PROJETO DE SOLIDARIEDADE - Forum Abel Varzim · JANEIRO 2016 TR SFORMAR 14 Revista dos Associados e...

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www.forumavarzim.org.pt JANEIRO 2016 14 TR SFORMAR Revista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade siga-nos PROJETO DE SOLIDARIEDADE Editorial Informação sobre Assembleia Geral A questão do ambiente – Laudauto Si Entrevista com a Presidente Nacional da Juventude Operária Católica Quem foi Abel varzim Arquiteto Teotónio Pereira ON LINE edição DISTRIBUIÇÃO DE REFEIÇÕES A FAMÍLIAS CARENCIADAS TESTEMUNHO DE UM UTENTE

Transcript of PROJETO DE SOLIDARIEDADE - Forum Abel Varzim · JANEIRO 2016 TR SFORMAR 14 Revista dos Associados e...

www.forumavarzim.org.ptJANEIRO 2016

14TR SFORMARRevista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade

siga-nos

PROJETO DE SOLIDARIEDADE

Editorial

Informação sobre Assembleia Geral

A questão do ambiente – Laudauto Si

Entrevista com a Presidente Nacional da Juventude Operária Católica

Quem foi Abel varzim

Arquiteto Teotónio Pereira

ON LINEe

dição

DISTRIBUIÇÃO DE REFEIÇÕES A FAMÍLIAS CARENCIADAS

TESTEMUNHO DE UM UTENTE

Colaboradores :António SoaresAntónio Leite GarciaCristina MonteiroArtur LemosJosé Carmo Francisco

Design: nelsongarcez ©

editorialEm outubro, do ano passado, em Portugal, tiveram lugar as eleições legislativas que, depois de um processo algo conturbado, permitiram a formação de um Governo. No início de 2016 foi eleito um novo Presidente da República escolhido pelo voto maioritário dos cidadãos eleitores. De lamentar o facto que nestes actos eleitorais cerca de metade dos portugueses não se tenha disponibilizado a votar não cumprindo, assim simultaneamente, um dever e um direito cívico.

Fechado este ciclo eleitoral, estão criadas condições para que alguns dos problemas maiores que afligem os portugueses - nomeadamente, o desemprego, a irradicação da pobreza, a melhoria do nível de vida dos cidadãos - sejam minimizados ou resolvidos. Cada um de nós deve procurar contribuir para que tal aconteça.

Nesta edição do «Transformar on line» damos notícia de um projecto que iniciamos em outubro e se traduz na distribuição de refeições a pessoas carenciadas. Também publicamos um artigo sobre a Encíclica «Laudato Si» do Papa Francisco, cuja leitura é útil mesmo para aqueles que já leram aquele notável documento papal.

Entrevistamos a Presidente da Juventude Operária Católica no momento em que esta Associação está a comemorar os seus 80 amos de existência.

O aumento do Salário Mínimo Nacional, que ocorreu no início do ano, foi o pretexto para reproduzir um texto do Padre Abel Varzim publicado no Diário de Notícias, em 1945.

Finalmente fazemos uma referência a um dos Sócios mais notáveis do Forum Abel Varzim que Deus chamou para Si – o arquitecto Nuno Teotónio Pereira.

A DIRECÇÃO

Contactos: Forum Abel Varzim Desenvolvimento e SolidariedadeApartado 22558 - 1101-001 LISBOARua Damasceno Monteiro nº1, r/c 1170 – 108 LISBOATelef. 218 861 901

[email protected]

TRANSFORMAR «ON LINE»

A S S E M B L E I A G E R A L D O F O R U M A B E L V A R Z I MNo próximo dia 27 de Fevereiro terá lugar a Assembleia Geral do Forum Abel Varzim.

As convocatórias seguiram por correio e esperamos que estejam presentes muitos Associados.A Assembleia, que terá início às 10.00 horas, decorrerá nas instalações do FAV –

Rua Damasceno Monteiro nº 1 – R/C Lisboa (perto da Graça).Esta é uma oportunidade para conhecer a Sede do FAV que sofreu obras recentemente.

Distribuição de Refeições a Famílias Carenciadas

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POR SEMANA SÃO DISTRIBUÍDAS 50 REFEIÇÕES ENTRE AS 18:00 E AS 20:00

HORAS, SENDO ABRANGIDOS 24 AGREGADOS FAMILIARES: UMA REFEIÇÃO POR CADA

MEMBRO DO AGREGADO.

O Forum Abel Varzim assume o legado espiritual do Pe. Abel Varzim, difundindo o seu pensamento, obra

e testemunho. E constitui, por isso, objecto da Associação promover a integração social e comunitária de pessoas que se encontrem em situação mais desfavorecida, respeitando os princípios da igualdade e solidariedade social. Assim, prosseguindo este objectivo, e dando cumprimento ao programa de atividades aprovado na última Assembleia-geral, iniciou-se em Outubro do ano passado um projecto de fornecimento gratuito de refeições a pessoas carenciadas, residentes na área da Graça, em Lisboa. Esta acção desenvolve-se em parceria com a Empresa EUREST especializada na confecção de refeições, e apoio do Colégio do Sagrado Coração de Maria bem como da Fundação Maria do Carmo Roque Pereira, instalada também na área da Graça.Por semana são distribuídas 50 refeições entre as 18:00 e as 20:00 horas, sendo abrangidos 24 agregados familiares: uma refeição por cada membro do agregado.

