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    PROJETO PEDAGGICO

    CURSO DE MSICA

    So Joo del-Rei Minas Gerais

    2008

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    Dados Institucionais

    Universidade Federal de So Joo del-Rei

    Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso - CONEP

    Presidente

    Helvcio Luiz Reis

    Docentes de Graduao

    Cons. Elizete Antunes TeixeiraCons. Erivelton Geraldo NepomucenoCons. Flvio Neves TeixeiraCons. Hewerson Zansvio TeixeiraCons. Luiz Eduardo de Vasconcelos RochaCons. Jos Antnio Oliveira de ResendeCons. Marco Tlio RaposoCons.Rita Laura Avelino Cavalcante

    Docentes de Ps-Graduao

    Cons. Jos Luiz Aarestrup AlvesCons. Magda Velloso Fernandes de Tolentino

    Tcnicos-Administrativos

    Cons. Jos Ricardo BragaCons. Miriam Natalina De La Svia Braga

    Discentes

    Graduao: Cons. Yane Cerqueira de SPs-Graduao: Cons. Ivan Vasconcelos Figueiredo

    Membro das Associaes Comunitrias

    Cons. Wilson Jos Giarola

    Comisso de Elaborao do Projeto

    Abel Raimundo de Moraes Silva

    Mestre em MsicaThames Valley University de Londres UK

    Antonio Carlos Guimares

    Doctor of Music ArtsUniversity of Iowa USA

    Jos Antnio Bata Zille

    Mestre em Tecnologia EducacionalCEFET de Minas Gerais

    Comisso de Readequao do Projeto(Colegiado do Curso de Msica da UFSJ)

    Coordenadora: Prof. Carla Silva ReisVice-coordenadora: Prof. Thas dos

    Guimares Alvim Nunes

    Docentes: Prof. Srgio de FigueiredoRochaProf. Mrcia ErmelindoTabordaProf. Marcelo Parizzi MarquesFonseca

    Discente: Gustavo Heyden Flausino

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    Introduo

    Apresenta-se, a seguir, a verso atualizada do Projeto Pedaggico do Curso de

    Msica da UFSJ, com alteraes propostas pelo Colegiado do Curso, seguindo

    determinao unnime da Assemblia Departamental. Aps vrias reunies de

    trabalho, o texto final foi apresentado e referendado pelo Colegiado em reunio

    extraordinria realizada no dia 23 de setembro de 2008, s 15h30min.

    Inicialmente, reduziu-se a carga horria de 3.240h para 2.820h, o que atende

    legislao vigente e acompanha a realidade da maioria dos cursos de licenciatura

    em msica no Brasil. Alm disso, a mudana adequar a demanda de ensino docurso ao atual quadro de professores. Note-se que essa modificao no ocasiona

    qualquer prejuzo para a formao acadmica do corpo discente, uma vez que a

    concepo pedaggica geral foi mantida, bem como a grande maioria das unidades

    curriculares previstas. Vale ressaltar, tambm, que professores de outros

    departamentos que ministram aulas no curso de Msica no tero alterao para

    mais em sua carga horria. Tampouco, o proposto, aqui, descaracteriza o

    projeto aprovado anteriormente pelo CONEP, por isso, o Colegiado prope amigrao automtica e compulsria de todos os alunos para a nova verso

    curricular.

    Tendo em vista a alta demanda regional para a formao de Educador Musical,

    optou-se pela criao de uma nova habilitao que privilegia o contedo didtico

    para a formao desse profissional, prescindindo de uma formao instrumental

    mais especfica e aprofundada. Assim, alm da readequao da carga horria do

    Curso, para as habilitaes j existentes, este documento prope a criao da

    habilitao Educao Musical, a partir de 2009. importante destacar que a Lei

    11.769, de 18/08/2008, determina a obrigatoriedade do ensino de msica na

    Educao Bsica, o que implica necessidade de formao em larga escala de

    profissionais para esse mercado. Com o novo perfil, o Curso de Msica poder

    atender de forma mais completa s necessidades educacionais e musicais de So

    Joo del-Rei e regio, que compreendem tanto os instrumentistas e cantores

    quanto os educadores musicais mais generalistas.

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    SUMRIO

    APRESENTAO ........................................................................................................................................ 6

    PARTE I: APRESENTAO DA UFSJ ............................................................................................................. 7

    1HISTRICOECONSTITUIODAUFSJ .................................................... .......................................................... 8

    1.1 A cidade de So Joo del-Rei .................................................................................................................... 8

    1.1.1 Situao ........................................................................................................................................................... 8

    1.1.2 Sntese histrica .............................................................................................................................................. 8

    1.2 A Universidade Federal de So Joo del-Rei .......................................................................................... 10

    PARTE II: A CONCEPO DO CURSO .........................................................................................................15

    2JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................................ 162.1 Aspectos Socioculturais .......................................................................................................................... 16

    2.2 Aspectos histrico-musicais ................................................................................................................... 19

    2.3 Aspectos legal-educacionais .................................................................................................................. 23

    2.4 Demanda latente ................................................................................................................................... 29

    2.5 Demanda especfica ............................................................................................................................... 31

    2.6 Aspectos acadmico-vocacionais ........................................................................................................... 32

    2.6.1 Do Ensino....................................................................................................................................................... 32

    2.6.2 Da Pesquisa ................................................................................................................................................... 32

    2.6.3 Da Extenso ................................................................................................................................................... 33

    3OBJETIVOSDOCURSO ......................................................... ............................................................. .............. 36

    3.1 Objetivo geral ......................................................................................................................................... 36

    3.2 Objetivos especficos .............................................................................................................................. 36

    4PERFILDOEGRESSO ....................................................................................................................................... 38

    4.1 Competncias gerais e especficas ......................................................................................................... 38

    4.2 Campos de atuao e as habilitaes do egresso .................................................................................. 43

    5PESQUISAEEXTENSO ........................................................ ............................................................. .............. 45

    5.1 Sobre a Pesquisa .................................................................................................................................... 45

    5.2 Possibilidades para projetos de Extenso .............................................................................................. 47

    PARTE III: CURRCULO ..............................................................................................................................51

    6ORGANIZAOCURRICULAR ......................................................................................................................... 52

    6.1 Diretrizes legais ...................................................................................................................................... 52

    6.2 Eixos epistemolgicos ............................................................................................................................ 54

    6.3 Objetivos do currculo ............................................................................................................................ 57

    6.3.1 A msica e a educao musical para os objetivos do currculo ............................... ...................... ................ 586.4 Estrutura curricular ................................................................................................................................ 60

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    6.4.1 Campos de Conhecimentos ........................................................................................................................... 62

    6.4.2 Componentes curriculares e sua descrio ................................................................................................... 68

    6.4.3 Matriz Curricular ........................................................................................................................................... 88

    6.4.4 Pr-requisitos ................................................................................................................................................ 93

    6.5 ESTRATGIAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM............................................................................................................ 94

    6.5.1 Metodologia para estudos bibliogrficos .................................................................................................... 104

    6.6 AVALIAO DA APRENDIZAGEM......................................................................................................................... 107

    PARTE IV: CONDIES DE OFERTA DO CURSO ........................................................................................ 116

    7SNTESEGERAL ............................................................................................................................................. 117

    8ESTRUTURAEPREVISODEPROGRESSOCURRICULAR .......................................................................... ... 119

    9CORPODOCENTE ......................................................................................................................................... 124

    9.1 Perfil do corpo docente ........................................................................................................................ 1249.2 Critrios de seleo do corpo docente ................................................................................................. 125

    9.2.1 Critrios gerais............................................................................................................................................. 125

    9.2.2 Critrios especficos..................................................................................................................................... 125

    10ESPAOFSICOEEQUIPAMENTOS ............................................................................................................. 137

    10.1 Espao fsico ....................................................................................................................................... 137

    10.2 Equipamentos, instrumentos e acessrios musicais .......................................................................... 138

    ANEXOS .................................................................................................................................................. 141

    ANEXO A: ORIENTAES PARA OFERTA E CADASTRO DO CURSO........................ ...................... ..................... .... 142

    ANEXO B: AS EMENTAS DAS UNIDADES CURRICULARES ...................... ..................... ..................... ..................... . 156

    ANEXO C: MODELO DE PROJETO DE ESTGIO ...................... ..................... ...................... ...................... .............. 260

    ANEXO D: MODELO DE FICHA DE RELATRIO DE ESTGIO ..................... ..................... ...................... .................. 261

    ANEXO E: MODELO DE PROJETO DE MONOGRAFIA ..................... ...................... ..................... ...................... ....... 262

    ANEXO F: REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS DA PROPOSTA ........................... ..................... ..................... ............... 263

    ANEXO G: CURRICULA DOS AUTORES .................................................................................................................. 268

    ANEXO H: Lei 1.769/08 ......................................................................................................................................... 271

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    APRESENTAO

    O Projeto Pedaggico do Curso de Msica da Universidade Federal de So Joodel-Rei - foi concebido a partir das diretrizes curriculares estabelecidas na

    Resoluo que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de

    Professores da Educao Bsica, em nvel superior, curso de licenciatura e

    graduao plena, CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002, do Conselho Nacional de

    Educao.

    contedo deste Projeto: o histrico e a constituio da Universidade, a

    identificao do curso, a justificativa e os objetivos do curso, o perfil do egresso e

    suas competncias, toda a organizao curricular e as diretrizes metodolgicas de

    ensino e avaliao. O roteiro seguido para sua elaborao foi, basicamente, o que

    estabelece o artigo 67 do Regimento Geral da UFSJ.

    Na primeira parte, apresentada a Universidade Federal de So Joo del-Rei,

    iniciando-se com um breve relato sobre a cidade de So Joo del-Rei e sua histria.

    Na segunda parte, est descrita a concepo do curso com: justificativa, objetivos,

    perfil do egresso e a relao com a pesquisa e a extenso. Deve-se ressaltar, aqui,

    que o perfil do profissional que se deseja formar a base sobre a qual todo o Projeto

    foi desenvolvido. A apresentao do currculo do curso, em termos de sua

    organizao e estruturao, compe a terceira parte do Projeto. Finalizando, na

    quarta parte, constam as condies de oferta do curso.

