Projeto de tese de doutorado Wolff.pdf · generosidade minha ausência em inúmeros momentos de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Fabiane Wolff SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE DESIGN EM EMPRESAS Porto Alegre 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Fabiane Wolff

SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE

DESIGN EM EMPRESAS

Porto Alegre

2010

Fabiane Wolff

SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE

DESIGN EM EMPRESAS

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação

em Engenharia de Produção da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul como requisito

parcial à obtenção do título de Doutor em

Engenharia de Produção, na modalidade

acadêmica na área de concentração em Sistemas

de Produção.

Professor Orientador: Dr. Fernando Gonçalves

Amaral

Porto Alegre

2010

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Fabiane Wolff

Sistemática de Avaliação da Gestão de Design em Empresas

Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção

na modalidade acadêmica e aprovada em sua forma final pelo Orientador e pela Banca

Examinadora designada pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

__________________________________

Prof. Dr. Fernando Gonçalves Amaral

Orientador PPGEP/UFRGS

___________________________________

Profa. Dra. Carla Schwengber ten Caten

Coordenadora PPGEP/UFRGS

Banca Examinadora:

Professor Dr. Fernando Gonçalves Amaral (PPGEP/UFRGS)

Professor Dr. Gustavo Severo Borba (PGDesign/Unisinos)

Professor Dr. Maurício Moreira e Silva Bernardes (PGDesign/UFRGS)

Professor Dr. Ricardo Triska (PósDesign/UFSC)

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Dedicatória

Aos meus pais, Norberto e Mery;

À memória dos meus avós Bernhard e Anny,

Chaim e Fanny.

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas e instituições colaboram com o árduo exercício que é escrever uma tese,

direta ou indiretamente. A todas elas, devo um muito obrigado que não necessariamente vem

aqui apresentado em ordem de hierarquia ou importância.

Com uma exceção! O Prof. Dr. Fernando Gonçalves Amaral, orientador dedicado deste

estudo, que acolheu as idéias desta tese com entusiasmo e me guiou com generosidade,

inteligência e bom humor. Ele merece o primeiro e mais importante agradecimento: muito

obrigada, Amaral! Obrigada por tudo, especialmente por me ensinar o que significa ser uma

orientadora, para que eu também possa merecer a confianca dos meus alunos.

Agradeço ao PPGEP e seus professores pelos momentos de aprendizagem, pesquisa e

convivência. Em especial agradeço aos Professores Cláudio Müller, Francisco Kliemann e

Marcia Echeveste. Agradeço também aos colegas Franz e Marcelo, companheiros no período de

estudos e às queridas colegas Claudia Libânio, Andréa Capra e Daniela Szabluk, que me

auxiliaram no desenvolvimento desta tese e acompanharam como ótimas parceiras diversos

momentos desta caminhada.

Aos professores qualificadores desta tese, Prof. Dr. Gustavo Borba e Prof. Dr. Maurício

Bernardes agradeço por suas generosas observações e contribuições para este estudo, bem como

ao Prof. Dr. Ricardo Triska por sua colaboração na banca final.

À Prof. Dra. Brigitte Borja de Mozota agradeço a receptividade e generosidade com que

acolheu e esclareceu minhas dúvidas no momento de decisão do rumo desta tese. Agradeço pela

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oportunidade de ter considerado este trabalho parte do seu grupo e pelas longas conversas que

tivermos em diversos momentos.

Ao Prof. Dr. Claudio Walter, agradeço o incentivo para este doutorado.

Ao Prof. Dr. Hugo F. Müller Neto, do PPGA, que desde os tempos de mestrado é um

interlocutor e colega querido. Obrigada pela esclarecedora e incentivadora conversa que tivemos

na metade deste caminho. Ela foi fundamental!

Um agradecimento especial eu devo às empresas e aos colegas designers que abriram

suas portas para me receber, respondendo as diversas etapas de pesquisa desta tese. A

colaboracao destes profissionais e suas respostas e opiniões foram centrais para este trabalho.

Agradeço ao UniRitter, nas pessoas do Reitor, Dr. Flávio de Almeida Reis e da Diretora

Administrativa, Prof.a. Ivelone Nagel Reis que incentivaram esta formação, reconhecendo e

valorizando o esforço dos que trabalham pela educação. Também no ambiente do UniRitter

agradeço ao Prof. Julio César Caetano da Silva, exemplo de colega e chefe, que sabe conduzir

como ninguém um grupo e que muito me incentivou ao doutorado, respeitando minhas ausências

e colaborando como pode para esta tese. Agradeço também aos meus bolsistas de iniciação

científica e alunos que durante o doutoramento colaboraram com discussões sobre Gestão de

Design em sala de aula.

Dois colegas se tornaram amigos muito queridos e foram especialmente importantes ao

longo deste doutoramento. A Lizandra Kunzler, sempre super dedicada, que além de agüentar

uma amiga em eventuais momentos de crise existencial, escrevendo a tese, supriu com

generosidade minha ausência em inúmeros momentos de sala de aula e de pesquisa. Eu espero

em breve poder retribuir tudo isso! E o Prof. Dr. Júlio Carlos de Souza van der Linden, me

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incentivou, reforçou e ajudou neste caminho, me fazendo compreender a importância do

doutoramento, da pesquisa e do desenvolvimento teórico para o Design.

Aos meus pais, não sei que palavras usar para agradecer o suporte, o amor, o incentivo

nos momentos difíceis, o amparo e tudo mais que vocês sempre foram. De algum modo, esta tese

é o reconhecimento e o agradecimento pelo esforço de vocês em nos mostrar a importância do

estudo e do conhecimento; e por nos proporcionar este caminho.

Ao Daniel, meu marido, meu incentivador mais entusiasmado desta tese, ouvinte atento

das minhas idéias, opinador oficial e companhia de horas de escrita: muito, mas muito obrigada!

Sem teu carinho a tua paciência nas minhas muitas horas de estudo e trabalho teria sido

impossível chegar aqui! Finalmente, amor, estou liberada!!

Ao Rafa e a Nice, meus queridos irmão e cunhada, campeões familiares de meses de

estudos contínuos, que acompanharam lá do sul do mundo esta tese dando o exemplo de como

encarar uma longa jornada deste tipo. Além disso, como eles mesmos dizem: nestas horas muito

ajuda quem não atrapalha!! Então, muito obrigada!

Por fim, gostaria de agradecer de um modo geral a minha família e amigos. Aos meus

tios, primos, sogra, „sobrinhos‟ e amigos queridos. Se vocês não existissem nada teria sentido ou

valeria a pena! E, cada um, do seu modo, contribuiu acompanhando este processo e incentivando

que eu chegasse até aqui.

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RESUMO

A mudança de foco provocada pela evolução do papel do design no contexto empresarial,

comercial e até mesmo de capacidade tecnológica de projeto, ao longo das últimas seis décadas,

alavancou design ao posto de fator estratégico de vantagem competitiva. Como fundamento

teórico e respaldo gerencial, a Gestão de Design é a responsável por gerenciar design como parte

da intenção estratégica da empresa, inserindo e integrando adequadamente competências,

equipes, processos e métodos. Ainda que já consolidado em termos internacionais, no Brasil,

Gestão de Design ainda é um tema relativamente novo e mecanismos de compreensão de suas

estruturas, adequadas à realidade do país são raros. A proposta de compor uma visão sobre

Gestão de Design em uma sistemática que auxilie as empresas a avaliar o uso da Gestão de

Design no seu ambiente é o foco desta tese. Permeada pela fundamentação teórica, uma pesquisa

qualitativa, através de rodadas de entrevistas em profundidade, foi procedida para a construção

da sistemática de avaliação da Gestão de Design nas empresas. As primeiras duas etapas de

entrevistas, com especialistas e designers, permitiram a análise do uso do design nas empresas,

auxiliando a mapear os processos atinentes ao design, identificando seu papel na dinâmica das

empresas e sua gestão. Os resultados destas entrevistas, em conjunto com a teoria elencada

permitiram delinear um modelo conceitual e a proposta da sistemática de avaliação da Gestão de

Design que foram, em uma última etapa de pesquisa analisados por especialistas e por designers

de empresas. O resultado final apresenta um modelo conceitual de Gestão de Design que

determina as dimensões nas quais o conceito pode ser analisado em empresas, a sistemática de

avaliação da Gestão de Design em empresas, seu modo de aplicação, instrumentos e análise de

resultados, bem como um procedimento metodológico de design para sua melhor condução junto

à Gestão de Design. Além destes, são também discutidos os fatores críticos de sucesso para

Gestão de Design e os temas conexos ao tema de foco deste estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Design, Sistemática de Avaliação, Modelo Conceitual

de Gestão de Design.

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ABSTRACT

Over the past six decades, the focus shift caused by the evolving role of design in business

environment has leveraged design to the rank of strategic factor of competitive advantage. As a

theoretical and managerial background, Design Management is responsible for managing the

design as part of the company's strategic intention, properly inserting and integrating

capabilities, teams, processes and methods. Although it is already consolidated in international

terms, Design Management in Brazil is still a relatively new approach and it‟s appropriate

understanding in Brazilian reality are rare. The proposal of composing a vision on Design

Management in a system that helps companies evaluate the use of Design Management in its

environment is the focus of this dissertation. Permeated by theoretical background a qualitative

research was performed. Through rounds of in-depth interviews a systematic evaluation of the

Design Management within companies was constructed. The first two stages of interviews with

experts and designers allowed the analysis of the use of design in companies helping to map the

processes related to design, identifying its role in the dynamics of companies and how design is

managed. The results of these interviews, together with the theoretical background made

possible to outline a conceptual model and to propose the systematic evaluation of the Design

Management. Those were, in a final stage of research, reviewed by experts and designers. The

final result presents a conceptual model of Design Management with the determination of the

three dimensions in which the concept can be seen in companies; the systematic evaluation of the

Design Management, with is mode of application, tools and analysis results; as well as a design

methodological procedure for better adjustment of Design Management. As a conclusion to the

study, the critical success factors for design management and other related issues are discussed.

KEY-WORDS: Design Management, Systematic Evaluation, Design Management Conceptual

Model

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Desenho da Estrutura de Pesquisa............................................................. 20

Figura 2 - O Processo de Design................................................................................. 30

Figura 3 – Ciclo de Vida do Produto........................................................................... 33

Figura 4 – Ciclo de Vida do Produto Estendido.......................................................... 34

Figura 5 – Modelo Conceitual da Matriz de Desenvolvimento de Produto Integrado 35

Figura 6 – Linha do Tempo......................................................................................... 49

Figura 7 – As quatro forças do design e o BSC.......................................................... 55

Figura 8 – Design Ladder, A Escada do Design......................................................... 56

Figura 9 – Publicações e quantidade de artigos do P&D............................................ 64

Figura 10 – Dimensões de Gestão de Design ............................................................. 73

Figura 11 – Estrutura de Pesquisa: etapas e objetivos................................................. 74

Figura 12 – Modelo apresentado pelo Entrevistado 1................................................. 84

Figura 13 – Modelo apresentado pelo Entrevistado 2................................................. 85

Figura 14 – Processo Preliminar de Gestão do Design............................................... 91

Figura 15 – Modelo Conceitual de Gestão do Design................................................. 118

Figura 16 – Gráfico de Resultados da Sistemática...................................................... 127

Figura 17 – Processo de Design para Gestão de Design ............................................ 129

Figura 18 – Mapa Mental de Gestão de Design ......................................................... 134

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – As três dimensões de Gestão de Design................................................... 28

Quadro 2 – Método segundo Löbach.......................................................................... 38

Quadro 3 – Fases do método de design segundo Borja de Mozota............................. 40

Quadro 4 – Comparação entre os métodos de design................................................. 41

Quadro 5 – Design como vantagem competitiva ou competência central.................. 45

Quadro 6 – Desenvolvimento histórico da Gestão de Design.................................... 49

Quadro 7 - Gestão de Design...................................................................................... 58

Quadro 8 – Fatores de sucesso, barreiras e vantagens do processo de Design........... 84

Quadro 9 – Níveis de Gestão versus Gestão de Design.............................................. 87

Quadro 10 – Níveis de Gestão versus Gestão de Design............................................ 88

Quadro 11 – Níveis de Gestão versus autores de métodos genéricos......................... 89

Quadro 12 – Comparação entre métodos e processos de design nas empresas

entrevistadas................................................................................................................

101

Quadro 13 – Processo de Design para de Gestão de Design....................................... 102

Quadro 14 – Processo de Gestão de Design versus processos das empresas

entrevistadas................................................................................................................

104

Quadro 15 – Sistemática de Avaliação da Gestão de Design – estruturas.................. 123

Quadro 16 – Sistemática para Avaliação da Gestão do Design – entendimentos....... 125

12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Publicações e quantidade de artigos da revista Estudos em Design.......... 62

Tabela 2 – Publicações e quantidade de artigos do P&D............................................ 63

Tabela 3 - Palavras chave mais citadas....................................................................... 69

Tabela 4 - Palavras chave agrupadas por analogia...................................................... 69

Tabela 5 – Amostra - Perfil das empresas entrevistadas............................................. 78

Tabela 6 – Perfil das empresas entrevistadas.............................................................. 94

Tabela 7 – Perfil das empresas entrevistadas- etapa final........................................... 114

13

SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................... 8

ABSTRACT................................................................................................................ 9

LISTA DE FIGURAS................................................................................................. 10

LISTA DE QUADROS............................................................................................... 11

LISTA DE TABELAS................................................................................................ 12

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 15

1.1 OBJETIVOS.............................................................................................. 17

1.1.1 Objetivo Geral............................................................................ 17

1.1.2 Objetivos Específicos................................................................. 17

1.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................... 17

1.3 MÉTODO.................................................................................................. 19

1.4 ESTRUTURA DA TESE.......................................................................... 21

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 23

2.1 DESIGN..................................................................................................... 23

2.1.1 Design como Processo................................................................ 29

2.1.1.1 Propostas de Design como Processo Genérico........................ 32

2.1.1.2 Propostas de Design como Processo Específico...................... 36

2.1.2 Design como Competência......................................................... 42

2.1.3 Design como Estratégia.............................................................. 45

2.2 GESTÃO DE DESIGN............................................................................. 48

2.2.1 Gestão de Design e Desempenho Empresarial........................... 59

2.2.2 Gestão de Design no Brasil......................................................... 62

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......... 72

3. MÉTODO........................................................................................................ 74

3.1 ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS............................................... 76

3.2 ENTREVISTAS COM DESIGNERS NAS EMPRESAS........................ 78

14

3.3 AVALIAÇÃO E ALINHAMENTO DA SISTEMÁTICA....................... 80

4. RESULTADOS............................................................................................... 82

4.1 ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS............................................... 82

4.2 ENTREVISTAS COM DESIGNERS NAS EMPRESAS........................ 93

4.3 AVALIAÇÃO DA SISTEMÁTICA ........................................................ 106

4.3.1 Entrevistas com Especialistas de Mercado................................. 107

4.3.2 Entrevistas com Especialistas Professores.................................. 110

4.3.3 Entrevistas com Designers.......................................................... 114

5. SISTEMÁTICA PARA A AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE DESIGN ........ 118

5.1 MODELO CONCEITUAL DE GESTÃO DE DESIGN ......................... 118

5.2 SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE DESIGN ........... 121

5.2.1 Modo de Aplicação..................................................................... 121

5.2.2 Avaliação e Utilização dos Resultados....................................... 126

5.3 PROCESSO DE DESIGN PARA GESTÃO DE DESIGN ..................... 128

6. DISCUSSÃO................................................................................................... 131

7. CONCLUSÃO................................................................................................. 138

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 140

APÊNDICES............................................................................................................... 156

15

1. INTRODUÇÃO

A perspectiva de design como parte da estratégia das empresas é um tema relativamente

novo no cenário tanto da gestão quanto do design1. Tradicionalmente, no contexto do design, o

projeto é o centro de tudo, encapsulado no seu próprio conhecimento técnico. Durante décadas as

escolas de design do mundo todo se preocuparam com forma e função como o centro das

atividades de um profissional de design. Somente ao final da Segunda Guerra Mundial,

especialmente ao longo da década de 1950, o design passou a ser tratado como essencial no

sucesso do desenvolvimento de produto das empresas (WALSH et al., 1992). Preocupação

natural em um contexto no qual o foco das empresas alterava-se da venda para o consumo em si

e em que a preocupação com o cliente surgia com força (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL,

2001). Deste período, em que era considerado como função, o design assumiu o posto de estilo,

nos anos 1960 e 1970, e de processo nas décadas de 1980 e 1990 (BORJA DE MOZOTA; KIM,

2009). As teorias sobre consumo guiado pelo prazer, não somente pela questão econômica; e a

noção da importância de voltar a organização para satisfazer o mercado, orientação para

mercado, ganharam força no final da década de 1980 e início da década de 1990 (HISRCHMAN;

HOLBROOK, 1982; KOHLI; JAWORSKI, 1990). Já na década de 1990, passou-se então a

entender design como ferramenta de competição global no âmbito estratégico e filosófico da

empresa (BORJA DE MOZOTA, 2003; BEST, 2006; BEVERLAND; FARRELY, 2007; entre

outros). Nos anos 2000, o design capturou as atenções ao mostrar-se e consolidar-se como um

bom fator para os negócios (LOCKWOOD, 2007), com pesquisas apontando, inclusive, para a

performance superior derivada de processos de design (HERTENSTEIN; PLATT 1999).

A mudança de foco provocada pela evolução do papel do design no contexto empresarial,

comercial e até mesmo de capacidade tecnológica de projeto, ao longo das décadas descritas,

alavancou design para fator estratégico de vantagem competitiva, fazendo deste processo um

ativo intangível das empresas e, por conseqüência, parte de seu capital intelectual. Suscitou, com

esta expansão, a discussão acerca de como design deveria ser gerenciado, fazendo com que o

1 Design, ou desenho industrial, é entendido nesta tese como é o planejamento e projeto de bens passiveis de

produção em série, de modo a atender eticamente a estratégia das empresas e as necessidades e desejos dos

consumidores, promovendo trocas de valor entre empresas e mercados.

16

tema Gestão de Design ganhasse importância no campo do design, ampliando o espectro de

conhecimento e atuação do profissional.

Como fundamento teórico e respaldo gerencial, a Gestão de Design é a responsável por

gerenciar design como parte da intenção estratégica da empresa, inserindo e integrando

adequadamente competências, equipes, processos e métodos. A Gestão de Design, conforme

articulada, também caracteriza como as empresas que utilizam design. Autores como Borja de

Mozota (2002; 2003; 2006; 2009), Beverland e Farrely (2007), Kretzschmar (2003) e Best

(2006), entre outros, auxiliaram a definir, classificar e compreender Gestão de Design, dando a

esta corpo teórico e oferecendo a possibilidade de construção de conhecimento na área.

Considerando os esforços teóricos e de pesquisa, este campo de estudos é ainda muito jovem e,

deste modo, observa-se lacunas no seu conjunto. Percebe-se também, como naturalmente

acontece com temas novos de pesquisa, as fases de delimitação de conceitos, as pesquisas

descritivas que contribuem para estes e a alavancagem destas pesquisas para prescrição de como

deveriam ser aplicados. Em termos internacionais a base teórica já está consolidada e os avanços,

neste momento, são pela disseminação de conceitos nas empresas e pela pesquisa quantitativa na

busca de medidas para sua conceituação e prescrição das melhores práticas.

No Brasil, entretanto, pesquisas, modelos e estruturas de compreensão adequadas à

realidade do país são raros. O volume de publicações no tema ainda é pequeno, sendo que os

centros de pesquisa, sediados basicamente na região Sul, apresentam ainda pesquisas bastante

superficiais, se comparadas às internacionais. Além disso, são trabalhos prévios com relação a

muitas das publicações internacionais mais recentes da área, que alavancaram consideravelmente

o conjunto teórico da disciplina.

Considerando este contexto, o tema desta tese encontra-se justamente nas lacunas

observadas, propondo compor uma visão sobre Gestão de Design em uma sistemática que auxilie

as empresas a avaliar o uso da Gestão de Design no seu ambiente e, até mesmo, indicando

tópicos para o aprimoramento de seus processos. Ultrapassa, deste modo, a fase de delimitação

de conceitos, na qual a produção cientifica brasileira na área se encontra, para propor um modo

de avaliação da realidade e a prescrição de melhorias. Para tanto, uma pesquisa qualitativa foi

desenvolvida buscando atingir os objetivos a seguir apresentados.

17

1.1 OBJETIVOS

Considerando o tema abordado para esta tese seus objetivos dividem-se em geral e

específicos.

1.1.1Objetivo Geral

De maneira geral, o objetivo desta tese visa:

Desenvolver uma sistemática de avaliação de Gestão de Design nas empresas.

1.1.2.Objetivos Específicos

A fim de alcançar o objetivo geral são propostos os seguintes objetivos específicos:

Analisar o uso do design nas empresas;

Mapear o processo no qual design está inserido, identificando sua inserção, integração

e correlação com outras funções da empresa;

Identificar o papel do design na dinâmica das empresas;

Identificar como é feita a Gestão de Design nas empresas;

Estabelecer as dimensões de Gestão de Design e suas graduações de aplicação;

Elencar fatores críticos de sucesso para Gestão de Design.

1.2 JUSTIFICATIVA

Enquanto áreas como marketing ou recursos humanos, nos últimos 10 ou 15 anos,

ganharam status individual nas empresas, os benefícios econômicos do design são ainda difíceis

18

de identificar devido a natureza abrangente da atividade (KRETZSCHMAR, 2003). Para

Lockwood (2007), mais do que medir as dimensões ligadas ao design, os procedimentos para

medir o valor do design ou sua performance não necessitam ser complexos. Para o autor, existem

modos qualitativos, quantitativos e de síntese e, também, o imponderável, simplesmente “pois

algumas coisas estão além do alcance de definição ou medida” (p.97). Neste estudo, a escolha

por métodos qualitativos, apresentados a seguir, justifica-se na própria natureza da questão

Gestão de Design. Esta deve ser compreendida como um todo, para que gere uma sistemática de

avaliação adequada e sensível às questões das empresas, gerais e específicas de cada uma. Além

disso, para O´Donnell e Duffy (2002), as dificuldades de mensurar design decorrem dos outputs

intangíveis das atividades de design como as baseadas em conhecimento, encaminhando as

pesquisas para parâmetros qualitativos de observação.

Para alcançar o objetivo geral desta tese os passos metodológicos e objetivos específicos

buscam compreender a questão da Gestão de Design como um todo, analisando seu uso nas

empresas como forma de verificar a realidade além da teoria. Segundo Borja de Mozota (2002),

o processo de design é visto como uma representação mental do novo modelo de gestão e,

portanto, mapear o processo no qual design está inserido, identificando sua inserção, integração e

correlação com outras funções da empresa são etapas da própria definição teórica de Gestão de

Design, que devem ser analisadas para que a sistemática proposta seja reflexo da realidade.

Santos (2000) observa que a absorção do design pelas empresas requer que a estrutura gerencial

seja flexibilizada, permitindo que o design participe do processo, desde o início, passando pela

venda, pós venda, reciclagem e desuso. Caso contrário, para o autor, o design pode não agregar

valor ao processo, criando problemas para a organização. Deste modo, evidenciar o papel do

design na dinâmica das empresas e identificar como é feita a Gestão de Design nas empresas

torna-se fundamental. Além disso, não se observa no Brasil medidas com estas características,

sendo estas lacunas uma justificativa para o desenvolvimento deste estudo.

As publicações internacionais, que dão respaldo aos conceitos teóricos, têm foco prático

em pesquisas, com empresas premiadas em design, casos de sucesso, ou ainda com pequenas e

micro empresas. Isto não reflete a realidade do cotidiano das empresas brasileiras, gerando a

necessidade por estudos brasileiros. Ao mesmo tempo, a observação da prática brasileira em

relação à Gestão de Design sugere que sua compreensão é ainda superficial. No ambiente

19

nacional existem lacunas quanto a publicação, ainda escassa, o mapeamento da inserção do

design e da Gestão de Design nas empresas, na estrutura e dimensionamento de conceituação da

Gestão de Design e sobre como pode ser utilizada nas empresas brasileiras. Além disso, existe

também um atraso cronológico no estudo e na aplicação da Gestão de Design, em relação ao que

se observa no exterior.

Dessa forma, estudar Gestão de Design, em sua conceituação teórica e observação da

prática, pode evidenciar e alavancar novos conhecimentos na área. Em especial, no contexto e na

realidade das empresas brasileiras, avançando no aprofundamento da teoria e das pesquisas nesta

área e gerando ferramentas que permitam avaliação e avanço da Gestão de Design no ambiente

empresarial brasileiro.

1.3 MÉTODO

A escolha do método de pesquisa deve ser condizente para a obtenção dos objetivos

propostos para o estudo. Para desenvolver a proposta desta tese, de uma sistemática de avaliação

da Gestão de Design, o método exploratório de caráter qualitativo mostra-se o mais adequado. A

pesquisa qualitativa, segundo Malhotra (2001, p. 155), é “a técnica de pesquisa não-estruturada,

exploratória, baseada em pequenas amostras que proporciona insights e compreensão do

problema”. Investigativa e profunda por natureza, a pesquisa qualitativa é a mais indicada para

captar aspectos relacionados à Gestão de Design, sua inserção nas empresas e como realmente é

utilizada, caracterizando os requisitos para sua existência e os fatores determinantes para seu

sucesso.

Em relação à coleta de informações, pode-se classificar a presente pesquisa como um

estudo transversal (MALHOTRA, 2001). Dividida em cinco etapas a pesquisa busca, calcada em

fundamentação teórica, apresentar de modo amplo a realidade da Gestão de Design nas

empresas, de modo a organizar um modelo desta realidade, tanto na visão do designer quanto na

visão do gestor. O desenho da estrutura da pesquisa proposta tem as seguintes etapas (figura 1):

20

Figura 1 – Desenho da Estrutura de Pesquisa

A pesquisa inicia-se com uma etapa bibliográfica de caráter exploratório que visa

fundamentar os estudos da tese em referencial teórico existente. Vertentes teóricas que

descrevem design, Gestão de Design e suas dimensões, bem como a discussão de sua utilização

nas empresas são apresentadas como forma de sustentar o tema e o ambiente da pesquisa.

Para compreender a questão da Gestão de Design nas indústrias duas etapas de pesquisa

qualitativas foram desenvolvidas, com especialistas e com designers nas indústrias. Embora o

foco deste trabalho seja os processos de design internos nas indústrias, os especialistas, por sua

experiência, são de grande valia ao auxiliar na compreensão do problema de concepção e do que

se considera ideal para a Gestão de Design. Os designers nas indústrias, pela experiência

cotidiana, apresentam um panorama atual e profundo da questão. Estas entrevistas foram

procedidas no modelo das Entrevistas em Profundidade, com roteiros semi-estruturados e

registradas. Quanto à amostra, considera-se a desta pesquisa não probabilística, por conveniência

e julgamento (MALHOTRA, 2001). Os dados coletados foram analisados através de métodos de

análise qualitativa, como a análise de conteúdo e de narrativa (GIBBS, 2009).

FU

ND

AM

EN

TA

ÇÃ

O T

RIC

A

Entrevistas em profundidade

com especialistas

Entrevistas em profundidade

com designers nas empresas

Proposta da sistemática

Entrevistas em profundidade

para revisão da sistemática

Sistemática de avaliação da

gestão de design

21

O conjunto destas entrevistas, aliado ao escopo teórico pesquisado, permitiu criar uma

sistemática de avaliação da Gestão de Design, compreendendo sua inserção na gestão da

empresa, seus níveis e dimensões. Para validar a sistemática, entrevistas em profundidade com

gestores foram procedidas. Os gestores foram sujeitos inseridos nas empresas, selecionados para

responder a entrevistas não estruturadas, diretas e pessoais; a fim de descobrir suas motivações,

crenças, atitudes, vivências e opiniões acerca do tema da pesquisa. Eles tiveram a tarefa de

analisar e criticar a sistemática de avaliação da Gestão de Design para validar sua utilização.

Após, a partir da análise das entrevistas com os gestores foi desenhado o sistema de avaliação

final.

1.4 ESTRUTURA DA TESE

Como estrutura, este tese é composta de seis capítulos. O primeiro apresenta e justifica o

tema, discutindo sua importância e delimitando o ambiente de trabalho através dos objetivos de

pesquisa. O método escolhido para alcançar os objetivos é apresentado juntamente com o

desenho de pesquisa que foi seguido.

O segundo capítulo apresenta a estrutura teórica que embasa e sustenta este estudo. O

tema Gestão de Design é abordado através da sua origem no design e suas dimensões e da

própria definição do que é Gestão de Design, como ela se estrutura e seu impacto no

desempenho das empresas. O panorama do tema no Brasil, desenvolvido através de uma

avaliação das publicações sobre o tema no País nos últimos 17 anos, é apresentado visando

contextualizar o tema ao contexto ambiental do estudo.

Em sequência, o terceiro capítulo apresenta o método utilizado neste estudo, através da

ótica de como se estabelecem seus passos e da construção efetiva desta tese. Este capítulo auxilia

na compreensão da pesquisa de campo e dá sustentação lógica para o quarto capítulo, de

resultados.

22

No quarto capítulo são apresentados os resultados obtidos nas etapas de pesquisa e a

construção da sistemática de avaliação proposta nesta tese. Através deste capítulo é possível

visualizar a construção lógica deste estudo.

No quinto capítulo apresenta-se a sistemática finalizada, suas dimensões e modo de

aplicação, juntamente com o modelo conceitual que a fundamenta e o procedimento de projeto

de design adequado para melhor Gestão de Design. O sexto capítulo apresenta a discussão sobre

os resultados obtidos e algumas constatações atinentes a esta tese. Por fim, o sétimo capítulo

conclui o estudo, apresentando também limitações do método e sugestões para novas pesquisas.

23

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para entender o contexto teórico e, posteriormente, prático do tema Gestão de Design esta

revisão aborda os assuntos relacionados ao design e a Gestão de Design para que seja abordado

em grandes linhas, mas, ao mesmo tempo, aprofundado nos pontos relacionados especificamente

a esta tese no seu contexto teórico prático.

Design é introduzido como primeiro ponto, contextualizando e dando origem histórica ao

tema da tese e dimensão de construto ao objeto deste estudo. Por conseqüência, facilita a

compreensão do tema principal da tese, Gestão de Design. Apresentada desde sua origem no

cenário das discussões sobre design e seu papel, a Gestão de Design é contextualizada, definida e

dimensionada conforme as teorias existentes no cenário mundial de discussão do tema. A

questão do desempenho empresarial derivado da Gestão de Design é também apresentada neste

capítulo. Para finalizar a discussão sobre Gestão de Design, uma revisão sistemática dos artigos

publicados no Brasil, nos últimos 17 anos, é apresentada como contextualização do tema no

cenário brasileiro. Esta serve como suporte para a etapa prática deste estudo, focalizada

unicamente em casos brasileiros.

2.1 DESIGN

A história do que hoje é entendido como design, ou anteriormente desenho industrial,

nasceu junto com a Revolução Industrial. Profissão cunhada pela necessidade de transformar

idéias e objetos, o surgimento de um profissional de projeto de produto foi quase uma

consequência do momento histórico. Evidentemente, a profissão não emergiu imediatamente do

processo de industrialização pelo qual a Europa passava entre os séculos XVIII e XIX, mas foi

neste ambiente que germinou e se desenvolveu, passando por uma série de estágios até chegar ao

que hoje se entende por design (CARDOSO, 2004).

24

A polêmica em torno da definição do termo design e do profissional (designer) iniciou a

discussão acerca da definição da própria disciplina, seu escopo e papel. Dênis Schulmann (1994)

expõe que a palavra design tem sua origem na língua inglesa, na qual significa tanto desenho

quanto projeto. Uma vez que em latim designare quer dizer escolher por sinais. Para o autor,

uma boa maneira de interpretar o termo vem da língua espanhola, onde a palavra dibujo

(desenho) se contrapõe à palavra diseño, que implica projeto e pode ser traduzida como design.

Já o debate teórico que definiu o tema dibujo (em italiano disegno) ficaria restrito como

expressão do gênio artístico que, segundo Maldonado (1993), iniciou-se na Itália do século XVI

e contribuiu para a definição e uso do termo design e de suas diversas traduções. Para

Maldonado (1993) Diseño Industrial é a tradução castelhana do inglês Industrial Design. Em

alemão, o termo usado é „produkgestaltung‟ ou industrielle formgebung, em francês esthétique

industrielle, em italiano disegno industriale e em russo tecnicheskaia estetika. Em conformidade

com Schulmann (1994), Maldonado acredita que „Industrial Design‟ é um termo de retorno às

origens, pois traz a lembrança do castelhano diseño, do latim designare, que significa traçar,

delimitar, indicar e acentua o caráter projetual do termo.

No Brasil, os termos Desenho Industrial e Design foram utilizados tanto no meio

profissional e gerencial quanto no acadêmico. Muitas discussões entre os profissionais existem

acerca do tema e das complicações inerentes ao uso de uma palavra de origem inglesa no meio

brasileiro, tanto pela sua pouca compreensão por parte do público em geral quanto pelo próprio

uso do anglicismo. Segundo Niemeyer (2000), desenho industrial foi a expressão adotada no

Brasil, na década de 1950, quando o industrial design passou a ser referido no país, sendo

inadequada, uma vez que contraria o significado original da palavra design, fazendo prevalecer a

conotação da habilidade de desenhar e não a de projetar. Não se encontra, no Brasil, consenso

teórico (ou lingüístico) para justificar a adoção e defesa de um termo único, como nos exemplos

de outros países expostos anteriormente; e percebe-se, segundo Niemeyer (2000), que o

esclarecimento buscado na época do início da profissão no Brasil, inclusive junto ao governo,

não foi suficiente para evitar o mau uso da expressão. “A palavra design permaneceu sem uma

denotação específica no Brasil, não particularizando a profissão ou o seu conceito”

(NIEMEYER, 2000, p. 26).

25

A primeira faculdade brasileira de design, fundada em 1962 e ainda em funcionamento, a

Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) no Rio de Janeiro, ainda leva no nome o termo

que o V Encontro Nacional de Desenhistas Industriais (ENDI) decidiu substituir por design, em

1988, adotando complementos como „gráfico‟ e „produto‟ para designar as especializações da

profissão (NIEMEYER, 2000). Aliás, é importante observar que o próprio ENDI, mesmo

decidindo pela troca de expressão, na época também adotava o termo (Desenho Industrial) que o

MEC recomendou substituir por Design na especificação dos cursos superiores, no final dos anos

de 1990.

Independente das discussões acerca da definição escolhida como ideal por cada autor ou

profissional, e da nomenclatura, fica evidente que a questão do projeto está presente em todas as

definições de design e eleva-se a parte inseparável da definição e do papel da profissão. Para

Maldonado (1993), Desenho Industrial é a projetação de objetos fabricados industrialmente, ou

por meio de máquinas e em série. As ambiguidades do termo, no que se refere aos limites entre

as funções do engenheiro e do designer no ambiente da indústria, são admitidas como parte do

debate. Uma vez que o conceito adotado pelo autor não determina onde acabam as funções de

um e onde iniciam as do outro, ou até mesmo quando um pode assumir as funções do outro.

Embora Maldonado saliente que sua definição evita as tradicionais confusões entre design e artes

aplicadas ou artesanato, as fronteiras do exercício profissional de designers e engenheiros não

são delimitadas pelo autor. Ainda que a distinção em relação às artes seja importante na

consolidação da profissão, ela aponta para as dificuldades de definir a profissão com base no

processo de trabalho e de produção, pois as evoluções tecnológicas permitiram, por exemplo, que

um produto considerado industrial não seja necessariamente produzido em série em função de

seu valor ou rara utilização (MALDONADO, 1993).

Do ponto de vista mais formal, a definição de design poderia considerar somente a forma

estética do produto, sem atentar para o processo técnico produtivo. Para Maldonado (1993), esta

definição somente é útil quando os produtos em questão são bens de consumo, mas é

insustentável quando o interesse do usuário vai além das questões meramente formais. Borja de

Mozota (2003) também endereça esta visão ao retomar a questão semântica da definição do

design, apontando para os dois significados que a palavra design tem em inglês. Dependendo do

contexto, design pode, realmente, significar “modelo, desenho, visual, decoração ou estilo”

26

indicando as questões meramente formais apontadas por Maldonado (1993). Porém, pode

também significar: “plano, projeto, intenção, processo”. No sentido de intenção, design implica

objetivo e processo, e estas duas perspectivas levariam, segundo Borja de Mozota (2003), à

equação: design = intenção + desenho. “Esta equação esclarece o ponto de vista de que design

sempre pressupõe tanto intenção quanto plano, objetivo, particularmente nas fases criativas e

analíticas, bem como na execução, ao dar forma a uma idéia” (BORJA DE MOZOTA, 2003, p.

2).

Ainda no que tange à definição de design, a confusão entre a atividade (design) e o objeto

decorrente deste processo é usual. A definição do Segundo o Conselho Internacional de

Sociedades de Design Industrial (ICSID) ajuda a evitar a armadilha de perceber o design

somente pela perspectiva do resultado visual. Segundo o ICSID: “O design é uma atividade

criativa, cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços

e seus sistemas em ciclos de vida completos. Deste modo, design é o fator central da inovação

humanizada das tecnologias e fator crucial das trocas econômicas e culturais” (BORJA DE

MOZOTA, 2003, p.3).

A definição do ICSID, segundo Maldonado (1993), também admite a questão formal do

design, mas não exclusivamente, já que considera o processo construtivo da própria forma. O

que propõe é um design que desenvolva sua função dentro do processo produtivo com a

finalidade de „concretizar o indivíduo técnico‟ (MALDONADO, 1993). De acordo com esta

definição, projetar significaria coordenar, articular e integrar todos os fatores que, de uma

maneira ou outra, participam do processo de constituição da forma e do produto. À isso o autor

alude fatores relativos ao uso, desfrute e consumo individual ou social do produto (fatores

funcionais, simbólicos e culturais)bem como aos fatores relativos à produção como fatores

técnicos: construtivos, econômicos, sistêmicos, produtivos e distributivos.

Também com ênfase nos fatores projetuais, Redig (1977, p.32) define design como “o

equacionamento simultâneo de fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos,

econômicos e ecológicos no projeto dos elementos e estruturas físicas necessárias à vida, ao

bem-estar, e/ou à cultura do homem”. Para este autor, o homem, a forma, a utilidade, a indústria,

o custo e o ambiente devem ser as maiores preocupações do profissional de design ao projetar.

27

A noção de projeto faz-se presente na conjunção dos fatores proposta pelo autor, sendo a tônica

de suas preocupações ao propor que diversos fatores devem ser pensados em conjunto para um

bom projeto de design.

É pertinente observar que a idéia de design como equacionamento ou composição de

fatores aparece nas idéias de diversos autores como: Maldonado (1993), Löbach (2001), Redig

(1977), Bürdek (2003), Borja de Mozota (2003) e, ainda hoje, a perspectiva dos fatores define do

design e ajuda a estabelecer o papel do designer (profissional). “Todo o problema proposto para

um designer demanda a restrição ou equacionamento (constrains) de fatores tecnológicos,

ergonômicos, de produção e de mercado para um balanceamento” (BORJA DE MOZOTA, 2003,

p. 4). Maldonado (1993) observa que, para objetos diferentes, a importância de determinados

fatores projetuais é diferente, pois nem todos apresentam a mesma complexidade. Ao passo que,

para produtos de baixa complexidade, o fator simbólico pode ser irrelevante, para produtos de

alta complexidade, como um automóvel, ele pode ser determinante.

Considerar o design como equacionamento de fatores ou conjunto de funções é

reconhecer a função do desenhista industrial como uma função que coordena, integra e articula

processos, admitindo que esta não é uma atividade autônoma, como imaginavam seus

precursores (MALDONADO, 1993). Ainda que as opções do designer e do próprio projeto

possam parecer livres, elas estão sempre inseridas em um contexto ou sistema de prioridades

rígidas, que acaba por regular a atividade, em geral o mercado ou, mais objetivamente, a

indústria e seus processos. Neste contexto, Löbach (2003) considera o design como um processo,

fracionado e inserido no contexto industrial. “Design Industrial é o processo de adaptação dos

produtos de uso, fabricados industrialmente, às necessidades físicas e psíquicas dos usuários ou

grupos de usuários” (LÖBACH, 2001, p.22).

Sobre o conceito de design, Löbach (2001, p.16) afirma que este “compreende a

concretização de uma idéia em forma de projeto ou modelos, mediante a construção e

configuração, resultando em um produto industrial passível de produção em série”. Para este

autor, tanto o processo quanto suas fases são design, em nível total ou parcial. A concretização

de uma idéia através de sua „corporificação‟ e produção fazem parte do conceito de

28

configuração, oriundo do alemão gestaltung originalmente usado para designar a profissão antes

da adoção do termo design.

Analisando as definições apresentadas, três pontos aparecem e se repetem como parte do

conceito de design em si: o processo de design, a competência do designer e a estratégia que rege

o uso do design. Desde a origem do termo, sua tradução em várias línguas e seu uso, bem como

em praticamente todas as suas definições, o processo de projeto e o método utilizado por quem

projeta são parte fundamental do design, fazendo do processo de design dimensão da sua própria

definição. De modo similar, a competência em design e o papel de quem projeta fazem parte do

que se entende por design. Os conhecimentos, habilidades e atitudes do profissional em design

têm função relevante na compreensão do que é (ou não) design. Unindo e auxiliando a relacionar

as dimensões de processo e competência, a questão da estratégia em design também constitui

dimensão do conceito de design, uma vez que representa a intenção da empresa, as políticas

envolvidas na implantação e no uso do design. A dimensão da estratégia do conceito de design

aponta para a evolução deste e sua inserção nas empresas contemporâneas. As três dimensões,

seu foco e conceitos agregados, nível de participação na empresa e autores de definição

aparecem no quadro 1.

DIMENSÕES FOCO NÍVEL AUTORES

PROCESSO

Método de projeto;

Relação entre equipes

Inserção e integração do design nos

processos da empresa;

Estratégico e/ou

Tático e/ou

Operacional

Bomfim (1977)

Bonsiepe (1978)

Borja de Mozota (2003)

Bürdek (2003)

Hein (1984)

Kotler e Rath (1984)

Löbach (2001)

Maldonado (1993)

Munari (1998)

Redig (1977)

Walsh (1992)

COMPETÊNCIA

Conhecimentos,

Habilidade e

Atitudes do Designer e da equipe de

design

Modo de entender e fazer design

Estratégico e/ou

Tático

Borja de Mozota e Kim (2009)

Deschamp e Szostak Tapon (2009)

Löbach (2001)

Maldonado (1993)

ESTRATÉGIA

Uso do design como estratégia e

melhoria em diferentes níveis ou

perspectivas Intenção e política da

empresa para com o design

Existência de controles ou indicadores

para design

Estratégico

Best (2006)

Beverland e Farrely (2007)

Borja de Mozota (2003)

Santos (2000)

Quadro 1 – As três dimensões de design

29

Considerando processo, competência e estratégia como dimensões de design e frente aos

conceitos apresentados adota-se, para esta tese, a definição de que design é o planejamento e

projeto de bens passíveis de produção em série, de modo a atender eticamente a estratégia das

empresas e as necessidades e desejos dos consumidores, promovendo trocas de valor entre

empresas e mercados. Considera-se que planejamento e projeto contemplem: (a) o

equacionamento de fatores projetuais (REDIG, 1977); (b) a troca de valor entre empresas e

mercados (finais e empresariais); (c) o ético e sustentável; (d) o posicionamento e a estratégia

das empresas e (e) a utilidade de forma dos produtos.

Deste modo, como todas as atividades projetuais que têm intervenção de uma forma ou

outra na relação de produção e consumo, o desenho industrial atua como uma força produtiva

que contribui para a organização das demais forças com as quais tem contato. Logo, design pode

também ser explicado através das suas três dimensões: processo (método), competência e

estratégia, a seguir apresentadas.

2.1.1. Design como Processo

Ao considerar processo como um conjunto de atividades executadas em sequência com a

finalidade de transformar entradas tangíveis e intangíveis em saídas com resultados satisfatórios

para o consumidor final e para a empresa executora (PAIM et al., 2009), contempla-se as

características básicas do design. Assim, design pode ser considerado um processo,

principalmente no que tange a sua característica metodológica no desenvolvimento de produto,

integrado à produção.

Design pode ser tanto um processo em si, quanto um processo de apoio oferecendo

suporte para processos de produção nas indústrias. Pode ser um processo pontual, para

desenvolvimento de produto específico, ou tarefa contínua de uma equipe integrada aos

processos de desenvolvimento de produto da empresa. Segundo Paim et al. (2009), os processos

tem como elementos centrais a ação, os recursos e o objeto em fluxo e estes, em conjunto com

uma série de outros elementos como coordenação, complexidade e maturidade, definem

processos e permitem entender suas diversas formas e aplicações. Mas, para Utterback et al.

(2010), design é acima de tudo um processo cognitivo.

30

De maneira complementar, o processo de design, segundo Löbach (2001), considera

desde o fabricante até o consumidor, inserindo o design em um processo produtivo que tem por

finalidade o consumo. Atenta, como teórico, para o significado do produto industrial no processo

de sua utilização e para a observação da evolução do design industrial ao longo da história

(figura 2).

Figura 2 - O Processo de Design

Fonte: Löbach (2001, p.15)

Löbach (2001) indica que seria a „postura desejável‟ para o designer considerar o design

como processo de adaptação do ambiente „artificial‟ às necessidades físicas e psíquicas dos

homens na sociedade. Porém, dado seus compromissos com a indústria ou quem o contrata, o

designer raramente pode adotar esta posição como sua, desconsiderando os interesses de quem o

contratou.

Neste sentido, em uma visão bem específica da área de design, Holt (1990 apud BORJA

DE MOZOTA, 2003) identifica três tipos de processos de design: analítico, iterativo e visionário.

No design como processo analítico, poucas incertezas existem, e os projetos são basicamente

continuidade de anteriores. No processo iterativo de design a inovação está presente e o risco é

Empresário

Fabricante

Projetista

Designer industrial

Objeto de design

Produto Industrial

Comprador

Usuário

Processo de Design

Projeto de produtos

Industriais com funções =

projeto de conduta

Processo de Uso

Experimentação das funções do

produto = Satisfação de

necessidades por meio do uso

Recursos financeiros

31

considerado médio. Diferentemente, nos processos visionários, o design tem como problema de

projeto algo não muito claro e a inovação será então necessária. Porém, em todas as alternativas,

o que determina o tipo de processo é a pré-disposição da empresa ao risco.

Design como processo, segundo Walsh et al. (1992) tem quatro características essenciais:

(1) criatividade, na criação de algo novo; (2) complexidade, pois a tarefa envolve decisões em

diversos parâmetros e variáveis; (3) compromisso, no equacionamento de requisitos múltiplos ou

conflitantes e (4) escolha, na busca de soluções possíveis nos diversos níveis de projeto em

questão. Independentemente da visão do autor, a idéia de design como processo passa pela

questão do método e da inserção do designer (profissional) na empresa ou da sua contratação

sistemática. Atuando junto à equipe de desenvolvimento de produto, o designer pode também

gerenciar este processo.

A questão do método de projeto, ou dos passos que balizam o trabalho do designer

enquanto projetista, suscitou abordagens de autores como Bomfim et al. (1977), Bonsiepe

(1978), Kotler e Rath (1984), Lars Hein (1984), Munari (1998), Löbach (2001) e Borja de

Mozota (2003) que propõem as etapas a serem seguidas para obtenção da melhor solução de

projeto. Além de definir a profissão, a questão do método ajuda a integrar o design no contexto

da produção industrial que o cerca e que também o caracteriza como processo. Muitas são as

propostas metodológicas ligadas ao conceito e a prática do design e, para fins de compreensão

neste trabalho estas são separadas em duas categorias: genéricas e específicas. As propostas

genéricas são assim chamadas neste estudo, pois apresentam relações mais abrangentes e menos

complexas em termos de design, relacionando-o aos outros processos da empresa. Bonfim et al.

(1977) discutem a inserção do design no ciclo de vida de um produto como parte do investimento

da empresa produtora em um dos poucos trabalhos brasileiros da época; enquanto Kotler e Rath

(1984) argumentam pela maior participação do design no desenvolvimento de produtos de modo

geral. Fechando os modelos genéricos, tem-se ainda Hein (1984), que apresenta a inserção do

design e sua relação com marketing e produção para o melhor desempenho de uma indústria.

De outro modo, os métodos específicos de design apresentados particularizam e

aprofundam o que acontece no ambiente específico do processo de design, englobado por um

eventual modelo mais genérico. Apresentam-se, neste trabalho, três destas propostas,

32

consideradas importantes por sua contextualização histórica e impacto no pensamento projetual

específico: a primeira clássica (BONSIEPE 1978), a segunda contemporânea (LÖBACH, 2001)

e a última ligada ao conceito de gestão de design (BORJA DE MOZOTA, 2003). Isto como

forma de contextualizar a importância do método na fundamentação de o que é design.

2.1.1.1. Propostas de Design como Processo Genérico

Na observação da literatura sobre design como processo, de um modo genérico,

compreende-se o tema evoluindo a discussão do contexto macro para micro, iniciando por

questões estratégicas de empresa e descendo pelo modelo de ciclo de vida de produto e pelo

desenvolvimento de novos produtos em si. Esta perspectiva analisa, mesmo que brevemente,

modelos ligados à questão do processo de design na indústria. Dinâmica esta que salienta a

necessidade de participação do design e do designer nas diferentes dimensões gerenciais da

empresa, desde o nível estratégico de gestão, passando pelo tático e chegando ao operacional,

buscando os pontos de convergência entre design, marketing, administração e engenharia de

produção.

Em um contexto genérico dos processos de design, observa-se que as constantes

mudanças ambientais das últimas décadas levaram as empresas a um maior controle do ambiente

externo para operar. Conceitos como Orientação para o Mercado (KOHLI; JAWORSKI, 1990;

JAWORSKI; KHOLI, 1993) e Aprendizagem Organizacional (ARGYRIS, 2000; GARVIN,

1993, entre outros) tornaram-se peças chave para a valorização do processo de geração de valor

para o cliente e conseqüente aumento de performance das empresas. Logo, a vantagem

competitiva sustentável passou a ser foco e objetivo das empresas.

Segundo Kotler e Rath (1984), uma das trajetórias possíveis para diferenciar-se na

multidão é produzir produtos com design superior para seus mercados alvo. Para os autores, o

design tem sido negligenciado dentro das empresas e, deste modo, desperdiçando sua força como

gerador de satisfação para o cliente e de performance para empresas. A inserção de designers nas

equipes de desenvolvimento de novos produtos ocorre tardiamente para Kotler e Rath (1984).