As refeições estão a ser confeccionadas no Colégio do Sagrado Coração de Maria, na Av.ª Manuel da Maia (a Arroios), Lisboa e posteriormente transportadas para a Sede do Forum - Rua Damasceno Monteiro, n.º 1 - r/c Lisboa (à Graça), e ai distribuídas. Foram constituídas equipas, cujas tarefas são: garantir o transporte das refeições entre o Colégio e a Sede do Forum, a preparação das embalagens e a sua distribuição às famílias. De salientar que alguns voluntários da paróquia da Graça integram as equipas de trabalho correspondendo ao pedido do Forum Abel Varzim ao Pároco daquela Paróquia.Este projecto exigiu algumas melhorias nas instalações do Forum - particularmente na zona da cozinha - e a aquisição de algum equipamento. Felizmente alguns sócios e amigos responderam positivamente ao apelos do FAV e ofereceram donativos e/ou trabalho voluntário.

O SENHOR JOSÉ (NOME FICTÍCIO) É UMA DAS PESSOAS CARENCIADAS QUE RECEBE REFEIÇÕES NESTE PROJECTO DO FORUM ABEL VARZIM. CONVERSAMOS COM ELE. É UM HOMEM CULTO QUE ESTÁ HABITUADO A PENSAR E A ESCREVER MAS QUE VIVE UMA SITUAÇÃO DIFÍCIL

“O ESTADO NÃO ESTÁ PREPARADO PARA AJUDAR. AS PESSOAS VÃO CONTAR AONDE PARA TER UMA CASA? PARA NÃO SER SEM-ABRIGO? CORTAM NA COMIDA. É A ÚNICA COISA ONDE PODEM CORTAR.”

Testemunho de um Utente

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Considera que esta iniciativa do fornecimento de refeições é uma coisa útil ou é uma coisa desadequada?

José: Toda a iniciativa no sentido de ajudar é positiva. Pensando, sobretudo, que quem está hoje em cima amanhã estará, sabe Deus como. Contudo, sobretudo, que quem precisa não o diz. As necessidades e a pobreza escondem-se entre quatro paredes sem que o saibamos, e é nessa pobreza, nessa necessidade envergonhada que Lisboa, o País, vive sobretudo.

Portanto, acha que devíamos continuar, e é útil continuarmos?

José: Muita gente considera que se está a brincar à “caridadezinha” mas, dar comida, dar um pão não é estar a dar um bolo, nem é estar a dar um doce, é estar a suprir uma necessidade que as pessoas têm. Não a

confessam, mas têm. E uma sopa quente, então neste tempo que está frio, a quem é que não sabe bem.

Nesta zona da graça há muita gente que tem mesmo necessidade da tal sopa quente, não é?

José: Nesta zona da Graça há muita gente com a necessidade de sopa quente até porque, repare numa coisa, patos bravos que vieram da província com uma mão atrás outra à frente enriqueceram e compravam as casas por tuta e meia, casas que agora estão a valer mais. A própria Câmara esteve a vendar as casas e eles exigem às pessoas, mesmo as que não podem pagar porque têm uma pensão de 200 euros, exigem uma renda de 400 euros. O Estado não está preparado para ajudar. As pessoas vão contar aonde para ter uma casa? Para não ser sem-abrigo? Cortam na comida. É a única coisa onde podem cortar.

O que é que nós temos de fazer para alterar tudo isto? Para eliminar, erradicar, a pobreza. O que é que se pode fazer? O que é que cada um de nós, o que é que o Estado pode fazer?

José: Falar menos e agir mais. Ajudar quem está ao lado e que precisa, independentemente do aspecto que manifesta.

Pergunta: Tem esperança que a sua situação pessoal se altere nos próximos tempos?

José: A esperança para mim neste momento é uma palavra. Considerando que a saúde, quer minha, quer dos familiares com quem estou, não dá grandes perspectivas. Não fora a saúde, eu não estaria aqui a falar consigo.

E o que é que se pode fazer ao nível da saúde? Acha que neste momento a saúde em Portugal está a responder às necessidades das pessoas?

José: O sistema está a responder, embora nos últimos tempos tenham sido feito coisas que têm dificultado muito, têm criado uma grande dificuldade aos profissionais para cumprirem o seu papel. Corte de verbas, falta de material, falta de cirurgias, etc.

Que lhe apetece dizer mais?

José: Gostaria só de agradecer por terem tido esta iniciativa porque às vezes não é só o pão que se dá, é a maneira como se dá o pão e vocês estão a dar esse pão com carinho, com compreensão. Espero que possam abranger muito mais gente neste projecto.

A preservação do ambiente Apesar dos esforços dos ambientalistas, e do grande número de cimeiras mundiais que têm sido realizadas, as espectativas de se conseguir mitigar as alterações climáticas até ao fim deste século têm sido escassas, evidenciando que o empenhamento pela preservação do ambiente está a precisar de forte revitalização.

Em maio de 2015, o Papa Francisco, na Encíclica “Laudato Si”, vem dar uma preciosa ajuda na reanimação da causa ambiental .Refere que a Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política, mas sim convidar a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum. A encíclica é dirigida a todos, e não apenas aos que partilham a fé cristã. E, ultrapassando o movimento ecologista, propõe uma visão mais abrangente, mas exigindo um maior envolvimento pessoal e coletivo.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ENCÍCLICA DO PAPA FRANCISCO PARA O CUIDADO DA CRIAÇÃO

O PAPA FRANCISCO ALARGA A IDEIA DA PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE A TODA A “CRIAÇÃO” E DECLARA QUE OS DEVERES EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO FAZEM PARTE DA NOSSA FÉ. DENUNCIA A CORRUPÇÃO QUE SUBVERTE A LUTA PELA PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE, ENALTECE A ATIVIDADE EMPRESARIAL QUE CONSIDERA UMA NOBRE VOCAÇÃO ORIENTADA PARA PRODUZIR RIQUEZA E MELHORAR O MUNDO PARA TODOS, E RECOMENDA A EDUCAÇÃO PARA A SOBRIEDADE AMBIENTAL.

