PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – … · Discussões sobre os fatores negativos e positivos...

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – RELATÓRIO FINAL Aurélio Augusto de Oliveira Araújo Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Proposta de Desenvolvimento de Produto Sob orientação do Prof. José Armando Valente Portfólio Fotográfico: “O Gol Nosso de Cada Dia” 1

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PROJETO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO – RELATÓRIO FINALAurélio Augusto de Oliveira Araújo

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

Proposta de Desenvolvimento de ProdutoSob orientação do Prof. José Armando Valente

Portfólio Fotográfico:“O Gol Nosso de Cada Dia”

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Introdução

Fotografia é a arte de capturar o movimento e torná-lo imóvel, fixo para sempre na retina e no papel fotográfico. Futebol é um esporte, e esporte é movimento. Mas o futebol vai além: este esporte, em específico, carrega consigo uma magia indescritível, uma capacidade de gerar emoções, fazer explodir de alegria e rasgar corações em frações de segundos – mais ou menos o mesmo tempo em que o filme fica exposto à luz, na arte fotográfica. Dois temas aparentemente tão opostos podem gerar imagens inesquecíveis, belas ou feias. É justamente o desafio da junção de uma coisa com a outra que me propus a enfrentar neste projeto.

Na minha posição de jovem brasileiro, sempre estive cercado por futebol por todos os lados. E aprendi a amar o esporte – um pouco por espontaneidade, e um pouco por pressão. Hoje, em todos as direções para que olho, em tudo que penso, alguma coisa me lembra futebol. É possível extrair referências futebolísticas de quase tudo na minha vida, acredito. Afinal, essa é uma prática que vai além das quatro linhas: há as torcidas, os debates, as expressões (orais e gestuais), etc. Pratica-se futebol até distante do campo, por meio de um joystick ou em mesas de madeira. Algo assim, tão presente no dia-a-dia, é impossível de passar despercebido. Foi impossível, para mim, deixar de debater um assunto tão vivo.

Mais viva ainda em minha vida, e acredito que na vida de todos nós, que vivemos o mundo atual, o agora, é a fotografia. As imagens estão em todo lugar. Os símbolos substituíram as palavras e, do século XIX até aqui, tornaram-se verdadeiras válvulas de escape da sociedade. Em todo e qualquer local público, há uma imagem, uma fotografia, querendo dizer algo – mesmo nos países que, por alguma razão, têm uma circulação de imagens limitada e/ou censurada. Não é preciso que eu me estenda muito neste tema, já que é fato que a fotografia faz parte da vida de todos. Pessoalmente, posso dizer que ela se tornou ainda mais presente no meu cotidiano a partir do momento em que fui estimulado a produzir imagens, ou seja, assim que entrei no curso de Midialogia da Unicamp. Estar do outro lado, por trás, de uma fotografia é uma situação interessante, que pretendi explorar com este trabalho.

Muito relevante para a discussão de fotografia e futebol foi o artigo (Caixeta, 2006) que encontrei no site da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), sobre Daniel Augusto Jr., que talvez seja, hoje, o maior fotógrafo de futebol do Brasil. Escrito por Rodrigo Caixeta, o texto expressa, entre outras coisas, o pavor que Daniel tem de suas imagens, sempre registrando os fatos de maneira jornalística, sejam usadas como arte. Para ele, estes dois conceitos caminham completamente separados, e uma boa imagem vale por si só. É até compreensível que Daniel pense desta maneira, afinal, ele trabalha com fotografia de futebol cobrindo Copas do Mundo e outros campeonatos importantes, nunca tendo se proposto, literalmente, a produzir arte.

É aí que, humildemente, eu entro. Gostaria de tentar produzir imagens que não ficassem focadas apenas na sobriedade (nem sempre tão séria assim) do fotojornalismo, mas que registrassem o futebol por um viés um pouco mais artístico. Até por isso, não me coloquei, nesta proposta, na intenção de viajar a estádios onde importantes jogos futebolísticos acontecem, e sim a encontrar o futebol “por aí”, o futebol “à toa”, o “gol nosso de cada dia”. Se foi possível fazer essa transição, não sei se sou ainda capaz de dizer, mas, sem dúvida alguma, gostei de tentar produzir algo neste sentido. Já que existe o futebol-arte, que se constate a possibilidade da existência de uma “fotografia-arte-do-futebol”.

Resultado do Projeto

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Pré-Produção:

Definição de bases do que seria produzido:- Fazendo uso de meu computador pessoal, montei um pequeno guia do meu trabalho.