Segundo os autores, é um engano comum nas empresas trazer os designers para a equipe ao

longo do processo e não em seu início, como julgam correto. Neste contexto, os oito estágios do

33

processo de desenvolvimento de novos produtos seriam: (1) geração de idéias, (2) seleção de

idéias; (3) desenvolvimento de conceito e testes; (4) estratégia de marketing; (5) análise do

negócio; (6) desenvolvimento de produto; (7) testes de mercado e (8) comercialização.

Tipicamente, para Kotler e Rath (1984), os designers são inseridos no processo na sexta

etapa, negligenciando suas potencialidades nas demais etapas, quando estes poderiam tanto

sugerir idéias ao longo da etapa de conceituação, pois são capazes de produzir idéias que os

consumidores, normalmente, não teriam e também promover investigações para artefatos

específicos antes do conceito final ser determinado. Segundo os autores, a falta do designer no

processo amplo de desenvolvimento de novos produtos caracteriza-se como negligência, uma

vez que um design forte poderia significar diferencial competitivo para as empresas. Os autores

salientam ainda que, ao mesmo tempo em que as diversas ferramentas de estratégicas de

marketing se tornam cada vez mais caras, o design deveria ter um papel crescente na busca da

empresa pela vantagem competitiva sustentável.

Partindo do ponto de vista estratégico e do processo de desenvolvimento de novos

produtos como um todo, pode-se analisar a importância do designer também no processo de

determinação do ciclo de vida do produto. Analisando o conceito de ciclo de vida de produto,

tradicional modelo de administração de empresas, percebe-se que os processos de design não são

contemplados por este. As etapas de introdução, crescimento, maturidade e declínio são

apresentadas sem considerar as etapas prévias ao lançamento (figura 3).

Figura 3 – Ciclo de Vida do Produto

Fonte: Kotler (1998)

34

Para Bomfim et al. (1977), as etapas de concepção e gestação deveriam ser inseridas à

esquerda no gráfico (figura 4), mas não com o título ou idéia de prejuízo que esta posição se

insinua no gráfico, mas sim com as características de investimento que ela tem. Os autores

indicam que as etapas prévias ao lançamento (introdução no mercado) seriam de

problematização, análise, desenvolvimento e implantação. Até que se inicie o período ativo do

projeto com o lançamento do produto, as etapas de projeto seriam necessariamente integradas ao

ciclo de vida do produto, privilegiando, de certo modo, a integração do projeto em si.

Figura 4 – Ciclo de Vida do Produto Estendido

Fonte: Bomfim et al. (1977)

Neste ponto, o modelo proposto pelo professor Lars Hein (1984) é consentâneo com a

idéia de desenvolvimento integrado de produtos. O propósito do modelo de Hein é formar uma

estratégia coerente de desenvolvimento de produtos, que facilitaria a integração das atividades

centrais no próprio desenvolvimento: design, manufatura e marketing (comercialização).

Utilizando o conceito de “desenvolvimento de produto integrado” proposto pelo autor, os

aspectos de marketing, design e manufaturas seriam desenvolvidos em conjunto e consenso,

permitindo à empresa a otimização do potencial de negócio (mercado) do produto (figura 5).

35

Figura 5 – Modelo Conceitual da Matriz de Desenvolvimento de Produto Integrado

Fonte: Hein (1984).

A pesquisa feita por Hein (1984) junto a empresas demonstrou a importância do

tratamento integrado por parte dos profissionais e dos empresários nas três áreas. O melhor

ajuste entre estas demonstrou também um melhor ajuste entre as necessidades de mercado e a

performance (melhor preço de venda versus número de produtos vendidos) e melhor ajuste entre

o design de produto e o equipamento de produção (menor preço de produção). Hein (1984)

destaca ainda que, nos processos tradicionais de desenvolvimento de produto, o mercado para

este é considerado em primeiro lugar, depois o design e finalmente a manufatura, o que leva a

um produto “sub otimizado”. Hein (1984) considera paradoxal que a maioria das empresas tenha

as três áreas estruturadas, mas não integradas. Boas práticas em uma das áreas não asseguram um

processo adequado no todo, assim a pesquisa conduzida pelo autor pode comprovar que, em

poucos produtos o processo de desenvolvimento integrado foi utilizado inteiramente. Esta

observação é especialmente pertinente na observação da Gestão de Design como foco deste

estudo, uma vez que a integração dos processos é parte nuclear do conceito apresentado no item

2.2.

36

Ainda assim, a compreensão do design como processo e da Gestão de Design passam,

necessariamente, pela atenção aos processos e métodos da equipe de design em si, independente

da sua integração ao todo da empresa e, por este motivo, os modelos específicos são

apresentados a seguir.

2.1.1.2 Propostas de Design como Processo Específico

a) Método segundo Gui Bonsiepe

Gui Bonsiepe é um dos mais considerados pensadores do design moderno. Formado pela

Hochschule für Gestaltung, a conhecida Escola de Ulm, onde foi professor durante alguns anos,

e também foi professor visitante em uma série de escolas de design no mundo. Radicou-se no

Brasil na década de 1960 e, desde então, desenvolve uma série de trabalhos para o CNPq, no

Brasil, bem como para outras instituições na América Latina.

Em um de seus principais livros, „Teoria y práctica del Diseño Industrial: elementos

para una manualística crítica‟, Bonsiepe (1978) apresenta sua metodologia com a perspectiva

sobre o design como uma atividade prática, de projeto. Acredita o autor que a prática pura, sem

considerar a existência de um fundo teórico, acaba por caracterizar ativismo, ao passo que um

trabalho meramente teórico poderia gerar especulação. Assim, expõe o autor que a amplitude

temática do design oferece as dificuldades para articular um caminho entre teoria e prática e

oferece sua contribuição em forma de método de projeto.

Em sua proposta metodológica Bonsiepe (1978) considera sete estágios. Neste sentido, a

metodologia consiste em uma ajuda no processo projetual, não tendo finalidade em si mesmo. As

etapas de sua metodologia são: (a) problematização, (b) análise, (c) definição do problema, (d)

anteprojeto e geração de alternativas, (e) avaliação, decisão e escolha, (f) realização, (g) análise

final da solução.

Sua primeira etapa é a problematização, nas quais as questões de „o quê?‟, „por quê?‟ e

„como?‟ precisam ser respondidas para um correto embasamento do projeto. Assim, a segunda

etapa pode ser iniciada, composta por oito tipos de análises: lista de verificações, análise de

produtos existentes em relação ao uso, análise diacrônica (desenvolvimento histórico do

37

produto), análise sincrônica, análise estrutural, análise funcional e análise morfológica. Estas

análises são fundamentais no desenvolvimento de produto, pois possibilitam observá-lo de

diversos ângulos, pensar em seus requisitos e listar características e possibilidades.

Deste modo, com uma visão completa, é possível passar para a terceira fase: definição do

problema. Nesta etapa, a lista de requisitos do produto é organizada e sua combinação estrutura o

problema. Faz-se a definição da hierarquia destes requisitos listados e a definição de um

problema com parâmetros, restrições e cronogramas.

Com o problema definido o anteprojeto pode ser desenvolvido. Nele, a geração de

alternativas para a solução do problema é o foco principal. Diversas técnicas como

brainstorming, método 635, analogias e caixa morfológica podem ser utilizadas, além dos

tradicionais desenhos e modelos (BONSIEPE, 1978).

Com as diversas alternativas geradas, o processo de design segue com a avaliação,

decisão e escolha da melhor opção, sempre considerando todo o caminho percorrido pelo

projeto. Feita a opção, a etapa de realização prevê detalhamentos no projeto, a construção de

modelos, detalhamento ergonômico e de processo. O modelo final e suas especificações devem

ficar prontos ao final desta etapa.

Por fim, na etapa de análise final da solução, todo percurso projetual é verificado em

relação à lista de requisitos, visando eventuais ajustes finais. O protótipo é desenvolvido bem

como a documentação completa do projeto é organizada.

Embora as etapas sejam sempre as mesmas, Bonsiepe (1978) prevê três diferentes modos

de desenvolver a metodologia: linear, circular e com feedback. Como o próprio nome diz, o

modo linear prevê uma fase após a outra até a conclusão do projeto. Já no modo circular, as

etapas são constantemente analisadas e da última etapa pode-se retornar para a primeira. Por fim,

no modo com feedback, as etapas são avaliadas e permitem que o designer „volte atrás‟

retomando a etapa anterior conforme os resultados da atual.

b) Método segundo Bernd Löbach

38

Para Löbach (2001) o processo de design é um processo de solução de problemas, além

de um processo criativo. O trabalho do designer é encontrar uma solução para o problema,

concretizando a mesma em um projeto de produto industrial, com características que satisfaçam

as necessidades humanas. A complexidade do processo de design depende da magnitude do

problema e, para melhor descrevê-lo, Löbach (2001) divide-o em quatro fases: preparação,

geração, avaliação e realização. É interessante salientar que, segundo o autor, estas etapas não

são estanques, mas se entrelaçam com avanços e retrocessos (quadro 2).

Processo Criativo Processo de solução de problema Processo de Design

1. Fase de preparação Análise do Problema

Conhecimento do problema

Coleta de informações

Análise das informações

Análise do problema de design

Análise da necessidade

Análise da relação social (homem-produto)

Análise da relação com o ambiente (produto-

ambiente)

Desenvolvimento histórico

Análise do mercado

Análise da função (funções práticas)

Análise estrutural (estrutura de construção)

Análise da configuração (funções estéticas)

Análise de materiais e processos de fabricação

Patentes, legislação e normas

Análise de sistema de produtos (produto-produto)

Distribuição, montagem, serviço a clientes,

manutenção

Descrição das características do novo produto

Exigências para com o novo produto

2. Fase da geração Alternativas do problema

Escolha dos métodos de solucionar

problemas, produção de idéias,

geração de alternativas

Alternativas de design

Conceitos do design

Alternativas de solução

Esboços de idéias

Modelos

3. Fase da avaliação Avaliação das alternativas do

problema

Exame das alternativas, processo de

seleção, processo de avaliação

Avaliação das alternativas de design

Escolha da melhor solução

Incorporação das características ao novo produto

4. Fase de realização Realização da solução do problema

Realização da solução do problema,

Nova avaliação da solução

Solução de design

Projeto mecânico

Projeto estrutural

Configuração dos detalhes (raios, elementos de

manejo)

Desenvolvimento de modelos

Desenhos técnicos, desenhos de representação

Documentação do projeto, relatórios

Quadro 2 – Método segundo Löbach

Fonte: Adaptado de Löbach (2001)

39

Na fase de preparação, estágio inicial do processo de design, são procedidas as análises

do problema proposto. É importante, neste momento, coletar e analisar informações sobre o

problema, no caso o novo produto a ser projetado. Nesta etapa, análises das necessidades, das

relações homem-produto, da relação produto-ambiente e do histórico do produto são utilizadas.

São também procedidas análises de mercado, das exigências para com o novo produto, questões

de legislação, de distribuição, de montagem e de serviços ao cliente. Em diversas empresas, parte

deste trabalho é de responsabilidade das equipes ou consultorias de pesquisa de mercado, e parte

da equipe de design. Para a equipe de design, são fundamentais as análises do desenvolvimento

histórico dos produtos (diacrônica), análise estrutural, de função e de configuração dos produtos.

Nesta etapa inicial de projeto, todas as análises, que contribuem para a melhor definição do

problema a ser solucionado com o projeto, são muito importantes para também delinear com

detalhes os objetivos do projeto. A idéia da etapa inicial de preparação é gerar informação para

que a equipe de design tenha o problema bem definido, proporcionando um trabalho consistente.

A fase da geração, segunda no processo de design de Löbach (2001), tem como propósito

gerar alternativas para a solução do problema definido na fase anterior. É interessante que a

maior quantidade possível de alternativas seja gerada, através de técnicas adequadas e com

pouco julgamento, para que a criatividade orientada proporcione diversas abordagens para o

problema.

Imediatamente após a fase de geração, a equipe procede a fase de avaliação destas

alternativas, na qual todas as opções geradas são comparadas considerando os critérios de

aceitação para o novo produto. Ao final desta fase, a solução mais plausível é apontada, não

raramente composta por partes de soluções geradas na fase anterior.

A quarta fase de solução de problemas no processo de design é a realização da solução do

problema. Nesta fase, a materialização da alternativa escolhida se converte através de protótipos

e cabeças de série em realidade. Para Löbach (2001), é tarefa do designer elaborar a melhor

solução nos mínimos detalhes, inclusive com a documentação técnica necessária para levar o

projeto aos mais altos níveis hierárquicos da empresa, onde a decisão final sobre a fabricação

será referendada.

40

c) Método segundo Brigitte Borja de Mozota

De acordo com Borja de Mozota (2003), o processo de design tem seis fases conforme a

quadro 3.

Fase Objetivo Resultados Visuais

0. Investigação Idéia Briefing

1. Pesquisa Conceito Conceitos visuais

2. Exploração Escolhas de estilo Rafes de idéias, de

apresentações. Modelo em

escala reduzida.

3. Desenvolvimento Detalhamento de Protótipo Desenhos técnicos

Modelos funcionais

Mock-up tridimensional para

correções e visualização de

capacidade (capabilities)

4. Realização Teste Documentos de execução

Protótipos

5. Avaliação Produção Ilustrações do produto

Quadro 3 – Fases do método de design segundo Borja de Mozota

Fonte: Borja de Mozota (2003)

Na denominada fase zero, a investigação das idéias e do briefing do cliente ou da própria

empresa são estudados e melhor definidos. A busca pelo problema real e sua verdadeira

colocação/potencial de mercado são o foco deste momento de projeto. Nesta fase também é

definido o grau de liberdade da criatividade do projeto em questão.

Na fase de pesquisa o designer analisa o briefing para identificar o problema e o objetivo

do processo de design, e conversa com diversas pessoas na empresa em busca de maiores

informações para o melhor entendimento do projeto. A análise do posicionamento do produto e

sua situação de mercado também são procedidas nesta etapa de projeto. São dois os objetivos da

fase de pesquisa: desenhar um diagnóstico do projeto e definir um conceito visual.

A seguir, a fase da exploração é marcada pelos desenhos, „rafes‟ e modelos de

criatividade que buscam ampliar as possibilidades. É similar à geração de alternativas de

Bonsiepe (1978). Esta fase encerra-se com a escolha de uma das alternativas, por parte de um

comitê que inclui o cliente e diretores de criação, preferencialmente balizados por critérios

estéticos, funcionais e técnicos.

41

Na fase de desenvolvimento os modelos tridimensionais são desenvolvidos, bem como

modelos funcionais. São realizados todos os testes com os protótipos, inclusive os de mercado.

Assim, na fase de realização os documentos de execução incluindo materiais, componentes e

tratamentos são detalhados. Segundo Borja de Mozota (2003), nesta fase a colaboração de vários

departamentos da empresa é muito importante.

Por fim, a fase de avaliação busca testar três diferentes perspectivas: controle técnico,

testes e cálculos para preparação de produção e avaliação de marketing. Nesta etapa, o designer

interfere menos, adotando uma posição de verificação e, em algumas indústrias como a de moda,

de diretor artístico.

Considerando os três métodos, o quadro 4 apresenta uma comparação das fases dos

métodos conforme preconizam os autores Bonsiepe (1978), Löbach (2001) e Borja de Mozota

(2003).

Bonsiepe, 1978 Löbach, 2001 Borja de Mozota, 2003

1. Problematização

2. Análise

3. Definição do Problema

1. Fase de preparação

Análise do Problema

Conhecimento do problema

Coleta de informações

Análise das informações

0. Investigação

Briefing

4. Anteprojeto – geração de

alternativas

2. Fase da geração

Alternativas do problema

Escolha dos métodos de

solucionar problemas, Produção

de idéias, geração de alternativas.

1. Pesquisa

Conceito visuais

2. Exploração

Rafes de idéias

Modelo em escala reduzida

5. Avaliação, Decisão e

Escolha

3. Fase da avaliação

Avaliação das alternativas do

problema

Exame das alternativas, processo

de seleção,

Processo de avaliação

3. Desenvolvimento

Desenhos técnicos

Modelos funcionais

Mock-up tridimensional

para correções e visualização

de capacidade (capabilities)

6. Realização

4. Fase de realização

Realização da solução do

problema

Realização da solução do

problema, nova avaliação da

solução.

4. Realização

Documentos de execução

Protótipos

7. Análise Final da Solução

5. Avaliação

Ilustrações do produto

Quadro 4 – Comparação entre os métodos de design

42

Percebe-se, resguardados os termos distintos, a similaridade de fases consideradas pelos

autores como parte do método de um designer. Na evolução dos métodos através dos tempos, o

modo de percorrer cada fase e nos instrumentos e tecnologias de cada uma mudou mais do que a

essência do que constitui o método de trabalho de um designer. Assim como mudou,

significativamente, o ambiente no qual o método é integrado dentro de uma organização e a sua

percepção como diferencial competitivo e ferramenta estratégica. No método de Bonsiepe (1978)

pouco uso estratégico existia, enquanto para Löbach (2001) o ambiente de integração já é

considerado e para Borja de Mozota este é fundamental.

2.1.2 Design como Competência

A origem do termo e a delimitação do que é ou não é design tem estreita relação com a

discussão acerca do papel do profissional designer. Desta polêmica derivam, entre outras

questões, as dúvidas acerca de quem é ou não designer, profissional que exerce a profissão do

design. Estas dúvidas são exacerbadas considerando especialmente três pontos: (a) a

relativamente jovem presença no Brasil de escolas específicas de design, (b) a diversidade de

papéis existentes em um processo de desenvolvimento de produto e (c) a possibilidade de o papel

de projetista ser exercido por profissionais de outras áreas também originalmente projetistas

como arquitetos, engenheiros e até mesmo publicitários.

Neste contexto, autores como Rozenfeld et al. (2006), Löbach (2001), Borja de Mozota

(2003) e Best (2006), entre outros, apresentam o designer inserido em equipes mais amplas de

projeto e, em muitos casos, equipes multi-disciplinares. Maldonado (1993) faz alusão a esta

característica como parte da descoberta do profissional em si, como pertencente a um contexto

maior do que seu trabalho objetivo, o que, segundo o autor, põe em cheque a compreensão

teórica vigente na década de 1970 sobre o que é design.

Em contraste, Rozenfeld et al. (2006), em seu modelo referencial de desenvolvimento de

produtos, mencionam sistematicamente tarefas relativas ao design, ou que seriam

responsabilidade de designers, sem citar este profissional, ou tarefa, como o nome de design. O

não reconhecimento do design como função ou tarefa no modelo, mesmo quando se pode

perceber ao analisar o modelo, o encaixe dos métodos de design ao seu fluxo leva ao

43

questionamento do papel do designer no processo de desenvolvimento de produto. E, mais do

que isso, a importância do design, muitas vezes invisível no processo, leva a questão da

competência em design ou do design como competência.

Assim sendo, não cabe, neste ponto, pregar pela exclusividade da delegação da tarefa ao

profissional designer, ou discutir a necessidade de cursos de graduação mais profundos ou a

maior oferta de pós-graduação em design. Especialmente, pois no Brasil, a profissão não é

regulamentada2e desde 1962/1964, com a fundação da ESDI no Rio de Janeiro, diversas escolas

de design foram criadas somando, segundo o Ministério da Educação e Cultura

(http://emec.mec.gov.br/), no início do ano de 2010, 297 cursos de design (bacharelados e

tecnológicos) com 381 habilitações. Além de programas de pós-graduação, mestrados e

doutorado. Cabe, sim, compreender a questão da competência como parte do processo e também

como parte da definição do que é design; para que, mais adiante, compreenda-se como gerenciar

design e qual o papel da equipe profissional na estratégia e no processo da empresa.

Para Ruas, Antonello e Boff (2005), a noção de competência está calcada em três

capacidades associadas em diferentes combinações, conforme a demanda da tarefa:

conhecimentos, habilidades e atitudes. A capacidade de combinar e mobilizar estes recursos

caracteriza-se como competências, ao passo que um simples estoque de conhecimentos e

habilidades situa-se mais próximo da noção de qualificação. Assim, a competência pode ser

definida como “o exercício efetivo das capacidades” (p. 40).

Comumente associada à competência e, segundo Ruas, Antonello e Boff (2005), alvo de

debate teórico entre os anos de 1960 e 1980, a qualificação está voltada para a preparação de

capacidades direcionadas a processos previstos ou previsíveis, enquanto a competência volta-se

para a mobilização e aplicação dos conhecimentos, habilidades e atitudes perante as situações,

previstas ou não. Justamente a imprevisibilidade das situações, cada vez mais comum no âmbito

das empresas, deu origem à discussão e à valorização do conceito de competências, sejam elas

coletivas ou individuais, associadas ou não a outros recursos, como bens tangíveis que podem

melhorar a efetividade das capacidades como instrumentos, equipamentos ou sistemas.

2 Tramita no Congresso desde, pelo menos, 1988, um projeto de lei que visa regulamentar o design como profissão

no Brasil.

44

Em uma dimensão mais estratégica, a competência organizacional é relacionada a tópicos

estratégicos da administração de uma empresa como: visão, missão e valores organizacionais.

Esta é menos difundida do que a questão individual das competências, mas, ao analisar design

como competência ela torna-se importante, justamente no que diz respeito ao uso dos processos

de design como competência central ou core competence. Conceito construído por Prahalad e

Hamel na década de 1990, core competence indica o conjunto “de habilidades e tecnologias que

resultam por aportar um diferencial fundamental para a competitividade da empresa” (RUAS,

ANTONELLO; BOFF, 2005, p. 43). As competências centrais devem ser apropriadas pelas

diferentes áreas das empresas, embora os autores mencionem que, conforme a área de trabalho,

uma competência será mais ou menos absorvida, causando uma apropriação desigual ao longo da

empresa. Ainda assim, para que tenha uma boa competência central, a empresa deve satisfazer

três critérios: contribuir decisivamente para o valor agregado percebido pelo cliente no produto

ou marca, oferecer acesso a mercados, negócios e produtos variados e, por fim, ser de difícil

imitação. Neste ultimo critério, especialmente, a competência em design pode auxiliar a empresa

a estabelecer não somente sua core competence, mas também vantagem competitiva sustentável.

Borja de Mozota e Kim (2009) abordam o tema partindo da necessidade de entender-se

design como capital humano intangível, conforme critério adotado pela International Financial

Reporting Standards (IFRS), no qual design se encaixa. As autoras consideram a evolução do

design e da gestão de design (adiante apresentados no item 2.2) para sugerir que pode existir uma

abordagem baseada em recursos e na vantagem do capital intangível, conforme relatados por

Prahalad e Hamel na década de 1990. Nesta vertente, o entendimento e o uso do design para a

escolha estratégica de cada empresa depende de utilizar design como vantagem competitiva ou

como competência central, conforme o quadro 5.

Design como vantagem competitiva Design como Competência Central

Design Diferenciação por produto e marca Habilidades internas, processo e

conhecimento

Gestão de Design Gestão de Design centralizada

Dirigida por grandes empresas de

produto

Implementação do sistema de

Gestão de Design,

Melhoria no processo de liderança

45

Governança do design pelo CEO pelo design

Governança do design por um

diretor de design ou diretor de criação.

Temas Principais Construção da liderança pelo

design tangível

Desenvolvimento de inovação pelo

design

Design próximo de gestão de

marca ou pesquisa e desenvolvimento

Equipe de design para uma

organização criativa

Desenvolvimento de design em

nível de gerencia e direção da empresa

Construção de design como um

valor intangível

Design como função independente.

Quadro 5 – Design como vantagem competitiva ou competência central

Fonte: Borja de Mozota e Kim (2009)

Analisando além do papel do designer, ou das competências deste profissional, Dechamp

e Szostak Tapon (2009) discutem os fatores de influência da competência do gestor em relação a

sua predisposição e compreensão do design. Segundo os autores, os gestores com melhores

experiências anteriores em termos de artes e educação cultural dão legitimidade do design e

avaliam melhor o uso deste. Em sua pesquisa, os autores aprofundam o tema e apresentam o

background do gestor como uma de suas competências.

As vantagens da perspectiva do design como competência central são consideradas pelas

empresas e ressaltadas pela teoria, mas sua implementação é de alto risco, uma vez que o retorno

sobre o investimento (ROI) não vem das vendas; mas sim, da criação de valor, da estruturação da

empresa e da conseqüente percepção de valor dos clientes ao longo dos anos. As possibilidades

de sucesso pela adoção de uma estratégia em longo prazo, como a compreensão do design como

competência central são maiores, principalmente considerando o ambiente turbulento dos

negócios, levando ao uso do design como estratégia e a melhor Gestão de Design.

2.1.3 Design como Estratégia

A questão do design como estratégia, ou das estratégias de uso de design, tem início na

própria questão da tradução e do uso do termo. Existe um consenso teórico no uso do termo

como projeto e não como desenho, bem como a necessidade de equacionar múltiplos fatores

46

projetuais, define a atividade e sua importância. Para Borja de Mozota (2003, p.4) “todo o

problema proposto para um designer demanda a restrição ou manejo de restrições de fatores

tecnológicos, ergonômicos, de produção e de mercado para um balanceamento.” A equação

„design = intenção + desenho‟, proposta pela autora (e já abordada anteriormente no capítulo 2)

“esclarece o ponto de que design sempre pressupõe tanto intenção quanto plano” (BORJA DE

MOZOTA, 2003, p. 2) e deve estar inserido em uma perspectiva estratégica adequada ao

ambiente competitivo da empresa.

Para Henderson (1989), a estratégia é posterior à questão da competição, embora

modernamente o enfoque seja freqüentemente o contrário. Segundo o autor, estratégia é a “busca

deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva.” (1989, p.5).

Ela surge quando a empresa depara-se com um grau de competição forte, que exige um plano de

ação e uma atitude em busca da sobrevivência.

Em estratégia, parece ponto definitivo que a sobrevivência exige diferenciação. Para

Porter (1996) a essência da estratégia está em desempenhar funções e atividades de modo

distintivo, diferente. Estratégia competitiva é ser diferente e significa escolher deliberadamente

um conjunto diferenciado de atividades para entregar (ao cliente) um conjunto de valores único.

Incluindo, neste caso, considerar a quem não atender, o que não fazer e por quais caminhos não

seguir.

Na busca por ser diferente, segundo Porter (1996), efetividade operacional não pode ser

confundida com estratégia, embora os dois sejam fundamentais para a performance superior das

empresas. Atuando em duas direções diferentes, efetividade operacional significa proceder a

atividades similares melhor que os rivais; enquanto que posicionamento estratégico significa

desenvolver atividades de modo diferente dos rivais, mesmo que as atividades sejam similares.

As posições, ou posicionamentos, estratégicos podem estar calcados em três naturezas:

variedade, necessidade e acesso. Estas fontes usualmente atuam juntas ou até mesmo se

relacionam. Escolher um posicionamento, entretanto, não é suficiente para gerar vantagem

sustentável (PORTER, 1996).

47

Ghemawat (1986) sustenta que vantagens sustentáveis são ancoradas na economia do

setor e merecem atenção dos gestores. Segundo o autor, estas têm três categorias principais:

porte no mercado alvo, acesso superior a recursos ou clientes e restrições a opções dos

concorrentes. É importante observar que estas vantagens não são exclusivas, elas podem e

frequentemente interagem. Assim, quanto mais vantagem se tiver, melhor.

Porter (2008) também considera a estrutura do setor ao comentar as questões estratégicas

que as considera básicas. Para Porter, a estrutura de um setor mereceria tanta atenção dos

estrategistas quanto a posição de sua própria empresa. O autor argumenta que a estrutura de um

setor determina a competição e a rentabilidade do mesmo, sendo que a força competitiva mais

forte deveria ser a mais importante na formulação da estratégia. Segundo Porter (2008), são

cinco as forças competitivas de um mercado, ou setor: (a) o poder de barganha dos fornecedores;

(b) o poder de barganha dos clientes; (c) a ameaça de novos concorrentes; (d) a ameaça de

produtos ou serviços substitutos e (e) a própria rivalidade entre os concorrentes. Quando

analisadas especificamente e comparadas como um conjunto, as cinco forças auxiliam a empresa

a entender o que é o setor e como a competição se desenvolve nele, gerando um princípio para o

planejamento estratégico e para as ações estratégicas da empresa.

De um modo geral, toda a complexidade da estratégia está em escolher caminhos que

sejam realmente vantajosos para cada empresa. Desde a formulação até a implementação das

estratégias, passando pela idealização, pela análise de ambientes internos e externos e pelo modo

de optar pelas ações ou direções, saber encaminhar a empresa para que as escolhas gerem

vantagens competitivas sustentáveis nos mercados pretendidos são parte fundamental do

processo. Segundo Ghemawat (1986), a procura pela sustentabilidade envolve decisões sobre o

grau em que se está disposto a comprometer a empresa de modo a operar de uma maneira

específica.

Em busca da diferenciação preconizada pela estratégia, muitas empresas decidem por

investir nos processos de desenvolvimento de novos produtos. Percebido pelo cliente, o produto,

quando alterado, gera reflexos imediatos e facilmente controláveis pela empresa, principalmente

quando comparado com outras estratégias de diferenciação. Na busca por esta diferenciação, o

design é apontado como o fator de performance de empresas. Neste contexto, Kotler (1998)

48

entende design como uma ferramenta competitiva colocando-o na posição de força de integração

na empresa, sendo o objetivo do design a criação de „grande satisfação‟ para o consumidor alvo e

lucros para a empresa.

A incorporação do design no ambiente empresarial e o seu papel na estratégia vão além

da definição do termo e da profissão; e passam, obrigatoriamente, pela questão da gestão de

design. Design Management, ou gestão de design, é o termo utilizado para descrever uma série

de atividades de gestão ligadas ao design e a estratégia da empresa, permitindo ver e gerenciar as

questões ligadas ao uso do projeto, da intenção e da criatividade como alavancas competitivas.

2.2 GESTÃO DE DESIGN

Com origens na Inglaterra dos anos 1960, quando o termo referia-se somente às relações

entre os escritórios de design e seus clientes, a premissa inicial da gestão de design era garantir o

bom encaminhamento dos projetos e a comunicação entre os diversos departamentos envolvidos

no desenvolvimento de produtos e nas atividades de gestão de marcas. A atenção ao papel crítico

desempenhado pelo designer como gestor de processo ganhou força com o passar dos anos

respaldada, inclusive, pela mudança de foco das empresas em relação aos seus processos

produtivos (BORJA DE MOZOTA, 2003). O surgimento em Boston, no ano de 1975, do Design

Management Institute (DMI) deu ao tema caráter formal de disciplina e iniciou uma série de

ações que resultaram no maior centro de discussão acadêmica e gerencial de Gestão de Design,

congregando acadêmicos, designers e empresários.

A evolução da administração das empresas e o papel da qualidade no processo produtivo

em geral e, em específico, no desenvolvimento de novos produtos pode ser comparada à histórica

do design, dos seus fundamentos até a compreensão do seu papel estratégico (SANTOS, 2000).

A analogia das eras da qualidade em relação às eras do design permite entender que ao mesmo

tempo em que a gestão da qualidade evolui da inspeção e controle para a garantia de qualidade e

estratégia o design se consolida, se populariza e passa a ser entendido pela empresa como

estratégia, inclusive de qualidade (figura 6).

49

Figura 6 – Linha do Tempo

Fonte: Santos (2000, p. 65)

Neste contexto moderno, o uso do design como estratégia, competência central e

diferencial para vantagem competitiva das empresas é crescente, e a compreensão de que o

design deve ser gerenciado surge como teoria. Em uma linha de tempo, percebe-se a evolução da

perspectiva da Gestão de Design, de seu papel e do foco que as organizações deram para seu uso

(quadro 6).

Período Perspectiva Principal Papel do Design Foco da Gestão de Design Casos

1940 – 1950 Design como função Qualidade do produto Nenhum AEG, Olivetti

1960 – 1970 Design como estilo Qualidade da comunicação Gestão de Projeto Alessi, Braun

1980 – 1990 Design como processo Inovação Gestão e Inovação no

desenvolvimento de novos

produtos

Philips, Sony

1990 – 2000 Design como liderança Estratégia criativa Marca Apple

2000 – atual Design Thinking Novo modelo de negócio Organização Criativa IDEO

Quadro 6 – Desenvolvimento histórico da Gestão de Design

Fonte: Adaptado de Borja de Mozota e Kim (2009)

Da consolidação do uso do design como função nas empresas, visando a qualidade dos

produtos e sem preocupação da empresa com a Gestão de Design, até a perspectiva do design

como liderança e, mais recentemente do Design Thinking, o papel do design evolui para dentro

da estratégia da empresa. O foco da Gestão de Design muda da gestão de projeto para uma

50

filosofia que perpassa toda a empresa, em busca de uma organização criativa, de um novo

modelo de negócio no qual o design e a lógica da sua essência estão por todas as funções.

O olhar mais contemporâneo sobre o foco de eras já consideradas ultrapassadas em

termos de tempo, permite entender os desdobramentos do papel do design e do designer. A

perspectiva do design como processo, no qual a inovação era o foco da Gestão de Design, típico

dos anos 1980/1990, pode hoje ser compreendido pela lógica da inovação como para Verganti

(2009). Segundo este autor, o significado do objeto, desde a origem do termo design como

relacionado por Krippendorf (1989 apud VERGANTI, 2009), é fundamental para que o design

cumpra seu papel de direcionar a inovação nas empresas. Para Verganti (2009) a inovação

dirigida pelo design contempla o processo de design como entrega significados. Do mesmo

modo que o marketing entende demanda latente no desenvolvimento de produtos como a entrega

do objeto que o consumidor gostaria de ter mas ainda não existe, Verganti sugere que os

significados sejam traduzidos em produtos inovadores. Deste modo, a compreensão da cultura, a

pesquisa profunda, o envolvimento com o significado atribuído para um objeto são pontos

essenciais do design. A capacidade de conhecer o consumidor, os ativos internos da empresa e o

processo de interpretação da equipe de projeto de produto asseguram o design-driven innovation,

ou a inovação guiada pelo design postulado por Verganti (2009) e reforçada por Utterback et al.

(2010).

Do mesmo modo, o design como estratégia criativa com foco na marca, do período dos

anos 1990/2000 sugere foco no consumidor e no valor da marca como ativo para as empresas. É

o início do movimento que vai levar ao Design Thinking, dos anos 2000 até o presente.

Segundo Brown (2009), a força do design como centro de convergência e não como elo

de uma cadeia traduz o papel do design de ser mais do que uma ligação entre engenharia e

marketing, posicionando a equipe de design mais próxima da estratégia do que do processo

tático. Este autor alega que a passagem de um papel para outro tem relação com a capacidade do

profissional de olhar a tarefa da solução de problemas de um modo não tão convencional,

colocando em prática habilidades aprendidas acerca de como atender necessidades humanas com

recursos técnicos dentro das restrições da empresa. Para Brown (2009, p.7), o design thinking,

como “o modo de descrever um conjunto de princípios que podem ser aplicados por diversas

51

pessoas para uma larga escala de problemas”, aproxima os designers e o design do ambiente

estratégico da empresa.

Do mesmo modo, neste contexto, o pensamento linear, seqüencial, pode não ser a melhor

via de compreensão de problemas, e os mapas mentais e modelos sistêmicos auxiliam nas

tarefas. A evolução natural do fazer design (design doing) para o pensar design (design thinking)

reflete um reconhecimento cada vez maior, por parte dos empresários, do papel do design e de

que a atividade deve ser pensada por todos na empresa, e não somente pelos designers

(BROWN, 2009).

A evolução destas perspectivas, e sua compreensão, auxiliam no entendimento teórico de

Gestão de Design dentro da nova lógica. Permite, também, aprofundar a discussão rumo a um

conceito de Gestão de Design. Para Borja de Mozota (2003, p.71), gestão de design “é a

implementação do design como um programa formal de atividades dentro de uma corporação

pela comunicação da relevância do design para os objetivos de longo prazo da corporação e pela

coordenação dos recursos de design em todos os níveis de atividade corporativa para atingir os

objetivos da corporação.” Para a autora, o papel da gestão de design é também adotar, nutrir e

entender a relevância do design nos pontos citados acima, incluindo: (a) contribuir para os

objetivos estratégicos da corporação pelo desenvolvimento e auditoria das políticas de design,

articulando as mesmas através da empresa, sua identidade e estratégia; (b) gerenciar os recursos

de design e (c) construir uma rede de informação e idéias para projetos.

Peter Gorb (apud BORJA DE MOZOTA, 2003) define Gestão de Design como o uso

efetivo do design, por parte dos gestores, como recurso disponível para uma empresa atingir seus

objetivos, enquanto Patrick Henzel (1993, apud BORJA DE MOZOTA, 2003) expande os

objetivos definindo que Gestão de Design é a gestão do processo criativo dentro da empresa bem

como também engloba gerenciar uma empresa de acordo com os princípios de design e gerenciar

a empresa de design.

Neste trabalho, Gestão de Design é entendida como o uso deliberado do design como

ferramenta de gestão no planejamento, produção e comercialização de bens, de modo a traduzir

os objetivos estratégicos da empresa em produtos e serviços que representem diferenciais e

52

melhorem a performance organizacional; seja ela performance de processo, produto, operacional,

de materiais, da percepção do cliente ou financeira.

Borja de Mozota (2003) indica que existem duas abordagens para gestão de design nas

empresas: a estratégica e a gerencial. Busca, com estas duas abordagens, construir um modelo

convergente sobre o desenvolvimento da gestão de design. Segundo a abordagem gerencial, o

design é utilizado como ferramenta para incrementar produtos e serviços através da acomodação

dos conceitos administrativos e gerenciais quanto ao design, que são escolhidos para tornar o

design da empresa mais eficiente. Nesta abordagem, a aplicação de diferentes teorias de

administração podem ser relacionadas ao design como um processo, como pessoas, como

decisão, como sistema ou ainda de qualquer outro modo teórico.

A abordagem estratégica, segundo Borja de Mozota (2003, p.75), envolve perceber

“design como um novo paradigma” para que seus métodos e ferramentas sejam utilizados para

incrementar a eficiência da gestão como um todo e da gestão de design em particular. Entender o

design deste modo requer compreender o design como uma filosofia, seu modo de ver o mundo

como um incremento para a gestão e a intenção da empresa com o uso do design.

Além da questão da abordagem, a integração do design na empresa também diz respeito

à Gestão de Design e refere-se à alocação do design nas dimensões organizacionais,

considerando como os dois principais objetivos da gestão de design: (a) treinar gerentes e

designers familiarizando gestores com as técnicas de design e designers com as técnicas de

gestão e (b) desenvolver métodos de integração do design no ambiente corporativo, de modo que

a gestão de design auxilie a empresa na sua estratégia.

Para compreender a questão da integração, é importante atentar para a definição das três

dimensões organizacionais: estratégica, tática e operacional nas quais as atividades empresariais

se desenrolam, inclusive o design. Indicando as atividades de design em uma empresa, pode-se

entender que na dimensão estratégica o design tem relação com a missão e os valores da

empresa, e com seu planejamento estratégico (BORJA DE MOZOTA, 2003). Quando

incorporado nesta dimensão, a cultura empresarial está embebida em design, traduz-se em

produtos alinhados com o desejo do mercado alvo e, provavelmente, gera performance superior.

53

Na dimensão tática, as equipes, os processos e os sistemas das unidades estratégicas de

negócios são acionados pelo design (BEST, 2006). A maioria das decisões de design, no Brasil,

são tomadas nesta instância, o que não permite que a atividade cresça verdadeiramente. Nesta

dimensão, as decisões de design são relativas ao andamento do projeto e não à sua filosofia.

Embora adicione valor ao produto, provavelmente, não é sistemático na empresa. Já na dimensão

operacional, as questões relativas ao processo operacional, de construção do que foi projetado

apresenta-se. O design manifesta-se no que é tangível, físico, no produto e na implementação

efetiva do projeto (BEST, 2006).

Em paralelo a integração do design na empresa, a questão da intenção apresenta as visões

que uma empresa pode ter acerca do design, da sua gestão e da sua utilização. Considerando a

idéia de Porter (1996) de que não escolher também é uma escolha, a estratégia da empresa no

que diz respeito ao design, ou a intenção, é direcionada pela administração organizacional, sua

cultura e aprendizado e pode manifestar-se em níveis diferentes.

Borja de Mozota (2002) pesquisou a integração da Gestão de Design em micro e

pequenas empresas premiadas por sua excelência em design e aponta que vantagem competitiva

pode emergir da melhor coordenação de funções dentro da empresa. Partindo da definição de

Hayes (1990 apud BORJA DE MOZOTA, 2002) que vê o design como facilitador,

diferenciador, integrador e comunicador a autora descreve a ligação do design com a estrutura de

forças competitivas da indústria, de Porter, e com os conceitos de cadeia de valor propostos por

este autor, como o processo de escolher uma posição estratégica. Na pesquisa de Borja de

Mozota (2002) a cadeia de valor de Porter provê uma ferramenta para entender as fontes de

vantagem competitiva do design como custo, diferenciação e gestão. Neste contexto, design pode

gerar valor em diferentes níveis da cadeia de valor otimizando: as atividades primárias e sua ação

no valor percebido pelo consumidor, a coordenação entre funções dando suporte para atividades

da empresa e a coordenação externa da empresa e seu ambiente gerando uma nova visão desta

empresa por parte do mercado.

Como resultado da pesquisa, Borja de Mozota (2002) apresenta uma tipologia de Gestão

de Design que permite a classificação das empresas em quatro classes que descrevem o modo

como elas caracterizam e diferenciam design, portanto a intenção quanto ao design: Design como

54

competência gerencial; Design como competência de recurso; Design como competência

econômica e Empresas indecisas sobre o papel do design.

A pesquisa sobre estas quatro classes foi desenvolvida e avançou para o entendimento das

quatro forças do design no ambiente gerencial, consistente com o debate sobre as dificuldades de

inserção do design nas empresas e a ausência de reconhecimento por parte dos gestores dos

benefícios do design. Segundo Borja de Mozota (2006, p. 45), as quatro forças do design são:

Design como diferenciador – design como fonte de vantagem competitiva através

da marca, fidelização de clientes, de preços premium (mais altos) e orientação ao

consumidor. Design como diferenciação acontece quando a estratégia de design

visa criar marcas melhores, produtos mais avançados ou embalagens. A

diferenciação gera melhora financeira para a empresa, pois aumenta vendas e

facilita exportações, além de melhorar o valor percebido pelo cliente.

Design como integrador – design como recurso de melhoria para desenvolvimento

de produtos, de produtos de plataforma e modulados, orientados para inovação e

de “fuzzy front end”. Quando a estratégia de design visa mudança no processo de

inovação ela torna-se uma ferramenta eficiente para o desenvolvimento de novos

produtos e para a gestão deste processo. Deste modo, design cria valor ao

coordenar funções, evitar conflitos das áreas envolvidas, melhor a comunicação e

incentivar o trabalho em equipe entre estas equipes. Este é o design como

integrador, ligado ao processo gerencial da empresa e à inovação orientada para o

cliente.

Design como transformador – design como recurso para criar novas

oportunidades de negócios para incrementar a habilidade da empresa em lidar

com mudanças ou sua expertise para interpretar a empresa e seus mercados. O

design como transformador permite que o valor seja criado pela melhora na

relação entre empresa e seu ambiente externo, auxiliando a antecipar visões claras

sobre o futuro, novos mercados e tendências.

Design como bom negócio – design como fonte de incremento de vendas, maior

valor de marca, melhor retorno sobre o investimento e como recurso para a

sociedade no que diz respeito ao sustentável e inclusivo.

55

Ao analisar as mudanças no escopo da Gestão de Design nas empresas nas décadas de

1990 e 2000, a autora salienta tanto as lacunas de conhecimentos dos designers quanto às dos

gestores como fatores contribuintes a dificuldades na inserção do design e menciona que Gestão

de Design vai de gestão do projeto de design até gestão estratégica de design, em um processo

dinâmico. Para superar estas lacunas o entendimento mútuo é importante e o compartilhamento

de ferramentas pode ajudar, uma vez que existem diferentes caminhos para construir vantagem

competitiva e aplicações de design. Neste contexto, Borja de Mozota (2006) aponta a ferramenta

de BSC (Balanced Score Card)3 como um caminho interessante de diálogo entre design e gestão,

uma vez que se pode estabelecer coincidências entre as quatro forças do design e as quatro

dimensões básicas do BSC, como segue na figura 7.

Figura 7 – As quatro forças do design e o BSC

Fonte: adaptado pela autora de Borja de Mozota (2006).

Borja de Mozota (2003) pondera que nem sempre a integração do design na empresa é

simples, mas para as empresas que conseguem ultrapassar as dificuldades, design pode

transformar-se em vantagem competitiva interna. Principalmente, pois uma vez incorporado, o

design se transforma em know-how, e este é de difícil cópia por parte dos competidores, além de

ser uma competência central (core competence). Neste modelo, design gera um valor estratégico

3 BSC ou Balanced Scorecard, apresentado em 1992 pelos Professores Robert Kaplan e David Norton, da Harvard

Business School, é um modelo de análise de desempenho que vai além das tradicionais medidas de finanças

propondo também a avaliação das dimensões do cliente, dos processos internos e da aprendizagem e crescimento

das empresas. É utilizado em muitas empresas também como modelo de gestão estratégica. (KAPLAN; NORTON,

2007)

56

substancial, que pode ter efeito direto no posicionamento da empresa, e que pode contribuir com

a gestão para mudança e para a aprendizagem organizacional.

Na esfera de modelos de intenção da empresa para com o design, o Centro de Design da

Dinamarca (Danish Design Centre – DDC) criou o Design Ladder, a escada de utilização do

design nas empresas (figura 8). O modelo é composto por quatro degraus que representam a

inserção do design na empresa e seu uso, reportando também a característica estratégica da

empresa em relação ao design (KRETZSCHMAR, 2003).

Figura 8 – Design Ladder, A Escada do Design

Fonte: adaptado de The Economic Effects of Design (KRETZSCHMAR, 2003)

No primeiro degrau estão as empresas nas quais design é parte incipiente, sendo o

desenvolvimento de produto tarefa de membros da equipe que não são profissionais de design.

As soluções são baseadas na percepção de funcionalidade e estética das pessoas envolvidas no

projeto sendo que a opinião ou perspectiva do consumidor tem pouca importância. No segundo

degrau estão as empresas nas quais o design é percebido como um passo da estética final de um

produto. Em alguns casos o designer executa as tarefas, mas, em geral, outros profissionais estão

envolvidos com estas tarefas.

No terceiro degrau, design como processo, as atividades de design são adotadas pela

empresa desde as fases iniciais do projeto, sendo que a solução é adequada a tarefa e focada no

usuário final, requerendo uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento dos projetos.

Segundo Kretzschmar (2003), design não é parte pontual do projeto e sim do todo. Do mesmo

modo, no quarto degrau, design como inovação. Nesta quarta e mais avançada etapa, o designer

colabora com a gestão em adotar uma abordagem de inovação para a base do negócio. O

processo de design, combinado a visão de futuro e cadeia de valor da empresa é considerado um

Sem design

Design

como estilo

Design

como

processo

Design

como

inovação

57

elemento importante. Além de classificar a intenção das empresas, a escada do design pode

indicar o grau de maturidade da empresa em relação à implantação de design.

Sobre as empresas nas quais o design é classificado como inovador ou transformador,

Beverland e Farrelly (2007) comentam que elas podem ser chamadas de lideradas pelo design4

(design-led) e compartilham quatro qualidades: tem uma cultura que valoriza a curiosidade,

trabalham com empatia em equipes multidisciplinares, tem o designer como um etnógrafo e

manifestam seu design através da sua marca vividamente. Para estas empresas, embebidas em

design, ferramentas da gestão como Orientação para Mercado (KOHLI; JAWORSKI, 1990;

JAWORSKI; KOHLI, 1993) são importantes, mas não garantia de bom design. Simplesmente

atender aos requisitos do consumidor, segundo os autores, não é um caminho para o design, mas

sim parte deste caminho. Beverland e Farrely (2007) afirmam que as empresas lideradas pelo

design acreditam, com fervor quase religioso, que design e design thinking são o centro da

geração de valor e da vantagem competitiva sustentável, transformando a lógica dominante da

empresa.

A lógica dominante, conceito estabelecido por Bettis e Prahalad (1995, apud

BEVERLAND; FARRELY, 2007) diz respeito ao modo como os gestores conceitualizam o

negócio e tomam decisões de alocação de recursos. Segundo Beverland e Farrely (2007), as

empresas têm um conjunto de valores explícitos e implícitos que formam a sua lógica dominante,

posicionamento que vai definir a orientação da empresa e muitas de suas atitudes, inclusive em

relação à funções como o design. Empresas que tem design como sua lógica dominante “são

dirigidas pelo design, não necessariamente pelos designers, e insistem que design e design

thinking estejam embebidos por toda a organização.” (BEVERLAND; FARRELY, 2007, p.11).

As características das empresas lideradas pelo design sugerem práticas ligadas a Gestão

de Design como: criar ambientes de questionamento, abertos ao risco em benefício da melhoria;

advogar em favor da criatividade; reconhecer a importância do intangível para o processo de

valor da empresa; assegurar a integração em equipes de projeto multidisciplinares; permitir

pesquisas de diversos métodos de modo a fortalecer o aprendizado da equipe e a diversidade de

conhecimentos; investir em esforços de marketing internos em beneficio dos valores do design e

4 O termo Design-led foi livremente traduzido pela autora como „Liderada pelo design‟ por ser a expressão que

melhor descreve o que os autores preconizam.

58

do conhecimento de marca; investir recursos em pesquisa e desenvolvimento visando novos

mercados e novos produtos e tomar posição de liderança em assuntos sociais de importância

como sustentabilidade e práticas de consumo conscientes. Destas práticas, entendem os autores,

além de surgirem empresas lideradas pelo design surgem, necessariamente, designers com

comportamentos mais adequados para lidar com um novo cenário, aptos a construir pontes entre

o design e as outras funções das empresas, quebrando barreiras para melhor foco em soluções de

projeto.

A idéia da lógica dominante também é interessante por propor uma mudança do uso do

design como estilo, para o uso do design como lógica. Provavelmente ligado à idéia de uma

abordagem estratégica, em todos os ambientes da empresa (por conseqüência) utilizado como

integrador e intenção. A questão de ser liderada pelo design também se relaciona a questão das

competências (capabilities), uma vez que as quatro características apontadas por Beverland e

Farrelly (2007) têm relação intima com habilidades, atitudes e conhecimentos, fundamentos da

competência.

Considerando os conceitos de Gestão de Design abordados pode-se estabelecer que suas

dimensões são abordagem, intenção e ambiente de integração (quadro 7) e que estas determinam

como será sua inserção nas empresas. Abordagem diz respeito ao modo como a empresa vê o

design e seus processos, podendo ser, segundo Borja de Mozota (2003), gerencial ou estratégica,

enquanto o ambiente de integração refere-se à inserção do design como parte do dia a dia da

empresa, se ela é feita em todas as instâncias organizacionais ou somente em alguma. Intenção

tem relação com o papel que o design representa na empresa, se é utilizado como diferenciação,

coordenação ou transformação e, neste ponto, adota-se esta perspectiva por ser a mais moderna e

com maior sustento teórico entre as apresentadas.