O MERCADO NÃO PODE DISPENSAR O ESTADO E A SOCIEDADE NÃO SE REDUZ À ECONOMIA, NEM ESTA AO MERCADO. ESTE TEM DE SER INSERIDO EM REGRAS DE REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA E DE COESÃO SOCIAL, E A CULTURA E A RELIGIÃO SÃO O FERMENTO NECESSÁRIO À PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE E À CONTINUIDADE DA CRIAÇÃO.

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Síntese

TUDO ESTÁ INTERLIGADO

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O Papa Francisco sublinha que não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não se pode enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não se prestar atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. Por isso, não basta falar apenas da integridade dos ecossistemas; é preciso ter a coragem de falar da integridade da vida humana, da necessidade de incentivar e conjugar todos os grandes valores. A ecologia é muito mais do que conservar, é uma atividade criativa.

A cultura ecológica não se pode reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição, devendo ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático. Buscar apenas o remédio técnico para cada problema ambiental que aparece, é isolar coisas que, na realidade, estão interligadas e esconder os problemas verdadeiros e mais profundos do sistema mundial.

A PRESERVAÇÃO DO AMBIENTE A TODA A CRIAÇÃOO Papa estende a ideia da preservação do ambiente a toda a Criação, e afirma ser preciso cuidar dos espaços comuns, dos marcos visuais e das estruturas urbanas que melhoram o nosso sentido de pertença, a nossa sensação de enraizamento, o nosso sentimento de “estar em casa” dentro da cidade que nos envolve e une, sendo importante que as diferentes partes de uma cidade estejam bem integradas e que os habitantes possam ter uma visão de conjunto em vez de se encerrarem num bairro, renunciando a viver a cidade inteira como um espaço próprio partilhado com os outros.

O uso da palavra Criação em vez de ambiente, ou até de natureza, implica a crença num Criador, o que insere o tema da sua preservação num contexto religioso, não apenas moral ou político, e muito menos só económico ou técnico, induzindo em todos os crentes um acréscimo de motivação para maior intervenção e colaboração. A encíclica refere expressamente que na tradição judaico-cristã, dizer Criação tem a ver com um projeto do amor de Deus, onde cada criatura tem um valor e um significado. E, embora a natureza se entenda habitualmente como um sistema que se analisa, compreende e gere, o Papa lembra que, a

Criação só se pode conceber como um dom que vem das mãos abertas do Pai de todos, como uma realidade iluminada pelo amor que nos chama a uma comunhão universal. Razão porque a interpretação correta do conceito de ser humano como senhor do universo é entendê-lo no sentido de administrador responsável, que não se limita a conservar, mas sim a continuar a Criação.

OS DEVERES EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO FAZEM PARTE DA FÉSe, pelo simples facto de ser humanas, as pessoas se sentem movidas a cuidar do ambiente de que fazem parte, os crentes, e os cristãos em particular, devem reconhecer que a sua tarefa no seio da Criação e os seus deveres em relação à natureza e ao Criador fazem parte da sua fé. E, exortando a uma nova solidariedade universal, a encíclica acentua a necessidade dos talentos e do envolvimento de todos para reparar o dano causado pelos humanos sobre a Criação de Deus.

Deus criou o mundo para todos. Por conseguinte, toda a abordagem ecológica deve integrar uma perspetiva social que tenha em conta os direitos fundamentais dos mais desfavorecidos. O princípio da subordinação da propriedade privada ao destino universal dos bens e, consequentemente, o direito universal ao seu uso é uma regra de ouro do comportamento social e o primeiro princípio de toda a ordem ético-social. Assim, não é segundo o desígnio de Deus gerir a Criação de modo tal que os seus benefícios aproveitem só a alguns, poucos. O que põe seriamente em discussão os hábitos injustos de uma parte da humanidade. Neste sentido, a ecologia social é necessariamente institucional, e progressivamente alcança as diferentes dimensões, que vão desde o grupo social primário, a família, até à vida internacional, passando pela comunidade local e a nação.

Dentro de cada um destes níveis sociais e entre eles, desenvolvem-se as instituições que regulam as relações humanas. Tudo o que as danifica comporta efeitos nocivos, como a perda da liberdade, a injustiça e a violência.

Contudo, as cimeiras mundiais sobre o meio ambiente dos últimos anos não corresponderam às expectativas, porque não alcançaram, por falta de decisão política, acordos ambientais globais realmente significativos e eficazes. Neste contexto, torna-se indispensável a maturação de instituições internacionais mais fortes e eficazmente organizadas, com autoridades designadas de maneira imparcial por meio de acordos entre os governos nacionais e dotadas de poder de sancionar.

A ESPECULAÇÃO SUBVERTE A LUTA PELA PRESERVAÇÃO DO AMBIENTEA proteção ambiental não pode ser assegurada somente com base no cálculo financeiro de custos e benefícios, e o ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente. Embora possa parecer ser uma solução rápida e fácil, a estratégia de compra e venda de créditos de emissão* não implica uma mudança radical à altura das necessidades, podendo levar a uma nova forma de especulação, que não ajuda a reduzir a emissão global de gases poluentes.