Este guia explicitou a orientação que tomei como base do portfólio, bem como os ambientes em que recolheria minhas imagens, e até mesmo algumas das idéias que foram usadas para a produção das fotografias;

Produção:

Produção das imagens:- Fazendo uso de uma câmera digital, produzi um número suficiente de fotografias para

uma posterior seleção das melhores e mais adequadas imagens que foram usadas no produto final;

Montagem do portfólio:- Usando-me das informações do meu próprio pequeno guia virtual, selecionei, de uma

vez por todas, com todos os critérios que preparei baseado em minhas próprias experiências, as imagens que fizeram parte do portfólio definitivo;

Conclusão:

Decisão da maneira de tornar o produto apresentável:- Tendo o portfólio já montado e sob meu domínio, escolhi não revelar em papel

fotográfico as imagens, para evitar gastos excessivos em minha verba pessoal. Por conta de minha decisão, o portfólio passou a ser entendido como apenas um portfólio virtual, ao invés de físico e palpável;

Preparação de relatório final relatando as experiências com o desenvolvimento do produto:

- Levando em conta tudo que passei para chegar até meu produto definitivo (o portfólio fotográfico “O Gol Nosso de Cada Dia”), usei-me de algumas fotografias e de meu próprio texto para explicitar ao público como foi que passei por cada etapa do processo, quais fatores positivos e negativos influíram em meu trabalho, conclusões sobre ele, etc., para redigir este relatório final.

Imagens ilustrativas dos resultados:

“Craque de plástico” “Na Sombra do Gol”

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Discussões sobre os fatores negativos e positivos que interferiram na execução do projeto

Pontos negativos: Sem sombra de dúvida, os fatores que mais influíram negativamente na realização do

projeto de desenvolvimento de meu portfólio fotográfico “O Gol Nosso de Cada Dia” foram: - a greve dos estudantes do Instituto de Artes (IA) da Universidade Estadual de Campinas

(Unicamp), por conta dos decretos baixados por José Serra, governador do Estado de São Paulo, em relação às universidades públicas, quando de sua ascensão ao seu posto, no início deste ano de 2007;

- a greve do Sindicato de Trabalhadores da Unicamp (STU), também por conta de tais decretos do governador paulista, além de reivindicações quanto à melhores condições de trabalho e aumento de salário.

O primeiro fator me prejudicou no sentido de que fiquei “perdido” em relação a alguns pontos na execução de meu projeto, já que não poderia ter aulas da matéria que fez com que florescesse a idéia dessa realização. Afinal de contas, é válido lembrar que ela está inserida no curso de Comunicação Social – Habilitação em Midialogia, e que este curso, por sua vez, é um dos seis cursos que integram o Instituto de Artes da Unicamp, cujos alunos estavam em greve e sob protesto.

Não foi apenas isso: graças à greve, não pude ter um contato mais próximo com outros professores, que, como planejei, poderiam ajudar-me com indicações de livros que tratassem da montagem de um portfólio e com conversas informais sobre suas experiências nas montagens de suas próprias obras. Estes professores, é claro, seriam aqueles que estivessem mais ligados à fotografia e à arte. Ao final da greve dos alunos, o calendário acabou ficando um tanto sufocante, tirando qualquer chance de haver esse debate.

Quanto à greve do STU, essa foi ainda mais prejudicial, porque acabou com qualquer oportunidade que eu poderia ter de fazer eu mesmo minha pesquisa bibliográfica. Explico: já que os funcionários estão filiados ao STU, e o STU estava em greve, não haveria nenhuma oportunidade para que eu fosse buscar, por conta própria, os livros sobre fotografia e portfólios que eu precisaria – afinal, tanto a Biblioteca Central César Lattes (BC) quanto a Biblioteca do Instituto de Artes estiveram fechados durante um longo tempo. Justamente essas duas bibliotecas, que seriam minhas principais fontes, na ausência da ajuda dos professores, fecharam suas portas e me deixaram, em grande parte, abandonado, para fazer meu projeto sozinho. Sua volta ao funcionamento, excessivamente tardia, coincidiu com o encerramento do meu trabalho.

Pontos positivos:Como pontos positivos que influenciaram na formação de “O Gol Nosso de Cada Dia”, eu

não poderia deixar de mencionar, é claro, a experiência intensa que eu, como aluno do curso da turma de 2007 do curso de Midialogia da Unicamp, tive com fotografia, no primeiro semestre do curso. Além disso, poderia também retomar que meu interesse pelo tema futebolístico foi essencial para que o trabalho fluísse de uma maneira extremamente gratificante e até, por que não dizer, divertida.

Esse primeiro fator, ou seja, a vivência fotográfica que tive neste fantástico primeiro semestre de aluno de Midialogia da Universidade Estadual de Campinas, pode ser resumido no aprendizado que consegui, principalmente, nas matérias de Fotografia I (lecionada pelo Prof. Mauricius Farina) e História da Fotografia (lecionada pelo Prof. Fernando Cury de Tacca).

Na primeira, pude mexer com equipamentos fotográficos de verdade, profissionais, pela primeira vez em minha vida. Com a disposição de câmeras analógicas, filmes fotográficos, e um

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laboratório totalmente equipado para a revelação de fotografias em preto e branco (contendo, entre outras coisas, substâncias químicas necessárias como fixadores e reveladores, além de máquina para ampliação de imagens dos negativos), fui literalmente empurrado, na busca de um estilo próprio para minha humilde investida artística. Acredito ter conseguido chegar próximo de algo entre a fotografia publicitária e a fotografia expansiva.