Inserção da Gestão de Design

nas empresas

Abordagem Gerencial

Estratégica

Ambiente de Integração Estratégico

Tático

Operacional

Intenção Diferenciação

Coordenação

Transformação

Bom Negócio

Quadro 7 - Gestão de Design

59

O grau de comprometimento com cada uma destas dimensões, e com a inserção do design

podem caracterizar o uso estratégico de design na empresa e a chamada „liderança pelo design‟.

É interessante salientar que não necessariamente a empresa liderada pelo design ou mais

avançada estrategicamente neste ponto tem todos os seus esforços baseados em abordagem

estratégica, intenção de transformação e ambiente estratégico. Aparentemente, combinações

distintas desta também geram valor pelo design e melhor desempenho, como em empresas de

pequeno porte, totalmente voltadas para a produção de peças de alto valor agregado. Estas têm

design com intenção transformadora e de bom negócio, aplicados em ambiente operacional e

sem dispor de uma equipe de design (WOLFF; AMARAL, 2008). Ainda assim, nestas empresas,

constata-se excelente desempenho, prêmios internacionais de design e ampla aceitação do

consumidor final.

2.2.1 Gestão de Design e Desempenho Empresarial

Segundo Borja de Mozota (2002), a pesquisa em Gestão de Design se divide em estudos

organizacionais, que consideram o design em um setor econômico ou em grandes empresas e

estudos descritivos, que apresentam métodos específicos de Gestão de Design. As pesquisas

nesta área apresentam resultados que podem ser classificados deste modo: (a) design melhora o

desempenho das políticas de inovação e comunicação das empresas; (b) design melhora a

performance global da empresa e é um investimento rentável; (C) design é uma profissão que

gera valor a nível macroeconômico; (d) design melhora a competitividade de um País no cenário

de competitividade internacional desenvolvendo a exportação e favorecendo a transferência de

tecnologia; (e) design pode ajudar a reestruturar a economia de um setor na política econômica

regional.

É pertinente atentar para a questão das medidas de desempenho de design e da potencial

relação entre design e performance organizacional. Segundo Borja de Mozota (2003), um largo

conjunto de pesquisas foi desenvolvido, na Inglaterra, pelo „Design Innnovation Group‟,

seguindo orientações governamentais de promoção do design. Os resultados destas pesquisas

apontam evidências para a relação entre gestão de design e performance superior, principalmente

em empresas „conscientes de design‟, nas quais existe aumento de vendas e taxas de lucro.

Design é também apontado como investimento rentável pelas empresas pesquisadas, uma vez

60

que o ROI (retorno sobre o investimento) em design é de menos de três anos. Segundo as

pesquisas, existe correlação entre ganhar um prêmio de design e um potencial aumento de

vendas e de exportações (BORJA DE MOZOTA, 2003).

Ainda na Inglaterra, mais recentemente, em 2008, o Design Council analisou os dados de

um estudo iniciado em 2004 para o qual 124 empresas foram convidadas a utilizar mais

efetivamente design em seus processos, monitoradas e treinadas pela instituição. Os resultados

apontam que, em média, para cada Libra (£) utilizada em design o retorno foi de cinqüenta

libras.

Pesquisas promovidas por agências governamentais e Instituições Acadêmicas, em países

como Dinamarca (KRETZSCHMAR, 2003) e Finlândia (PIIRAINEN, 2001), também apontam

para resultados positivos entre investimentos em design e incremento de performance financeira.

A pesquisa sobre o efeito econômico do design, desenvolvida pelo Centro de Design da

Dinamarca, indica que ao adotar uma abordagem compreensiva e sistemática em relação ao

design as empresas incrementam seu valor. Em resumo, a pesquisa mostra que design vale a

pena, e que empresas que adotam design geram melhores resultados econômicos e de

exportações do que as empresas que não usam design. Pioneira neste tipo de estudo, a pesquisa

dinamarquesa entrevistou cerca de mil empresas com mais de 10 empregados e constatou que

existe correlação entre o uso do design e a performance financeira com design interno e externo.

Os resultados sugerem também que as performances são melhor quanto mais alto o degrau no

qual a empresa se encontra no Design Ladder, a escada do design.

Do mesmo modo, na Finlândia, uma serie de pesquisas conduzidas no final da década de

1990 e na década de 2000 apontam para performances positivas em empresas que adotam design

como ferramenta para vantagem competitiva, embora salientem a dificuldade constatar estas

vantagens. Estas dificuldades estão ligadas aos amplos conceitos de design e as medidas de

desempenho, mas, mais fortemente, ligadas à compreensão de que a relação entre design e

desempenho não pode ser entendida como uma via reta, direta. Além do design, uma série de

fatores como produção, marketing, logística, inovação tecnológica e distribuição pode afetar o

desempenho de um produto no mercado, ficando injusto creditar somente ao design o sucesso ou

fracasso (PIIRAINEN, 2001).

61

Ainda que a mensuração do design como desempenho seja importante, e considerando os

esforços apresentados, pode-se inferir que seria incerta a implementação de tais procedimentos

no Brasil. Primeiramente, em função da pouca disponibilidade de agências governamentais em

encaminhar tais estudos, e da sua pouca atenção efetiva para o tema como implementação e

alavancagem de performance. A diversidade e do pouco escopo teórico na sustentação linear do

que é design também desestimulam as instituições acadêmicas neste sentido. Em segundo lugar,

o caráter quantitativo destes estudos, baseados em dados contábeis, como no caso de Hertenstein

e Platt (1999), apontam para a confiabilidade dos dados e sua disponibilidade. São pesquisas

conduzidas em países nos quais certos dados contábeis estão obrigatoriamente disponíveis,

facilitando a condução do estudo, o que não é o caso do Brasil. É importante também lembrar

que estes estudos foram desenvolvidos em empresas grandes, em países desenvolvidos, nos quais

a realidade do design é mais bem estabelecida do que no Brasil.

Ainda assim, no Brasil, uma pesquisa liderada da Confederação Nacional da Indústria em

1998 investigou a utilização do design nas indústrias brasileiras. Ficou constatado que o uso de

design para desenvolvimento de novos produtos é apontado por 52% das empresas; sendo que

67% são grandes empresas e 56% médias empresas. Os setores de brinquedos (90%), higiene e

beleza (80%) e mobiliário (73%) são os que mais fazem uso dos processos de design. A pesquisa

revelou também que os investimentos em design se concentram em torno de 1% do percentual da

receita operacional líquida, o que parece ser muito pouco mesmo diante da perspectiva de

aumento deste percentual nos próximos dois anos. Ainda assim, as empresas declararam que os

principais impactos resultantes da utilização do design foram aumento de vendas em 75% delas e

redução de custos em 41% das entrevistadas (CNI, 1998). É provável que o índice de 1% de

receita líquida investida já tenha melhorado nestes últimos anos. Mas, certamente, os valores

continuam tímidos perto dos investimentos observados na Europa e nos Estados Unidos.

2.2.2 Gestão de Design no Brasil

No Brasil, a questão da Gestão de Design vem sendo estudada com maior ênfase nos

últimos anos. O natural interesse do empresariado pelo tema, influenciado pelos estudos

internacionais e pela crescente competição de mercado trouxe a tona o assunto através de

62

práticas de gestão, ainda que tímidas, enquanto algumas universidades despontam no estudo dos

aspectos teóricos de Gestão de Design através de teses e dissertações.

Para melhor analisar a produção brasileira em Gestão de Design, foi procedida uma

análise sistemática que coletou, selecionou e analisou todos os artigos publicados sobre o tema

nas duas mais significativas vias de produção científica do design brasileiro: o Congresso

Brasileiro de Pesquisa e Design (P&D) e a Revista Estudos em Design. O estudo foi conduzido

através de etapas de seleção e classificação sutilmente distintas para as duas publicações. No

caso da Revista Estudos em Design todas as edições de 1993 a 2007 foram coletadas, seus

resumos lidos e os que abordavam Gestão de Design foram separados para posterior leitura

criteriosa (tabela 1). As edições especiais da Revista Estudos em Design, que apresentavam os

melhores artigos do Congresso P&D, não foram analisadas para evitar duplicidade de artigos.

Tabela 1 – Publicações e quantidade de artigos da revista Estudos em Design

Data de

Publicação Total de Artigos

Artigos de Gestão

de Design

Autores

1993 16 0

1994 14 1 Jairo José Drumond Câmara

1995 20 1 Claudio Magalhães

1996 11 0

1997 12 0

1998 11 1 Maristela Mitsuko Ono

1999 15 1 Márcio Zukin

2000 15 0

2001 10 2 Patrícia Chedier, Ricardo Naveiro;

Virginia Kistmann

2002 10 2

Francisco Duarte, Francisco Lima,

André Costa, Emilson Roveri,

Fernando de Castro, Nédson Campos;

Maria Alice Vasconcelos Rocha e

Francisco Souza Ramos

2003 10 1 Itiro Iida, Ana Claudia Maynardes,

Evandro Renato Perotto

2004 10 0

2005 10 0

2006 10 0

2007 10 0

2008 5 0

TOTAL 189 09

63

No caso dos anais do P&D, em função da quantidade de volumes e artigos (tabela 2), as

etapas de coleta e análise foram: (a) listagem das edições do evento, (b) obtenção dos anais e (c)

seleção dos artigos classificados no tema gestão de design, (d) leitura dos resumos artigos

classificados, (e) triagem dos artigos que realmente pertenciam ao tema, (f) leitura do artigo e

resumo dos seus dados e (g) análise de dados. Os procedimentos de coleta, triagem, seleção e

leitura foram acompanhados por um arquivo de dados, do tipo Excel, no qual foram registrados

dados como ano/volume da publicação, autor, instituição de origem do autor, título do trabalho,

palavras-chave e um resumo desenvolvido pela pesquisadora.

Tabela 2 – Publicações e quantidade de artigos do P&D

Data de Publicação Total de Artigos

P&D

Artigos de Gestão

de Design

Artigos de Gestão de

Design Considerados

1994 55 0 0

1996 55 6 3

1998 121 5 5

2000 139 2 2

2002 301 22 13

2004 301 25 19

2006 650 27 20

2008 244 9 8

TOTAL 1866 96 70

Somaram-se 96 artigos classificados como Gestão de Design nos anais do P&D e, quando

lidos os resumos destes artigos, constatou-se que 70 artigos efetivamente tratavam de temas

relacionados à Gestão de Design, segundo classificação teórica. Assim, estes foram os artigos

considerados nesta análise sistemática para leitura e discussão do panorama da publicação em

Gestão de Design no Brasil. A partir da classificação, a leitura, resumo dos artigos a análise dos

dados observados foi desenvolvida, elencando as questões apresentadas a seguir.

Considerando os 79 artigos selecionados que efetivamente tratam de temas relacionados à

Gestão de Design para leitura e discussão do panorama da publicação em Gestão de Design no

Brasil, foi possível tecer análises acerca do volume de publicações, do seu conteúdo e dos temas

abordados ao longo dos anos. Em primeiro lugar, observou-se a participação deste tema nas

64

publicações. Percebeu-se que tal fato não é expressivo, sendo que na Revista Estudos em Design

limita-se a 5% da produção total da revista no período estudado, que é de 189 artigos em 31

volumes ao longo dos anos. No P&D, o volume de artigos é maior (1866), sendo 96 artigos

cadastrados no tema e 70 efetivamente pertinentes, porém o percentual aproxima-se dos 4%,

similar a Revista Estudos em Design. Na figura 1 apresenta-se um gráfico com número de artigos

relativos ao tema publicados em cada edição do P&D e da Revista Estudos em Design.

Figura 9 – Publicações e quantidade de artigos do P&D

Percebe-se que, ao analisar o gráfico, na Revista Estudos em Design o tema teve mais

espaço inicialmente entre 1994 e 1995, entre 1998 e 2000 e novamente de 2001 a 2003,

formando três ciclos de abordagem da Gestão de Design. Já no P&D, percebe-se um salto na

quantidade de publicações nas edições de 2002, 2004 e 2006, com um aumento importante no

número de artigos apresentados. O período de tempo que apresenta os maiores índices de

publicação no Brasil (anos 2000) é também um dos mais férteis nas discussões e publicações no

exterior, tanto em livros quanto no surgimento de seminários, congresso, journals e, até mesmo,

de programas de pós-graduação na área. Em 2008, no P&D, o número de artigos decaiu,

sinalizando uma lacuna no tema que, no exterior, continua crescendo.

Quanto à análise dos conteúdos dos artigos selecionados, percebe-se, entre os nove

artigos publicados pela revista Estudos em Design, quatro com caráter estritamente teórico, três

como estudos de caso e dois relatos de pesquisas quantitativas. A origem destes artigos é variada

e os autores são provenientes de instituições do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais,

Pernambuco, Paraná e Brasília. Na análise do conteúdo dos artigos selecionados nesta revista, é

65

possível perceber que os artigos abordam estudos de caso e detalham experiências específicas de

empresas que incorporaram práticas da Gestão de Design ao seu processo produtivo. Porém, é

interessante notar que apenas um dos artigos se detém no papel do designer dentro da empresa

estudada, enquanto os demais expõem os resultados referentes aos métodos de integração entre

diversos profissionais e setores. Já os artigos com abordagem teórica são unânimes em defender

a importância do design no processo de desenvolvimento de produto e sua força como diferencial

competitivo, analisando conceitos e metodologias relativas à Gestão de Design. Do mesmo

modo, os artigos que abordaram pesquisas de caráter quantitativo buscaram verificar o grau de

conhecimento e a aceitação do Design nas empresas, focando somente uma faceta da Gestão de

Design.

Ao contrário da Revista Estudos em Design, que descontinua a publicação no tema em

2003, o P&D persiste publicando, apresentando, após um inicio tímido de publicações, um pico

de interesse pela área nos anos entre 2002 e 2006. Analisando os artigos por edições pode-se

perceber a evolução do interesse pelo tema tanto pela quantidade de artigos como pela sua

característica. Na primeira edição do Congresso, em 1994, nenhum artigo sobre Gestão de

Design foi apresentado, mas já na edição seguinte, em 1996 três autores apresentam suas

considerações sobre Gestão de Design, basicamente relacionadas ao design inserido no ambiente

empresarial, nas estratégias de inovação pelo design e na relação entre design, marketing e

engenharia.

No ano de 1998, cinco artigos são publicados na sessão de Gestão de Design incluindo

autores de instituições como a UFRGS (PPGEP), a PUC-RIO e a Universidade Federal da

Paraíba. Os temas abordados pelos artigos focam o design e sua importância para as empresas

nos ambientes competitivos e de inovação e, infelizmente, somente tangenciam a questão da

Gestão de Design. Todos os artigos apresentados são de cunho teórico sendo que dois

apresentam estudos de caso e um artigo apresenta pesquisa quantitativa.

Em 2000, dois artigos relacionados à Gestão de Design foram publicados. O primeiro

descreve o desenvolvimento de um sistema de navegação para portadores de deficiência física

dentro do campus de uma universidade. Nele, a gestão do design é desenvolvida estritamente

para o produto, onde sua principal função é “coordenar todos os esforços, tarefas e recursos (...)

66

durante o processo de criação do produto até seu declínio ou desaparecimento” (MINUZZI et al.,

2000), nesse caso a relação do designer com a empresa e sua importância nesse campo é

ignorada. O outro artigo é teórico e envolve diversos conceitos sobre o “espírito do design”,

tratando brevemente dos conceitos de gestão do design, mas o foco principal está na gestão de

organizações.

A edição de 2002 do P&D demonstra um aumento da produção de artigos relacionados à

Gestão do Design, publicando treze artigos relacionados ao tema. Grande parte dos artigos

publicados nesse ano são teóricos, apresentando a importância da gestão nos processos de design

e começando a compreender o designer como o profissional capaz de atuar nesse sentido. Os

artigos seguem uma linha bastante semelhante ao criticar a relação entre o designer e as

organizações, pois, embora teoricamente seja clara a função do designer como gestor, na prática

isso não acontece. A informação que a prática não existe nas empresas não é bem fundamentada

nos artigos revisados, pois não há apresentação de estudo que possa confirmar concretamente

como isso ocorre. Alguns artigos chegam a citar qual seria o papel e as atividades que o designer

deveria exercer enquanto gestor e são baseados em modelos de gestão citados por Wolf (1998) e

pelo Centro Português de Design (1998). Três estudos (ISHIKAWA et al., 2002, DEMARCHI;

REGO, 2002, MARTINS; MERINO, 2002) apresentam, além da parte teórica, um estudo de

caso, mas em alguns momentos confundem a função do designer como gestor com a função do

designer no desenvolvimento de novos produtos. Embora teoricamente Gestão de Design seja

consolidada como fundamental ao desenvolvimento da empresa, na relação prática ainda é muito

focada no desenvolvimento de novos produtos, ficando toda a parte estratégica da empresa fora

do processo.

No P&D 2004, os dezenove textos classificados como pertinentes ao campo de Gestão de

Design são, em sua maioria, centrados em pesquisas em fase inicial, com pouca consistência e

sustentação tanto teóricas quanto em termos de validação de campo. Um fenômeno interessante

se apresenta nesta edição do congresso: a bibliografia utilizada nos artigos apresentados é, em

boa parte, proveniente de artigos anteriores do próprio P&D ou de teses e dissertações dos

programas aos quais os autores estão vinculados academicamente. Embora isso fortaleça o P&D

como objeto deste estudo, dando a ele a importância como centralizador na publicação em design

no Brasil a construção teórica proveniente deste mecanismo de referenciação se fragiliza. O

67

conjunto de artigos do P&D 2004 apresenta estudos diversos que, em relação às edições

anteriores, são mais focados no tema, apresentando tentativas iniciais de pesquisas de campo, em

empresas, na busca de consolidar a presença da Gestão de Design no ambiente empresarial

brasileiro. Pode-se também observar que despontam nomes de professores autores, suas equipes

e Instituições de Ensino ligados ao tema como o Claudio Magalhães, da PUC-RIO, Eugênio

Merino da UFSC e Virginia Kinstman da UFPR, entre outros.

No ano de 2006, vinte artigos foram publicados sob o tema Gestão de Design, dos quais

cinco são estritamente teóricos, nove expõem estudos de caso e seis abordam simultaneamente

pesquisas de caráter quantitativo e qualitativo, revisões bibliográficas e estudos de caso. Em uma

análise dos artigos teóricos, é possível perceber que Gestão de Design é abordada parcialmente,

no que se entende por sua definição, ficando o foco voltado a temas relacionados, como o papel

do designer dentro das indústrias, sustentabilidade na Gestão de Design, metodologias no

processo produtivo e até mesmo conceitos de branding. Tratando-se dos artigos focados em

estudos de caso, há ocorrência de relatos de experiências de inserção do design estratégico em

pequenas e médias empresas através de parcerias com o meio acadêmico, inserções de novas

tecnologias no processo produtivo das indústrias, metodologias para aprimoramentos no

processo de desenvolvimento de produtos, certificação e normatização de produtos em empresas

específicas e outros temas relacionados. Como nos artigos dos anos anteriores, a Gestão de

Design é abordada de forma deslocada do período histórico da data de publicação, segundo o

modelo de evolução da disciplina de Borja de Mozota e Kim (2009). De acordo com este

modelo, os artigos representariam o pensamento das décadas de 1980 e 1990 e não dos anos

2000.

Os demais artigos publicados nos Anais do P&D Design 2006 conciliam aspectos teóricos

com relatos de pesquisas de caráter qualitativo e estudos de caso. Nestes artigos, são discutidos

temas como a aproximação das Universidades com o mercado para disseminação do design,

levantamentos de conceitos e metodologias de gestão de design a partir de pesquisas com

empresas de determinados segmentos, a percepção do designer sobre a Gestão de Design nas

empresas e outros assuntos. Mesmo assim, poucos destes artigos detalham aspectos da Gestão de

Design. Um artigo em especial chama a atenção neste conjunto, por fazer uso da análise

sistemática para explorar o campo da Gestão de Design. No artigo Claudio Magalhães e Ana

68

Carolina Saade, da PUC-RIO, analisam os artigos publicados na Design Management Review,

publicação do Instituto de Gestão de Design (DMI), órgão Americano que congrega professores,

pesquisadores e gestores de design. Para este trabalho, com parâmetros diferentes do aqui

apresentado, os autores contam palavras e classificam assuntos mais discutidos na publicação,

dando um indicativo dos caminhos da disciplina no ambiente internacional.

Na edição de 2006 é também interessante notar que boa parte das referências utilizadas nos

artigos publicados é, em geral, voltada para temas específicos que foram mencionados no

decorrer do texto ou para teorias do design, mas poucas são focadas especificamente em Gestão

de Design. Há recorrência de diversos autores, mas ao contrário da edição de 2004, poucos são

provenientes de artigos publicados em edições anteriores dos anais do congresso, ampliando o

escopo de pesquisa na área. Novamente, as publicações de Instituições de Ensino do Rio de

Janeiro, Paraná e Santa Catarina são a maioria, apresentando-se também com mais de uma

publicação Rio Grande do Sul e Minas Gerais.

Por fim, a edição de 2008 do Congresso Brasileiro de Pesquisa e Design (P&D) traz

somente oito artigos na sessão de Gestão de Design em um notável decréscimo de publicações

no tema, na contramão da evolução da disciplina e das publicações no mundo. Neste conjunto de

artigos observa-se a percepção dos autores sobre Gestão de Design mais voltada para a estratégia

das empresas e para a inserção do design no processo organizacional e seu impacto na cultura

das empresas. São apresentados dois estudos de caso em indústrias bem como uma pesquisa

quantitativa. Pela primeira vez no Congresso um artigo aborda as questões voltadas ao ensino da

Gestão de Design nas faculdades de design, com uma pesquisa quantitativa que oferece um

panorama preliminar da situação brasileira. Novamente, as publicações provenientes do Paraná e

de Santa Catarina são maioria.

Sobre os pólos de publicação no Brasil, a pesquisa entre todos os artigos selecionados

indica que o Rio de Janeiro é o estado que, coletivamente, mais publicou artigos sobre Gestão de

Design no P&D, com 17 artigos publicados, dos quais oito artigos provenientes da PUC-RIO. A

seguir no número de publicações vem o estado do Paraná, com 14 artigos, Santa Catarina com 12

artigo e Rio Grande do Sul com oito artigos publicados. Muitos outros estados do Brasil

publicam artigos sobre Gestão de Design, sendo os mencionados os com maior volume conjunto.

69

Pode-se, também, mencionar os estados da Bahia e Minas Gerais com cinco artigos publicados,

São Paulo com quatro e uma série de outros estados com três ou dois artigos publicados no

período.

Para finalizar a análise buscou-se uma visão geral dos assuntos tratados nos artigos de

ambas as publicações. Para tanto, foi realizada uma análise direta através da compilação das

palavras mais freqüentes na forma como são citadas (tabela 3) como palavras-chave.

Tabela 3 – Palavras-chave mais citadas

Palavras-chave mais citadas

Design 34

Gestão do design 17

Gestão 12

Gestão de design 08

Competitividade 07

Estratégia 07

Qualidade 05

Organizações 04

Design estratégico 03

Percebe-se, pela freqüência de citação das palavras design e gestão aliadas à Gestão de

Design, a intenção dos autores no que se refere a contextualizar o tema como comum ao design

em si e as atividades de gestão. A freqüência de termos ligados às teorias de gestão e

administração de empresas como competitividade, estratégia e qualidade corroboram para esta

percepção. Para resultados mais abrangentes, as palavras apresentadas foram agrupadas por

analogia, formando os principais grupos de palavras chaves citadas nos artigos analisados (tabela

4).

Tabela 4 - Palavras chave agrupadas por analogia

Palavras-chave agrupadas por analogia

Design / design de produto / design de moda 44

Gestão do design / gestão de design / gestão em design /design estratégico 33

Gestão / gerenciamento 16

Estratégia 08

Competitividade 07

Inovação 07

Qualidade 05

70

Desenvolvimento de produto 05

Estrutura organizacional 04

Organizações 04

Ecodesign / sustentabilidade 04

Metodologia / metodologia de projeto de produto 04

Cultura / cultura do design 03

Gestão do conhecimento 03

Economia 03

Ensino / ensino de design 03

Marketing 03

Planejamento / planejamento estratégico 03

Micro e pequena empresa 02

Consumidor 02

Tecnologia 02

Comunicação 02

QFD 01

Diversos 58

Também neste modo de agrupamento, diversas palavras relacionadas à administração de

empresas aparecem como indicativo de conexão com Gestão de Design. Além das mencionadas

anteriormente, marketing, gestão do conhecimento e planejamento estratégico são mencionadas

elencando áreas da administração que fazem parte das análises de Gestão de Design. Mais do que

estas conexões, é interessante analisar as 44 citações de design e suas áreas, indicando ainda a

necessidade dos autores de explicitar as facetas dos temas ligados à Gestão de Design como parte

integrante do tema de origem, design. Muitas ilações poderiam ser feitas neste sentido, mas

preferiu-se atentar para as 33 citações agrupadas dos temas chamados pelos autores „Gestão de

Design‟, „Gestão do Design‟ e „Design Estratégico‟. Parece importante salientar a diferença

existente entre os três termos, ainda que ela não esteja clara no discurso dos autores. „Gestão de

Design‟ refere-se ao corpo teórico que compreende a implementação do design como um

programa formal de atividades dentro de uma corporação e todos os seus desdobramentos.

„Gestão do Design‟ é um termo comumente usado para designar o mesmo corpo teórico, embora

se possa argumentar que „do‟ design prevê algo muito mais restrito ao projeto em si do que ao

seu uso estratégico, sua intenção e integração nas empresas. Design estratégico, embora inserido

na Gestão de Design, tem corpo teórico específico e refere-se ao uso do design como estratégia

empresarial, não tendo a abrangência da Gestão de Design.

71

Ao analisar o conjunto de publicações brasileiras em Gestão de Design dos últimos quinze

anos percebe-se que muito ainda se pode evoluir tanto em compreensão teórica da disciplina

quanto em pesquisa de campo. É interessante observar a ausência de referência nas bibliografias

aos autores internacionais de Gestão de Design e a pouca definição teórica apresentada mesmo

para os temas correlatos, já amplamente publicados no Brasil e no Exterior e sólidos como

campo teórico. Não se apresenta, nos artigos revisados, uma definição brasileira para o tema ou

um grupo sólido de estudos, mesmo entre os que mais publicam.

Percebe-se, nos artigos publicados no P&D, constante referência a artigos publicados em

edições anteriores do mesmo congresso. Embora isso fortaleça o P&D como objeto deste estudo,

dando a ele a importância como centralizador na publicação em design no Brasil, a construção

teórica proveniente deste mecanismo fragiliza a pesquisa. Outro ponto percebido nas análises diz

respeito ao rigor científico das pesquisas apresentadas, não similar ao praticado em áreas afins ao

tema, especialmente administração e engenharias. Ainda, é curioso o fato da notória redução de

artigos publicados em 2008, o que acontece em oposição à tendência mundial.

Por fim, quanto a pouca inserção da Gestão de Design nas indústrias brasileiras, pode-se

pensar que seja antecedente e conseqüência da relação com os estudos encontrados nesta análise

sistemática, formando um círculo vicioso que deverá ser quebrado para que Gestão de Design no

Brasil possa ser alavancada. De forma geral, ficam visíveis nesta análise algumas características

específicas da produção brasileira, especialmente ao passo que todos os artigos teóricos

demonstram a importância e necessidade do tema para empresas, ainda que não apresentem de

forma clara como ocorre esta relação. Esta constatação expõe uma lacuna importante na

construção teórica sobre Gestão de Design no Brasil apontando caminhos para a construção

teórica pela perspectiva brasileira, tanto na compreensão do tema quanto na sua aplicação e

mensuração.

72

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao finalizar a fundamentação teórica desta tese é importante pontuar que a estrutura

teórica apresentada para esta revisão partiu das observações da literatura, iniciadas ao definir-se

o tema da tese e aprofundadas ao longo do processo. Como esclarece a descrição do método no

item 1.3, a revisão teórica acompanhou todo o trabalho de campo e teve dele contribuição no que

se refere à disposição de alguns temas. Em especial, as entrevistas com especialistas, aliadas ao

material teórico pesquisado, permitiram o entendimento das três dimensões de design,

depreendidas do contexto estudado, como processo, competência e estratégia. Este trio de

dimensões permitiu estruturar tanto a fundamentação teórica quanto, principalmente, a

compreensão do design como ponto de partida para a Gestão de Design.

Ao analisar-se a oferta de material teórico sobre o tema percebe-se que para design existe

farto material, mas no que diz respeito à Gestão de Design muitas lacunas ainda deverão ser

preenchidas. A estruturação apresentada nesta fundamentação teórica exigiu a composição de

conteúdos para abranger e abordar o tema em sua complexidade. Muitos são os estudos com

experiências de empresas, fruto de observação, e também diversos são os artigos de opinião de

gestores ou interessados no tema, mas poucos são os que estabelecem e testam teorias. Parece

estar estabelecido o que é Gestão de Design e algumas das perspectivas desta nas empresas, bem

como existem definidos pressupostos básicos de que a Gestão de Design melhora a

produtividade, contribui com inovação e pode se dar de diferentes modos, com diferentes

propósitos. Entretanto, falta ainda estabelecer critérios de maturidade do processo e prescrições

de implantação da Gestão de Design. Deste modo, a estrutura aqui apresentada é inédita, fruto da

compilação do material existente, sustentada pela observação de campo e validada por

especialistas na área, consultados no Brasil e no exterior e, posteriormente, nas empresas

estudadas.

No Brasil, a situação é ainda mais pobre em termos de publicação, construção teórica e

exemplos práticos. Para analisar o contexto brasileiro, no qual se insere este estudo, a análise

sistemática desenvolvida permitiu revisar a publicação dos dois maiores repositórios de artigos

do tema no País. Encontrou-se, inclusive, um artigo que faz também uma análise sistemática,

mas de artigos americanos de revista ligada ao Design Management Institute utilizando

73

contagem de palavras de resumos e temas apresentados (MAGALHAES, 2006). Diferentemente

da análise apresentada no presente trabalho, que efetivamente leu e resumiu todos os artigos

encontrados no tema, diferenciando o peso das constatações obtidas.

Ainda, no caso brasileiro, o não reconhecimento do design, do designer nominalmente e

da Gestão de Design no principal modelo referencial desenvolvido no País (ROZENFELD et al.,

2006), bem como a compreensão da competência como parte do tema, juntamente com estratégia

e processo, somam-se ao percebido na fundamentação teórica como alavancas da necessidade de

uma sistemática de avaliação brasileira de Gestão de Design, baseada no entendimento da

competência, do processo e das estratégias, assim como existentes na indústria brasileira. Estas

três dimensões representadas na figura 10 se cristalizam como a base conceitual da sistemática a

ser desenvolvida neste trabalho.

Figura 10 – Dimensões de Gestão de Design

Neste contexto, a presente proposta de tese, uma Sistemática de Avaliação da Gestão de

Design, adequada ao caso brasileiro, se faz pertinente e é apresentada no capítulo que segue em

termos de procedimentos metodológicos e de construção, bem como, posteriormente os

resultados são apresentados e discutidos.

COMPETÊNCIA PROCESSO ESTRATÉGIA

Equipe; Modo de fazer e entender

design (métodos)

Relação entre as equipes; Inserção da equipe de design e

ambiente de integração

Controles estratégicos,

subordinação de equipes; Intenção e abordagem

74

3. MÉTODO

Condizente com os objetivos propostos, o método de pesquisa deste estudo caracteriza-se,

como mencionado anteriormente, como qualitativo, transversal e de amostra por conveniência

(MALHOTRA, 2001). As etapas descritas neste capítulo partem do desenho de pesquisa previsto

e são apresentadas conforme foram desenvolvidas com suas características específicas e de

acordo com a tarefa a ser cumprida e o objetivo almejado.

A estrutura da tese, em etapas, pode ser entendida através da figura 11, que apresenta as

etapas de campo e os objetivos almejados em cada uma destas. Na sequência, as etapas de

pesquisa são descritas detalhadamente, apresentando os procedimentos metodológicos de cada

uma, conforme aparecem no texto.

Figura 11 – Estrutura de Pesquisa: etapas e objetivos

Ao longo de suas etapas, com vistas ao desenvolvimento da sistemática de avaliação

planejada nesta tese, a presente pesquisa mantém seu caráter qualitativo. Sobre este método, é

FU

ND

AM

EN

TA

ÇÃ

O T

RIC

A

Entrevistas em profundidade

com especialistas

Entrevistas em profundidade

com designers nas empresas

Proposta da sistemática

Entrevistas em profundidade

para revisão da sistemática

Sistemática de avaliação da

gestão de design

Analisar o uso do design nas empresas

Mapear o processo no qual design está inserido,

identificando sua inserção, integração e correlação com

outras funções da empresa

Identificar o papel do design na dinâmica das empresas

Identificar como é feita a Gestão de Design nas empresas

Elencar fatores críticos de sucesso para Gestão de Design

Estabelecer as dimensões de Gestão de Design e suas

graduações de aplicação

Desenvolver uma sistemática de avaliação de Gestão de

Design nas empresas

ETAPAS DE PESQUISA OBJETIVOS DE PESQUISA

75

importante salientar que as questões de validade e confiabilidade devem ser entendidas de modo

diferente do que se entende em pesquisas quantitativas. Flick (2009) discorre sobre a necessidade

de uma mudança nos critérios tradicionais de avaliação de validade e confiabilidade de pesquisa,

adaptando estes conceitos tradicionais de pesquisa quantitativa à realidade da pesquisa

qualitativa. Sobre validade o autor contesta a utilização dos padrões quantitativos de controle

amplo das condições do estudo para a validade interna, o que leva a uma padronização na coleta

de dados quase inviável e inadequada para a pesquisa qualitativa. Para garantir a validade, sugere

um “redirecionamento da validade à validação e da avaliação de etapas individuais ou partes da

pesquisa, para aumentar a transparência do processo de pesquisa em seu conjunto” (FLICK,

2009, p. 35). Em relação a confiabilidade, sugere uma “concepção mais procedimental ... tornar a

produção dos dados mais transparente, de forma que nós (como pesquisadores ou leitores)

possamos verificar o que ainda é declaração do entrevistado e o que já é uma interpretação do

pesquisador” (FLICK, 2009, p. 32-33).

Seguindo a orientação de Flick (2009), nesta tese, os dados são tratados com o máximo

de regularidade, desde os roteiros de entrevistas, passando pelas transcrições até a análise dos

dados. A transparência sugerida para garantir confiabilidade é atendida pela inserção das

transcrições das entrevistas nos apêndices II e IV desta tese, bem como a conexão exigida entre

teoria e observação é atendida com vistas a preservar a validade dos dados obtidos e da pesquisa

em si.

Faz-se importante lembrar que as pesquisas qualitativas não têm, por definição do

método, a capacidade de generalização dos dados coletados, ficando estes restritos a amostra

pesquisada. Segundo Flick (2004), o contexto que engloba a pesquisa qualitativa, sempre

bastante específico em relação a sua problemática e foco, dificulta a generalização na pesquisa

qualitativa. Ainda assim, segundo o autor, pode-se obter um grau de generalização determinado

pelo pesquisador ao estabelecer três pontos: o grau de generalização desejado para o estudo, a

integração de casos e conceitos analisados empiricamente e, por fim, pela comparação

sistemática do material coletado Busca-se, através das etapas a seguir apresentadas, obter a

validade e a confiabilidade pertinentes ao estudo qualitativo de modo a alcançar um grau de

generalização com o qual seja possível avaliar a Gestão de Design no contexto das empresas

brasileiras.

76

3.1 ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS

As entrevistas com especialistas tiveram como objetivo avaliar a percepção do

profissional de design acerca da gestão de design nas empresas, elencando dados sobre o

processo de design na indústria e suas facetas gerenciais e operacionais e avaliando a

participação dos profissionais no processo bem como sua percepção do profissional acerca do

processo de design nas empresas.

Para tanto, e por ser esta uma etapa preliminar de compreensão do tema de tese, optou-se

por empregar uma pesquisa de caráter exploratório, com técnica qualitativa. Segundo Malhotra

(2001), pesquisa exploratória é “um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo o

fornecimento de critérios sobre a situação-problema enfrentada pelo pesquisador e sua

compreensão”. Investigativa e profunda por natureza, a pesquisa qualitativa é a mais indicada

para captar aspectos relacionados à percepção dos indivíduos sobre um tema. Assim, foi capaz de

abordar mais aberta e especificamente e com maior precisão todos os objetivos desta etapa de

trabalho. A técnica qualitativa foi também escolhida, pois evita que pessoas totalmente

desconhecedoras do tema respondam à pesquisa, protegendo os dados de um inconveniente viés.

A geração de informação para esta etapa do trabalho foi desenvolvida através de

entrevistas em profundidade aliadas à pesquisa bibliográfica concomitante. Entrevistas em

profundidade foram conduzidas através de roteiros semi-estruturados (apêndice I) construídos

utilizando, além das perguntas tradicionais, a Técnica do Incidente Crítico (FLANAGAN, 1954)

para abordar lembranças de projetos antigos. Para Malhotra (2001) as entrevistas em

profundidade são não estruturadas, diretas e pessoais, nas quais um respondente é entrevistado a

fim de descobrir suas motivações, crenças, atitudes e opiniões acerca de determinado tema. Já a

Técnica do Incidente Crítico ou CIT (Critical Incident Technique) registra histórias que as

pessoas contam sobre incidentes e faz perguntas sobre tais histórias, de modo a entender os

eventos e comportamentos associados com cada incidente. A técnica é particularmente adequada

quando a complexidade associada ao estudo de um fenômeno interpessoal dificulta a

especificação de todas as variáveis necessárias ao entendimento do assunto. O procedimento da

CIT consiste em solicitar aos respondentes que contem histórias e/ou relatem eventos, algo que a

77

maioria das pessoas faz com muita facilidade, além de gostarem de fazê-lo. A responsabilidade

de abstrair e inferir são do pesquisador e não dos respondentes.

Em conjunto com as entrevistas, e como suporte para a análise dos dados coletados, uma

etapa bibliográfica foi desenvolvida. Provocada pela inconsistência de algumas respostas,

principalmente no que se referia à conceituação de design, fundamental para esta tese. Também

pela necessidade de avaliações teóricas para uma melhor compreensão do tema a fundamentação

teórica desenvolvida aparece como suporte e costura dos temas abordados nas entrevistas.

Os dados foram transcritos, organizados e analisados seguindo parâmetros de pesquisa

qualitativa (FLICK, 2004). Por se tratar de entrevistas com especialistas, a narrativa foi

empregada em diversos momentos para dar voz ao entrevistado, transmitindo sua experiência

(GIBBS, 2009). Analisados através de análise de conteúdo, em conjunto com os fundamentos

apanhados da literatura, os dados provenientes das entrevistas foram transformados em

informações através de sua passagem pelas fases de descrição, análise e interpretação.

Quanto à amostra, esta é considerada como não probabilística, por conveniência e

julgamento (MALHOTRA, 2001). Foram contatados cinco respondentes que poderiam, por suas

atividades profissionais, contribuir com a pesquisa, fornecendo dados e informações confiáveis e

aprofundadas. Entre estes, responderam ao contato os dois escritórios entrevistados que

destacam-se: o primeiro é formado por três profissionais de design reconhecidos e premiados,

com mais de 50 anos de atuação profissional e o segundo por ser um administrador de associação

de direito privado, sem fins lucrativos de um programa misto (público e privado) de apoio ao

desenvolvimento e gestão do design.

Além dos resultados obtidos nesta etapa, suprindo seus objetivos, foi evidenciada a

necessidade de progredir o assunto para a análise da realidade da Gestão de Design nas

empresas, focando o processo interno de design como objeto desta tese.

78

3.2 ENTREVISTAS COM DESIGNERS NAS EMPRESAS

As entrevistas com designers nas empresas tiveram como objetivo conhecer o processo

interno das empresas no que tange ao design e analisar a existência da Gestão do Design nas

indústrias. As entrevistas buscaram perceber como as empresas se organizam para o design, com

quais métodos e processos e qual a compreensão da empresa e do designer acerca do uso de

design como estratégia competitiva.

Nesta etapa, o método de pesquisa qualitativo foi novamente utilizado com entrevistas em

profundidade aplicadas com o auxílio de um roteiro semi-estruturado (apêndice III). A escolha

desta técnica está calcada na idéia de que o entrevistado, abordado por um só pesquisador, sem a

presença de seus colegas ou superiores, tem mais liberdade para colaborar com a pesquisa,

comentando temas e explicando processos.

Para estas entrevistas, foram selecionadas empresas nas quais se sabia de antemão da

existência de equipes e processos de design internos, foco deste estudo. Assim sendo, a amostra

pode ser caracterizada como não probabilística, por conveniência e julgamento (MALHOTRA,

2001). Foram contatadas cerca de quinze empresas do Rio Grande do Sul, sendo que onze

viabilizaram as entrevistas desta etapa. Seguindo o que preconizam as regras éticas de pesquisa

qualitativa (GIBBS, 2009), as entrevistas foram descritas como anônimas, preservando a

identidade dos colaboradores desta pesquisa e da própria empresa descrita (tabela 5).

Tabela 5 – Amostra - Perfil das empresas entrevistadas

Empresa Setor de Atuação

Número de

Funcionários

(aprox.)

Entrevistado Cidade

A Calçados 19.500 Designer Chefe Farroupilha

B UD – vidro, prata e inox 100 Engenheiro de Produção Caxias do Sul

C Pincéis 500 Designer Chefe

Esteio

D UD – térmicos 550 Designer Chefe

Porto Alegre

79

E Carrocerias 1.700 Designer Chefe

Caxias do Sul

F UD – plásticos 100 Designer Chefe

Caxias do Sul

G Componentes metálicos 600 Designer Chefe

Sapiranga

H Componentes metálicos 100 Designer Chefe

Bento Gonçalves

I Móveis 500 Analista de Produtos e Complementos

Departamento de marketing Bento Gonçalves

J Móveis 230 Coordenador de Suprimentos

Desenvolvimento de Produto Bento Gonçalves

K UD – Plástico 500 Designer Chefe Esteio

É possível apresentar a amostra, escolhida por conveniência, como diversa. Esta

diversidade não resulta meramente da conveniência na escolha das empresas, mas também da

intenção de avaliar o objeto deste estudo em situações diversas, não homogêneas, fazendo jus à

lógica de que a diversidade da amostra ajudaria a esclarecer as diversas facetas do fenômeno em

estudado.

Descobertos os responsáveis pela área de design das empresas em questão, estes foram

contatados por e-mail ou telefone para combinar a entrevista. A pesquisadora compareceu

pessoalmente nas empresas, entre janeiro de 2008 e novembro de 2009, aplicando o roteiro de

entrevistas, conversando com os entrevistados e conhecendo as indústrias. De um modo geral, as

entrevistas duraram uma hora e trinta minutos. As respostas dos entrevistados foram anotadas e

gravadas, sendo posteriormente transcritas para arquivos do software Word, individualmente.

Segundo Flick (2004), a questão da validade e da confiabilidade da pesquisa qualitativa está

muito ligada à questão da sistemática de trabalho e tratamento de dados. Desta forma, cuidou-se

para que, em um primeiro momento, a íntegra da entrevista fosse transcrita e guardada.

Posteriormente foi dada forma e lógica aos relatos dos entrevistados para chegar ao ponto no

qual foram feitas as análises dos dados qualitativos.

Seguindo uma mescla das classificações de análise de dados qualitativos - análise de

conteúdo, de narrativa e de comparação - apresentados por autores como Flick (2004; 2009) e

Gibbs (2009), os dados coletados para esta etapa foram analisados na busca por explicar os

80

pontos ligados ao design e a Gestão de Design nas empresas. O primeiro passo após a transcrição

individualizada das entrevistas foi planificar a sequência lógica de projeto, desenhadas ao longo

das entrevistas pelos entrevistados e validados no final da entrevista. Estas planificações,

apresentadas no quadro 12, refletem os processos de design destas de modo a permitir a

comparação entre as empresas e a comparação com o que as entrevistas com especialistas

apontavam. A busca por similaridades em processos e modos de organizar o design e seu método

foi um importante balizador da análise, que buscou também inferir e deduzir antecedentes e

motivações para as diferentes características das empresas ao gerenciar design.

A análise de dados desta etapa de pesquisa permitiu também observar nas empresas

tópicos teóricos, auxiliando a dar forma às dimensões da sistemática proposta. Desenvolvidas as

duas primeiras etapas de entrevistas e considerando as referências teóricas pesquisadas, foi

desenvolvida a proposta preliminar de Sistemática de Avaliação da Gestão de Design (apêndice

XI).

3.3 AVALIAÇÃO E ALINHAMENTO DA SISTEMÁTICA

Como fechamento do estudo proposto nesta tese uma última etapa de pesquisa foi

desenvolvida. Pretendeu-se, com esta etapa, avaliar a sistemática proposta nesta tese, alinhando

sua forma final às percepções dos entrevistados e a realidade das empresas que têm equipes

internas de design. Para tanto, entrevistas em profundidade, de caráter qualitativo foram

procedidas, junto a designers já entrevistados anteriormente e com especialistas no tema, tanto

acadêmicos quanto de mercado.

A escolha destes dois perfis de entrevistados encontra justificativa na própria necessidade

de avaliação da sistemática desenvolvida, na busca por tê-la o mais alinhada possível à realidade

das empresas, de modo que seja útil para estas como instrumento de avaliação. A amostra para

esta etapa de pesquisa qualitativa foi escolhida por conveniência e julgamento e foi composta

por: (a) cinco dos onze designers entrevistados na etapa anterior desta pesquisa, (b) os dois

especialistas entrevistados na primeira etapa desta pesquisa de tese e (c) por quatro professores

especialistas em design e/ou gestão de design. O conhecimento dos entrevistados e sua vivência

81

junto à empresas, em perspectivas variadas, permitiu alcançar o objetivo e amadurecer a proposta

da sistemática. Os designers puderam reavaliar a situação de suas empresas em relação à

entrevista anterior, avaliar o procedimento gerado como adequado para Gestão de Design nas

empresas, além de analisar a possibilidade de aplicação da sistemática nas suas empresas,

contribuindo com um olhar interno sobre eventuais dificuldades na dinâmica da proposta,

vantagens do seu uso, pertinência e compreensão dos itens da escala para medir entendimentos

quanto ao design. Os especialistas de mercado foram entrevistas importantes, pois sua vivência

na relação designer versus empresa contribuiu para que pudessem fazer a análise das dimensões

e facetas da Gestão de Design propostas nesta sistemática. Puderam, também, avaliar a

aplicabilidade da sistemática e apontar eventuais pontos de dificuldade nesta. Por fim, as

entrevistas com especialistas professores auxiliaram na avaliação geral da sistemática e,

especialmente na avaliação do modelo de dimensões e facetas de Gestão de Design, auxiliando a

garantir a validade de conteúdo de base da proposta.

Para a aplicação desta etapa de pesquisa três roteiros de entrevistas semi-estruturados

foram desenvolvidos, cada um adequado ao tipo de entrevistado (apêndices V, VII e IX). As

entrevistas foram cuidadosamente registradas, e posteriormente analisadas através da análise da

narrativa dos entrevistados, observando as recomendações de Flick (2004; 2009) e Gibbs (2009)

sobre a importância dos procedimentos na qualidade na pesquisa qualitativa. O resultado desta

última etapa foi o alinhamento de alguns itens da sistemática e a recomendação de seu uso, bem

como a apresentação da própria sistemática e do modelo de compreensão de Gestão de Design.

82

4. RESULTADOS

Os resultados das etapas de pesquisa procedidas para esta tese são apresentados seguindo

a lógica estabelecida, desde as entrevistas com especialistas e com as empresas, até a proposta de

sistemática desenvolvida e a avaliação das empresas sobre o procedimento.

4.1 ENTREVISTAS COM ESPECIALISTAS

A análise das entrevistas procedidas permite avaliar uma série de posicionamentos e

impressões provenientes da percepção dos profissionais do design em relação à gestão deste.

Iniciando pela definição de design e seguindo pela organização deste nas empresas brasileiras,

suas vantagens e desvantagens, esta etapa do trabalho pretendeu avaliar os principais achados da

pesquisa, salientando aspectos da realidade do design que auxiliam a responder ao objetivo de

pesquisa desta tese.

Considerando as diversas definições de design e suas ligações com projeto os

entrevistados concordam com a dificuldade gerada pelo próprio nome design, seja pelo

desconhecimento da maioria da população e do empresariado ou pela própria polêmica entre os

profissionais acerca do melhor termo a ser utilizado. Embora muitos profissionais prefiram, e o

Ministério da Educação tenha autorizado o uso do termo design, parece aos entrevistados que

Desenho Industrial ainda é o vocábulo melhor compreendido pelo público em geral, pois

dimensiona e sinaliza melhor a profissão, permitindo uma compreensão melhor das atribuições e

competências dos profissionais. O ruído na comunicação proveniente da polêmica acerca do

nome salienta a necessidade de uma melhor divulgação do design como ferramenta para

desenvolvimento de produtos e identidades e também de sua capacidade de geração de valor para

o cliente.

A despeito das dificuldades com a terminologia, e com o conhecimento por parte dos

empresários acerca do design e de suas vantagens observou-se, ao longo das entrevistas a

importância da condução do processo, tanto por parte das empresas como pelos profissionais.

83

Ficou evidenciado que existem dois fatores chave de sucesso na relação entre profissional de

design e empresa: confiança e transparência (honestidade). A confiança se estabelece no

momento que existe transparência entre as partes, sendo que a empresa apresenta sua realidade e

o profissional suas habilidades em relação ao projeto que será desenvolvido.

Em relação à transparência da empresa, os entrevistados concordam que os processos

internos da empresa devem estar alinhados antes do início do processo de design ou de

desenvolvimento de produto. Neste contexto, a empresa, com as capacidades e parâmetros

administrativos bem mapeados, tem condições de avaliar adequadamente sua necessidade de

mudança e uso de design, sua realidade para receber o projeto e o processo, bem como os ganhos

resultantes deste processo. Além disso, a empresa consegue fornecer para o designer informações

mais precisas para o desenvolvimento do projeto. Nas micro e pequenas empresas o bom

dimensionamento destas capacidades é crítico e, embora não o maior problema nas grandes

indústrias, também é um fator importante para o sucesso dos projetos nas empresas maiores.

Também nas grandes empresas a desconfiança do empresário e dos funcionários parece ser uma

barreira ao desenvolvimento do projeto de design.

Quando se menciona as barreiras internas, que atrapalham o desenvolvimento dos

projetos, considera-se superada a barreira externa, que precede à contratação do designer. Os

entrevistados salientam que a atitude da empresa, de olhar o seu mercado, geralmente resulta em

projetos de sucesso. Infelizmente, os empresários que se preocupam com design são, ainda,

considerados visionários, embora esta atitude resulte em benefícios.