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    PARTE I: APRESENTAO DA UFSJ

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    1 HISTRICO E CONSTITUIO DA UFSJ

    1.1 A CIDADE DE SO JOO DEL-REI

    1.1.1 Situao

    A cidade de So Joo del-Rei est localizada na regio do Campo das Vertentes,

    microrregio do Campo da Mantiqueira, no estado de Minas Gerais. A cidade est

    posicionada no entroncamento de vrias rodovias, o que facilita o acesso para as

    outras regies do estado e estados vizinhos. Dista 184 quilmetros de Belo

    Horizonte (MG), 321 do Rio de Janeiro (RJ) e 492 de So Paulo (SP).

    So Joo del-Rei pertence ao Circuito Histrico de Minas Gerais e se destaca como

    plo regional. Sua localizao, aliada s suas caractersticas e histria, propicia um

    constante afluxo de pessoas da regio, das outras partes do estado e dos estados

    de So Paulo e Rio de Janeiro.

    So Joo del-Rei cidade privilegiada por clima ameno, pelas serras que a

    circundam, pelo seu conjunto arquitetnico colonial - um dos mais ricos e

    significativos do Pas e pelas suas tradies. Atualmente, a cidade bem atendida

    por toda sorte de servios desejveis em um ncleo urbano. Juntamente com os

    seus distritos, So Joo del-Rei possui uma populao estimada em 82 mil

    habitantes, a maior parte deles vivendo das atividades do comrcio e de servios.

    1.1.2 Sntese histrica

    So Joo del-Rei teve sua origem no Arraial Novo do Rio das Mortes - um povoado

    que surgiu em fins do sculo dezessete na rota dos bandeirantes paulistas que

    desbravavam a futura Minas Gerais. A descoberta de ouro na regio provocou um

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    grande afluxo de indivduos provenientes da Capitania de So Vicente, hoje So

    Paulo, e de aventureiros da Metrpole e outras regies do Pas, que ali se fixaram.

    Os paulistas defendiam a idia de que somente eles teriam o direito de exploraodo ouro e de posse dos novos territrios conquistados. Esse ponto de vista provocou

    disputas e conflitos, que se tornaram cada vez mais freqentes, culminando na

    chamada Guerra dos Emboabas. Eram chamados emboabas os que no haviam

    nascido na Capitania de So Vicente (vila, 20051). Em 1709, uma expedio de

    paulistas foi rendida pelos portugueses, que chacinaram todos os prisioneiros. Esse

    fato histrico ficou conhecido como o "Capo da Traio".

    O Arraial Novo foi elevado categoria de vila em 1713, recebendo, ento, o nome

    de So Joo del-Rei, em homenagem a D. Joo V, rei de Portugal. Em 1714, tornou-

    se sede da importante Comarca do Rio das Mortes, cuja extenso alcanava os

    limites das localidades de Guaratinguet, no estado de So Paulo, e Ouro Preto. O

    progresso rpido da Vila teve, pelo menos, duas causas: sua localizao no

    Caminho Geral do Serto e, o mais importante, as descobertas de ouro. Foi cogitada

    para ser a capital dos sonhos libertrios dos Inconfidentes Mineiros.

    Algumas manifestaes da pujana econmica da regio, no passado colonial, esto

    hoje presentes nas igrejas, nas pontes de pedra, em ruas e edificaes.

    Com a decadncia da minerao do ouro, So Joo del-Rei confirmou-se como um

    plo comercial abastecedor de outras regies do estado e do pas, mantendo ainda

    a condio de centro administrativo do poder pblico. Em 1838, foi elevada

    categoria de cidade e, em 1860, capitais financeiros locais criara uma das primeiras

    instituies bancrias do estado de Minas Gerais - o Banco Almeida Magalhes.

    Em 1881, a cidade de So Joo del-Rei integrou-se rede de ferrovias por meio da

    Estrada de Ferro Oeste de Minas. Esse fato proporcionou um novo impulso na vida

    econmica e cultural da cidade. Aqui se instalam novos empreendimentos, entre

    eles, a Companhia Txtil Sanjoanense, em 1891, e construiu-se o novo Theatro

    Municipal, inaugurado em 1893.

    1 Disponvel em: http://www.sba.ufsj.edu.br/sitesjdr/html/historia.html

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    A cidade de So Joo del-Rei se ratificou, ento, como ncleo cultural e

    educacional. Na cultura, sua produo tomou lugar e fora expressiva nas vrias

    manifestaes como suas festas tradicionais, msica, literatura e teatro. No mbito

    educacional, foi registrado o advento de dezenas de estabelecimentos de ensino,

    em que se sobressaiu o Colgio Duval, conhecido por sua qualidade do ensino.

    Essa condio permaneceu at o sculo XX com outros quatro grandes

    estabelecimentos de ensino: a Escola Normal Nossa Senhora das Dores, o Ginsio

    Santo Antnio, o Instituto Padre Machado e o Colgio So Joo. Por essas

    instituies, tidas como referncias de excelncia, passaram grandes

    personalidades da vida brasileira.

    Ainda no mbito educacional, a partir de meados do sculo XX, conjunturas geraram

    circunstncias que requereram drsticas adequaes s instituies. Essas

    adequaes propiciaram o surgimento da FUNREI Fundao de Ensino Superior

    de So Joo del-Rei, hoje Universidade Federal de So Joo del-Rei.

    1.2 A UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO JOO DEL-REI

    A Fundao de Ensino Superior de So Joo del-Rei - FUNREI - foi implantada em

    18 de dezembro de 1986, a partir da incorporao da Faculdade Dom Bosco de

    Filosofia, Cincias e Letras e da Fundao Municipal de Ensino Superior de So

    Joo del-Rei. Em 19 de abril de 2002, a FUNREI foi, ento, transformada em

    Universidade Federal de So Joo del-Rei - UFSJ, resgatando um antigo ideal do

    ex-governador Tancredo Neves, que desejava uma universidade para a Regio, aexemplo dos ideais dos inconfidentes.

    A UFSJ mantida com recursos da Unio, advindos do Ministrio da Educao, e

    caracteriza-se por oferecer ensino gratuito, alm de programas de pesquisa e

    extenso. A Instituio oferece 41 cursos de graduao em regime integral e noturno

    com as seguintes graduaes: em So Joo del-Rei: Administrao, Cincias

    Biolgicas, Cincias Contbeis, Cincias Econmicas, Educao Fsica, Engenharia

    Eltrica, Engenharia Mecnica, Filosofia, Fsica, Histria, Letras, Matemtica,

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    Pedagogia, Psicologia e Qumica. Para 2009: Arquitetura e Urbanismo, Artes

    Aplicadas (nfase em Cermica), Cincia da Computao, Comunicao Social

    (nfase em Jornalismo), Engenharia de Produo, Geografia, Teatro e Zootecnia.

    Em Divinpolis: Bioqumica , Enfermagem, Farmcia e Medicina. Em Ouro Branco:

    Engenharia Civil (nfase em estruturas metlicas), Engenharia de Bioprocessos,

    Engenharia de Telecomunicaes, Engenharia Mecatrnica e Engenharia Qumica.

    Em Sete Lagoas: Engenharia de Alimentos e Engenharia Agronmica, ambos em

    fase de implantao.

    Em mbito da ps-graduao, a Universidade oferece Cursos de Especializao

    Lato Sensu: Administrao, Filosofia, Histria de Minas - Sculos XVIII e XIX,

    Cincias Econmicas e Matemtica. Em nvel Stricto Sensu, so oferecidos os

    Mestrados em: Letras; Multidisciplinar em Fsica, Qumica e Neurocincia;

    Psicologia; Histria; Educao; Engenharia de Energia (com o CEFET-MG). Projetos

    de implantao de outros cursos de mestrado encontram-se em andamento.

    Atualmente, a UFSJ acolhe cerca de 4.200 alunos nos cursos de graduao e 520

    nos cursos de ps-graduao. Mais de 70% dos alunos estudam no perodo noturno,

    permitindo o acesso do trabalhador ao ensino superior gratuito.

    A Instituio composta pelo campusDom Bosco, pelo campusSanto Antnio, pelo

    campusTancredo Neves (CTAN) e mais trs campi fora de sede (Sete Lagoas est

    em implantao).

    A Universidade conta ainda com um amplo casaro histrico, o Solar da Baronesa,

    localizado no centro da cidade. Nele, funcionam setores administrativos relacionados

    extenso e o Centro Cultural, destinado a exposies artstico-culturais. O Solarda Baronesa uma edificao do final do sculo XVIII e sua restaurao foi uma

    importante contribuio da UFSJ para a revitalizao do patrimnio histrico

    brasileiro.

    A estrutura fsica da Universidade inclui, em seus seis campi, salas de aula,

    laboratrios e bibliotecas, para desenvolver suas atividades de ensino, pesquisa e

    extenso. Existe uma preocupao constante da administrao da Universidade

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    com a ampliao da estrutura fsica e com a atualizao de equipamentos e

    laboratrios.

    Na UFSJ, a Extenso Universitria considerada como articulada Pesquisa e aoEnsino e concebida como promovedora da relao entre a Universidade e a

    Sociedade, por meio da troca de saberes e da democratizao do conhecimento

    acadmico. Nesse sentido, a Pr-Reitoria de Extenso e Assuntos Comunitrios

    PROEX tem contribudo para a consolidao da poltica de extenso da UFSJ. Os

    projetos de extenso da UFSJ so desenvolvidos nas reas da educao, cultura,

    sade, tecnologia, meio ambiente e direitos humanos. Alguns dos projetos de

    extenso na rea cultural so:

    Centro Cultural da UFSJ inaugurado no dia 28 de abril de 2000, o espao

    tem servido ao desenvolvimento sistemtico de atividades artsticas e

    culturais, alm de sediar eventos ligados ao ensino, pesquisa e

    extenso, atendendo s demandas das comunidades interna e externa da

    Universidade. Nele, destacam-se amplas galerias, destinadas a exposies,

    mostras e recitais, complementadas por uma sala de multimdia, paraprojees de filmes, videodocumentrios, lanamento de livros, palestras,

    cursos e demais atividades.