A corrupção utiliza frequentemente o impacto ambiental de um projeto para esconder uma troca de favores, o que leva a acordos ambíguos, que fogem ao dever de informar e de um debate profundo. Insistindo, o Papa afirma que a previsão do impacto ambiental dos empreendimentos e projetos requer processos políticos transparentes e sujeitos a diálogo.

Devido à corrupção, o direito também por vezes se mostra insuficiente. O Papa diz ser necessária uma decisão política sob pressão da população. Assim, a sociedade, através de organismos não-governamentais e associações intermédias, deve forçar os governos a desenvolver normativas, procedimentos e controles mais rigorosos, pois, se os cidadãos não controlam o poder político – nacional, regional e municipal –, também não é possível combater os danos ambientais.

A ATIVIDADE EMPRESARIAL AO SERVIÇO DO BEM COMUMA atividade empresarial, que é uma nobre vocação orientada para produzir riqueza e melhorar o mundo para todos, pode ser uma maneira muito fecunda de promover a região onde instala os seus empreendimentos, sobretudo se pensa que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum. Por exemplo, um percurso de desenvolvimento produtivo mais criativo e melhor orientado poderia corrigir a disparidade entre o excessivo investimento tecnológico no consumo e o escasso investimento para resolver os problemas urgentes da humanidade poderia gerar formas inteligentes e rentáveis de reutilização, recuperação funcional e reciclagem; poderia melhorar a eficiência energética das cidades. A diversificação produtiva oferece à inteligência humana possibilidades muito amplas de criar e inovar, ao mesmo tempo que protege o meio ambiente e cria mais oportunidades de trabalho. Esta seria uma criatividade capaz de fazer reflorescer a nobreza do ser humano, porque é mais dignificante usar a

inteligência, com audácia e responsabilidade, para encontrar formas de desenvolvimento sustentável e equitativo, no quadro de uma conceção mais ampla da qualidade de vida. Pelo contrário, é menos dignificante e criativo e mais superficial insistir na criação de formas de espoliação da natureza só para oferecer novas possibilidades de consumo e de ganho imediato.

EDUCAÇÃO PARA A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL A gravidade da crise ecológica obriga, cada um, a pensar no bem comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo que requer paciência, ascese e generosidade.

É muito nobre assumir o dever de cuidar da Criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida.

A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias…

Tudo isto faz parte de uma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano. Voltar – com base em motivações profundas – a utilizar algo em vez de o desperdiçar rapidamente pode ser um ato de amor que exprime a nossa dignidade.

O MERCADO NÃO PODE DISPENSAR O ESTADOÉ interessante comentar a apreciação feita ao mercado de direitos de emissão e à incessante luta contra a corrupção.

Com efeito, um mercado eficiente não pode dispensar o Estado. Precisa de um conjunto de regras de funcionamento sustentadas por um sistema de coerção independente, isto é, exige um poder político reconhecido por todos. Regras que devem proteger as partes fracas do abuso de poder das mais fortes, e que devem determinar e apoiar a boa execução das leis e dos acordos livremente aceites; obrigando os culpados à compensação e à correção das suas faltas e incumprimentos.

Aliás, um mercado eficiente não ocorre naturalmente, nem aparece espontaneamente, mesmo quando e onde a liberdade económica prevalece. E a tarefa de assegurar a continuada supremacia de um sistema comercial – de “créditos de emissão” ou de qualquer outro bem – baseado no desempenho real e leal da concorrência,

minimizando as oportunidades de corrupção, não pode ser ignorada pela sociedade, nem pelo estado. E tem de se concretizar através do estabelecimento de diretivas adequadas.

INSERÇÃO O MERCADO EM REGRAS DE REDISTRIBUIÇÃO DA RIQUEZA E DE COESÃO SOCIALE ainda mais importante e premente do que esta regulação, é o reconhecimento de que o mercado, sobretudo na sua versão capitalista em que vivemos, sofre de importantes limitações, sendo inapropriado para distribuir equitativamente a riqueza que proporciona e tendendo até a aumentar as desigualdades. De facto, o mercado capitalista encaminha, para a remuneração do fator capital, uma fração muito importante dos resultados obtidos, fomentando a concentração da riqueza numa diminuta percentagem da população. Limitação agravada pelo facto de que, sendo o mercado coordenado pelos preços, privilegia a satisfação das necessidades dos mais ricos, mesmo que supérfluas, e menospreza as necessidades dos mais pobres, ainda que vitais.

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“ A CORRUPÇÃO UTILIZA FREQUENTEMENTE O IMPACTO AMBIENTAL DE UM PROJETO PARA ESCONDER UMA TROCA DE FAVORES, O QUE LEVA A ACORDOS AMBÍGUOS, QUE FOGEM AO DEVER DE INFORMAR E DE UM DEBATE PROFUNDO. “

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Assim, apesar de ser inexcedível na alocação dos recursos e na criação da riqueza, o mercado não só não distribui equitativamente a riqueza criada, como também não é suficiente para caraterizar adequadamente as preferências dos cidadãos, sobretudo numa sociedade com grandes desigualdades. Mais, como a sociedade não se reduz à economia, nem esta ao mercado, este não pode ser um fim em si mesmo, mas um instrumento que deve estar orientado para o desenvolvimento de todos os homens e do homem todo, sendo por isso indispensável complementar e inserir o mercado em regras sociais comummente aceites, de equidade, de justiça e de solidariedade, com forte efeito de redistribuição da riqueza e de coesão social.