De outra forma, nas entrevistas fez-se claro também que o despreparo do gestor pode

explicar o pouco uso do design nas empresas. Nas grandes empresas, o design acaba chegando

com maior frequência, provavelmente pelas influências do exterior, como visitas a feiras.

Enquanto que nas micro e pequenas empresas o design chega por meio de programas de

incentivo. Percebe-se também que além de “olhar para o mercado”, existem outros fatores de

sucesso que podem ser salientados na análise das entrevistas efetuadas, como controles

administrativos e capacidade produtiva bem avaliada pela própria empresa. Embora vivenciem

realidades diferentes pequenas, médias e grandes empresas oferecem barreiras à implantação de

84

processos de design e usufruem das vantagens do seu uso. Deste modo, têm-se o quadro 8 de

resumo dos fatores de sucesso, barreiras e vantagens do design, elencados pelas entrevistas.

Fatores de Sucesso Barreiras ao Projeto Vantagens do Design

Controle Administrativo Uso sistemático da cópia em projetos Melhora na produção

Informações disponíveis para o

projeto

Diretoria relutante em aceitar o projeto Aumento das vendas

Capacidade produtiva bem avaliada Funcionários que não colaboram Aumento de performance

Visão empresarial

Desconhecimento do design

Impacto no consumidor

Reforço da marca

Quadro 8 – Fatores de sucesso, barreiras e vantagens do processo de Design

Uma vez ultrapassadas as primeiras barreiras com relação à implantação de projetos de

design, os entrevistados apresentam suas dinâmicas de trabalho e pode-se apresentar duas figuras

(12 e 13), oriundos do material das entrevistas, que sinalizam os procedimentos adotados por

diferentes equipes para delinear e conduzir processos de design. O primeiro modelo (figura 12)

foi montado a partir dos dados oferecidos pela primeira entrevista, com os três componentes de

uma das mais conhecidas equipes de design de produto do Brasil. O processo se inicia com o

contato da empresa ou indústria solicitando os serviços dos designers. A partir de uma conversa

inicial, o problema a ser resolvido é construído, delineado. Assim, os profissionais iniciam seu

trabalho buscando alternativas de soluções a serem desenvolvidas. O ponto seguinte é a

avaliação destas alternativas e o início do projeto em si, que inclui os desenhos, protótipos e

modelos. Por fim, o projeto passa para a fase de produção, que também é acompanhada pelos

entrevistados, profissionais que têm formação (graduação) em engenharia. No contexto de

trabalho desta equipe é importante salientar que, embora tenha o seu escritório, que atende

diversas indústrias, os designers deste escritório costumam instalar-se nas empresas para estar

mais próximos destas nos projetos.

Figura 12 – Modelo apresentado pelo Entrevistado 1

Contato da

empresa

Construção

do Problema

Alternativas

de Solução

Projeto Produção

85

O segundo modelo foi estruturado seguindo o relato do segundo entrevistado e é

usualmente aplicado por equipes na condução de projetos de design em micro e pequenas

empresas.

Figura 13 – Modelo apresentado pelo Entrevistado 2

Seguindo o segundo modelo, o primeiro passo do desenvolvimento do projeto de design é

um diagnóstico de marketing e de produção, que visa avaliar a situação prévia ao projeto.

Identificada a situação inicial, tanto da empresa quanto do mercado, o projeto é iniciado

considerando a capacidade produtiva da empresa e a demanda existente. Os primeiros desenhos

são feitos e, quando aprovado o desenho conceito, os protótipos são desenvolvidos. A seguir, é

iniciada a produção do produto e sua conseguinte venda. Ao longo de todo o processo, pesquisas

de tendências balizam as decisões.

Nas entrevistas efetuadas, procurou-se buscar a experiência dos profissionais em design

como balizadores e avaliadores da situação do design nas empresas. A percepção destes

profissionais acerca da gestão do design nas empresas permite analisar o quê e como têm sido

encaminhados os processos. Através das entrevistas, foi possível perceber que ainda existe muito

desconhecimento do design nos meios empresariais e que os profissionais têm grandes

dificuldades geradas justamente pelo desconhecimento. Este acaba por sonegar informações

preciosas para os projetos impedindo boas práticas que, muitas vezes, gera prejuízos. Ainda

assim, os entrevistados se mostram esperançosos, acreditam firmemente na evolução das

relações, no desenvolvimento dos projetos e na provável melhora das práticas de gestão de

design nas empresas.

Pesquisa de tendências

Diagnóstico de

Marketing

Diagnóstico de

Produção

Primeiros

Desenhos

Protótipos Produção Vendas

86

Assim, as entrevistas apresentam profissionais que percebem seu mercado com muitas

dificuldades, mas que são conscientes da importância e do valor de seu trabalho. Foi possível

também elencar dados sobre o processo de design na indústria e suas facetas gerenciais e

operacionais, visualizando as diferenças entre as empresas e as etapas e identificando os pontos

críticos do processo.

Analisadas as entrevistas e salientados os pontos de maior importância é possível avaliar,

mesmo preliminarmente, no contexto atual, que o que se percebe pode não ser exatamente

Gestão do Design, ou pelo menos, não como um todo. Embora modelos tenham sido

apresentados pelos entrevistados, estes apenas ensaiam uma estrutura ligada ao processo de

design. Ao analisar estas estruturas sob a ótica da gestão, envolvendo questões estratégicas da

empresa, percebe-se que os modelos elencados pela pesquisa são ainda incipientes.

Relacionando-se as experiências mencionadas com modelos teóricos, percebe-se também que a

maioria destes são fracionados e facetados, naturalmente seguindo a perspectiva de quem o

menciona e sua área de estudos. Ainda que esta situação seja natural, provavelmente ela indique

que nenhum dos modelos revisados contém a solução em si.

Deste modo, propõe-se uma conjugação de diversos modelos analisados em um primeiro

esboço de modelo integrado de gestão de design. O modelo proposto parte da noção teórica que

referencia os níveis de gestão organizacional (estratégico – tático – operacional) para salientar a

importância que deve ser dada ao pensar design como ferramenta estratégica e de diferencial

competitivo. No caso de projetos de design, percebe-se que estes deveriam iniciar no nível

estratégico, quando a direção da empresa, Orientada para o Mercado, colocaria valor para o

cliente como alvo dos negócios e o design como ferramenta estratégica para atingir estes valores.

Em nível tático, a empresa privilegiaria design como ferramenta para projetos e processos de

desenvolvimento de identidade ou produto. Sendo assim, a contratação de equipes e profissionais

de design seria atribuição do nível tático que, em conjunto com a equipe, desenvolveria os

projetos a serem implementados pelo nível operacional, resultando no quadro 9.

87

Níveis de Gestão Significando Para o Design

Estratégico Intenção estratégica

Orientação para Mercado

Cultura Organizacional

Design como Orientação Estratégica

Tático Gestão de projetos Contratação e desenvolvimento de

design

Operacional Realização de Projetos Engenharia

Produção

Comercialização

Quadro 9 – Níveis de Gestão versus Gestão de Design

Relacionando os níveis gerenciais com a etapa preliminar a um projeto de design, torna-

se especialmente importante, pois determina como o design será utilizado pela empresa. Assim,

pode-se considerar que, em nível estratégico, estaria a intenção estratégica de utilizar o design

como ferramenta competitiva. Enquanto que, no nível tático, estaria a informação disponível e

disseminada na empresa, que permitiria a transparência salientada nas entrevistas. Seria então

atribuição do nível tático dar condições para o desenvolvimento do projeto. Em nível operacional

estariam os controles administrativos básicos, mencionados na segunda entrevista e

fundamentais para o bom andamento do processo. Pode-se também entendê-los como os

facilitadores do aprendizado organizacional que, mais adiante, validarão o processo fornecendo

para o nível estratégico as informações sobre as vantagens do design.

No quadro 10 encontram-se os níveis de gestão das empresas relacionados à fase

preliminar, de pré-projeto de design.

Estratégi co Intenção estratégica

Orientação para Mercado

Cultura Organizacional

Intenção

estratégica de uso do

design como diferencial

competitivo

88

Níveis de

Gestão da empresa

Tático Gestão de projetos Disponibilização

da Informação

Disseminação da

Informação

Condições para o

projeto

Operacional Realização de Projetos Controles

Administrativos

Quadro 10 – Níveis de Gestão versus pré-projeto

Avaliando a tabela, e relembrando as entrevistas, fica clara a necessidade de informações

prévias ao projeto para que este se concretize com sucesso. Embora esta etapa anterior ao projeto

em si tenha sido explicitada por uma entrevista, percebe-se, nas entrelinhas das entrevistas sua

necessidade. Controles administrativos como capacidade de produção, percentual da fábrica

disponível para novos projetos, alcance da logística, e muitas vezes até faturamento são

desconhecidos das empresas e devem ser considerados na etapa pré projetual. Segundo um

entrevistado “Muitas vezes, assisti empresa contratarem designers e não conseguirem

desenvolver o projeto ou não conseguirem produzir o que foi projetado (por não ter estas

informações básicas sobre a própria empresa).” Relacionando a literatura à realidade, esta etapa

de pré-projeto fica ainda mais evidente.

Ainda, comparando as fases do pré-projeto de design com os níveis gerenciais, pode-se

relacionar a estes as fases de projeto apresentadas pelos modelos genéricos elencados na

pesquisa bibliográfica. Formando um quadro 11, que apresenta a relação entre os níveis

gerenciais, questões fundamentais para o pré-projeto de design e as etapas do projeto de design

segundo os modelos teóricos de Bomfim (1977), Kotler (1988) – ciclo de vida de produto e

Kotler e Rath (1984).

89

Níveis de Gestão

da empresa Pré-projeto

Bomfim (1977)

Kotler (1998) Kotler e Rath (1984)

Estratégico Intenção estratégica

de uso do design como

diferencial

competitivo

Tático Disponibilização da

Informação

Disseminação da

Informação

Condições para o

projeto

Operacional

Controles

Administrativos

Quadro 11 – Níveis de Gestão versus Autores de Métodos Genéricos

Inicialmente, os modelos destes autores foram importantes para a construção desta tese,

pois proporcionaram uma primeira compreensão acerca do tema e de suas características.

Permitiram, também, perceber as dimensões do design em uma empresa e as características da

inserção da Gestão de Design nestas. A experiência apresentada pelos especialistas

Problematização

Análise

Desenvolvimento

Implantação

Ciclo de Vida de

Produto

Geração de idéias

Seleção de idéias

Desenvolvimento

de Produto

Testes de Mercado

Desenvolvi

mento. de

Conceitos e

Testes

Estratégia

Marketing

e Negócios

Comercialização

Tático /

Operacional

Estratégico /

Tático

90

A relação entre as entrevistas e os modelos genéricos de design salienta a necessidade de

uma seqüência de passos que privilegie o encadeamento dos processos e das dimensões de uma

empresa, para que esta desenvolva e gerencie bons projetos de design. Desde o passo inicial,

dado pela direção da empresa, em nível estratégico, até a comercialização dos produtos, em nível

operacional é importante que os três níveis gerenciais da empresa envolvam-se nos diferentes

estágios de projeto. Dando, deste modo, suporte e validação ao processo como um todo e

proporcionando à empresa aprendizado. Observando-se as realidades elencadas nesta etapa de

pesquisa, a disponibilização e a disseminação de informações para o projeto são, em conjunto

com a intenção estratégica da empresa, pontos fundamentais para o desenvolvimento de projetos

legítimos de design.

Avaliando a colocação da seqüência de passos proposta por Kotler e Rath (1984),

percebe-se que muitas das etapas propostas situam-se, em realidade, em zonas mistas entre os

níveis gerenciais. No modelo de ciclo de vida de Bomfim (1977) acontece o mesmo, bem como

no modelo de Hein (1984). É provável que isso aconteça justamente pela integração preconizada

pela Gestão de Design para o bom andamento dos processos.

Ao mesmo tempo em que a etapa de pré-projeto mostrou-se de fundamental importância,

a etapa de finalização dos projetos também parece muito importante, visto que é ela que fornece

as informações de resultados do projeto, comprovando para o empresário e para a direção da

empresa a validade do engajamento nos processos de design. Esta última etapa provê também a

orientação necessária para os próximos projetos.

A proposta de um único gráfico, figura 14, privilegia a visão única do projeto de design,

desde a estratégia até o mercado passando pelo desenvolvimento de valor para o cliente. Tendo

como premissa a integração das fases em toda a empresa e durante todo o processo o modelo

apresentado funciona também como um gerador de informação e conhecimento para a empresa.

Apresenta-se, assim, a seguinte seqüência proposta como modelo preliminar e genérico de

Gestão do Design.

91

Figura 14 – Processo Preliminar de Gestão do Design

Na coluna da esquerda do procedimento, encontram-se os três níveis de gestão da

empresa, na do meio as etapas do processo e à direita, breves explicações sobre as fases.

Analisando cada etapa do modelo proposto, encontra-se o que segue.

O processo se inicia no nível estratégico de gestão da empresa, momento no qual a

administração decide utilizar o design como ferramenta estratégica para gerar valor para o cliente

e diferencial competitivo. Nesta etapa cabe à direção, acompanhada de profissionais ou de

equipes de design, definir o problema a ser solucionado com o produto, gerar idéias e triar as

Nível Tático Testar idéias no

mercado e com a

produção

Avaliar as idéias em relação às informações de

mercado e da capacidade produtiva da empresa.

Pesquisa de demanda latente

Teste de

produção e

protótipos

Desenvolvimento

do Produto

Estágio

Estratégico

Definir o

Problema

Gerar e triar

idéias

Decisão estratégica de utilizar o design como

ferramenta para diferencial competitivo

Nível Estratégico

Teste de

Mercado

Design, ergonomia, produção, engenharia

antropologia, sociologia, arte – todos os fatores do

design – Processo tático e operacional

Comercialização

Nível

Operacional

Etapa conjunta entre os níveis estratégico, tático e

operacional

Entrada no ciclo de vida de produto e geração de

informação para alimentar novos processos

92

melhores opções. Aqui, a análise de negócio e estratégica das idéias que surgem são importantes,

pois vão determinar que tipo de abordagem será seguida no design dos produtos, bem como

ponderar até que ponto as opções têm relação com a missão e os objetivos da empresa é

pertinente.

O nível tático do processo inicia-se com o teste das alternativas de projeto junto ao

mercado e as equipes de engenharia e produção da empresa. Pesquisas de mercado para testar

necessidades latentes, não expressas pelo cliente, podem auxiliar nesta etapa. A etapa tática

prossegue com o projeto de produto em si sendo desenvolvido, preferencialmente, por uma

equipe multidisciplinar. Neste momento, todos os fatores de design enumerados por Redig

(1977) entram em cena, juntamente com as possibilidades conjuntas destacadas por Hein (1984).

O processo de Gestão de Design segue, então, para o nível operacional. Neste passo, os

testes de protótipos e produção são desenvolvidos e o projeto é avaliado em termos de

engenharia e produção. Nesta fase, últimos ajustes são efetuados, pois se espera que as

discussões acerca da capacidade produtiva e dos materiais tenham sido desenvolvidas em estágio

anterior.

Os testes de mercado desenvolvidos com os primeiros exemplares saídos da fábrica e

antes da comercialização são acompanhados por integrantes dos três níveis gerenciais da

empresa como um momento de validação do trabalho e certificação da oferta, enquanto valor

para o cliente. Pesquisas de mercado qualitativas podem ser bons instrumentos para testar a

percepção e o uso do produto, proporcionando informações válidas sobre os sentimentos e

preferências do consumidor, antes mesmo que o produto chegue ao mercado. Eventuais ajustes

ainda poderão ser feitos, principalmente no que tange à marca e à embalagem.

Finalmente, a comercialização é a etapa operacional que distribui, precifica e promove o

produto, oferecendo o mesmo ao mercado. Além do produto em si, completa-se nesta etapa a

oferta do composto de marketing (KOTLER, 1998) que circunscreve o produto desenvolvido.

Neste momento o produto inicia o seu ciclo de vida conhecido, saindo do ciclo estendido

proposto por Bomfim (1977). Este último momento do modelo proposto permite também fechar

um ciclo dentro da empresa, ofertando novamente à alta administração os resultados do processo

93

e a toda empresa um ciclo de aprendizado. É importante ressaltar que o modelo proposto oferece

à empresa oportunidades de discutir o processo e decidir caminhos, promovendo na empresa

aprendizado de ciclo duplo (double loop learning), considerado o verdadeiro aprendizado

organizacional (ARGYRIS, 2000).

Assim, considerando a integração dos níveis gerencias, das etapas de projeto e das fases

do projeto de design em si, entende-se que o modelo prelimiar proposto deve, provavelmente: (a)

salientar nas empresas seus fatores de sucesso, (b) auxiliar a diminuição de barreiras e (c)

promover vantagens decorrentes do design.

Por fim, o modelo preliminar desenhado e a análise das entrevistas com os especialistas,

aliada à fundamentação teórica pesquisada até o momento desta análise, permitem definir três

pontos são fundamentais, no que diz respeito ao design e a Gestão de Design nas empresas: (a) o

método de projeto utilizado pela equipe de design e como ele se encaixa no processo da empresa

como um todo, (b) as competências reunidas na equipe de design e nas direções de empresa

ligadas a este processo e (c) a estratégia escolhida pela empresa para se posicionar no mercado e

a consequente utilização estratégica (ou não) do design.

4.2 ENTREVISTAS COM DESIGNERS NAS EMPRESAS

Com o objetivo de visualizar e analisar o processo de design e Gestão de Design dentro

de empresas foram entrevistados onze profissionais responsáveis pelos departamentos de design

de onze empresas escolhidas, por conveniência, por apresentarem processos de design ou

procedimentos relacionados ao design gerenciados de algum modo. Não se buscou classificar as

empresas pesquisadas segundo os modelos teóricos encontrados, pois classificar as empresas não

foi o foco da pesquisa desenvolvida, mas sim verificar o modo como design é gerenciado nas

empresas em busca de desenvolver uma sistemática de avaliação para a questão. Ainda assim, os

tópicos teóricos de fundamento da Gestão de Design foram utilizados para guiar as entrevistas e

a análise dos dados.

94

As empresas entrevistadas, caracterizadas conforme o tabela 6, responderam a perguntas

de um roteiro de entrevistas semi-estruturado (apêndice III) que visou abordar questões

relacionadas às três dimensões de design (processo, competência e estratégia) e as três

características da inserção da Gestão de Design nas empresas: abordagem, integração e intenção.

Deste modo, os profissionais entrevistados puderam comentar sobre o modo como as empresas

entendem e gerenciam design, sobre os departamentos, o processo e o método.

Tabela 6 – Perfil das empresas entrevistadas

Empresa Setor de Atuação

Número de

Funcionários

(aprox.)

Entrevistado Cidade

A Calçados 19.500 Designer Chefe Farroupilha

B UD – vidro, prata e inox 100 Engenheiro de Produção Caxias do Sul

C Pincéis 500 Designer Chefe

Esteio

D UD – térmicos 550 Designer Chefe

Porto Alegre

E Carrocerias 1.700 Designer Chefe

Caxias do Sul

F UD – plásticos 100 Designer Chefe

Caxias do Sul

G Componentes metálicos 600 Designer Chefe

Sapiranga

H Componentes metálicos 100 Designer Chefe

Bento Gonçalves

I Móveis 500 Analista de Produtos e Complementos

Departamento de marketing Bento Gonçalves

J Móveis 230 Coordenador de Suprimentos

Desenvolvimento de Produto Bento Gonçalves

K UD – Plástico 500 Designer Chefe Esteio

A amostra, escolhida por conveniência, é composta por empresas grandes, médias e de

pequeno porte, situadas na região metropolitana de Porto Alegre e na Serra Gaúcha. São

empresas existentes no mercado há pelo menos 10 anos, algumas com bem mais tempo de

95

existência, produzindo bens de consumo. Os entrevistados foram escolhidos por sua ligação

direta com as questões de design das empresas, sendo o designer-chefe ou responsável do

departamento ou o profissional responsável por esta atividade na empresa.

A primeira parte das entrevistas visou identificar a empresa como um todo e explorar a

realidade do design dentro desta. Assim, ao iniciar a conversa com o entrevistado, foi solicitado

que este descrevesse um pouco do histórico das empresas e seus produtos. Isto, como modo de

iniciar a conversa e também de perceber como a empresa se posiciona no mercado. Foi possível

perceber que os entrevistados indicam que suas empresas têm a qualidade de seus produtos como

diferencial competitivo e característica principal, considerando que estes atributos são

reconhecidos pelos clientes, bem como suas marcas. Design também foi mencionado como

diferencial e elemento importante para as empresas.

Provavelmente, por suas características produtivas, históricas e de dimensões diversas, os

organogramas das empresas pesquisadas sejam diferentes uns dos outros. Em comum percebe-se

que no topo existe uma diretoria principal ou presidência. Abaixo destas distribuem-se as

diretorias comerciais, industriais, de marketing, financeiras entre outras. O departamento de

design, ou de desenvolvimento de produto, está subordinado a diferentes diretorias, dependendo

da empresa. Ora ligado ao departamento comercial (empresas C, K), ora ao marketing (empresas

I e K) ou à engenharia de produto ou departamento industrial (empresas J e D), o departamento

de design aparece ligado, primordialmente a presidência da empresa (empresas A, B, E, F, G e

H). Embora não pareça existir regra, ou melhor prática para esta questão, observa-se que

diversos diretores envolvem-se nos processos ligados a design, e frequentemente o próprio

presidente envolve-se. Considerando o envolvimento do presidente, observado nas entrevistas,

poder-se-ia esperar que a abordagem das empresas para com a Gestão de Design e a inserção do

design e sua gestão fosse estratégica, muito mais do que gerencial. Entretanto, não é exatamente

o que se observa. Nas empresas de bens de consumo com forte apelo ao consumidor (A, D, F,

K), a abordagem é mais voltada para design com abordagem estratégica, enquanto que em

empresas nas quais o design está ligado ao desenvolvimento do produto em si e a

operacionalização deste processo (empresas B, C e J) a abordagem é gerencial. Resgatando o

conceito de Borja de Mozota (2003), na abordagem gerencial o design é utilizado como

ferramenta para incrementar o funcionamento da empresa e os produtos em si acomodando os

96

conceitos administrativos em relação ao design, enquanto a abordagem estratégica presume que

o design está sendo utilizado como um novo paradigma, incrementando a eficiência da gestão

como um todo e da Gestão de Design em específico.

Além da questão da abordagem, o ambiente de integração do design nas empresas foi

abordado nas entrevistas. Percebe-se em todas as empresas entrevistadas que o design está

espalhado nos três ambientes, estratégico, tático e operacional. Isto acontece pois em todas as

empresas, diretores ou presidentes participam em algum momento do processo. Entretanto,

observa-se em todas as empresas ênfase no ambiente tático, no qual os projetos são

desenvolvidos e os entrevistados estão alocados. A participação operacional no design observa-

se nas empresas D e E, nas quais questões técnicas de matrizaria e viabilidade produtiva são

muito fortes e trabalham intimamente ligadas ao design ou desenvolvimento de produtos. Nas

empresas nas quais os donos são os responsáveis pelo design (B e F) este ambiente é estratégico

pela personificação dos papéis na empresa sendo, de fato, tático e operacional.

A intenção da empresa em relação ao design que, segundo os conceitos teóricos, pode ser

de diferenciação (no estilo), coordenação (ou processo), transformação (ou inovação) ou bom

negócio (BORJA DE MOZOTA, 2006) também foi investigada através das entrevistas com as

empresas. Embora todos os entrevistados mencionem que design tem papel importante nas suas

empresas, percebe-se, pelo relato do próprio entrevistado que em algumas empresas design é

utilizado como maior ênfase na coordenação do processo, como integrador, enquanto em outras

visa a transformação ou inovação. Mesmo com ênfase em um ou outro, é possível compreender

que esta classificação não é estanque e, deste modo, percebe-se que as empresas podem ser

classificadas em mais de uma categoria. As empresas F e I, que iniciaram seus trabalhos em

áreas diferentes das de atuação hoje, exemplificam o papel do design como transformador e

inovador na essência do que isso pode significar em uma indústria. Em ambas, foi pelo design

que a empresa foi re-posicionada ou re-erguida e ganhou a dimensão apresentada atualmente.

Ainda assim, atualmente, apresentam características de design como transformação e também

como diferenciador e integrador. A empresa D tem forte ligação com design como

transformação, visto o grande número de produtos desenvolvidos nestas bases, mas apresenta

também características de diferenciador, integrador e bom negócio.

97

Design como diferenciador pode ser percebido na empresa B, que utiliza fortemente este

recurso como fonte de vantagem competitiva para a marca, que é propositalmente trabalhada

através do design dos produtos, segundo o entrevistado. Já design como integrador está presente

na empresa E, que pela entrevista apresentou-se com papel de coordenar funções de um

desenvolvimento de produto complexo, com muitas etapas e equipes envolvidas. O Design como

bom negócio apareceu em empresas como a C, a F e a K, de produtos de consumo, e que também

apresentam características de outras categorias.

Aprofundando o conhecimento sobre os processos de desenvolvimento de produto e

design nas empresas, buscou-se saber que formas tinham as equipes e como funcionavam os

processos. Relativas tanto às competências quanto aos processos, estas respostas apresentaram

diversidade proporcional à diversidade das empresas, mas não proporcional ao tamanho das

mesmas, ou seja, o tamanho da equipe de design não parece estar ligado ao tamanho da empresa,

mas sim a sua intenção com design e Gestão de Design. Com exceção da empresa A, que tem

uma equipe considerada muito grande, mais de 100 pessoas, atuando em diversas áreas do

projeto de produto, as empresas entrevistadas têm equipes enxutas, contando com a ajuda de

estagiários. Deve-se salientar que somente nas empresas nas quais os próprios donos são os

designers (empresa B e empresa F), a equipe é composta essencialmente por esta pessoa,

contando com pouca ou nenhuma ajuda. Em todos os outros casos a equipe conta com mais de

um designer e esta situação é contestada por vários entrevistados, que gostariam de contar com

mais colegas para dividir tarefas e compartilhar projetos. Aqui é também importante ponderar

para a realidade da profissão de designer que preza pelo trabalho em equipe, desde o treinamento

profissional universitário. A propósito, é também importante salientar que os profissionais das

empresas entrevistadas têm formação universitária em design e, eventualmente, pós-graduação

na área. De onde se pode inferir que a formação em design é valorizada no mercado e importante

competência nas equipes de desenvolvimento e projeto de produto.

Ao analisar as equipes de design das empresas é também possível perceber que a equipe

fica maior e diversificada em termos de profissionais em empresas de produção de bens de

consumo ligados à moda e com forte apelo ao consumidor (empresa A e empresa G) e de bens de

consumo complexos, como as carrocerias da empresa E. Nas empresas nas quais o desafio dos

98

novos produtos parecem menos complexos, com processos mais sedimentados e mais antigos, as

equipes são menores, com em torno de dois profissionais, como nas empresas B e H.

O tempo de projeto é também um fator variável entre as empresas pesquisadas e pode

denotar a agilidade da equipe e o seu entrosamento. Parece, também, indicar empresas que têm

explicitado o objetivo estratégico do design na sua estratégia empresarial e seu papel nas

dinâmicas da empresa. Um bom exemplo é a empresa E, de carrocerias, que tem um processo

complexo de desenvolvimento de produto e consegue desenvolver projetos em três ou quatro

meses. Empresas com produtos de fino detalhamento técnico, como a empresa D, produtos

térmicos, e com equipe pequena são morosas no desenvolvimento de seus produtos, bem como

as equipe da empresa F, UD plástica, liderada pela dona da empresa. Neste ponto existe algo

curioso: os processos das duas empresas que tem o dono como designer principal (empresas B e

F) são curtos, com poucas etapas e baseados fortemente na percepção do próprio projetista.

Ainda assim, um deles é bastante rápido (dois meses) e o outro lento (oito meses). É provável

que o tipo de produção da empresa F, que exige matrizaria (externa) para a injeção de plástico

seja responsável por este tempo, o que não acontece na empresa B, que tem ferramentaria interna

e trabalha com inox e prata.

A documentação dos processos de design nas empresas é um ponto importante na

análise da Gestão de Design procedida. Das onze empresas abordadas, somente nas duas, nas

quais os sócios lideram o processo de design, não apresentam nenhuma documentação dos

projetos e processos. Em todas as outras, pelo menos documentos relativos à normas ISO ou a

processos de obtenção de patentes são desenvolvidos e arquivados. O uso destes materiais como

banco de ideias ou aprendizagem organizacional ainda é pouco, o que sugere que temas como

Gestão do Conhecimento e Aprendizagem Organizacional ainda andam distantes dos processos

de design. Por outro lado, denotam um cuidado da empresa em registrar seus processos e

procedimentos, dando a impressão de reconhecer o papel do design e da equipe de

desenvolvimento de produto como parte importante da empresa.

O método de projeto e a inserção deste método nos processos das empresas devem,

também, ser endereçados nesta análise de dados. Sobre método de design, como aprendido

durante a formação profissionalizante, poucos foram os entrevistados que mencionaram utilizá-lo

99

no dia-a-dia do modo como preconizam os autores (BONSIEPE, 1978, MUNARI, 1998,

LÖBACH, 2001, entre outros). Os entrevistados, ao que se pode perceber, utilizam ferramentas

que fazem parte dos métodos teóricos de design e, muitas vezes, estruturam seu trabalho segundo

a sequência lógica destes métodos, fazendo pensar que o design thinking5 é realmente algo válido

para as empresas.

Ao analisar os processos de design descritos pelos entrevistados, colocando-os lado a

lado (quadro 12), percebe-se a diversidade de caminhos e de interferências nos processos das

empresas, alguns dos quais já comentados.

5 Design Thinking ou pensamento em design é uma teoria surgida no final dos anos 1990. Com origens na Gestão de

Design e na Administração, preconiza que os designers, pelo seu pensamento projetual, podem auxiliar as empresas

a resolver seus problemas estratégicos e administrativos em geral além do que simplesmente através de projetos

desenvolvidos.

Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Empresa E Empresa F Empresa G Empresa H Empresa I Empresa J Empresa K

Desenvolvimento

de conceito

(produto e marca)

Conceituação Briefing

Solicitação de

Design

Idéia –

reunião de

diretoria

Pesquisa e

demanda

Solicitação da

empresa ou de

cliente

Solicitação

da empresa

ou de cliente

Pesquisas

(de

concorrência

, de

produtos, de

tendência)

Briefing para

esta empresa

terceirizada

Solicitação do

comitê de

produto

Análises de

oportunidades de

mercado e riscos

Primeiros

desenhos

Análise de

Mercado

Análise de

concorrentes

Conceituação Pré-projeto -

desenhos

Análise do

mercado

Desenvolvi

mento de

produto

Conceito Analise de

proposta e de

viabilidade

econômica

Geração de

soluções

Análise de uso do

produto

Equipe

discute

conceito e uso

Painel de

Informações

do Produto –

requisitos

Análise

Mecânica

Pesquisa e

Concorrentes

Moldes e

matrizes

Análise de

macro

tendências

Protótipo Apresentaçã

o para a

diretoria

Protótipos Análise de

concorrência,

Pesquisa de

conceito e

Proposta de

soluções

Desenhos Análise de

concorrência

Geração de

alternativas

Ergonomia e

hábitos de uso

Geração de

Alternativas

Ferramentaria Conceito Reunião

para

aprovação

Aperfeiçoam

ento do

projeto

Análise de

viabilidade

industrial

Aprovação do

comitê de

produto

Modelos

tridimensionais

Revisão do

engenheiro –

preparação

para produção

Análise

Ergonômica

Análise de

Público alvo

Escolha de 3

ou 4

propostas para

Solução

Produção

Painéis de

referências

Matrizaria Protótipo Produção Desenvolvime

nto do corpo

de linha

Desenhos técnicos Avaliação de

custos

Finalização

e documen-

tação

modelo,

CNC,

protótipos e

custos

Apresentação

para os diretores

Apresentação

para diretoria

Desenhos Conferencia

da matriz

Produção Modelagem e

desenhos

Alterações

Especificações

para fabricação

Planejamento

de produção

Modelagem

Final

Conceituação

do produto

pronto - cada

equipe faz

uma parte

Desenhos

técnicos, peças

de teste e

modelos

Fechamento

do processo

de design

Aprovação na

reunião do

comitê de

produto

Protótipos Ferramentaria Imagens e

Animação 3D

Modelos

(CNC)

Teste de

aplicação

Produção Detalhamento

técnico

100

101

Quadro 12 – Comparação entre métodos e processos de design nas empresas entrevistadas

Desenhos dos

moldes

Produção Protótipo Avaliação da

diretoria

Aprovação do

cliente ou

diretoria

Ferramentaria

e moldes (na

china)

“pacote técnico” Apresentação

para os diretores

Molde e

Ferramentaria

Validação

técnica

Análise das

amostras

Produção Engenharia de

Qualidade

Validação Validação

comercial

Correções

Feedback de pós-

produção e uso do

produto.

Ferramental Produção Produção Produção

Dimensionamen

to de produção-

Custo industrial

Pós Produção

– ajustes e

feedback

Mídias,

eventos,

propaganda

Ajuste de

moldes

Teste com

formadores de

opinião

Produção

101

Ao comparar os métodos e processos elencados na pesquisa de campo com modelo

preliminar, proposto na primeira etapa de entrevistas desta tese, uma nova estrutura pode ser

percebida (quadro 13). Nesta, as dinâmicas de processos e métodos referem-se menos aos níveis

e mais as tarefas e a interferência das diretorias e comitês de produto tem papel importante na

inserção da Gestão do Design nas empresas.

PROCESSO PRELIMINAR DE DESIGN PARA

GESTÃO DE DESIGN

PROCESSO DE DESIGN PARA

GESTÃO DE DESIGN

NIVEL AÇÃO

AÇÃO

ESTRATÉGICO

Decisão estratégica de usar design Definição da necessidade de um produto

ou conceituação Definir o problema

Gerar e triar idéias Análises e geração de alternativas

TÁTICO

Testar as idéias no mercado e com a

produção Análise e aprovação de diretoria ou

comitê de desenvolvimento de produto

Desenvolvimento do produto Desenvolvimento técnico e de produção –

protótipos

OPERACIONAL

Teste de produção e protótipos Análise e aprovação de diretoria ou

comitê de desenvolvimento de produto

Teste de mercado Moldes, ferramentaria, ajustes de

produção, materiais e custos

Análise e aprovação de diretoria ou

comitê de desenvolvimento de produto

Comercialização Produção e Pós Produção

Quadro 13 – Processo de Design para Gestão de Design

Este novo procedimento permite compreender os métodos e processos das empresas

analisadas de modo mais abrangente. Também viabiliza o agrupamento dos processos

particulares de cada empresa respondente da pesquisa em etapas que definem tanto o processo de

design, ou desenvolvimento de produtos das empresas, quanto a inserção da Gestão de Design

nestas. Ou seja, sua abordagem, o ambiente de integração do design e a intenção da empresa para

com este. O quadro 14 apresenta esta análise.

102

PROCESSO Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Empresa E Empresa F Empresa G Empresa H Empresa I Empresa J Empresa K

Definição da

necessidade de um

produto ou

conceituação

Desenvolvimen-

to de conceito

(produto e marca)

Conceituação Briefing

Solicitação de

Design

Idéia – reunião de

diretoria

Conceituação

Pesquisa e

demanda

Solicitação da

empresa ou de

cliente externo

Solicitação da

empresa ou de

cliente externo

Pesquisas (de

concorrência,

de produtos, de

tendência)

Briefing para

empresa

terceirizada

Solicitação do

comitê de produto

Análises e geração

de alternativas

Análises de

oportunidades de

mercado e riscos

Análise de uso

do produto

Desenhos

Primeiros

desenhos

Equipe

discute

conceito e uso

Análise de

concorrência

Análise de

Mercado

*Painel de

Informações do

Produto –

requisitos

Geração de

alternativas

Análise

Ergonômica

Análise de

concorrentes

Análise

Mecânica

Ergonomia e

hábitos de uso

Análise de

Público alvo

Pesquisa e

Concorrentes

Geração de

Alternativas

Escolha de 3 ou 4

propostas para

Solução

Pré-projeto -

desenhos

Análise do

mercado

*

Análise de

macro tendências

Conceito

Painéis de

referências

Desenhos

Desenvolviment

o de produto

Conceito

Geração de

soluções

Análise de

concorrência

Pesquisa de

conceito

Proposta de

soluções

Análise e

aprovação de

diretoria ou

comitê de

desenvolvimento

de produto

*

*

*

*

Alterações

*

*

Desenvolvimento

técnico e de

produção –

protótipos

Modelos

tridimensionais

Desenhos

técnicos

Revisão do

engenheiro –

preparação para

produção

Conceituação do

produto pronto -

cada equipe faz

uma parte

Desenhos

técnicos de peças

e modelos

Testes de

aplicação

Protótipo

*

Reunião para

aprovação

Aperfeiçoa-

mento do

projeto

Protótipo

Analise de

proposta e de

viabilidade

econômica

Protótipos

Desenvolviment

o do corpo de

linha

Modelagem e

desenhos técnicos

Análise e

aprovação de

diretoria ou

comitê de

desenvolvimento

de produto

*

Análise de

viabilidade

industrial *

103

104

Moldes,

ferramentaria,

ajustes de

produção,

materiais e custos

Especificações

para fabricação

Protótipos

Desenhos dos

moldes

“pacote

técnico”

Avaliação de

custos

Planejamento

de produção

Ferramentaria

Finalização e

documentação

modelo, CNC,

protótipos e

custos

Modelagem

Final

Imagens e

Animação 3D

Protótipo

*

Engenharia de

Qualidade

Ferramental

Dimensionamen

to de produção-

Custo industrial

Ajuste de

moldes

Modelos (CNC)

*

Molde e

Ferramentaria

Moldes e

matrizes

Ferramentaria

Validação

técnica

*

Validação

comercial

*

Matrizaria

Conferencia da

matriz

Fechamento do

processo de

design

Detalhamento

técnico

Ferramentaria e

moldes (na china)

Análise das

amostras

Análise e

aprovação de

diretoria ou

comitê de

desenvolvimento

de produto

*

*

*

- Validação

*

Produção

e Pós Produção

Produção

Feedback de

pós-produção e

uso do produto

Produção Produção Teste com

formadores de

opinião

Produção

Produção

Ajustes e feedback

Produção

Produção

Mídias, eventos,

propaganda

Produção Produção Produção Correções das

amostras

Produção

Quadro 14 – Processo de Gestão de Design versus processos das empresas entrevistadas

104

Os processos das empresas pesquisadas, quando relacionadas ao procedimento de Gestão

de Design, permitem perceber, além das fases de projeto e processo de design, a participação da

direção da empresa no processo. Em todas as empresas, o processo é iniciado pela diretoria,

ainda que em solicitação de cliente externo, e direcionado para a equipe de design ou

desenvolvimento de produto. Ao longo do processo é possível perceber que a diretoria aprova

etapas do desenvolvimento entre duas e três vezes, auxiliando no balizamento de conceitos e

detalhamento técnico e sinalizando a participação do design no ambiente estratégico destas

empresas. De modo geral, o processo de design acontece no ambiente tático, com participação do

ambiente operacional nas questões técnicas referentes à matrizaria e produção. Somente nas

empresas onde o dono lidera o processo de design (empresas B e F) não existem os momentos de

validação do processo, ficando este todo no ambiente gerencial com participação do operacional

nas questões técnicas. Deste modo percebe-se que existe integração de diversos ambientes das

empresas no design, apontando para os modelos teóricos estudados, tanto genéricos quanto

específicos, independente da intenção da empresa para com o design e da sua abordagem.

A análise dos dados provenientes das entrevistas com profissionais nas empresas procura

compreender a questão do design e da Gestão de Design, na busca por delinear uma sistemática

de avaliação desta. Assim, e considerando as etapas de pesquisa anteriores e seus resultados, é

interessante salientar que a idéia de que as questões de design e Gestão de Design estruturam-se

em três dimensões fundamentais – processo, competências e estratégia – como design faz-se

pertinente. Foi possível perceber, já nas duas primeiras empresas entrevistadas realidades

completamente distintas, com estruturas e dimensões muito diversas. Esta diversidade,

entretanto, salientou que, mesmo de modo diferente e com intenção distinta, existia processo

(método), uso de competências e estratégia nas empresas. Intenção está intimamente relacionada

à Gestão de Design. Esta percepção inicial, das duas primeiras entrevistas, solidificou-se ao

proceder-se e analisar-se todas as entrevistas, satisfazendo a noção da saturação de conteúdo

como fundamental à validade de uma pesquisa de caráter qualitativo.

De acordo com os resultados explicitados, pode-se depreender como comum a todas as

empresas a existência das três dimensões – processo, competência e estratégia – bem como a

inserção do design e sua gestão caracterizam-se pela abordagem, integração e intenção das

empresas no uso do design. O que se percebe como diferente entre elas é a intensidade ou

105

106

característica de cada uma das dimensões, o modo como é feita a integração e a maturidade da

empresa em relação ao design e à Gestão de Design.

Deste modo, evidencia-se a pertinência, ao analisar a realidade da Gestão de Design em

cada empresa, o uso de uma sistemática de avaliação própria a situação que se pretende avaliar.

Desenvolvidas as duas primeiras etapas de entrevistas e considerando as referências teóricas

pesquisadas a proposta preliminar de Sistemática de Avaliação da Gestão de Design foi

delimitada (apêndice X). Esta proposta foi então avaliada em uma etapa de entrevistas com

especialistas (de mercado e acadêmicos) e com designers nas empresas, apresentadas no item

4.3. Posteriormente, a sistemática já finalizada é apresentada no item 5, juntamente com o

modelo conceitual que a suporta.

4.3 AVALIAÇÃO DA SISTEMÁTICA

Com o objetivo de avaliar a Sistemática de Avaliação da Gestão de Design nas empresas

e sua estrutura teórica de fundamento, ou modelo conceitual, esta etapa de pesquisa foi

procedida. Buscou-se, neste momento, compreender os diversos aspectos da aplicação de uma

avaliação como a desenvolvida nesta tese e, para tanto, dois diferentes tipos de entrevistados

foram abordados: especialistas (de mercado e professores) e designers (profissionais) nas

indústrias. Os designers, novamente entrevistados, puderam auxiliar com a visão do profissional

na empresa e com a sua percepção acerca da aplicabilidade dos instrumentos. Salientaram

aspectos da operacionalização e aceitabilidade de instrumentos como este, bem como as

eventuais dificuldades a serem transpostas. Do mesmo modo, os especialistas puderam

contextualizar relações do mercado de atuação do designer e da Sistemática nele inserida.

A relação entre os gestores e os designers em uma situação de análise como a proposta

pela Sistemática de Avaliação também foi abordada com os especialistas em design. Estes foram

de extrema importância, pelo seu conhecimento acerca do gestor das empresas, uma vez que os

próprios gestores, quando contatados, se negaram a responder a pesquisa proposta para esta tese.

Por fim, os professores especialistas puderam tanto avaliar o modelo conceitual do trabalho

como auxiliar com algumas questões ligadas ao design nas empresas, uma vez que alguns dos

entrevistados além de acadêmicos também têm vivências no setor empresarial.

107

4.3.1 Entrevistas com Especialistas de Mercado

As entrevistas com especialistas de mercado foram desenvolvidas com um roteiro próprio

(apêndice VII), semi-estruturado, através do qual foram abordados os temas relativos à

Sistemática de Avaliação da Gestão de Design necessários para esta etapa de pesquisa. Na

primeira etapa de pesquisa deste estudo, dois especialistas foram entrevistados, representando

um escritório e uma entidade especializada em design, nesta etapa, os mesmos especialistas

foram contatados. O especialista da entidade, agora em outro local de trabalho, ainda bastante

envolvido com as questões de design nas indústrias, atualmente especialista e mestre em design,

pôde confrontar opiniões e apontar questões importantes para este estudo. Já o especialista,

entrevistado anteriormente em um escritório, faleceu no período entre as entrevistas, por isto, foi

então entrevistado o sócio que na ocasião anterior estivera assistindo a entrevista sem muita

participação. O terceiro sócio deste escritório, agora com atividade acadêmica, foi entrevistado

para esta tese como especialista professor.

Ao iniciar a conversa com os especialistas, tópicos relacionados aos processos de design

nas indústrias e as experiências dos entrevistados acerca da relação designer versus empresa

foram abordados. A mudança do cenário mundial e a mudança da percepção dos empresários e

das empresas em relação aos designers e ao design foram bastante comentadas pelos

especialistas. Em especial, o crescimento do empreendedorismo, o papel da China na economia

mundial e o crescimento da indústria brasileira e gaúcha. As mudanças acontecidas na própria

formação em design, com o aumento do número de faculdades e cursos e, por conseqüência, de

designers formados, também são importantes influências segundo os especialistas entrevistados.

Os entrevistados entendem que algumas mudanças, ocorridas nos últimos anos, ajudaram

a dar novos contornos à relação entre designers e empresas. Uma destas mudanças diz respeito

aos avanços nos processos produtivos, que fizeram com que os empresários aproximassem suas

realidades da tecnologia e, por conseqüência, do design, sem muitas vezes nem perceber. Em

muitos casos, o impacto da concorrência chinesa fez com que as empresas precisassem se

diferenciar, sendo o design é uma das maneiras de obter esta diferenciação. Como conseqüência

destas mudanças, o profissional de design é hoje muito mais exigido em termos de projeto (para

108

a produção) e financeiros do que anteriormente. Há também um contato não tão direto com o

gestor ou dono da empresa em relação ao que existia em anos passados. Neste ponto os

entrevistados entendem que muito foi perdido por este distanciamento; inclusive certo caráter

estratégico do design, pois algumas empresas têm cultura para o design, enquanto outras

simplesmente não apresentam este perfil, não usando ou não fazendo bom uso do design. Por

outro lado, um dos entrevistados comentou que, nas empresas onde o design já se provou

elemento estratégico e de melhoria de performance, ele vem sendo bem utilizado e é considerado

como estratégia ao ponto do gestor se negar a falar sobre o tema. Isso gera, segundo o

entrevistado, certa curiosidade dos concorrentes, que passaram a ficar atentos ao tema. De acordo

com um dos entrevistados, existem três linhas distintas de encarar o design e do empresário

atentar para o tema. O primeiro tipo de empresário nem conhece design. O segundo é o

empresário que tem seu produto comprado sem grande esforço, e este está na zona de conforto e

talvez não se preocupe com design se esta não é uma das ferramentas importantes para o seu

sucesso. Já o terceiro “usa e não larga!”. E, de acordo com o entrevistado, este empresário “fica

na moita”, não gosta de falar sobre este assunto.

Sobre as diferenças entre equipes internas e externas os entrevistados pensam que as

equipes internas têm mais tempo para entender a cultura da empresa; enquanto as equipes

externas fazem pressão e são a imposição de alguém de fora para mudar uma rotina. Entretanto,

as duas equipes têm limitações e balizadores de projetos. Para os entrevistados, uma equipe

externa pode ajudar a equilibrar, na cabeça do empresário, sua dependência em relação ao

designer. Acreditam que, além de ser realmente vantajoso em algumas situações um designer

externo, o empresário entende que está dividindo responsabilidades e, muitas vezes, dividindo o

risco. Um dos entrevistados afirma que a relação do empresário, ou gestor, com o designer

geralmente é bem delicada “O empresário gosta de ser ele o estratégico e, de repente pensa

„puxa! Estou na mão deste cara (o designer), ele está tendo papel importante na estratégia da

minha empresa”. O entrevistado comenta que este detalhe é, em sua opinião, o motivo pelo qual

muitas empresas têm equipes mistas de design, com equipe interna e externa e até dos cuidados

que alguns têm ao contratar designers de outras empresas concorrentes. Segundo o entrevistado,

existem diferenças de salários na indústria para designers que trabalham ou não em nível

estratégico, como o que se chama de designer „sênior‟. Os designers „júnior‟ têm menores

109

salários e/ou não estão em indústrias que tratam design como estratégia. Segundo o entrevistado

a questão toda está em o empresário perceber ou não que o “designer é o cara”.

Em relação ao modelo conceitual que lhe é apresentado, os entrevistados comentam achar

muito interessante e pertinente a lógica das empresas atuais. Um dos entrevistados comenta que

“a mesa aumentou” referindo-se ao maior número de facetas que um projeto de design tem

atualmente. Acredita que, na estrutura apresentada, “as engrenagens estão todas aí”. Comenta

que ouvir os vendedores também é muito importante para o design, é estar atento aos

movimentos de mercado.

O roteiro de entrevistas solicita que o entrevistado comente pontos fracos ou confusos da

estrutura. Neste ponto, um dos entrevistados sugeriu que, não se repita a expressão estratégia em

dois pontos pode ficar confuso, eventualmente a expressão „políticas em relação ao design‟ pode

ser mais apropriada. Pensa que nos entendimentos, a questão da subordinação vai muito além do

que está escrito nos cargos e salários da empresa, pois nem sempre as coisas funcionam como

estão escritas e seria interessante analisar o entendimento sobre isso. Por fim, sobre a questão das

estruturas, sugere que se mencione o espaço físico do processo, pois este é muito importante para

a equipe trabalhar.

Explicada a sistemática, os entrevistados comentaram que acharam a proposta boa e

interessante. Acreditam que as estruturas devem mesmo ser comentadas e analisadas em

separado, pois os níveis de compreensão acerca de design são diferentes. Um dos entrevistados

comenta que a aplicação e uso da sistemática dependeriam da “abertura de cabeça” do dono ou

responsável pela empresa. Os entrevistados pensam que a sistemática proporcionaria uma

avaliação da empresa para mudança e as mudanças sempre dependem das cabeças envolvidas, da

disposição das pessoas e da mentalidade das pessoas. “O „X‟ da questão está em como saber que

pode melhor, que este é o ponto buscado pelas empresas e que se a sistemática pode ajudar nisso

então está tudo ótimo!”, menciona um dos entrevistados. Ambos acreditam que a sistemática

pode ser uma boa ferramenta de diagnóstico para as empresas e que as restrições vão estar

relacionadas à predisposição do empresário para mudança e para compartilhar de informação, ou

falar no assunto. Para finalizar, os dois entrevistados pensam que o não entendimento sobre o

110

que é design, em toda sua amplitude, pode atrapalhar o uso da ferramenta, como atrapalha o uso

do design.