    O Inverno Cultural - tem acontecido sem interrupes, desde 1988,

    oferecendo oficinas, exposies, shows e seminrios nas mais variadas

    linguagens da cultura e da arte. A importncia que a UFSJ confere ao evento

    expresso de sua sensibilidade em relao cultura e arte, com razes

    histricas profundas na cidade e regio. Assim, h 21 anos, o evento se

    constitui como evidente elemento catalisador das mais diversas formas de

    manifestaes artsticas e culturais. O Inverno Cultural tem sido sinnimo de

    resgate, revitalizao, promoo e incentivo s variadas formas de

    manifestaes artstico-culturais, tornando-se, desde os primeiros anos,

    referncia para o campo da cultura em geral. Mantendo seu formato original,

    o Inverno Cultural adquiriu, a partir de sua 12 edio, amplitude e

    reconhecimento nacional. A promoo de evento de tal magnitude s tem

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    sido possvel graas s alianas estabelecidas entre instituies e empresas

    locais, regionais e nacionais que compreendem a importncia do

    investimento no campo cultural. Assim, as aes de parceria tm se

    expandido de forma cada vez mais profissional e organizada. Exemplo de

    ao integradora foi a criao do Frum Minas de Festivais, apoiado pelas

    Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo, que tem gerado melhoria da

    qualidade e da economia dos eventos e concretizado um circuito turstico-

    cultural de inverno no Estado.

    A Oficina Escola de Lutheria uma das poucas existentes no Pas, cuja

    ao se concentra na construo e restaurao de instrumentos de cordas.

    Em quatorze anos de atividades, vem atendendo a vrias instituies

    musicais da regio de So Joo del-Rei, de Minas Gerais e de outros

    Estados. Desde a sua locao, j foram oferecidos cinco cursos de

    construo de violo, com durao de dois anos, bem como inmeros

    cursos de restaurao de instrumentos de corda.

    Quanto ao quadro docente da UFSJ, este formado por 246 professores, sendo 160

    doutores, 68 mestres, 11 especialistas e 07 graduados. Apesar de a capacitao docorpo docente j ser relativamente alta, comparada com as demais Instituies de

    ensino superior do pas, esse processo tem sido contnuo na UFSJ.

    O corpo tcnico-administrativo composto de 314 servidores, sendo: 20 nvel A,

    18 nvel B, 64 nvel C, 160nvel D e 52 nvel E. Na assistncia aos alunos,

    so desenvolvidos diversos programas de incentivo, permitindo-lhes a prtica e a

    ampliao das suas possibilidades profissionais, inclusive com remunerao.

    A UFSJ oferece comunidade, alm de espaos para o desenvolvimento da arte e

    da cultura, espaos de lazer como piscina, campo de futebol e quadras poli-

    esportivas para atenderem prtica do esporte.

    Atualmente, a UFSJ tem na sua direo o Professor Helvcio Luiz Reis. A Instituio

    regida pelas decises dos rgos colegiados: Conselho Universitrio CONSU,

    Conselho de Ensino, Pesquisa e Extenso CONEP, Conselho Diretor CONDI.

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    Em todos eles, os trs segmentos da comunidade universitria (alunos, professores

    e tcnicos) e a comunidade local tm representao com voz e voto.

    A Comisso Permanente de Vestibular - COPEVE - o setor da UFSJ que planeja,organiza e executa o Processo Seletivo. Ela composta por professores e tcnicos

    que trabalham no desenvolvimento, na aplicao e na anlise da seleo. O

    Processo Seletivo da UFSJ garante a todos os candidatos a oportunidade de

    igualdade de acesso, sem distino de qualquer natureza. Tambm est baseado na

    igualdade de tratamento e de critrios de avaliao, de modo a classificar os

    candidatos de acordo com suas habilidades para desenvolver os cursos pretendidos.

    Por se tratar de uma universidade federal, a UFSJ tem importncia nacional. No

    entanto, sua maior abrangncia encontra-se junto aos vinte e nove municpios que

    compem a regio do Campo das Vertentes. Tambm fazem parte dessa rea de

    abrangncia, pela proximidade, alguns municpios da Zona Metalrgica e da Zona

    da Mata.

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    PARTE II: A CONCEPO DO CURSO

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    2 JUSTIFICATIVA

    O Curso de Msica Habilitao em Instrumento ou Canto, ou Educao Musical na Universidade Federal de So Joo del-Rei encontra argumentao nos seguintes

    aspectos:

    2.1 Aspectos socioculturais: que apontam a importncia de se preservar uma

    tradio nica e representativa da identidade prpria da cidade de So Joo del-Rei

    e de seus habitantes.

    2.2 Aspectos histrico-musicais: que demonstram como a tradio e a identidade,constitudas historicamente, so importantes componentes das identidades mineira e

    nacional, mas caminham para imprevisveis direes.

    2.3 Aspectos legal-educacionais: que demonstram as necessidades geradas, no

    raio de abrangncia da UFSJ, com as Leis 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional e 11.769/08 que altera a Lei n 9.394, de 20 de dezembro de

    1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educao, para dispor sobre a obrigatoriedade

    do ensino da msica na educao bsica.

    2.4 Demanda latente: que aponta para a necessidade de satisfazer uma demanda

    latente para a formao de profissionais da prtica e do ensino de msica.

    2.5 Demandas especficas: que apontam para razes especficas da implantao

    do curso de Licenciatura na regio de So Joo del-Rei e Zona da Mata Mineira.

    2.6 Aspectos acadmico-vocacionais: a ttulo de concluso, que assinala aadequao das propostas do curso relacionadas vocao universitria para o

    ensino, a extenso e a pesquisa.

    2.1 ASPECTOS SOCIOCULTURAIS

    Alm do reconhecido valor de seu patrimnio histrico-arquitetnico, So Joo del-

    Rei possui um patrimnio cultural de igualvel importncia. Tal patrimniodesenvolveu-se e se manteve, at os dias de hoje, como uma cultura prpria e

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    espontnea da populao. Essa cultura teve sua origem com o surgimento do ento

    Arraial Novo do Rio das Mortes por volta de 1704, hoje So Joo del-Rei. Mais

    tarde, os movimentos polticos, religiosos e artsticos do auge do ciclo do ouro

    possibilitaram que artistas e intelectuais fervilhassem a cultural da cidade colonial. O

    episdio da Inconfidncia Mineira viria reforar uma personalidade poltica, artstica

    e cultural, prpria e marcante, da cidade e de seus habitantes.

    Ao longo de sua histria, a vida cultural da cidade de So Joo del-Rei sempre foi

    bastante diversificada e expressiva. Essas caractersticas podem ser identificadas

    pelas diversas manifestaes significativas em todas as reas, como a poltica, a

    literatura, o teatro, o artesanato e a msica.

    No sculo XX, a partir da dcada de sessenta, a cidade passou a viver uma poca

    de singular produo cultural. Naquela ocasio, vrias manifestaes tomaram lugar

    e fora expressiva na cidade. Na dcada de setenta, So Joo del-Rei passou a ser

    nacionalmente conhecida pela alegria, pelo alto nvel artstico e pelo valor histrico

    de seu carnaval. Na mesma poca, o Teatro Municipal passou a ser passagem

    obrigatrio nos circuitos artsticos de grandes nomes da msica nacional e

    internacional.

    O movimento teatral tambm teve seu apogeu com produes regulares no Cine-

    Teatro Artur Azevedo. No entanto, sucumbiu-se gradativamente frente a uma srie

    de fatores, como a precariedade de recursos financeiros, o descaso de autoridades

    e a crise econmica que abateu o Pas a partir da dcada de oitenta.

    Apesar de muitos fatores desfavorveis, algumas tradies se mantiveram ativas na

    cidade, como o caso das cerimnias religiosas e da tradio musical vinculada aelas. Essas tradies so conhecidas em todo o Pas e celebradas como patrimnio

    cultural vivo que se mantm desde o sculo XVIII. Essas tradies persistem graas

    s Irmandades Religiosas e s Orquestras bicentenrias Lira Sanjoanense e Ribeiro

    Bastos.

    Como reflexo desse contexto, temos a Semana Santa e a msica sacra como sendo

    as manifestaes culturais da cidade que melhor se mantiveram desde o sculo

    XVIII. O reconhecimento nacional de seu valor cultural vem sendo elemento

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    motivador para o grande afluxo de turistas cidade. Nesse sentido, o turismo

    cultural, presente na poca da Semana Santa e outras festas religiosas, no s

    reconhece como tambm estimula e ajuda a manter viva a prpria cultura.

    Pode-se identificar claramente uma vocao cultural em So Joo del-Rei, que se

    mantm viva e preservada no prprio seio da populao. No entanto, observa-se

    tambm que so cada vez maiores as influncias deletrias sobre os indivduos,

    expostos aos meios de comunicao de massa, que impem uma cultura

    globalizante, despersonalizada e estereotipada. A cada nova gerao, torna-se cada

    vez maior o risco das subculturas ps-modernas dilurem gradativamente as

    originalidades e a identidade cultural de cidades como So Joo del-Rei.

    Sob essa perspectiva, este patrimnio cultural precisa ser preservado e estimulado

    por instituies que possuem objetivos claramente culturais. So essas instituies,

    juntamente com uma populao consciente, que tm a possibilidade de oferecer

    uma resistncia s foras corrosivas do tempo, s crises da economia e prpria

    cultura.

    A partir de 1986, a cidade de So Joo del-Rei passou a ter uma nova chance de

    fomento cultura local com a criao da Fundao de Ensino Superior de So Joo

    del-Rei FUNREI, que mais tarde se tornou a Universidade Federal de So Joo

    del-Rei. Em sua potencialidade de conservar as tradies e desenvolver a cultura

    local, o Departamento de Msica e o Curso de Msica possibilitam UFSJ:

    contribuir para a preservao da tradio histrico-cultural da cidade de So

    Joo del-Rei;

    contribuir para o desenvolvimento da cultura artstica e musical da cidade; devolver, gradativamente, a So Joo del-Rei o status de cenrio musical

    significativo, reconhecido nacionalmente e perdido ao longo dos anos;

    contribuir para o desenvolvimento do turismo cultural na cidade, com

    produes musicais realizadas pelos prprios alunos e professores do curso;

    contribuir para o incentivo de outros aspectos de natureza socioeconmica da

    cidade.