A IMPORTÂNCIA DO PODER CULTURAL Tradicionalmente, sobretudo em sociedades sãs, beneficiando de um mínimo de paz e de prosperidade, muitas das regras de comportamento social e de convivência são de natureza cultural (e não apenas religiosa, como os usos e costumes ou o direito consuetudinário). Nas democracias modernas, muitas destas regras já estão ou vão sendo consagradas em leis escritas, embora com frequente atraso em relação às necessidades, pois a sua elaboração exige grande capacidade de previsão sobre a evolução da economia, e da sociedade inteira, não só do Mercado. Legislação que, por incluir indispensáveis medidas de coerção, incumbe ao poder político. E, por isso, nunca é demais destacar a importância deste poder não se deixar capturar nem subordinar pelo poder económico.

Nesta permanente reconquista de autonomia do poder político relativamente ao poder económico, sem prejuízo de constante mútuo respeito e controlo, não se pode esquecer nem menosprezar a importância do poder cultural. Poder que reside na adesão do povo, individual e coletivamente, aos valores da verdade, da liberdade, da

igualdade, da solidariedade, e da justiça e paz social. Poder cultural que é o efetivo suporte da luta contra a corrupção e da prossecução do bem comum, não deixando prevalecer os interesses particulares ou egoístas.

A GRANDE MAIS-VALIA DA ENCÍCLICA LAUDATO SIÉ precisamente no relevo dado à importância da cultura, potenciada pela crença religiosa, na construção de um mundo mais justo, feliz e próspero – e não só ao sucesso de uma política ambiental – que se encontra a mais-valia da encíclica Laudato Si, que o Papa Francisco utiliza para convidar todos as pessoas de boa vontade a salvar o mundo em que vivemos. E onde exorta não só a uma conversão pessoal mas também a forte intervenção através das instituições, governamentais ou não, e a todos os níveis, desde o local ao global.

Recordando a parábola dos talentos, saibamos valorizar a Criação que nos foi confiada, mas não nos limitemos a conservá-la no estado em que a recebemos. Recordemos que a palavra talento deixou de significar apenas uma unidade monetária contemporânea de Jesus Cristo, aliás de elevado valor, para passar a significar excelente aptidão natural de transformação inovadora. Continuemos a obra do Criador, participando na construção do Seu reino, na natureza e no mundo das instituições, desde a família até aos governos nacionais e internacionais, passando pelas empresas e sobretudo pela Sua querida Igreja, entendida como conjunto dos Seus fiéis seguidores. Que estes sejam o sal suficiente à prevenção da corrupção no mundo e sejam a luz orientadora do crescimento cultural necessário à existência de poderes económico e político preocupados com a prosperidade de todos, dando sempre prioridade aos mais desprotegidos.

Porque a Laudato Si usa a expressão “créditos de emissão”, fazemos uma breve interrupção nas citações da encíclica para de forma muito elementar explicar o seu significado. São licenças para poluir, obtidas graças à adoção de novos métodos ou procedimentos que, proporcionando iguais resultados, permitem a redução da emissão para a atmosfera de gases perniciosos, como os resultantes da queima dos combustíveis. Licenças que podem ser vendidas a quem tenha de emitir estes gases acima de limites autorizados. Em alternativa, ou cumulativamente, estas licenças podem ser adquiridas através do pagamento de taxas, visando a redução administrativa da emissão destes gases devido ao aumento do custo de utilização dos combustíveis. E a experiência tem evidenciado que quer o reconhecimento oficial da existência de reduções de emissões quer a simples outorga destes créditos por licenças ou taxas têm sido objeto de frequente corrupção

António Leite Garcia do Forum Abel Varzim

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TRANSFORMAR: ESTE ANO COMEMORAM-SE 80 ANOS DA EXISTÊNCIA DA JOC EM PORTUGAL. QUE INICIATIVAS ESTÃO PREVISTAS E QUAIS O SEU SIGNIFICADO E OBJECTIVO?

Lisandra: Este é um ano marcante para os atuais jocistas e, certamente, também para os antigos jocistas. Iniciamos as comemorações deste ano com o lançamento da 2ª edição do reconhecido Livro Azul de Cardijn (cuja 1ª edição data de 1982), que aconteceu em data simbólica, 13 de novembro, nascimento de Joseph Cardijn, nosso fundador. Este lançamento decorreu em Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Santarém e Lisboa, estando previstos os lançamentos ainda em Leiria (no mês de dezembro) e na Guarda e em Setúbal durante 2016. Entre outras pequenas iniciativas, contaremos ainda com a comemoração do 70º aniversário da nossa revista JO no dia 28 de fevereiro no âmbito do Encontro Nacional de Animadores e Militantes e ainda com a redefinição e redescoberta do caminho a construir para os próximos três anos na Assembleia Nacional a decorrer nos dias 22 a 24 de julho de 2016.

T- COMO SURGIU A JOC E QUE PAPEL DESEMPENHOU E DESEMPENHA EM PORTUGAL?