4.3.2 Entrevistas com Especialistas Professores

Buscando avaliar a sistemática e o modelo conceitual que a sustenta foram procedidas

entrevistas com quatro professores doutores na área de design. Se as entrevistas com designers e

especialistas de mercado foram úteis para equalizar a sistemática à realidade não acadêmica, as

entrevistas com especialistas professores, justamente por sua expertise teórica, auxiliaram a

avaliar o contexto teórico que sustenta a sistemática. Como amostra desta etapa, escolhida por

julgamento e conveniência, foram contatados professores dos quatro centros com maior volume

de publicação em Gestão de Design do Brasil (conforme a avaliação sistemática apresentada

nesta tese): Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Concordaram em

conceder entrevistas os Professores Cláudio de Freitas Magalhães (PUC-RIO), Julio van der

Linden (UFRGS), Paulo de Tarso Muller (PUC-RS). Embora tivessem concordado em

participar, os professores representantes dos estados de Santa Catarina e do Paraná ao serem

contatados não estavam disponíveis à época da entrevista, não sendo então considerados neste

trabalho. Foi também entrevistada a professora Brigitte Borja de Mozota (PARSONS),

referenciada internacionalmente na área de Gestão de Design, que esteve no Brasil no período

final de coleta de dados e concordou em conceder a entrevista.

O primeiro ponto abordado nas entrevistas com professores especialistas refere-se à

estrutura teórica que sustenta a lógica da sistemática, ou modelo conceitual do estudo. Este foi

explicado aos entrevistados e suas percepções foram registradas, bem como sua opinião sobre

aplicabilidade, vantagens e desvantagens.

Os entrevistados entenderam a estrutura como interessante, produtiva e pertinente à

realidade das empresas, mesmo que em algumas seja necessária uma abordagem com foco

específico. Acreditam que o modelo conceitual criado contempla das definições abordadas na

Gestão de Design e que este poderá auxiliar as empresas a comentar ou refletir sobre pontos que

111

não são tratados, por um motivo ou por outro. Especialmente, sobre os temas que geram

polêmica ou podem afetar as relações entre os envolvidos.

Quando perguntados sobre eventuais desvantagens do modelo conceitual, os

entrevistados dizem não perceber nenhuma. A questão elencada pelos entrevistados é relacionada

a uma eventual dificuldade e está no reconhecimento do design como algo importante para as

empresas pesquisadas e sobre design ser uma atividade reconhecida e consagrada nestas, o que

não necessariamente é a realidade. Sobre esta dificuldade, os entrevistados entendem que poderá

ou não acontecer e que nestas situações seria interessante reconfigurar a abordagem ou, pelo

menos, verificar se existe consenso entre as pessoas que estão trabalhando. Isto, eventualmente

entrevistando-as antes da aplicação da sistemática, para ter certeza sobre como o entrevistado

percebe sua atuação profissional, de modo também a se obter uma visão acerca de sua própria

realidade. Segundo um dos especialistas entrevistados, este poderia ser um bom modo de validar

os conceitos utilizados, gerando certeza sobre a linearidade do que se está comentando

especificamente para a empresa estudada. O entrevistado sugere que se pergunte ao profissional

o que ele entende por design, gestão de design e outros termos para alinhar o discurso e para que

se assegure a validade das respostas do formulário da sistemática.

Ainda sobre o modelo conceitual, um dos entrevistados comenta que todo o modelo

representa uma redução da realidade, que permite analisar uma situação ou ajuda a ver algo. Mas

que estes somente ajudam, não sendo a realidade em si e, deste modo, todos assumem todas as

limitações da sua própria condição. Neste sentido, observa que não vê desvantagens no modelo

apresentando, a não ser esta mesma: o fato de ser um modelo conceitual.

Sobre vantagens ou adequações do modelo conceitual proposto na entrevista, a

característica de expor os dois lados de uma mesma situação, entendimentos e estruturas são

salientadas como muito interessantes pelos entrevistados. Como uma nova abordagem para o

tema Gestão de Design. Ao ver as três dimensões, um dos entrevistados mencionou que estas três

dimensões têm respaldo também com a lógica do BSC (Balanced Score Card) e não somente

com as definições de design. Para ela, as três dimensões são sim parte da definição de design e

da sua compreensão como gestão, ou administração. Um dos professores observa que, por

apresentar os dois lados que uma situação de design pode ter, o explícito, formal e até prescrito e

112

o tácito, da compreensão dos envolvidos o modelo conceitual fica ainda mais interessante, com a

vantagem de identificar as duas grandes dimensões que as coisas podem ter e, eventualmente, do

modo como estão colocadas também as interações entre as partes são possíveis. Um dos

entrevistados salienta que a possibilidade de comparar o que é real com o que é percebido por

aqueles que vão responder a sistemática e, por conseqüência, compor o modelo proposto é

perfeita para visualizar o que de fato acontece nas empresas.

O fato de o modelo não ser estanque e permitir várias avaliações, considerando mudanças

e permitindo acompanhá-las ao longo do tempo, também é salientado pelos entrevistados. As

camadas deste permitem observar as interações e efeitos que uma dimensão pode ter na outra, ou

que a mudança em uma dimensão ou variável poderá provocar nas outras e isso pareceu bom

para os entrevistados. Além desta característica, foi destacado o fato de ser possível fazer dois

tipos de análise com esta mesma estrutura: uma interna, da empresa para autoconhecimento e

comparação de seus próprios processos ao longo dos anos, e outra externa, que permitiria

comparar empresas dentro destas dimensões.

Questionados sobre a perspectiva das „estruturas‟ do modelo teórico, os entrevistados

pensam que está bem, parecendo viável e interessante, pois, certamente, a discussão proposta

pela sistemática neste ponto vai gerar uma discussão fazendo com que o gestor e o designer

reflitam sobre suas posições e atitudes.

Já sobre os entendimentos, os entrevistados acreditam ser interessante o fato de os

envolvidos no processo da sistemática poderem responder individual e anonimamente os

formulários. Um dos entrevistados mencionou: “é muito legal, cada um vai dizer o que acha,

diferente dos outros! Não consigo imaginar o resultado possível! É interessante e bem

formulado, estruturado e interessante.” A discussão que vai surgir do resultado desta etapa como

um processo de reflexão e aprendizagem é bastante salientado nas entrevistas. Os professores

consultados pensam que deverá ser produtivo para as empresas, pertinente, além de instrutivo no

sentido de defrontar com a exposição e manifestação dos que nunca consideraram falar sobre

isso dentro das empresas, quase como um processo pedagógico.

113

Sobre o resultado ser apresentado em modo de gráfico de radar, os entrevistados pensam

que é um modo adequado de se fazer e que, deste modo, as diferenças poderão aparecer e ser

discutidas entre a equipe, provocando reflexão e levantando diversas questões. Para um dos

entrevistados, esta etapa do trabalho permitirá também entender que, muitas vezes, a teoria e o

campo são parecidos, sendo natural o trânsito entre estas duas áreas para desenvolver um modelo

teórico, abordagem ou sistemática. Um dos entrevistados menciona, no mesmo sentido, que é

interessante verificar se o designer se percebe na estrutura final e se ele se apropria do resultado.

Como contribuição, acredita que a síntese através do gráfico, apresentada ao final da avaliação

proposta pela sistemática, poderá ajudar a empresa a entender melhor o processo.

Por fim, a questão da cultura quanto ao design, nas empresas, pode definir o uso ou

avaliação de utilização da sistemática pelos que aplicarem o procedimento em suas empresas.

Segundo um dos entrevistados, o dono da empresa, que antigamente circulava na fábrica e

ultimamente não faz mais isso, ficando afastado da realidade do dia a dia da produção, pode se

tornar um empecilho para avaliações como a proposta pela sistemática. Este afastamento da

direção faz com que o real processo de design seja menos percebido pelo gestor, ou seja, não é

tão vivenciado e torna todo o processo mais complicado, pois o empresário, na verdade, espera o

resultado. Em concordância, outro entrevistado acredita que uma das dificuldades que poderá ser

encontradas na aplicação da avaliação será justamente encontrar designers nas empresas, pois

quando não existem estruturas, fica mais complicada a avaliação. Sobre as empresas que

estariam propensas ao uso da sistemática, o entrevistado pensa que empresas com designers e

com o design no patamar estratégico estariam mais dispostas a desenvolver uma avaliação da sua

situação. Isso em função da sua motivação para o trabalho e para o engajamento no design.

Como sugestão de melhoria para a sistemática, alguns pontos são elencados: incluir

perguntas sobre os resultados e objetivos estratégicos do uso do design, uma vez que cada

empresa parece ter a sua adequação; evitar expor os números na escala de Likert, para que fique

claro para quem preenche não pressupor um valor e sim a adequação de um conceito; e ainda,

incluir “outros” no formulário das estruturas estratégicas. Por fim, objetivamente sobre os itens

da escala apresentada sugeriu-se que a variável sobre a influência da engenharia sobre o design

poderia ser duplicada para questionar ao entrevistado sobre a influência do departamento de

marketing sobre a equipe de design.

114

4.3.3 Entrevistas com Designers

Visando avaliar a sistemática desenvolvida e sua aplicabilidade nas empresas, esta etapa

de entrevistas voltou a contatar as empresas entrevistadas na primeira fase deste estudo. Nesta

rodada, entretanto, foram excluídas da amostra empresas com forte atuação de designer externo

(empresas I e J) e empresas nas quais o dono era o principal designer (empresas B e F). Este

filtro buscou dar foco a etapa de entrevistas selecionando como amostra, empresas que seriam

candidatas ao uso da sistemática em condições mais próximas do ideal prescrito pela teoria para

empresas que fazem uso da Gestão de Design. Assim, empresas que dispõem de equipe de

design interno, com designer chefe e estrutura de departamento de design foram contatadas e

entrevistadas (tabela 7). Duas empresas não puderam responder a esta etapa de pesquisa.

Tabela 7 – Perfil das empresas entrevistadas – etapa final

Empresa Setor de Atuação

Número de

Funcionários

(aprox.)

Entrevistado Cidade

C Pincéis 500 Designer Chefe

Esteio

D UD - térmicos 550 Designer Chefe

Porto Alegre

G Co mponentes metálicos 600 Designer Chefe

Sapiranga

H Componentes metálicos 100 Designer Chefe

Bento Gonçalves

K UD - Plástico 500 Designer Chefe Esteio

A entrevista iniciou com o designer comentando eventuais mudanças acontecidas em suas

empresas no período entre as entrevistas. Algumas mudanças foram percebidas nas empresas

como: volta de diretores, ou ainda mudança de algum departamento. Em geral, nada de muito

significativo. Para as equipes de design, algumas alterações foram importantes como a

contratação de mais profissionais para as equipes, ou mudança de foco do produto no mercado.

Em duas empresas a equipe de design foi alterada ou mudou sua subordinação em relação à

115

diretoria, sendo que em uma delas este é um fato positivo e em outra foi considerado bastante

negativo pelo entrevistado.

Os entrevistados comentaram suas percepções sobre o desempenho das equipes de design

nos últimos meses que, para alguns deles, este é um ponto bastante importante. Em uma empresa

observou-se crescimento no faturamento em torno de 30% com o uso sistemático de design,

enquanto em outra o designer passou a proceder testes e medidas, gerando um banco de dados.

Com esta atitude, o designer menciona que ganhou espaço de trabalho e o respeito dos diretores;

além de significativa melhora de relação entre engenheiros para com a equipe de design. Este

posicionamento do designer também contribuiu para melhorar sua relação com o gestor. Nas

outras empresas o relacionamento continua o mesmo, adequado, com exceção de uma, na qual a

mudança da equipe gerou conflitos com o gestor.

O procedimento de design para Gestão de Design, desenvolvido durante a tese, foi

apresentado aos entrevistados como modo de revisar se suas empresas se adequavam ao mesmo.

De modo geral, o consenso foi que o procedimento de projeto está adequado, ficando os

comentários dos entrevistados focados em casos específicos das suas empresas, como etapas a

mais ou menos intensas, com exigências maiores. Ainda assim, estes comentários são

importantes e podem auxiliar a melhorar o método desenvolvido. A necessidade dos “custos”

aparecerem antes ou ao longo do processo todo, a indicação de análises de marketing (mercado,

concorrência, posicionamento e comportamento do consumidor) e a colocação de setas de

retorno no processo foram indicadas pelos entrevistados.

A sistemática foi apresentada aos entrevistados, indicando sua função, modo de aplicação

e lógica. Os entrevistados gostaram da proposta, mencionando que é muito interessante e que

poderá gerar boas discussões; especialmente por provocar questionamentos sobre: a importância

do design, o trabalho dos designers e as relações dentro da empresa.

Os entrevistados avaliaram, além da lógica de aplicação da sistemática, seus formulários.

Sobre a etapa de estruturas, os designers entendem que é uma etapa importante, pois todos os

envolvidos com os processos de design estão implicados na avaliação; e que este pode ser um

bom momento para avaliar papéis e funções, o que nem sempre é consenso nas empresas. Um

116

dos entrevistados comenta que “quando marcamos muitos „nunca‟ neste formulário (estratégias e

controles), já existe algo para refletir”, enquanto outra pensa que ajudaria bastante a discussão

sobre estruturas, identificando inclusive o planejamento estratégico no contexto da empresa.

Pensa que esta avaliação permitiria agir nos focos de discussão, pois muitas vezes os papéis estão

trocados.

Ainda sobre as estruturas, as sugestões dos entrevistados são: avaliar a infra estrutura da

empresa para design e a liberdade do designer em sair a campo, ver coisas fora da indústria ou

fazer testes de produto. A questão do faturamento, segundo um entrevistado, pode não ser

respondida e, eventualmente, o lucro deveria ser abordado; se possível, a diferença de

lucratividade da empresa antes e depois do design.

Sobre a etapa de entendimentos da sistemática, os entrevistados preencheram os

formulários e não encontraram dificuldades, com exceção de um entrevistado, classificando os

termos utilizados como apropriados para empresas que estão ou não acostumadas ao design. Os

designers acharam as questões propostas interessantes e úteis, pois nem sempre o trabalho de um

designer é bem compreendido e a sistemática abriria espaço para uma melhor compreensão.

Algumas sugestões foram oferecidas, como: deixar claro, na escala das questões, que o número

três não é neutro e avaliar a aplicação da palavra estilo, que pode ser complicada na

compreensão.

Em uma visão geral sobre a sistemática, os entrevistados pensam que a sua aplicação

seria muito útil e interessante para as empresas. Segundo um dos entrevistados, “o grande lucro

do processo será aumentar o entendimento do design na empresa” e, talvez, deste modo, as

empresas poderão se sentir mais a vontade para liberar estrutura e investimento em design.

Eventualmente, em algumas empresas, pensa um entrevistado, seria necessário fazer uma

adequação da linguagem dos instrumentos de estrutura e entendimentos para a linguagem da

empresa, como modo de facilitar o uso da sistemática. Mas, acima disto, os entrevistados pensam

que os gestores, ou diretores, são sempre os decisores no processo e podem não permitir a

aplicação da sistemática, configurando o maior empecilho para seu uso.

117

Já quanto à aplicabilidade da sistemática, os entrevistados acreditam que, uma vez

autorizado o uso, seria possível chegar a um consenso com os diretores envolvidos na discussão

proposta pela ferramenta. Pensam que a operacionalização da sistemática é viável e simples,

auxiliando a perceber as diferenças de pensamento entre as pessoas e alinhar idéias, além de ser

muito útil no entendimento do design, do seu papel e da sua importância. Para os entrevistados, o

designer é o maior interessado na aplicação da sistemática e que a sistemática pode promover

uma avaliação boa para a empresa, se não for limitada pela diretoria.

118

5. SISTEMÁTICA PARA A AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE DESIGN

Desenvolvidas todas as etapas de entrevistas e considerando as referências teóricas

pesquisadas são apresentados neste capítulo: o Modelo Conceitual que sustenta a Sistemática de

Avaliação da Gestão de Design, a própria Sistemática em empresas e o processo de design

adequado ao trabalho de Gestão de Design, desenvolvidos para atender aos objetivos desta tese.

5.1 MODELO CONCEITUAL DE GESTÃO DE DESIGN

O modelo conceitual (figura 15) considerado como base da Sistemática de avaliação da

Gestão de Design foi desenvolvido a partir da revisão de literatura e da observação da realidade

do design nas empresas, proporcionada pelas etapas de pesquisa de campo ao longo do

desenvolvimento desta tese. Resume, por conseqüência, o pensamento e as proposições que

serão abordadas pela sistemática quando aplicada nas empresas, e compõe a idealização de como

Gestão de Design pode ser utilizada nas empresas. É então parte integrante e base do

desenvolvimento deste estudo, dando respaldo lógico e conceitual ao mesmo.

Figura 15 – Modelo Conceitual de Gestão de Design.

119

O centro do modelo conceitual é composto das três dimensões de design: processos,

competência e estratégia que, além de refletir o conceito de design, se aplicam a realidade dos

designers nas empresas, o que se faz importante para uma avaliação com foco em Gestão de

Design. As três dimensões encontram também respaldo teórico no BSC (Balanced Score Card),

o que reafirma a característica gerencial do modelo teórico como base de uma ferramenta de

avaliação em empresas.

As três dimensões centrais do modelo são compreendidas em duas facetas: suas estruturas

e seus entendimentos, sendo que estas são parte da avaliação de cada uma das dimensões.

Enquanto as estruturas representam o objetivo, os entendimentos refletem a percepção sobre as

dimensões. Compreendem-se então como „estruturas‟ neste trabalho as questões efetivas

relacionadas a cada uma das dimensões de design enquanto gestão. Assim, processos são

considerados: a infra-estrutura da empresa, a relação entre as equipes envolvidas nos projetos e o

processo de design em si, com suas etapas e interferências das partes envolvidas. Já na dimensão

das competências a estrutura significa a equipe de design em si, por quem é composta, que tipo

de formação os profissionais apresentam, quais suas habilidades, conhecimentos e atitudes.

Fechando as estruturas, encontra-se a estratégia, que diz respeito aos controles estratégicos de

gestão em relação ao design disponibilizados e utilizados pelas empresas, bem como representa a

subordinação entre as equipes mencionadas na competência e nos processos.

Em oposição ao caráter objetivo das estruturas, os entendimentos caracterizam-se por ser

o lado subjetivo das dimensões, a compreensão das pessoas envolvidas sobre sua própria

realidade. Nos entendimentos, no que tange aos processos, está a inserção das equipes de design

no ambiente da empresa, bem como o modo de entender e de fazer design (com ou sem método)

das equipes na dimensão das competências. E, no entendimento das estratégias, a intenção da

empresa para com o design, sua “política de design” e a abordagem dada pela empresa às

questões de design estão contempladas. A existência da faceta de entendimentos neste modelo

teórico, além da faceta de estruturas, compreensível por natureza, se justifica pela importância do

subjetivo em medidas de construtos e dimensões. Medidas já consideradas substanciais, como o

construto de Orientação para Mercado da administração de empresas, entre outros, contemplam

sempre o comportamento dos envolvidos nos procedimentos que levam a operacionalização

destes. Sem pessoas não existem empresas, não existe design, não existem medidas e modelos de

120

como seria a Gestão de Design nas empresas. Deste modo, faz-se importante esta perspectiva do

modelo.

Na análise do modelo teórico como um todo se pode também relacionar as duas facetas

das dimensões a imagem e ao posicionamento, conceitos de marketing que traduzem os dois

lados da comunicação de uma empresa com o mercado: o posicionamento pretendido pela

empresa e a imagem entendida pelo consumidor. De modo geral, a teoria de Ries e Trout (2001)

indica que se os dois estão alinhados a empresa está bem posicionada, de outro modo existe

ruído na sua estratégia e o consumidor provavelmente não está entendendo sua proposta. Esta

analogia pode ser feita com as duas facetas do modelo, pois elas também podem significar o que

a empresa pretende, suas estruturas, e o que as pessoas que nela atuam percebem, os

entendimentos.

De modo similar, os conceitos de tácito e explícito de Nonaka e Takeuchi (1997)

reconhecidos na função do designer por Walsh et al. (1992) traduzem de modo articulado as

facetas de entendimentos e estruturas, respectivamente. Especialmente ao considerar-se que

design tem forte característica de aprendizagem e, por conseqüência, conhecimento a ser

gerenciado, tanto pelo seu conceito com pela sua participação central em processos de

desenvolvimento de produto. Alinhada a esta proposição, a Gestão de Design podem ser

considerados processos que giram em espiral do tácito para o explícito, como proposto pelos

autores, de modo a crescer e solidificar conhecimentos. E, do mesmo modo, a sistemática tem

um caráter de reflexão entre as duas etapas, proporcionando reflexão e aprendizagem as

empresas que a utilizarem.

Assim formulado, o modelo teórico de Gestão de Design permite que se observem as três

dimensões do que se pode gerenciar em termos de design pelos dois lados que estas dimensões

apresentam. Entende-se, também, a estrutura como inter-relacionada, permitindo que as

dimensões e facetas tenham influência e impacto umas nas outras, em um movimento dinâmico e

o mais aproximado possível da teoria e da realidade gerencial.

121

5.2 SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE DESIGN EM EMPRESAS

A lógica adotada para esta delimitação da sistemática de avaliação da Gestão de Design

nas empresas provém da teoria pesquisada e da realidade observada nas duas etapas de pesquisa

qualitativa de campo. E, objetivamente, está calcada no modelo teórico desenvolvido ao longo

destas etapas, ou seja, nas três dimensões de design e Gestão de Design – processo, competência

e estratégia – e nas duas facetas de avaliação: estrutura e comportamentos, ou entendimentos.

A estrutura refere-se ao que a empresa tem, ou disponibiliza para uso de seus

funcionários, em prol da produção de seus produtos e serviços. Este fator é importante, pois

determina os contornos da atividade de design em termos das competências utilizadas, do

estabelecimento dos processos de design, da sua integração com as outras funções da empresa e

da participação e interferência dos gestores nestes processos. A estrutura aponta o tipo de

inserção da Gestão de Design na empresa e determina as condições de uma eventual mudança ou

melhoria nesta. Os comportamentos, ou entendimentos, determinam a opinião das pessoas que

compõem a empresa, uma vez que a estrutura não significa a determinação de como os recursos

serão utilizados. Os comportamentos também ressaltam o lado humano da empresa, das decisões

e das mudanças, que são determinantes na avaliação do que se pretende com esta sistemática.

Para a aplicação da sistemática existe um procedimento indicado e para cada uma das

duas facetas, nas três dimensões, existem instrumentos de análise e medição. Deste modo, a

sistemática pode ser aplicada nas empresas, seus resultados analisados como forma de

compreensão da Gestão de Design e para que melhorias possam ser consideradas. Os

procedimentos para a aplicação da sistemática são descritos a seguir.

5.2.1 Modo de aplicação

A sistemática para avaliação da Gestão de Design nas empresas consiste em

procedimento com formulários de análise de estruturas e entendimentos acerca do design e da

Gestão de Design e sua aplicação deverá seguir os procedimentos recomendados nesta tese, que

deverão ser adotados pelas empresas que desejarem fazer uso desta avaliação. A motivação para

122

o uso desta sistemática pode ser de avaliação da situação atual, com vistas ao alinhamento

conforme a direção da empresa recomenda, ou ainda uma melhoria para melhor gestão. Em todos

os casos, a proposta de uso da sistemática deve obter consentimento da direção da empresa para

que seu uso seja efetivo.

O primeiro passo para aplicação da sistemática é, portanto, o aval da direção da empresa,

uma vez que esta poderá auxiliar o processo respondendo às questões de estrutura com maior

pertinência do que outros colaboradores. Em conjunto com este aval, deverá ser escolhido o

avaliador responsável pela aplicação da sistemática e discussão dos resultados. Recomenda-se

que este avaliador seja o mais neutro possível em relação aos processos de desenvolvimento de

produto, mas que, por outro lado, conheça bastante bem o processo a ponto de saber distinguir

eventuais exageros na percepção dos participantes.

Feita a escolha do avaliador, deverá ser selecionado um grupo de trabalho para responder

as questões acerca da estrutura da empresa e, ao final, discutir os resultados. Recomenda-se que

participem deste grupo o gestor ou diretor responsável pela área de design e pelo

desenvolvimento de produto, o designer chefe ou responsável direto pela equipe de design e mais

uma ou duas pessoas ligadas a estas funções. Existindo a possibilidade, o presidente da empresa,

ou o principal diretor de área deverá ser incluído no grupo.

Organizada a participação de todos os membros, o avaliador escolhido poderá iniciar seu

trabalho, entrevistando o gestor e o designer responsáveis pelo processo de design ou

desenvolvimento de produto no que tange a estrutura da empresa, conforme o quadro 15. O

objetivo desta etapa é analisar a estrutura disponível na empresa e o seu organograma, que

permitirá visualizar onde design está inserido ou integrado. Os controles administrativos

definidos permitem saber o perfil da empresa para com seus indicadores de desempenho. As

entrevistas devem ser procedidas em separado e, havendo divergência, esta deverá ser

endereçada e acordada na reunião de alinhamento dos resultados.

123

SOBRE A EMPRESA

Número de Funcionários:

Segmento de atuação:

Ano de Fundação:

Faturamento:

Desenho o organograma da empresa

DIRETOR RESPONSÁVEL PELA

ÁREA DE DESIGN

Cargo na Empresa:

Formação:

Tempo no Cargo:

Número de subordinados:

A quem é subordinado:

DESIGNER RESPONSÁVEL PELA

EQUIPE DE DESIGN

Cargo na Empresa:

Formação:

Tempo no Cargo:

Número de subordinados:

A quem é subordinado:

SOBRE A EQUIPE

DE DESIGN

DA EMPRESA

Liderança

Participantes (internos e externos)

Diretoria a qual é subordinada

Tempo de existência

Número de profissionais

Formação dos profissionais

Número de estagiários

Conexão com outras equipes

Momentos de conexão

Quem dá início a um novo desenvolvimento?

Qual o espaço físico e infra-estrutura

disponíveis para a equipe de design?

Desenho do processo de design

CONTROLES

ADMINISTRATIVOS/FERRAMENTAS

UTILIZADOS PELA EMPRESA*

Planejamento estratégico

Balanced Scorecard (BSC)

ISO (qualquer uma)

Planejamento estratégico de produto

Pesquisa de mercado

Outros, qual?

* Estes controles serão avaliados por uma escala nominal (sempre – frequentemente – raramente – nunca)

Quadro 15 – Sistemática de Avaliação da Gestão de Design – estruturas

Na consolidação de resultados desta etapa, o avaliador deverá classificar a empresa em

relação a sua estrutura, desenhar o organograma das funções ressaltando a posição da equipe de

design e descrever sua composição, bem como indicando a relação desta com outras equipes da

empresa. Os resultados devem ser compreendidos em uma avaliação qualitativa, obedecendo às

teorias apresentadas no item 2.2 desta tese, que permita indicar a orientação das três dimensões

da inserção da Gestão de Design nas empresas (abordagem, ambiente de integração e intenção).

Estes resultados, em conjunto com os resultados da segunda etapa, devem definir a compreensão

e uso do design nas empresas e inserção da Gestão de Design nestas.

124

A segunda etapa da aplicação da sistemática consiste na aplicação de questionários

(quadro 16), com todos os envolvidos nos processos de design e desenvolvimento de produto

acerca do entendimento destes sobre a Gestão de Design (gestores, designers e eventualmente

engenheiros). As variáveis deste questionário foram geradas a partir dos dados das etapas

qualitativas de pesquisa e relacionadas ao conjunto teórico estudado. Cada envolvido deverá

preencher um questionário.

Estão refletidas, neste conjunto de perguntas, questões acerca do comportamento para

com processo, competência e estratégia de design e também para com os requisitos de inserção

da Gestão de Design nas empresas como: abordagem, ambiente de integração e intenção. Do

mesmo modo com que a etapa anterior abordou estas dimensões relacionadas às estruturas

organizacionais, a presente etapa aborda-as na perspectiva do comportamento do pessoal

envolvido. Recomenda-se que o avaliador permita que os participantes preencham os

questionários eles próprios, como modo de garantir a privacidade dos participantes e seu

envolvimento no processo. Entretanto, o avaliador deverá estar à disposição dos participantes

para dúvidas, garantindo a compreensão do entrevistado sobre o que está sendo perguntado.

Prezado Senhor,

Preencha o questionário abaixo considerando sua percepção acerca da realidade da empresa na qual

trabalha. Leia atentamente a cada uma das afirmações a seguir e gradue sua concordância na escala

considerando 1 para “discordo totalmente” e 5 para concordo totalmente. É importante salientar que não

existe ponto neutro ou indiferente nesta escala. Se não se sente a vontade para responder alguma questão, ou

não saberia opinar, por favor, marque SCO (sem condições de opinar). Obrigado!

Processo Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

1. Utilizamos design, pois é um bom modo de

organizar nossa produção. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

2. O uso do design organizou nosso processo de

desenvolvimento de produto (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

3. O uso do design visa resolver somente questões

técnicas de produtos.* (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

4. Os processos de design estão integrados aos

processos de nossa empresa. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

5. Nós documentamos nossos processos de design e

desenvolvimento de produto. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

6. Em nossa empresa, temos um método organizado de

desenvolver produtos. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

7. Estimulamos a equipe de design de nossa empresa a

utilizar métodos conhecidos de projeto. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

8. A equipe de design deve seguir sempre o que foi

primeiramente estabelecido pela equipe de

marketing.*

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

125

9. A equipe de design deve seguir sempre o que foi

primeiramente estabelecido pela engenharia.* (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

10. A equipe de design está plenamente integrada às

outras equipes que dão vida a nossa empresa. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

11. As equipes de engenharia e marketing acham difícil

trabalhar com equipes de design. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

12. A equipe de design tem independência para criar

novos produtos. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

Competência Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

13. Pensamos que os designers são colaboradores

importantes na empresa. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

14. A função de design é mais importante para nossa

empresa do que o trabalho do designer (profissional)

em si.

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

15. O designer chefe é consultado sempre que

começamos a pensar no desenvolvimento de um

novo produto.

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

16. Acreditamos ser possível ter um bom design mesmo

que ninguém em nossa equipe seja formado

especificamente em design.

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

17. Nossa equipe de design se atualiza frequentemente,

em faculdades e cursos. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

18. Nossa equipe de design se atualiza visitando feiras e

exposições no exterior. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

19. Os designers têm dificuldades em se integrar aos

outros funcionários e departamentos da empresa.* (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

Estratégia Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

20. Os objetivos estratégicos de nossa empresa são

traduzidos pelo design (ou – o design trabalha

segundo os objetivos estratégicos desta empresa)

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

21. Nossa empresa entende o design como fator

importante na inovação de produto (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

22. Design pode ser considerado como a lógica

dominante em nossa empresa. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

23. A lógica do design está espalhada pelos diferentes

departamentos de nossa empresa. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

24. O mais importante, no uso do design, é o

estilo/estética que ele confere aos nossos produtos. * (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

25. As decisões de design em nossa empresa são

tomadas somente pelos diretores. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

26. Os diretores desta empresa acompanham de perto o

trabalho dos designers, opinando e interferindo. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

27. Fazemos reuniões periódicas, com as equipes

envolvidas no projeto dos produtos para discuti-lo. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

28. Em nossa empresa, design, engenharia, comercial e

marketing trabalham juntos no desenvolvimento de

produtos.

(1)□

(2)□

(3)□

(4)□

(5)□ □

29. Design melhorou nossa performance empresarial. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

30. Acreditamos que nosso lucro é maior em função do

uso do design. (1)

□ (2)

□ (3)

□ (4)

□ (5)

□ □

* Questões de avaliação reversa.

Quadro 16 – Sistemática para Avaliação da Gestão do Design – entendimentos

126

A escolha das variáveis, que compõem as dimensões avaliadas pelo questionário da

segunda etapa, provém da teoria e das entrevistas conduzidas nas etapas qualitativas desta tese.

Considera-se que elas avaliam, com validade de conteúdo satisfatória, os itens pretendidos de

avaliação. A escala intervalar Likert de 5 pontos utilizada para a medida permite análise

estatística de frequência das respostas e de média e mediana, como usualmente tratada a escala

em estudos de administração e de marketing, afins a este estudo. Embora o objetivo não seja uma

medida estatística para generalização, visto que a amostra será restrita e de uso interno em uma

empresa, o questionário quantitativo, nestes moldes, pode ajudar a compreender o problema

proposto.

5.2.2 Avaliação e Utilização dos Resultados

Fechados os questionários da segunda etapa, o avaliador deverá tabular os resultados por

entrevistado e também fazer a média ou a mediana (de acordo com o tamanho da amostra) entre

estes, de modo a garantir um resultado médio para cada variável proposta. Deverá ser analisada a

média ou a mediana de cada variável em cada grupo de participantes: gestores, designers e

engenheiros, se for o caso.

A partir destes resultados a análise das respostas será procedida, apontando para a

intensidade de concordância geral com as variáveis propostas. Gráficos de radar, ou similares,

deverão ser gerados para que se possa observar a intensidade do uso de cada uma das variáveis

que compõem as dimensões de design na empresa, para cada um dos grupos envolvidos,

conforme o exemplo da figura16.

127

Figura 16 – Gráfico de Resultados da Sistemática

Observando o exemplo da figura 16, percebe-se que quanto mais próximas da borda,

maior concordância em relação à variável foi observada pelo instrumento de avaliação. A borda

do gráfico indica também maior proximidade com o ideal de Gestão de Design observado pela

literatura. Por outro lado, quanto mais próximo do centro, mais engessado é o processo em

relação ao design e a Gestão de Design e mais espaço para mudança e crescimento existe para a

empresa em questão.

Os resultados disponibilizados no gráfico devem também ser comparados aos resultados

da discussão sobre as estruturas da empresa, dando aos envolvidos no processo compreensão dos

porquês da marcação do gráfico. Esta discussão deve ser procedida, com todos os resultados

obtidos pela aplicação da sistemática em reunião do grupo de trabalho determinado no início do

processo. Deste modo, os resultados poderão ser discutidos e eventuais mudanças sejam

analisadas pela empresa em busca de uma melhor Gestão de Design. É importante notar que a

aplicação da sistemática periodicamente permite avaliar a evolução da empresa em relação à

Gestão de Design.

12

34

5

6

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26

27

2829

30

DESIGNERS

GESTORES

128

Em resumo, o procedimento para aplicação da Sistemática de Avaliação da Gestão de

Design obedece aos seguintes passos:

1. Aval da direção e escolha do avaliador.

2. Escolha do grupo de trabalho.

3. Análise das estruturas – entrevista com gestor e designer.

4. Consolidação de resultados – estruturas.

5. Reunião de alinhamento dos resultados – estruturas.

6. Avaliação dos entendimentos – aplicação dos questionários.

7. Aplicação dos questionários da segunda etapa.

8. Tabulação dos resultados individuais e em grupo.

9. Análise dos resultados.

10. Relação entre resultados das duas etapas.

11. Apresentação para o grupo de trabalho – discussão de melhorias.

5.3 PROCESSO DE DESIGN PARA GESTÃO DE DESIGN

Ao longo do desenvolvimento desta tese, a questão do processo de design, procedimento

ou do método de design utilizado nas empresas tornou-se ponto recorrente. Desde a

fundamentação teórica, na qual aparecia quase que como parte da definição de design em si,

passando pela análise do design e do profissional designer nas empresas e chegando a

identificação da Gestão de Design nestas, o processo de design aparece como parte importante da

definição dos conceitos e da compreensão de como funciona a realidade dos mesmos. Sempre

que foi solicitado a um entrevistado explicar como funcionava o design nas empresas as quais ele

conhecia, ou na empresa onde trabalhava, o método de projeto com suas etapas, interferências de

outras equipes e situações de trabalho fazia-se presente como um emblema da realidade do

design e, por conseqüência, da Gestão de Design nas empresas.

Deste modo, além de considerar esta realidade e a teoria, a presente pesquisa pôde

desenvolver um modelo de como seria o melhor método de trabalho da equipe de design para

129

proporcionar uma melhor Gestão de Design. Escolheu-se nominar este de “Processo de Design

para Gestão de Design”, de modo a não confundi-lo com o modelo gerado ou com a sistemática,

resguardando o termo processo para esta dinâmica, que de fato é um processo. A figura 17

apresenta o processo, que teve seu desenvolvimento iniciado na primeira etapa de entrevistas,

com especialistas, reforçado pelas entrevistas nas onze empresas e avaliado nas entrevistas finais

com os designers.

Figura 17 – Processo de Design para Gestão de Design

O processo de design, com vistas a Gestão de Design, inicia-se com a definição da

necessidade de desenvolvimento de um novo produto e a sua conceituação. Esta primeira etapa

pode ter origem nos níveis estratégico ou tático da empresa, dependendo de sua configuração e

gestão. A seguir, análises de marketing ligadas ao mercado, comportamento do consumidor,

segmentação, posicionamento, concorrência e portfólio de produtos devem ser desenvolvidas

130

como ferramenta estratégica de definição do novo produto a ser desenvolvido. Neste ponto, a

análise financeira e dos custos do novo produto deve ser iniciada. Escolhido o foco e com a

análise de marketing pronta, análises de design são procedidas, como análises sincrônicas e

diacrônicas, de significado e de uso são desenvolvidas para que as alternativas para o produto

sejam geradas. Esta terceira etapa é típica do método de trabalho do designer e bastante cara para

os profissionais.

A quarta etapa do processo é a primeira avaliação e interferência oficial da diretoria no

projeto do produto. Esta aprovação determina a sequência do processo ou a volta a uma das

etapas anteriores. Se aprovado, o projeto passa para a etapa tática de desenvolvimento técnico e

de produção de protótipos antes da nova avaliação da diretoria.

Segue-se a esta etapa a confecção de moldes, ferramentas para produção e eventuais

ajustes nesta, além de verificação de materiais e de custos. Procedida uma última etapa de

avaliação por parte da diretoria a produção do produto está autorizada e os processos de pós-

produção e lançamento do produto podem ser objetivados.

Entende-se, com esta sequência de passos e processos que a empresa esteja integrando

adequadamente sua equipe de design aos processos gerais, abordando o tema com a devida

importância e proporcionando um ambiente propenso a Gestão de Design.

131

6. DISCUSSÃO

A evolução da compreensão da Gestão de Design nos últimos anos (BORJA DE

MOZOTA, 2002, 2003 e 2006; BEST, 2006; SANTOS, 2000; BORJA DE MOZOTA; KIM,

2009; KRETZSCHMAR, 2003; BEVERLAND; FARRELY, 2007; entre outros) elevou sua

posição de novidade para parte da realidade profissional dos designers e da gestão das empresas.

Profissionais de design antes formados e direcionados exclusivamente para questões projetuais

agora ampliam seu horizonte para a necessária compreensão da administração de empresas

enquanto gestão e conhecimento do mercado consumidor. Do mesmo modo, as empresas

reconhecem o papel do design na sua manutenção, crescimento e inovação; focando decisões

estratégicas com base neste ativo. Segundo Brown (2009), as causas do crescente interesse por

design encontram fundamento na noção de que o centro de atividade econômica dos países em

desenvolvimento mudou da manufatura industrial para a criação de conhecimento e a entrega de

valor, tendo inovação como estratégia fundamental. Design como ferramenta de diferenciação e

competitividade, pode ajudar na composição de uma oferta única de valor (BORJA DE

MOZOTA, 2006). Neste contexto, segundo Lockwood (2007), design conseguiu a atenção dos

empresários mostrando-se como um bom fator para os negócios. Para que aconteça uma boa

administração dos recursos de design, empresários e designers precisam, ainda, aprender um a

linguagem do outro. Parte do desafio tanto gerencial quanto acadêmico da Gestão de Design

contemporânea é justamente este.

Naturalmente, como todo o novo tema científico, Gestão de Design passou por uma fase

de delimitação, na qual autores e estudantes buscaram delimitá-lo e descrevê-lo para que,

posteriormente, novas pesquisas avancem o campo teórico observando, medindo e prescrevendo

como deveriam se comportar as partes envolvidas. Em diversos países, como Inglaterra, Estados

Unidos e França, nos quais o conceito já é conhecido há mais tempo, Gestão de Design está,

atualmente, passando de uma fase para outra na evolução da sua característica como ciência.

Bem descrita, passa a ser medida e prescrita também como ferramenta. No Brasil, a relatada falta

de teoria e parâmetro foi constatada na revisão teórica desta tese e abriu espaço para que este

trabalho pudesse apresentar conceitos, ampliar o espectro teórico e desenvolver uma sistemática

132

de avaliação que abrisse a discussão sobre medida e melhoria na Gestão de Design brasileira.

Deste modo, o estudo aqui desenvolvido permitiu avançar o conhecimento no tema no Brasil, por

estar alinhado também com as pesquisas internacionais da área, como cabe a uma tese de

doutorado.

A análise do uso do design nas empresas, procedida como todo o estudo de modo

qualitativo permitiu ver o quanto design pode ser favorável para o crescimento de uma empresa.

Seja com equipe grande, seja aplicado de modo superficial por um empresário bem intencionado,

design é um ativo valoroso para empresas que inovam e querem crescer próximas da necessidade

e do desejo dos mercados consumidores. Esta constatação é consistente com a sinalização de

diversos autores acerca da capacidade que design concede a empresa na diferenciação do

produto, por ser uma expertise de difícil imitação (LÖBACH, 2001; BORJA DE MOZOTA,

2002; VERGANTI, 2009; entre outros). Permitiu, também, ver como ainda é ponto

negligenciado, mesmo em grandes corporações, reforçando a percepção de Kotler e Rath (1984)

já com mais de 25 anos e, infelizmente, ainda atual. Ainda no século XXI, alguns empresários

preferem a cópia e a solução barata para projetos que mereceriam inteligência em design.

Bem como a análise do uso de design nas empresas, o mapeamento destes processos

procedido pelo presente estudo permitiu ver a variedade de opções para a implementação e

integração de processos de design nas empresas. Não existe um único modo correto de utilizar

design na sua plenitude. Não existe um único papel para design e para o designer no ambiente

corporativo. E, de modo interessante, fica claro que plenitude é um conceito relativo ao falar-se

de bom uso de design e de Gestão de Design. Assim como algumas empresas utilizam design

para inovação e processo contínuo de melhoria e conexão com mercado, outras simplesmente

gerenciam design em busca de processos otimizados de produção ou materiais. E ambos os usos

são legítimos como Gestão de Design. Desmistifica-se, deste modo, o tão falado caráter

glamoroso do design nas empresas. Ele pode até existir perante o público consumidor, como

argumento de venda, mas certamente não é a realidade das empresas e dos profissionais e nem a

intenção dos gestores que efetivamente percebem no design um diferencial competitivo.

A disponibilidade do gestor principal da empresa em oportunizar design é provavelmente

o maior fator crítico de sucesso para a Gestão de Design. No mesmo patamar, e como

133

conseqüência direta desta, a cultura organizacional pode ser determinante quando se fala de

design e Gestão de Design. Como sinalizou o estudo de Dechamp e Szostak Tapon (2009),

gestores com formação familiar e profissional mais amplas, em termos de arte e cultura, tendem

a perceber design como salutar para sua empresa e para a estratégia desta. Podem também

constituir fatores críticos para o sucesso da Gestão de Design nas empresas a visão estratégica

em relação ao design, especialmente na intenção de seu uso (diferenciação, coordenação,

transformação e bom negócio) e a conseqüente integração do design aos processos. Deve existir

consistência entre ambos, pois se torna complicado gerenciar design com vistas à transformação

integrando equipes em ambientes somente táticos ou operacionais, com conseqüente abordagem

gerencial (BORJA DE MOZOTA, 2002; 2003; 2006). Por esta visão, percebe-se também que a

competência em design, ou a existência de equipes de design podem ser um fator de sucesso.

Existir ou não equipe qualificada pode determinar a maturidade com a qual design é percebido

pelo gestor e utilizado como estratégia, em concordância com o que dizem Walsh et al. (1992),

sobre a variedade de atitudes em relação ao design dentro das empresas, especialmente das

indústrias, refletir a atitude desta em relação à importância do design. Segundo os autores existe

uma forte correlação entre o modo como design é definido pela empresa e o departamento que é

responsável pela função, fazendo com que o papel do designer transite de colecionador de

informações para os outros à coordenador de funções para o desenvolvimento de produtos. Pode-

se, também, encontrar empresas nas quais a figura do profissional é substituída pela

“competência” em design, exercida por outro individuo, como previsto no modelo de Rozenfeld

et al. (2006). Nestes casos, a empresa poderá correr o risco de relegar design ao uso meramente

de estilo, eventualmente de maquiagem de produto ou cópia.

Segundo Utterback et al. (2010), o fato de nem sempre ser os designers a estar engajados

nos processos de design é uma das razões que faz o design ser difícil de identificar em algumas

empresas caracterizando o denominado “design silencioso”. Ainda segundo o autor, as estruturas

das empresas refletem as diferentes compreensões que as empresas têm de design. Algumas

vêem design de um modo estreito, como estética ou maquiagem de produto ou simplesmente

performance (operacional), estas são mais propensas ao design silencioso (WALSH et al., 1992;

UTTERBACK et al., 2010). Outras têm visão mais ampla de design e estão mais propensas a ter

foco no design ou ser lideradas pelo design. Segundo o autor, estas apresentam uma associação

positiva entre design performance comercial. Embora a pesquisa identifique empresas nas quais

134

a equipe de design não existe e sim a competência, percebe-se também as dificuldades para

efetiva Gestão de Design e pleno uso do processo. Pode-se questionar por quanto tempo

sustentar-se-ão estas realidades.

Resulta desta observação a conclusão de que a escada do design (KRETZSCHMAR,

2003) não tem seus degraus planos e únicos, mas sim degraus subdivididos em, pelo menos, nas

três dimensões de design determinadas neste estudo: processos, competências e estratégias. Do

mesmo modo, o modelo teórico e a sistemática de avaliação da Gestão de Design frutos desta

tese calcam sua existência nestas três dimensões. A competência, como a prática profissional, os

conhecimentos, habilidades e atitudes do designer ou quanto ao design, o processo no qual esta

competência está inserida e como se relaciona às outras equipes da empresa e a estratégia que

comanda a todos e é alimentada por todos como abordagem e intenção da empresa para com o

design e sua gestão. Fica claro, também, que design e Gestão de Design parte destas três

dimensões, mas têm inúmeras conexões com outros temas, como mostra o mapa mental da figura

18.

Figura 18 – Mapa Mental de Gestão de Design.

Gestão de Design

Competência

Estratégia

Processo

Designers

Capital Intelectual

Gestão do

Conhecimento

Ativos Intangíveis

Aprendizagem

Método

Design

Indicadores de

Desempenho

Orientação para

Mercado

Valor para

o Cliente

Comportamento

do Consumidor

Marketing

Planejamento

Desenvolvimento

de produto

Marca

Simbolismo

Projeto

Inovação

135

Segundo Brown (2009), o pensamento linear trata de conexões sequenciais enquanto os

mapas mentais falam sobre conexões e podem ser um modo mais aberto e interessante de

trabalhar assuntos relacionados ao design. Deste modo, observar as relações encontradas entre

temas ligados à Gestão de Design em um mapa mental permite ver a riqueza de temas e

disciplinas ligados às três dimensões básicas de design e Gestão de Design, multifacetando e

concretizando estruturas e entendimentos como as duas partes que compõe cada uma das

dimensões de design e permitem compreender e avaliar Gestão de Design nas empresas.

Os desdobramentos da dimensão de processo podem-se contextualizar as questões do

projeto de design e da sua relação com outras equipes da empresa. Ao processo estão ligadas as

questões de desenvolvimento de produto, o conceito de inovação e sua relação próxima com

design apresentada nos trabalhos de Brown (2009), Verganti (2009) e Utterback et al. (2009)

entre outros. O resultado da pesquisa realizada apresenta processo caracterizado pelo método de

trabalho do designer (BOMFIM, 1977; BONSIEPE, 1978; MUNARI, 1998; LÖBACH, 2001) e

pela relação da equipe de design com as outras equipes da empresa, tanto que resulta em um

processo de design adequado à Gestão de Design, ou ideal para a melhor Gestão de Design.

Nele, as fases do projeto de um produto estão ligadas ao tipo de produto e a atuação do

profissional, ressaltando a relação da dimensão de processo com a de competências. Aponta,

também, mesmo que nesta via indiretamente, para a estratégia da empresa, uma vez que o tipo de

processo reflete a política para com design escolhida pelos gestores da empresa.

Quando observa-se a competência como dimensão de Gestão de Design imediatamente o

profissional de design é lembrado ressaltando os conhecimentos, habilidades e atitudes

característicos deste conceito (RUAS; ANTONELLO; BOFF, 2005) e remetendo ao método de

projeto. Mas competências também direcionam o pensamento para o conceito de aprendizagem

(ARGYRIS, 2000; GARVIN, 1993) que pode derivar tanto do designer no exercício da profissão

quanto do conhecimento acumulado ao longo dos projetos. Neste ponto reside uma das facetas

mais interessantes do design e da Gestão de Design em si: a capacidade de gerar conhecimento,

melhorar processos e inovar que tem o próprio processo de design. Drucker, Nonaka, Garvin,

Argyris e outros (GESTÃO DO CONHECIMENTO, 2000), ao escreverem uma coletânea de

artigos sobre Gestão do Conhecimento contribuíram apresentando seus conceitos, relação com

aprendizagem e sua importância para a gestão das empresas. A partir destes conceitos, percebe-

136

se que projetos mais ou menos profundos podem desencadear processos de aprendizagem de

ciclo simples ou duplos, inovação, além de permitirem criar, guardar e reutilizar conhecimentos

de projeto. Estas relações levam a compreensão de design como capital intelectual e ativo

intangível, comprovadas pelas entrevistas deste estudo, ao ponto de poder-se entender que,

dependendo de como a Gestão de Design é procedida, ou o quanto melhor a empresa o faz,

maior o caráter de diferencial tem design na empresa. Em acordo com o que define Borja de

Mozota (2002) a Gestão de Design como competência central e aprendizagem organizacional vai

permitir processos de design como pensamento estratégico, baseado em cenários e metáforas, em

um modelo de gestão que promove o encontro da inovação com a engenharia, mudando o modo

de pensar das empresas. Esta visão permite elencar a estratégia no mapa mental.

Assim, a estratégia, de certo modo, amarra o mapa mental. De um lado com os

indicadores de desempenho, que podem ajudar a medir processos e definir novas competências e

processos. Os indicadores de desempenho, já bastante utilizados na administração de empresas

são um ponto de atenção imediata para o gestor de design. Conforme mostra a pesquisa, as

empresas de fato pouco conhecem sobre estes quando relacionados ao design. Parece definitivo,

dados os resultados desta pesquisa que medir design é fundamental para que se possa gerenciá-lo

melhor, ainda que esta medida seja complicada, conforme O´Donnell e Duffy (2002), justamente

por suas características intangíveis.

Em outra linha de conexões, estratégia leva a orientação para mercado, construto sólido

na pesquisa em administração que relata a necessidade de buscar informações no mercado,

disseminá-las nas empresas e responder ao mercado conforme este demandou (KOHLI;

JAWORSKI, 1990; JAWORSKI; KOHLI, 1993). É definitivo que design tem papel importante

neste modelo, tanto teoricamente quanto apresentado pela pesquisa de campo no momento que

os designers e os especialistas entrevistados apontam a importância do consumidor e da pesquisa

de consumo no início de projetos de produto. Assim, este conceito no mapa mental leva tanto ao

marketing e planejamento quanto ao conceito de valor para o cliente, que leva ao comportamento

do consumidor, que leva ao simbolismo e a marca e, por conseqüência, ao desenvolvimento de

produto. Esta sequência de conceitos salienta a importância da vertente de pensamento ligada ao

consumo e ao significado de produto na Gestão de Design. Concordando com autores como

137

Löbach (2001), Verganti (2009) entre outros, o significado e o vínculo de consumo (WOLFF,

2002; 2004) são determinantes no design.