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    2.2 ASPECTOS HISTRICO-MUSICAIS

    No perodo Colonial Brasileiro, a regio de Minas Gerais apresentou um dos mais

    significativos movimentos culturais do Brasil. Isso ocorreu, entre outras coisas,devido a um grande afluxo de aventureiros em busca do ouro, o que acabou por

    gerar uma grande movimentao de recursos na Colnia. Esses fatos possibilitaram

    o desenvolvimento de uma sociedade rica e culturalmente refinada na regio das

    Minas.

    No incio de sua formao, a populao da capitania geral das Minas Gerais era

    constituda por portugueses, cristos novos e paulistas, sendo na sua maioria

    homens solteiros e escravos. Assim tornou-se comum a ligao de homens brancos

    com escravas, fazendo crescer uma populao mestia e livre ao nascer.

    Dentre a populao parda, destacaram-se vrios artistas que atuavam nas mais

    diversas linguagens. Eram pintores, escultores e msicos que criaram obras de

    carter original, diferentes das que eram criadas no resto do pas. Destacara-se

    nesse cenrio o arquiteto Antnio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e o pintor

    Manuel da Costa Atade, que, juntamente com outros, construram e ornamentaram

    diversas igrejas barrocas em Minas Gerais. Na msica, surgiram importantes

    compositores, como Jos Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Manuel Dias de

    Oliveira e, especificamente em So Joo del-Rei, o Padre Jos Maria Xavier.

    Mariz (1994) afirma que a msica no perodo colonial em Minas no era somente

    feita nas igrejas, mas tambm em festas sociais e militares. A msica era tambm

    feita nas casas com grupos integrados por famlias e escravos ou mulatos que

    sabiam tocar os instrumentos. Esses grupos musicais amadores se apresentavamem sarais ou saam pelas ruas, durante a noite, tocando e cantando em serenatas,

    tradio que ainda forte nas cidades histricas de Minas Gerais. Kiefer (1982)

    tambm aponta, na poca colonial, a existncia de bandas militares e at mesmo

    grupos de pera em So Joo del-Rei e em Ouro Preto.

    Em 1759, a Coroa Portuguesa expulsou os Jesutas e demais ordens religiosas do

    Reino Portugus e de suas colnias. Como resultado desse fato, ocorreu uma

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    transferncia gradual das responsabilidades religiosas para as organizaes de

    leigos, as irmandades.

    Os msicos organizados em irmandades leigas eram contratados para atuar emcerimnias religiosas, casamentos, enterros e procisses. As irmandades eram

    formadas de acordo com a cor da pele dos seus integrantes: irmandades dos

    homens pretos, dos pardos e dos brancos. A Irmandade leiga de Santa Ceclia,

    padroeira dos msicos, foi fundada em Vila Rica em 1749. J em So Joo del-Rei,

    os msicos pertenciam Irmandade de N. Sra. da Boa Morte, at a fundao da

    Irmandade de Santa Ceclia, em 1829.

    No sculo XIX, com a queda das atividades de minerao aurfera e a conseqente

    diminuio das riquezas, as atividades profissionais das irmandades musicais leigas

    foram drasticamente reduzidas. Desde ento, algumas delas sobreviveram e ainda

    se mantm em atividade permanente at os dias de hoje na condio de amadoras.

    Em algumas cidades mineiras como Prados, So Joo del-Rei e Tiradentes, esses

    grupos ainda executam a mesma msica sacra nas cerimnias religiosas. Em outras

    cidades, muitas das orquestras, que no conseguiram se manter autonomamente

    como amadoras, foram transformadas em bandas de msica.

    Em So Joo del-Rei, encontram-se duas orquestras centenrias que ainda se

    mantm em atividade: a Orquestra Lira Sanjoanense e a Orquestra Ribeiro Bastos.

    Ambas possuem extenso acervo histrico de msica sacra e tambm profana, j em

    grande parte catalogado e executado regularmente nas cerimnias religiosas de So

    Joo del-Rei.

    A Orquestra Lira Sanjoanense foi fundada em 1776 nesta cidade por um grupo demsicos liderados por Jos Joaquim de Miranda. Na ocasio, era chamada de

    Companhia de Msica. Essa orquestra considerada a mais antiga das orquestras

    mineiras ainda em atividade e uma das mais antigas do mundo. Atualmente, a

    Orquestra Lira Sanjoanense composta por msicos e cantores amadores e alguns

    especialistas em msica setecentista mineira. Esses msicos garantem a presena

    regular da msica sacra nas festividades da regio, especialmente nas festas

    religiosas de Nossa Senhora da Boa Morte e de Nossa Senhora das Mercs, ambastm lugar em So Joo del-Rei.

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    A Orquestra Ribeiro Bastos foi organizada, em 1846, pelo maestro Francisco das

    Chagas (mestre Chagas) e dirigida durante 53 anos (1859 a 1912) por seu discpulo

    e sucessor Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912), que deu seu nome associao

    musical. A Orquestra Ribeiro Bastos a responsvel pela msica das cerimnias

    religiosas da Semana Santa na Catedral Baslica de Nossa Senhora do Pilar e pelas

    Festas de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora da Conceio.

    De caractersticas semelhantes, tem-se ainda a Orquestra Lira Ceciliana, fundada

    em 1858 por Jos Esteves da Costa, seu diretor at 1895. Essa orquestra tem lugar

    em Prados e dela participam hoje trs geraes da famlia Costa.

    A Orquestra Ramalho, de Tiradentes, remanescente de tradies musicais que

    remontam a 1732. Possui razovel quantidade de manuscritos musicais dos fins do

    sculo XVIII. Foi fundada com o nome de "Corporao Musical So Jos del-Rey"

    em 1860. Seu fundador foi Jos Luiz Ramalho, que a dirigiu at 1900. Em 1922, sua

    direo foi alvo de uma disputa poltica entre Joaquim Ramalho, neto do fundador, e

    Antnio de Pdua Falco, com a derrota desse ltimo. Na dcada de 1930, passou a

    ter o presente nome.

    Essas quatro orquestras, cuja sobrevivncia deve-se, em parte, s razes familiares,

    so fiis depositrias das tradies e da histria musical mineira e nacional. Graas

    a essas instituies que se pode ter resguardada parte da histria do Brasil,

    transmitida por geraes de msicos, interpretando ininterruptamente peas

    compostas nos sculos XVIII e XIX.

    A tradio de composio de obras musicais sacras tambm se estende at o

    sculo XX, com o nome de compositores como Pedro de Souza e Geraldo Barbosa(ainda vivo), em So Joo del-Rei, e Ademar Campos Filho, em Prados. So

    compositores que escreveram, at recentemente, sob a influncia direta de seus

    antecessores, obras para serem executadas em cerimnias civis e religiosas, ao

    lado das obras de compositores dos sculos XVIII e XIX.

    Os acervos musicais desses grupos remanescentes, e de outros j extintos em

    outras regies de Minas Gerais, configuram-se como importante patrimnio da

    cultura nacional e representam uma identidade artstica do povo mineiro. Esses

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    acervos vm sendo recuperados e divulgados desde a dcada de 1940 por

    importantes musiclogos, como Francisco Curt Lange, Jos Maria Neves e Grard

    Bhague. No entanto, muito ainda h por se fazer pela recuperao e divulgao

    desse acervo.

    Apesar do acervo de msica sacra produzido nestas cidades ter sido gravado e

    divulgado por vrios grupos profissionais do pas, no tem sido devidamente

    estudado e entendido no prprio contexto histrico e cultural das cidades em que ele

    foi gerado, ou seja, na prpria cidade de So Joo del-Rei e regio.

    Alm dos acervos de partituras, a prpria tradio de execuo do repertrio da

    msica colonial mineira representa um patrimnio vivo, mantido at os dias de hoje

    unicamente pelos membros das orquestras. Aliada s caractersticas nicas da

    msica setecentista mineira, est a maneira to peculiar de se tocar essa msica.

    Essa peculiaridade tem sido passada adiante pelas geraes de msicos desde o

    sculo XVIII, nas Orquestras Ribeiro Bastos, Lira Sanjoanense, Lira Ceciliana e a

    Ramalho. Nesses grupos, a forma de ensino musical de tradio oral e a prtica

    orientada pelos mais velhos que ensinam os mais novos, os quais so treinados

    como msicos instrumentistas ou cantores nas prprias orquestras.

    Toda essa tradio de prtica musical caracterstica do perodo colonial, embora

    conhecida e celebrada nacionalmente, no foi pesquisada nem registrada o

    suficiente para ser historicamente reconhecida como prpria da cultura musical local,

    nem tampouco ensinada regularmente em escolas especializadas. Apesar de haver

    ainda um pequeno nmero de msicos amadores que mantm a tradio, a forma

    tradicional de execuo desse repertrio tende a se perder com o passar das

    geraes.

    Nesse sentido, o Departamento de Msica na UFSJ e o prprio Curso de Msica

    possibilitam:

    1- desenvolver trabalhos de pesquisa sobre a forma tradicional de execuo do

    repertrio sacro em So Joo del-Rei e regio e sobre as formas tradicionais

    e informais de ensino dessa prtica musical, para preserv-la e afirmar sua

    originalidade e sua identidade cultural;

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    2- desenvolver trabalhos de pesquisa sobre o acervo musical disponvel nas

    entidades musicais da cidade, como orquestras e bandas de msica,

    contribuindo para situar a cidade e a UFSJ como um centro de pesquisa e

    produo de conhecimento sobre a msica colonial mineira;

    3- contribuir para a preservao das tradies musicais mineiras por meio de

    projetos de extenso universitria, oferecendo cursos de reciclagem para

    instrumentistas, cantores, maestros de bandas de msica etc.;

    4- criar e manter vnculos de estgio supervisionado de ensino e de performance

    musical para os alunos do Curso de Msica nas entidades musicais de So

    Joo del-Rei e regio, respeitando e aprendendo suas tradies de prtica e

    ensino e ajudando a manter as tradies culturais;5- afirmar a posio da UFSJ como preservadora e promotora da secular

    tradio musical de So Joo del-Rei e de Minas Gerais.

    2.3 ASPECTOS LEGAL-EDUCACIONAIS

    At o principio do sculo XX, a educao musical no Brasil se contentava apenas

    em formar msicos proficientes em compor, tocar um instrumento ou cantar.