L: A JOC surgiu do sonho e da dedicação de Joseph Cardijn, um padre belga, que, desde cedo, rejeitou a desvalorização dos jovens e crianças trabalhadoras na sua época. Este projeto oficializou-se em 1925 e 10 depois chega a Portugal através de um grupo pequeno de padres que contactam com Cardijn e se apaixonam, também eles, por este projeto. Em Portugal assumiu, tal como hoje assume, um papel fundamental enquanto Movimento de jovens, pelo jovens e para os jovens, que os acolhe tal como são, com os seus problemas, inquietações e dúvidas, na luta pela sua dignidade. Um Movimento com ideais definidos e uma missão, que o permitem definir como uma proposta concreta de vivência da Fé, que parte da vida e volta a ela, e como campo de ação de Jesus Cristo.

T: QUANTOS SÃO OS JOCISTAS EM PORTUGAL E QUAIS OS TRABALHOS QUEDESENVOLVEM?

L: Atualmente, seremos cerca de 200 jocistas, entre militantes e jovens em iniciação, presentes em 9 dioceses (Braga,

Porto, Aveiro, Coimbra, Santarém, Guarda, Leiria, Lisboa e Setúbal). Os grupos e o movimento no seu todo estão concentrados na Revisão de Vida e na integração na comunidade, na qual desenvolvem atividades/ações de diferentes naturezas. De forma mais particular, através da oração, de reuniões de grupo, encontros, acampamentos, assentes na educação não formal e nas relações entre pares como meio de aprendizagem e de participação, continuamos a apostar no crescimento pessoal, profissional, cristão e coletivo de cada jovem, impulsionando a atenção que deve ser dada ao meio e a necessidade de levar esperança em Cristo aos jovens trabalhadores. Além disso, continuamos empenhados na construção da nossa revista, a Juventude Operária, com edição bimestral, com uma equipa de redação que representa a maioria das dioceses e no desenvolvimento de publicações/formação no âmbito das técnicas de animação para grupos, como é o exemplo do livro Interagir. Com um trabalho em parceria com os movimentos LOC/MTC e MAAC, trabalhamos no sentido do fortalecimento da Pastoral Operária em Portugal, assim como com outros parceiros, quer seja no seio da Igreja como

A JUVENTUDE OPERÁRIA CATÓLICA – JOC ESTÁ A COMEMORAR OS SEUS 80 ANOS DE EXISTÊNCIA COM UM CONJUNTO DE INICIATIVAS QUE SE INICIARAM EM FINAIS DO ANO DE 2015 E QUE SE PROLONGARÃO PELO ANO DE 2016. ESTE O PRETEXTO PARA CONHECER, UM POUCO MAIS, ESTE MOVIMENTO DA JUVENTUDE CATÓLICA, ATRAVÉS DE UMA CONVERSA COM LISANDRA RODRIGUES, PRESIDENTE NACIONAL DA JOC.

LISANDRA RODRIGUES É NATURAL DE SÃO MAMEDE DE NEGRELOS, SANTO TIRSO. NASCIDA A 4/6/1987.OS SEUS PAIS SÃO OPERÁRIOS TÊXTEIS DE PROFISSÃO: A MÃE É COSTUREIRA E O PAI É TECELÃO. TEM UM IRMÃO, CARPINTEIRO DE PROFISSÃO. LISANDRA É LICENCIADA EM TERAPIA DA FALA PELA ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA DE SAÚDE DO PORTO. O SEU PRIMEIRO CONTACTO COM A JOC ACONTECEU NO VERÃO DE 2005, ANO EM QUE INTEGROU O SEU GRUPO DE BASE, EXISTENTE NA PARÓQUIA VIZINHA, CODESSOS, ONDE INICIOU A CAMINHADA JOCISTA. ASSUMIU A MILITÂNCIA EM 2009. ENVOLVEU-SE DE DIFERENTES FORMAS NA DIOCESE DO O PORTO, COM DIFERENTES RESPONSABILIDADES. EM 2014 ASSUMIU UM DOS MAIORES DESAFIOS QUE A JOC: SER DIRIGENTE LIVRE. INICIOU EM ABRIL DE 2014, COM UM MANDATO DE 3 ANOS, NO CARGO DE PRESIDENTE NACIONAL DA JOC.

Entrevista com a Presidente Nacional da Juventude Operária Católica

na sociedade civil, nomeadamente, no Conselho Nacional da Juventude. A nível internacional, levamos a cabo, anualmente, o Intercâmbio de Militantes da JOC Portugal – JOC Espanha e o Encontro Trilateral entre os Secretariados Nacionais da JOC Portugal, JOC Espanha e JOC Catalunha e JOC Itália, no sentido de aprofundamento de laços entre os jocistas e de formação a diferentes níveis através da troca de experiências e conhecimentos.

T: QUAIS OS PONTOS FRACOS DESTE MOVIMENTO? E OS PONTOS FORTES?

L: Dada a nossa missão, enquanto JOC, de chegar a cada vez mais jovens e de transmitir esta esperança e vontade de construção de um mundo melhor, dando continuidade ao trabalho e serviço de Jesus Cristo e a necessidade, cada vez mais urgente, de tornar os jovens protagonistas, maduros em compromisso e responsabilidade, sermos poucos jovens envolvidos é uma dificuldade. Também a dificuldade de financiamento para mais facilmente cumprir os objetivos a que nos propomos, sobretudo nestes tempos em que os jovens e as suas famílias têm menos ou, muitas vezes, não têm dinheiro para fazer face a necessidades primeiras, como as deslocações/transportes, constituiu uma das nossas fraquezas. Porém, as nossas forças têm possibilitado que continuemos perseverantes e felizes neste caminho. Para fazer face às dificuldades financeiras lançamos este ano a Campanha COLABORA! (que podem conhecer melhor no nosso site www.jocportugal.com) fruto na criatividade e dinamismo dos jovens do movimento. Também a capacidade solidária, da tolerância, da aceitação da diferença, do pensamento próprio e da coragem que nos vem da Fé, possibilitam-nos potenciar o trabalho que temos vindo a desenvolver de trabalhar nas nossas comunidades e a nível nacional em parcerias, de forma organizada e objetiva.