Por fim, percebe-se que métodos, conhecimento, aprendizagem, capital intelectual, ativos

intangíveis, inovação, desenvolvimento de produtos, simbolismo e comportamento do

consumidor formam o contexto do uso do design e de sua gestão. E é neste emaranhado de

conexões que reside a amplitude e a lateralidade de pensamento do designer e, por conseqüência,

da gestão que se pode fazer do design nas empresas. O encanto do design, tão falado, e a sua

característica única de diferencial competitivo descendem destas relações.

138

7. CONCLUSÃO

Nesta tese foi desenvolvida uma Sistemática para avaliar a Gestão de Design nas

empresas. O objetivo geral, focado na construção da sistemática foi plenamente atendido, bem

como os objetivos específicos que visavam analisar o uso do design nas empresas e mapear seus

processos, identificando o papel do design e a função da Gestão de Design nas empresas.

Atingiu-se, também, o estabelecimento de dimensões de Gestão de Design e os fatores críticos de

sucesso desta. Além dos objetivos da presente tese, os resultados da pesquisa teórica e de campo

permitiram desenvolver um modelo conceitual de Gestão de Design, que dá suporte à

Sistemática e ampara sua construção. Este modelo é único em relação ao que constitui a

produção científica brasileira, não encontrando nenhum similar e contribuindo para evolução do

pensamento em Gestão de Design no Brasil.

No que concerne ao estado da arte desta pesquisa, apresentada no capítulo de

fundamentação teórica desta tese, os resultados permitiram alavancar a pesquisa no tema para um

novo patamar, mais alinhado com a pesquisa internacional, uma vez que traz uma definição

brasileira de Gestão de Design, das suas dimensões e de como avaliar este conceito. A

perspectiva apresentada pela análise sistemática procedida nesta tese reforça então o caráter

inédito do estudo e sua contribuição para a área.

A Sistemática desenvolvida tem seu procedimento bem definido neste trabalho e poderá

contribuir não somente para a avaliação da situação de uma empresa em relação à Gestão de

Design, mas também ao determinar e implementar melhorias, verificando suas evoluções.

Contribuirá, também, para setores empresariais ou organizações que queiram verificar a situação

de um conjunto de empresas, possibilitando gerar um ranking quanto à adequação da Gestão de

Design das empresas pesquisadas.

Ao fechar este estudo muitos caminhos se apresentam propícios para outras explorações

do tema. Entretanto, teses devem ser delimitadas sob risco de perder foco ou jamais ficarem

prontas, desperdiçando a oportunidade de, em futuros estudos, que o conhecimento seja

139

ampliado. No desenvolvimento deste trabalho foram evidenciadas dificuldades, principalmente

ligadas ao acesso às empresas e aos seus gestores. Esta dificuldade também já indica que tipo de

barreiras enfrentarão os designers ao aplicar o instrumento. As limitações típicas de um estudo

qualitativo apontam para a não generalização dos achados de pesquisa, o que poderá ser

superado com futuros estudos quantitativos sobre o tema.

Para novas pesquisas muito ainda se pode fazer, por exemplo, buscar aplicar a sistemática

em um conjunto de empresas para classificar a situação da Gestão de Design no Rio Grande do

Sul ou no Brasil constituiria um estudo quantitativo para saber-se o estado da Gestão de Design

no Brasil. Pode-se também aprofundar o conhecimento sobre o gestor de design como uma

contribuição para o meio. Além disso, estudos entre países para uma comparação com vistas à

evolução da Gestão de Design no Brasil, também seriam pertinentes.

140

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APÊNDICES

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Lista de Apêndices

I. Roteiro de Entrevista com Especialistas

II. Entrevistas com Especialistas

III. Roteiro de Entrevista com Empresas

IV. Entrevistas nas empresas

V. Roteiro de Entrevista com Designers nas empresas – Etapa Final

VI. Entrevistas com Designers nas empresas - Etapa Final

VII. Roteiro de Entrevistas com Especialistas – Etapa Final

VIII. Entrevistas com Especialistas – Etapa Final

IX. Roteiro de Entrevistas com Professores Especialistas - Etapa Final

X. Entrevistas com Professores Especialistas - Etapa Final

XI. Proposta Inicial da Sistemática

158

I – Roteiro de Entrevista com Especialistas

Fabiane Wolff

Programa de Pós Graduação em Engenharia da Produção

PPGEP - UFRGS

Protocolo de Pesquisa

Pré Projeto de Doutorado

1. Formação / anos de experiência

2. Principais projetos e clientes

3. Como o Senhor começou a trabalhar na indústria? Como começou a projetar para

produção em série. O que o empresário da época/empresa pensava ou desejava?

4. Ao longo dos seus anos de experiência, o Senhor notou mudanças ou diferenças no

processo ou relacionamento entre designer e indústria? Como é hoje e como era antes?

5. Quais as principais vantagens e desvantagens destes processos?

6. (TIC) O Sr. poderia me relatar uma situação de trabalho muito proveitosa ao longo de sua

carreira? Algum projeto que tenha sido especial, ou satisfatório.

7. E uma situação de insatisfação, ou não proveitosa. O Sr. teria algum exemplo para

ilustrar?

8. Como o Senhor acha que a empresa vê e pensa o processo de Design? Pq. as coisas são

do modo que são no relacionamento designer X indústria?

9. Como seria o relacionamento ideal designer X indústria?

10. Na sua percepção, ainda “importamos” muitos projetos? Como se dá esta situação?

11. O que poderia ser feito a respeito?

12. Em sua opinião, quais as melhores e piores empresas em termos de gestão de design?

(base para amostragem posterior)

13. Durante a sua experiência, como o Sr. avalia o impacto financeiro para a empresa do uso

de design?

Extras:

14. Qual a participação efetiva do designer na indústria?

159

II – Entrevistas com Especialistas

Entrevista com Especialistas 1 – José Carlos Bornancini, Nélson Ivan Petzhold e Paulo

Muller

Responsáveis por alguns dos projetos de design mais relevantes feitos no Brasil até hoje

os três profissionais desta primeira entrevista trabalham juntos há pelo menos, 20 anos. Os

entrevistados, que são responsáveis pelo mais reconhecido escritório de design de produto do

Brasil, foram premiados inúmeras vezes e tem centenas de patentes de direito autoral

reconhecidas no Brasil e no exterior. A experiência dos entrevistados soma inúmeros anos e

projetos para mais de 70 empresas, sendo que um dos designers conta 55 de atividade

profissional, outro soma 45 anos e o terceiro 30 anos de mercado.

Percebem, neste período, as mudanças ocorridas em relação ao mercado e a mentalidade

do empresariado. Acreditam que muitos empresários “já se deram conta que a desculpa do preço

não cola mais. Até porque o diferencial que o design faz tem impacto no preço”. Comentam que

ainda existem inúmeros empresários que preferem buscar referencias no exterior, principalmente

em feiras, e copia-las em seus produtos. Mas acreditam que as empresas sérias e com capacidade

real de atuação no mercado, buscam bons projetos.

“Tem um tipo de empresário que se acha iluminado por divindade particular e não

aceita ajuda”.

Acreditam que algumas empresas pensam design como status e que destas não se pode

esperar muito. Mas outras investem em design como estratégia, e estas sim, saberão buscar

profissionais, conduzir projetos e produzir.

Os entrevistados acreditam que existem dois tipos de design: o efêmero, semelhante à

propaganda, e o design que reforça a qualidade do produto, ou a qualidade que o produto deve

ter. Este segundo tipo, quando aliado à visão estratégica da empresa, poderá resultar em grandes

benefícios para as empresas e para os consumidores. Salientaram que, mesmo para grandes

160

equipamentos industriais como uma fresadora (em desenvolvimento), o design pode gerar a

percepção de qualidade que o produto deve apresentar.

Relembraram um caso antigo de projeto, no qual a empresa gostaria de exportar suas

direções hidráulicas para lanchas para o mercado americano e tinha muita dificuldade de inserir o

produto junto aos fabricantes de lancha. Convictos de que a qualidade era a mesma dos

concorrentes, chamaram os designer para uma avaliação do produto. A constatação dos

profissionais foi que, embora a qualidade fosse a mesma, o design do concorrente passava a

impressão de maior fortaleza e robustez, o que, provavelmente, acabava por influenciar o

comprador (montadora de lanchas)!

Os entrevistados são, usualmente, contratados para auxiliar empresas no desenvolvimento

de produtos, sejam eles novos ou não. Salientaram que são deixados à vontade para criar em

empresas que confiam no trabalho desenvolvido. Depois de um certo tempo, conquistam a

confiança do empresário. Em alguns momentos vivenciam conflitos com funcionários da

engenharia ou do marketing, mas estes são logo sanados pela própria inexperiência dos

profissionais no que estão tentando interferir.

Conforme relata um dos entrevistados, muitas vezes foi complicado inserir novas idéias

nas empresas. Sabe-se que muitos projetos foram feitos na improvisação e assim, quando se tenta

implantar um projeto sério, tanto empresários como funcionários das empresas relutam em

aceitar. Não foram poucas, segundo os entrevistados, os momentos de tensão com “colegas” de

equipes internas das empresas para as quais prestavam serviços. Eles relembram uma ocasião

onde os modelos de massa, já prontos, foram “retocados” pelo gerente de marketing da empresa

que gostaria de “experimentar novas soluções. Ele ficou tão atrapalhado ao perceber que não

conseguia moldar o que desejava e que já estava estragando nosso modelo que foi obrigado a

nos pedir ajuda! Ao ver minha brabeza, pediu desculpas e confessou que achava que seria fácil

moldar, afinal era somente massa”! Diverte-se o designer ao relembrar o momento.

A lembrança do episódio também leva os designers a salientar que muitas vezes existe o

desprestígio da profissão. Acreditam que a empresa que não tem „corpo de design‟ mas tem

postos de trabalho, geralmente tem um rapaz responsável pelo “design”, e isso acaba

161

prejudicando os projetos, pois este funcionário não é capacitado para tal atividade. E mais,

muitas vezes a empresa não percebe isso e acaba furtando-se de um envolvimento maior com a

questão, pois acredita que ela está encaminhada.

A respeito dos produtos projetados, os entrevistados ponderam a relação entre criar novos

produtos e projetar a evolução de produtos já existentes. Explicam que as empresas, quando

estão iniciando seus processos de design levam algum tempo para perceber que os produtos que

estão no mercado tiveram seu tempo de projeto e amadurecimento. E muitas vezes este tempo é

longo. Então, caracterizam o desenvolvimento de um produto totalmente novo como diferente do

que a evolução de um produto existente. No desenvolvimento de produtos totalmente novos a

etapa de conceituação é muito complexa. O futuro objeto e seus prováveis usos devem ser

pesquisados, ao contrário de um produto conhecido, que demandará trabalho na sua evolução,

em pesquisa de materiais e processos de fabricação.

“A invenção está sempre no fio da navalha entre genialidade e loucura” salienta um dos

entrevistados, relembrando pelo menos dois projetos onde “a novidade foi radical em um troço

besta”. Muitas vezes, sob a resistência do empresário que não conseguia ver evolução no projeto

mas a percebeu no momento da fabricação. Nestes momentos, salientam os entrevistados, a

confiança do empresário no designer é tão fundamental como o conhecimento técnico do

profissional para que nada dê errado.

Ainda sobre inovação nas empresas, um dos entrevistados salienta estar convencido que o

caminho para a indústria brasileira, é a inovação, significando uma inovação inteligente,

planejada e corretamente dosada. Acredita que em alguns campos dificilmente seria possível

inovar, em outros podemos fazê-lo tranqüilamente. “É necessário ter a coragem de inovar,

conscientes de que a inovação implica em investimentos e riscos mas que esses riscos diminuem

se forem desenvolvidos estudos prévios de marketing e um cuidadoso planejamento”.

Perguntados sobre o impacto que os projetos desenvolvido tiveram na performance das

empresas, os entrevistados acreditam que na maioria das empresas atendidas, seus projetos ou

mudaram a perspectiva da empresa sobre design, ou geraram imensos benefícios econômicos e

mercadológicos, ou até mesmo provocaram problemas pela ineficiência em gerir a demanda

162

provocada. Salientaram, entre as inúmeras experiências (foram mais de 70 empresas atendidas

nos anos de trabalho), que em pelo menos um caso a empresa teve aumento de faturamento de

70% e foi vendida com muito sucesso para um grupo europeu em função do design diferenciado

do produto, desenvolvido pelos entrevistados. Comentam outros casos de impacto importante,

como por exemplo, um caso onde os processos de fabricação de um produto caíram de 170 para

18 etapas com a evolução projetada para o produto. Relembram também, com certa tristeza, o

caso de uma indústria que acabou fechando as portas pois a demanda provocada pelo novo

produto foi tanta que se fez necessária a duplicação da planta produtiva para atender ao mercado.

O que não foi possível em função das capacidades administrativas e financeiras da indústria.

Os entrevistados salientam ainda o impacto do design na vida das pessoas. Muitas vezes

deixada de lado pela empresa, o vínculo que pode existir entre produto e consumidor é muito

importante. Alguns produtos marcam a vida das pessoas e os designer percebem isso quando são

convidados a palestrar e percebem o espanto do público ao saber que eles são os responsáveis

por projetos tão presentes nas casas, nas vidas e na infância de muitos presentes. Salientam que

as empresas não têm o bom hábito de preservar suas memórias e as memórias de seus produtos,

com museus ou acervos. E, sendo o design um fator cultural, esta parte do patrimônio se perde.

Entrevista com Especialistas 2 – Maurício Berguenthal Andrade

O segundo entrevistado desta pesquisa é administrador de empresas e atua na gestão de

uma associação de direito privado, sem fins lucrativos; um programa misto (público e privado)

de apoio ao desenvolvimento e gestão do design. Nos dois anos e meio que atua no projeto o

gestor já apresentou o que é design para mais de 1000 expectadores entre inúmeras empresas no

Rio Grande do Sul, orientando o relacionamento entre micro e pequenas empresas e profissionais

de design. Acompanhou inúmeros projetos e foi entrevistado neste trabalho justamente por sua

ampla experiência com o design no dia a dia das empresas.

Acredita que, nos últimos anos, um houve um favorecimento por parte da mídia em

relação ao design. Esta exposição proporcionou um maior entendimento do empresariado e do

público em geral acerca do que é design. O entrevistado acredita que ainda falta muita

163

informação acerca da profissão, suas atribuições, vantagens e restrições. Em relação ao

empresariado, a desinformação acaba gerando uma atitude inadequada em relação ao design.

“Freqüentemente recebo telefonemas de empresários solicitando „uns desenhos, bem

baratinhos”.

Entretanto, o entrevistado retoma a questão dos termos usados para definir a profissão

como ponto de entrave no seu próprio desenvolvimento: “O nome design também é um galho!

Quando a maioria das pessoas conhecia como Desenhista Industrial elas tinham mais noção do

que a profissão representava. Estamos perdendo tempo em explicar para as pessoas...a gente

fica amarrado em ter que explicar o que é design!”

O entrevistado pondera que nas micro e pequenas empresas, a realidade da administração

é diferente das grandes indústrias. Salienta que entre 70 e 80% das empresas são administradas

por pessoas que começaram seus negócios e não tem formação, portanto o nível cultural a

compreensão acerca do design também são mais baixos.

No que tange a atuação profissional do entrevistado, este saliente que é missão da

instituição apresentar o design e seu impacto na via diária da empresa. Percebe, em contato com

o mercado que os empresários têm mais dificuldade em entender as vantagens do design gráfico

do que do design de produto. Acredita que e a sensação de que o design é um processo

interligado à publicidade prejudica o entendimento da importância de uma boa identidade

corporativa e de outras questões ligadas ao design gráfico. Já o design de produto parece mais

tangível para os empresários, acostumados a lidar com produtos.

Em relação ao mercado e ao posicionamento das empresas, o entrevistado salienta que

percebe vantagens nas empresas que primeiramente avaliam o mercado e somente depois se

engajam em processos de design. “Essas empresas despontam!”, salienta o entrevistado.

Quando questionado acerca da sua percepção em relação à inserção e ao andamento de

projetos de design nas indústrias, o entrevistado comentou que existem alguns pontos chave que

devem ser observados. Primeiramente, segundo o entrevistado, as questões administrativas da

empresa devem ser claras para os gestores. O entrevistado salienta que, na maioria dos casos de

164

micro e pequenas empresas (segmento no qual atua) as empresas não tem uma estrutura básica

de gestão. Controles administrativos como capacidade de produção, percentual da fábrica

disponível para novos projetos, alcance da logística, e muitas vezes até faturamento são

desconhecidos. Assim, os gestores não conseguem mensurar até que ponto sua empresa poderá

avançar e, principalmente, quanto será beneficiada por projetos de design. “Muitas vezes, assisti

empresa contratarem designers e não conseguirem desenvolver o projeto ou não conseguirem

produzir o que foi projetado.” O entrevistado esclarece que no primeiro caso, o projeto não

evolui pois o profissional de design não tem informações suficientes para projetar e, no segundo

caso, a empresa não consegue se estruturar para iniciar a produção.

Em relação aos profissionais de design, o entrevistado salienta a importância da confiança

e da honestidade na relação entre empresário e profissional. Acredita que, em muitos casos, a

confiança e a honestidade existam, mas também reforça que a falta de controles administrativos,

muitas vezes, acaba por prejudicar esta relação. Nestes casos, o próprio empresário fica sem

saber o valor de investimento realizado, perdendo, inclusive, a noção dos benefícios recebidos

com o projeto.

O entrevistado comentou que ao longo de sua atividade um único empresário teve

condições que avaliar as reduções de custos na sua empresa e estava muito satisfeito com os 30%

de economia que estava fazendo.

Em relação à intervenção dos processos de design na indústria, o entrevistado salientou

que a empresa deve estar preparada para receber o projeto de design, pois muitas vezes um

projeto, sem a devida preparação da empresa, pode gerar prejuízos significativos. “Gerar

necessidades no mercado e não atender pode matar a empresa. E nem todas tem uma segunda

chance!”.

Quando perguntado sobre o modelo ideal de projeto o entrevistado citou o modelo de

uma de suas universidades conveniadas que propõe que o projeto inicie com uma boa análise da

empresa e de seu mercado. No inicio dos projetos um diagnóstico de marketing e outros de

produção são feitos por especialistas que avaliam, entre diversos indicadores, se a empresa tem

condições de receber projetos de design. Se o diagnóstico é positivo, os designers são informados

165

de todas as características elencadas, o que permite um inicio de projeto consciente e

fundamentado pela realidade. Os primeiros desenhos são desenvolvidos e a empresa acompanha

com os consultores a evolução destes desenhos para projetos. Protótipos são desenvolvidos e a

produção inicia tão logo o projeto esteja pronto. Ao longo de todo o projeto, pesquisas de

tendências são desenvolvidas e abastecem as fases do projeto.

Segundo o entrevistado, este modelo é muito bom, pois cerca todas as questões da

empresa, avaliando a real condição desta e proporcionando informações para um projeto

sustentado, adequado e vendável para o mercado. Um projeto que beneficiará a empresa,

proporcionando, provavelmente, redução de custos, otimização de materiais e processos e

aumento de vendas, por conseqüência, aumento de performance organizacional.

Sobre a capacidade dos profissionais, o entrevistado argumenta que, muitas vezes, o

designer chamado para auxiliar a indústria não sabe se posicionar, gerando problemas. “Tem

profissional formado, ou quase formado, que não traduz os conceitos da empresa e isso gera

conflitos. O profissional propõe insumos não adequados, não tem noções de produção. E não

adianta, o bom projeto é aquele que além de ser produzido, vende! O dilema de quem quer um

produto diferenciado é justamente este!” Salienta, assim, a função do design como decodificador

e da pesquisa aliada aos projetos.

Finalizando, o entrevistado ressalta que “O „desenho baratinho‟ custa muito caro, pelo

descrédito do profissional e pelo prejuízo que a empresa terá”. Enfatiza que dos casos de

projetos frustrados conhecidos podem ser elencados dois fatores importantes para a geração de

projetos de design: o conhecimento da empresa de seus próprios indicadores e capacidades e o

Diagnóstico de Marketing

Diagnóstico de Produção

Primeiros Desenhos

Protótipos Produção Vendas

Pesquisa de tendências

166

posicionamento profissional do designer em aceitar suas capacidades e gerar uma relação de

confiança com o empresário.

167

III – Roteiro de Entrevista com Designers nas Empresas

I. A EMPRESA

Procurar entender a empresa como um todo e a questão do desenvolvimento de produto e design

em específico.

EMPRESA:

ENTREVISTADO | CARGO | DEPARTAMENTO:

FATURAMENTO:

NÚMERO DE FUNCIONARIOS:

1. Qual é o negócio da empresa?

2. Que tipo de produtos a empresa produz?

3. Quais são as características de seus produtos mais reconhecidas pelos seus clientes

(diferencial de produto)?

4. Como a sua empresa está posicionada no mercado com relação a seus concorrentes?

5. Existe uma área específica responsável pelo desenvolvimento de produto?

6. Como está área está situada na empresa? No organograma.

7. Qual a importância que a empresa atribui à área de desenvolvimento de produtos para a

manutenção de seu negócio ou a busca de vantagem competitiva?

II. DESIGN

Procurar entender como funciona a equipe de design dentro da empresa. Como foi formada,

como trabalha e que restrições têm no dia a dia.

Buscar também compreender a relação desta equipe ou departamento com o resto da empresa,

especialmente a chefia. Buscar traçar as relações interdisciplinares com outros departamentos.

8. Existe equipe de design? Como ela foi formada? Faz quanto tempo? É interna ou

externa?

9. Quantas pessoas estão na equipe?

10. Que formação tem os designers envolvidos na equipe?

11. Qual a experiência dos envolvidos? Existe alguma habilidade especial requerida pela

empresa?

12. O que pensam sobre design?

13. Como se posicionam sobre o processo da própria empresa?

14. Como entendem a questão estratégica?

15. Se sentem confortáveis com o que a empresa propõe?

168

16. Quais as outras áreas envolvidas?

17. Como se relacionam?

18. Como eles retêm o conhecimento adquirido nos projetos?

19. Qual o trajeto do design na empresa?

20. Como funciona a equipe? A equipe tem método de trabalho? Quem é o responsável?

21. Existe planejamento de design (estratégico)? Quem lidera a equipe, quem decide?

III. DESIGN E ESTRATÉGIA

Procurar entender a questão do design ligada à estratégia da empresa, seus modelos de medição

de desempenho e indicadores.

Buscar os pontos de interferência da direção voltando a alguns temas para ver se existe

dissonância.

22. A empresa tem indicadores de desempenho de modo geral?

23. A empresa usa técnicas como BSC ou algo assim?

24. A empresa tem indicadores específicos de design?

25. Prêmios?

26. Até que ponto a direção da empresa participa?

27. Qual a intenção da empresa com os processos de design?

28. O que o responsável pensa sobre seu uso?

29. Quem decide sobre design na empresa?

30. Tentar traçar o caminho do design na empresa (organograma e processo).

169

IV- Entrevistas nas empresas

EMPRESA A

Fundada em 1971 no Rio Grande do Sul a Empresa A nasceu como uma pequena fábrica

de embalagens plásticas e, aos poucos, transformou-se em grande fabricante de calçados. Hoje, a

empresa tem 13 unidades fabris e mais de 19 mil colaboradores. Atuando nos mercados adulto,

adolescente, infantil e baby, a Empresa A dispõe de um rigoroso controle, no qual são testados e

avaliados todos os materiais e componentes utilizados na fabricação dos produtos. Seus produtos

são exportados para mais de 85 países.

Em termos de design e desenvolvimento de produtos, a Empresa A tem uma das maiores

equipes do Brasil em atuação, são 113 funcionários. Para este estudo, foi entrevistado o

responsável geral pelo design, na empresa chamada `equipe de pesquisa e desenvolvimento de

produto`.

O arquiteto e designer entrevistado chegou à Empresa A em 1984 com a missão de

auxiliar no desenvolvimento de novos produtos, uma vez que as “palhas plásticas” produzidas

para embalar garrafões de vinho já davam sinais de declínio no mercado. A primeira idéia era

produzir bicicletas no estilo “cross” para meninas, usando muita cor de rosa e cheirinho. Logo o

designer juntou-se ao grupo que pesquisava a inserção de sandálias no mercado, que poderiam

ser produzidas pelo mesmo maquinário já existente na indústria. O produto foi projetado,

produzido e lançado logo a seguir, com enorme sucesso.

Hoje, o DPD, como é chamado o „departamento de pesquisa e desenvolvimento‟ da

Empresa A é responsável pelo projeto de praticamente todas as sandálias produzidas, do início

do fim. São mais de cem pessoas trabalhando em um prédio de três andares de uso exclusivo da

equipe e bastante bem guardado em termos de segurança. Esta equipe é responsável por todas as

etapas de um projeto, desde as primeiras pesquisas até os protótipos. Até a matrizaria é feita

internamente na Empresa A.

Segundo o entrevistado, as questões de design são tidas como estratégicas na Empresa A,

e as mesmas estão intimamente ligadas com inovação. Atualmente, o design é tratado de forma

170

global, e o resultado vem do esforço coletivo da equipe. Quando menciona a equipe, o designer

está também se referindo à equipe de marketing da empresa. Segundo o entrevistado, na Empresa

A, as equipes de marketing, pesquisa e desenvolvimento e vendas trabalham próximas e com os

mesmos objetivos. O inicio de qualquer projeto vem da equipe de gestão de portfólio, que

geralmente é pró ativa, verificando as oportunidades de mercado, ou até mesmo de idéias

internas da equipe. Pesquisas de mercado também são utilizadas.

A idéia é que o projeto traga o design para perto do serviço e não mais para o negócio,

como era anteriormente na empresa. O que não significa que a perspectiva do negócio e do

faturamento não seja importante, ao contrário, mas a questão é fazer com que o

consumidor/usuário entenda o que está sendo feito mais intuitivamente do que por meio de

propagandas e ou explicações. Para tanto, todos os projetos tem três grandes fases: concepção,

projeto e execução.

Na primeira etapa, a „concepção‟, os conceitos ligados ao projeto são desenvolvidos. Para

tanto, conceitos de produto e de branding (gestão de marca), análises de oportunidades de

mercado e dos riscos, bem como os propósitos da empresa com o futuro produto são estudados.

O uso do produto e o „quando usar‟ são esclarecidos para embasar o projeto. Nesta etapa

preliminar, segundo o entrevistado, está ligada à gestão de portfólio e está bastante calcada nas

questões de performance do produto que está sendo desenvolvido. Segundo o entrevistado, nesta

etapa, geralmente, não são utilizados desenhos e as ferramentas gerenciais são utilizadas

conforme a cultura da empresa. Feitos todos os estudos preliminares, a segunda etapa é iniciada.

Na fase chamada „projeto‟ a tônica, segundo o designer, é a prescrição, o „como‟ o

produto será feito. São desenvolvidos todos os desenhos, desde os mais simples até os modelos

mais sofisticados desenhos e modelagens tridimensionais, inclusive desenhos técnicos. Na etapa

de projeto as especificações para fabricação são detalhadas e os protótipos desenvolvidos. Os

desenhos dos moldes necessários são disponibilizados junto com um “pacote técnico” que é

entregue a fabrica.

A terceira etapa de desenvolvimento de produto da Empresa A é chamada „execução‟ e

engloba basicamente a produção. O designer salienta que os resultados da produção são

novamente direcionados à equipe de projeto para novas fases de concepção. Embora o

entrevistado não tenha mencionado explicitamente este tema, o procedimento é típico de

171

aprendizagem organizacional. Quando perguntado sobre este aspecto, o entrevistado menciona

que certamente, mesmo que de forma natural, não forçada, a aprendizagem existe neste feedback

de pós-produção e uso do produto.

Após as três fases, o produto está pronto para o mercado e a produção ativa. Para a

Empresa A, os resultados medidos no mercado são muito importantes e eloqüentes: o que vende

bem foi bem desenvolvido. Outro ponto importante é o tempo de desenvolvimento de produto,

ou time to market, que deve ser baixo, de poucos meses e que é contraposto ao volume de vendas

para medir o quanto a energia gasta pelo desenvolvimento foi válida.

O entrevistado comenta que o processo descrito é o efetivamente procedido na Empresa

A hoje, mas que o processo é sempre modificado e alinhado para melhor atender as demandas de

mercado e do próprio comitê estratégico da empresa, do qual a equipe de P&D faz parte. O

processo de desenvolvimento de produto é todo documentado e bastante bem organizado. Para o

entrevistado a documentação típica deste tipo de processo é importante e os padrões aceitáveis,

mas a flexibilidade também é muito importante. Ele se posiciona a favor da organização, mas

contra dogmas.

É importante também explicitar que a direção geral da empresa participa ativamente nas

decisões da equipe de P&D, mas também chama esta equipe para participar de suas decisões

ligadas a produto formando uma parceria interessante.

Por fim, o entrevistado salienta que, além de diversas buscas que tem feito, a

simplicidade é algo que o designer gostaria de alavancar em sua equipe. Para o entrevistado os

projetos têm se tornado desnecessariamente complexos e, acima de tudo, complicados. Quanto à

isso, a meta da equipe é buscar a simplificação do processo sem perder, é claro, o resultado.

EMPRESA B

A empresa B foi criada em 1988, em Caxias do Sul. Nascida com a idéia de um produto

somente, um porta talheres, a empresa conta hoje com 100 funcionários, mais de 500 produtos

fabricados e um faturamento que chega a 12 milhões de reais por ano. Pode ser considerada um

“exemplo de uso de design”, visto que já foi agraciada com pelo menos duas distinções

importantes da área: o If, prêmio alemão renomado e o Prêmio Museu da Casa Brasileira. Ainda

172

assim, seu processo de design é desestruturado: a empresa não emprega nenhum profissional da

área e tampouco aplica os já validados métodos de projeto.

Engenheiro de produção, o profissional entrevistado acompanhou o nascimento da

empresa, a aquisição das máquinas e hoje é o principal responsável pela produção. Ao longo da

conversa, o entrevistado explicou as idéias que nortearam a criação da empresa e que direcionam

o trabalho até hoje. Como organização, a empresa é simples: um dono, um consultor em

engenharia (o próprio entrevistado), e aproximadamente 100 funcionários, sendo que em torno

de 10 trabalhando no escritório da empresa, na área comercial e de vendas, responsáveis pela

exportação dos produtos e também pelas ações promocionais. A empresa conta ainda com

assessoria de imprensa.

Trabalhando com produtos para casa, a Empresa B é hoje a líder no seu segmento:

produtos para mesa como porta talheres, saladeiras, travessas, baixelas, talheres e acessórios,

chamados „lista de noivos‟ são desenvolvidos para um público seleto, que visa qualidade e

beleza. A idéia, segundo o entrevistado, é trabalhar com materiais de qualidade e rechaçar o

chamado “bastantão” nesta área. Ao longo dos anos a empresa desenvolveu pelo menos três

linhas de produtos com as quais atinge o mercado pretendido (classe A).

A gestão do ciclo de vida dos produtos é tratada na Empresa B de modo direcionado para

cada tipo de produto ou linha. Alguns produtos são mantidos em produção por longos anos,

como o primeiro produto da empresa, o porta-talheres. Outros produtos são sempre produzidos,

mas seu design é alterado ou atualizado, como os baldes de gelo. Segundo o entrevistado, não é

possível não produzir baldes de gelo considerando o segmento de mercado no qual atuam, mas é

possível atualizar o projeto e oferecer baldes de gelo sempre modernos e atuais. Entretanto,

produtos como paliteiros nunca foram produzidos, pois a empresa acredita que não são

condizentes com o perfil dos seus clientes. Ainda segundo o entrevistado, o movimento do

mercado (e de vendas) também é acompanhado de perto pela empresa, que percebe quando um

produto vende menos e analisa que decisão tomar em relação ao mesmo.

É interessante verificar, considerando as informações dadas pelo entrevistado, que a

Empresa B analisa seu mercado pelas vendas e não através de pesquisa e, aparentemente, as

decisões são baseadas muito mais na percepção do dono do que em ferramentas de gestão. O

173

entrevistado menciona que as pesquisas não são utilizadas, pois elas mostram a percepção das

pessoas de modo reativo e a empresa tem posicionamento “pró-ativo”.

A questão da comunicação é tratada na Empresa B com a presença em feiras e nas

melhores lojas do ramo permite que o público alvo conheça as peças. Segundo o entrevistado a

empresa escolhe as lojas nas quais quer vender e a proximidade (familiar) com pelo menos um

grande varejista permite a passagem da linha completa ao mercado. Mesmo as lojas que

escolhem não vender a linha toda são estimuladas a montar um espaço exclusivo para as peças,

que não devem ser expostas misturadas com outros produtos.

Percebe-se que existe uma grande preocupação com a imagem da marca, construída,

segundo o entrevistado, a partir de coleções com imagens coordenadas e com um forte trabalho

direcionado a contemporaneidade das peças. Esta preocupação com o moderno está ligada ao

desejo de atingir um público jovem de alto poder aquisitivo com um produto tradicional,

somente pensado no momento de montar a casa ou servir jantares, preocupações não usuais dos

mais jovens.

De modo geral o processo de desenvolvimento de produto da Empresa B é simples e pode

ser interno ou externo. Quando interno, via de regra, o dono da empresa conceitua e faz os

primeiros desenhos do produto. A equipe (dono, engenheiro e mais um ou dois funcionários

ligados ao comercial e a promoção) discute o conceito e o uso do produto. Segundo o

entrevistado são procedidas análises da concorrência (ou sincrônica, no jargão de design), mas o

“feeling” ainda é o principal guia do projeto. O entrevistado salienta que hoje o dono desenha

pensando no processo produtivo, mas que isso já foi diferente e era a maior dificuldade da

empresa: projetar artesanato para produção em série. Hoje, com os processos de produção

melhor definidos, o projetista/dono já pode pensar diretamente na produção. Ainda assim, o

passo seguinte é a revisão do engenheiro, “que apara as arestas do projeto” preparando o mesmo

para produção. Segue-se o projeto do processo produtivo, inclusive com custos, no qual a

produção é planejada e as ferramentas escolhidas. A Empresa B tem hoje tecnologia de

estampagem e banho próprias. Muitas das ferramentas também são desenvolvidas dentro da

própria empresa. Somente vidros, acrílicos e embalagens são produzidos por terceiros.

O processo de desenvolvimento de produto só é externo à Empresa B em alguns casos,

por decisão da empresa, atendendo alguma linha específica ou para aproveitar a oportunidade de

174

ter linhas de produtos assinadas por designers ou arquitetos famosos. Este último recurso tem se

mostrado muito interessante ao agregar valor (nome do designer) à marca e já proporcionou

prêmios à empresa. Assim, quando decide por esta modalidade de desenvolvimento de produto, a

Empresa B procura profissionais, seleciona desenhos e avalia as possibilidades para a produção.

Quando a proposta é escolhida, o designer trabalha no projeto em conjunto com a equipe da

Empresa B.

Independentemente de ser interno ou externo, o processo de desenvolvimento de produto

da Empresa B deve ser rápido. A empresa acredita que tendo poucos passos o processo fica

menos engessado e mais viável, permitindo que em dois meses o produto esteja em feiras, o

maior meio de lançamento da Empresa B. Embora fator importante, segundo o entrevistado,

dificilmente o custo mata um projeto da empresa, visto que o preço não é o principal atributo

buscado pelo cliente. Já a questão ambiental é um requisito importante. Ao mesmo tempo em

que a preocupação com o descarte do produto em si é pequena, visto que o mesmo é feito para

durar décadas, é feito em boa parte de material reciclável e não é considerado produto de

descarte, o material e os banhos para sua produção são produtores de resíduos. Para estes existe

tratamento específico e a empresa está em dia com os padrões ambientais.

O processo de desenvolvimento de produto não é documentado na Empresa B,

diferentemente da maioria das empresas grandes e de bom faturamento. Tampouco a empresa

tem planejamento estratégico, suas preocupações de futuro e seu plano estão em uma folha e o

desempenho é buscado com participação de todos. Segundo o entrevistado a empresa é pequena

e integrada, as pessoas trabalham com paixão pelo que fazem e os funcionários “curtem” o que

eles vêem produzido. Inclusive os funcionários já foram levados à feiras para ver a exposição do

que produziram. Acreditam que se o planejamento fosse documentado, se tivessem necessidade

de fronteiras muito do prazer pela empresa deixaria de existir. O entrevistado não imagina um

crescimento maior da empresa, pois acredita que o mercado se divide e não se multiplica. A

certificação também está fora dos planos e é considerada um “contra” pela empresa que prefere

não ter nenhum tipo de rastreabilidade.

EMPRESA C

175

A empresa C produz ferramentas e pincéis e foi fundada em 1966, na região

metropolitana de Porto Alegre. Com aproximadamente 500 funcionários, a empresa é a líder no

seu mercado, trabalhando fortemente também no mercado externo, com exportações. O

departamento de design, formado por dois designers, responde atualmente a diretoria comercial e

de marketing da empresa.

Formado em Design (bacharelado) o entrevistado esta na empresa há quatro anos e pode

presenciar uma boa parte da consolidação do design na empresa. Acredita que o setor não é bem

compreendido pela direção e, em alguns momentos, poderia ser melhor utilizado. Pensa, por

outro lado, que muito avançaram neste sentido, nos últimos tempos. “...O design surgiu, ganhou

destaque com um projeto de pincel emborrachado para o mercado externo e isso abriu muitas

portas e deu para a equipe know how. Surgiu a possibilidade de produtos novos, compraram

máquinas (a diretoria), usaram técnicas novas, apostaram e aprenderam.” Esta experiência,

segundo o entrevistado provocou um bom aumento no faturamento e acredita que, hoje, o design

existe na empresa C por causa destes projetos de sucesso. Pondera a questão da diferença cultural

no uso dos produtos que a empresa produz, uma vez que o comportamento do consumidor fora

do Brasil é muito mais requintado em relação às ferramentas e pinceis pois “lá, ele é o usuário e

aqui (no Brasil) não”. Pensa que o mercado brasileiro está se profissionalizando e passando a

comprar mais material de pintura, mas que ainda hoje o “filão” é o material mais barato. Ainda

assim, o designer acredita que é possível fazer coisas legais e mais baratas para o mercado

interno.

O entrevistado menciona que os produtos da empresa, lideres no mercado, são

conhecidos pela qualidade, design atrelado ao produto. Segundo o designer, o concorrente tem

pouco design e, além disso, a empresa C tem um bom trabalho de marketing para o produto,

treinamento para o cliente nas questões técnicas, de informação e educação do cliente.

O processo de design, segundo o entrevistado funciona muito mais “como uma troca de

idéias entre comercial e design” e não como uma imposição da hierarquia da empresa.

Eventualmente, trabalham com escritório de design externo, especialmente para embalagens e

marcas. O que diz respeito ao design de produto é sempre feito de modo interno, sendo que a

aprovação dos projetos é feira primeiramente pelo comercial, que é o cliente interno, sendo

depois aprovado pela diretoria como um todo. O entrevistado comenta que, neste caminho

existem processos, fornecedores, viabilidade, máquinas, material e custos, precisando o projeto

estar alinhado a estes fatores.

176

Sobre o método de design, o próprio entrevistado relata que criou um método mas

acredita que existe um momento no qual ele mesmo esqueceu o método e “fez o que tinha que

fazer.” Pensa que porque na empresa C o ambiente é “dinâmico, social, chão de fábrica e o

método não atende a correria do dia a dia”. Acredita que vai funcionar no dia em que o setor for

“gigante” e ele puder dividir tudo, tarefas, etapas e tudo mais. Entretanto, menciona como passos

básicos do processo de design:

1. Briefing

2. Análise de Mercado com o Marketing – produtos similares, custos, ponto de

equilíbrio. Menciona que, as vezes, o projeto para aqui.

3. Painel de Informações do Produto – requisitos

4. Parte Criativa – se desenha muito em papel, geração de alternativas. Análise

Ergonômica do produto.

5. Aprovação do layout básico

6. Finalização e documentação.

Entre as duas últimas etapas existe o modelo, CNC, protótipos e custos. Segundo o

entrevistado, testes de produto “prototipado” e ergonomia também fazem parte do processo.

Fazem um lote piloto e o marketing acompanha o consumo, ajudando a direcionar embalagens e

folders. Eventualmente, trabalham com pesquisas, especialmente com a força de vendas. A

Diretoria industrial participa da parte de documentos, fornecedores e embalagens.

Na empresa C os procedimentos, segundo o entrevistado “são mais ou menos

documentados” e ele acredita que isso é um problema, pois não existem na empresa engenheiros

de produto, e assim existem fichas técnicas e fichas de protótipos. Comenta que estão

implantando um sistema Project, que o entrevistado acha essencial para melhor andamento e

documentação dos trabalhos. “O maior problema destes 40 anos é que os documentos são

normas das pessoas e não da empresa. Ai as pessoas vão embora e levam as coisas consigo”.

Sobre a importância que a empresa atribui à área de desenvolvimento de produtos, o

entrevistado pensa que para cada área, tem uma importância diferente. Acredita que o design está

ganhando uma importância maior na empresa C, “que daqui a pouco não fazem nada sem nós”.

Acredita que design é o elo da empresa, pois juntam informações, logística e ponto de vendas,

atuando como um funil ou “hub” para mostrar a tendência do mercado.

177

Quando questionado sobre o design como estratégia, o entrevistado relata que já

apresentou design estratégico para a diretoria e não foi bem entendido. Acredita que a área

comercial vê o design como estratégia, mas a área industrial e a diretoria não. Relata que existe

uma dificuldade com mudança organizacional, que a estratégia vai só até certo ponto na empresa.

O designer tem conhecimento de certos pontos do planejamento estratégico, relacionadas ao

comercial, mas não do todo.

Perguntado sobre ferramentas de gestão e sobre indicadores de desempenho o

entrevistado diz que a equipe de design não é cobrada ainda por indicadores de desempenho. Não

trabalham com metas e também não sabe se a empresa usa indicadores para outras funções.

Menciona que no design trabalham com Project para controle de fluxo.

Sobre processos de registro o entrevistado informa que a empresa C sempre fazem

patente do que estão projetando. A empresa C não tem prêmios para considerar, nem royalties.

Segundo o entrevistado só alguma coisa no setor de construção civil, também nunca mandaram

projetos para prêmios como o “If” ou coisas assim “a empresa é low profile”.

EMPRESA D

A empresa D produz produtos para conservação temporária de temperatura em Porto

Alegre desde 1958. Líder de mercado, a empresa é a única neste segmento que tem ISO9001 na

América Latina. O entrevistado é o chefe do departamento de design, com mais de 20 anos de

experiência, destes 10 na empresa.

Segundo o entrevistado, a marca é o primeiro reconhecimento em comparação com o

concorrente. Ser inovadora está nas diretrizes do desenvolvimento de produtos da empresa e,

segundo o entrevistado, a empresa sempre traz algo de diferente para o mercado, mesmo que só

na forma, isso não é o mais perseguido na empresa, mas sim o benefício que o produto apresenta

para o consumidor. A “perfumaria” não funciona se não facilita a vida do consumidor.

Quanto à organização da empresa para o design, o entrevistado menciona que

Primeiramente, existia um conselho e, abaixo deste, o presidente, que era um “baita entusiasta de

design.” As demandas passavam na mão do marketing “pró forma” depois do diretor falar com o

presidente, o marketing expandia a visão do presidente ou do comercial, existia uma consulta

maior aos representantes do Brasil afora.

178

Funcionou assim até 2006, segundo o entrevistado isso era a engenharia de produto, com

métodos e processos, engenharia de moles, design, todo mundo junto. O processo era viabilizado

com custo bom e tinham projetistas de mais de 20 anos na empresa D. Hoje, segundo o designer

todo o Departamento de Produto e engenharia de produto saiu do comercial e está submetido à

diretoria industrial. O design ficou só como desenvolvimento de produto e não mais com toda a

engenharia. “No dia a dia o método ficou o mesmo, apesar da estrutura. A equipe diminuiu de 12

para 3 pessoas. Ficou extinto o departamento de desenvolvimento de produto e agora a

estratégia são as redes, nas quais muitas coisas são terceirizadas! Inclusive eu!”

O entrevistado acredita que não é mais viável ter toda a equipe e ainda os consultores

externos que, em outros tempos, vinham semanalmente na empresa ajudar. Em alguns produtos é

necessário, mas é cada vez mais difícil fazer porque a verba é curta, o custo tem que ser baixo. É

necessário inventar novos métodos de produção e processos. “Hoje, mais do que nunca, se

trabalha em equipe. entram todos no mesmo delírio otimista, aqui ninguém diz impossível! Ai

fica difícil copiar, o seguidor tá na perseguição do benefício. O legal é que todo mundo

acredita.”

O departamento de design recebe demandas do presidente, do marketing, do dono e da

engenharia de qualidade. Segundo o entrevistado, o processo é o seguinte:

1. Solicitação de Design – recebe a solicitação e já sabe alguns pontos como:

capacidade tecnológica da empresa, moldes devem ser o mais simples possível,

sem despesas móveis, de geometria simplificada, com payback cedo para mais

lucro, o benefício para oferecer, diferenciação sem encarecer e destaque para o

produto.

2. Adquirir todos os concorrentes – compram para analisar e comparar. Fazem um

estudo minucioso de pontos fortes e fracos, principalmente os fracos, pois isso

ajuda a montar os argumentos de venda deles.

3. Mecânica – começam pela questão mecânica o projeto. O volume para transporte

de líquidos é o início. Quantos ml/l vai ter o produto?

4. Ergonomia e hábitos de uso – sempre no volume e no uso. (questões como uso e

tamanho para análise da litragem são feitas neste momento.)

5. Análise de Público alvo – linguagem e valores, mensagem e simbólico. Por

experiência, faz sempre duas ou 3 versões e chama de Judas, para todo mundo

malhar! Acredita que o designer não pode ser um pai coruja.

179

6. Apresentação para os diretores – momento no qual todos dão opinião, malham,

discutem. É uma boa hora para pescar observações pertinentes. Escolhem um

caminho a seguir.

7. Modelagem Final

8. Imagens e Animação 3D – vai para todo mundo palpitar, engenharia, comercial,

gerente de produção, donos, conselho. Neste ponto avisam também o pessoal da

qualidade e da ferramentaria que já vai andando em paralelo.

9. Protótipo – já com cotação. Em geral pulam o mockup. O protótipo já deve ser

funcional para calor, pressão, esforço mecânico e as prototipagens que existem

por ai, de resina, não servem. São usinados em PP no centro de usinagem e

fazem o acabamento na Termolar. Verificam as cores com o departamento de

marketing, verificam cores e acabamentos e voltam a apresentar.

10. Apresentação – “e eu não sou mais o pai da criança!”

11. Engenharia de Qualidade – oficialmente vão verificar roscas, vedantes e testam

tudo e emitem gráficos.

12. Ferramental – pesos e geometria. Tabela de custos – planilha de custos

industriais. Moldes e engenharia determinados pela produção. Orçamento de

moldes e ferramentas. Ciclos de altos e baixos, especialista de métodos e

processos, dispositivos especiais.

13. Dimensão do Investimento – moldes, dispositivos, mão de obra e a condição da

produção

14. Custo industrial – margem de lucro – e ai voltam para o comercial para ver

quando vai vender e faz-se o cálculo do payback. Em geral considera-se 18

meses como legal.

15. Ajuste de moldes – as vezes leva um mês e mais ou menos 300 peças são

montadas pela qualidade. Aceitam até 1% de erro, se é problema de molde, volta

tudo.

16. O Produto é apresentado para 50 formadores de opinião, para teste

O entrevistado faz algumas observações sobre o processo, mencionando que leva 9 meses

ao todo, sendo que só de ferramentas são 3 ou 4 meses. O designer relata que o processo exige

uma capacidade “paranormal” de tradução do designer, sendo o registro é feito por ata, memorial

descritivo eletrônico. Para fins de ISO, cada novo produto tem sua pasta.

180

Sobre estratégia e design, o entrevistado sabe que a empresa D tem um Planejamento

Estratégico, mas pensa que este já passou em tantas mãos que talvez não seja mais válido. Ainda

assim, novos produtos e novos nichos são sempre levados em consideração sendo que pensam

em expandir, prevenir para a abertura de mercado em 2010, inovando. O designer entende que o

produto está no DNA da empresa, que tem 50 anos, dos quais 40 com trabalhos do Bornancini e

do Petzhold, grandes designers brasileiros.

Quanto aos Indicadores de Desempenho, o designer relata que, quando existiam

indicadores na empresa D, para o design eram o número de projetos por ano e que agora não

existem mais, objetivamente, sendo que o payback, é o modo de análise utilizado.

Sobre o registro dos processos o entrevistado diz que são feitos, principalmente em

função da ISO mas que “acabam não servindo para nada, pois o pessoal não lê. Ninguém se

lembra das quebradas de cara anteriores”, mas a mudança do mercado ou da tecnologia justifica

tentar novamente. Acredita que existe aprendizado na experiência porque o registro não traz a

riqueza, as vezes não é o suficiente e vale buscar alguém que participou do projeto para buscar os

porquês da situação.

Sobre prêmios, o entrevistado menciona que é a primeira vez que se publica no catálogo

algo sobre um prêmio. Não se fala e não se explora o “IF”. O designer comenta que existe uma

sala de reuniões cheia de troféus e “If” e “House Gift” que exibem somente para convidados.

Para a decepção do pessoal de design não se usa como argumento de vendas. O entrevistado

pensa que a motivação, além da vaidade, é o destaque e o reconhecimento para a empresa D.

EMPRESA E

A empresa E produz, em Ana Rech – Caxias do Sul - carrocerias de ônibus e carretas

desde 1991. Fundada por profissionais que saíram de uma empresa concorrente, foi novamente

vendida para esta empresa anos depois e hoje, apesar de co-irmãs, são independentes. Com

aproximadamente 1700 funcionários a empresa é conhecida pela velocidade de lançamento dos

seus produtos, design e crescimento. A ousadia e o design são o diferencial, bem como o time to

market para atender a demanda.

O entrevistado, designer chefe da empresa, tem experiência de 23 com o produto da

empresa. Formado em Design fez pós-graduação em marketing e também em design. Estilista de

ônibus, já passou por duas concorrentes, o entrevistado comenta que, neste setor industrial, não

181

existem muitos profissionais especializados e que as indústrias valorizam o profissional,

exigindo quarentena nas mudanças de indústria. Comenta que existe muito sigilo entre as

empresas, não devem ter relacionamento nenhum com os designers das outras empresas, mesmo

sendo do mesmo grupo industrial.