    Todavia, a educao musical ainda no se encontrava disponvel para a populao

    em geral no mbito das escolas regulares, como forma de acesso Arte. Segundo

    Fonterrada (2002), o Instituto de Educao Caetano de Campos, no incio do sculo

    XX no Rio de Janeiro, tinha o objetivo de disponibilizar o acesso da populao

    escolar prtica musical. Foi tambm uma das primeiras escolas a abordar o ensino

    de msica como sinnimo de ensino de instrumentos musicais, uma viso diferente

    das escolas especializadas da poca.

    Na dcada de vinte, Mario de Andrade, um dos principais intelectuais da poca,

    defendia o valor do folclore e da msica popular, bem como uma funo social para

    a msica. As idias do intelectual encontraram consonncia nas idias de Heitor

    Villa-Lobos, que se tornou na poca o nome mais importante da educao musical

    do Brasil. Sob sua Regis, instituiu-se o canto orfenico em todas as escolas pblicas

    brasileiras, que era uma forma de democratizar o ensino da msica e representava

    uma forma de acesso arte. Nas composies, era utilizado o material da msicafolclrica brasileira, o que vinha ao encontro do movimento poltico nacionalista que

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    j era forte no Brasil. O governo de Getlio Vargas abraou a idia do canto

    orfenico porque o projeto de Villa-Lobos colocava os grandes agrupamentos corais

    a servio de uma identidade musical brasileira.

    Posteriormente, esse projeto acabou encontrando dificuldades de implantao no

    mbito nacional. As enormes dimenses geogrficas do Pas e o difcil acesso s

    suas regies longnquas, onde as estradas eram bastante precrias, foram alguns

    dos fatores que prejudicaram o projeto. Em dcadas seguintes, o canto orfenico

    teria uma lenta e gradual decadncia, culminando, na dcada de sessenta, com um

    retrocesso a antigos modelos de educao musical vigentes em pocas anteriores a

    Villa-Lobos.

    Na dcada seguinte, mais especificamente em 1971, o governo militar, com a

    promulgao da LDB da Educao n. 5692/71, extinguiu a educao musical como

    disciplina obrigatria nas escolas e a substituiu pela educao artstica como

    atividade. Nesse novo contexto, os princpios da Arte-educao passaram a rejeitar

    os procedimentos usuais de ensino da msica, privilegiando o processo sobre o

    produto e substituindo o rigor do mtodo pelo improviso. O ensino de msica, sob

    essa tica, amparava-se nos conceitos de ampliao do universo sonoro e aexpresso musical comprometida com a prtica e a livre experimentao.

    Para Fonterrada (2003), a LDB da Educao n 5692/71 enfraqueceu, quase

    aniquilando, o ensino de msica no sistema de ensino brasileiro. Os professores de

    educao artstica eram treinados em uma formao polivalente e eram formados

    em programas de licenciatura que se propunham a desenvolver e dominar quatro

    reas de expresso artstica: a msica, o teatro, as artes plsticas e o desenho. O

    resultado desse processo foi a colocao no mercado de trabalho de um grande

    nmero de professores que apresentavam graves lacunas em sua formao devido

    a essa proposta generalista. Sob esse ngulo, a formao no permitia um

    suficiente aprofundamento em nenhuma das quatro reas de arte em tempo to

    curto de formao profissional.

    Na dcada de noventa, o ensino no Brasil sofreu outra grande reforma que foi

    amplamente discutida por inmeros educadores. Toda uma srie de decretos ediretrizes educacionais expressou as disposies do Governo Federal em imprimir

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    um novo modelo educacional em todos os nveis nas escolas brasileiras. A partir de

    1996, a LDB n 9.394 trouxe novos rumos para a educao musical no Brasil,

    devolvendo s artes o statusde disciplina, reconhecendo-as como campo distinto e

    autnomo de conhecimento. 2

    Apesar desse grande avano, Fonterrada (2003) afirma que h uma grande

    dificuldade em se discutir novos modelos de ensino de msica para as escolas

    regulares do Brasil, uma vez que h trinta anos a disciplina de msica no est

    presente no sistema educacional brasileiro. A autora ainda aponta que uma das

    grandes dificuldades de se adotar um modelo de educao musical no Brasil est

    relacionada com uma compreenso deficiente e deturpada da natureza da msica e

    do valor da educao musical.

    Alm da tradio do ensino nas Bandas e Orquestras, Minas Gerais adquiriu um

    destaque ainda maior no panorama da educao musical no Brasil. Isso se deve ao

    fato de que, nos meados do sculo vinte, foram criados doze Conservatrios

    Estaduais de Msica no Estado. Minas , atualmente, o Estado com o maior nmero

    de Conservatrios de Msica do Pas.

    Os Conservatrios de Msica esto sob a coordenao da Secretaria de Estado da

    Educao e uniformemente localizados em todo o estado de Minas, constituindo

    uma rede de ensino regular de msica no estado. So tambm centros de referncia

    cultural das diversas regies em que se inserem e possuem forte vnculo social

    nessas comunidades, sendo tambm agentes da pesquisa de manifestaes

    culturais da regio e de sua divulgao.

    Os Conservatrios possuem aproximadamente oitocentos e cinqenta professores eoferecem cursos nos nveis fundamental e mdio nas seguintes reas: tcnico em

    instrumento, tcnico em canto e magistrio em educao artstica (em fase de

    extino). Segundo Santos (2002), essas doze escolas atendem a um

    2Em 18 de agosto de 2008, o Presidente Lus Incio Lula da Silva sancionou a Lei 11.769, que altera a Lei 9.394/96 e defineque os sistemas de ensino tero 3 anos letivos para se adaptarem s exigncias estabelecidas, quais sejam a de que a msicadever ser contedo obrigatrio, mas no exclusivo, do componente curricular arte .

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    impressionante nmero de vinte e oito mil alunos por ano, dos quais cerca de 5.000 3

    esto na rea de abrangncia da UFSJ. Alm disso, outros dezenove mil alunos de

    escolas regulares participam de projetos de integrao com os Conservatrios.

    Em mdia, cada conservatrio atende a 2000 e 3000 alunos dos ensinos

    fundamental e mdio da rede pblica estadual de ensino. Nesses estabelecimentos,

    h uma grande demanda de formao de professores em nvel superior na rea de

    licenciatura em msica necessidade manifestada pela maioria do seu corpo docente,

    que possui apenas o curso tcnico. Alm do interesse dos mesmos pelo

    desenvolvimento profissional na rea, objetivando-se, sobretudo, a excelncia na

    qualidade do ensino oferecido, sentem-se tambm pressionados pela nova LDB, que

    determina a habilitao especfica, em nvel superior, para o magistrio (tambm

    exigncia da Secretaria de Educao do Estado de Minas Gerais para a contratao

    do corpo docente dos Conservatrios Estaduais de Msica).

    Conservatrios Estaduais de Msica de Minas Gerais e nmero de alunos atendidos

    anualmente:

    Conservatrio N de alunos

    C.E.M. de Araguari 3.010

    C.E.M. Cora Pavan Caparelli, de Uberlndia 3.255

    C.E.M. Dr. Jos Zocolli de Andrade, de Ituiutaba 1.890

    C.E.M. Haidee F. Americano, de Juiz de Fora 1.702

    C.E.M. J. K. de Oliveira, de Pouso Alegre 1.983

    C.E.M. Lia Salgado, de Leopoldina 1.344

    C.E.M. Lobo de Mesquita, de Diamantina 1.419

    C.E.M. Lorenzo Fernandez, de Montes Claros 3.864C.E.M. M. Marciliano Braga, de Varginha 1.899

    C.E.M.Pe. Jos Maria Xavier, de So Joo del-Rei 2.104

    C.E.M. Prof. Theodolindo Jos Soares, de Visconde do Rio Branco 1.040

    C.E.M. Renato Frateschi, de Uberaba 2.251

    TOTAL 25.761

    3 Fonte: Informaes das Superintendncias Regionais de Ensino de Minas Gerais para 2004.

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    Esses nmeros apontam para uma grande demanda gerada no seio dessas

    instituies. De um lado, tem-se um grande nmero de alunos como prova de um

    significativo interesse por algum tipo de prtica ou de formao musical. Nesse

    universo, encontra-se uma parcela de alunos vocacionados para a profissionalizao

    em msica que, aps a concluso dos cursos nos Conservatrios, ficam sem opo

    para a continuidade de seus estudos e se vem obrigados a migrar para centros

    maiores, como Belo Horizonte. Por outro lado, tem-se um grande nmero de

    professores de msica, muitas vezes carentes de uma formao mais atual e

    adequada; outras vezes, carentes da titulao mnima necessria para o exerccio

    do magistrio na rede pblica de ensino, como o caso dos Conservatrios de

    Minas Gerais.

    Nesse sentido, h de se lembrar que a LDB n. 9394/96, em seu artigo 26, pargrafo

    2, institui a obrigatoriedade do ensino de artes nos diversos nveis de educao

    bsica. Aliadas LDB, esto os Parmetros Curriculares Nacionais Arte, que

    estabelecem a msica como uma das linguagens artsticas a serem desenvolvidas

    por profissionais devidamente qualificados.

    A mesma LDB, em seu artigo 62, estabelece que:

    ... a formao de docentes para atuar na educao bsica far-se-

    em nvel superior, em curso de licenciatura, de graduao plena, em

    universidades e institutos superiores de educao, admitida como

    formao mnima para o exerccio do magistrio na educao infantil

    e nas quatro primeiras sries do ensino fundamental a ser oferecidaem nvel mdio, na modalidade normal.

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    Todavia, Fonterrada (2003) afirma que todo o sistema de ensino fundamental tem

    encontrando dificuldade no cumprimento do Artigo 62 da LDBEN, pelo simples fato

    de haver bem menos professores com a habilitao requerida do que vagas nas

    escolas. De acordo com os dados do censo escolar de 2004, somente o estado de

    Minas Gerais possua 18.098 escolas regulares4 nos nveis infantil, fundamental e

    mdio e ainda 12 Conservatrios Estaduais de Msica.

    Para formar professores para esse nmero elevado de escolas, existem apenas seis

    cursos de licenciatura em msica no Estado, sendo que alguns deles so bastante

    novos e s recentemente comearam a formar profissionais com a qualificao

    exigida.

