido à perda da chave de casa, a única coisa que podia salvá-la do fatídico destino. Quando o homem a alcançou e tocou com a mão no ombro de Matilde, visto esta estar de costas agarrada ao portal da salvação, no qual ainda marcou dois fortes batimentos, ela soltou então um curto berro acompanhado pelo constante ranger de dentes. O homem disse-lhe: - «Não se assuste dona Matilde. Vim o caminho todo a correr para a conseguir alcançar, sou empregado no bar onde costuma ir e como hoje deixou cair esta chave no chão, … calculei que lhe fizesse falta e vim entregar-lha. A minha colega ainda tentou chamá-la mas você não deve ter ouvido. Peço desculpa se a assustei.» Aquela era a chave da casa de Matilde, a sua única salvação era o próprio perseguidor que lha trazia. Matilde ficou estática ao ouvir tal afirmação, o espanto era tanto que nem falou com o amistoso empregado. Somente quando ele lhe desferiu um sorridente “até amanhã” é que ela lhe lançou um apático “obrigada”. Antes de abandonar a localidade o prestável empregado ainda lhe lançou umas últimas palavras: - Veja lá se para a próxima tem mais atenção às suas coisas, pois pode ser um ladrão a encontrá-las! - desaparecendo de seguida na intersecção de duas ruas. Matilde entrou em casa. Tudo corria normalmente dentro da habitação, o jantar estava a ser terminado pelo marido, as filhas viam televisão e havia a certeza de que alguém estava a ser roubado nas ruas, mas esse alguém não era ela. Matilde não perdeu o medo de andar sozinha pelas ruas, o qual é comum a quase todas as pessoas, mas a loucura que a assolara nos últimos dias tinha desaparecido.

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Do beco ele observava a agitação dentro do pequeno bar. Uma mesa dentre as poucas existentes era a que mais chamava a atenção, nela estavam sentados quatro típicos motoqueiros. Jaquetões de couro, cheios de detalhes costurados, desenhos e palavras. No entanto fora o símbolo do grupo dos motoqueiros que chamou primeiramente a atenção de Heitor. Era um lobo. Lobos SP era como o grupo havia se auto-intitulado. Completando o visual, os quatro motoqueiros tinham cabelos longos e barba na cara, calça jeans rasgada e coturno. Suas motos estavam paradas em frente ao bar. Quatro motos do tipo estradeira, todas com o mesmo símbolo, o Lobo. Heitor esperou pacientemente montado em sua moto. Naquela noite fria de outono uma jaqueta de couro era a melhor pedida. Jaqueta, capacete e moto negra, somente a calça era de um jeans claro, mas no escuro beco, Heitor era praticamente invisível. Um a um os motoqueiros iam saindo do bar. O segundo a sair era o de aparência mais jovem dentre os quatro que bebiam. Sua moto roncou alto na noite enquanto seu farol iluminava a rua de baixa claridade. Imediatamente Heitor saiu do beco, farol desligado e ronco baixo. Seguiu no encalço do motoqueiro, que parecia não ter notado a presença de seu perseguidor, e assim foi por um bom tempo, até que Heitor fez uma curva e lá estava o motoqueiro, parado voltado para trás. Apenas a lanterna ligada, pés no chão. Ele parou sua moto também, pé no chão e logo em seguida desceu o “pezinho” da moto. Desligou-a, retirou o capacete e desmontou. O outro motoqueiro fez o mesmo, retirando seu mini capacete, mas mantendo-o em sua mão. - Quem é você? – Perguntou o motoqueiro. - Quem faz as perguntas aqui sou eu rapaz! – Respondeu – E

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não adianta nem tentar nada, se não... Enquanto falava, Heitor sacou uma pistola automática e apontou para o jovem, que não demonstrou nenhum temor ao ver a arma apontada para seu rosto. Ele então a destravou e engatilhou, só então voltou a falar. - Onde está a Pedra da Lua? Uma criança de cinco anos teria notado a cara de espanto feita pelo motoqueiro com a pergunta. Foi por uma fração de segundo, mas fora suficiente par dar a certeza que Heitor vinha buscando há quase três anos. - Onde está o quê? – Perguntou o motoqueiro disfarçando da melhor forma possível. - Onde está a Pedra da Lua? – Repetiu. Nesse instante o motoqueiro jogou contra Heitor o pequeno capacete que estava em sua mão, ele desviou do capacete, mas algo muito maior e peludo o atingiu. Ele foi arremessado para além de sua moto, mas sem sofre muitos danos. Rapidamente localizou o que o havia acertado. Era uma forma semi-humana, não tinha postura ereta, era quase toda coberta por pelos, suas mãos se tornavam a cada minuto mais próximas a garras mortais e seu nariz se juntava a sua boca, se alongando, quase como um focinho. Era uma besta, uma máquina de matar quase pronta para entrar em ação, não fosse pelo fato de ele estar em uma forma intermediaria, um lobisomem em transformação, ainda mais humano do que lobo, provavelmente a trombada teria matado-o. Antes que o semi-lobo pudesse iniciar uma nova investida, Heitor já estava em pé, apontando a arma contra o peito do ex-motoqueiro. Novamente o espanto tomou posse das feições animalescas do lobisomem. - Eu também tenho meus truques. – Disse Heitor, com um sorriso nos lábios. A fera iniciou sua corrida “em quatro patas”, uma investida idêntica a anterior, porém, dessa vez Heitor conseguiu efetuar dois disparos certeiros, evitando não só o avanço do inimigo, como também sua transformação. Ao cair o lobisomem já havia voltado a ser um

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simples humano. - Pra... pra... prata. – Balbuciou o motoqueiro baleado. O terror estampado em seu rosto agora. Heitor se aproximou do jovem caído, apontou a arma para seu peito e calmamente perguntou: - E então? Onde está a Pedra da Lua?

Continua...

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