Sobre a empresa E, o designer comenta que a empresa cresceu demais e que hoje quer

observar e planejar mais, com um pouco de medo do passo maior que a perna. São os “pequenos

que deram certo” e conquistaram os mais velhos. Hoje, existe um presidente, diretor geral e mais

três grandes diretorias subordinadas a esta: comercial (o presidente hoje é ele), industrial (que

tem engenharia, processos e fabricação subordinadas) e desenvolvimento de produto. Na

diretoria de desenvolvimento de produto estão as questões de design, com uma equipe de 2

designers e 6 projetistas.

Sobre o método, o entrevistado relata que o processo é organizado do seguinte modo:

1. Idéia – vem do comercial

2. Reunião de Diretoria – para avaliar as necessidades de mercado, produto ou item.

- se é face vai para o diretor de desenvolvimento

- se é novo segue a descrição abaixo.

- a engenharia só faz adequação de poltrona, porta, pequenas modificações

em produtos já existentes.

3. Conceituação – de tudo e interiores e detalhes, estudos de ergonomia e tecidos.

Com o briefing da diretoria se buscam os itens pontuais de concepção, altura,

largura, tipo, mercado, se é alto valor ou simples.

- a equipe de DP é pequena em relação ao número de produtos que eles têm,

são 2 designers e 6 projetistas (2 para acabamentos internos e externos, e

2 para experimental e cálculos, homologações, normas e segurança.)

- todo ano vão a feiras na Europa e USA para pesquisar.

- na época da entrevista estavam pensando em criar todas as padronagens

para novos tecidos, mas com a crise, já fiquei sabendo que a designer

responsável por isso, e que estava se especializando nisso, foi demitida.

4. Pesquisa e Concorrentes – para entender o cliente

182

5. Geração de Alternativas – e sketches manuais. Aqui a viagem é permitida. O

entrevistado ressalta a importância do brincar e do conceitual para somente depois

pensar na proporção e nas limitações do produto.

6. Escolha de 3 ou 4 propostas – interessantes para prosseguir

7. Solução em linguagem de ônibus – aqui entra o desenvolvimento do projeto e da

engenharia (projeto de desenvolvimento). Cortes, estrutura, e tudo mais o que é

necessário. Buscam também, nesta etapa, a identidade visual do produto e seu

interior. Corre junto a parte externa e a tampa do ônibus. Nesta etapa não se pode

inovar muito pois existem todas as questões de funcionamento e manutenção.

Aqui a viabilidade é importante.

8. Apresentação para diretoria – de duas propostas mais completas em 3D, com

modelagens e renderings para vender a idéia para todas as diretorias.

9. Alterações – eventuais, solicitadas pela diretoria. O entrevistado menciona que é

raro acontecer isso pois já existe confiança e respeito ao trabalho da equipe.

10. Conceituação do produto pronto – inclusive farol e tudo mais

11. Segundo o entrevistado aqui o produto “abre” e cada um vai fazer sua parte na

equipe de desenvolvimento. As 6 pessoas trabalham simultaneamente, cada um na

sua especialidade.

12. Modelação – CNC, usinada ou a mão em escala 1:1 (s/ PU). Pode ser de madeira

e massa, sempre em sigilo quanto a forma.

13. Nova avaliação da diretoria – se aprovado:

14. Molde e Ferramentaria – tudo que é necessário para a produção é feito dentro da

própria empresa.

15. Validação – com o protótipo montado.

16. PRODUÇÃO

17. Pós Produção – ajustes e processo, linha de produção. A informação volta para o

design e a qualidade, o pessoal de vendas e da assistência técnica dá o feedback.

O entrevistado comenta tempo do processo todo é de, em média de 3 ou 4 meses. O

normal seria de um ano, mas eles têm, segundo o entrevistado, “uma jornada maluca de

trabalho!”.

A documentação que a empresa mantém em dia tem é a da ISO, com folha de briefing e

de validação e o entrevistado acredita que um planejamento com cronograma ajuda no

183

desenvolvimento. Ainda assim, salienta o entrevistado, que na empresa E, uma questão

importante é que o produto não é seriado, e é complicado ter controle de datas, fazem um

cronograma com datas e nomes para tentar melhorar a sistemática.

Sobre Indicadores de Desempenho o designer menciona que não existem, nem para a

empresa nem para o design e que o planejamento estratégico veio com a venda da empresa. Já

prêmios, o entrevistado, na época da entrevista tinha ganhado um prêmio da Revista 4 Rodas e

estava muito feliz com isso.

EMPRESA F

A empresa F foi fundada em 1983/84, entre 90 e 100 funcionários e trabalha com

transformação de plásticos desde 1983/84. Em 1987, com o falecimento prematuro do fundador,

foi passada às mãos das filhas que mudaram o rumo da empresa. Com foco na transformação de

plásticos – UD plástica - a idéia inicial das novas administradoras era democratizar o design em

utensílios plásticos, sendo este é o posicionamento empresa F até hoje, faturando ente 18 e 24

milhões de reais.

A entrevistada da empresa F é a responsável pelo desenvolvimento de produto e uma das

sócias. Engenhara civil com especialização em design estratégico a entrevistada trabalha

praticamente sozinha no departamento, contando com uma estagiária e com equipes externas de

design para diversos projetos assinados ou exclusivos para lojas de revenda.

Quando perguntada sobre as características de seus produtos mais reconhecidas pelos

seus clientes, a entrevistada acredita que a qualidade, o atendimento, o produto e a segurança,

são itens característicos da empresa F. Além disso, o fato de serem multifuncionais, coloridos e

inovadores também chama a atenção. A entrevistada acredita que a empresa está alinhada a

mudança nas casas, que estão mais abertas, buscando mais segurança e o multifuncional.

Segundo a designer, a empresa está atenta também a capacidade de compra dos clientes, sabendo

que, embora muitos comprem seus produtos, a chamada classe C é bastante forte no consumo.

Para a entrevistada, a mudança das casas traz para mesa o plástico, mas em outro nível, “com

tudo combinando, com a mesma linguagem.”

Sobre o processo de design e seu método, a entrevistada menciona que, atualmente, tenta

aplicar o método da POLI, de Milão, aprendido durante a especialização. As vezes pula algo,

184

mas sabe que o resultado vai ser melhor. Pensa que é complicado seguir o método. Ainda assim,

o desenvolvimento de produto da grande linha da empresa F passa por algumas etapas que são:

1. Pesquisa entre a demanda – é regional, nacional ou de fora? Qual o

tamanho do mercado? Quais as especificações do produto? A entrevistada

explica que esta é a parte mais demorada.

2. Briefing para outro escritório ou Pré-projeto.

3. Pré Projeto interno

4. Moldes e matrizes são terceirizados

5. Ferramentaria (terceirizada)

6. Produção

O tempo ente a demanda e o lançamento é de 8 meses para produtos com conceito novo,

segundo a entrevistada. Todos os produtos são produzidos através de injeção de plásticos.

Eventuais peças metálicas ou de vidro são compradas de outras empresas. Em projetos de design

externo a entrevistada fica na coordenação para depois apresentar ao conselho da empresa F. A

designer acredita que “tem muita gente boa e especializada, com experiência (no mercado). Se

não contratasse design externo teria que ter uma super equipe.” Para superfícies trabalham com

designers conhecidos como Renata Rubim e Heloísa Crocco. “Gosto de trabalhar com pessoas

que entendem nosso conceito e eu não posso ser a dona da verdade e não aproveitar

também....Não é a popularidade em si, mas sim a qualidade.”

Sobre as questões de estratégia e design, a entrevistada pensa que o design está do DNA

da empresa, “a gente sempre trabalha com diferenciação, valorizar o plástico como matéria

prima, como utilidade com desenho. Como objeto de desejo ao alcance.” Comenta que, em

tempos passados, a matrizaria era sinônimo de problemas e que agora funciona bem. Acredita

que existia uma “cultura de dizer não” e que hoje os funcionários ficam orgulhosos do que

produzem, pois tem retorno do trabalho. Investiram em treinamento do pessoal e relata que no

planejamento estratégico da empresa o desenvolvimento de produtos é previsto. Para

biopolímeros pensam em projetos de 4 ou 5 anos mas que as metas da empresa são para 2 anos.

São produzidas 20 milhões de peças/ano, sendo que alguns produto “levam” 3 ou 4 peças

na composição. Acerca de indicadores de desempenho, a entrevistada comenta que existem

indicadores comerciais, de avaliação de linhas de produtos. É também feita uma avaliação de

185

vida útil, de matéria prima na curva de produto. A designer relata que já iniciaram um processo

de ISO, mas o custo X benefício não valia a pena para empresa continuar e completar o processo.

Acredita que o custo é muito relevante no sucesso, mais do que qualquer outro processo, pois a

relação custo X benefício é vista por uma camada dos clientes (menor). O resto é por que é

barato e acessível, sem pensar na durabilidade. Pensa que o maior cliente da empresa parece ser a

classe B/C “que vê o produto na novela e quer comprar o produto, e efetivamente compra”.

De modo divertido, segundo a entrevistada, os produtos premiados da empresa F não são

necessariamente os mais vendidos. “Não sei se os critérios (de avaliação) são os mais óbvios...

ou se não é avaliado o custo de peça em concurso.” Menciona que já ganharam alguns concursos

e que a validade deles está na visibilidade da empresa F junto ao formador de opinião. “É

importante em uma faixa de clientes, mas no geral, a população não tem acesso.”

Sobre aprendizagem e cultura organizacional, a entrevistada acredita que a questão da

cultura organizacional tem grande influência no aproveitamento do design como algo valioso

para a empresa e que pode, sim, gerar performance.

EMPRESA G

A empresa G produz desde 1979 componentes metálicos. Atualmente, atuam em diversos

segmentos e esta entrevista foi procedida com o profissional responsável pelo design no

segmento de metais pra moda (bolsas, carteiras, produtos para confecções, acessórios, cintos,

vestuário). Com aproximadamente 600 funcionários, a empresa é líder mundial de mercado neste

segmento e atuam com uma equipe de 13 designers, formados ou se formando, além de

assessorias em estilismo.

Sobre as características de seus produtos mais reconhecidas pelos seus clientes, o

entrevistado acredita que a qualidade (aparente do produto) é o mais forte, o fato de a peça ser

parelha, simétrica, de qualidade, com polimento superior e banho duradouro. A criação pensada

que a peça traduz. O posicionamento é top de linha, com preço 3 ou 4 vezes acima do

concorrente. A empresa G, segundo seu designer, entende design como processo. Existe uma

área específica para desenvolvimento de produto, que nasceu com o tempo em um processo de

confiança da direção da empresa. Hoje, segundo o entrevistado, fazem coleção com confiança.

Muitas vezes, fazem coleções inteiras para clientes, interagindo com estes desde o início do

projeto, trocando idéias sobre lotes e número de itens, contextualizando o projeto. Segundo o

186

designer, é uma relação complicada. Já os projetos da empresa em si, o entrevistado menciona

que são mais fáceis, tendo carta branca da diretoria da empresa G há dois anos. Acredita que a

direção vê o projeto defendido pelo design, “e a defesa tem que ser bem feita” e fica tudo mais

tranqüilo.

O organograma da empresa, segundo o entrevistado subordina o design ao diretor geral e

tem a pesquisa como subordinada ao design:

Sobre o processo de desenvolvimento de produtos, a empresa G trabalha com as

seguintes etapas:

1. Demandas – do cliente ou da pesquisa de tendência

2. Análise do mercado precisa

3. Projetos

a. Análise de macro tendências, ou tendências de fundo, se é funcionalidade,

se é étnica. Sempre trabalham com 3 tendências e, atualmente, trabalham

com peças leves (pela crise).

b. Conceito – informação

c. Painéis de referências, criativos

d. Rafes

a. Aqui tem algo teórico

e. Desenho técnico, peças de teste, modelos

f. Teste de aplicação

4. Aprovações

5. Validação técnica com a produção

6. Validação comercial

7. Mídias, eventos, propaganda.

Diretor

Design Comercial Produção

Pesquisa

187

O entrevistado entende que montaram uma estrutura para atender o cliente e desenvolver

o produto em conjunto, quando a Empresa G desenvolve coleções para clientes, sob encomenda

para o produto que o cliente desenvolve, ficando sob o briefing do cliente.

Sobre o tempo de produção, o designer menciona que o tempo total das linhas é de 3

meses e que, atualmente, levam 3 dias para os rafes ficarem prontos para projetos e modelos de

projeto. Sinaliza que, ao todo, são 400 produtos por coleção, duas por ano, perfazendo 800 peças

projetadas por ano, sendo que muitas vezes, 6500 peças são produzidas para diferentes clientes.

Argumenta que é muita coisa, com um trabalho muito volumoso.

Neste sentido, sobre o próprio método, acredita que, por vezes, usam o método básico do

livro do Baxter ou do Kotler, e ainda usam algumas ferramentas do Porter ou do livro Oceano

Azul, mas que existe mais prática. Pensa que com as teorias não tem “muito chão para pirar” no

projeto...

Sobre eventuais interferências da direção o entrevistado acredita que a empresa não

controla a equipe de design, que esta apresenta os projetos quando deve, mas a direção olha o

resultado macro. “A direção sabe que o crescimento se deve ao design quando o cliente bate na

porta o diretor se dá conta”. Conta que “começaram de pouquinho, o empresário vê o resultado,

mesmo errando a matriz. Tem que ter coragem. Sabem que 6% de tudo o que fazemos não vai

vender. É só para criar a imagem de marca. Querem diminuir para 3 % este número.” O

entrevistado comenta sobre os erros de ferramentaria, comuns neste tipo de processo, que pode

gerar altos custos.

Sobre indicadores de desempenho, o entrevistado menciona que trabalham com:

quantidade de peças por ano, quantidade de alterações ou retrabalho (em percentual), percentual

de vendas da linha, tempo (que foi importante até que eles ficassem rápidos o suficiente) e

prêmios. Sobre este último, tem intenção de concorrer, mas sente que ainda não é momento. “Tô

segurando, tem que arrumar a casa antes.”

Sobre estratégia e design o entrevistado menciona que a empresa G tem um planejamento

estratégico no qual cada setor se adéqua. A equipe de design tem um planejamento estratégico e

sabe o que tem que fazer, até com relacionamento com setores, inovação, concursos, eventos.

O entrevistado tece, por fim, alguns comentários sobre a questão da maturidade, do

amadurecimento das partes da cópia para o projeto. Pensa que tem algo que não se aprende que

é o subjetivo que algumas pessoas têm. Entende o design não como criação, mas como processo

188

de relação e acredita que o treinamento potencializa o subjetivo, dá meios para ferramentar o

projeto, potencializa o resultado, como a idéia amparada. Pensa que isso é importante, pois existe

uma dificuldade do designer de explicar sua idéia.

EMPRESA H

Fundada em 1984, a empresa H tem hoje 102 funcionários diretos e conta com parte da

produção terceirizada. Faturando em torno de R$ 1,8 milhões mensais produz acessórios para

móveis (puxadores e componentes), manilhões (peças pra portas de blindex), maçanetas, cabides,

e alguns produtos para moda, como ferragens de bolsas e calçados, pastas, carteiras (tudo para

artefato de couro). A Empresa H surgiu com a área da moda. Primeira metalúrgica a fazer

assessórios pra moda. Join venture de uma empresa italiana, veio pro Brasil pra suprir uma

exigência do mercado de acessórios pra moda. Faz oito anos que fazem puxadores (foi pioneira

também). Hoje tem vários concorrentes.

A entrevistada desta empresa é designer com pós-graduação em design, atuando nos

projetos de produto da empresa H junto com mais uma colega. Segundo a designer, a empresa H,

hoje em dia, se diferencia das demais empresas pelo Design e Qualidade. Contam com 600

pontos de venda em todo o Brasil, desde boutiques até ferragens e área da indústria artigos para

as indústrias moveleiras (personalizado). No segmento de moda atuam somente para indústria

(em SP e RJ tem uma loja).

A Empresa H se diferencia pela qualidade dos produtos, sempre numa posição boa no

mercado. Linha enorme, do produto top até o produto de custo baixo. Desde uma ornare até uma

italínea. Na moda ou na indústria de móveis. Eles se moldam de acordo com o que se precisa.

Pras peças mais baratas se reduz o tempo de produção.

O setor de Design é o responsável pelo desenvolvimento de novos produtos. Entra como

um projeto, eles criam ou copiam (se o cliente pede) e passam adiante. Acompanham até a

injeção do primeiro lote. Registram toda a documentação (ISO). A entrada pela área comercial

ou não. Quando acontece esse contato entre as áreas de desenvolvimento de produto das

empresas, os designers conversam sobre a necessidade da empresa.

Segundo a entrevistada, o design é estratégico na empresa, ficando no mesmo nível de

outros departamentos como produção, vendas, financeiro (marketing não é bem definido na

189

empresa). Há uma assessora de imprensa. O setor de design, antigamente fazia catálogos, hoje

não tanto. Atribui-se grande importância ao design na empresa. Espera-se muito do produto, a

empresa e os clientes esperam muito do design. O sucesso ou insucesso da empresa parece que

depende do desenvolvimento do produto, segundo a entrevistada. A empresa H não investe em

pesquisa de mercado, e trabalha muito calcada no conhecimento das pessoas que estão

envolvidas no projeto. Entretanto, a empresa faz pesquisa de concorrência, de tendência o tempo

todo. Captam o que o cliente quer.

O departamento de Design é formado por duas pessoas e existe há 11 anos, com equipe

interna. Para integrar a equipe o candidato deve estar cursando faculdade de Design, Moda,

Arquitetura e ter conhecimento de programas específicos. No mais a empresa não pede nada

específico, a pós-graduação vai do interesse do funcionário.

Segundo a designer, a equipe pensa o dia inteiro em design. Hoje em dia a empresa

coloca o design no seu devido lugar, como uma peça estratégica. A empresa valoriza o design,

mas acham que a empresa tem que reconhecer mais. Reconhece-se pelo produto, não pela ação.

Há um tempo a imagem da empresa estava desgastada, então surgiu a idéia de se lançar uma

coleção conceito, coisas que se queria colocar no mercado, mas que ainda não existia. “Depois

disso a imagem que o mercado ficou da empresa foi ótima, agregou mídia gratuita, os clientes

começaram a dar crédito. Viramos o jogo. Mas foi pelo produto”. Esse ano lançaram puxadores

em cória, em pérola da Svarovski (negra e clara), design de superfície, resina craquelada. Na

coleção conceito eles se permitem mais, pois o cliente que consumir isto não quer pagar pouco,

sabe as qualidades do material e do produto. Ressalta a entrevistada que é importante saber o que

está sendo lançado pelos outros (nacionalmente e internacionalmente) para não repetir e parecer

cópia.

Segundo a entrevistada, o departamento de produto tem grande liberdade e a direção

respeita muito a opinião dos designers. Acredita que existem poucas empresas como a Empresa

H, com facilidade de acesso as melhores revistas do mundo, “o que o DP pede eles assinam”.

Eventuais viagens também são disponibilizadas. Os designers viajam bastante para os pontos de

venda, têm contato direto com os clientes, conversam com lojistas.

Sobre o departamento de desenvolvimento de produto, a entrevistada menciona que a

equipe é composta de duas pessoas. Cada uma fica responsável por alguns clientes, “senão

ficaria complicado para as duas falarem com todos os clientes.” Mas, na criação, ambas atuam

em todos os projetos. Quanto ao método, existe um processo da ISO. Métodos da academia o

190

setor não consegue seguir. Eles pulam algumas etapas, outras se fazem diariamente (como a

Análise Sincrônica). Existe um próprio método do setor, criado por eles. Segundo a designer, o

método vem pelas coleções anuais da empresa ou pelo cliente. A demanda entra pelo comercial,

a equipe de DP desenvolve o produto com protótipo e é feita uma reunião entre as áreas (direção,

design, vendas e produção) que aprova o projeto. Quando é para alguma indústria em específico,

o cliente aprova o projeto. Feita a aprovação vai pra matrizaria, o DP confere e faz o fechamento,

finaliza o processo de projeto do DP e vai pra linha de produção.

O design transita por todas as áreas da empresa, são ligados pela rotina. A entrevistada

pensa que não se relacionam tão bem com a parte fabril. O design cria e aí vem o problema para

a produção. Com as demais áreas o design transita bem por todos os setores, constantemente.

O responsável pelo design na empresa, na visão da entrevistada, pensa que é peça

fundamental para sustentar a imagem da empresa de criação de produtos inovadores e

conceituais. Com design a empresa pretende melhorar seus produtos e seus processos. Em 1998

Empresa H começou com a área de design no Brasil. Antes vinha tudo da Itália, não se criava

aqui. Em 1999 começaram com puxadores. Em 2000 começaram com maçanetas. A inserção do

design há onze anos deu um salto grande, visto que as necessidades locais (no Brasil) são

diferentes das necessidades na Itália.

Sobre indicadores de desempenho, a designer menciona não saber de nenhum. Entretanto,

dentro do setor de DP geram-se índices como: quantidades de projetos, quantos clientes, por

período, projetos aprovados e não aprovados, quantidade de itens produzidos por mês. A área de

DP coordena tudo isso e pode assinalar os clientes que dão lucro, quanto se produz pra cada

cliente. “Não adianta a área fazer 500 projetos e reprovarem 450”. Pensa nestes indicadores

como índices de controle de andamento do setor. Neste sentido, a entrevistada afirma que todos

os setores têm indicadores. Além destes, existe o bancos de idéias, onde tudo é documentado em

função da ISO, registrado.

Sobre prêmios, já ganharam o “Destaque Gaúcho”, não participam de concursos

específicos de design

191

EMPRESA I

A empresa I, produtora de móveis em Bento Gonçalves, foi fundada em 1947. Com um

faturamento de R$ 370 milhões anuais e mais de 500 funcionários trabalha, atualmente, na

fabricação de móveis residenciais componíveis, comercial, corporativo, atingindo todas as linhas

do mercado através da modulação. A empresa I iniciou com a produção de gaitas até que um

incêndio que destruiu a empresa. O dono percebeu que com a entrada da guitarra a gaita ia sair

de comercialização brevemente. Então ele teve a idéia de fabricar cozinhas componíveis.

Bornancini e Petzhold foram os designers chamados para organizar a empresa para este fim,

192

sendo responsáveis pelas primeiras cozinhas componíveis do Brasil. Com o tempo foram

aprimorando e se expandindo para outras partes da casa, dormitórios e estar.

A entrevistada nesta empresa foi a Analista de Produtos e Complementos, do

departamento de Marketing e Pesquisa. Na empresa I, o desenvolvimento de produtos está dentro

do marketing. É um subordinado do marketing. Produto, comunicação e venda são um tripé e

estão agrupados e subordinados ao marketing. O marketing dá as características do produto e do

ponto de venda. Marketing é subordinado diretamente à direção. Dentro do marketing existe o

desenvolvimento e pesquisa de produto. Dentro do marketing se faz a ligação de PD com a

engenharia, através de uma engenheira que delimita a viabilidade do produto. Existem duas

arquitetas e uma engenheira no marketing.

Na empresa I, segundo a entrevistada, o setor de desenvolvimento de produtos é

fundamental, um dos pontos mais importantes na empresa. É uma área estratégica da empresa se

mantendo sempre renovada por feiras, cursos, palestras e viagens. As áreas envolvidas com

desenvolvimento de produto, na empresa I, são: Marketing, engenharia, direção, controladoria

(etiqueta as peças), escritório terceirizado de Caxias do Sul e comercial (da metade em diante da

campanha, mas não define o processo de criação). Numa hierarquia o comercial fica abaixo do

marketing, mas são áreas diferentes. As áreas trabalham Integradas, pois uma área está amarrada

na outra, até em função de prazos curtos. Segundo a entrevistada, a direção da empresa participa

desde o início do processo, validando o conceito, acompanhando a linha de raciocínio até chegar

ao produto proposto.

Segundo a entrevistada, não existe um setor específico chamado de design. É o setor do

marketing o responsável. É composto por duas arquitetas (especialistas em design estratégico

pela Unisinos) e uma engenheira. Além deste setor, existe um de projetos que só desenvolve

projetos corporativos, onde trabalham duas arquitetas e uma técnica moveleira. Existe um

escritório de Caxias do Sul (composto por três arquitetos) que desenvolve mobiliário para as

linhas da Empresa I.

Acerca do método, a entrevistada afirma que começam o trabalho com pesquisas (de

concorrência, de produtos que estão em linha tanto na Empresa I quanto da concorrência, de

tendência no mercado para desenvolvimento de novos produtos). Em seguida é elaborado um

conceito e feita apresentação a diretoria. Então é feito um aperfeiçoamento e elaborado um

protótipo. A agência terceirizada vai até a Empresa I uma vez por semana para trabalhar em

conjunto com o marketing/ PD. Não existe um método específico. Segundo a entrevistada,

193

design faz parte do desenvolvimento de produto. O próprio design é o desenvolvimento de

produto.

A visão da empresa é de que o design tem que fazer parte das tendências de mobiliário,

pelo significado, conceito e valor que o design carrega. Busca-se o conceito através do design. A

equipe de design recebem um feedback dos lojistas com necessidades que eles encontram e dos

formadores de opinião ligados a empresa (fornecedores). Então a empresa busca desenvolver

produtos que atendam a estas necessidades. O design está colocado, na empresa I, como um

ponto estratégico importante no mobiliário e pensado no início ao fim do processo. Primeiro

busca-se um conceito, depois a forma do produto, a comunicação do mercado e como vai se

apresentar nas lojas.

Sobre planejamento estratégico, a entrevistada menciona que o setor de marketing

começou em novembro de 2008, mostrando os pontos estratégicos para a direção que está tendo

uma maior preocupação com o planejamento de design estratégico. A direção dá a decisão final

sobre o conceito, sobre o que vai ser produzido. A entrevistada afirma que a empresa tem

indicadores de desempenho de modo geral (mas não menciona quais). Não tem indicadores

específicos para o design, mas a entrevistada acredita que vai ser implantado em breve.

A entrevistada relara que a primeira idéia de design surgiu com o Bornancini e Petzhold

(há muitos anos). Desde novembro de 2008, com o surgimento do setor de marketing, o design

está sendo visto como elemento estratégico. Então estão tentando implantar as técnicas de

Design Estratégico. A direção, a Márcia, o escritório terceirizado de Caxias do Sul e alguns

lojistas vão à feira do Móvel de Milão, por exemplo. A entrevistada acredita que o uso do design

é de extrema importância. Menciona que existe um comitê estratégico de produto, composto pela

chefe do setor, pelo escritório terceirizado de Caxias do Sul e pela direção. Este comitê é quem

decide sobre design na empresa.

Sobre a retenção de conhecimento dos projetos, a entrevista menciona o “Banco de

Idéias” através de Grupos operacionais (setores da fábrica e do administrativo) que oferecem

idéias e se forem boas idéias a empresa paga por esta idéia aos funcionários que tiveram esta

idéia.

A empresa I já ganhou alguns prêmios, especialmente na área de RH (100 melhores

empresas para se trabalhar na América Latina e no Brasil) e de marketing, como o Top of Mind e

o Marcas de Quem Decide entre outros, mas a entrevistada não menciona prêmios de design.

194

EMPRESA J

A empresa J surgiu em 1967. No início produziam artefatos de cimento (cubas), depois

resolveram produzir móveis. De inicio, vendiam em grandes magazines os seus produtos e

posteriormente resolveram trabalhar com um revendedor exclusivo de cozinhas (hoje tem suas

próprias lojas). A partir de 1997 começaram a terceirizar o desenvolvimento de produto, com o

intuito de ampliar os produtos para salas de estar e dormitórios. Antes de 1997 tinham designers

contratados, mas o produto era mais específico de mobiliário para cozinhas. Hoje, a empresa J

fatura em torno de R$ 100 milhões anuais, trabalhando com 230 funcionários.

O entrevistado na empresa J foi o Coordenador de Suprimentos – Desenvolvimento de

Produto da Engenharia. Segundo o entrevistado, a engenharia de produto é, atualmente, uma

empresa terceirizada italiana (que faz praticamente todo o desenvolvimento do produto). Esta

empresa terceirizada faz todas as pesquisas, desenvolvem conceito, entregam praticamente

pronto o projeto. De 4 em 4 meses fazem uma reunião com os italianos, sendo que um brasileiro

que representa esta empresa que vai semanalmente à fábrica, mas eles não têm uma área física de

trabalho dentro da empresa. Neste contexto, a “Engenharia” coordena todo o projeto. A

engenharia deixa todas as condições prontas para a fábrica funcionar, é responsável pelo

desenvolvimento interno da empresa, mas não coordena a parte de produção. Dentro da

engenharia tem custos, qualidade, desenho, suprimentos e coordenação da equipe terceirizada

italiana.

Segundo o entrevistado, Design é importantíssimo para a empresa J na qual trabalham

duas pessoas com formação em desenho industrial. Alguns funcionários da área têm superior

completo, outros incompletos, somando 15 pessoas na parte de engenharia, além da equipe

terceirizada italiana. O entrevistado diz que não tem designers na equipe, embora ressalte que

tem dois desenhistas industriais, mostrando pouco entendimento das questões mais específicas

da área. Quem coordena diretamente a equipe terceirizada italiana é a uma arquiteta com pós-

graduação em design.

Na empresa J acreditam que design é muito importante para a manutenção do negócio,

por isso estão sempre investindo. O entrevistado menciona que não tem cronograma de

lançamento. Quando acham bom desenvolver uma nova linha, eles desenvolvem e que o

195

processo é bom, bem estruturado. Salienta que estão envolvidos no processo: Diretoria, equipe

terceirizada italiana, um núcleo de projetos (desenvolvem todas as lojas e showroom), compras

(levantamento de fornecedores), engenharia. O marketing não participa atualmente em nada do

desenvolvimento de produtos. O núcleo de projetos está subordinado à engenharia. Compras

subordinado ao comercial e este não participa do desenvolvimento de produto. “Ah, tem bastante

influência dos setores mencionados acima no design”. O design participa diretamente do PDP.

Recebem até o desenho de furação da base (por exemplo) do escritório italiano terceirizado. “É

bem complexo, é a engenharia do design”. Depois de aprovado os dois desenhistas da

EMPRESA J definem o roteiro de fabricação, desenvolvimento interno. A linha de produção é

toda na EMPRESA J.

O design é tratado como elemento estratégico, pensado desde o início do processo (tudo

pensado pela equipe terceirizada italiana). A empresa J passa um briefing para esta empresa

terceirizada. Normalmente as sugestões de novos produtos são passadas pelos dos pontos de

venda ou então se a empresa J vê alguma necessidade ela passa para a equipe terceirizada. A

empresa J analisa a linha que eles estão propondo, dão sugestões, analisam a viabilidade

econômica e se positivo fazem os protótipos, analisam a viabilidade industrial e já colocam em

linha. A empresa J vai à feira de Milão acompanhar as tendências. O diretor industrial

acompanha passo a passo o projeto. O diretor superintendente acompanha questões decisivas

(importação de material).

Sobre organização do processo o entrevistado afirma que foi necessário desenvolver um

fluxograma para a ISO. O responsável é o coordenador da engenharia. Após visitas aos clientes

se registra tudo em ata. Com a implantação da ISO 9.001, ISO 14.001 e OSHAS 18.000

(responsabilidade social), tudo fica documentado e arquivado (digital e impresso). Entretanto,

não tem banco de idéias. Sobre indicadores de desempenho, o entrevistado menciona que

existem mas não menciona quais, sendo que afirma não conhecer na empresa planejamento

estratégico ou BSC.

EMPRESA K

Integrante de um grupo industrial de mais de 40 anos, a empresa aqui descrita produz

utilidades domésticas em plástico. Segundo o site da empresa “O design dos produtos É uma

196

característica muito marcante nas linhas da empresa, pois acreditamos que levar beleza ao dia-a-

dia do consumidor é o nosso trabalho. Além disso, a funcionalidade e a praticidade de uso são

fatores fundamentais no desenvolvimento de nossos produtos.” Os produtos da empresa são

organizados em diversas linhas, por uso do consumidor e também para abranger diversos tipos

de consumidores.

Para saber mais sobre a empresa foi procedida uma entrevista em profundidade com o

responsável pelo design da empresa. Formada em Design pela ULBRA há em torno de 5 anos e

com especialização em Engenharia de Produção pelo Programa de Pós Graduação em

Engenharia de Produção da UFRGS a designer entrevistada divide suas responsabilidades diárias

com um outro designer, também formado pela ULBRA e com especialização em Marketing. A

Designer está na empresa há 6 anos e, com seu colega, os dois formam o departamento de

design. Eventualmente, tem um estagiário ou mais algum profissional compondo a equipe.

O organograma da empresa é composto pelo diretor superintendente que coordena o

comercial, marketing e design, um subordinado ao outro. Entretanto, a participação do diretor

diretamente no design, eventualmente, causa desconforto por ser direto. Segundo a entrevista a

hierarquia destas tarefas existe, aparece bem no início do processo, pois a demanda vem sempre

do comercial, mas depois é bastante relativa. Comenta também que somente em 2009 iniciaram

processos de pesquisa de mercado, organizada pelo marketing, para compreender melhor

algumas praças consumidoras e a percepção do consumidor sobre a marca e os produtos.

Segundo a designer, estas pesquisas estão ajudando os projetos de design.

A empresa se diferencia no mercado pela qualidade e pela “cara” do seu produto.

Segundo uma pesquisa feita pela empresa com consumidores, é uma marca digna de dar de

presente, de alta qualidade. Os principais concorrentes são outras produtoras de utilidades

Diretor superintendente

Comercial

Marketing

Design

197

domésticas de plástico. Nos últimos meses, segundo a entrevistada, a empresa tem também

projetado peças com menor qualidade, para um mercado consumidor mais amplo, o que pode ser

um pouco frustrante para a equipe de design, segundo a entrevistada.

A posição do design na empresa, segundo a entrevistada, é importante, mas muito mais

como um processo, como a tradução da metodologia de desenvolvimento dos produtos do que

como glamour ou estratégia. A entrevistada imagina que, se engenheiros fossem colocados no

seu lugar, fariam o que devem fazer mas os produtos seriam sempre os mesmos. Atualmente, ela

acredita que o design faz a intermediação do desejo de produtos baratos do comercial com o

desejo de simplicidade do pessoal da produção, puxando a comissão de desenvolvimento de

produto para algo melhor, que quando fica pronto, tem a cara do designer e é bem visto pelo

consumidor final. Ainda assim, sente que a direção da empresa confia na equipe de design.

A empresa utiliza, segundo a entrevistada, uma metodologia básica para o

desenvolvimento de produtos, a partir de três áreas da empresa: comercial, marketing e

desenvolvimento de produto; na qual o comercial faz a proposta, trazendo a demanda do novo

produto, o marketing faz pesquisa, aprofunda as informações de briefing do produto e a equipe

de desenvolvimento de produto/design vão desenvolver.

O processo é iniciado e balizado em uma reunião semanal que reúne diretoria,

exportação, produção, marketing e desenvolvimento de produto. Nestas reuniões são discutidas

novas idéias, definidos produtos e acompanhados os projetos até seu lançamento, além da análise

de recursos proporcionada pela reunião com todos os presentes. A entrevistada imagina que em

70% das reuniões a pauta é rotina e não inovações, mas salienta que a integração da equipe,

sistemática é importante.

Decidido o produto a ser desenvolvido, a entrevistada entende que o briefing que chega

para a equipe de design é “bem mastigado”. Pensa que “nenhum deles tem mega talento” mas

que a empresa entende design como um processo, que atua no desenvolvimento de produtos,

com as restrições que são necessárias.

O método geral de desenvolvimento de produto e design é:

198

1. Indicação, por parte do comercial, de uma nova demanda. Discutida na

reunião semanal da comissão de produto da empresa. Briefing para a equipe

de design.

2. Geração de soluções para atender a demanda. Em geral mais de uma solução e

leva novamente para a reunião.

a. Análise de concorrência

b. Pesquisa de conceito

c. Proposta de soluções

3. Na reunião, apresentadas as soluções, uma é escolhida pela comissão segundo

todos os critérios (produção, comercial, marketing, custos, etc.)

4. A equipe de design desenvolve todo o corpo de linha para a opção escolhida,

de modo a dar lógica para a linha;

a. Modelagem, os rafes não são apresentados

5. Na reunião, o projeto é aprovado ou não

6. A equipe de design volta ao detalhamento dos produtos.

a. Detalhamento técnico

7. Ferramentaria para desenvolvimento do molde.

8. Molde produzido na China – nesta etapa acontece um certo “vai e vem” de

projeto e molde até que o mesmo esteja de acordo com o especificado e com

boa qualidade.

9. Amostras

10. Gravações e testes feitos na fábrica, no Brasil, para pequenas correções.

11. Produção (no Brasil)

É interessante perceber que a equipe de design, depois de certa fase, se desliga do

processo. Em geral, segundo a entrevistada, depois que o projeto passa para a ferramentaria a

equipe de design já está preocupada com novos projetos e, muitas vezes, tem que voltar a se

envolver quando os moldes vêm da China. Este envolvimento prevê desenvolver os relatórios de

correção de produto, para que os moldes sejam alinhados e, segundo a designer, são muito

“chatos” de se fazer, principalmente porque já estão pensando em novos projetos, estes levam

alguns meses para acontecer.

199

Segundo a entrevistada, além deste relatório para correção, nenhum outro documento do

projeto é feito. Não trabalham com ISO, não costumam registrar os projetos internamente. Os

registros de patente são sempre feitos. O máximo que fazem, segundo a entrevistada, são

arquivos de Excel para um acompanhamento “macro” do projeto, “em que etapa estão com quem

estão, se estão na China ou aqui.” O histórico de desenvolvimento de produtos da empresa está

com a diretoria, que há muitos anos acompanha o processo. A entrevistada também desconhece

processos ligados a indicadores de desempenho ou gestão de qualidade, sobre a qual já ouviu

falar mas não são implantadas em relação ao design. Salienta que os custos e o preço são os

maiores balizadores de todo o processo, sendo sempre muito valorizados pela comissão de

produto, pelo comercial e pela direção. Segundo a designer, o foco é no comercial, no retorno

sobre o investimento (ROI).

O processo todo de desenvolvimento de um novo produto pode levar até 9 meses e a

empresa está preocupada em agilizar este processo, estão procurando saber onde está o gargalo

para melhorar.

Ao longo do processo a diretoria da empresa participa ativamente. O diretor responsável

é capacitado ao tema, trabalhando nesta área há mais de 30 anos e bastante atento ao processo de

design. Segundo a entrevistada, este diretor chega a entrar na sala de design de 3 a 4vezes por dia

e os ganhos desta interferência são muito maiores do que o eventual “atrapalhar” desta dinâmica

da empresa.

Começaram, em 2009, a experimentar terceirizar alguns projetos para escritórios de

design externos, como modo de ver se aparecem novas idéias e opções, pois, dentro da empresa,

as soluções, muitas vezes, parecem ser sempre as mesmas. A entrevistada pensa que as

referencias existentes depois de vários anos de trabalho são maiores que as novas experiências e

que isso pode acabar “matando” projetos legais e novas idéias.

Não costumam se inscrever em premiações e concursos, menciona que já ganhou um

“House Gift” e já foi finalista do prêmio “If”, mas pensa que se inscreve para seu portfólio, pela

sua carreira e não porque a empresa priorize isso ou goste destes concursos.

200

Sobre aprendizagem, pensa que em todos os projetos aprendem, mas que não existe uma

formalização de aprendizagem organizacional, que quem sai da empresa leva consigo as coisas

que aprendeu, até porque não costumam registrar os processos de design.

201

V- Roteiro de- Entrevistas com Designers nas Empresas – Etapa Final

I. A EMPRESA E O DESIGN – revisão de pontos questionados na entrevista anterior

Em relação a entrevista anterior, existe alguma mudança na área de design ou de

desenvolvimento de produto?

E na empresa, existiram mudanças?

O processo de design continua o mesmo? (revisar o desenho do método)

II. O PROCESSO

A empresa tem indicadores de desempenho de modo geral, BSC ou indicadores específicos para

design?

Até que ponto a direção da empresa participa?

III. AVALIACAO DO MÉTODO/PROCESSO

Gostaria de te apresentar o método, ou processo de Design desenvolvido para a minha tese.

**mostrar o método/processo**

O que achas deste método, é compatível com os procedimentos desta empresa?

Pensas que ele sugere a realidade das empresas que conheces?

A participação da diretoria e as aprovações ligadas a ela estão corretas?

IV. AVALIAÇÃO DA SISTEMÁTICA

A sistemática apresentada visa compreender o tipo de gestão de design praticado pela empresa

diagnosticando a prática e proporcionando uma visão dos processos que poderá sugerir melhorias

e caminhos para a alavancagem do design ferramenta estratégica.

A idéia é seguir os passos:

Aval da direção e escolha do avaliador.

Escolha do grupo de trabalho

Análise das estruturas – entrevista com gestor e designer

Consolidação de resultados - estruturas

Reunião de alinhamento dos resultados – estruturas

Avaliação dos entendimentos – aplicação dos questionários

Aplicação dos questionários da segunda etapa

Tabulação dos resultados individuais e em grupo

Análise dos resultados

Apresentação para o grupo de trabalho – discussão de melhorias

202

O que você acha desta proposta, seria aplicável em sua empresa?

Quais as dificuldades que imagina enfrentar para utilizar um material como este?

Quais as vantagens que percebe neste tipo de instrumento?

Você acha que a direção da empresa gostaria ou permitiria este tipo de diagnóstico?

Quando os resultados estivessem prontos, como você acha que as equipes receberiam o

resultado?

**Aplicar os formulários de estruturas e entendimentos**

Você teve alguma dificuldade com este instrumento?

Gostaria de fazer alguma sugestão de alteração?

O que você acha das questões?

Outros comentários

203

VI- Entrevistas com Designers nas empresas – Etapa Final

EMPRESA C

Na empresa C, produtora de pincéis, o entrevistado foi o designer responsável pela

equipe. Sobre o período entre entrevistas e eventuais mudanças acontecidas, o designer

mencionou que nada de significativo aconteceu no período. No departamento de design da

empresa contam hoje com um funcionário a mais do que na entrevista anterior. Entretanto, nos

próximos meses, eventualmente ocorram alterações de estrutura do setor, que poderá se fundir

com o de uma empresa do mesmo grupo industrial. Em relação aos resultados, pensa que hoje,

em contraponto a entrevista anterior tem obtido melhores resultados nos projetos. Conseguiu,

inclusive, quantificar a diferença de faturamento da empresa em produtos nos quais tinham

trabalhado entre os anos de 2009 e 2010, percebendo a diferença positiva que faz o design. Ficou

muito satisfeito com esta constatação.

No geral, o entrevistado informa que o grupo empresarial a qual sua empresa pertence era

fragmentado e que está passando por um processo de estruturação em forma de grupo e isso está

levando a unificação de setor, sendo que, provavelmente, o design também passará por isso nos

próximos 5 anos. “Eu acharia interessante a integração do design mas não em menos de cinco

anos. Tenho contato com a engenharia e gostaria de ter esta liberdade. A implantação das

ferramentas de SAP que estão estruturando a empresa tem impacto no design, segundo o

entrevistado. Pois, com esta ferramenta exige cadastros e especificações de produto e montagem

que são responsabilidades do design.E isso será bom. Segundo o entrevistado o SAP oportuniza

um processo mais inteligente de troca de informações. Considerando que hoje o software de

troca de informação é via web e com o SAP poderão usar o MS Project. Levará um tempo, talvez

dois anos, mas será bom.

Quanto ao desempenho da empresa e suas medidas, além da feita pelo próprio designer e

já mencionada nada mais é feito. Por outro, no departamento de marketing já se fala em

Planejamento Estratégico real, que se possa fazer e realmente seguir, pois hoje o diretor e o

204

gerente decidem. Segundo o entrevistado “falta e atrapalha (a falta do planejamento estratégico)

o trabalho do setor porque não tem norteador, faz-se um pouco disso e daquilo.”

Ainda assim, o designer pensa que consegue gerenciar os seus projetos e que as coisas

vão mudando e melhorando na empresa. Uma destas mudanças tem relação com a Lei da

Inovação, que fez com que a empresa contratasse uma consultoria nesta área para ver o que era

feito na empresa e quantificar os tempos de processo, gastos e faturamento para fins de incentivo

fiscal. Este processo de consultoria resultou em preocupação e fomento a documentação nas

reuniões de produto.

O entrevistado relata que iniciou procedimentos de testes de produto, que há dois ou três

anos não existiam e está documentando tudo, gerando um banco de dados para posterior

consulta. Inclusive com testes em outras localidades nas quais o produto é vendido pois sente que

existe um fator cultural forte no uso dos produtos. Entende estes testes como uma “arma do setor

de design”, pois gera know how sobre o produto que desenvolvem. Para os próximos meses,

gostaria de aumentar o trabalho, ter um laboratório, quem sabe uma equipe de técnicos.

O entrevistado pensa que estes testes e o banco de dados mudaram a relação dele, como

designer, com a direção da empresa. Passando de “desacreditado” para respeitado, sendo parte

efetiva da reunião de produto da empresa. Sabe que, mesmo sem ter cargo de gerente, tem hoje

opinião para as decisões de produto da empresa. Menciona que anteriormente não participava

tanto e hoje é mais aberta o processo de decisão. Participam todos, o diretor, gerente comercial,

industrial e financeiro além de pessoal de engenharia, exportação e produto. Todos participam da

tomada de decisão, democratizando e dando propriedade do processo.

Quando apresentado ao processo de design desenvolvido pela tese e adequado a Gestão

de Design, o designer comenta especialmente a questão dos custos. Comenta que na indústria é

onde o designer realmente aprende a lidar com custos e a importância destes no projeto. Na

empresa onde trabalha, pelo tipo de produto produzido, comenta que os custos deveriam vir antes

na sequencia proposta de método, na altura do item quatro e não do seis. Este cuidado tem

diversos motivos, mas em especial o peso da peça plástica que se vai produzir deve ser definido

antes do protótipo assim definindo o preço. O designer argumenta também que o processo de

205

produção do produto é caro e leva tempo. Deste modo, chegar ao ponto de fazer o molde sem

saber o preço é impossível e pode inviabilizar o produto. Assim, o contato com a engenharia e o

processo deve ser estreito. No caso da empresa onde trabalha, pensa que se filtra bastante o que o

comercial deseja pelos parâmetros do que se pode ou não produzir. E a análise de custos ajuda a

fazer este filtro.

A sistemática foi apresentada ao designer, que comentou ser interessante o procedimento.

Sobre o formulário que avalia a estrutura, o designer pensa que todos os personagens da situação

estão elencados bem como os fatores. Comenta que eventualmente existe o design sem existir o

designer e a equipe passa a ser subordinada ao marketing “pois são eles quem decide a

embalagem”, comenta o entrevistado em tom de brincadeira. Se não for assim, acaba

subordinado ao engenheiro, que dá norte ao projeto de design pela parte técnica. Mas, comenta o

entrevistado, estes são norteadores, pois o decisor é sempre o diretor. Segundo o entrevistado a

questão da infra-estrutura poderia ser avaliada junto com a estrutura geral. Para ele, este ponto é

importante pois um local de trabalho adequado, com as ferramentas adequadas são importantes.

O entrevistado menciona que a infra estrutura também se relaciona, em sua opinião, com a

possibilidade que a empresa dá ao profissional de sair a campo, ver o uso do produto in loco, ter

computadores potentes, liberdade com o material, que as vezes, é de desenho. O suporte material

de nível, inclusive com prototipadora própria quando necessário é investimento em design,

segundo o entrevistado. O entrevistado comenta que, em alguns momentos, os diretores não

entendem bem os pedidos de material, como um monitor melhor do que o de outros setores ou o

material de desenho, como canetinhas coloridas, mas estes pedidos de compra devem ser

compreendidos e aceitos na empresa, pois são parte da valorização do design no projeto e do

papel do designer na empresa. O entrevistado sinalizou também que, na sua empresa, o método

de projeto começaria no mercado, com as perguntas típicas de para quem? Por quê? E qual o

produto a ser desenvolvido.

Na parte dos entendimentos da sistemática, o entrevistado preencheu o questionário e

comentou que achou tranquilo o preenchimento. Achou as questões propostas interessantes e

muito úteis, pois nem sempre o trabalho de um designer é bem compreendido e a sistemática

abriria espaço para uma melhor compreensão. Comentou ter feito, na empresa, uma apresentação

sobre o trabalho do setor e que isso foi útil na sua inserção profissional. O entrevistado comenta

também que acha importante para definição da estrutura, filosofia e equipe de design ter algum

206

tipo de Gestão de Design na empresa. Comenta que o conhecimento das competências do design

na empresa é interessante, pois existem profissionais de vários perfis no design, dos mais

técnicos aos mais criativos, ou mais voltados para desenho e conceito.

Pontua que sabe que facilita a vida do pessoal de processo da empresa, que talvez estes

entendam seu papel, mas pensa que os diretores têm mais dificuldades. E é justamente nesta

dificuldade que estaria, eventualmente, algum empecilho para o uso de uma sistemática de

avaliação como a proposta nesta tese. Conversar sobre estruturas, na proposta da sistemática, o

entrevistado pensa que conseguiria chegar a um consenso com seu diretor, na discussão proposta

pela ferramenta, sem grandes problemas. Mas nos entendimentos seria mais complicado. O

entrevistado acha viável a aplicação da sistemática, pensa que sua operacionalização é simples.

Mas pensa que, eventualmente, a diretoria da empresa não permitiria seu uso. Não permitiria

iniciar o processo. O entrevistado pensa que esta posição depende muito da vontade de mudar

dos diretores das empresas, dos decisores. No caso da sua empresa, pensa que não transparece,

mas são inovadores. Ainda assim, vê os diretores como o maior empecilho para o uso de uma

sistemática de avaliação. Acredita que conversar sobre este assunto com o diretor comercial seria

fácil, com o superintendente são seria tão difícil, mas as coisas deveriam ser bem explicadas. Já

com o diretor industrial seria bem mais difícil. Comenta que a rixa existente entre comercial e

industrial faz com que o pessoal do design “ande com a maré, tentando ser neutro para se

posicionar em algums situações mais importantes.”

Por fim, perguntou-se se a sistemática e seu uso ajudariam o design de alguma forma na

empresa e o entrevistado pensa que sim, sem dúvida, pois auxiliaria a perceber as diferenças de

pensamentos entre as pessoas e alinhar algumas idéias. Ajudaria a perceber e discutir o papel de

cada um nos processos da empresa, suas habilitações e tarefas. Além de ser muito útil no

entendimento do design de seu papel e de sua importância.

EMPRESA D

Na empresa D, produtora de utilidades domésticas térmicas, o entrevistado foi o designer

responsável pela equipe. Sobre o período entre entrevistas o entrevistado menciona que as

207

mudanças aconteceram de modo estrutural, em um enxugamento da diretoria com a volta do

fundador a da empresa à ativa, em busca de re-organizar algumas questões da empresa. Neste

processo, somente um diretor controla a empresa e a estrutura ficou mais profissional. Para o

departamento de design a mudança não foi grande, e a sensação é que a marca voltou a valer por

conceito, não brigando por preço, o que facilita o trabalho da equipe de design. Ainda assim, são

poucos os novos lançamentos de produtos, com a direção buscando discutir produtos melhores.