T: QUE PENSAM OS JOCISTAS DO ATUAL MOMENTO QUE SE VIVE EM PORTUGAL, NA EUROPA E NO MUNDO?

L: Num mundo instável como o nosso atualmente, é essencial não perder o rumo e não esquecer a Fonte da Alegria. Reconhecemos e sentimos na pele a influência do aumento do número de jovens com depressão e as tentativas de suicídio; da taxa de desemprego tão elevada; das situações de trabalho precário cada vez mais frequentes; do contributo das que são, também, cada vez mais promotoras desta mesma precariedade, exploração e aumento do stress; da falta da presença e acompanhamento das famílias entre si que conduz a uma falta de afeto generalizada. Preocupa-nos também a Europa da qual fazemos parte, cada vez mais afastada dos ideais de união e de tolerância, excessivamente capitalizada e da vez menos humanizada, consentida pelo conformismo e passividade de tantos cidadãos europeus, ainda assim. E, claramente, nos inquieta, também, que as desigualdades a nível mundial, que refletem as realidades locais, continuem a marcar a vida das pessoas e da natureza, como se tivéssemos um planeta alternativo para viver quando tornar-mos este absolutamente inabitável. Contudo, também nos alegram as conquistas que os

Homens vão fazendo, a persistência de tantos que não desistem e os testemunhos de vida de tantos jovens e adultos que continuam a colocar-se ao serviço dos outros, em prol do desenvolvimento, perto ou longe da sua zona de conforto.

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T: QUE PENSAM OS JOCISTAS DA IGREJA PORTUGUESA?

L: Todos nós somos Igreja e neste sentido, sentimos que os jovens, qualquer jovem, é cada vez mais acolhido e bem recebido no seu seio. Na verdade, é reconfortante conhecer comunidades, religiosos, padres, dioceses, movimentos e organizações religiosas de caráter social que abrem as portas aos jovens, estão atentos às suas realidades e os querem receber como parte plena desta Igreja comum. Contudo, sentimos que ainda há muito caminho a fazer em Portugal. Os jovens e as famílias, em particular, precisam de espaço onde se sintam encontrados, acolhidos e desafiados com alegria, tendo em conta as suas características ou necessidades, e não sejam apenas peças de adorno. É essencial dar protagonismo às pessoas, conhecer as suas vidas e deixar que a Fé e o testemunho cristão vagueiem nas ruas e não se fechem dentro das catedrais ou se limitem a publicações ou estruturas. A JOC, em particular, precisa de mais acompanhamento por parte dos responsáveis da Igreja e de um maior reconhecimento da importância da sua missão que se centra, sobretudo, no alcance e envolvimento dos mais afastados e excluídos para este projeto de Jesus Cristo. É essencial aproximar os jovens desta Igreja comum, ouvi-los e incluí-los nesta construção, não como quem oferece uma oportunidade, mas como quem assume a necessidade desta partilha.

T: COMO AVALIAM O PONTIFICADO DO PAPA FRANCISCO?

L: Muitas vezes, entre nós, referimos alegremente que o Papa Francisco, não o tendo sido, parece um Jocista. É de facto uma referência de vida, num tempo em que o mundo e os jovens, em particular, precisam de referências com caráter e com coerência, suportadas pela Mensagem de Jesus Cristo. Na verdade, sentimos que o Papa Francisco não traz nada de novo no conteúdo das suas palavras; ele apenas relembra o que parecia esquecido por muitos cristãos. A novidade encontra-se na forma genuína, forte e transparente com que profere a Mensagem de Cristo. É o seu olhar atento e questionador sobre a realidade que torna a sua fala tão cativante e tão dirigida a quem o ouve. O Papa Francisco é, talvez, o abanão e a luz de que andamos a precisar enquanto cristãos e enquanto pessoas.

T: QUAIS OS DESEJOS E PROJETOS DA JOC PARA O FUTURO?

L: Antes de mais, a JOC deseja que os jovens e as suas famílias procurem e encontrem paz e estabilidade no dia-a-dia. Precisamos de nos sentirmos seguros e de dar este sentido de proteção aos outros, em qualquer circunstância. Desejamos que este estilo de vida se propague através das vivências dos nossos grupos, que possamos potenciar a construção de, cada vez mais, projetos de vida, alcançar ainda mais jovens, chegar aonde não chegamos e comprometer ainda mais jovens e as suas famílias neste projeto. Desejamos também que o Movimento receba a nomeação de um Assistente Nacional para que nos ajude neste caminho de evangelização. Pretendemos que este ano seja um ano de autoconhecimento maior da nossa história enquanto Movimento, que as nossas ações, a Assembleia Nacional e o Conselho Mundial a ter lugar em 2016 sejam momentos de renovação de compromissos e de missão. Queremos ainda continuar a ser uma “escola de vida” para os jovens, uma proposta de vivência cristã coerente, formativa, ativa e transformadora, sempre de mãos dadas em Pastoral Operária e com outras organizações, no seio da Igreja.