    Observam-se, no raramente, msicos profissionais, formados nos cursos de

    bacharelado em msica, passando a ter uma prtica docente como sua principal

    atividade profissional, sem, no entanto, a devida qualificao e preparo pedaggico.

    Da mesma forma que os cursos de licenciatura, os cursos de bacharelado em

    msica so ainda mais escassos, totalizando trs em todo o Estado. Nesse cenrio,

    torna-se patente a escassez tanto de profissionais qualificados para a prtica e o

    ensino musical quanto de cursos superiores de formao na rea.

    Portanto, o contraste entre o alto nmero de escolas regulares e o baixo nmero decursos de graduao em msica sugere uma grande defasagem no nmero deprofessores de msica, necessrio para atender s demandas do sistema de ensino.Nessa direo, a implantao do curso de Msica da UFSJ contribuir para areduo dessa defasagem e possibilitar:

    contribuir para democratizar o acesso msica e ao aprendizado musical nas

    escolas pblicas regulares; qualificar profissionalmente uma grande parcela de professores de msica

    sem titulao, porm j atuantes na rede pblica de ensino, como os

    Conservatrios Estaduais;

    promover um efeito multiplicador de elevar indiretamente o nvel de ensino

    nas escolas especialistas de msica, como os Conservatrios Estaduais, pela

    qualificao e aperfeioamento de seus professores;

    4 Fontes: SEE/SA/SPL/DPRO. Incluem tambm as modalidades de ensino: Curso Presencial com Avaliao no Processo,Educao de Jovens e Adultos, Curso Semi-Presencial, Educao Especial, Educao Profissional Nvel Tcnico.

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    atender aos indivduos vocacionados para a rea pedaggico-musical,

    interessados na qualificao ou atualizao profissional.

    2.4 DEMANDA LATENTE

    Com a vinda de D. Joo VI para o Brasil no incio do sculo XIX, as bandas militares

    receberam grande fomento por parte do Imprio. Essas corporaes tornaram-se

    no s um importante campo de trabalho para os msicos profissionais, como

    tambm participaram da vida cultural da sociedade.

    O advento das imigraes, principalmente de europeus, serviu de fomento a esse

    tipo de fazer musical. Usualmente, as bandas tocavam em festas religiosas e

    populares, e a msica dominical nos coretos das praas tornou-se parte da vida

    cultural das cidades do Brasil. Tinhoro (1990) afirma que o movimento das bandas

    militares tornou-se to forte e popular que incentivou o aparecimento de bandas

    civis, as liras. Estas eram dirigidas por mestres de banda, especialmente no interior

    do Pas, onde no se contava com a presena de uma banda militar profissional. O

    autor afirma, tambm, que, no sculo XIX, em muitas cidades pequenas, a nica

    forma de contato com qualquer tipo de msica era a msica domingueira, feita pelas

    bandas de msica nos coretos das cidades.

    O movimento das bandas tem sido de grande importncia na vida cultural de Minas

    Gerais. Segundo dados da FUNARTE5, o Estado possui mais de trezentas bandas

    de msica distribudas em seus inmeros municpios. Alm de prover msica nasfestas populares e religiosas, as bandas de msica de Minas Gerais mantm

    tambm uma intensa atuao de formao musical para crianas e jovens que se

    interessam por tocar um instrumento e ser um membro da corporao.

    No se pode deixar de mencionar os coros que sempre estiveram atrelados s

    festas religiosas e populares, outra forte tradio mineira. Sabe-se que a prtica

    coral a maneira mais rpida, barata e eficaz de se musicalizar as pessoas e suprir

    5 Disponvel em:www.funarte.gov.br/comus/comus.htm.

    http://www.funarte.gov.br/comus/comus.htmhttp://www.funarte.gov.br/comus/comus.htmhttp://www.funarte.gov.br/comus/comus.htmhttp://www.funarte.gov.br/comus/comus.htm
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    a cultura de uma localidade com eventos e atividades artstico-musicais. Apesar de

    se saber que os corais em Minas Gerais so muito numerosos e que se encontram

    em profuso em todo o estado, deles no se tem dados numricos muito precisos.

    Acompanhando o movimento musical em Minas Gerais, desde o sculo XVIII,

    constata-se uma forte atividade de ensino da msica. Mariz (1994) afirma que, a

    partir do sculo XVIII, muitos dos diretores de grupos musicais ou compositores

    eram tambm professores e mantinham escolas nas suas prprias casas. Os

    meninos-alunos eram levados at as casas dos mestres de msica, onde eram

    cuidados e alimentados, alm de receberem aulas de msica, latim e outras

    disciplinas essenciais para a poca. Os alunos adquiriam uma formao musical

    abrangente e podiam aprender vrios instrumentos, como rgo, contra-baixo,

    violino, violoncelo, viola, clarim, fagote, obo, trompa e clarineta.

    interessante ressaltar que essa tradio dos mestres de msica ainda estava

    presente at a primeira metade do sculo XX em So Joo del-Rei. Na ocasio, o

    maestro Telmaco Neves, da Orquestra Ribeiro Bastos, mantinha atividades de

    ensino musical na sua prpria casa, formando cantores e instrumentistas para as

    orquestras e bandas locais, auxiliado pelos filhos, entre eles Jos Maria Neves, quemais tarde se tornaria o mais importante musiclogo brasileiro, e Stela Neves Valle,

    atual regente da Orquestra Ribeiro Bastos. No entanto, essa uma realidade que

    no mais se mantm nos dias atuais.

    Nesse universo at aqui apresentado, constata-se, facilmente, uma demanda latente

    entre os inmeros profissionais que j atuam diretamente com a msica. Dentre

    eles, esto os msicos e regentes de orquestras, bandas e coros, que, muitas vezes

    necessitariam ter uma melhor qualificao, e tambm os profissionais com pouca

    qualificao que atuam como formadores musicais. A estes se aliam aqueles

    possveis egressos dos cursos mdios da regio de abrangncia da UFSJ, que

    venham a se interessar por msica.

    Sob esse aspecto, a Universidade, atravs do Curso de Msica e do respectivo

    Departamento, pode:

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    contribuir para reduzir lacunas tcnicas e musicais na formao de msicos e

    regentes j atuantes em agremiaes musicais da cidade e regio;

    contribuir para reduzir lacunas didtico-musicais em msicos e regentes, sem

    uma educao musical formal, que j atuam como formadores nas

    agremiaes musicais a que pertencem;

    promover um efeito multiplicador de elevar indiretamente o nvel de ensino

    musical nas agremiaes musicais como os corais, as bandas de msica e

    outros grupos, pela qualificao e aperfeioamento de seus formadores e

    professores;

    atender aos indivduos vocacionados para a rea musical que no podem ou

    no querem migrar para outras cidades para se qualificarem ou se

    atualizarem profissionalmente;

    contribuir para democratizar o acesso msica e ao aprendizado musical

    para jovens, adultos e msicos amadores.

    2.5 DEMANDA ESPECFICA

    O perfil do profissional formado pelo Curso de Msica da UFSJ vem atender a uma

    demanda especfica criada pela sociedade local, que necessita no somente de

    educadores musicais, mas de msicos instrumentistas e cantores, bem como de

    professores de toda uma variedade de instrumentos como cordas, sopros, metais,

    piano, violo e canto, que se fazem presentes e atuantes nos diversos tipos de

    manifestaes musicais da Cidade de So Joo del-Rei e da regio. Por essa razo,

    optou-se por iniciar o curso oferecendo as habilitaes em Instrumento ou Canto,

    que possuem uma nfase significativa numa formao verstil e intermediria entre

    os cursos tradicionais de Licenciatura em Msica e os cursos de Bacharelado,

    somando a slida formao pedaggica dos primeiros s prticas do fazer musical

    dos segundos.

    Atende, ainda, com a criao da habilitao Educao Musical, demanda criada

    pelas Leis 9.394/96 e 11.769/08, que colocam novamente a msica como contedo

    obrigatrio nas escolas regulares.

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    Portanto, o Curso de Msica formar professores de msica para a rede bsica de

    ensino e atender s necessidades especficas de uma regio historicamente ricaem tradies musicais, com a presena atuante de orquestras sacras, de corais, de

    bandas de msica, e de ensino musical secular, em mbitos formais e informais,

    como os oferecidos no Conservatrio Estadual Padre Jos Maria Xavier e em todas

    as agremiaes musicais onde, tambm, formam-se praticantes amadores.

    2.6 ASPECTOS ACADMICO-VOCACIONAIS

    2.6.1 Do Ensino

    A proposta do Curso de Msica da UFSJ contempla habilitaes em Instrumento ou

    Canto e em Educao Musical. A habilitao em Instrumento ou Canto pretende

    formar um profissional verstil, habilitado a atuar nas reas da educao musical, do

    ensino de instrumento ou canto e performance.

    Proposta pelo colegiado do Curso de Msica em agosto de 2008, a habilitao em

    Educao Musical ter sua primeira turma em 2009. Embora possua um ncleo

    curricular comum s demais habilitaes, a proposta privilegia o aprofundamento do

    ncleo pedaggico do projeto. Essa habilitao formar um profissional apto a atuar

    em espaos formais e no-formais de ensino musical.

    2.6.2 Da Pesquisa

    O vasto acervo de partituras, muitas delas originais, do perodo colonial mineiro

    existente em So Joo del-Rei e em outros municpios setecentistas

    remanescente de um perodo da histria de primordial valor para a formao da

    identidade mineira e mesmo nacional. Alguns trabalhos j tm sido feitos no sentido

    de recuperar tais acervos e torn-los pblicos. No entanto, muito ainda h por se

    fazer pela recuperao e divulgao desse acervo. Nesse sentido, esse materialtorna-se um fecundo material de pesquisa, que poderia vir a ser fonte de estudos

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    minuciosos por um corpo de pesquisadores ligados UFSJ. Dessa forma, estar-se-

    ia propiciando um estudo e entendimento do material produzido no passado, inserido

    no prprio contexto histrico e cultural em que ele foi gerado, fato que ainda no foi

    efetuado.

    sabido que grande parte do estudo sobre a msica colonial foi feito visando revisar

    o acervo, mas pouco tem sido estudado e registrado sobre como executar o Colonial

    Mineiro, seja o canto ou o instrumental. No se pode deixar de se considerar que a

    prpria tradio de execuo do repertrio da msica colonial mineira representa um

    patrimnio vivo mantido at os dias de hoje unicamente pelos membros das

    orquestras setecentistas ainda em atividade. Aliada s caractersticas nicas da

    msica secular mineira, est a maneira to peculiar de se tocar essa msica. Nesse

    aspecto, So Joo del-Rei possuidora dessa tradio da performance da Msica

    Colonial Mineira, podendo, assim, oferecer uma excelente fonte de estudos.