O entrevistado menciona que, com a empresa mais enxuta, e sendo o responsável pelo

design, precisou organizar as competências e re-alocar pessoas que estavam em departamentos

como marketing para um trabalho mais focado na marca e na sua comunicação. Conseguiu

contratar uma designer e um antigo engenheiro que voltou à empresa. O designer acredita que o

diretor encarregado, hoje, tem ótima noção da importância e do papel do design na empresa, o

que é muito bom.

Sobre o modelo de método apresentado, o entrevistado comenta que na sua empresa

existem vários detalhes a mais do que os apresentados no gráfico. A análise de potencial de

mercado, sincrônica em relação à concorrência sempre é feita e inicia os trabalhos da empresa D.

Também buscam fazer a análise do comportamento e dos valores do público alvo, buscando

saber como o produto pode ser significante para usuário para desenvolver a interpretação da

linguagem do produto. Comenta que o design é quem tem municiado a comunicação com

informações do produto que criou. Salienta que é feita uma produção piloto de em torno de 300

peças para teste, na qual se tiverem problemas em mais de 1% vão produzir novas 300 pecas até

que o problema esteja sanado e o produto validado.

Sobre a sistemática, depois de explicada, o entrevistado comenta que teve um pouco de

dificuldade de entender o uso. Acredita que, em algumas empresas, seria necessário fazer uma

adequação da linguagem dos instrumentos de estrutura e entendimentos para a linguagem da

empresa, como modo de facilitar o uso da sistemática. Algo como uma tradução. Pensa que os

diretores, eventualmente interferem demais e complicam o trabalho do designer, inclusive com

gostos pessoais. Entende que os papéis e a importância do design podem ser discutidos com a

sistemática.

208

EMPRESA G

Na empresa G, produtora de componentes metálicos, o entrevistado foi o designer

responsável pela equipe. Sobre o período entre entrevistas algumas mudanças aconteceram, em

especial a subordinação da equipe de design, que passou a ser subordinada ao departamento de

marketing e vendas da empresa e passou a atender somente a linha de moda. Anteriormente,

atendiam também decoração.

Segundo o entrevistado, esta mudança do posição da equipe de design na empresa foi

positiva pois aproximou o setor das discussões estratégicas e, quando isso acontece, na opinião

do entrevistado é porque os valores são maiores e existe a valorização estratégica dos negócios

em termos de design. O entrevistado observa que o crescimento no faturamento da empresa foi

de 30% em quatro coleções e um aporte financeiro na área de design, marketing e de eventos

para o lançamento aconteceu.

Por outro lado, a equipe de designers treinada continua fazendo seu trabalho, mas sem

tanta pró atividade. No momento da entrevista, o designer estava deixando a empresa e o diretor

industrial estava assumindo a direção deste setor. O entrevistado imagina que, a partir desta nova

direção, as inovações poderão ficar mais difíceis pois, em geral, a orientação é facilitar a

produção.

Em relação ao modelo de método apresentado, o entrevistado acredita que está muito

bom, condizente com todas as etapas verdadeiramente seguidas. No caso específico do trabalho

com moda, o designer sugere um link mais forte com mercado, no que se refere à questão das

tendências, essenciais no setor da moda. Especifica que na etapa de moldes, no mercado de

moda, são feitos pequenos lotes, o que facilita a verificação da peça e até o processo de vendas.

São feitas amostras em um pequeno lote de produção. O designer comenta que o mercado é

bastante pró ativo neste segmento.

Sobre a sistemática e sua aplicação, depois de apresentadas ao entrevistado, este comenta

que gostou muito da proposta. Acredita que poderá gerar boas discussões, especialmente, pois

deverá provocar questionamentos sobre a real importância do design. Pensa que estes

questionamentos fazem as pessoas terem “insights” sobre o próprio trabalho que são

209

interessantes e importantes. “É legal ter momentos de insight sobre o próprio trabalho!!”.

Comenta que na moda existe uma questão de ego muito forte e que muitas pessoas não entendem

que design é a função e não a pessoa, especialmente nos casos de famosos (arquitetos, designers

ou outros) assinarem coleções. Pessoas que nunca ou pouco projetaram ganham fama no meio e

confundem as pessoas. Por outro lado, quando bem gerenciado, o designer externo que assina

uma coleção pode auxiliar o processo da empresa por articular o projeto preservando algumas

relações e evitando atritos.

O entrevistado menciona dois pontos objetivos sobre a questão das estruturas: que a

questão de faturamento pode não ser respondida, pois as empresas não gostam muito de

comentar este ponto e que, eventualmente, o lucro deveria ser abordado. Se possível, a diferença

de lucratividade da empresa antes e depois do design.

Sobre a etapa de entendimentos, o designer pensa que poderá auxiliar a empresa e que “o

grande lucro do processo será aumentar o entendimento do design na empresa.” Deste modo, a

empresas pode se sentir mais a vontade para liberar estrutura e investimento em design. Ainda

sobre os entendimentos, acredita que os termos do instrumento estão apropriados para empresas

que não estão acostumadas ao design.

EMPRESA H

Na empresa H, produtora de componentes metálicos, a entrevistada foi a designer da

empresa. Sobre o período entre as entrevistas mudanças aconteceram. A principal é que não

existe mais um designer responsável pela equipe, sendo que agora o próprio presidente da

empresa tem contato com a equipe, relacionando-se com os designers da área de moda e de

decoração da empresa, agora separados em duas equipes.

Ainda assim, de um modo geral, o processo de design continua o mesmo. Com algumas

melhorias de produtividade e com o fato de que não fazem mais protótipos à mão e sim com

usinagem.

210

A designer comentou algumas questões de mercado, sua percepção de que as equipes

internas muitas vezes não são valorizadas como deveriam, em detrimento “grandes nomes” quem

são contratados para coleções e que, muitas vezes, geram mais problemas do que produtividade.

Comentou também o grave problema das patentes de invenção e das polêmicas que envolvem

este tipo de registro entre empresas e designers. Comentou também a importância da ISO para o

amadurecimento e a documentação dos projetos.

Apresentada a sistemática e sua mecânica de aplicação, a designer comentou suas etapas.

Sobre as “estruturas”, mencionou que seria um bom momento para avaliar papéis e funções, o

que nem sempre é consenso nas empresas. Pensa que, muitas vezes, nas empresas é mais a

engenharia e a matrizaria do que o design, na verdade, e que algumas figuras estão trocadas no

processo, sendo urgente a questão da gestão de processo e da gestão de design. Acredita que

ajudaria bastante a discussão sobre estruturas, identificando inclusive o planejamento estratégico

no contexto da empresa e permitiria agir nos focos de discussão.

Na etapa de “compreensão” a entrevistada também preencheu o formulário, não

encontrando dificuldades para tal tarefa. Comentou que percebe que existe indefinição sobre o

design, todos pensam que fazem, em muitos momentos ninguém faz! Deste modo, percebe que

se poderá definir melhor o papel do designer, até para momentos em que existem atividades

novas, como ISO, que sempre “sobram para o designer”.

Sobre a aplicação da sistemática, a entrevistada entende que as pessoas entenderiam a

proposta e seria de interesse dos designers participar. Mas, segundo a entrevistada a aplicação

dependeria, de fato, dos diretores da empresa e de sua permissão. Acredita que, se o diretor em

questão, tiver mentalidade aberta, não teria problemas, mas pensa que com diretores mais

centralizadores, problemas poderiam ser enfrentados tanto na permissão para aplicação quanto

em eventuais discordâncias ao longo do processo, ou no preenchimento dos formulários.

Segundo a designer a sistemática promove uma avaliação que é boa para a empresa, mas pode

ser limitada pela diretoria. Por fim, a entrevistada acredita que os designers não teriam

dificuldades em entender as variáveis propostas para análise e também eventuais lacunas no

processo.

211

EMPRESA K

Na empresa K, produtora utilidades domésticas plásticas, a entrevistada foi a designer

responsável pela equipe. Sobre o período entre as entrevistas poucas mudanças aconteceram, o

método de trabalho continua o mesmo e nenhuma das mudanças é importante para comentar.

Ao analisar o processo de design desenvolvido pela tese e adequado a Gestão de Design,

a entrevistada faz observações essencialmente ligadas aos custos do projeto. Para ela, estes

deveram vir antes do que estão posicionados ou em uma coluna paralela a todos as outras etapas

de projeto, acompanhando todo o projeto, sem gerar surpresas ao final. A designer comenta que,

na realidade, os custos devem vir desde a concepção do projeto, de forma real e não ideal, para

ficar dentro do peso correto, o que na sua indústria é essencial para determinar o preço final do

produto. Além da questão dos custos, a entrevistada comenta que no primeiro passo do processo

apresentado a empresa já discute em que posição de mercado este futuro produto vai estar, em

termos de posicionamento, concorrentes e apelos para a geração de alternativas de projeto. A

entrevistada observa também que, na empresa na qual trabalha, o envolvimento do designer vai

somente até a etapa dos moldes. Para eles o projeto acaba neste ponto, e a equipe de design já

começa a pensar em outros projetos por que leva três meses para o molde voltar (muitos são

feitos na China) e, quando voltam, não passam mais pelo comitê de produto, sendo verificados

pela área técnica. Se existe algum problema, ai sim o design é chamado, mas na maioria das

vezes a equipe não participa da pós produção ou dá acompanhamento. Comenta que a primeira

produção de um novo produto é muito grande pois visa abastecer todos os centros de distribuição

da empresa e os pontos de vendas.

Ainda sobre o processo de design e o método, a designer menciona que gostaria de

colocar algumas setas de retorno no modelo apresentado pois pensa que não é tão estanque o

desenvolvimento do produto e que idas e vindas são normais no processo.

Sobre indicadores de desempenho a entrevistada menciona que o número real de vendas

dos produtos são conhecidos, em geral, seis meses depois do início das vendas o que dificulta o

feedback para o departamento de design.

212

Apresentada a sistemática e a aplicação da mesma a entrevistada pode avaliar os

formulários e opinar. Sobre a parte de estrutura a entrevistada pensa que está bem, comenta que

“quando marcamos muitos „nunca‟ neste formulário, já existe algo para refletir”, falando sobre a

empresa e seus processos e ferramentas. Sobre esta etapa, pensa que pode contribuir para os

decisores de design e gestão conversarem e estabelecerem como as coisas funcionam na

empresa, acredita que realmente exigiria uma conversa com os responsáveis para se saber como

funcionam as coisas na empresa.

Sobre o formulário de avaliação proposto para verificar os entendimentos, a entrevistada

fez algumas sugestões:

Deixar claro, na escala das questões que o número 3 não é neutro.

Na última questão da etapa de processo, “a equipe de design tem independência

para criar novos produtos” é provável que o um diretor aceite uma sugestão e,

deste modo, vá para a pauta de criações, mas de outro modo, com independência,

jamais!

A palavra estilo pode ser complicada, “será que é só estilo? O que estaria em

estilo?”

A entrevistada comenta que, analisando as perguntas do questionário de entendimentos,

se pode ver como o setor de design é importante para a empresa. Percebe que a parte industrial é

complexa e que toda a empresa esta voltada para isso, como base, mas que o design também é

muito importante. “Talvez até mais importante do que eu imaginava.” Pensa que a

disponibilidade das pessoas para falar de design não é a mesma que para falar de rótulos ou

publicidade.

No caso da empresa onde trabalha, acredita que não ajudaria a desenvolver nada, pois a

equipe de design não é estratégica. Pensa que a discussão deveria começar nos gestores e que

teria que vir de fora para refletir no gestor. Acredita que na sua empresa o designer não tem

poder de decisão, seria um movimento que não poderiam externar. A importância para a empresa

é no design e não no designer. Pensa que no ambiente estratégico contribuiria.

213

De um modo geral pensa que as perguntas provocadas pela sistemática medem o que

acontece nas empresas e muito mais são estratégicas do que de competência.

214

VII- Roteiro de Entrevistas com Especialistas – Etapa Final

1. Como você entende os processos de design nas indústrias?

a. Sua experiência é externa, como vê a experiência interna?

2. Quais as principais vantagens e desvantagens destes processos? E destas modalidades?

3. Como você acha que a empresa vê e pensa o processo de Design? Pq. as coisas são do

modo que são no relacionamento designer X indústria?

4. Qual a participação efetiva do designer na indústria?

5. Como você entende a questão da Gestão de Design na indústria hoje?

a. É uma estratégia, um processo ou competência?

6. Durante a sua experiência, como o Sr. avalia o impacto financeiro para a empresa do uso

de design?

** Mostrar o modelo de Gestão de Design**

7. O que você acha deste compreensão da Gestão de Design? E destas dimensões? Elas

refletem a realidade?

** Apresentar a sistemática de avaliação de Gestão de Design**

8. O que você acha deste instrumento de avaliação?

a. Seria útil?

b. Seria viável?

c. Aplicável?

d. Quais as restrições que poderíamos encontrar?

e. Quais as vantagens?

Outras ponderações...

215

VIII- Entrevistas com Especialistas – Etapa Final

Especialista 1 – Nelson Ivan Petzold

O primeiro especialista entrevistado, Arquiteto Nélson Ivan Petzold, é um dos pioneiros

do design no Rio Grande do Sul. Ao longo de quase cinqüenta anos foi sócio de José Carlos

Bornancini em centenas de projetos de design. Embora mencione que “suas chuteiras estão

penduradas”, Petzold continua sendo o grande nome gaúcho no design de produtos e sua opinião,

do mesmo modo que foi importante na primeira etapa deste estudo faz-se agora fundamental.

Ao comentar como percebe o mercado para os designers hoje, o entrevistado ponderou

uma série de mudanças que nos últimos anos ajudaram a dar novos contornos à relação entre

designers e empresas. Comentou o crescimento do empreendedorismo, o papel da China nas

vendas para o mundo todo, o crescimento da indústria brasileira e gaúcha e também o

crescimento no número de designers formados. Comentou sobre os avanços nos processos

produtivos e a mudança que estes, somados aos fatores citados anteriormente, causavam na vida

de um profissional de design, hoje muito mais exigido em termos de projeto para produção e em

termos financeiros do que anteriormente. Salienta que para os designers que atuam em equipes

internas, nas empresas, os limites também existem, são os mesmos que para designers externos.

Sobre as diferenças entre equipes internas e externas o entrevistado pensa que as equipes

internas têm mais tempo para entender a cultura da empresa enquanto as equipes externas fazem

pressão, são a imposição de alguém de fora para mudar uma rotina. Acima destas questões, pensa

que muitas vezes o design é visto como um „processo deletério‟, nocivo, que depende de uma

escada de decisões, da relação do designer com o dono da empresa, e que muitas vezes depende

do “feeling” deste. Segundo o entrevistado, esta questão mudou muito nos últimos anos uma vez

que antigamente o designer conversava diretamente com o dono da empresa e entrava na fábrica

para definir seus estudos e projetos. Pensa que este contato direto auxiliava na questão

estratégica de design, em um tempo onde “vestia-se a camiseta” da empresa para quem se estava

trabalhando. “hoje, vestir a camiseta é coisa de dinossauro!”.

216

Sobre o modelo que lhe é apresentado, o entrevistado comenta achar muito interessante.

Pensa que “a mesa aumentou” referindo-se ao maior número de facetas que um projeto de design

tem atualmente. Acredita que, no modelo, “as engrenagens estão todas ai”. Comenta que ouvir os

vendedores também é muito importante para o design, estar atento aos movimentos de mercado.

Explicada a sistemática, o entrevistado comenta que sua aplicação e uso dependeria da

“abertura de cabeça” do dono ou responsável pela empresa. Acredita que a sistemática

proporcionaria uma avaliação para mudança e as mudanças sempre dependem das cabeças

envolvidas, da disposição das pessoas. O entrevistado pensa que a mudança depende de “terreno

fértil” nas pessoas e empresas.

Especialista 2 – Maurício Berguenthal Andrade

O segundo especialista entrevistado, Mauricio Andrade, é administrador de empresas

com especialização em Design Estratégico (UNISINOS) e Mestre em Design pela UFRGS. Na

primeira entrevista feita com ele, no início desta tese, era o Gestor da Rede Gaúcha de Design e,

neste momento, é Diretor Executivo do Parque Técnológico do Vale dos Sinos – Valetec. O

entrevistado tem experiência com design pela ótica do empresariado e, apesar de um pouco mais

afastado da área específica de design atualmente, continua vivenciando a perspectiva “macro” do

empresariado gaúcho sobre o tema.

Perguntado sobre como vê os processos de design nas indústrias atualmente, o

entrevistado menciona que tem percebido que os empresários apropriam-se das tecnologias e

fazem desenvolvimento, muitas vezes sem perceber que poderiam usar design. Pensa que existe

um perfil cultural que é, sim, receptivo ao uso do design, como abordagem. Especialmente

setores nos quais a diversificação é muito importante, como o calçadista e a construção, que são

fortemente influenciados pelo mercado externo. Segundo o entrevistado a força da China nos

mercados forçou alguns empresários gaúchos a produzirem marca própria, a buscar o novo.

Especialmente quando considera-se que a tecnologia para seu produto já está dominada, restando

evoluir em outros aspectos. Para o entrevistado, está é uma das boas oportunidades do design

para inserir-se em novas indústrias. No mercado interno, acredita que em termos de P&D, temos

217

muito mais D do que P, e é este desenvolvimento que se torna um espaço de entrada para o

design.

Ainda sobre a questão do design na indústria atual, o entrevistado sente que de 2007 para

cá (agosto de 2010) algumas coisas mudaram em termos de design. Acredita que o uso hoje é um

pouco mais estratégico do que anteriormente. Pensa que isso se deve a algumas coisas, entre elas

o fato de que alguns empresários começaram a ver outros ganhando com design. “O empresário

vê o outro ganhando e pensa...porque?” e eventualmente isso alavanca o uso do design. Acredita

também que a Unisinos, com sua escola de design com este foco ajuda a educar o mercado e

também neste período a UFRGS lançou mestrado, outras escolas cresceram e alguns cursos da

antiga Rede Gaúcha de Design (RGD – da qual o entrevistado foi gestor) também prepararam o

mercado.

Sobre as vantagens do processo o entrevistado menciona que são muitas e tem a forte

impressão de que muitos empresários evitam falar sobre design. Enquanto alguns evitam porque

sabem que “é uma boa”, mas não querem se envolver muitos sabem exatamente o quão bom é e

não querem falar. Talvez, neste ponto, esteja também a questão da relação do empresário com o

design, e da sua empresa com o design. O entrevistado acredita que existem três linhas distintas

de encarar o design, e do empresário atentar para o tema. O primeiro tipo de empresário nem

conhece design. O segundo é o empresário que tem seu produto comprado sem grande esforço, e

este está na zona de conforte e talvez não se preocupe com design se esta não é uma das

ferramentas importantes para o seu sucesso. Já o terceiro “usa e não larga!”. E, segundo o

entrevistado, este empresário “fica na moita”, não gosta de falar sobre este assunto. A relação

deste profissional com o designer geralmente é bem delicada, segundo o entrevistado, pois o

empresário tem noção do papel estratégico do designer e se desconforta com isso. “O empresário

gosta de ser ele o estratégico e, de repente pensa „puxa! Estou na mão deste cara (o designer), ele

esta tendo papel importante na estratégia da minha empresa”. Papel este que o empresário

entende que é estratégico, e até de fornecimento de conhecimento, e não gosta muito. Segundo o

entrevistado essa pode ser a questão quando se percebe relações delicadas entre empresários e

designers. O entrevistado comenta que este detalhe é, em sua opinião, o motivo porque muitas

empresas têm equipes mistas de design, com equipe interna e externa e até dos cuidados que

alguns têm ao contratar designers de outras empresas concorrentes. De querer contratar e de

218

querer quarentena dos que saem das suas empresas. Segundo o entrevistado, existem diferenças

de salários na indústria para designers que trabalham ou não em nível estratégico, como o que se

chama de designer sênior. Os júnior tem menores salários e/ou não estão em indústrias que

tratam design como estratégia. Segundo o entrevistado a questão toda está em o empresário

perceber ou não que o “designer é o cara”. O entrevistado comenta que, quando gestor da RGD,

ao desenvolver cursos para gestores percebeu esta relutância em falar de design nos empresários

para quem este era um fator-chave do negócio.

O entrevistado me pergunta se eu consegui apresentar minhas idéias para empresários ou

entrevista-los ao longo da tese e menciono que não, que não fui recebida por ninguém, apesar

dos esforços, e ele argumenta que pensa que foi justamente por isso: ninguém quer falar de

estratégia! Ninguém quer contar seu segredo!

Apresento ao entrevistado o modelo proposto, explicando suas partes e sua lógica. O

entrevistado comenta que acha muito interessante a lógica utilizada e que lhe parece bastante

pertinente ao que ele conhece nas empresas. Comenta que achou o modelo muito interessante.

Solicito que ele comente pontos fracos ou confusos do modelo, sugira alterações e os

comentários feitos são ligados a sua percepção do trio “estratégico, tático e operacional” que o

entrevistado percebe estar „por trás‟ da lógica. Sugere que, ao repetirmos a expressão estratégia

em dois pontos pode ficar confuso. Concordamos que „políticas em relação ao design‟ pode ser

uma expressão mais apropriada. Pensa que, ao falarmos de equipes, nos entendimentos, podemos

falar das habilidades dos designers. Além disso, ainda nos entendimentos, pensa que a questão da

subordinação vai muito além ao que está escrito nos cargos e salários da empresa, pois nem

sempre as coisas funcionam como estão escritas e seria interessante analisar o entendimento

sobre isso. Por fim, sobre a questão das estruturas, sugere que se mencione o espaço físico do

processo, pois este é muito importante para a equipe trabalhar, além da sua competência.

Apresento ao entrevistado a sistemática, explicando a proposta do trabalho, como seria

desenvolvido em uma empresa e quais seus fins. Solicito que opine, indicando se seria útil,

viável e indicando as possíveis restrições. O entrevistado comenta que acha a idéia uma boa, que

é interessante. Pensa que as estruturas devem mesmo ser comentadas e analisadas em separado,

pois pensa que o nível de compreensão acerca de design é diferente entre as diferentes pessoas da

219

equipe de desenvolvimento de produto. Acredita que se o design não é estratégico na empresa o

pessoal desta equipe “não rebate nem briefing” e não teria muitas condições de opinar, já dando

um indicativo do tipo de Gestão de Design. Sobre o modo de avaliar os entendimentos, o

entrevistado pensa que tem muitas variáveis que dependem da compreensão que a empresa tem

do que é bom ou ruim para ela. Acredita que o “x da questão” está em como saber que pode

melhor, que este é o ponto buscado pelas empresas e que se a sistemática pode ajudar nisso então

está tudo ótimo! Pensa que pode ser uma boa ferramenta de diagnóstico para as empresas e que

as restrições vão estar relacionadas ao que comentou anteriormente sobre o quanto o empresário

vai aceitar compartilhar de informação, ou falar no assunto. Pensa que o não entendimento sobre

o que é design, em toda sua amplitude, pode atrapalhar o uso da ferramenta, como atrapalha o

uso do design.

220

IX- Roteiro de Entrevista com Professores Especialistas - Etapa Final

Prezado Professor,

Esta tese de doutorado propõe uma Sistemática de Avaliação da Gestão de Design em

empresas. Os conceitos apresentados a seguir foram escolhidos depois da fundamentação teórica

e são considerados para esta tese como suas definições.

Para o modelo proposto, Gestão de Design é analisada sob a ótica do ambiente interno

das empresas, em três dimensões de conceituação, observação e análise: processo, competência e

estratégia.

Processo - diz respeito ao funcionamento da equipe de design dentro da empresa,

seus métodos de projeto e organização. É também processo a própria organização

da empresa para inserir e abordar design em sua dinâmica, assim como as relações

existentes entre as equipes e a interferência da direção nestas.

Competência – é compreendida, na teoria, como os conhecimentos, habilidade e

atitudes mobilizadas nas equipes de design para cumprir suas tarefas e também

em relação aos métodos utilizados no processo. É o papel do designer e sua

atitude.

Estratégia - remete a abordagem e a intenção das empresas em relação ao design

e a sua gestão, apresentando o caráter administrativo e propriamente estratégico

da Gestão de Design.

Para cada uma destas dimensões, definiu-se que correspondem a duas facetas, sua

estrutura e o entendimento que a empresa faz destas dimensões, conforme o modelo abaixo:

221

As estruturas, no modelo, correspondem ao que existe, de fato, nas empresas. A equipe

existente, sua composição e atuação correspondem a dimensão de competência, enquanto a

relação entre as equipes e o seu modo de trabalhar correspondem ao processo. Os controles

estratégicos, subordinação entre as equipes e a participação da diretoria nos assuntos de design

dizem respeito à dimensão de estratégia.

Os entendimentos dizem respeito à compreensão e os comportamentos em relação a

Gestão de Design. O modo de fazer, os métodos e as atitudes da equipe de design estão

relacionados à competência, enquanto a inserção desta equipe e seu ambiente de integração

(estratégico, tático ou operacional) correspondem aos processos. Na dimensão de estratégia, a

intenção quanto ao design e a abordagem da empresa quanto a ele são os entendimentos da

dimensão de estratégia.

Sobre estas definições e modelo, gostaria de questionar:

Quais as vantagens e desvantagens de um modelo como este?

Quais são os fatores determinantes ou de impacto neste modelo?

Considerando este modelo, uma sistemática de avaliação de Gestão de Design nas

empresas foi desenvolvida e funciona do seguinte modo.....(explicação da sistemática)....

Quais as vantagens e desvantagens de um instrumento como este:

Quais as eventuais dificuldades na sua aplicação?

Que tipo de empresa, na sua opinião, faria bom uso desta sistemática?

ESTR

UTU

RAS

ENTEN

DIM

ENTO

SCOMPETÊNCIA

EQUIPE MODO DE FAZER E ENTENDER DESIGN

(MÉTODOS)

PROCESSO RELAÇÃO ENTRE AS

EQUIPES INSERÇÃO DA EQUIPE

DE DESIGN E AMBIENTE DE

ESTRATÉGIA CONTROLES

ESTRATÉGICOS, SUBORDINAÇÃO DE

INTENÇÃO E ABORDAGEM

222

X- Entrevistas com Professores Especialistas - Etapa Final

Entrevista com Professor Especialista 1 – Prof. Paulo Muller – FAU PUCRS

O Prof. Paulo Muller é graduado em Arquitetura e Urbanismo, Especialista em Design de

Produtos Industriais e Mestre em Comunicação. É professor e exerce a função de Coordenador

do Departamento de Expressão Gráfica na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul.Trabalhou muitos anos com Nelson Petzold e José

Carlos Bornancini, sendo parceiro destes em diversos projetos de produtos, inclusive premiados.

A entrevista começa com comentários diversos sobre design e mercado de trabalho no

Rio Grande do Sul. O entrevistado comenta sobre as dificuldades de se levar design para dentro

de uma empresa e a diferença que percebe no mercado e nas relações entre designers e

empresários nos últimos anos. Percebe que muitos, hoje, não acreditam na solução pela pesquisa,

pelo projeto, e sim somente no objeto. Comenta que muitos empresários não entendem nada de

design e, inclusive, são capazes de passar por processos de design nas suas empresas e continuar

não entendendo nada! Comenta que o interessante seria a inovação surgir justamente do processo

de “repassar a natureza das coisas” que um designer deveria fazer. Comenta que não somente os

empresários, eventualmente, existe a dificuldade com os alunos no mesmo sentido. “O mercado

do design é imenso mas não existe!”, tantas são as dificuldades e incompreensões.

Design no chão de fábrica, comenta o entrevistado, é um problema pois o dono da

empresa, que antigamente circulava na fábrica, ultimamente não faz mais isso, ficando afastado

da realidade do dia a dia da produção. Segundo o professor Muller, este afastamento da direção

faz com que o real processo de design seja menos percebido pelo gestor, ou seja, não é tão

vivenciado e torna todo o processo mais complicado, pois o empresário espera o resultado.

Comenta que, muitas vezes, existe incompetência na compreensão e na cultura da empresa em

relação ao design.

Apresentado o modelo conceitual, o entrevistado achou “excelente a idéia, muito bom”.

Entende que, evidentemente, tem situações em que seria preciso dar enfoque. Comenta ter

lembrado do processo semiótico de Saussure (significante/significado) ao ver o framework. As

223

estruturas lingüísticas de sistemas arbitrários, o controle racional do objetivo. Pensa que o

significado é o entendimento. Comenta que as coisas são tratadas nas estruturas e existe pudor

em falar nos entendimentos. Como se estivesse sendo feito um julgamento (nas empresas, nos

relacionamentos) e ai não falar não afeta as relações. Quando perguntado sobre eventuais

desvantagens do framework, o entrevistado diz não perceber nenhuma. Menciona ter a impressão

de que, por sua experiência no trabalho com organização de dados, o framework está bem

completo. Acredita que quanto menos elementos, menos confusão. Salienta, sobre o framework,

que a equipe, nesta ordem proposta (estratégia), pressupõe que design seja uma atividade

reconhecida e consagrada o que não necessariamente é verdade. Isso pode ser reconfigurado

dependendo do ambiente e a política em relação ao design pode ser uma conseqüência. Comenta

que, eventualmente, política é a condução do design para determinado fim.

A sistemática e sua aplicação são explicadas para o entrevistado conforme o roteiro de

entrevistas e são feitas as perguntas sobre a viabilidade desta. O professor comenta,

primeiramente, a parte das estruturas. “Quem dá início!? Que confusão, todos acham que dão

inicio (ao processo de design).” O entrevistado comenta experiências que teve em empresa para a

qual prestava consultoria e, cada vez que chegava na empresa o dono tinha „pensado melhor e

tido mais uma ideia”, desfazendo o trabalho dos designers. Comenta que, naquela situação, o

empresário, sem experiência e sem compreensão do que é design criou para sua empresa um

problema financeiro e de projeto. Salienta que não se deve subestimar o empresário,

especialmente os “franco atiradores” em design.

Questionado se a parte de estruturas parece viável, o entrevistado responde que sim! Que

gerará uma discussão, eventualmente a sensação por parte dos empresários de que estão sendo

julgados, mas que isso vai fazer o gestor pensar sobre sua atitude.

Sobre os entendimentos, o entrevistado acredita que “é muito legal, cada um vai dizer o

que acha, diferente dos outros! Não consigo imaginar o resultado possível! É interessante e bem

formulado, estruturado e interessante.” O entrevistado comenta que lhe parece muito interessante

a discussão que vai surgir do resultado da etapa de entendimentos e da avaliação da sistemática

como um todo. Pensa que deverá ser produtivo para as empresas, pertinente, interessando a todos

que usam design. O entrevistado acredita que a avaliação proposta pela sistemática será

instrutiva no sentido de defrontar com a exposição e manifestação dos que nunca consideraram

224

falar sobre isso dentro das empresas. Acredita que, solicitados a opinar, serão obrigados a

refletir, não terão como negar e será um processo pedagógico, segundo o professor entrevistado.

Entrevista com Professor Especialista 2 – Prof. Dr. Cláudio Magalhães – PUC RIO

O Prof. Claudio de Freitas Magalhães é graduado em design pela PUC RIO, mestre e

doutor em engenharia de produção pela UFRJ. Atualmente, é professor da PUC RIO com

atividades de pesquisa nas áreas de design estratégico, gestão de design e inovação tecnológica,

entre outras áreas.

Ao iniciar a entrevista, o entrevistado é apresentado aos conceitos da tese e a lógica da

sistemática de avaliação da gestão de design. O entrevistado faz algumas perguntas sobre o

conceito do estudo e sobre a metodologia do trabalho para compreender melhor do que se trata.

Considera que se pode utilizar o modelo conceitual e a sistemática para melhorar processos.

Comenta que, talvez, o gestor não entenda que o material poderia ajudar a empresa.

Eventualmente precisaria visualizar melhor o processo. O entrevistado acredita que, de algum

modo “as pessoas não querem se expor” e que neste sentido, o chefe de uma área que não

conhece bem o design poderia interferir no processo de aplicação da sistemática, uma vez que

estas avaliações podem mexer com o poder dentro da empresa.

O entrevistado sugere que o contexto do profissional que será alvo da sistemática seja

explorado pelo instrumento, ou que este seja questionado sobre como percebe sua atuação

profissional, de modo a se obter uma visão sobre a percepção do entrevistado acerca de sua

própria realidade. Este poderia ser um bom modo de validar os conceitos utilizados, gerando

certeza sobre a linearidade do que se esta comentando. O entrevistado sugere que se pergunte ao

profissonal o que ele entende por design, gestão de design e outros termos para alinhar o discurso

e para que se assegure a validade das respostas do formulário da sistemática. O entrevistado

menciona também, no mesmo sentido, que seria interessante, depois de tabulados os resultados

da sistemática, retornar a mesma ao profissional para verificar “se ele se percebe nesta estrutura”,

se ele se apropria do resultado. (Menciono que esta é justamente a intenção).

225

De um modo geral, o entrevistado pensa que a proposta é interessante pois traz uma nova

abordagem sobre o tema, e não o discurso recorrente dos trabalhos em gestão de design. Como

contribuição, acredita que a síntese através do gráfico, apresentada ao final da avaliação proposta

pela sistemática, poderá ajudar a empresa a entender melhor o processo.

Em relação ao modelo conceitual e a sistemática em si, o entrevistado faz algumas

observações sobre método e aplicação conforme o que segue:

Poderiam ser incluídas perguntas sobre os resultados e objetivos estratégicos do uso

do design, uma vez que cada empresa parece ter a sua adequação;

Sugere evitar expor os números na escala de Likert para que fique claro para quem

preenche não pressupor um valor e sim a adequação de um conceito. Que não são

notas e sim a intensidade de uma opinião;

Pensa que poderiam ser incluídos “outros” em alguns pontos do questionário, como

no formulário das estruturas estratégicas.

Por fim, o entrevistado mencionou o quão delicados são dados qualitativos desta natureza

e a sutileza da tabulação destes dados e dos testes aplicados, sugerindo muito cuidado no

processo. Sugeriu que se verifique se a cobertura dos itens dos formulários é total acerca do

problema a ser medido para que se evite idealização ou estereótipos dos profissionais e das

empresas.

Entrevista com Professor Especialista 3 – Prof.a. Dra. Brigitte Borja de Mozota –

PARSONS PARIS

O Profa.a Dra. Brigitte Borja de Mozota é a responsável pelo departamento de pesquisa

da Parsons School of Design em Paris e atua como professora de marketing e gestão de design

nas Universidades de Paris X Nanterre e Paris X Nancy 2. É colaboradora do DMI e presidente

226

do seu conselho de pesquisa desde 1998, tendo organizado inúmeras conferências e seminários

sobre Gestão de Design no mundo todo.

A entrevistada concedeu esta entrevista em São Paulo, no dia 14 de outubro de 2010

sendo que o roteiro de entrevistas foi traduzido pela autora desta tese, dentro do possível para

manter seu sentido e fidedignidade, sendo que algumas explicações extras foram necessárias em

função das diferenças entre as línguas e por solicitações de explicações da entrevistada. Por

conseqüência, algumas opiniões ficaram bastante focadas na questão do framework e do seu

papel no trabalho, e de suporte à sistemática, mais do que os itens ou aplicação em si.

Ao ver o modelo conceitual proposto para Gestão de Design nesta tese, composto das três

dimensões, a entrevistada mencionou que estas três dimensões têm muita relação com a lógica

do BSC e não somente com as definições de design. Para ela, as três dimensões são, sim, parte da

definição de design e da sua compreensão como gestão, ou administração. A entrevistada

comenta sobre a importância de se fazer claro o conceito de gestão, vindo da própria

administração de empresas, para definições de modelo conceitual. Para ela, as três dimensões

propostas tem respaldo tanto no BSC quanto em termos de teoria de design e pensa que poder-se-

ia enxergar teoria de design e teoria de gestão em ambos os lados destas três dimensões. E, sendo

assim, no meio teríamos Gestão de Design.

Sobre as duas perspectivas do modelo conceitual, estruturas e entendimentos, a

entrevistada mencionou achar muito interessante a perspectiva de compreender a Gestão de

Design por estas duas vertentes, pensando “ser simplesmente perfeito poder comparar a realidade

da empresa a imagem mental de quem trabalha nela” e poder ver design e gestão de design por

estas perspectivas.

Ao comparar os resultados da etapa de entendimentos da sistemática de avaliação da

gestão de design através de um gráfico do tipo radar, pensa a entrevistada, as diferenças poderão

aparecer e ser discutidas entre a equipe, provocando reflexão e levantando as questões sobre

identidade e imagem, próprias do pensamento da administração no conceito teórico de

posicionamento. Para a entrevistada esta etapa do trabalho permitirá também entender que,

muitas vezes, a teoria e o campo são parecidos, sendo natural o transito entre estas duas áreas

para desenvolver um modelo conceitual, abordagem ou sistemática.

227

Entrevista com Professor Especialista 4 – Prof. Dr. Júlio Carlos de Souza van der Linden –

UFRGS

O Prof. Dr. Júlio van der Linden é designer com mestrado, doutorado e pós-doutorado em

Engenharia de Produção pela UFRGS. Atualmente, é professor adjunto da Faculdade de

Arquitetura da UFRGS para o departamento de Design e Expressão Gráfica atuando nos cursos

de graduação e mestrado em design e em grupos de pesquisa sobre design desta Universidade.

Ao analisar a explicação e o modelo conceitual propostos para esta entrevista, o professor

observa que o v é interessante por apresentar os dois lados que uma situação de design pode ter,

o explicito, formal e até prescrito e o tácito, da compreensão dos envolvidos. Entende que o

primeiro poderia ser acessado por documentos e informações objetivas, enquanto o segundo seria

observável, acessível por imersão do pesquisador na realidade do objeto de estudos. Acredita que

estes dois níveis de análise têm a vantagem de conceituar as duas grandes dimensões que as

coisas podem ter e, eventualmente, do modo como estão colocadas no modelo conceitual,

interações entre as partes são possíveis.

O entrevistado comenta achar interessante que o modelo conceitual proposto não é

estanque e permite fazer várias avaliações, considerando mudanças e permitindo acompanhar as

mesmas ao longo do tempo. As camadas do modelo conceitual permitem isso, além de

permitirem observar as interações e efeitos que uma dimensão pode ter na outra. Ou que a

mudança em uma dimensão ou variável poderá provocar nas outras. Desta, também, como

vantagem do framework o fato de ele permitir dois tipos diferente de aplicação: uma interna, da

empresa para autoconhecimento e comparação de seus próprios processos ao longo dos anos e

outra externa, que permitiria comparar empresas dentro destas dimensões.

Salienta que todo o modelo, ou modelo conceitual, é uma redução da realidade, que

permite analisar uma situação, ajuda a ver algo. Mas somente ajuda, não é a realidade em si e

assume todas as limitações da sua própria condição. Neste sentido, observa que não vê

desvantagens no modelo apresentando, a não ser esta mesma: o fato de ser um modelo, mas que

228

esta é uma limitação e desvantagem de todo o modelo. “O mapa não é o território” diz um autor

da pedagogia (de quem não lembra o nome na hora), e pensa que isso é importante considerar

quando se fala de frameworks.

Segundo o entrevistado o modelo conceitual e a sistemática são aplicáveis e significam

uma contribuição. São interessantes e importantes podendo auxiliar empresas a entenderem

melhor sua dinâmica em design e acompanharem seus processos. Acredita que uma das

dificuldades que poderão ser encontradas na aplicação da avaliação será justamente encontrar

designers nas empresas, pois quando não existem estruturas, fica mais complicada a avaliação.

Sobre as empresas que estariam propensas ao uso da sistemática, o entrevistado pensa que

empresas com designers e com o design no patamar estratégico estariam mais dispostas a

desenvolver uma avaliação da sua situação. Isso em função da sua motivação para o trabalho e

para o engajamento no design. Eventualmente, por influência externa, de um pesquisador,

algumas empresas aceitaria ser avaliadas. Mas certamente, segundo o entrevistado, seriam

empresas que tem uma percepção boa do design como diferenciação, valorizando o design. O

entrevistado menciona também que, se a sistemática for proposta como avaliação e comparação

entre empresas por uma associação ou grupo de profissionais, poderia ser bem aceita pelas

empresas individualmente.

Sobre quais os fatores determinantes para o modelo conceitual, o entrevistado pensa que

as próprias dimensões e fatores do modelo conceitual são determinantes no sentido de que as

interações e impactos provocados pelos próprios movimentam o modelo conceitual. Salienta que

seria difícil determinar uma hierarquia entre competência, processo e estratégia pois dependendo

da lógica aplicada qualquer um poderia vir antes e determinar os outros, ou vice versa!

Por fim, objetivamente sobre os itens da escala apresentada, o entrevistado acredita que a

variável sobre a influência da engenharia sobre o design poderia ser duplicada para questionar ao

entrevistado sobre a influência do departamento de marketing sobre a equipe de design.

229

XI – PROPOSTA INICIAL DA SISTEMÁTICA

A Sistemática proposta, e que será revisada e complementada com as entrevistas da

última etapa de pesquisa desta tese, consiste em um formulário de análise de estruturas e

entendimentos acerca do design e da Gestão de Design nas empresas e sua aplicação deverá

seguir os procedimentos recomendados nesta tese, que deverão ser adotados pelas empresas que

desejarem fazer uso desta avaliação. Especialmente, os que determinam os cursos de avaliação

dos resultados, indicando não somente a classificação do que foi possível avaliar, mas,

principalmente, eventuais mudanças para uma melhor Gestão do Design. A motivação para o uso

desta pode ser de avaliação da situação atual com vistas ao alinhamento conforme a direção da

empresa recomenda ou uma melhoria para melhor gestão e, em todos os casos, a proposta de uso

da sistemática deve obter consentimento da direção da empresa para que seu uso seja efetivo.

O primeiro passo para aplicação da sistemática é, portanto, o aval da direção da empresa,

uma vez que esta poderá auxiliar o processo respondendo às questões de estrutura com maior

pertinência do que outros colaboradores. Em conjunto com este aval, deverá ser escolhido o

avaliador responsável pela aplicação da sistemática e discussão dos resultados. Recomenda-se

que este avaliador seja o mais neutro possível em relação aos processos de desenvolvimento de

produto, mas que, por outro lado, conheça bastante bem o processo a ponto de saber distinguir

eventuais exageros na percepção dos participantes.

Feita a escolha do avaliador, deverá ser escolhido um grupo de trabalho para responder as

questões acerca da estrutura da empresa e, ao final, discutir os resultados. Recomenda-se que

participem deste grupo o gestor ou diretor responsável pela área de design e pelo

desenvolvimento de produto, o designer chefe ou responsável direto pela equipe de design e mais

uma ou duas pessoas ligadas a estas funções. Existindo a possibilidade, o presidente da empresa

deverá ser incluído no grupo.

Organizada a participação de todos, o avaliador escolhido poderá iniciar seu trabalho,

entrevistando o gestor e o designer responsáveis pelo processo de design ou desenvolvimento de

produto no que tange a estrutura da empresa, conforme o quadro 15. O objetivo desta etapa é

analisar a estrutura disponível na empresa e o seu organograma, que permitira ver onde design

230

está inserido ou integrado. Os controles administrativos definidos permitem saber o perfil da

empresa para com seus indicadores de desempenho. As entrevistas devem ser procedidas em

separado e, havendo divergência, esta deverá ser endereçada e acordada na reunião de

alinhamento dos resultados.

SOBRE A EMPRESA

Número de Funcionários:

Segmento de atuação:

Ano de Fundação:

Faturamento:

Desenho o organograma da empresa

DIRETOR RESPONSÁVEL PELA

ÁREA DE DESIGN

Cargo na Empresa:

Formação:

Tempo no Cargo:

Número de subordinados:

A quem é subordinado:

DESIGNER RESPONSÁVEL PELA

EQUIPE DE DESIGN

Cargo na Empresa:

Formação:

Tempo no Cargo:

Número de subordinados:

A quem é subordinado:

SOBRE A EQUIPE

DE DESIGN

DA EMPRESA

Liderança

Participantes (internos e externos)

Diretoria a qual é subordinada

Tempo de existência

Número de profissionais

Formação dos profissionais

Número de estagiários

Conexão com outras equipes

Momentos de conexão

Quem dá início a um novo desenvolvimento?

Desenho do processo de design

CONTROLES

ADMINISTRATIVOS/FERRAMENTAS

UTILIZADOS PELA EMPRESA*

Planejamento estratégico

Balanced Scorecard (BSC)

ISO (qualquer uma)

Planejamento estratégico de produto

Pesquisa de mercado

* Estes controles serão avaliados por uma escala nominal (sempre – frequentemente – raramente – nunca)

Na consolidação de resultados desta etapa, o avaliador deverá classificar a empresa em

relação a sua estrutura, desenhar o organograma das funções ressaltando a posição da equipe de

design e descrever sua composição, bem como indicando a relação desta com outras equipes da

empresa. Os resultados devem ser compreendidos em uma avaliação qualitativa, obedecendo as

231

teorias apresentadas no item 2.2 desta tese, que permita indicar a orientação das três dimensões

da inserção da Gestão de design nas empresas (abordagem, ambiente de integração, intenção).

Estes resultados, em conjunto com os resultados da segunda etapa, devem definir a compreensão

e uso do design nas empresas e inserção da Gestão de Design nestas.

A segunda etapa da aplicação da sistemática consiste na aplicação de questionários

(quadro 16) com os envolvidos nos processos de design e desenvolvimento de produto acerca do

entendimento destes sobre a Gestão de Design. Estão refletidas, neste conjunto de perguntas,

questões acerca do comportamento para com processo, competência e estratégia de design e

também para com os requisitos de inserção da Gestão de Design nas empresas, como abordagem,

ambiente de integração e intenção. Do mesmo modo com que etapa anterior abordou estas

dimensões relacionadas às estruturas organizacionais, a presente etapa aborda-as na perspectiva

do comportamento do pessoal envolvido. Recomenda-se que o avaliador aplique os questionários

ele próprio, marcando a opção escolhida pelo entrevistado como modo de garantir a

compreensão do entrevistado sobre o que está sendo perguntado.

Processo Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

Utilizamos design, pois é um bom modo de organizar nossa

produção. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

O uso do design organizou nosso processo de

desenvolvimento de produto 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

O uso do design visa resolver somente questões técnicas de

produtos.* 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Os processos de design estão integrados aos processos de

nossa empresa. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Nós documentamos nossos processos de design e

desenvolvimento de produto. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Em nossa empresa, temos um método organizado de

desenvolver produtos. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Estimulamos a equipe de design de nossa empresa a utilizar

métodos conhecidos de projeto. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

A equipe de design deve seguir sempre o que foi

primeiramente estabelecido pela engenharia.* 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

A equipe de design está plenamente integrada às outras

equipes que dão vida a nossa empresa.

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

As equipes de engenharia e marketing acham difícil trabalhar

com equipes de design.

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

A equipe de design tem independência para criar novos

produtos.

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Competência Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

232

Pensamos que os designers são colaboradores importantes na

empresa. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

A função de design é mais importante para nossa empresa do

que o trabalho do designer (profissional) em si. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

O designer chefe é consultado sempre que começamos a

pensar no desenvolvimento de um novo produto. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Acreditamos ser possível ter um bom design mesmo que

ninguém em nossa equipe seja formado especificamente em

design.

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Nossa equipe de design se atualiza frequentemente, em

faculdades e cursos. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Nossa equipe de design se atualiza visitando feiras e

exposições no exterior. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Os designers têm dificuldades em se integrar aos outros

funcionários e departamentos da empresa.* 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Estratégia Discordo

Totalmente

Concordo

Totalmente SCO

Os objetivos estratégicos de nossa empresa são traduzidos

pelo design (ou – o design trabalha segundo os objetivos

estratégicos desta empresa)

1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Nossa empresa entende o design como fator importante na

inovação de produto 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Design pode ser considerado como a lógica dominante em

nossa empresa. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

A lógica do design está espalhada pelos diferentes

departamentos de nossa empresa. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

O mais importante, no uso do design, é o estilo que ele

confere aos nossos produtos. * 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

As decisões de design em nossa empresa são tomadas

somente pelos diretores. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Os diretores desta empresa acompanham de perto o trabalho

dos designers, opinando e interferindo. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Fazemos reuniões periódicas, com as equipes envolvidas no

projeto dos produtos para discuti-lo. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Em nossa empresa, design, engenharia, comercial e marketing

trabalham juntos no desenvolvimento de produtos. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Design melhorou nossa performance empresarial. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

Acreditamos que nosso lucro é maior em função do uso do

design. 1□ 2□ 3□ 4□ 5□ □

* Questões de avaliação reversa.

A escolha das variáveis que compõe as dimensões avaliadas pelo questionário da segunda

etapa provém da teoria e das entrevistas conduzidas na segunda etapa qualitativa desta tese.

Acredita-se que elas avaliam, com validade de conteúdo satisfatória, os itens que pretende

avaliar. A escala intervalar, Likert de 5 pontos, utilizada para a medida permite análise estatística

de frequência das respostas e de média, como usualmente tratada a escala em estudos de

administração e de marketing, afins a este estudo. Embora o objetivo não seja uma medida

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estatística para generalização, visto que a amostra será restrita e de uso interno em uma empresa,

o questionário quantitativo, nestes moldes, pode ajudar a compreender o problema proposto.

Fechados os questionários da segunda etapa, o avaliador deverá tabular os resultados por

entrevistado e também fazer a média entre estes de modo a garantir um resultado médio para

cada questão proposta. A partir destes resultados a análise das respostas será procedida,

apontando para a intensidade de concordância geral com as variáveis propostas. Gráficos de

radar deverão ser desenhados para que se possa observar a intensidade do uso de cada uma das

variáveis que compõe as dimensões de design na empresa. Comparados aos resultados da

primeira etapa da sistemática de avaliação do design nas empresas poderá observar-se as três

dimensões e a inserção do design nas empresas.

Os resultados obtidos pela aplicação da sistemática devem ser apresentados ao grupo de

trabalho determinado no início do processo de modo que os mesmos sejam discutidos e

eventuais mudanças sejam analisadas pela empresa em busca de uma melhor Gestão de Design.

Em resumo, o procedimento para aplicação da Sistemática de Avaliação da Gestão de

Design é:

1. Aval da direção e escolha do avaliador.

2. Escolha do grupo de trabalho

3. Análise das estruturas – entrevista com gestor e designer

4. Consolidação de resultados - estruturas

5. Reunião de alinhamemento dos resultados – estruturas

6. Avaliação dos entendimentos – aplicação dos questionários

7. Aplicação dos questionários da segunda etapa

8. Tabulação dos resultados individuais e em grupo

9. Análise dos resultados

10. Apresentação para o grupo de trabalho – discussão de melhorias