Na segunda matéria, conheci o nascimento da fotografia, desde os primórdios. Dos daguerreótipos à arte de Oliviero Toscani (o celebrado fotógrafo da Benetton Colors), conheci cada caminho pelos quais os artistas levaram a fotografia através dos tempos, do século XIX até o presente ano de 2007, e como a elevaram ao status de ser um sublime olhar do homem capturado por uma câmera. Não somente isso, pude entender um pouco da filosofia do aparelho e do que está por trás dessa “caixa preta”, como uma vez disse o pensador tcheco Vilém Flusser. Saber mais sobre a história da fotografia foi mais que uma ajuda para encontrar um estilo para meus futuros portfólios: foi enxergar o que há de tão especial na idéia da fotografia.

Falando brevemente sobre o outro fator, ou seja, minha declarada paixão pelo futebol e todas as suas vertentes possíveis e imagináveis, é um tanto quanto óbvio o quanto isso ajudou. Pelo fato de gostar bastante e, portanto, procurar saber muito sobre futebol, pude mergulhar fundo em idéias que sempre tive de imagens futebolísticas do dia-a-dia, ou seja, que se afastam do mais importante futebol do mundo: aquele disputado nos estádios. Pude procurar onde está o futebol que praticamos sem saber, o futebol que está ali, escondido; pude, enfim, criar uma filosofia própria do que é futebol, e de onde mais ele se encontra além dos jogos profissionais. Além até dos jogos amadores, para se ter uma idéia do quanto se estendeu essa minha reflexão e minha busca na produção de minhas imagens. Acredito que, se não fosse pelo tema, teria me perdido bastante por conta dos pontos negativos, que foram, infelizmente, absurdamente relevantes no desenvolvimento deste processo.

Conclusões

O projeto de desenvolvimento de um portfólio fotográfico, de nome “O Gol Nosso de Cada Dia”, tratando do futebol cotidiano, prático, distante daquele futebol que estamos acostumados a acompanhar pelas transmissões megalomaníacas das emissoras de televisão, daquele futebol que movimenta milhões de dólares e reais todos os dias, cumpriu alguns de seus objetivos, de fato. É importante ressaltar, porém, que nem tudo que me propus a fazer neste trabalho encontrou sua realização plena e completa.

É fato que eu consegui montar um portfólio razoável, em termos de qualidade fotográfica, ao menos para satisfazer meu próprio gosto. Não posso dizer que fui bom o suficiente para ser julgado por outros, e nem tenho tal pretensão. Posso apenas concluir que, com meu jeito de montar outros portfólios que montei ao longo deste primeiro semestre no curso de Comunicação Social – Habilitação em Midialogia, este portfólio ficou bastante coerente. Também coerente foi minha linguagem, sempre um tanto próxima da linguagem fotográfica encontrada nas fotos publicitárias (um de meus tipos favoritos de imagem), por meio da montagem de cenas e da exploração do inesperado.

Acredito que é possível dizer também que, quanto à questão da procura da arte na fotografia futebolística, esta questão foi superada: é claro que pode haver arte neste tipo de foto, assim como pode haver arte em qualquer outro tipo. Não que eu tenha feito exatamente o que se pode chamar de fotografia esportiva, mas foi justamente este meio-termo que busquei: entre o esportivo e o artístico.

Agora, é preciso relembrar sempre que o grande prejuízo que a greve, tanto de alunos

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quanto de funcionários na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), prejudicou imensamente o desenvolvimento de meu projeto de portfólio. Não há como negar isto, e não é que eu esteja dizendo que a greve, pelos dois lados, não fosse necessária, e também não estou dizendo que era – afinal de contas, essa questão envolve apenas o posicionamento político de cada um quanto ao que deveria ser feito ou não em relação ao problema das universidades com o governador José Serra.

Gostaria então de, apenas, lamentar o quanto minha pesquisa foi fraca, quase nula, em termos de procurar saber mais tanto sobre fotografia futebolística quanto sobre a montagem de portfólios fotográficos. Isso me afetou de maneira que, quando da minha própria produção de imagens, e, posteriormente, da seleção dessas imagens para fazer um portfólio definitivo, tive que improvisar um pouco e confiar na minha própria experiência quanto a essas duas coisas – o que não é de muita significância, e por aí se pode notar o quanto talvez essa parte tenha sido um tanto quanto falha. Um fotógrafo mais experiente, quem sabe, pode olhar com certo ar de reprovação em relação às minhas próprias escolhas, notando que, atrás deste projeto, estava alguém como eu, despretensioso e pouco vivenciado neste campo.

Por fim, devo declarar que foi uma experiência interessante em relação a desenvolver um projeto próprio. Foi enriquecedor, já que, de primeira viagem, acabei encontrando com um problema de grande porte, que foi o da greve, e tive de reagir de alguma maneira. Certa ou errada, o importante é que, em futuros estudos, as pessoas devem tentar corrigir estas falhas que ocorreram no meu processo próprio e buscar sempre algo melhor. Orgulharia-me muito, porém, se buscassem este humilde trabalho como referência – afinal, esta é a única grande ambição de meu produto.

Referências Bibliográficas

CAIXETA, Rodrigo. Paixão pelos gramados através das lentes. Disponível em http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=1290 Acesso em 27 de maio de 2007.

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