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Quem foi Abel Varzim

«…Não sendo com efeito, a verba «salários» a única a entrar nos cálculos do custo da produção, e não sendo até, em muitos casos, a mais importante, se diminuirmos outras verbas, poderemos chegar a um resultado final plenamente satisfatório. Bastará para isso, influir, quer no aperfeiçoamento da aparelhagem, quer na organização dos serviços administrativos, quer ainda na preparação técnica do pessoal ou na sua maior resistência ao trabalho.

Costuma justificar-se o baixo nível dos salários com o pouco rendimento económico do trabalho. Mas não se cuida de saber quais as causas de tal fenómeno para ajuizar se os dirigentes da economia não podem, não sabem ou não querem tirar do trabalho maior rendimento.

Rende pouco o trabalho? Por incapacidade intelectual ou física do povo português, ou por incapacidade moral e técnica dos nossos industriais? Culpa do «trabalho» ou culpa do «capital»?

Na maioria dos casos, existe nos nossos industriais uma evidente falta de preparação técnica para bem desempenhar o lugar que ocupam na direcção da economia. E além da falta de preparação podemos acrescentar falta de competência moral. Para demonstrar a primeira parte desta afirmação

basta examinar o processo antiquado de produção na quase totalidade das nossas fábricas. Aparelhagem velha, mau aproveitamento das matérias-primas, perda de subprodutos, péssima divisão do trabalho, aprendizagem rudimentar, carência absoluta de selecção do pessoal, sobretudo dos chefes….numa palavra produção à toa e ao acaso.

A veracidade da segunda parte da afirmação, isto é, falta de competência moral, demonstra-o a finalidade com que dirige, por via de regra, a nossa indústria, quere dizer, a exclusiva busca do lucro. O nosso bom industrial apenas se preocupa com ganhos em dinheiro. Desde que «aquilo dê e enquanto vai dando, não vale a pena realizar sacrifícios. E assim o dinheiro acumulado vai sendo investido em valores de luxo ou de mero rendimento – como a compra de quintas e prédios urbanos nas grandes cidades – em vez de ser aplicado no aperfeiçoamento dos instrumentos do trabalho para o tornar mais produtivo, poder assim aumentar os salários, elevar o nível de vida dos seus colaboradores e tornar a nação suficientemente apetrechada para não sucumbir amanhã na concorrência industrial. Preocupação do bem comum não existe… »

Abel Varzim

SALÁRIOS E O CUSTO DE VIDAEM PORTUGAL, A PARTIR DE 1 DE JANEIRO DE 2016, FOI ALTERADO O SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL NA SEQUÊNCIA DO DIÁLOGO ENTRE O ACTUAL GOVERNO E OS PARCEIROS QUE INTEGRAM O CONSELHO DE CONCERTAÇÃO SOCIAL. NÃO HOUVE UNANIMIDADE NA DECISÃO, MAS TAL MERECEU O ACORDO DA GRANDE MAIORIA. ESTE ACONTECIMENTO JUSTIFICA QUE SE REPRODUZA ALGUNS ENXERTOS DE UM TEXTO PUBLICADO PELO PADRE ABEL VARZIM, NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS DE 16.12.1945. À DISTÂNCIA DE MAIS DE 70 ANOS É INDISCUTÍVEL A ACTUALIDADE DESTAS REFLEXÕES, NÃO OBSTANTE TEREM SIDO PRODUZIDAS NUM CONTEXTO ECONÓMICO PRÉ-INDUSTRIAL.

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SALÁRIOS E O CUSTO DE VIDA

NUNO TEOTÓNIO PEREIRA (1922 - 2016)

Foi também um dos oradores, e orador fundamental, na Sessão Comemorativa da difusão das cartas de fevereiro e março de 1959, publicadas pelos chamados «católicos progressistas» de que foi um dos protagonistas. As cartas faziam uma análise da situação politica vivida naqueles anos. Esta sessão foi organizada pelo Forum Abel Varzim em parceria com o Centro Nacional de Cultura.Em 2015, ano das comemorações do cinquentenário da morte do Padre Abel Varzim realizou-se uma sessão pública nas instalações da Assembleia da República de homenagem a Abel Varzim. Por razões de saúde, o Arquitecto Nuno Teotónio Pereira não pôde estar presente. No entanto, enviou uma mensagem, através do seu amigo Dr. João Gomes. Reproduz-se alguns extractos dessa comunicação:

«Tenho a maior das penas em não poder estar presente nesta homenagem ao querido Padre Abel Varzim. As condições de saúde e de mobilidade infelizmente não me permitem juntar-me a todos os que neste dia relembram a importância e o valor que a convivência com Abel Varzim enriqueceu as suas vidas.Conheci-o durante os seus afazeres apostólicos e convivi com ele em muitas ocasiões….No ano de 1957 decidiu regressar a Cristelo, sua terra natal, onde eu e minha primeira mulher nos deslocamos algumas vezes.A sua morte, poucos anos depois, deixou-nos uma imensa dor, mas sem nunca esquecermos o seu espírito e a sua acção em prol dos trabalhadores.Lisboa, 20 de Maio, 2014Nuno Teotónio Pereira»

Faleceu o Arquiteto NUNO TEOTÓNIO PEREIRA, um dos sócios fundadores do Forum Abel Varzim e nosso colaborador dedicado. É da sua autoria, e da Escultora Irene Buarque, um «MEMORIAL» ao Pe. Dr. Abel Varzim, erigido em CRISTELO/Barcelos, quando da inauguração das instalações do «Centro Social, Cultural e Recreativo Abel Varzim», integrada nas comemorações dos cem anos do nascimento do nosso Patrono.

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