    Nesse sentido, um vasto campo de pesquisa se desponta, tanto para atender a uma

    pedagogia integrada ao contexto histrico-cultural quanto no sentido de atender a

    demandas especificas do ensino musical nas escolas especialistas (Conservatrios

    de Msica) quanto nas escolas regulares e em outros espaos formais e informaisde ensino.

    Considerando ainda Fonterrada (2003), ela afirma que h uma grande dificuldade

    em se discutir novos modelos de ensino de msica para as escolas regulares do

    Brasil. Essa dificuldade se deve ao fato de que h trinta anos j no h msica no

    sistema educacional brasileiro. Nesse sentido, a autora aponta para um outro vasto

    universo de pesquisa. Desde Mrio de Andrade e Villa-Lobos, pouco se fez no

    sentido de se estabelecer discusses fecundas a respeito de novos caminhos para o

    ensino da msica. Alm disso, h de se lembrar mais uma vez Fonterrada (2003). A

    autora ressalta o fato de que uma das grandes dificuldades de se adotar um modelo

    de educao musical no Brasil est relacionada com uma compreenso deficiente e

    deturpada da natureza da msica e do valor da educao musical. Esse se torna,

    assim, mais um importante foco de estudos possvel de ser abordado.

    2.6.3 Da Extenso

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    O curso de Msica da UFSJ, a cidade de So Joo del-Rei e as cidades do estado

    de Minas Gerais, apresentam grande potencial de interao por meio dos cursos de

    extenso, que podero oferecer manuteno e aprimoramento dos acervos e

    atividades musicais nas comunidades do Estado.

    Uma das formas de interao entre a UFSJ e a comunidade pode ser feita por

    intermdio de cursos de manuteno e da preservao de acervos de partituras

    musicais do perodo colonial em Minas. As cidades histricas de Minas possuem

    grandes acervos de partituras musicais dos sculos XVII e XIX que precisam ser

    recuperadas, conservadas, estudadas e divulgadas ao pblico em geral.

    A cidade de So Joo del-Rei destaca-se no sentido de ter um acervo j recuperado

    e catalogado, uma vez que as atividades musicais nunca cessaram desde o perodo

    colonial. A UFSJ, por meio de convnios, poder possibilitar a estudantes de

    musicologia do Brasil um estudo sobre o acervo exclusivo de obras do Colonial

    Mineiro, alm da prtica de performance dessas obras que vm sendo perpetuadas

    pelas geraes de msicos desta cidade.

    As inmeras bandas de msica de Minas Gerais tambm podero ser atendidas por

    cursos de extenso da UFSJ. Podero ser oferecidos cursos de reciclagem para

    regentes de bandas de msica e curso de reparo de instrumentos de banda e gesto

    cultural em msica para regentes de bandas. Tambm podero ser firmados

    convnios com bandas, coros e entidades governamentais que possibilitem cursos

    para msicos e cantores em seus locais de domiclio.

    Os projetos de extenso relativos ao Curso de Msica da UFSJ podero aindaintensificar a interao da Universidade com a comunidade em geral por meio de

    eventos como Concertos nas Igrejas e em Museus, Concertos didticos em escolas

    regulares, Concertos em cidades da rea de abrangncia da UFSJ e Concertos nas

    cidades da Estrada Real; Festivais de pequenas peras, de obras sacras e festivais

    de bandas. A cidade de So Joo del-Rei j possui teatros bem equipados e salas

    de ensaios que podero servir para a realizao desses e outros eventos com a

    organizao e direo da UFSJ.

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    Os projetos de extenso do Departamento de Msica da UFSJ tero funes

    diferentes e complementares dos cursos oferecidos nos Conservatrios de Minas

    Gerais, incluindo o Conservatrio de Msica Padre Jos Maria Xavier, de So Joo

    del-Rei. Os Conservatrios possuem a finalidade de formar msicos para as

    instituies musicais do Estado e os cursos de extenso da UFSJ oferecero

    possibilidades de melhoramentos no funcionamento dos Conservatrios e instuies

    musicais, formando seus professores e aprimorando seu funcionamento como

    apresentado anteriormente.

    A UFSJ j possui uma slida interao cultural com a sociedade por meio das

    oficinas e eventos do Inverno Cultural, que possui reconhecimento nacional, e das

    diversas atividades do seu Centro Cultural. Os projetos de extenso do

    Departamento de Msica da UFSJ podero fortalecer ainda mais interaes,

    contribuindo para a democratizao do acesso da comunidade msica.

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    3 OBJETIVOS DO CURSO

    3.1 OBJETIVO GERAL

    O Curso de Msica da UFSJ tem como objetivo geral, capacitar professores na rea

    de educao musical, para atuar com atitude cientfica, conscincia crtica, tica e

    responsabilidade social, em diversos espaos formais e no formais de ensino, mais

    especificamente, na rede de ensino fundamental e mdio, e em instituies de

    ensino especfico de msica, integrando sua prtica ao seu entorno, visando o

    desenvolvimento cultural, social e econmico, em mbitos locais, regionais e

    nacionais.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    So os seguintes os objetivos especficos do Curso de Msica da UFSJ:

    formar profissionais com competncia musical e pedaggica para atuar de forma

    articulada em escolas de ensino regular (Educao Bsica), bem como em

    escolas de ensino especfico de msica;

    oportunizar aos futuros docentes uma vivncia de formas diversificadas de aoartstico-musical e pedaggica, dando nfase ao trabalho interdisciplinar,

    preparar os educadores musicais para desenvolver projetos interdisciplinares nas

    escolas, integrando a msica s demais formas de manifestao artstica, bem

    como outras reas de conhecimento e vivncias do ser humano.

    oferecer oportunidades de aprofundamentos terico e prtico a partir do exerccio

    docente;

    incentivar a reflexo sobre a prpria formao docente por meio da anlise equestionamento da relao dialtica entre teoria e prtica;

    respeitar e valorizar a identidade cultural dos alunos, incentivando e promovendo

    a criatividade, a produo individual e coletiva e participando com criatividade do

    seu desenvolvimento pessoal e social;

    desenvolver prticas de educao holstica por meio de abordagem sistmica de

    compreenso relacional do ser humano consigo mesmo, com o meio social e sua

    cultura;

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    capacitar o profissional para desenvolver projetos de pesquisa nas reas

    pedaggico-musicais, tendo como meta o aprimoramento geral da rea e a

    criao de aes pedaggicas adequadas a uma regio historicamente rica em

    tradies seculares de ensino e prtica musical, como o caso de So Joo del-

    Rei e regio.

    atender a uma demanda de msicos e professores de msica atuantes mas no

    titulados, como professores de Conservatrios Estaduais de Msica, mestres de

    Bandas de Msica, regentes de coros e orquestras e professores da rede de

    ensino fundamental e mdio;

    viabilizar o desenvolvimento musical e tcnico-instrumental (e vocal) dos alunos,

    possibilitando-lhes a atuar como instrumentistas e cantores, em contextos eformaes musicais variadas, como orquestras, coros, bandas de msica,

    conjuntos de diversos estilos e gneros musicais.

    viabilizar projetos de pesquisa interdisciplinares, relacionando a performance e o

    ensino musical a vrias reas do conhecimento presentes na UFSJ, como a

    Pedagogia, a Musicologia Histrica, a Histria, a Etnomusicologia, a Filosofia, a

    Sociologia, a Psicologia, a Literatura, o Teatro, a Neurocincia e a Educao

    Fsica, visando a compreenso, a difuso e o desenvolvimento cultural das reasmencionadas.

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    4 PERFIL DO EGRESSO

    Do egresso do Curso de Msica esperado que as predisposies iniciais,

    identificadas no processo seletivo para o ingresso no curso, sejam potencializadasno mbito das competncias para atuao efetiva na rea, mobilizando

    conhecimentos, habilidades e atitudes adequadas, desenvolvidas durante a

    realizao do curso.

    4.1 COMPETNCIAS GERAIS E ESPECFICAS

    Entende-se por competncia a capacidade de mobilizar conhecimentos, a fim de se

    enfrentar uma determinada situao. A competncia no o uso esttico de regrasaprendidas, mas uma capacidade de lanar mo dos mais variados recursos, de

    forma criativa e inovadora, no momento e do modo necessrios. Assim, a

    competncia implica uma mobilizao dos conhecimentos e esquemas que se

    possui para desenvolver respostas inditas, criativas, eficazes para problemas

    novos. Segundo Perrenoud (2002), uma competncia envolve diversos esquemas

    de percepo, pensamento, avaliao e ao". Para o mesmo autor, as habilidades

    so as formas de realizao das competncias. Nesse sentido, a competncia constituda por vrias habilidades.

    Aliadas s habilidades e competncias, encontram-se as atitudes que, segundo

    Zabala (1998), so as tendncias ou disposies relativamente estveis nas

    pessoas para atuar de determinada maneira. A forma como cada pessoa realiza sua

    conduta de acordo com valores determinados. Assim, as atitudes so possuidoras

    de alto grau de complexidade, pois envolvem tanto a cognio (conhecimentos e

    crenas) quanto os afetos (sentimentos e preferncias), derivando em condutas

    (aes e declaraes de inteno) e refletindo na maneira de se relacionar com o

    mundo.

    Sob essa perspectiva, compreende-se a formao profissional do licenciado em

    msica com um carter complexo, uma vez que envolve a formao e integrao de

    reas distintas e correlatas. Nesse sentido, com base nas Diretrizes Curriculares

    para os Cursos de Msica (MEC / junho de 1999), a organizao curricular do curso

    em questo est apoiada em sete Campos de Conhecimento. Essa abordagem tem

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    como finalidade primordial garantir formao do profissional uma identidade de

    princpios e uma abrangncia maior de saberes especficos e interdisciplinares.

    Por essa perspectiva, o profissional licenciado deve apresentar, para cada campo deconhecimento, um determinado grupo de conhecimentos, habilidades, atitudes e

    comportamentos que sero mobilizados, juntamente com contedos de outros

    campos de conhecimento, para a construo das competncias. Assim, a seguir,

    so apresentadas, por campos de conhecimentos, o conjunto dessas competncias

    que caracterizam o perfil do egresso do Curso de Msica da UFSJ:

    Campo de Conhecimento Instrumental e Vocal: competncias para se

    expressar musicalmente de forma prtica por meio de um instrumento ou do

    canto, alcanando um nvel simblico e artstico de discurso musical, com

    repertrio adequado para tanto, cobrindo vrios estilos musicais, desde o

    erudito e seus perodos de poca at o popular e o folclrico.

    Campo de Conhecimento Composicional: competncias para compreender

    a linguagem musical em sua sintaxe, estrutura e dimenso simblica,

    modificando-a de forma racional e intuitiva, em situaes de criao,improvisao musical, elaborando arranjos e transcries, almejando um nvel

    simblico e artstico de criao e de discurso musical;

    Campo de Conhecimento dos Fundamentos Tericos: competncias para

    compreenso e ao sobre a linguagem musical tanto em suas relaes

    formais intrnsecas, sua sintaxe, estrutura e dimenso simblica quanto em

    suas relaes extrnsecas, como sua dimenso histrica e cultural,

    contextualizando os referidos aspectos entre si;

    Campo de Conhecimento da Formao Humanstica: competncia para

    compreenso, reflexo e contextualizao, baseada em fundamentos

    filosficos, cientficos e histricos, que habilita o licenciado para um exerccio

    fundamentado e consciente da profisso. Contribui para a compreenso do

    papel da arte e da msica na histria da cultura ocidental e, principalmente,

    para a construo de uma identidade nacional e regional, dispondo de

    recursos e conhecimentos para integrar a experincia musical construo e

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    manuteno dessa identidade. Compreende tambm o desenvolvimento da

    conscincia e da prtica do autodesenvolvimento como sujeito, integrando as

    experincias, conhecimentos e estratgias de estudo e aprendizado no seu

    desenvolvimento pessoal e profissional;

    Campo de Conhecimento Pedaggico: competncias de ao e de

    compreenso dos processos de ensino e aprendizagem musicais,

    relacionados ao desenvolvimento da compreenso da linguagem musical e ao

    desenvolvimento instrumental e vocal, vivenciado na Prtica de Formao e

    no Estgio Supervisionado;

    Campo de Conhecimento de Integrao: competncias para a conexo da

    teoria com a prtica;

    Campo de Conhecimento da Pesquisa: competncias para a anlise, crtica

    e investigao metodolgica na busca de novos caminhos para a Educao

    Musical, para a valorizao da cultura nacional e local, para a preservao

    do um patrimnio histrico cultural local e para a difuso da msica como

    forma legtima de conhecimento e identidade cultural do homem.

    Aliadas s competncias relacionadas aos campos especficos de conhecimento do

    Curso, encontram-se ainda aquelas de carter geral para a formao do educador.

    luz da contribuio de Perrenoud (2000), de acordo com os Referenciais para

    Formao de Professores (MEC-1999) e em consonncia com os artigos 1, 2, 3, e

    13 da LDB 9394/96, que tratam da formao de professores para o ensino bsico,

    pode-se ainda enumerar as seguintes competncias gerais da formao

    pedaggica:

    I. Organizar e dirigir situaes da aprendizagem: conhecer, para determinada

    disciplina, os contedos a serem ensinados e sua traduo em objetivos de

    aprendizagem; trabalhar a partir das representaes dos alunos; trabalhar a partir

    dos erros e dos obstculos aprendizagem; construir e planejar dispositivos e

    seqncias didticas; e envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos

    de conhecimento.

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    II. Administrar a progresso das aprendizagens: conceber e administrar

    situaes-problemas ajustadas ao nvel e s possibilidades dos alunos; adquirir uma

    viso longitudinal dos objetivos do ensino; estabelecer laos com as teorias

    subjacentes s atividades de aprendizagem; observar e avaliar os alunos em

    situaes de aprendizagem, de acordo com uma abordagem formativa; fazer

    balanos peridicos de competncias, e tomar decises de progresso.

    III. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciao: administrar a

    heterogeneidade no mbito de uma turma; fornecer apoio integrado; trabalhar com

    alunos portadores de grandes dificuldades e desenvolver a cooperao entre os

    alunos e certas formas simples de ensino mtuo.

    IV. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho: suscitar o

    desejo de aprender; explicitar a relao com o saber, o sentido do trabalho escolar e

    desenvolver na criana a capacidade de auto-avaliao; instituir e fazer funcionar

    um conselho de alunos (conselho de classe ou escolar) e negociar com eles

    diversos tipos de regras e de contratos; oferecer atividades opcionais de formao,

    possibilitando o atendimento de futuras demandas ainda desconhecidas e

    imprevistas e favorecer a definio de um projeto pessoal do aluno.

    V. Trabalho em equipe: elaborar um projeto de equipe, representaes comuns;

    dirigir um grupo de trabalho; conduzir reunies; formar e renovar uma equipe

    pedaggica; enfrentar e analisar em conjunto situaes complexas, prticas e

    problemas profissionais e administrar crises ou conflitos interpessoais.

    VI. Participar da administrao da escola: elaborar e negociar um projeto da

    instituio; administrar os recursos da escola; coordenar e dirigir uma escola comtodos os seus parceiros (servios paraecolares, bairro, associaes de pais,

    professores de lngua e cultura de origem); e organizar e fazer evoluir, no mbito da

    escola, a participao dos alunos.

    VII. Enfrentar os deveres e os dilemas ticos da profisso: prevenir a violncia

    na escola e fora dela; lutar contra os preconceitos e as discriminaes sexuais,

    tnicas e sociais; participar da criao de regras de vida comum referentes

    disciplina na escola, s sanes e apreciao da conduta; analisar a relao

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    pedaggica, a autoridade, a comunicao em aula e desenvolver o senso de

    responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justia.

    VIII. Administrar sua prpria formao contnua: saber explicitar as prpriasprticas; estabelecer seu prprio balano de competncias e seu programa pessoal

    de formao contnua; negociar um projeto de formao comum com os colegas

    (equipe, escola, rede); envolver-se em tarefas em escola de uma ordem de ensino

    ou do sistema educativo e acolher a formao dos colegas e participar dela.

    Abordando o campo especfico da educao musical, pode-se apontar, ainda, uma

    srie de competncias pedaggico-musicais pretendidas para o egresso:

    competncia musical e pedaggica para atuar de forma articulada no

    ensinos infantil, fundamental e mdio, cnscio de suas funes e

    preparado para participar com criatividade do desenvolvimento pessoal e

    social dos educandos;

    conhecimento dos fundamentos da Educao Musical e sua abrangncia

    na formao dos seres humanos;

    valorizao da arte como fator essencial para o estmulo do esprito crtico,do desenvolvimento da sensibilidade humana, do pensamento criativo e

    da formao do carter do educando;

    aptido para desenvolver projetos interdisciplinares e integradores na

    escola inclusiva, estando instrumentalizado para atender aos alunos

    portadores de necessidades especiais;

    aptido para atuar em escolas de ensino especfico de msica, em

    diversas disciplinas e reas do conhecimento musical;

    competncia para a prtica de uma educao holstica por meio da

    interao entre teoria e prtica;

    conscientizao e sensibilizao para a identidade cultural dos alunos e os

    respectivos contextos histricos e socioculturais, respeitando, valorizando

    e integrando essa identidade cultural s prticas de ensino musical;

    capacidade para tratar a msica e o conhecimento musical como forma

    nica e particular de conhecimento e apreenso da realidade, necessria

    ao equilbrio e ao desenvolvimento da conscincia.

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    Abordando o campo especfico da pesquisa, podemos listar as seguintes atitudes,

    habilidades e competncias para o educador-pesquisador egresso:

    competncias para a pesquisa em prticas pedaggicas e musicais,

    contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento da rea;

    competncias especficas para realizar todas as etapas dos processos de

    pesquisa, como delimitao do tema, pesquisa e crtica bilbiogrfica,

    documentao e catalogao de dados, levantamento e comprovao de

    hipteses, crtica e reflexo para com o conhecimento em geral;

    competncia para elaborao de projetos pedaggicos de estgio e deatuao crtica e investigativa tanto no mbito educacional como artstico-

    musical.

    desenvolvimento de abordagem pessoal de compreenso da realidade e

    estilo prprio de crtica e reflexo relacionada ao conhecimento em geral.

    4.2 CAMPOS DE ATUAO E AS HABILITAES DO EGRESSO

    O profissional formado no Curso de Msica da UFSJ estar dotado de slida cultura

    musical e pedaggica que lhe permitam atuar de forma articulada na rede de ensino

    fundamental e mdio, em instituies de ensino especfico de msica, bem como em

    outras instituies formais e no-formais de ensino, onde se faam presentes

    quaisquer modalidades de ensino e prtica musical (Corais, Orquestras, Bandas,

    Fanfarras etc.).

    Da mesma forma, o profissional estar apto a exercer atividades em cursos livres de

    msica e oficinas culturais, reger coros e desenvolver pesquisas na rea de

    pedagogia artstico-musical. Nesse sentido, estar pronto a suprir algumas das

    demandas especficas da cidade de So Joo del-Rei e regio, atendendo a uma

    clientela diversificada e a demandas sociais, que cada vez mais exigem a formao

    de docentes com o domnio de reas especficas bem fundamentadas.

    Com base nas justificativas e objetivos do curso, assim como nas competncias e no

    perfil do egresso apresentadas, o Curso de Msica, modalidade licenciatura,

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    oferecer a partir de 2009 as Habilitaes em instrumento ou Canto e a Habilitao

    em educao musical, as quais podem ser descritas nos seguintes termos:

    A) Habilitaes em instrumento/cantoA habilitao em Instrumento ou Canto visa a formao de um educador

    musical que poder atuar tambm como msico instru